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PRÁTICAS DE ASSÉDIO NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: REFLEXÕES EM ESTUDO

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PRÁTICAS DE ASSÉDIO NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO: REFLEXÕES EM ESTUDO

Bruna Maria Rossignolli Universidade Estadual do Centro- Oeste - Unicentro

Resumo:

Em princípio, esse estudo foi pensado de acordo com as experiências vivenciadas no Programa de Residência Técnica da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) enquanto Assistente Social designada a Coordenadoria de Apoio ao Estudante (Coorae) na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), dando início a um projeto de mestrado no Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário (PPGDC) da Unicentro. Dentre os problemas vivenciados pelos (as) estudantes, de acordo com Ferreira (2017) e nas mais variadas estruturas organizacionais, o assédio é um dos mais recorrentes. Nesse sentido, foi identificada a violência de gênero como fenômeno proveniente da discrepância das distinções sexuais e econômicas, configurando um segmento violento a fim de conduzir situações de abusos sexuais e de poder nas estruturas da universidade. Dessa forma e sob tal complexidade, é que o projeto tem como finalidade apresentar a necessidade de estudar as manifestações de assédio e violência de gênero dentro do espaço universitário. Objetivando retratar a realidade da violência de gênero e assédio no ambiente acadêmico e ainda, posteriormente mostrar caminhos de enfrentamento vindas dos estudos realizados durante a pesquisa. Em termos metodológicos, o estudo conta com a pesquisa quantitativa e qualitativa. A partir de um questionário disponibilizado no portal do aluno de janeiro a março de 2020. A pesquisa investigou duas universidades mais próximas geograficamente uma da outra: A Unicentro e a Universide Estadual de Ponta Grossa-UEPG.

Palavras-chave: Universidade; Violência de Gênero; Assédio; Estudantes.

Introdução:

Casos de assédio moral e sexual têm tido visibilidade cada vez maior na opinião pública brasileira nos últimos anos, a partir de denúncias que envolvem diferentes profissões, empresas privadas e públicas e, também, instituições de ensino superior. Em novembro de 2019, foi apresentado pela agência de

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2 notícias The Intercept Brasil um levantamento de mais de 550 mulheres que foram vítimas de violência sexual em universidades desde 2008.

De acordo com os colunistas Juliana Sayuri e Rodrigo Sicuro (2019), esses casos aconteceram em 122 instituições, 34 delas privadas e 88 públicas. Ainda segundo Sayuri e Sicuro (2019):

Quase 80% dos crimes aconteceram nos campi (9 delas dentro do banheiro e 5 nas moradias universitárias) e arredores (área de estacionamento e ponto de ônibus, por exemplo). Outros ocorreram na internet, jogos universitários e repúblicas de estudantes. Em 60%

dos casos os agressores eram alunos; em 45%, docentes – os

demais ou não foram identificados, ou não eram diretamente vinculados às universidades, como técnicos terceirizados ou operários de construções também terceirizadas (SAYURI e SICURO, 2019, p. 1).

As porcentagens apresentadas pela The Intercept Brasil foram contabilizadas por denúncias reportadas a imprensa e/ou por movimentos estudantis, a realidade em percentual pode ser ainda maior. Para Sayuri e Sicuro (2019) os casos de assédio são tidos como crimes históricos e silenciados, ou ainda subnotificados.

Embora a universidade moderna tenha, em sua gênese, a perspectiva de um espaço inclusivo e plural, conforme pontua Valéria A. M. de Oliveira (2019), elas também podem ser espaços de reprodução de expressões de violências e preconceitos. Geram “aversão, muitas vezes física e, principalmente, emocional” (OLIVEIRA, 2019, p. 15).

A sensação de aversão a um ambiente pode representar problemáticas necessárias para serem debatidas e enfrentadas. As contribuições de Sayuri e Sicuro (2019) acerca das manifestações de assédio nos espaços universitários, acabam desenvolvendo inquietações importantes, que se tornaram objeto de estudo desse artigo, produto do tema de uma dissertação de mestrado intitulada “Políticas Institucionais contra o Assédio em Universidades Públicas Estaduais Brasileiras” realizada dentro do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Comunitário (PPGDC) da Universidade Estadual do Centro – Oeste (Unicentro) ainda em andamento.

