ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A
EDUCAÇÃO PÚBLICA DO CEARA
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Rolando Pinto Contreras
1 . AS RAZõES DE MEU DISCURSO EDUCACIONAL
Em várias oportunidades temos sido convidado para falar
sobre a situação atual da educação pública no Ceará,
procu-rando refletir objetivamente sobre algumas alternativas
inova-doras que teriam as atuais práticas pedagógicas, que estão se
realizando nas lnstituições oficiais de Educação.
Até agora só tínhamos aceito refletir sobre estes
proble-mas em duas situações acadêmicas muito especiais: no
Se-minário de Pedagogia, ar anizado pelos estudantes dos
Cur-sos de Pedagogia das três Universidades do Ceará (UFC,
UECE e UNIFOR) e, no Seminário Interno do Departamento de
Apoio Técnico - DAT, da Secretaria de Educação do Estado.
Em ambas procuramos mais do que fazer afirmações
categó-ricas, levantar algumas hipóteses explicativas sobre as áreas
da intervenção educativa onde é manifesta a necessidade de
pensar em algumas alternativas mais democráticas para o
desenvolvimento inovador da Educação Pública do Ceará.
Nosso ponto de partida tem sido uma certa visão
dialé-tica da realidade educativa. Com isto não queremos dizer que
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a c e i t a m o s como referencial teórico qualquer autor
determina-do .: Não acreditamos que a partir de um referencial teórico
"fechado" possamos construir uma certa dinâmica
interpre-tativa de um fato social que se manifesta contraditoriamente.
Mais bem, nosso referencial é uma certa metodologia,
uma certa atitude epistemológica, uma certa forma prática de
'Ier a realidade da Educação Pública do Ceará, enquanto
si-tuação que se movimenta contraditoriamente.
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 (211): 1 - 2 0 , [ u l / d e z . 1 9 8 2
De acordo com essa visao "epistemológica", 'nossas
su-posições teóricas são as seguintes:
1) Percebemos a realidade social, econorruca, política e
cultural que contorna a Educação do Ceará como uma
situa-ção "transitiva" que permite descobrir alguns espaços
sócio-políticos e culturais que possibilitem propor algumas idéias
alternativas e desenvolver algumas práticas pedagógicas
ino-vadoras; e .
2) A própria conformação social do fato educativo
públi-co, onde atuam grupos e classes sociais diversas, que jogam
posições ideológicas diferentes e têm posições desiguais na
estrutura do poder, permite descobrir os atores ou agentes
educacionais com os quais se possam impulsionar e
concre-tizar as mudanças alternativas para esta realidade educativa.
Isto é, queremos falar sobre alternativas educacionais
para um meio social determinado: a Educação Pública do
Ceará.
Esta exigência reflexiva e analítica. segundo nosso ponto
de vista, é o único caminho realista para pensar na melhoria
da Educação Pública. Neste sentido, temos que aceitar o fato
de que estamos frente a uma realidade profundamente
con-traditória, onde o político e o sócio-cultural aparecem
forte-mente determinados pelo funcionamento econômico
dominan-te, mas também onde os Aparelhos Ideológicos do Estado,
entre os quais a Escola, se mostram cumprindo confusamente
sua função de reprodução e de controle social dominante.
Com efeito, se partirmos do fato de que a Escola, como
Aparelho Ideológico do Sistema Capitalista dominante, deveria
estar reproduzindo a estrutura social, econômica e ideológica
Capitalista, procurando desenvolver as Forças Produtivas que
impulsionam o Desenvolvimento material e cultural do Sistema
dominante, teríamos que reconhecer, pelo menos, que ela tem
sido altamente ineficiente na sua função reprodutora.
Parece-nos que não é muito difícil constatar na realidade do Ceará
que o "potencial" do desenvolvimento Capitalista não está
con-tando com a contribuição reprodutora da Escola Pública.
Poder-se-ia afirmar, então, que a Escola Pública tem
exer-cido um controle neutro na reprodução capitalista, isto é, não
tem sido um Aparelho preocupado com o desenvolvimento das
Forças Produtivas e Sociais que sustentam o capitalismo. Mais
2
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l y d e z ; 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
bem o que se está reproduzindo na Escola Pública do. C~ará
é a 'marginalidade das Forças Sociais do usufruto capitalista.
