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SENTENÇA Processo Digital nº: 1006003-54.2015.8.26.0704

Classe - Assunto Procedimento Comum - Indenização por Dano Moral Requerente: Fátima Aparecida Martini

Requerido: São Paulo Futebol Clube

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Juliana Morais Bicudo

Vistos.

FÁTIMA APARECIDA MARTINI propôs a presente demanda em face de SÃO PAULO FUTEBOL CLUBE, afirmando, em síntese, que: (i) participa do programa Sócio Torcedor, oferecido pelo réu, desde 2011, utilizando-o para comprar ingressos para jogos do clube; (ii) em 23.7.2015, tentou comprar ingresso para jogo marcado para 26.7.2015, sem sucesso; (iii) em 3.8.2015, solicitou informações por e-mail;

(iv) a atendente do réu lhe informou que a fatura vencida em 27.7.2015 não havia sido

paga; (v) os benefícios, contudo, estavam suspensos desde, ao menos, 23.7.2015; (vi) não lhe foi encaminhado boleto para pagamento da obrigação; (vii) posteriormente, foi informada de que seu cadastro fora suspenso, com base na Cláusula 2.11 do Regulamento do Sócio Torcedor, por suposta conduta incompatível com a condição de torcedora; (viii) o réu não lhe esclareceu a conduta considerada inadequada; (ix) a autora publicou mensagem em seu Twitter, exigindo explicações; (x) jornalistas contataram a autora; (xi) um deles notou que a autora havia feito críticas à atual gestão do clube; (xii) foi publicada matéria jornalística a esse respeito em 11.8.2015; (xiii) o réu, ao responder aos questionamentos do jornalista, disse que a autora havia sido excluída por inadimplência; (xiv) em outra publicação, o réu disse que, além da inadimplência, a exclusão se motivou em conduta inadequada imputada à autora; (xv) não houve inadimplência a dar suporte à suspensão dos benefícios; (xvi) a manifestação de seu pensamento acerca da gestão do clube não configura conduta incompatível com a condição de torcedora; (xvii) a imputação à autora de conduta inadequada e a afirmação pública de inadimplência causaram-lhe dano moral;

(xviii) aplica-se à relação existente entre as partes o Código de Defesa do Consumidor. A

autora pede que a ré seja condenada a pagar-lhe indenização pelo dano moral afirmado. A inicial foi instruída com os documentos de fls. 20/74.

O réu foi citado (fl. 85) e ofereceu contestação (fls. 86/99), alegando, preliminarmente, falta de interesse processual. No mérito, sustentou, em suma, que: (i) a autora proferiu palavras ofensivas contra dirigentes do réu, em página de rede social; (ii) a autora não pagou a mensalidade vencida em 27.7.2015; (iii) as mensalidades vencidas em maio e junho de 2015 não foram pagas nas respectivas datas de vencimento;

(iv) por essa razão, o cadastro da autora foi bloqueado no sistema do programa Sócio

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própria autora; (vi) não praticou ato ilícito a ensejar dever de indenizar; (vii) a indenização postulada é excessiva.

Réplica a fls. 148/156, instruída com os documentos de fls. 157/173. Decisão saneadora a fl. 187, pela qual foi rejeitada a matéria preliminar e deferida a produção de prova oral. Na audiência realizada em 3.2.2016, o réu desistiu da colheita do depoimento pessoal da autora (fl. 234). Na audiência realizada em 21.3.2016, foi colhido o depoimento pessoal do representante legal do réu e ouvida a testemunha por ele arrolada, Camilla Ferreira de Araújo; as partes desistiram da oitiva das demais testemunhas arroladas; a instrução foi encerrada; em alegações finais, as partes reiteraram as manifestações anteriores (fl. 268).

É o relatório. DECIDO.