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3 Nesse sentido, o objetivo de investigar a realidade dos comportamentos assediadores provenientes da violência de gênero e ainda, apresentar índices sobre a temática coletados em duas universidades estaduais paranaenses.

Como referenciado por Sayuri e Sicuro (2019), e Júlia Ferreira (2017), os crimes de assédio cometidos nas universidades têm sido um palco recente nas pesquisas brasileiras. Nesse artigo, um questionário que aplicamos em âmbito regional em duas instituições de ensino superior público estaduais do Paraná proporcionou a coleta de dados que serviram para motivar a investigação. Oferecemos um questionário online à comunidade acadêmica de graduação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com sede em Guarapuava, e a Universidade Estadual de Ponta Grossa (Uepg). Obtivemos 315 retornos de estudantes homens e mulheres, dos quais 192 da Unicentro e 123 da Uepg. As informações levantadas permitem compreender melhor a representação dos comportamentos de assédio em universidades. No caso da aplicação do questionário na Uepg, houve convite oficialmente propagado no site da instituição, e que foi incorporado à campanha “Uepg de olho no assédio”, iniciada pela sua Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), em 20191.

A escolha do questionário online ocorreu pela intenção de procurar compreender como o assédio insere-se nos mais diversos espaços universitários na vida das(os) estudantes. Dando a elas (es), a possibilidade de comentar anonimamente as manifestações sofridas, compartilhando ainda, como o assédio afeta a vida acadêmica e os sentimentos nele vivenciados. De acordo com Antônio Manzato e Adriana Santos (2018), o questionário viabiliza a verificação de “fatos, crenças, [...] quanto a sentimentos, descoberta de padrões de ação e de comportamento presente ou passado” (MANZATO e SANTOS, 2018, p. 2).

1 A pesquisa está dentro de um conjunto de ações desenvolvidas, como a Campanha “Uepg de

Olho no Assédio”, iniciada pela Prae em 2019 e que terá continuidade em 2020 com uma série de ações ao longo do ano. O trabalho tem parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), Tribunal de Justiça, Laboratório de Estudos de Gênero, Diversidade, Infância e Subjetividades (Lagedis) e Núcleo de cação para a Paz (BARROS, 2020).

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4 Tendo em vista essas especificidades, o questionário se apresentou como uma ferramenta adaptável ao mundo virtual, de modo a estender a pesquisa a todo corpo acadêmico. Em busca do sigilo dos relatos, o questionário só pode ser respondido anonimamente. Ou seja, não foi permitida a identificação da (o) entrevistada (o), ao menos se ela (e) quisesse se identificar nas perguntas abertas. O estudo, foi aplicado apenas para as (os) alunas (os) que já estão presentes na universidade a pelo menos um ano, estendendo o convite até o último período dos seus respectivos cursos de graduação.

A aplicação do questionário às duas instituições aqui apresentadas, levou em conta tanto proximidade geográfica no âmbito do estado do Paraná, como também a sua condição de universidade pública estadual localizada no interior de um estado que tem uma estrutura universitária bastante capitalizada. Nesse sentido, procurou-se junto ao questionário apresentar as políticas adotadas por cada instituição no enfrentamento das práticas de assédio. Dessa forma, foi direcionado a (ao) estudante logo após as respostas no questionário, os caminhos possíveis para denúncia e informações nas respectivas universidades.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Comep-Unicentro) pelo parecer 3.780.331.2

Desse modo, a intenção aqui é correlacionar a universidade/comunidade acadêmica também como espaço de debate sobre desigualdades. Levando em conta a perspectiva de Ferreira (2017), o espaço universitário é perpassado por díspares crenças, diversidade sexual, racial e de classe que pode levar a conflitos. A leitura está profundamente articulada com levantamento bibliográfico e crítico de assuntos correlatos ao assédio no âmbito universitário, bem como uma vinculação direta com questões de gênero.