No que segue desta análise, procuraremos mostr~r ~sta
su-posição sobre a função soci~l, ideológic~ e economlca que
vem cumprindo a Escola Pública do Ceara.
2. QUAIS ALTERNATIVAS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA DO
CEARÁ?
1) Primeiramente vejamos o problema de qu_em s,ãO.os
su-jeitos que se beneficiam com a Educaçao publica.
Segundo os dados oficiais d? Censo po.pulacional d~
1980 51 % da população Economicamente Ativa do, ~ear~
não tem renda fixa' 19% dela ganha menos de 01 Salar~o
MI-nimo e 15% ganha 'entre 01 e 02 Salários, ~íMI-nimo~ por mes (1).
Isto é mesmo que o Ensino Público Básico seja legalmente
concebido como "gratuito", será possív~1 para estes 80~ da~
famílias pensar como "vantajoso" frequentar a Escola. sera
material e socialmente viável para estas famílias. pensar q.ue_a
Escola é um meio para progredir individual e SOCialmente?, n~o
será mais fácil para elas pensar que ta~ "usufruto educacl~~
nal", pela longa gradualidade escolar, e ..par~ aquel~s q ,
possuem o dinheiro e o tempo para frequenta-Io?; nao ,se~a
para estas famílias uma melhor via de progresso sua propna
existência como "marginal social" ou, eventualmente, a boa
sorte ou azar?, f t a
Se tomarmos, por exemplo, algu~s. dados ~e eren es
Matrículas Escolares nas primeiras Senes do 1· Grau das
Redes Oficiais de Educação, tanto para o ~no 197~ c~mo
para 1980, a situação se apresenta da maneira segumte.
80% das matrículas se concentram nas 04
pri-meiras Séries do 1 9 Grau;
62% destes desistem de continuar além da
Se-gunda Série porque são reprovados. (22%) o~
seus pais retiram da Escola ao tármlno da
Pri-meira Série (36%); .
dos 20% dos 'alunos que continuam nas 04 Sénes
terminais do 1 9 Grau, apenas 05 deles. chegam.a
graduar-se no Ginasial, isto é, na Oitava Séne
do 1 9 Grau. ( 2 )
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l j d e z . 1 9 8 2
Est.es dados nos confirmam que a produtividade da
re-produtividade do Sistema Educacional Público deixa a maior
parte das crianças em idade escolar fora dos "usufrutos
so-ciais e instrumentais" do capltallsrno dominante. Isto é, a
Es-cola, enquanto Aparelho Ideológico do Estado, é altamente
improdutivo e ineficiente.
Neste contexto, quais as alternativas educacionais para
a Educação Pública do Ceará?
Parece-nos que só a possibilidade da Expansão da
Ma-. trícula e da criação das condições materiais e físicas
escola-res para a permanência e continuidade destas crianças na
Es-cola já seria uma boa alternativa para o desenvolvimento
psl-cossocial delas.
Isto é, abrir a Escola para todas as crianças, para que
usu-fruam do ensino oficial dominante, já seria uma conquista
de-mocrática muito importante para os setores populares
cea-renses.
Mas, também, a criação de certos mecanismos de
reten-ção, aprovação e promoção escolar de tais crianças
implica-riam numa complementação democrática indispensável para
a Educação Pública Cearense. Neste sentido, a melhoria das
condições físicas da Escola, o aumento da Assistência
alimen-tícia e psicossocial às crianças, a construção de lugares de
recreação, de um ambiente escolar agradável e atraente para
as crianças são alguns mecanismos necessários para
melho-rar as condições reprodutoras das forças socioprodutivas do
capitalismo dominante, mas, também, isto implicaria num maior
desenvolvimento material, individual e social dos próprios
se-tores populares do Ceará.
'" 2) Em segundo lugar, que fazer para melhorar o processo
de ensino da Escola Oficial?
Segundo os dados mais recentes mostrados pelas
Pes-quisas Educacionais da Universidade Federal do Ceará
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
( 3 ) epelos próprios estudos da Secretaria de Educação do Estado,
70% dos professores que, atualmente lecionam na Rede
Ofi-cial do 19 Grau da Zona Rural, não chegaram a uma escola-.
ridade superior à Quarta Série Básica. Portanto, sua formação
já foi deficiente.
