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MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E O REBATIMENTO NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PELO ENSINO A DISTÂNCIA Autora: Tatiana Conceição 1

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MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL E O REBATIMENTO NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PELO ENSINO A DISTÂNCIA

Autora: Tatiana Conceição1

RESUMO

O presente artigo analisa a crise de acumulação capitalista pós-1970, os direcionamentos políticos e econômicos dos organismos internacionais e o rebatimento nas políticas educacionais, que neste contexto se insere como um serviço vendável no mercado, principalmente nos países periféricos, sendo utilizada como estratégia para obtenção de consenso junto à classe trabalhadora e disseminação da sociabilidade burguesa. Neste cenário, as Tecnologias de Informação e Comunicação são apresentadas como capazes de garantir a empregabilidade e a formação de um “novo tipo de homem” na era da “sociedade da informação” e o Ensino a Distância (EAD) vem sendo utilizado como estratégia para se formar este novo indivíduo, se configurando como forma de acesso e democratização do ensino superior, sendo defendido pelos organismos internacionais por garantir a compra de tecnologias dos países centrais pelos periféricos, além de atender às burguesias nacional e internacional quanto à lucratividade na educação.

INTRODUÇÃO:

Este artigo é resultado da pesquisa Ensino Superior e Serviço Social brasileiro:

Análise dos cursos de Serviço Social na modalidade de educação à distância2.

A pesquisa que resultou este artigo foi concluída em 2010, com uma análise qualitativa dos dados obtidos quanto a expansão do ensino a distância no Brasil, iniciando a discussão com a crise do capital na década de 1970 e o rebatimento na política educacional, passando a ser um serviço vendável no mercado, principalmente nos países periféricos. A educação superior neste contexto passa a ser utilizada como estratégia para obtenção de consenso junto à classe trabalhadora, como forma de disseminação da sociabilidade burguesa.

Neste cenário, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) são apresentadas como capazes de homogeneizar o tempo e espaço, como forma de se garantir a empregabilidade e a formação de um “novo tipo de homem” na era da “sociedade da informação”, um indivíduo que seja polivalente e colaboracionista e o EAD vem sendo utilizado como estratégia para se formar este novo indivíduo.

A contrarreforma do Estado na década de 1990 e o seu rebatimento na política educacional, principalmente no EAD, vem sendo apresentado como forma de acesso e democratização do ensino superior. O EAD passa a ser defendido pelos organismos internacionais por garantir a compra de tecnologias dos países centrais pelos periféricos, além de atender às burguesias nacional e internacional quanto à lucratividade na educação.

Por fim, traçaremos um perfil quanto à expansão do EAD no Brasil e quais os cursos com maior expansão e onde se localizam, desmistificando através de informações quantitativas e qualitativas que o EAD se mantém e expande no Brasil como forma de aumentar a lucratividade dos empresários do ensino.

1

Residente Multiprofissional em Saúde da Criança e do Adolescente Cronicamente Adoecidos – Instituto Nacional em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira – IFF/FIOCRUZ e Cursando Pós-Graduação latu sensu em Serviço Social e Saúde – Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ 2 A pesquisa faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (GEPES), sediado na Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense.

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METODOLOGIA:

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi qualitativa, onde partia-se dos seguintes procedimentos metodológicos:

- Análise do movimento do capital na década de 1970 e o seu rebatimento para as políticas educacionais;

- Movimento de contrarreforma do ensino superior no Brasil;

- Mapeamento da expansão do ensino a distância e como esta se configura como novo campo de exploração para as burguesias nacionais e internacionais.

DESENVOLVIMENTO:

Desde os anos 1970 o mundo capitalista é marcado por uma profunda crise que perdura até os dias atuais. Desde então, o capital passa a fomentar e patrocinar uma divulgação maciça da ideologia neoliberal3 através de divulgação de teses defendidas desde os anos de 1940 por um conjunto de intelectuais4 (ANDERSON, 1998).

Os neoliberais tinham como tese e argumentavam que o Estado de Bem-Estar Social reduzia a liberdade, devido ao igualitarismo e não estimulava a concorrência entre os mercados. Pregava a desigualdade como fator positivo, além do ajuste fiscal e redução do Estado nas políticas públicas e retração dos sindicatos (ibid).