2 Disponível em:

«https://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf;jsessionid=EB3D1C9D90D5DBA7AC249179091 AB8D6.server-plataformabrasil-srvjpdf131»

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5 Para tanto, apresentaremos conceituações a respeito do assédio associado a relações sociais, com ênfase no assédio sexual proveniente de violências ligadas ao gênero.

1. Aproximações Conceituais: Assédio e a violência de gênero

Dentre as relações acadêmicas como as ditas por Julia Ferreira (2017) e nas estruturas organizacionais como os ambientes de trabalho, convivência e lazer, o assédio, para a autora, é uma das mais recorrentes. Em termos conceituais, o assédio se tipifica de duas maneiras: o assédio sexual e o assédio moral. De acordo com a Comissão para Igualdade no Trabalho e no Emprego (Cite) (2019), assédio é:

Todo e qualquer comportamento indesejado, nomeadamente baseado em fator de discriminação, praticado com objetivo ou efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador (CITE, 2019, p. 1).

Em face dessa realidade, reitera Ferreira (2017), os espaços acadêmicos tem sido perpassados pela violência de gênero, sustentando tradições históricas, valores e comportamentos construídos culturalmente, enraizados nos ambientes educacionais. Isso porque, como afirma Luciane Stallivieri (2020), historicamente as universidades no Brasil foram construídas para formação das camadas sociais mais altas. A universidade, para Ana F. D’Oliveira (2019), compartilhou durante muito tempo padrões masculinizados e brancos. Como consequência, desencadeou desigualdades sociais e de gênero entre as(os) estudantes, e a universidade passou a ser palco de díspares violências ligadas à discriminação, preconceito e de gênero (D’OLIVEIRA, 2019).

As estruturas ou organizações, conforme Freitas (2001), também são base de manutenção dos exercícios de poder, podendo ser eles de controle ou dominação. Quando falamos em assédio sexual, de acordo com Eva Blay (2014), a manutenção do poder se instrumentaliza através das relações de

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6 dominação e subordinação que dão a ideia de que os homens são donos dos corpos femininos, com a intenção de propriedade sob as mulheres, que podem ou não serem modificados. Essa perspectiva compreende a vinculação do assédio sexual a um tipo de violência perpassa pela violência de gênero conceituando-se, conforme Kathie Njaine et al. (2013) como:

Ato de agressão física, de relações sexuais forçadas e outras formas de coerção sexual, maus-tratos psicológicos e controle de comportamento que resulte em danos físicos ou emocionais, perpetrado com abuso de poder de uma pessoa contra a outra, em uma relação marcada pela desigualdade e pela assimetria entre gêneros (NJAINE et al., 2013, p. 12).

Para uma das principais autoras de gênero do Brasil Heleieth I. B. Saffioti (1994), quando se fala na associação entre assédio sexual e a violência de gênero, “trata-se de uma correlação de forças, que muito raramente beneficia a mulher” (SAFFIOTI, 1994, p. 446). Nesse sentido, para ela o saldo negativo da violência de gênero é tremendamente mais negativo para a mulher que para o homem. Isso porque, como está enraizada na cultura brasileira latino americana, a violência de gênero decorre da imposição de direitos e deveres direcionados às mulheres e aos homens (BLAY, 2014). Em outras palavras, as diferenças, valores e comportamentos são moldados culturalmente a partir de uma condição de gênero.

Desse modo, a violência de gênero culmina em práticas que utilizam do poder como forma de humilhar, subornar e dominar suas vítimas. Não obstante é o fio condutor das expressões de assédio moral, com um ênfase ainda maior no assédio sexual quando se trata de humilhar ou dominar pela orientação sexual ou condição de gênero do assediado. Em síntese, esse tipo de assédio associado à violência de gênero, perpetua nas relações entre pessoas do sexo masculino sobre o sexo feminino. Pertence ao nosso patrimônio cultural, incorporada numa lógica moral, ideológica, psicológica, ou psiquiátrica nutrida pelas práticas sociais das relações de gênero.

Como consequência, o assédio no âmbito da violência de gênero é manifestado em diversos espaços, dentre eles, nas estruturas do ensino

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7 superior. Segundo Margarida Barreto (2000), esse é um espaço que reproduz as diferenciações sexuais e das relações de dominação e controle referenciadas.