Na Zona de Periferia Urbana, a situação melhora
enquan-to escolaridade, mas não enquanto qualificação pedagógica
específica. Uma grande parte dos professores que ensinam na
Rede Oficial de Educação não possuem a qualificação
peda-gógica necessária para lecionar no 19 Grau. ( 3 )
4
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z . 1 9 8 2 ' j a n / j u n . 1 9 8 3
Por outro lado, está a questão das condições salariais
destes prof.essores. Não só são péssimas, mas num contínuo
processo de deterioração social e humana. Em promedio, por
exemplo, um professor rural recebe um ordenado mensal de
Cr$ 2.000,00 e um professor primário titulado que começa,
tanto na cidade como na zona rural, não chega a ter um
orde-nado mensal equivalente ao Salário Mínimo. ( 4 )
Em conseqüência, a possibilidade de revitalizar o
pro-cesso de Ensino/aprendizagem começa com a melhoria das
condições de qualificação escolar e .pedaqóqlca dos
professo-res e pela superação estrutural da situação salarial e social
em que estes se encontram.
Mas, curiosamente, os mesmos que têm a
responsabili-dade de resolver esta dupla situação de exploração do
pro-fessor, exigem e cobram dele uma maior dedicaçã~,
compe-tência técnica e compromisso moral com sua funçao de
en-sinar.
A nosso entender, aquí estamos face a uma contradição
fundamental da Educação Pública do Ceará. Por um lado, se
desconhece a magnitude estrutural da situação social e
eco-nômica em que se encontra o professor, e por outro lado, se
reclama dele uma competência e uma responsabilidade pela
qualidade do ensino, que ele não pode assumir por causa d~
própria situação estrutural na que se encontra. Esta
contradi-ção mostra uma profunda concepção autoritária do
tratamen-to institucional do professor. '
. Com efeito, os ó r q ã o s responsáveis pela Direção
Político-técnica da Educação f'ública, de um modo geral, têm uma
política de menosprezo e desvalorização permanente no
tra-tamento institucional dos professores da Rede Oficial de
En-sino. Os "funcionários do sistema de ensino", como diria o
Prof. Rubém Alves ( 5 ) , estão para cumprir as determinações
e diretrizes definidas para eles pelos técnicos-planejadores da
instituição matriz.
Assim, os currículos escolares, o material didático, os
projetos pedagógicos concebidos como "dinamizadores", os
programas de treinamento, os comportamentos e as atitudes
profissionais estimadas como "padrões", as normas para o
funcionamento rotineiro da Escola, quaisquer normas
adminis-trativas enfim, as próprias margens para o desenvolvimento da
iniciativa do prof.essor são todos determinados de cima para
baixo. Isto é , a própria divisão do trabalho educativo cria as
condições materiais da existência de um "sistema de
domina-E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u t / d e s . 1 9 8 2
ção" que destrói a consciência e a iniciativa profissional e
so-cial do professor.
E depois é a ele ainda que se quer imp.or uma a~i~ude
inovadora face ao processo de Ensino/aprendizagem oficiat.
Pois bem, segundo nosso particular ponto de. vista,. u~a
perspectiva de avançar na democratizaç~o do. ~nslno. Publico
e na melhoria dos processos de educaçao oticial sena. a
de-cisão de pensar na superação dos problemas estruturais que
contornam a vida profissional e social do professor
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~ ? 19Grau, procurando valorizar a própria visão dele e em dialogo
com ele tomar as medidas corretivas de tais problemas.
Neste sentido a primeira competência técnica e o
com-promisso político 'inicial que deveríamos pedir. do prof~~sor
seria a sua capacidade de organizar-se e de dlalo~ar
cntlc~-mente sobre sua situação com as autoridades do Sistema
Ofi-cial de Educação. ( 6 )
Na procura de desenvolver tal competência, nos parece
que uma primeira medida deveria ser a abertura dos
Progra-mas de Treinamento para a participação dos professores ~ue
neles participarão. Estes programas devem levar em conslde~
ração a prática profissional e pedagógica dos pr?~essc::res; e
esta prática o início de todo o processo de quallticação
pe-dagógica dos mesmos. É esta prática a que deve ser
refl~-tida, enriquecida com novos subsídios teóricos e novas
pra-ticas mais inovadoras. A única coisa que não podem
esque-cer os Programas de Treinamento do professor de 19 Grau é a
vivência e a prática social e educacional deste.