Além de toda conjuntura econômica que se instaurava, as décadas de 1960 e 1970 também foram marcadas por uma efervescência política e social, com pressões sindicais reivindicando melhores salários e uma maior organização no modo de produção, além dos movimentos sociais com solicitações de igualdade de direitos (NETTO E BRAZ, 2008).

A esperança despendida sobre esta fase dos anos dourados começa a ser extinta a partir de 1974-1975 e se segue nos anos posteriores (1980-1982) com uma acentuada crise no crescimento e uma queda constante na taxa de lucro.

Diante deste cenário, a burguesia decide buscar estratégias capazes de reverter este quadro político e econômico, através de medidas restritivas principalmente ao poder sindical por atribuir a crise ao “excesso” de concessões que foram direcionadas à classe trabalhadora durante o período de vigência do Estado de Bem-Estar Social. (NETTO e BRAZ,2008)

Pereira (2006) sinaliza que, posteriormente à crise da década de 1970, o capital para manter a sua reprodução passa a disputar acirradamente o acesso ao fundo público, o que irá impactar diretamente nas políticas sociais, pois o Estado passa a desresponsabilizar-se da área social, precarizando-a, o que fortalece a sua mercantilização. De acordo com a autora:

Diante disto, o redirecionamento do fundo público é voltado para a sustentação de demandas do capital, em especial, o capital financeiro que se configura.

Outra forma de resistência à crise capitalista foi o processo de reestruturação produtiva5- que neste momento significou a passagem do padrão fordista-taylorista de

3 Anderson (1998) afirma que a ideologia neoliberal surge logo após a Segunda Guerra Mundial, como forma de reação teórica e política ao Estado interventor que realizava políticas de bem-estar social. “O seu propósito era combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e preparar as bases para outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro” (Anderson, 1998:10). Em tempo, o mesmo autor sinaliza que o período de forte crescimento ocasionado pela economia regulada excluía a possibilidade de expansão destes ideais, porém com a recessão de 1969-1973, foi estabelecendo base para que os neoliberais pudessem disseminar e implementar os seus ideais nos países, alcançando a sua hegemonia mundial, tendo iniciado no Chile (1973), Inglaterra (1979), EUA (1980), Alemanha (1982) e Dinamarca (1983). Em relação ao Brasil, abordaremos no terceiro capítulo. 4 Intelectual, no sentido gramsciano, consiste em todo aquele que cumpre uma função organizativa na sociedade. Cf. Gramsci (2004).

5 A reestruturação produtiva indica a passagem do padrão fordista para o toyotista, tendo por pressuposto básico a reorganização das forças produtivas como forma de restaurar o ciclo de reprodução/acumulação do capital

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produção (produção rígida e consumo em massa) para o padrão que Harvey (2008:140) define como um padrão de acumulação flexível “que se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo [...]”, tendo como principal objetivo a flexibilização dos mercados de trabalho, das relações de trabalho, dos mercados consumidores, das barreiras comerciais. Uma das formas encontradas pelo capital se refere ao processo que Netto e Braz (2008) sinalizam como desterritorialização da

produção onde o capital busca novos espaços para a produção, geralmente em áreas

periféricas, associados a uma intensa exploração da força de trabalho tendo como fatores favoráveis e confortáveis para tal execução baixos salários, ausência de legislação trabalhista e lutas sindicais.

Todo este contexto implicará no processo de reforma do Estado, ou melhor, contra-reforma6 do Estado.

No contexto neoliberal, as políticas sociais implementadas antes de seu advento passam a ser analisadas como paternalistas geradoras de desequilíbrio, custosas para o Estado que, até então, direcionava o fundo público para a sua manutenção. A defesa atual é de que estas devam ser direcionadas para o mercado através de serviços privados, destacando que “[...] para o capital, a regulação estatal só faz sentido quando gera um aumento da taxa de lucros, intervindo como um pressuposto do capital em geral” (OLIVEIRA, 1998 apud BEHRING, 2009:18).

