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Ethos e em fanzines: relações entre poder e discurso

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132

ETHO S E PO SICIO NAM ENTO S

EM FANZINES:

RELAÇÕ ES ENTRE PO DER E DISCURSO

ETHOS AND POSIT/ONING IN FANIINES:

RELAT/ONS BETWEEN POWER AND SPEECH

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C e l l i n a R o d r i g u e s M u n i z

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Licenciada em Letras, Mestre em Linguística e Doutora em Educação. Pro-fessora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

EDCBA

R e s u m o

Neste artigo, apresento algumas considerações sobre poder e discurso a partir do caso dos fanzines. Os fanzines, produzidos artesanalmente e di-fundidos tradicionalmente "às margens" dos circuitos profissionais de escrita e do mercado editorial, inscrevem-se numa tradição discursiva cujos e t h é e

p o s í c i o n a m e n t o s d í s c u r s í v o s , geralmente, estão na contramão daqueles

le-gitimados pela cultura oficial (como a cristã, por exemplo). Meu objetivo, aqui, é mostrar alguns exemplos de fanzines que rompem com essa tradição discursiva e ilustrar a errância e a multiplicidade que estão para além de seu suporte e de sua constituição semiótica, reafirmando assim a condição relacional, local e produtiva da articulação entre poder e discurso.

Palavras-chave: fanzine; ethos; posicionamento; poder; discurso.

A b s t r o c t

In this article, I present some considerations on power and discourse from lhe case of fanzines. The fanzines produced handmade and distributed predominately outside of the professional circuits of writing and publishing markel,

íall

within a discursive lradiLion whose ethé and discursive positions usually are on lhe opposite of those legitimized by the official culture (as the ChrisLian, ror exarnple). My goal here is to show some examples of zines that break with this discursive tradition and to illustrate the wandering and rnultiplicity that are beyond its support and its semiotics constitution, thus reaffirming thc relational condition, local and productive of the articulation between power and speech.

Key-words:

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íanzinc, cthos, positioning, power, discourse.

(2)

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EDCBA

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Inlroduw o

seritos

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"clandestinos" ou "marginais" não são nenhuma novidade

1).'

história

da escrita. O desenvolvimento da cultura impressa passa

ne-r ossane-riane-rnente por folhetos e livretos que competem com o império dos livros e jornais. Voltaire, Blake e Sade que o digam. Sob o lastro de uma produção "periférica", ou seja, para além dos circuitos legitimados e

ofici-.iis

de produção e circulação de textos impressos, no contexto da cultura

A

l'o p , emerge o

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

fa n z i n e (palavra formada da aglutinação de fa n a t i c e m a -g n z i n e , isto é, "revista do

fã").

Viabilizados primeiramente através de mimeógrafos e atualmente através de computadores (para editoração, impressão e/ou reprodução em máquinas de fotocópia), os fanzines -

fei-tos

a partir de recortes, colagens e dobraduras que dão unidade a uma junção caótica entre palavras e imagens - dão continuidade

à

história das muitas relações entre escrita e poder.

Desde sua emergência, como já assinalado, o fanzine manifesta

uma condição prototípica de localização contrária aos circuitos legitima-

133

dos de escrita e criação artística, bem como de posições temáticas: a

partir de 1930, os fanzines iriam possibilitar que

fãs

de histórias de ficção ientífica expressassem suas opiniões em boletins informativos, bem como permitir que autores excluídos do mercado editorial de quadrinhos publi-cassem suas próprias histórias nesses meios alternativos aos círculos pro-fissionais. Além do mais, os fanzines também foram importantes meios de divulgação dos ideais libertários do maio de 1968, do lema "do it yourself" da cultura punk, da imprensa nanica contrária

à

ditadura militar, da Poesia Marginal na contramão dos rituais da Academia ...

(d.

MAGA-LHÃES, 2004; MUNIZ, 2010). Enfim, o fanzine, historicamente, tem as-sumido predominantemente uma presença "subterrânea" em relação

à

cultura e escrita oficial e de maior visibilidade. Dentro da ordem estabelecida, podem ser vistos,

à

maneira de Foucault (2001), como prá-ticas geralmente interditadas e rejeitadas.

Mas, mesmo censurados, ridicularizados ou silenciados, os fanzines "teimam em resistir". É necessário, porém, evitar um olhar polarizador e binário que apresente de modo estanque os fanzines, restritos

à

esfera de oposições absolutas ( d o m i n a n t e s x d o m i n a d o s ou i n s t i t u c i o n a l x e x c l u í

-d o ) , especialmente em relação a e t h o s e p o s i c i o n a m e n t o d i s c u r s i v o

(MAINGUENEAU, 2001, 2006).

