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na. oulried -,41404,r), Poder Judiciário
Tribunal de Justiça da Paraíba
Gabinete do Des. MANOEL SOARES MONTEIRO •
ACÓRDÃO
AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 200.2003.018070-31001, Oriundo da 1° Vara
Cível da Comarca da Capital
RELATOR : Des. MANOEL SOARES MONTEIRO • AGRAVANTE : Rogério Feitosa Mayer Ventura
ADVOGADO : Richomer Barros Neto
AGRAVADA : Unigraf — União Artes Gráficas Ltda
ADVOGADO
:
Jocélio Jairo VieiraAGRAVO DE INSTRUMENTO. Antecipação de
tutela. Presença dos pressupostos legais. Decisão mantida. Recurso desprovido.
Embora a expressão "poderá", constante do art.
273, CPC, possa dar a idéia de discricionariedade e
faculdade, na verdade constitui obrigação do juiz conceder a tutela antecipatória, desde que preenchidos os requisitos legais, com base no livre convencimento motivado.
Presentes os requisitos à concessão de liminar em
• ação ordinária, tal como se afigura na espécie,
improcede o agravo de instrumento manejado com o fito de tornar sem efeito a decisão que acolhe referido pleito.
Agravo desprovido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que figuram
como partes as acima nominadas:
ACORDA, a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça da
Paraíba, na conformidade do voto do relator e da súmula de julgamento de fls. 51, por votação unânime, NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO.
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‘i •
RELATÓRIO
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra decisão proferida pelo Juiz da 1 a Vara Cível da Comarca da Capital, nos autos do processo n° 200.2003.018070-3, que deferiu a tutela antecipada requerida pela agravada, anulando o contrato de compra e venda celebrado entre os litigantes, bem assim, determinou a devolução do bem objeto do contrato no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, cominando uma multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de desobediência.
Alega o agravante, em síntese, que celebrou contrato de locação de uma máquina impressora "OF SET ROMAYOR", com prazo de 04 meses e que a agravada deixou de pagar alugueres vencidos. Em face disso, o recorrente notificou a ré através do Cartório de Registro competente.
• Ao sentir que a recorrida não devolveria o bem, interpôs ação de reintegração de posse c/c pedido de liminar, bem como ação de cobrança com a finalidade de receber as verbas devidas.
Após o lapso temporal de 05 (cinco) anos, a agravada ajuíza Ação de Nulidade de Negócio Jurídico c/c Indenização por Danos Morais e Pedido de Antecipação de Tutela, com o intuito de anular os contratos, com a devolução do bem e aplicação da cominação indenizatória.
Deferida a tutela antecipada pelo despacho de fls. 12/15, ajuizou o presente agravo, cujo pedido liminar foi deferido às fls. 39/40.
Intimada a contra-arrazoar, a agravada deixou transcorrer in
albis o prazo que lhe fora concedido.
Informações do Juiz a quo (fls. 44), dando notícia do cumprimento da exigência do art. 526, do CPC, e mantendo sua decisão.
A douta Procuradoria de Justiça deixou de ofertar parecer de mérito, por entender inexistente o interesse público (fls. 46).
É o Relatório.
VOTO
O Exmo. Des. MANOEL SOARES MONTEIRO (Relator):
Após análise paciente dos autos, verifica-se que o presente recurso não comporta maiores indagações, pois a decisão recorrida demonstra-se bastante lúcida e bem fundamentada.
Consoante narra o Magistrado, pela análise de toda a documentação trazida aos autos com a inicial da Ação Anulatória, existem
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• provas inequívocas da verossimilhança das alegações da autora, ora agravada, e do perigo da demora na prestação jurisdicional.
De fato, numa apuração superficial, como a que foi realizada no momento de apreciar um pedido de antecipação de tutela, aparenta-se por demais estranho o negócio jurídico realizado entre as partes: uma gráfica que aliena um bem essencial ao seu funcionamento (impressora) pelo valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e, imediatamente, aluga o mesmo equipamento vendido pela alta mensalidade de R$ 1.000,00 (mil reais).
Vale salientar que o fumus boni juris na hipótese dos autos deve ser apreciado com eqüidade e senso de realidade. Um contrato que apresenta tamanha desvantagem para uma das partes, levanta dúvida sobre a regularidade e a licitude do negócio celebrado.