Todo este cenário reforça como as políticas sociais implementadas nas últimas décadas vêm ao encontro de fornecer maior lucratividade para o capital, porém faz-se necessário que haja difusão de ideais capazes de garantir o consenso e a hegemonia dominante. No entanto para que estes ideais possam se sedimentar ideologicamente é preciso a existência de intelectuais, sinalizados por Pereira (2008), como “intelectuais orgânicos do capital” devido à sua capacidade de direção, formação e de disseminação do consenso no que se refere aos mecanismos propostos pelo neoliberalismo.

Lima (2006) destaca que este consenso se constitui através de controle econômico, político e cultural compartilhado pela burguesia internacional e nacional através de condicionalidades para a concessão de empréstimo, mas que, nos documentos dos organismos internacionais, aparece como uma assessoria aos países periféricos através de “auxílio para o seu desenvolvimento”.

Conforme Pereira (2008), diante desta conjuntura político-econômica, a educação conquistada por parte da classe trabalhadora, passa a ser atingida em seu cerne. A partir dos anos de 1980 o Banco Mundial (BM) passa a elaborar, monitorar e condicionar aos países periféricos contra-reformas educacionais condizentes voltadas para o ajuste estrutural das economias destes países. Sendo assim o BM parte em defesa do ensino fundamental reforçando o discurso de universidade pública como lócus dos privilegiados. Neste contexto, a autora afirma que o BM passa a preconizar a educação básica como forma essencial de

sendo esta na esfera da produção ou nas relações sociais (Mota, 2000). Na esfera da produção, pauta-se na flexibilização e automação da produção, com o uso das novas tecnologias, gerando inúmeros impactos sobre a classe trabalhadora e em suas condições de vida: o desemprego estrutural, subempregos (trabalhos parciais, precários, temporários, terceirizados) e a redução do trabalhador fabril e industrial em detrimento do aumento dos trabalhadores no setor de serviços, atividade esta que não comporta todos os trabalhadores advindos das fábricas. Desta forma, presenciamos uma forte desregulamentação e flexibilização dos direitos trabalhistas (Harvey, 2008).

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Coutinho (2007:07) destaca que a palavra “ ‘reforma’ foi sempre organicamente ligada às lutas dos subalternos para transformar a sociedade e, por conseguinte, assumiu na linguagem política uma conotação claramente progressiva e até mesmo de esquerda”. O autor ressalta ainda que antes do neoliberalismo a palavra reforma tinha a conotação de ampliação de direitos, proteção social, controle e limitação do mercado e atualmente significa cortes, restrições, supressões de direitos e deste controle.

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desenvolvimento dos países periféricos atingindo o seu objetivo - o mercado de trabalho, além das exigências de reformas educacionais, através da privatização do ensino superior.

A educação passa a ter uma função ideológica como instrumento de “alívio da pobreza” para os países periféricos, evitando que houvesse contestações populares, através de um discurso de integração à “nova ordem global” (LEHER, 1998). Este mesmo autor nos mostra, através de documentos dos organismos internacionais, como a educação lhe é útil, pois dissemina uma ideologia que apaga a luta de classes e afirma que a pobreza tem como causalidade a falta de conhecimento ou o não acesso ao mesmo, transferindo-a para o âmbito da individualidade.

Estes organismos buscam, de acordo com Lima (2006), um consenso de forma estratégica visando à supressão das fronteiras entre os Estados nacionais e com isso a homogeneização dos espaços, através da utilização das inovações tecnológicas, porém cabe destacar, como sinalizado anteriormente, estas políticas ditadas pelos organismos não são impostas, há uma flexibilidades destes países em se configurar e manter o projeto burguês de sociabilidade.

Sob a direção política do ideário neoliberal, os processos de diversificação de fontes de financiamento são incentivados pelos organismos internacionais, com o discurso de que ao ensino superior é destinado um montante de verbas superior ao ensino básico e que deveria ocorrer uma transferência destas para a educação fundamental (LIMA, 2006).

Segundo Pereira (2008), com base nos estudos de Lima (2006), este discurso de defesa da abertura do ensino superior para outras fontes de financiamento utiliza-se de duas estratégias: (1) a liberação dos serviços educacionais e a expansão de instituições privadas; (2) o estabelecimento de parcerias com fundações de direito privado, cobranças de mensalidades e taxas e corte no investimento do que se refere a novas contratações de trabalhadores no âmbito público educacional, além da falta de manutenção e aperfeiçoamento da infra-estrutura pública.