Como referenciado por Sayuri e Sicuro (2019), e Ferreira (2017), os crimes de assédio cometidos nas universidades têm sido um palco recente nas pesquisas brasileiras. Em particular trataremos de apresentar adiante dados e informações obtidas com a nossa pesquisa nomeada “Assédio e violência de gênero nas Universidades” realizada entre os meses de janeiro à março de 2020.

2. A Voz Estudantil sobre Assédio na Universidade

Foram entrevistadas no total 315 pessoas do sexo feminino e masculino, a partir de um questionário online. Desses, 192 acadêmicas (os) da Unicentro, e 123 da UEPG. Foram essas vozes, que deram a esse trabalho a luz necessária para compreendermos melhor a representação dos comportamentos assediadores nas academias. Se encontram portanto, como justificativa da escolha do assédio como objeto de estudo nesse trabalho.

Ao todo, o questionário foi elaborado com 34 perguntas, sendo dessas, 32 fechadas e duas dissertativas

Em termos percentuais, em suma, o sexo feminino foi o público mais atingido; 88,5% da Unicentro e 75,6% da UEPG. Além do número significativo de mulheres que participaram da pesquisa. A maioria foram estudantes de 18 a 24 anos, auto declaradas brancas e heterossexuais.

Ademais, quando focamos nas perguntas relacionadas a situações de assédio, levando em conta a definição conceitual da Cite, observamos alguns índices importantes: Quando perguntado se já sofreram assédio dentro dos espaços acadêmicos, a situação nas universidades são diferentes. Na Unicentro, 49% disseram sim, já na UEPG esse percentual cai para 32,5%. Em termos gráficos, encontramos o seguinte:

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8 Fonte: Dados trabalhados pela autora

Gráfico 2 – Você já sofreu algum tipo de assédio da UEPG?

Fonte: Dados trabalhados pela autora.

É possível ainda perceber que a incidência da opção “não tenho certeza” foi bastante usada pelas (os) estudantes. Isso pode ser um fator já identificado por Freitas (2001), referente a escassez de trabalhos sobre a temática. Dessa forma, falar de assédio no âmbito universitário é algo recente que ainda precisa ser amadurecido e combatido.

De acordo com a Socióloga Wânia Pasinato (2017): 48,95%

41,66% 9,39%

Sim Não

Não tenho certeza

32,50%

49,60% 17,90%

Sim Não

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9 Embora não seja um problema novo, a violência no meio acadêmico se apresenta como um novo desafio para a formulação de respostas institucionais. Denunciamos a tolerância social com a violência, mas não podemos esquecer que os espaços institucionais, inclusive as instituições de educação, são parte dessa mesma sociedade (PASINATO, 2017, p. 1).

Ocorre que a violência não escolhe lugar ou espaços para existir, ela é necessariamente tenra ou lacunar, a fim de adaptar-se aos mais variados ambientes (SAFFIOTI, 1994).

No dia a dia universitário, existem os mais diversos espaços de convivência, de estudo e de pesquisa. Bem como, pessoas que atravessam a vida acadêmica. Quando perguntado as/os estudantes a respeito dos lugares dentro das instituições em que vivenciaram situações de assédio,3 a resposta

dentro da Unicentro e na UEPG foram em suma, as salas de aula (UEPG 17%, Unicentro 15%) e os corredores (Unicentro16%, UEPG 14%).

A respeito dos sujeitos que atravessam as experiências na universidade, a pergunta seguinte referia-se por quem foi praticado o assédio na instituição.4

Na Unicentro o maior índice foi dos que assinalaram a opção “não sofri assédio” com 40%, seguida de alunos (as) 30% Professores 28%.

A UEPG, também apresentou como maior índice a opção “não sofri assédio 53%, com o mesmo índice alunos (as) e professores aparecem na segunda posição com 25%.

A Alternativa chefia leva em conta as características de formação profissional das universidades e até mesmo de empregabilidade, pensando nas trajetórias de estágio dos estudantes.

