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Ap.e: ; Ap.a:. Acordam no Tribunal da Relação de Évora

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________________________________________________________________________ PN: 1015.991; AP.: TC Évora, Ap.e: ; Ap.a: . ________________________________________________________________________

Acordam no Tribunal da Relação de Évora

1. A Ap.a [A.], por via desta acção especial de prestação de contas, pediu a condenação do Ap.e [R.], cabeça de casal de inventário para separação de meações (divórcio), a prestar-lhas acerca da administração de bens inventariados: prédio

urbano (vivenda) sita , e consultório

2. Alegou em síntese:

a) O cabeça de casal viveu durante vários anos no prédio urbano, ao passo que a Ap.a teve de ir morar para um quarto em casa de hóspedes;

b) Isto apesar de ele ter saído da casa, para se instalar noutra vivenda, que entretanto construiu, mantendo a primeira fechada, sem largar mão;

c) Como o prédio urbano tivesse sido adjudicado à Ap.a, na conferência de interessados, 94.05.09, e a partilha tivesse sido homologada por sentença, 95.12.20, pediu que o mesmo lhe fosse entregue (art. 1384º CPC);

d) Mas o Ap.e opôs-se, tendo interposto recurso da decisão de deferimento;

e) Tornou assim claro que não queria, nem quer, facultar à requerente o referido prédio;

f) Quanto ao consultório, foi nele que o cabeça de casal sempre exerceu a profissão de médico, e continua;

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g) Ora, ambos os bens são susceptíveis de produzir rendimentos: o prédio porque está livre, podendo ser arrendado, o consultório porque é a base do rendimento profissional do Ap.e;

h) E se colocado no mercado de arrendamento, pelo prédio não viria a ser cobrada renda inferior a Pte.: 250 000$00/mês; o consultório, em regime de cessão, justificaria um rendimento não inferior a Pte.: 500 000$00/mês;

i) Mas o Ap.e nunca prestou contas, impondo-lhe todavia a lei que as preste, anualmente (art. 2093º CC).

3. O Ap.e contestou:

a) A Ap.a não pede que seja feito o apuramento entre as receitas e as despesas, e nem estabelece um saldo, para pedir que o R. o satisfaça;

b) Apenas se insurge contra o Ap.e pela forma como este administra os bens do casal;

c) Há portanto erro na forma do processo que importa a anulação de todos os actos que não possam ser aproveitados;

d) Por outro lado, o pedido está em contradição com a causa de pedir;

e) Embora formulado de forma imperfeita, certo é que o eventual preço do arrendamento da vivenda, no mer cado, não pode ser objecto de prestação de contas;

f) E muito menos o montante da retribuição de uma hipotética cessão do consultório médico;

g) Por fim, é legítimo, face à lei, o uso da casa de morada de família por parte do Ap.e, e a R. nunca requereu, em seu favor, a constituição de

arrendamento (1793º CC);

h) Só cessa tal direito com a adjudicação do imóvel, por via da partilha, cuja homologação só recentemente transitou em julgado;

i) Não tem por isso de prestar contas;

j) Tanto que deixou de viver na casa de morada de família logo que o tribunal viabilizou o pedido da Ap.a, ao abrigo do disposto no art. 1384º CPC;

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k) Apesar de tudo, não deu de arrendamento o imóvel, porque tal poderia constituir uma desvalorização do mesmo; factor impeditivo de uma tomada de posse efectiva, pela Ap.a, quando o tribunal o determinasse;

l) Por fim, o Ap.e sempre exerceu medicina no Hospital Distrital de Évora; m) No consultório, a maior parte das pessoas atendidas não pagam honorários;

n) E a partir da data em que aceitou o cargo de Director do Hospital Garcia da Horta (98.04.27), não mais recebeu um tostão dos seus pacientes;

o) O consultório não é assim um componente da formação do rendimento profissional do requerido;

p) Como bem comum, foi partilhado e adjudicado ao Ap.e;

q) Todavia, com o divórcio, cessaram entre os cônjuges as relações pessoais e patrimoniais (art. 1688º CC);

r) Dos bens da herança, e no exercício da sua função de cabeça de casal, o Ap.e não recebeu quaisquer rendimentos, apenas suportou as despesas

decorrentes da conservação de tais bens, tendo pago tudo o que lhes era inerente;

s) Devem ser julgadas procedentes as excepções, ou quando assim se não entenda, improcedente o pedido, reconhecendo-se, face aos fundamentos da acção, não haver o dever de prestar as contas.

