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O CANTOPOIÉTICO NA SINFONIA TRANSDISCIPLINAR. Palavras-chave: Música - Cantopoiético Transdisciplinaridade Corporeidade

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Academic year: 2021

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Artemisa de Andrade e Santos Mestranda em Educação BACOR-PPGED/UFRN Edmilson Ferreira Pires DEF- BACOR - PPGED/UFRN Katia Brandão Cavalcanti

BACOR-PPGED/UFRN Resumo

O objetivo deste estudo é apresentar as Vivências do Cantopoiético experienciadas por um grupo de cantores no decorrer de ensaios preparativos para o espetáculo artístico. O processo vivido e configurado de conhecer-se propõe uma contribuição ancorada na concepção transdisciplinar da corporeidade (CAVALCANTI, 2004) e na Teoria Autopoiética de Maturana (1980) para o trabalho com a música. Compreende e fundamenta o despertar para a recriação do canto capaz de proporcionar emoções e entusiasmados sentimentos motivados pela melodia, pois, “o cantor precisa percorrer todos os „caminhos de som‟ dentro dele” (COELHO, 2005). O presente trabalho busca aprofundar o estudo da transdisciplinaridade dentro de uma proposta que se realiza no campo musical. Na investigação utilizou-se uma abordagem qualitativa privilegiando a corporeidade em relação ao canto e sua fruição, valores e intenções. Consideramos relevante aproximar o processo transdisciplinar e a música para estimular discussões acerca do pensar além, ou seja, a transcendência, o devaneio, a imaginação e as diferentes dimensões do Cantopoiético. Assim, convém destacar a disposição dos cantores, permitindo para aprimorar-se afinando seus sentidos com a expansão da criatividade e da emoção.

Palavras-chave: Música - Cantopoiético – Transdisciplinaridade – Corporeidade

O presente trabalho busca apresentar o processo de vivências de cantopoiético experienciadas por um grupo de cantores no decorrer de ensaios preparativos para o espetáculo artístico.

Numa tentativa de aprofundar o estudo da transdisciplinaridade como “um corpus de pensamento e uma experiência vivida” (NICOLESCU, 1999, p.121) dentro de uma proposta que se realiza no campo musical, procuramos compreender e fundamentar o despertar para a recriação do canto capaz de proporcionar sensações, o prazer, as emoções e os entusiasmados sentimentos motivados pela melodia. Afinal, “o cantor precisa percorrer todos os „caminhos de som‟ dentro dele” (COELHO, 2005).

Para tanto, é preciso que o canto e a vivência musical deleitem na combinação orgânica de componentes respiratórios, vibratórios, impressões de timbres, articulação e ressonância que permitam revelar a emissão sonora adequada. Porém, cantar pressupõe ir além desses componentes de corpo uma vez que requer envolver-se emocional e

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afetivamente com os sentidos, as inflexões, o desenho que inspire o jogo da voz. Nesse entendimento, Quinteiro argumenta (1989, p. 37, 39):

A produção sonora do ser humano está ligada organicamente como um todo. Desde a postura corporal ao funcionamento íntimo de órgãos e sistemas biológicos, ao desempenho do padrão de pensamento de cada um, ao tipo de cultura que envolve o indivíduo [...] A voz e a fala de um indivíduo relatam muito da sua saúde em geral, sendo indicativas de problemas orgânicos, psicológicos e funcionais.

Assim, o processo da vivencialidade cantopoiética registrada neste estudo partilha à percepção do vivido, a sensação de redescoberta corporalizada e o devaneio espontâneo de criação.

Dessa forma, consideramos relevante aproximar o processo transdisciplinar e a música para estimular discussões acerca do pensar além, ou seja, da transcendência, do devaneio, da imaginação e das diferentes dimensões do cantopoiético. Tal processo vivido e configurado do viver conhecer propõe uma contribuição ancorada na Teoria Autopoiética de Maturana e Varela (1980), que nos enraíza para o trabalho com a música a partir do fenômeno da musicopoiese. Ao considerar a vivência do cantopoiético como um processo de intervenção transdisciplinar, é preciso esclarecer o seu conceito. Buscando a autopoiese compreender a criação de si, sua auto-organização e suas transformações, assim, a nossa intervenção aponta para a possibilidade de um processo autopoiético. Portanto, vivências cantopoiéticas referem-se à criação do canto vivido, do canto sentido.