A educação adquire um novo papel, atua na formação voltada estritamente ao mercado de trabalho, sendo este individualista, intelectual orgânico acrítico, formado para a reprodução das contradições e naturalização das mesmas. A concepção do homem como sujeito histórico, a sua atuação enquanto sujeito coletivo e o seu reconhecimento enquanto pertencente a uma classe e a capacidade de perceber que é capaz de transformar a sociedade vai se diluindo dentro desta perspectiva de formação.

O setor educacional transformado em mais um ramo para a exploração capitalista, os organismos internacionais passam a reafirmar a educação como forma inclusiva de acesso para os segmentos mais pauperizados, sendo o passaporte para a empregabilidade através de sua capacitação, formando intelectuais que possam disseminar esta nova tecnologia através de uma formação massificada (certificação em larga escala). É neste contexto que o ensino a distância (EAD) se configura como uma via lucrativa para a expansão capitalista e a formação destes intelectuais necessários à ordem do capital, com um esvaziamento do pensamento crítico no processo de formação e disseminação de um consenso capaz de manutenção e

disseminação da ordem vigente. Lima (2007) destaca que a larga utilização destas tecnologias nos demonstraria que

estaríamos vivendo na era da sociedade da informação. Contudo, para a autora, esta é a aparência do processo, visto que em sua essência observam-se estratégias econômicas e políticas com fins de garantir a produção das tecnologias nos países centrais e a sua aquisição e adaptação pelos países periféricos, onde nestes últimos seriam implementados as tecnologias de comunicação e informação(TIC) nas indústrias, no sistema financeiro e na educação, garantindo e ampliando as formas de exploração do capital.

Na perspectiva educacional, juntamente com as TIC’s, o Estado tem como funcionalidade a elaboração e implementação de políticas que estejam em consonância com

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esta sociedade. A nova configuração mundial aliada às TIC’s passa a exigir uma educação voltada para uma aprendizagem ao longo da vida, onde o educando deve se adaptar as novas tecnologias e inclusive as necessidades de mercado, visando assim a sua empregabilidade, ocultando o processo perverso no qual está inserido pautado em uma lógica de acumulação capitalista, onde a inserção no mercado de trabalho não se dará por todos, pois é vital para este modo de produção a formação de pessoas excedentes ao mercado de trabalho.

Dentro desta análise que o ensino a distância vem sendo propagado apenas como uma modalidade de ensino, voltada para o acesso e garantia de possível empregabilidade. Porém, cabe destacar que em uma conjuntura de atribuição à classe trabalhadora pela sua não inserção no mercado de trabalho e necessidade de qualificação constante, esta possibilidade de emprego é remota, pois a não inserção de todos é vital para o movimento do capital.

Para se analisar a expansão do EAD faz necessário articulá-lo ao contexto atual do capitalismo, através de seus refluxos e expansões de acumulação e especialmente no ensino superior, visto que esta modalidade potencializa os lucros para o capitalista.

É como forma de diversificação destas modalidades de ensino que estas instituições “recomendam” o ensino à distância: “[...] a educação a distancia pode ser eficaz para aumentar, a um custo moderado, o acesso dos grupos desfavorecidos, que geralmente estão deficientemente representados entre os estudantes universitários” (Banco Mundial, 1994:36

apud LIMA, 2006:13).

De acordo com Batista (2002) o EAD - aliado às tecnologias educacionais - vem sendo colocado como solução para as carências educacionais, pois fornecem a impressão de que podem diminuir as disparidades entre várias partes do mundo. Diante disto, projetos de EAD são inseridos em políticas educacionais autodenominadas inclusivas e fornecem um vasto campo de exploração para as instituições privadas. Como forma de solução de problemas educacionais, observa-se que o EAD converte-se, no discurso dos organismos internacionais, em domínio de interesses políticos e econômicos de caráter restrito, com base em um discurso de democratização e oportunidade de acesso ao sistema educacional.