Sob ótica semelhante, as expressões de assédio podem ocorrer, segundo Fávero (2006), oriundas dos problemas causados dentro do convívio social nos espaços acadêmicos. Isso porque o comportamento dos assediadores tange de relações de poder, controle e opressão. Provenientes

3 A (o) estudante poderia marcar mais que uma alternativa nessa questão, levando em conta as

situações em que ele vivenciou assédio no campus.

4 Nessa questão, a (o) estudante também poderia marcar mais que uma alternativa. Já que

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10 de desigualdades de gênero, que se consolidam em expressões de violência como discriminação, preconceito e racismo. Para Pasinato (2017) a “imagem e vocação das universidades não combinam com a reprodução da discriminação e desigualdade de gênero e por isso essa situação foi negada e mantida na invisibilidade por tanto tempo” (PASINATO, 2017, p. 1).

É nesse sentido que Pasinato (2017) nos apresenta a invisibilidade do debate acerca das manifestações de violências de gênero que podem ser vivenciadas dentro do ambiente acadêmico. Ademais, acabam reproduzindo práticas de poder identificadas na consolidação das nossas relações sociais.

Ainda sobre esse assunto, essas imposições demonstradas pelas autoras de gênero Freitas (2001) e Safioti (1994), trazem muitos prejuízos psíquicos e físicos às vitimas de violências de assédio. Imbuídas por relações de poder, o assédio acaba se manifestando em diversos espaços, como o da universidade. Quando perguntado as (os) estudantes os sentimentos que vivenciaram quando sofreram práticas de assédio, encontramos diversas expressões: em termos percentuais, na Unicentro os sentimentos mais vivenciados foram nojo (61%), raiva (53%) e medo (45%).

Na UEPG os mais selecionados foram também raiva (47%), seguido de nojo (38%) e vergonha (35%). Conforme graficamente:

As características que envolvem “tais situações constituem verdadeiros assassinatos psíquicos” (FREITAS, 2001, p. 1), como também dissertação de mestrado Dielly Débora Fonseca (2017). Um dos principais incômodos, para essas autoras, é o debate da naturalização dos comportamentos assediadores.

Considerações Finais

Assim, os sentimentos vivenciados em uma situação de assédio repercutem muitas vezes a ideia de culpabilização da vítima. Já que as representações morais que carregamos no nosso seio social, tingem nossa reflexão sobre essas expressões. Nesse sentido, é possível perceber segundo

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11 os estudos de Freitas (2001) e Fonseca (2017), as emoções que a vítima carrega, podem levá-la a agressões a si mesma.

A repetição dessas expressões podem levar as vítimas a variadas condições psíquicas. Dentro da Universidade a saúde mental de uma (um) estudante assediada preconiza um ambiente humilhante e transgressor a aprendizagem (PASINATO, 2017). Sendo assim, se faz necessário um olhar extenso das instituições de ensino superior, onde apesar de ser um espaço de debate de díspares segmentos, também é reprodutor de dogmas e padrões, os quais, de acordo com Fávero (2006) vem da origem de sua criação e sua ligação intrínseca com o Estado amparado pelo sistema capitalista.

Desse modo, as universidades vem sendo palco de estudos que envolvem práticas de reprodução de violência, que desenvolvem demandas estudantis para o seu enfretamento e combate.

Sobre esse assunto, reiterada pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Sinaes (Lei número 10.861/2014), as intuições devem “à análise global e integrada das dimensões, estruturas, relações, compromisso social, atividades, finalidades e responsabilidades sociais das instituições de educação superior e de seus cursos” (BRASIL, 2004, p. 1).

Portanto, a responsabilidade social emergida da Constituição Federal de 1988, perpassa o dever das universidades de responder às demandas do seu ambiente de maneira efetiva e adequada.

Sob essa legalidade, as reflexões tratadas aqui repercutem uma tentativa de mapear e analisar as instituições que vem se preocupando com os crescentes relatos e denúncias de assédio nos ambientes acadêmicos. Propomos, discutir amparos legais e políticas educacionais adotadas pelas universidades estaduais.