(3)

1IIIIiíl\~1I ~III 11111111",• 111I101010 • V.1, nO59, ano 32 - 2010 p.132a 141

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

omo pretendo mostrar, há exemplos de fanzines que ilustram uma

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I c s c o n t i n u i d e d e

com a tradição discursiva tida "underground",

demons-trando que, especificamente no que diz respeito a

e t h o s e p o s i c i o n e m e n t o

' i s c u r s i v o ,

o fanzine, tal como o caráter itinerante de seu suporte -

pe-quenos folhetos quase artesanais - não pode mesmo ser encarado de modo

fixo e, tal como a multiplicidade

implicada na sua semiose - com

apro-priações e ressignificações de outros textos verbais e imagéticos - não

pode mesmo ser visto de modo uno.

Em última instância, seguindo Foucault (2008a; 2008b; 2009),

tra-ta-se de reafirmar o caráter relacional, difuso e descontínuo dos

exercíci-os de poder que se articulam no âmbito discursivo.

EDCBA

1 . D o s c o n c e i t o s d e

ethos, posicionomento discursivo

e

poder

Segundo a perspectiva aqui adotada

(d.

MAINGUENEAU,

2006),

pode-se compreender o

e t h o s

como o efeito da atribuição de uma

ima-gem para o enunciador, elemento de uma construção discursiva ancora-

RQPONMLKJIHGFEDCBA

134

da tantos nas representações coletivas (culturais e históricas) como na

relação de interação específica (com as complexas cadeias de cognição e

afeição envolvidas).

Assim, como diz Maingueneau (2006, p. 70) se o

e t h o s é

o

fenôme-no em que

p o r m e i o d e s u a fa l a , u m l o c u t o r a t i v a n o i n t é r p r e t e a c o n s t r u -ç ã o d e u m a c e r t a r e p r e s e n t a ç ã o d e s i m e s m o ,

essa imagem que um

enunciador mostra de si, através de seu dizer, depende não só do que ele

sugere com seus enunciados,

mas acima de tudo,

da sua própria

enunciação.

Jáos

p o s i c i o n a m e n t o s d i s c u r s i v o s p o d e m

ser entendidos como uma

"tomada de posição" que determinado discurso assume em relação a

ou-tros. A identidade de um discurso, então, manifesta-se menos por uma

essência em si do que por uma relação de diferença num campo discursivo

(d.

MAINGUENEAU,

2001). Assim,

g r o s s o m o d o ,

pode-se pensar, por

exemplo, que o naturalismo literário se define por não idealizar

persona-gens e situações, à maneira do romantismo, ou ainda que o discurso

ma-terialista busque nas condições materiais de produção a base explicativa

para as ideias vigentes, diferentemente da filosofia idealista que procura

nas ideias vigentes a explicação da sociedade ete. ete.

De acordo com Maingueneau (2006), a construção de

e t h o s

se faz

(4)

II 132 0141

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

i'>t'

processa um dado enunciado,

ao que o autor

design.i

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

c t t u » . I U I ' l i s c u r s i v o ' .

Nessa perspectiva, pode-se pensar que o suporte cornunicarlvo

do

(,ln/ine, como elemento integrante de uma situação de enunciação,

poclo,

por si só, já manifestar considerações de valor - algo "rudimentar",

em

que o "simples" pode ser, muitas vezes, qualificado

como "simplório",

specialmente tomando como referência os projetos gráficos

profissio-nais implicados na edição de livros, jorprofissio-nais e revistas comerciais. Ou

ain-da pode suscitar antecipações de que, por não estar num circuito de

com-pra e venda, vá assumir posicionamentos mais "subterrâneos". De certo

modo, é isso o que postula Zavam (2006) com a seguinte generalização:

Investir no fanzine éposicionar-se contra a ideologia, sobretudo a do mercado editorial e é, consequentemente, colocar-se à mar-gem desse mercado.

Acredito que, embora se colocando predominantemente

"às

mar-gens" do mercado editorial e recorrendo tradicionalmente

a temas mais

"subterrâneos", disso não decorre dizer que, necessariamente, os fanzines

RQPONMLKJIHGFEDCBA

135

assumam

e t h é o u p o s i c i o n a m e n t o s d i s c u r s i v o s

"marginais", muito menos

que sempre se contraponham

a ideologias predominantes.