Com isso, observa-se um maior direcionamento e reforço dos organismos internacionais no que se refere ao EAD, além do reforço de as instituições privadas em “ofertar” cursos voltados para o ensino superior que estejam em conformidade com a “sociedade do conhecimento” e a acessibilidade de segmentos mais pauperizados ao ensino superior via EAD, onde se faz necessário não apenas analisar o EAD como simplesmente uma modalidade de ensino, mas compreendê-lo enquanto estratégia política que privilegia a expansão do ensino superior dentro de instituições privadas, além de uma formação fragilizada, voltada para uma larga certificação e inclusive forma de aumento da concorrência e barateamento dos cursos.

Uma das formas de uso do EAD nos países periféricos são os cursos de formação de professores, através de uma formação continuada, com uma “capacitação em serviço” ou uma “reciclagem”. Há ainda a reconfiguração do papel do professor que vem a ser substituído por um “tutor” ou “animador” ou até na precarização de seu trabalho através dos cursos semipresenciais, onde não há um redimensionamento da carga horária e remuneração para o tempo despendido na leitura de fóruns ou listas de discussão de alunos, e-mails, etc. Mas, se as TIC nos são apresentadas como forma de inovação, substituição das “velhas tecnologias” (quadro de giz, materiais impressos), elas proporcionam na realidade um processo de subcontratação docente, exigindo-lhes um trabalho em tempo integral (BARRETO, 2004).

A ampliação do ensino superior no Brasil vem se constituindo sob a face de democratização do acesso, que se concentra no ensino a distância. Observa-se uma inclusão de forma subalternizada e voltada ao segmento mais pauperizado da classe trabalhadora, conforme inclusive o direcionamento do BM para a educação periférica, além de ser mais uma estratégia de mercantilização da educação, configurando-se como um mercado

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educacional promissor, principalmente para os empresários estadunidenses e europeus (LIMA, 2009) e atualmente um mercado bastante rentável para investidores brasileiros.

Cabe destacar que todo este processo de atuação na economia dos países periféricos se expressa através de três estratégias políticas principais:

Em primeiro lugar, a formação de parcerias entre empresas educacionais e universidade com sede nos Estados Unidos e universidades latino-americanas. Essas parcerias viabilizam a venda de modelos pedagógicos, a comercialização de programas de ensino e de livros didáticos, especialmente para a formação e treinamento de professores, objetivando a consolidação de um caldo ideológico e político que legitime e reproduza. Neste movimento, a educação como serviço forma uma cultura empresarial, permitindo o aprofundamento do processo de empresariamento do setor, ao mesmo tempo em que se torna fundamental para padronizar conhecimentos, uniformizando conteúdos através de currículos flexibilizados (LIMA, 2005: 63 apud GOMES, 2010:143).

As tendências que se constituíram ao longo do Governo Collor até Cardoso foram mantidas e reforçadas durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, mantendo programas consoantes com a agenda neoliberal e de caráter contrarreformista como a reforma tributária, trabalhista, sindical, previdenciária, nos revelando sua tendência de adesão e consentimento ao projeto neoliberal e ao discurso da terceira via desde os documentos lançados durante a campanha eleitoral até o programa de governo (LIMA, 2007).

Com isso, o governo Luís Inácio continua a contrarreforma universitária e a concepção de Estado advinda com a contrarreforma, encaminhando-a através de decretos, medidas provisórias e leis parceladas e seguindo as diretrizes dos organismos internacionais e recomendações para o ensino superior nos países periféricos, conforme estudos de Lima (2007).

Neste processo de elaboração de políticas educacionais a distância se estabelece a criação de consórcios entre universidades brasileiras. Batista (2004) destaca que a configuração mundial proporciona e impulsiona a formação destes consórcios com objetivos distintos e, dentre estes, destaco os de EAD, que se configuram tanto na esfera pública quanto na privada a partir dos anos 1990.

Com isso, observa-se um crescimento do ensino a distância no Brasil, sendo apresentado como alternativa para a questão de acesso da classe trabalhadora ao ensino superior, a quem esta modalidade de ensino principalmente se destina “ [...] cursos a distancia ou semipresenciais podem desempenhar um papel crucial na oferta de formação equivalente ao nível fundamental e médio para jovens e adultos insuficientemente escolarizados (BRASIL, 2001: 54)”.