O conceito de Autopoiese indica a organização do vivo baseada no fenômeno circular e auto-referencial dos processos, portanto, na autoprodução da unidade vivente, na capacidade de participar de sua própria criação como uma organização autopoiética (MATURANA, 1994; 1995; MATURANA e VARELA, 1980; MATURANA e REZEPKA, 2000).

Para os autores, “há uma circularidade essencial na natureza dos sistemas vivos”, de modo que um sistema vivo seja considerado vivo. Igualmente organizados são os elementos sonoros que sugerem a música. Mas é preciso um ser humano sensível para registrá-los e organizá-los, assim, esta organização pressupõe um ato consciente (STRAVINSKY, 1996).

A fim de propiciar a sensibilização e o encontro consigo mesmo, apresentamos diversas possibilidades para o grupo de cantores, nos apropriando de recursos

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expressivos que ampliam a percepção de si à preparação do som e à criação de sentidos que permitam uma interação com o mundo circundante.

Cabe ressaltar nesta sintonia o conceito de estado “télico” entendido por Reñones (2000, p. 104; 2004) como “o estado em que mutuamente se percebem, entende, sentem, intuem, respeitam e tornam-se cúmplices generosos os participantes de uma criação coletiva”. Recorremos a Autotelia para legitimar a construção concreta do vivido nos momentos de cantopoiético experienciados.

A partir das observações realizadas em nossa pesquisa de Mestrado, nas experiências vividas como cantora lírica, como participante de corais, como arteterapeuta, como pesquisadora da corporeidade, floresce a elaboração deste trabalho. A eficiência desta proposta consiste essencialmente na harmonia de experiências marcantes, sistemáticas e fundamentadas no vivido, no sentido, para viabilizar o espetáculo artístico. O aspecto vivencial deste trabalho configura-se, segundo Castro (1999, p. 3), como:

Um conhecimento e uma experiência com outros recursos que auxiliem na transformação das rotinas e ordem estabelecidas, e em oferecer às pessoas instrumentos que sejam para seu próprio uso, permitindo crescimento pessoal, autonomia, interação social e a inclusão cultural.

Por conseguinte, outros elementos além do corpo são desencadeados no processo do cantopoiético dos participantes. A construção da composição vivida permite uma experiência ludopoiética que flui de cada um, estimula encoraja à criatividade. Por criatividade, entendemos que “é a objetivação da capacidade criadora, sendo fenômeno genuinamente humano” (ALMEIDA, 2005).

Embora a essência desta criatividade se configure na apropriação de si mesmo e no reconhecimento de si, a experimentação criadora baseia-se na percepção e organização de pulsações, desejos, ritmos, ou seja, no funcionamento orgânico do ser humano influenciado pela emoção.

Nas palavras de Maturana (1998, p. 15), “todo sistema racional tem um fundamento emocional”. Como se sabe, nem tudo o que está no ser humano é absolutamente regido pela emoção, ainda que esteja no campo da música, muitos desconsideram seu real valor sobre a essência da sua beleza. Em termos de domínio da emoção, conforme Humberto Maturana (1997, p. 15), “ao declarar-nos seres racionais, vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção que constitui nosso viver humano”.

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Portanto, a emoção evidencia-se no ser humano na forma de uma modificação de equilíbrio na sensibilidade orgânica. Consequentemente, “como a consciência humana difere da dos animais, assim também, é claro, diferem o sentir e a emoção humanos” (LANGER, 1971, p. 136).

O entrelaçamento entre razão e emoção potencializa e ressignifica a experiência do viver como uma teia. Na proporção que a experiência avança “as interconexões dessa rede tornam-se cada vez mais precisas, como se toda rede fosse, por assim dizer, cada vez mais entrando em foco” (CAPRA, 1988, p. 49).