Em conseqüência, a conquista da partici~ação do
pro-tessor em todos aqueles aspectos nos que estão concernldos
é um passo importante na formação de novas atitudes,
rela-cionamentos e comportamentos sociais e pedagógicos que
vão se reproduzir no processo do Ensino púb!ico.
3) Em terceiro lugar, o problema da qu~lldade ou ~a
fun-ção social do conteúdo do processo de Ensino/aprendizagem
da Escola. ( 7 )
Devemos pensar o tipo de conteúdo educacional que
pre-cisa a criança ou a clientela escolar do ensino público e
gra-tuito.
Nós já sabemos que se trata de uma criança popular, na
sua grande maioria social, econômica e psicologicamente
ca-rente mas que possui uma grande axperlêncla ~e vida .. Será,
então, que os conteúdos escolares que Ihes sao destinados
6
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
estão de acordo com as suas necessidades de
desenvolvi-mento psicossocial "equilibrado"?: mas temos alguma idéia
sobre o que é desenvolvimento psicossocial apropriado para
estas crianças?; será que as Teorias da Aprendizagem que se
impõem na Escola Pública correspondem às características
psicossociais ou ao ritmo da aprendizagem destas crianças
populares?; e por último, será que os conhecimentos
impos-tos na Escola têm algumà coisa a ver com aqueles que a
criança POPUIi'H aprende na cotidiana existência
sacio-cultu-ral -que a contorna? ( 8 )
Parece-nos que muitas das respostas são óbvias: o
con-teúdo do processo Ensino/aprendizagem da atual Escola
PÚ-blica não tem em conta para nada a realidade psicossocial e
cultural da criança popular, conseqüentemente, tampouco o
ritmo de maturação da aprendizagem delas é tido em
consi-deração. ( 9 )
Pois bem, quaisquer alternativas para democratizar o
Ensino Público passa pela adequação social, psicológica e
cultural dos conteúdos da Escola às características e
neces-sidades do desenvolvimento individual e social apropriado a
estas crianças populares e às suas famílias.
Pensando nestas alternativas, no sentido de fazer mais
funcional à realidade psicossocial das crianças populares o
Currículo Escolar e os Métodos de Ensino/aprendizagem, é
que nós vlsuallzarnos o seguinte processo:
- Num primeiro momento, procurar exclusivamente adaptar
a linguagem e as imagens que apresentam os livros
didá-ticos e os textos para o professor às particularidades da
região e à linguagem habitualmente usada pela clientela
escolar.
Isto é, mantendo a estrutura gradual das Unidades
Pro-gramadas, nas atividades e nos temas para serem
traba-lhados na Sala de Aula, procurar adaptar os mecanismos
EXPRESSIVOS do conteúdo escolar com a realidade
par-ticular que contornam à criança popular. ( 1 0 )
- Num segundo momento, enfrentar as Áreas Curriculares
que sejam mais disponíveis para a livre criação do
pro-fessor e dos alunos. Por exemplo, na Área de
Conheci-mentos Integrados poderia existir toda uma forma de
adap-tar suas atividades às particularidades regionais e às áreas
de interesse que tiveram os alunos.
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2
Isto é, mantendo a estrutura gradual das Unidades
Pro-gramadas Básicas, procurar mudar os conteúdos
COM-PLEMENTARES do Currículo Escolar.
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
( 1 1 )- Num terceiro momento, tentar reformular o Currículo nas
Áreas Básicas. No domínio da Alfabetização da Língua
Portuguesa, por exemplo, poder-se-ia utilizar formas
voca-bulares treqüenternente empregadas na vida social e
cul-tural da criança popular, procurando relacioná-Ias com
uma correta visão gramatical e vocabular do português
oficial. Do mesmo modo, na Área de Estudos Sociais e de
Ciências Naturais, poder-se-á fazer o esforço de partir do
conhecimento sincrético e real que tem a criança de seu
mundo histórico e natural imediato, contingente,
cotidia-no, e daí avançar para uma visão mais sintética dos
mes-mos aspectos, complementando-os com algumas
informa-ções mais eruditas ou de maior complexidade formativa.
Na área das Matemáticas, já o fato que a criança aprenda
brincando com os objetos que contornam sua vida
comu-nitária seria uma grande inovação curricular. Neste
sen-tido, seria muito mais interessante para uma criança filho
de pescador que apreenda as quatro operações aritméticas
somando, multiplicando, dividindo e subtraindo peixes,
ba-nanas ou mangas, que são objetos que ele conhece e
ma-nipula habitualmente, que fazer tais operações com, por
exemplo, objetos raros na sua realidade de pescador.