Tentando escapar das oposições por demais fechadas e absolutas,

na esteira do que propõe o projeto genealógico inspirado em Nietzsche e

elaborado por Foucault (2008a, 2008c), é possível considerar os fanzines

pelo viés de uma investigação que pretende identificar caminhos para o

seguinte problema:

quais são, em seus mecanismos, em seus efeitos, em suas relações, os diversos dispositivos de poder que se exercem a níveis diferen-tes da sociedade, em domínios e com extensões tão variados? (FOUCAULT, 2008a, 174).

Assim, através do método genealógico (FOUCAULT, 2008a, 2008c),

busca-se não a "essência" dos fenômenos mas sim as relações de poder

que atuam como condições de possibilidade de sua emergência. Como

afirma Foucault (2008c), o

q u e s e e n c o n t r a n o c o m e ç o h i s t ó r i c o d a s c o i

s a s n ã o éa i d e n t i d a d e a i n d a p r e s e r v a d a d a o r i g e m - éa d i s c ó r d i a e n t r e a s

c o i s a s ,

é

od i s p a r a t e .

(5)

Buscar descrever e interpretar essa conjuntura de discórdia, eis

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"m jl'to

genealógico. Nesse empreendimento, um conceito se faz

funda-mental:

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

p o d e r . Ressalte-se que a concepção de poder aí implicada não s reduz às análises economicistas, nem se restringe ao aparelho do Estado, nem

é

unicamente repressivo: o poder é compreendido como r e l a ç ã o ,

mo um c o n fr o n t o b e l i c o s o d e fo r ç a s(FOUCAULT, 2008a, 176), que se exerce necessariamente através de discursividades locais, móveis e até

paradoxais.

Pretendo demonstrar, assim, como os fanzines tomam parte desse "disparate", ilustrando como podem ser apropriados tanto por um discur-so anti-cristão quanto cristão. Tomo como critérios de análise as categori-as discursivcategori-as de e t h o s ep o s i c i o n a m e n t o .

2 .

Ethos

RQPONMLKJIHGFEDCBA

e

posicionamento discursivo

nas relações de poder em Fanzines

Com efeito, inúmeros são os exemplos de fanzines cujos

p o s i c i o n a m e n t o s e e t h é assumidos geralmente são mais censurados e

re-136

primidos pelas instâncias oficiais. Mas ainda assim não é possível ver de maneira uniforme o caso dos fanzines, em que ethos e posicionamento sejam restritos a esferas ditas "excluídas".

Apresento alguns exemplos que permitem pensar a relação entre poder e dizer através do caso do discurso (antilcristão, ilustrando como posicionamentos tanto profanos como sagrados podem se manifestar atra-vés das mesmas estratégias, a saber: modalidades de enunciação (os pró-prios fanzines) e recursos discursivos ( e t h o s e estratégias de humor).

Primeiramente, veja-se o caso do S e x o x e , fanzine produzido em Fortaleza, por estudantes universitários, nos primeiros anos da década de 2000. Nesse fanzine, observa-se um poema intitulado "Chagas de uma Vênus Decadente", com enunciados explicitamente anti-cristãos, tais como o enunciado metafórico D e u s n ã o p a s s a d e u m a b o c e t a c ó s m i c a , a q u a l

t o d a s a s a l m a s a n s e i a m p e n e t r a r . Ao final do poema, uma ilustração su-gestiva com o seguinte enunciado: D e u s m e d ê fe n d a !

O texto em questão assume um e t h o s satírico de profanação aos cânones sagrados do discurso do cristianismo, especialmente através do apelo ao riso (com o duplo sentido que se confere à tradicional invoca-ção cristã "Deus me defenda"). Esse caso ilustra como o poder pode ser pensado em seu caráter r e l a c i o n a Ie l o c a l : como afirma Foucault (2009, p. 105), o n d e h á p o d e " h á r e s i s t ê n c i a . Portanto, onde há o sagrado, há

(6)

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...

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EDCBA

_ ,

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t.unbérn o profano e onde há livros "nobres", há também folheto..,

"illf".

Ines".

if..

-4

Figura 1: Página do fanzine

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

S e x o x e s .

Não se trata, também, de pensar que há apenas um único lugar

para a recusa, m a s s i m r e s i s t ê n c i a s , n o p l u r a l (FOUCAU LT,2009, p. 106).

Em proporções desiguais, mas não de menor potência, o fanzine se

colo-ca aí num colo-campo contrário a todo o aparato de templos, cultos e

sacerdo-tes dos dispositivos religiosos da cultura judaico-cristã.