Os documentos apresentados evidenciam que:

(1) em 10.7.2015, a autora comunicou ao réu o não pagamento das mensalidades vencidas em maio e junho de 2015; a atendente do réu informou que o cartão de crédito da autora não havia autorizado a cobrança; os boletos para pagamento foram encaminhados à autora no mesmo dia (fl. 72);

(2) em 23.7.2015, a autora solicitou ao réu esclarecimentos acerca da impossibilidade de compra de ingressos para jogo do clube; a atendente do réu informou que “provavelmente ocorreu alguma falha no sistema” e que retornaria o contato posteriormente (fl. 20);

(3) em 3.8.2015, a autora contatou novamente o réu, relatando o mesmo problema e solicitando o envio de boleto para pagamento da mensalidade vencida em 27.7.2015 (fls. 21/22);

(4) em outro contato, na mesma data, a atendente do réu informou que o “jogo está

sendo bloqueado devido esta (sic) parcela em aberto” (fl. 24);

(5) em 5.8.2015, a atendente do réu informou à autora que “a parcela do mês 07/2015

consta (sic) em aberto é um dos motivos do seu cadastro estar bloqueado”; disse

que “será encaminhado para a senhora no seu e-mail, o motivo do bloqueio” (fl. 25);

(6) em 11.8.2015, a atendente do réu informou à autora que “seu cadastro foi inativado

por motivo de conduta anti são paulina conforme consta no regulamento sócio torcedor cláusula 2.11” (fls. 31/33);

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(7) em 12.8.2015, foi publicada na imprensa reportagem em que o vice-diretor de marketing do réu, em nome deste, declarou que “Imagine que o São Paulo excluiria

alguém só porque a pessoa fez alguma crítica na internet. Claro que não, todo mundo tem o direito de expressar suas opiniões. No caso dela, o que aconteceu foi um problema de falta de pagamento, mesmo” (fl. 50);

(8) em rede social, o representante do réu declarou que “ela foi desativada pq estava

inadimplente e só isso é um filtro do sistema”; indagado sobre a conduta da autora,

o representante disse que “além de estar inadimplente ela também teve conduta

inadequada mas será readmitida” (fls. 64/65); na mesma rede, perguntado sobre “o que seria exatamente considerado como 'conduta inadequada'?”, o representante

do réu disse: “no dia seguinte ao lançamento do novo programa do ST com um

esforço enorme q fizemos ela ironizou a todos” (fl. 68).

A relação jurídica existente entre as partes deve ser analisada sob a ótica do princípio da boa-fé objetiva, que impõe às partes contratantes a observância a deveres anexos, laterais ou secundários à obrigação pactuada em contrato (por exemplo, o dever de cuidado, o dever de informar, o dever de lealdade, o dever de cooperação, o dever de agir conforme a razoabilidade), oponíveis ao longo de todo o processo obrigacional, conforme regra do artigo 422 do Código Civil.

Nas relações de consumo, os deveres de informação e cuidado são reforçados pelas regras que compõem o sistema de defesa do consumidor, na forma da Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), aplicável à relação jurídica sub judice, pelo disposto nos artigos 3º e 40 da Lei n. 10.671/2003.

Na hipótese dos autos, da análise da prova documental produzida se depreende que: (i) o réu prestou à autora informações contraditórias acerca da causa da suspensão do serviço, inicialmente arguindo falha sistêmica, posteriormente alegando falta de pagamento da mensalidade vencida em julho de 2015 e finalmente sustentando prática pela autora de conduta inadequada; (ii) o réu não informou à autora a data de início da suspensão do serviço, bem como a conduta a ela imputada como incompatível com a condição de torcedora.

O réu violou, portanto, dever de informação imposto pelo princípio da boa-fé objetiva e pelo sistema de proteção ao direito do consumidor.

Ademais, o réu, por seu representante, ao declarar à imprensa que “No caso dela, o que aconteceu foi um problema de falta de pagamento, mesmo” (fl. 50), alterou a verdade dos fatos, eis que, em 11.8.2015, a atendente do réu informou à autora que “seu cadastro foi inativado por motivo de conduta anti são paulina” (fl. 31). O representante do réu, ao emitir declaração que sabia falsa, praticou ato ilícito, na forma do artigo 186 do Código Civil.