Tais fatos só podem ser afirmados com plena convicção após o devido processo legal, com toda a instrução processual. Porém, como já dito, numa primeira intervenção, como a procedida para antecipação de tutela, os documentos e os próprios contratos formam prova suficiente para demonstrar • a verossimilhança das alegações da autora, ora agravada.
O periculum in mora, que no presente recurso deve corresponder ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, também está presente tendo em vista o contrato de locação excessivamente oneroso a que está vinculada a agravada, bem como a essencialidade do bem para suas atividades.
Sobre o livre arbítrio, ao comentar o art. 928, do Código de Processo Civil, Sérgio Sahione Fadei pontifica:
"Não há arbítrio nem discrição do juiz para dar ou negar a medida liminar. Há dever jurisdicional de antecipar ou negar a concessão do interdito possessório reclamada, conforme seja feita ou não a prova prévia dos pressupostos legais. O deferimento, portanto, da liminar não é medida de favor, nem de conveniência e oportunidade do
• magistrado. É matéria de apreciação objetiva". (Código de Processo
Civil Comentado, Tomo V, p. 59).
Observe-se que a jurisprudência pátria caminha na mesma linha, no tocante à antecipação da tutela, quando presentes seus requisitos autorizadores:
PROCESSUAL CIVIL — Agravo de instrumento — Ação reivindicatória — Antecipação da tutela — 1 — Presentes os requisitos exigidos pelo artigo 273, do Código de Processo Civil, impõe-se a antecipação da tutela. (..) (TJDF - Agi n° 20010020073760, 5' T.Cív., Rel. Des. Haydevalda Sampaio, DJU 22.05.2002).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA JURISDICIONAL. PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS. SENTENÇA MANTIDA. Embora a expressão 'poderá', constante do
CPC 273, 'caput', possa indicar faculdade e discricionariedade do
juiz, na verdade constitui obrigação, sendo dever do magistrado conceder a tutela antecipatória, desde que preenchidos os pressupostos legais para tanto, com base no livre convencimento
• • "
a•
motivado. (TJMG - Agi n° 1.0460.05.018536-8/001(1), Rel. Des. Correa de Marins, j. 17.01.2006, DJ 10.02.2006)
Quanto ao fato do Magistrado ter determinado, na decisão
interlocutória que deferiu a antecipação da tutela, a
anulaçãodo contrato de
compra de venda bem como do contrato de locação, trata-se de mera
imprecisão terminológica, porque somente a decisão final dará solução
definitiva ao mérito da demanda.
A antecipação de tutela, como a nomenclatura do instituto
indica, concede à parte
initio &is,provisoriamente, a própria pretensão
deduzida em juízo ou seus efeitos.
Na prática, a decisão do Magistrado
a quodeferiu o pedido da
autora, ora agravada, para antecipar os
efeitosda nulidade dos contratos de
compra/venda e locação.
Diverso não é o ensinamento do Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. LICENCIAMENTO DE VEÍCULO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PETIÇÃO INICIAL. PEDIDO AUSENTE. INÉPCIA. PROVA DO DIREITO ALEGADO. PREQUESTIONAMENTO. INEXISTÊNCIA. (...) É da sabença de todos que o pedido de antecipação de tutela confunde-se com o pedido de mérito, tratando-se, tão-só, de um adiantamento da
decisão que eventualmente será proferida ao final. VI - Recurso
especial parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido. (RESP 707.997/PE, Rel. Min. Francisco Falcão, i a T, DJ 27.03.2006, p. 182)
Por todo o exposto, presentes estão os requisitos permissivos
da antecipação da tutela: prova inequívoca, que conduza ao convencimento
de verossimilhança do alegado, e perigo na demora.
Destarte, entendo que o Magistrado teve boa compreensão da
hipótese dos autos e a necessária cautela ao deferir a antecipação da tutela.
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Razões pelas quais
PROVIMENTO AO AGRAVO, mantendo, na íntegra, a decisão agravada.
REVOGO A LIMINARanteriormente concedida e NEGO
É o meu voto.
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Presidiu o julgamento, o Exmo. Des. José Di Lorenzo Serpa, dele participando, além de mim, Relator, o Exmo. Dr. Carlos Neves da Franca Neto, Juiz de Direito convocado. Presente à sessão a Exma. Dra. Marilene de Lima C. de Carvalho, Promotora de Justiça Convocada.
Sala de Sessões da Egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em 04 de maio de 2006.
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De . MANOEL SOARES MONTEIRO RELATOR
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