- Um quarto momento para este processo inovador do
cur-rículo e da didática para a Escola Pública do Ceará é
pro-curar redefinir a função do Currículo e dos Métodos
Didá-ticos numa perspectiva social-comunitária da Escola
PÚ-blica.
Isto é, preocupar-se com a validade cognitiva e
psicosso-cial que pode ter o Currículo e a Didática para cada
rea-lidade particular dos agentes que atuam numa Escola bem
determinada. Nossa p-erspectiva democrática nos leva a
conceber a possibilidade que tenha cada professor, com
seus respectivos alunos e com o concurso sério dos pais
destas crianças, para qu-e formulem suas próprias
neces-sidades da aprendizagem e, em torno delas, definam seus
próprios mecanismos metodológicos e curriculares qu-e
as satisfazem. Mas isto é uma nova utopia que requer,
previamente, resolver favoravelmente para o povo a
ques-tão do poder na Educação.
8
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
Mas como resolver esta questão do poder na Educação
sem mudar também as características dominantes da
socie-dade e da cultura nordestina?
Neste sentido, será possível pensar. nas alternativas de
inovação "democrática" da Escola sem questionar a
signifi-cação do autoritarismo cultural e social dominante na
socie-r í a d e civil?
Talvez "o pensar" não seja tão difícil, pois ninguém pode
entrar na privacidade do pensamento do sujeito ou do agente
'educador. Mas, será possível viabilizar estas alternativas sem
provocar reações negativas da parte do poder conservador?
E a resposta a esta pergunta é uma situação que escapa à
boa vontade das pessoas que dirigem os aparelhos do
Es-tado ou os órgãos oficiais do poder. ~ mais b-em um
proble-ma de atitudes, de um certo clima cultural que legitima o
poder através do controle de certo saber-instrumento
enten-dido como "normal", como uma prática social de uma certa
herança sócio-cultural do passado, isto é, um certo
compor-tamento "nacional" de uma classe social no poder. ( 1 2 )
Segundo este clima cultural dominante, "quem manda é
que dá nome às coisas". E isto nos parece tão normal que
quando alguém apresenta uma significação diferente para
essa mesma coisa, sobretudo quando essa significação não
surge dentre os que mandam, então o conflito se apresenta
em termos muito engraçados "quem é esse que está
falan-do, ei?" ( 1 3 ) ,
De acordo com este clima, também, qualquer proposta
inovadora para a realidade deve surgir dos que "mandam" ou
dos que são legitimados por estes.
Em termos educacionais, as alternativas devem surgir
dos que sabem: dos técnicos dos órgãos oficiais de Educação
ou dos Professores das Universidades.
Jamais dos setores sociais atuantes na sociedade civil.
Menos ainda dos "funcionários do ensino público". E
impos-sível de "sentir" dos grupos populares. Simplesmente utópico
das crianças-alunos. ~ considerado como uma loucura
irre-mediável pensar que as crianças populares carentes tenham
alguma coisa a diz-er.
Pois bem, nessa estratificação do saber-poder: que fazer
para que as alternativas' democráticas para a Educação
Ofi-cial tenham alguma participação da sociedade civil? Isto é,
que fazer pará criar algum movimento dinamizador da Escola
Oficial?
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z , 1 9 8 2
Parece-nos que o problema fundamental é a autonomia
da escola. Isto é, a necessidade de democratizar o
saber-ins-trumento educacional para avançar para uma democratização
do poder na Educação. E isto é mais um desafio que uma
rea-lidade. Para tanto, a necessidade de conquistar espaço social,
cultural e político para tal manifestação democrática nos
exige começar com aquilo que hoje é possível e permitido
fazer.
Mas isto supõe, também, que nós, educadores
democrá-ticos, tenhamos muito claro que espaço queremos abrir, com
quem e por onde começar.
3. AS RELAÇõES DO SABER-INSTRUMENTO
. EDUCACIONAL COM O PODER NA EDUCAÇÃO
Parece-nos necessário introduzir aqui uma questão
fun-damental da visão democrática da Educação: a
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
n o ç ã o dees-paço sócio-político e cultural.