. De acordo com análises realizadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/2008), confirma-se um aumento vertiginoso das instituições privadas e um processo de desaceleração da criação de universidades públicas, justificadas pela integração, fusão e a criação dos Institutos Federais que são criados a partir do decreto 6.905/20077.

7 Estas instituições são responsáveis pela formação dos professores, voltada para uma formação tecnicista, não oferecendo bacharelados e formação pedagógica, conseqüentemente não estando preparadas a oferecer bons cursos voltados para esta formação. Os IFET foram constituídos a partir da integração dos centros de educação tecnológica e das escolas técnicas e agrotécnicas federais de cada estado, mantidas com o dinheiro público a ser manipulado pelo interesse privado voltados para o desenvolvimento de tecnologias a baixo custo e formação de recursos humanos, ou seja, estas instituições são mais uma forma de substituição das universidades produtoras do conhecimento que oferecem cursos não direcionados para a pesquisa e a produção do conhecimento (ANDES/SN 2007).

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Gráfico I - Evolução no número de Instituições Ensino Superior 195 207 224 231 248 249 236 1442 1652 1789 1934 2022 2032 2016 0 500 1000 1500 2000 2500 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Públicas Privadas Fonte: MEC/INEP 2008.

Gráfico II – Natureza Jurídica em relação ao Ensino a Distância

Fonte: base de dados do Sistema E-MEC. Dados organizados pela autora.

Quanto à oferta do EAD, observamos uma inversão na quantidade de instituições que ofertam cursos nesta modalidade. A diferença percentual é pouco significativa, o que demonstra um grande aumento do interesse empresarial e a importância do papel do Estado para impulsionar esta modalidade de ensino.

De acordo com a base de dados da Secretaria de Ensino a Distância, atualmente existem 212 IES credenciadas para oferta de cursos de graduação (Bacharelado, Licenciatura e Tecnólogo), sendo distribuídas de acordo com o tipo de credenciamento, ou seja, a instituição pode obter um credenciamento pleno com oferta de cursos de graduação e pós-graduação; ou de forma experimental concedidas para os Institutos Federais e instituições recentemente credenciadas ou instituições com oferta apenas para pós-graduação.

Gráfico III – Distribuição das IES por região em relação à natureza jurídica

Fonte: base de dados do Sistema E-MEC. Dados organizados pela autora.

51% 49%

IES Públicas IES Privadas

0 20 40

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Cabe destacar, que desde a promulgação da LDB há um incentivo por parte do poder público na oferta de cursos a distância que vem se constituindo principalmente através de consórcios educacionais, conforme já discutido.

As legislações que sucederam a LDB não delimitavam de forma concreta como esta expansão se constituiria. Somente em 2007, através do decreto 6.303/2007, houve a regulamentação de forma mais concreta do EAD quanto a avaliação, credenciamento dos pólos presenciais, apresentação de trabalhos de conclusão de curso, presença de laboratórios e realização de estágio (quando for previsto na legislação), duração dos cursos compatível com a dos cursos presenciais.

Em relação à iniciativa privada, os custos com a formação dos cursos são geralmente de baixo custo,porém o retorno é muito maior devido à quantidade de vagas ofertadas, mesmo não havendo o preenchimento total. Isto ocorre porque um único investimento vem a atender em torno de 500 a 600 alunos em suas residências sem o custo com manutenção, funcionários, docentes, além de incentivos fiscais, pois grande parte destas instituições privadas é caracterizada como sem fins lucrativos.

Quanto às IES públicas, a expansão proporcionada pelo Estado brasileiro, afina-se com as diretrizes dos organismos internacionais quanto à necessidade de ampliar a educação terciária nos países periféricos, reduzida ao EAD. Conforme as metas estabelecidas pelo PNE prevêem:

Prover, até o final da década, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos; Estabelecer uma política de expansão que diminua as desigualdades de oferta existentes entre as diferentes regiões do País; Estabelecer um amplo sistema interativo de educação a distância, utilizando-o, inclusive, para ampliar as possibilidades de atendimento nos cursos presenciais, regulares ou de educação continuada (BRASIL, 2001).