4. Na resposta, a Ap.a, aduziu:

a) A A. não tinha que indicar as verbas de receita e despesa: esse encargo cabe ao R.;

b) Numa primeira fase, o R. é citado para apresentar as contas e, só se contestar a obrigação de o fazer, é que poderá ser condenado a vir prestá-las; por fim, no saldo, se for caso disso;

c) Por outro lado, com o uso que fez da casa de morada de família (e do consultório), em proveito próprio exclusivo, beneficiou de um bem comum: o cabeça de casal que usufruiu de um prédio do casal, em regime de livre

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ocupação, deve pagar pela usufruição, o que o prédio podia render nesse regime (ac. 36. 05. 30 [Avelino Leite], Rj. nº 486).

5. A decisão recorrida condenou o Ap. e a prestar contas da administração dos bens comuns, desde que foi investido na qualidade de cabeça de casal até à data do trânsito

em julgado da sentença homologatória da partilha (art. 2093º CC; ac. RC, 92.07.14, CJ, IV, p. 64; ac. RC, 94.11.17, CJ, V, p. 99):

a) Face ao teor do pedido é evidente que a A. andou bem ao lançar mão da prestação de contas…, pois este é o meio processual idóneo para que o gestor de património comum apresente as contas da administração, e quiça seja condenado a pagar o saldo apurado;

b) A causa de pedir de uma acção de prestação de contas reside na indicação do concreto facto gerador da obrigação de as prestar;

c) Bastou portanto à A. indicar, e fazer prova da qualidade em que o R. administra o património comum;

d) Questão distinta desta é a de saber se o património administrado gerou receitas e despesas.

6. Foi dado como assente:

a) Em 88.10.24, o Ap.e foi investido da qualidade de cabeça de casal no processo de inventário para separação de meações instaurado na sequência de divórcio decretado entre ambos;

b) Existem bens comuns cuja utilização e administração tem pertencido em exclusivo ao Ap.e;

c) A sentença homologatória da partilha, ditada naqueles autos, transitou em 99.01.29.

7. Concluiu o Ap.e:

a) Como aliás se reconhece da decisão recorrida, o pedido e a causa de pedir são moldados pelo que vem alegado na PI;

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b) O pedido formulado pela Ap.a consiste no seguinte: deve o requerido ser citado para no prazo de 30 dias prestar contas da gestão que, enquanto cabeça de casal, tem feito dos bens do casal ou contestar a obrigação de os prestar;

c) Não alegou que o recorrente tivesse recebido quaisquer receitas ou que tenha feito quaisquer despesas, provenientes da administração do património;

d) Disse a recorrida apenas que a casa de morada de família poderia ter sido arrendada e que, se assim fosse, a renda não seria inferior a Pte.: 250 000$00/mês;

e) Ainda: se o Ap.e tivesse de tomar o consultório, em regime de cessão, justificaria pagamento de quantia não inferior a Pte.: 500 000$00/mês;

f) É este o quadro dos factos alegados pela Ap.a para modelar o pedido que formulou;

g) Daí que o Ap.e tenha invocado, na contestação, que houve erro na forma de processo, e que a petição é inepta;

h) Com efeito, no caso de a recorrida entender ter havido, como parece ser o

caso, erros de gestão, deveria ter pedido antes a remoção do cabeça de casal (art. 2086º/1 b. CC);

i) Na verdade, o pedido de prestação de contas tem apenas por objectivo o apuramento e a aprovação das receitas e despesas, com a eventual condenação no saldo (art. 1014º CPC);

j) Os autos certificam que a casa do casal não foi arrendada; k) O consultório médico não foi cedido a ninguém;

l) Isto mesmo é reconhecido pela recorrida;

m) Daí que se não tenham gerado quaisquer receitas provenientes da administração dos bens da casal;

n) Por outro lado, a Ap.a, antes de ser intentada acção de divórcio saiu da casa do casal de sua livre vontade;

o) Nela ficou a viver o Ap.e;

p) Intentada a acção de divórcio, e decretada a dissolução do casamento, foi a R. considerada cônjuge especialmente culpado;