M as, além de imanente e difuso na sociedade, o poder processa-se

em pontos irregulares, desiguais, móveis e transitórios. E o mesmo apelo

a estratégias discursivas de humor e até mesmo o próprio fanzine,

utiliza-dos pelo discurso profano e anti-cristão, podem ser convertidos a favor de

um discurso sacro e cristão.

É

oique indica esse outro exemplo, do

' e d o c k Z i n e . um fanzine também produzido em Fortaleza, também por

estudantes universitários, também na década de 2000. O texto em

ques-tão mostra um personagem, falando ao telefone, assumindo um e t h

também satírico através da ironia para fazer valer um discurso cristão d

negação aos "falsos evangelizadores":

p 1320141 Educação em Debole • Fortaleza' v. 1, 0° 59,00032 2010

(7)

Pastor! Um verdadeiro escândalo! Eu vi aquele irmão na praia com a esposa só de biquíni! O que? Eu... Bem, eu estava evangellzando por lá!

EDCBA

A c n r a c t e r 1 s t i c n "da r e c r e a ç ú o é s e r a t i v i d a d e :--.~-Y;,.;~.:';-"':"~""'.'----

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espontânea, criadora de urna alegria isenta de pr eo-

A

<: I

cupaçõo: ~ ser ativIdade de .1U X o», isto é, desinle- '-.' ',.~.:' :.,. .. , .

ressadn. q u e t r a n s r o r m a e c o r r i g e a r e a l i d a d e , coti- ,.•.~~~ ,:-.... 1\

m ando à satislaçãO de urn deseJO e à necessidade r"',

ír" ~

de ocupar-se consIgo m esm o. .Só nas situações de I _~8.l~.

Jô~o é que nos podem os tTanslorJ1lM nas pess ons

-q u e d e s e j a . t n o s eq u e v r e c l s a r u o s ser.»

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138

Figura 2: Página do ZadockZine.

Além de um

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e t h o s

satírico, um

e t h o s

de caráter injuntivo,

tipica-mente "professoral" (no sentido da imagem de um enunciador que diz um

dever-ser) também pode estar associado tanto a posicionamentos cristãos

como anti-cristãos em fanzines. Éo caso dos fanzines

S a r r a b u i o d e T e r t ú

-l i a

e

j e r u b a a l ,

ambos também fanzines cearenses produzidos por jovens

universitários nos primeiros anos de 2000. No fanzine

S a r r a b u i o d e T e r t ú

-l i a ,

edição de número 2, o pequeno texto "Ética, moral e bons costumes"

assinala o seguinte:

Não roubar, não matar

Ou qualquer herança cristã puritana Banana de noite, leite com manga O bom costume não mais nos engana Porque a moral de nossos dias sempre Esteve a serviço do estado

Visões maniqueístas sobre o mundo Ou os pecados de qualquer religião Enquanto restringem a tua mente Eles limitam a tua ação.

(8)

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No (Hllto ( ,ISO,

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o fanzine

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

j e r u b a a / , com o mesmo e t h o s , mas com

lII11

A

!w .,h t o n . u n o n t o diferente, diz o seguinte:

Apóie a guerra contra satanás! Tire xerox e distribua este fanzine para as almas escravizadas e atormentadas pelas mentiras demoní-acas do satanismo e ocultismo. Divulgue o Reino de Cristo!

Como pensar, assim, que os fanzines são exclusivamente margi-nais, excluídos, subterrâneos? Estão necessariamente às margens das ide-ologias dominantes? Como pensar que e t h o s e p o s í c i o n a m e n t o s

apresen-iam

uma equivalência e uniformidade? O mesmo e t h o s não pode ser

IIIi Iizado como estratégia para p o s í c i o n a m e n t o s diferentes?

Fica evidente, assim, que o suporte ou dispositivo de enunciação

10

fanzine também não pode ser visto como um elemento estável na

constituição

de imagens do enunciador ou na assunção de posições

discursivas. De maneira descontínua e contraditória, os fanzines podem ser atravessados por discursos díspares e manifestar diferentes relações de poder (de reprodução ou de ruptura com discursos mais ou menos

legiti-mados).

RQPONMLKJIHGFEDCBA

139

Iigura 3: Capas dos fanzines ! e r u b a a l e S a r r a b u i o d e T e r t ú l i a .Detalhes:

r-nquanto o primeiro traz desenho que ilustra o pentagrama, símbolo do

lU ultismo, sendo jogado no lixo, o segundo traz o registro de um uso não-padrão para a expressão "voltamos".

