É o boto, sinhá
ROLAGEM AUTOMÁTICA
FAIXA 8 DO CD
RECANTOS BRASILEIROS 1
É o boto sinhá
Emerge das águas,
em branco e elegante trajar,
olhos: feitiço em chamas, negros como noite sem luar.
Se vês homem, te enganas,
é o Boto Sinhá!
é o Boto Sinhá!
Nas festas, muita atenção,
com quem fores dançar,
se um simples toque de mão,
fizer teu corpo queimar.
Se vês homem, pura ilusão,
é o Boto Sinhá!
é o Boto Sinhá!
Se desse fogo dançarino,
dessa sedução do doce mar,
nascer um lindo menino,
nada carece explicar, pois é aceito o proibido, quando for o Boto Sinhá!
Arranjo e Voz: Dudu Fagundes – maestro das ruas
A seguir o texto “Álter do Chão IV – Festa do Sairé” amplia o tema da canção.
Caso interesse, é só utilizar o “ratinho”
Composição: J. Coelho
IMAGENS
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Álter do chão v – Festa do sairé
INTRODUÇÃO
Encerra-se com esta terceira apresentação, que tem como objeto a Festa do Sairé, o conteúdo considerado como desejado pelos interessados em visitar Álter do Chão.
As duas anteriores versaram sobre os passeios: a
primeira aos passeios mais realizados pelos visitantes;
e a segunda ao passeio á FLONA Jamaraquá, uma das sete comunidades da Floresta nacional do Tapajós – FLONA Tapajós.
Faz parte ainda desse conjunto de informações aos turistas de Álter do Chão – Santarém – Pará, norte Brasil, dois artigos: o primeiro apresentou Álter do Chão e a identificou tanto geograficamente, como na estrutura político-administrativa do estado do Pará; e o segundo narrou sobre: localização; acesso; um pouco de história; melhor época para turismo; e serviços
básicos oferecidos.
ORIGEM DO SAIRÉ
As raízes do Sairé encontram-se na tradição indígena.
O evento era realizado pelos índios em vários lugares da Amazônia, para homenagear os colonizadores
portugueses.
O processo de modificação do ritual de origem tem como causa a catequese dos jesuítas na região
O nome Sairé refere-se ao instrumento criado pelos catequistas, para perpetuar e firmar mais as religiões entre os índios e tem significação bíblica: santíssima trindade reunida num só Deus.
O símbolo do Sairé é um semicírculo, ou arco de cipó torcido, envolvido por algodão, significando a Arca de Noé, flores e fitas coloridas. No centro do semicírculo estão três cruzes, que representam o mistério da
Santíssima Trindade, reunidas num só um Deus,
representado por outra cruz, no topo do semicírculo.
A imagem da pomba, que representa o Espírito Santo, também faz parte do adorno.
A partir da
criação do Sairé pelos
catequistas, em meados do
século XVIII, o ritual de origem indígena passou a ter significado puramente
cristão e
católico. Passou a ser expresso no formato de procissão.
PROCISSÃO DO SAIRÉ
A procissão do Sairé tinha como centro os personagens que a constituem e o percurso por algumas ruas, até chegar à praça, à beira da praia de rio. Ali depositavam o arco e a imagem de São Tomé, pintada nas bandeiras tremulantes.
SÍMBOLO DO SAIRÉ
Na frente, jovem
portando e agitando bandeira branca
grande cruz
vermelha ao centro, onde a imagem de São Tomé se
sobrepunha em
pintura, ou bordado.
Em seguida vinham os músicos
basicamente
percussão e sopro.
Depois, vinha carregado sobre
ombros masculinos o mastro do Sairé,
vendo-se na parte de cima a Imagem de São Tomé. Ao lado do grupo que carrega o mastro, caminham o Juiz e a Juíza da festa.
Outros participantes e enfim, encerrando com destaque, vêm três mulheres
trazendo o Arco do Sairé.
PROCISSÃO DO SAIRÉ - ATUALIDADE
As três mulheres cantavam espécie de ladainha. Os acompanhantes respondiam o recitativo feito pelas três mulheres.
Cantavam as mulheres: Bonita mulher é Santa Maria/ e Jesus Menino é lindo como ela!
Respondiam os acompanhantes: “Oh! Santa Maria, Santa Maria/ nos céus e na terra, bendita seja”!
A procissão entra na praça onde será colocado o mastro.
A celebração se encerrava praticamente 10 dias após o início com a derrubada do mastro e com a cecuiara - lauto almoço com comidas típicas. Nesses tempos, a procissão do Sairé era ligada à celebração de N S. da Saúde, iniciada em 28 de dezembro e encerrada dia 6 de janeiro. O Sairé era encerrado no dia seguinte.
Por volta de 1943, os padres norte-americanos que atuavam na região, por considerarem o Sairé como espécie de idolatria, agiram e terminaram com a festividade, que somente voltou trinta anos depois.
DE PROCISSÃO À FESTA DO SAIRÉ
Até meados do século passado, o Sairé tinha significado puramente religioso. Hoje, a
comemoração reúne sagrado e profano.
O folclore de caráter religioso sofreu
alterações com o tempo, com a finalidade de
transformá-lo num gigantesco evento.
As gestões do município entenderam que o
turismo seria excelente alternativa de receita.
Além disso, parte do que era considerado profano na procissão, antes do meado do século
passado, hoje é
considerado religioso.
SAIRÓDROMO DE ÁLTER DO CHÃO
O ano que marca o ápice
dessa transformação é 1997, quando foi introduzido o
Festival dos Botos, disputa entre as associações
folclóricas Tucuxi e Cor de Rosa, na qual encenam a lenda do golfinho de água doce que se transforma num homem bonito, seduz e
engravida as mulheres.