Atualmente encontram-se credenciados 5.877 pólos, regulamentados através do decreto 6.303/2007. Ao contrário da quantidade de IES que ofertam os cursos a distância, observamos a liderança do setor privado, conforme o gráfico acima demonstra, que tem nesta modalidade de ensino a oportunidade de ampliação de suas taxas de acumulação e a sua localização em capitais ou em cidades médias. No gráfico a seguir explicita-se como estes pólos estão distribuídos geograficamente

Gráfico VIII – Distribuição dos pólos presenciais por região

Fonte: base de dados do Sistema E-MEC. Dados organizados pela autora.

Ao contrário do que se difunde – de que a modalidade EAD seria útil para o acesso da população ao ensino superior, em regiões mais distantes – os dados não confirma tal justificativa desta forma de expansão, pois esta expansão continua se concentrando na região sudeste, onde se possui mais acesso ao ensino.

Estes dados desmascaram a naturalização do EAD quanto à formação voltada para uma população menos favorecida geograficamente e atende aos direcionamentos do capital ao afirmar que “[...] a educação à distância pode ser eficaz para aumentar, a um custo moderado,

8% 23%

10% 37%

22%

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o acesso dos grupos desfavorecidos, e em geral estão deficientemente representados entre os estudantes universitários” (Banco Mundial, 1994:368

apud LIMA, 2007:66).

O movimento predominante do ensino a distância é o de proporcionar formação regular e continuada aos professores em exercício, em conformidade com a LDB, art 87, §4º, que determina que: “[...] Até o final da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”. O Estado, em um contexto de contrarreforma, impulsionou uma expansão de cursos voltados para a licenciatura; uma opção por serem mais baratos que o ensino presencial (BARRETO,2004).

CONCLUSÃO

A educação, assim como as políticas sociais a partir da década de 1970, são inseridas em um contexto de mercantilização, visando à lucratividade e mercado consumidor. Sob esta ótica, que se inserem os ajustes estruturais econômicos como forma de reanimar o capital, porém se obtém um processo de ampliação da “questão social”, principalmente nos países periféricos.

Vislumbrando expansão e lucros, o ensino terciário na modalidade EAD entra neste cenário, por ser altamente rentável e com um amplo mercado a se consumir e explorar, pautado em um discurso de “globalização” e “sociedade da informação”, perda de fronteiras como forma de garantir a “empregabilidade”.

Com isso, o ensino presencial passa a ser sinônimo de ultrapassado e deve ceder o lugar à modernização da educação, consubstanciada nos projetos de ensino a distância. Desta forma, o ensino a distância vem sendo desenvolvido nos países periféricos e particularmente no Brasil sob a lógica de acesso e utilização estritamente das tecnologias e destinado ao segmento mais pauperizado da classe trabalhadora, além do contexto de privatização e massificação do conhecimento.

Nesta direção ocorre a massificação da formação em nível superior nos cursos de graduação a distância, em cursos aligeirados, utilizando-se de metodologias como vídeo conferências, teleaulas, onde os alunos são apenas figurantes neste processo de “aprendizagem”.

Contudo, como foi observado ao longo do trabalho o EAD é uma modalidade de ensino que deve ser analisada dentro de um contexto econômico, social, político e cultural para que não possa ser analisada simplesmente como prática educativa e sim como extremamente funcional à sociabilidade burguesa, como forma de massificação do conhecimento, disseminação de seu projeto societário, mercado consumidor e lucratividade.

Desta forma, cabe salientar, conforme Pereira (2008) que diante deste quadro observamos que o princípio defendido pelos movimentos sindicais e sociais latino-americanos, quanto a universalidade do direito à educação vem sendo minado e substituído por poder de compra, através de uma lógica mercantil, onde serão avaliadas as habilidades do indivíduo e a competência do mesmo para que tenha acesso a uma universidade. Portanto, podemos destacar que a partir da década de 1990, a educação é marcada por um verdadeiro

apartheid educacional, onde aos países periféricos é recomendado um ensino básico como

forma de “alívio da pobreza” e formação voltada para atender o mercado de trabalho enquanto nos países capitalistas centrais é destinado o ensino superior e a pesquisa (produção de conhecimento).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Referências

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