Logo, uma gestão socialmente responsável assume um novo paradigma de gerenciamento, para além da simples administração de patrimônio e de atividades acadêmicas da instituição. Requer maior ênfase no compromisso social e no envolvimento dos pares, para fortalecer e dar continuidade a uma gestão social e politicamente democrática (RIBEIRO e MAGALHÃES, 2014).

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Referências:

BARRETO, M. Violência, Saúde e Trabalho: Uma jornada de humilhações. 2000. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2000.

BLAY, E. A. (org). Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. BRASIL, Lei 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES e dá outras providências. Governo Federal: Presidência da República Casa Civil, 2004. Disponível em:

«http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.861.htm#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20institu%C3%ADdo %20o%20Sistema,n%C2%BA%209.394%2C%20de%2020%20de» Acesso em: 30 set. 2020.

CITE, Comissão para Igualdade no Trabalho e Emprego. Assédio. Disponível em: «http://cite.gov.pt/pt/acite/dirdevtrab005.htm» Acesso em: 15 set. 2020. D’OLIVEIRA, A. F. Invisibilidade e banalização da violência contra as mulheres na universidade: reconhecer para mudar. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 23, 2019. Disponível em:

«https://www.scielosp.org/pdf/icse/2019.v23/e190650/pt» Acesso em: 26 out. 2020.

FÁVERO, M. de L. de A. A Universidade no Brasil: à Reforma Universitária de 1968. Curitiba: Editora UFPR, 2006.

FERREIRA, J. A violência por trás dos muros universitários: uma análise

do assédio moral no ensino superior. Jus.com.br, 2017. Disponível em:

«https://jus.com.br/artigos/63785/a-violencia-por-detras-dos-muros-universitarios» Acesso em: 16 set. 2020.

FONSECA, D. D. F. Assédio Moral e Sexual: Investigação sobre as formas de violência laboral baseadas nas relações poder. 2017. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão Pública) – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém 2017.

FREITAS, M. E. de. Assédio Moral e Sexual: faces do poder perverso das organizações. Relações de Trabalho, São Paulo, v. 41, n. 2, p,8-19, abri/jun 2001. Disponível em: «https://www.scielo.br/pdf/rae/v41n2/v41n2a02.pdf» Acesso em: 4 jun. 2020.

MANZATO, A. J.; SANTOS, A. B. A elaboração de questionários na pesquisa quantitativa. Disponível em:

«http://www.inf.ufsc.br/~vera.carmo/Ensino_2012_1/ELABORACAO_QUESTIO NARIOS_PESQUISA_QUANTITATIVA.pdf» Acesso em: 22 set. 2020.

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13 NJAINE, K. et al. Violência e Perspectivas Relacional de Gênero.

Florianópolis, 2013.

PASINATO, W. Violência de Gênero na Universidade – o desafio da USP.

Jornal da USP, set. 2017. Disponível em:

«https://jornal.usp.br/artigos/violencia-de-genero-na-universidade-o-desafio-da-usp/» Acesso em: 29 set. 2020.

RIBEIRO, R. da C.; MAGALHÃES, A. M. Política de Responsabilidade Social na Universidade Conceitos e Desafios. Educação Sociedade & Cultura, 2014. ROSSIGNOLLI, B. M. Questionário: a violência de gênero e assédio nas

universidades. Unicentro: Guarapuava, 2020.

_____. Questionário: a violência de gênero e assédio nas universidades. Uepg: Ponta Grossa, 2020

SAFFIOTI, H. I. B. Violência e assédio sexual. Estudos Feministas, Florianópolis, 1994.

SAYURI, J.; SICURO, R. Abusos no Campus. The Intercept Brasil, 10 de dez. de 2019. Disponível em: «https://theintercept.com/2019/12/10/mais-de-550-mulheres-foram-vitimas-de-violencia-sexual-dentro-de-universidades/» Acesso em: 8 jul. 2020.

STALLIVIERI, L. O Sistema de Ensino Superior do Brasil características, tendências e perspectivas. Assesoria de Relações Interinstitucionais e

Internacionais (Universidade de Caxias do Sul). Caxias do Sul. Disponível em:

«https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/sistema_ensino_superior.pdf» Acesso em 19 out. 2020.

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