A FESTA DO SAIRÉ – SÉCULO XXI
Além da seca já ser mais acentuada e para quem gosta de mais agito, no mês de setembro, ocorre
uma das mais antigas manifestações cultural popular da Amazônia, a festa do Sairé.
Festeja-se o Sairé no mês de setembro com ritual
religioso, durante o dia, culminando com a cerimônia da noite, quando são feitas ladainhas e rezas.
Depois, vem a parte profana da festa, com shows artísticos e apresentações de danças típicas e pelo confronto dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, ponto alto da comemoração.
APRESENTAÇÃODO BOTO TUCUXI
Ao longo dos anos, o Sairé foi ganhando novos contornos, com outros valores folclóricos sendo acrescentados pelos moradores de Álter do Chão, descendentes dos índios Borari: carimbó, puxirum, lundu, desfeiteira, camelu, valsa da ponta do lenço, marambiré, quadrilha, cruzador tupi, macucauá,
cecuiara e outros que marcaram a riqueza de ritmos e a cultura da festa.
Depois, o folclore foi perdendo espaço para shows com artista midiáticos.
Para a historiadora Terezinha Amorim, a introdução do Festival dos Botos foi a maior de
todas as inovações ocorridas ao longo de mais de 300
anos de existência do Sairé, sendo a encenação de
“uma das mais belas e mais
tradicionais lendas da Amazônia”.
ENCENAÇÃO LENDA DO BOTO PELA
ASSOCIAÇÃO FOLCLÓRICA BOTO COR SE ROSA
São personagens a Cunhantã-
iborari, a
Principaleza do Lago Verde, a Rainha do Sairé, o Tuxaua, o Pajé e os pescadores.
O boto é morto por ordem do pai (tuxaua) da
moça (Cunhã-
borari) seduzida e engravidada pelo boto.
A fúria dos maus espíritos da
região recai sobre Tuxaua
que pede ao Pajé que ressuscite o boto. Momento apoteótico da encenação.
RAINHA DO SAIRÉ CUNHANTÃ BORARI
PRIJNCIPALEZA OU RAINHA DO LAGO VERDE
O evento passou a realizar-se no Sairódromo, entre a segunda e a terceira semana de setembro.
A programação da festa, que tem duração, quase sempre de quatro dias, de quinta a domingo, tem basicamente a seguinte disposição: tem a parte religiosa de dia, ou nos finais de tarde e início de
noite; depois vem a parte profana com apresentações musicais; e, na noite de sábado, a apresentação das duas agremiações Tucuxi e Cor de Rosa.
FESTIVAL DOS BOTOS
Essa inovação introduzida no final do século XX
consiste na encenação de lenda amazônica, lenda do Boto, realizada por duas agremiações, Tucuxi e Cor de Rosa, que disputam o troféu de melhor encenação.
O enredo tem ideologia ecológica, pois ressalta a
natureza, em especial o Lago Verde, palco da trama.
A encenação gira em torno da sedução, morte e ressurreição do boto.
ILUSTRAÇÃO DE PROGRAMAÇÃO DA FESTA DO SAIRÉ Na festa do Sairé os elementos religiosos e profanos caminham lado a lado.
Ela começa no hasteamento de dois mastros
enfeitados, seguido de ritual religioso e danças
folclóricas desempenhadas pelos moradores da vila.
No último dia, sempre uma segunda-feira, ocorrem a
“varrição da festa”, a derrubada dos mastros, o marabaixo, a quebra-macaxeira e a “cecuiara”, espécie de almoço de confraternização. A
programação termina à noite, com a festa dos barraqueiros.
No sábado anterior:
Abertura da
Festa do Saíré:
Alvorada;
Procissão
Fluvial - Busca dos Mastros;
Festa dos
Mastros (inclui atração
musical);
PROCISSÃO FLUVIAL PARA BUSCA DOS MASTROS
Quinta-feira –
Manhã: Alvorada com fogos; Benção do símbolo do Sairé; Abertura Oficial; Hasteamento bandeira do
Brasil; Levantamento dos Mastros; evento artístico;
Noite: 18 horas rito religioso; evento artístico
normalmente apresentação de danças tradicionais;
Sexta-feira – Como as atividades se estendem até o meio da madrugada de quinta, não existe
programação pra as manhãs;
Noite: 18 horas – ritual religioso; em torno de 23 horas, show musical;
Sábado – Manhã sem programação
Noite- 18 horas – ritual religioso; apresentação das duas agremiações, Tucuxi e Cor de Rosa;
Domingo - Manhã sem programação
Tarde- 18 horas – ritual religioso; show musical Segunda-feira –
Tarde – Apuração e divulgação do vencedor;
Noite - encerramento com a festa dos Barraqueiros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Festa do Sairé realimenta a autoestima dos
membros da comunidade e mobiliza sua união em torno de expressão de crença e beleza.
A Festa do Sairé reúne em torno de si a série de outras manifestações artísticas que participam da festividade.
Todos da comunidade, ou turista que participam da Festa do Sairé sempre mencionará o Sairé ao se
referir à Álter do Chão.
FONTES:
Livro -“Cultura Amazônica. Uma Poética do Imaginário” –
João de Jesus Paes Loureiro Sites:
g1.globo.com;
pt.wikipedia.org;
santaremtur.com.br; e viagem.uol.com.br.
IMAGENS
g1.globo.com;
impacto.com.br;
olhartes.com; e
vemparaalter.com.br.
MÚSICA
Iara (Lenda Amazônica)
Arranjo e Interpretação: Dudu Fagundes - Maestro das Ruas
Composição: J. Coelho
Formatação e
Organização do Texto: J. Coelho