Para o reconhecimento das configurações artísticas, como por exemplo, a música e seus valores a partir dos sentidos e dos simbolismos, ou seja, de forma não-verbal, destaca Langer (1979, p. 106): “amplia a nossa concepção de racionalidade para muito além das fronteiras tradicionais [...] o próprio sentimento precisa de algum modo participar do conhecimento e entendimento”.

O contato do grupo participante com as vivências do cantopoiético provocou a realidade musical como um todo, revelando espontaneamente surpreendentes resultados. Ao propor diferentes possibilidades de criação com o canto agregado à transdisciplinaridade, o cenário musicopoiético se modifica e se revela impactante à contribuição do espetáculo artístico, tanto para os cantores em processo de formação, quanto para resgatar a sensibilidade e o sentimento integrado do espectador.

Diante dos recortes desta sinfonia poiética, humanescente é necessário destacar o estudo no campo musical motivando o reconhecimento vivencial baseado na percepção, organização e no significado da criação sensível dos envolvidos. A riqueza nos momentos de criação transforma a nossa própria experiência de cantora e pesquisadora aprofundando a percepção para a expressividade da emoção em conduzir grupos com vivências do cantopoiético.

O processo do vivido propõe um entusiasmado convite para pensarmos um viver mais criativo e com mais amorosidade e confiança, como inspira Moraes (2003). Assim, o percurso das experiências vividas encantará o mundo com a compreensão essencial Autopoiética. De modo que a música existente em nós seja composta pelos os elementos além da melodia, harmonia, ritmo, dinâmica e escalas determinadas. Mas por universos desconhecidos e explorados pela nossa imaginação.

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Referências

ALMEIDA, Nilma Figueiredo de. Cognição e Emoção: a importância do Imaginário para a Metacognição e a Educação. In: José Carlos Libâneo; Akiko Santos. (Org.). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. 1 ed. São Paulo: Editora Alínea, 2005, v. 1, p. 165-186.

CAPRA, Fritjof. O Ponto de mutação. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1988. CASTRO, Paulo Teixeira. Vibrações de Luz e Som. (artigo de revisão bibliográfica; no prelo), 1999.

CAVALCANTI. Katia Brandão. Corporeidade e a ética do sentido da vida na educação: para florescer as sementes da pedagogia vivencial. Revista “Nova Atenas” de Educação Tecnológica – CEFET/MA, São Luis, MA, v. 06, no 2, Brasil, 2004.

COELHO, Helena Wöhl. Técnica Vocal para Coros. 7. ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 2005.

LANGER, Susanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Cultrix, 1971.

LANGER, Susanne K. Filosofia em nova chave. São Paulo: Perspectiva, 1979. MATURANA, Humberto. El sentido de lo humano. Santiago: Dolmen Ediciones, 1994.

MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco J. Autopoiesis and cognition: the organization of the living. Boston: Reidel, 1980.

MATURANA, Humberto. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Belo Horizonte: UFMG, 2001.

MATURANA, Humberto. De máquinas y seres vivos. Santiago: Universitária, 1995. MATURANA, Humberto; REZEPKA, Sima Nisis de. Formação humana e

capacitação. Petrópolis: Vozes, 2000.

MATURANA, H.; VARELA, F. El árbol de conocimiento. Santiago: Universitária, 1990.

MORAES, Maria Cândida. Educar na biología do amor e da solidariedade. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

NICOLESCU, Basarab. O Manifesto da Transdisciplinaridade. São Paulo: Triom, 1999.

QUINTEIRO, Eudosia. Estética da voz: uma voz para o ator. São Paulo: Summus, 1989.

REÑONES, Albor Vives. O imaginário grupal: mitos, violência e saber no teatro de criação. São Paulo: Ágora, 2004.

REÑONES, Albor Vives. Do playback theatre ao teatro de criação. São Paulo: Agora, 2000.

STRAVINSKY, Igor. Poética Musical em 6 lições. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

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