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Ressalto que o representante do réu não declarou à imprensa que a suspensão do serviço se fundou inicialmente em mora e foi mantida em razão da conduta inadequada praticada pela autora; o representante do réu, na matéria jornalística de 12.8.2015, negou qualquer relação entre a suspensão do serviço e as críticas externadas pela autora, dizendo: “Imagine que o São Paulo excluiria alguém só porque a pessoa fez

alguma crítica na internet. Claro que não, todo mundo tem o direito de expressar suas opiniões” (fl. 50).

Saliento, ainda, que, na data em que a autora notou a suspensão do serviço, em 23.7.2015, as mensalidades vencidas estavam quitadas, fato que reforça a convicção de que o serviço permaneceu suspenso no período de 13.7.2015 a 12.8.2015 exclusivamente em função da conduta inadequada imputada à autora.

A declaração falsa emitida pelo representante do réu, na reportagem de fl. 50, causou lesão à honra objetiva da autora, i.e., sua reputação perante a coletividade, na medida em que atribuiu ao atraso no pagamento de mensalidades a causa da suspensão do serviço.

O dano moral, na espécie, é presumido, em razão da publicação da declaração do representante do réu em meio de comunicação e redes sociais. Irrelevante o fato de a autora ter procurado a imprensa para divulgar os fatos; a violação à honra objetiva da autora decorreu da declaração emitida pelo representante do réu, que poderia ter silenciado ou confirmado a real causa da suspensão do serviço.

Pondero que as declarações da autora, copiadas a fl. 91, em que pese o emprego de linguagem grosseira, constituem exercício regular do direito à livre manifestação do pensamento (artigo 5º, IV, da Constituição Federal e artigo 188, I, do Código Civil). A aplicação de sanção com base nessas declarações, ademais, pressuporia prévia comunicação da autora e abertura de prazo para exercício de seu direito de defesa, por imposição do princípio da boa-fé objetiva.

Por todos os ângulos de análise da situação retratada nos autos, seja por violação aos deveres anexos fundados na boa-fé objetiva, seja pelo ato ilícito praticado pelo representante do réu pelo qual este é responsável, na forma do artigo 932, III, do Código Civil , impõe-se a condenação do réu ao pagamento de indenização por dano moral.

O valor de indenização deve ser suficiente para atenuar as consequências do dano imaterial causado à autora e servir de desestímulo à reiteração pelo réu da prática de atos lesivos a direitos da personalidade. A reparação do dano moral tem, pois, dupla finalidade: compensatória e inibitória. Sob esse prisma, a indenização deve ser fixada em patamar apto a causar impacto significativo na esfera patrimonial do réu, sem, contudo, implicar o enriquecimento sem causa da autora. Devem-se considerar os seguintes fatores: extensão do dano, condições socioeconômicas, culturais e psicológicas do ofensor

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e do ofendido, grau de culpa do ofensor, de terceiro e do ofendido.

No caso em análise, ponderados esses fatores, sobretudo a capacidade econômica do réu e a extensão do dano, entendo razoável a fixação da indenização no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais).

Ante o exposto, ACOLHO o pedido deduzido pela autora, com fundamento no artigo 487, I, do Novo Código de Processo Civil, para condenar o réu a pagar-lhe indenização por dano moral, no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), atualizado monetariamente de acordo com a Tabela Prática para Cálculo de Atualização Monetária de Débitos Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e acrescido de juros de mora à razão de 1% (um por cento) ao mês, ambos a contar da presente data.

Condeno o réu ao pagamento das custas, despesas processuais e dos honorários advocatícios da parte adversa que, com base no artigo 85, § 2º, do Novo Código de Processo Civil, fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação.

P.R.I.

São Paulo, 22 de março de 2016.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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