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q) Mas o recorrente continuou a viver na casa de morada de família, como era seu direito;

r) Não a arrendou;

s) Continuou a exercer a medicina no Hospital Distrital de Évora e no consultório;

t) Como é publicamente reconhecido, não cobra honorários à maior parte dos doentes;

u) Assim tem acontecido durante toda a sua longa vida de médico;

v) Em 98.04.27, foi nomeado Director do Hospital Garcia da Horta, em Almada;

w) Nessa altura, deixou de residir em Évora;

x) Apesar disso, mantém o consultório na cidade, onde orienta, nas sextas- feiras à tarde, algumas doentes (obstetrícia), que não prescindem da sua ajuda e dos seus conselhos, continuando a não cobrar quaisquer honorários;

y) Da casa não recebeu quaisquer receitas; o consultório, contrariamente a que a recorrida alega, não é uma componente do rendimento profissional do recorrente;

z) Este apenas aufere, como sempre, o ordenado;

aa) Tal rendimento não é comunicável, a partir do momento em que cessaram entre os cônjuges as relações patrimoniais e pessoais (art. 1688º CC);

bb) Por isso, no contexto da PI, a recorrida ficcionou putativos rendimentos da casa e do consultório, que não existem;

cc) Na verdade só teve despesas;

dd) Na óptica da PI não tem portanto o recorrente que prestar contas;

ee) Ao decidir em contrário, a decisão recorrida violou nomeadamente o art. 1014º CPC;

ff) Deve ser revogada, para que o Ap.e seja absolvido do pedido.

8. A Ap.a não contra-alegou.

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10. Segundo formulações jurisprudenciais, que se escolhem entre muitas, a

questão da correcção ou incorrecção da forma de processo adoptada em cada caso concreto há-de ser sempre solucionada por referência ao pedido efectivamente formulado pelo A2, ou só há erro de processo se o pedido formulado pelo autor não corresponder ao pedido para que o processo foi instituído3. No caso vertente, a Ap.a

formulou um pedido de prestação de contas, a que corresponde a forma de processo especial (geral; e art. 1019º CPC) de prestação de contas, não havendo portanto erro

na forma do processo: para defender o contrário, o Ap.e ficcionou, em boa verdade, um pedido (remoção de cabeça de casal) que a A. não formulou. Assim, a disfunção de alguns dos factos alegados, quando muito tem a ver com o mérito, e nem sequer com ineptidão: o recorrente compreendeu, com rigor, o pedido, tanto que se lhe opôs com eficácia, como veremos.

Para além daqueles que o recorrente critica, também é certo que a recorrida a legou

os factos essenciais, aliás dados como assentes na decisão recorrida4. O problema a

ter em consideração neste recurso desloca-se, por consequência, para o plano de saber se, não obstante, aqueloutros continuaram a ter influência negativa na solução final do pleito.

É certo que quem tem a qualidade de cabeça de casal há-de prestar contas da administração dos bens que como tal lhe estão confiados. É certo também que compete ao requerido apresentar por si, logo, ou por sucumbência da oposição, o deve

& haver contabilístico, só competindo à parte contrária, mas de modo indiscutível, se houver recusa.

Pareceria pois que não assiste razão ao Ap.e. No entanto, di-lo a lei, a acção de prestação de contas tem por objectivo o apuramento e aprovação das receitas obtidas

e das despesas realizadas por quem administra bens alheios5. Ora, se é a própria Ap.a quem diz, por referência ao património que delimitou, não estar arrendada a vivenda, nem ter sido cedido o consultório, sendo certo que as eventuais receitas

2 Ac. RE, 92.01.16, BMJ 413/637. 3 Ac. RP, 96.02.12, CJ, 1º/217.

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provindas do exercício profissional do Ap.e não estão em causa6, também se devendo

concluir da configuração do pleito, quanto às despesas, nenhuma das partes pretender acciona-las, aqueles factos mesmo, esses que o recorrente evidencia em favor da tese que defende, importam então demérito da causa: não há contas a apresentar, frustrando-se deste modo o objectivo accionário. Improcederá portanto.

Uma questão diferente, e que não cabe no pedido decerto, é a de saber se os benefícios em concreto obtidos pela utilização de ambos os bens pelo cabeça de casal

hão-de dar lugar a um determinado remunerar da meeira.

11. Atento o exposto, visto o art. 1014º CPC, perante a matéria de facto alegada pela recorrida, decidem julgar procedente a apelação, para absolverem o Ap.e do pedido.

12. Custas pela Ap.a, sucumbente, quando e se houver lugar ao pagamento (apoio judiciário).

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