(9)

Observações finais

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

não se deve imaginar um mundo do discurso dividido entre o dis-curso admitido e o disdis-curso excluído, ou entre o disdis-curso dominan-te e o dominado; mas, ao contrário, como uma multiplicidade de elementos discursivos que podem entrar em estratégias diferentes. s exemplos aqui apresentados demonstram a impossibilidade de articular a relação entre poder e discurso de maneira binária, bem como a relação entre

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e t h o s ep o s i c i o n a m e n t o d iscu rsivo. Fazer corresponder essas ategorias seria não admitir as descontinuidades entre exercícios de poder e estratégias discursivas. Sendo o discurso espaço de encontro entre poder e saber, é preciso pensar como Foucault (2009, p. 111), no sentido de que ...

140

Decididamente, as relações entre exercícios de poder e estratégias discursivas não podem ser pensadas de maneira inequívoca. Fanzines e estratégias discursivas, com os e t h é e p o s i c i o n a m e n t o s assumidos, po-dem tanto estar a serviço de ordens "maiores" como "menores" (discurso religioso, discurso profano). O fanzine entra no jogo do poder e, como tal, implica usos não só regulares, mas também contraditórios. Classificar as práticas sociais simplesmente como marginais OU instituídas é anular sua diversidade. E pensar o fanzine em termos de e t h o s o u p o s i c i o n a m e n t o

essencialmente "marginal" é negar a própria complexidade do mundo.

Referências Bibliográficas

Artigos e capítulos de livros

FOUCAULT, Michel. 2008a. Genealogia e poder. In: M i c r o fí s i c a d o

p o d e r . Tradução de Roberto Machado. 26ª Ed.Rio de Janeiro: Graal.

__ o 2008b. Sobre a História da Sexualidade. In: M i c r o fí s i c a d o p o

-d e r .Tradução de Roberto Machado. 26ª Ed. Rio de Janeiro: Graal.

__ .2009. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon de Albuquerque.

19

11

Ed. Rio de Janeiro: Graal.

__ o 2008c. Nietzsche, a genealogia e a história. In: M i c r o fí s i c a d o

p o d e r . Tradução de Roberto Machado. 26ª Ed. Rio de Janeiro: Graal.

(10)

·_

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

•...

,

. _00 I. A ordem do discurso. Tradução de Laura

r

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MAGALHÃES, Henrique. 2004. A nova onda dos fanzines. JOtl0 Pcs

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MAINGUENEAU, Dominique. 2001. O contexto da obra literária.

tra-dução de Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes.

__ o 2006. Cenas de Enunciação. Organização de Sírio Possenti

Maria Cecília Pérez de Souza-e-Silva. Curitiba: CRIAR Edições.

MUNIZ, Cellina Rodrigues (org.). 2010. Fanzines: autoria, subjetividade

i

invenção

de si. Fortaleza: Edições UFC (Coleção Diálogos Intempestivos).

_AVAM, Áurea. 2006. Fanzine: a plurivalência paratópica. Revista Lin-guagem em (Dis)curso. Volume 6. Número 1. Jan./Abr.

Fanzines:

Ierubaal. Número 2. Quixadá, Ceará, 2009.

As pirações do Gullar. Número 4. Teresina, Piauí, 2009.

Sarrabuio de Tertúlia. Número 2. Fortaleza, Ceará, s/d.

Sexoxes. Fortaleza, Ceará, s/d.

adockZine. Fortaleza, Ceará, s/d.

Notas

Do fanzine

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A s p i r a c õ e s d o C u l / a r .Teresina, 2009.

2 Penso que o termo p r é - d i s c u r s i v o não seja adequado, já que faz equi-valer discursivo ao plano da enunciação verbal estrita. Embora o ter-mo discursivo possa estar, de fato, precisamente ligado ao que é da ordem do verbal - como em Foucault (2008b), que diferencia sua fas

a r q u e o l ó g i c a (voltada para as regularidades das construções das

e p i s t e m e s , ou dos d i s c u r s o s ) , de sua faseg e n e a l ó g i c a (voltada para o funcionamento das relações de poder realizadas através dos dispositi-vos, que implicam elementos discursivos e não-discursivos), creio que não se pode desvincular o d i s c u ' r s i v o d e todo um campo de atuações relações, o que faz valer necessariamente os gêneros discursivos, con-siderados sobretudo como práticas sociais.

Enviado paro publicação: 18.02.2010

Aceito poro publicação: 27.06.2010

II 132 0141 Educação em Debate· Fortaleza·

A

V .1, nO59, ano 32· 2010

Imagem

Figura 1: Página do fanzine ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA S e x o x e s .

Referências

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