O que nós estamos entendendo por tal espaço?
~ um certo lugar onde o agente sócio-educador e o
edu-cando-popular se encontram para realizar alguma atividade
em comum.
Mas, que tipo de encontro é este?
~ um trabalho de socialização da produção, distribuição
e usufruto do saber e da cultura nacional, regional e/ou
lo-cal que se contorna.
Neste sentido, este espaço é fundamentalmente
EDUCA-CIONAL.
Trata-se, então, de conceber como um processo social,
político e cultural que abre espaço físico e social para que os
atores educacionais possam encontrar, descobrir formas
cria-tivas e críticas de produção científica e cultural, e se
rela-cionem organicamente para criar condições permanentes para
um agir autônomo. ( 1 4 )
Em conseqüência, a noção de espaço sócio-político e
cultural está intimamente vinculada à de prática educativa
democrática e, neste sentido, à de movimento popular da
Educação.
Mas, como pode dar-se, na realidade, tal vinculação?
Se retomarmos nossa visão estrutural do capitalismo,
te-mos que aceitar que a Escola é a manifestação operacional
da ideologia da classe que está no poder e que exerce o
con-1 0
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2 í a n / í u n , 1 9 8 3
trole produtivo da sociedade de classe através da
legitima-ção de uma certa significação sócio-cultural da quase
tota-lidade da vida social e econômica. Tal significação, que é
proposta pela classe dominante como imposição ao conjunto
das classes e dos grupos sociais que compõem a sociedade,
não elimina as outras eventuais significações sócio-culturais
que provêm das classes subalternas. A dificuldade é que estas
se desenvolvem como significações "dominadas", apesar de
poderem ser socialmente majoritárias.
Em conseqüência, numa sociedade estruturada em
clas-ses sociais existe a contradição material que permite a
divi-são antagônica de algumas delas e isto sobredetermina a
existência de consciências e significações sócio-culturais
tam-bém antagônicas. Então, teoricamente na sociedade
capita-lista existem as possibilidades para sua transformação
mate-rial e sócio-cultural. O problema é encontrar os caminhos que
permitam potencializar historicamente tais possibilidades de
transformação.
No caso do capitalismo, o que legitima o poder é um
certo saber-instrumento que consiste numa certa forma de
produzir a Ciência e a Cultura, de distribuir individualmente
seus resultados e de usufruir acumulativa e individualmente,
de uma certa forma de ser; isto é, a realidade do TER. Tudo
isto supõe uma certa concepção humana e epistemológica
positivista e dogmática. ~ esta concepção a que deve ser
contestada da própria dinâmica social que pode
desenvol-ver-se na sociedade civil. Isto é, uma nova concepção de
saber-instrumento, uma nova visão epistemológica, uma
Ci-ência que valorize de uma maneira particular o sentir e o
saber do povo. A partir deste novo humanismo é que podem
criar-se formas de produzir, distribuir e usufruir dos
resulta-dos materiais e da Cultura, também de uma maneira diferente.
Um bom começo seria que nós, técnicos-educadores,
in-telectuais-funcionários, educandos-educadores, fôssemos
ca-pazes de "socializar" agora nosso saber já adquirido por
nossa prática e nossos estudos.
Mas, não é suficiente pensar em socializar o que temos,
aliás, isto não resolveria o problema da democratização do
saber e do poder. Temos que ser capazes de aceitar que o
saber' popular também é uma fonte de saber científico e que
é com os grupos populares que devemos recomeçar a
produ-zir, distribuir e usufruir o novo saber cultural que
mos criar para a democratização da Escola e da
Socieda-de.
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
( 1 5 )Temos que começar a aceitar que o sentir, o pensar, o
fazer e o agir popular podem ser fontes de um conhecimento
científico e educacional, e que podem ser confrontados, na
igualdade da existência social, com nosso sentir, pensar,
fa-zer e agir.
Em conseqüência, na realidade podemos vincular nossa
prática educativa à necessidade de abrir espaço
sócio-cultu-ral na Escola, na medida em que sejamos capazes de optar:
ou continuamos reproduzindo as significações das classes no
poder, o que naturalmente é mais cômodo, ou começamos a
lutar para que o saber popular, transformando em proposta
éognitiva e ativa, seja reconhecido como aprendizagem útil e
válida na Escola e como mecanismo pedagógico que permita
um desenvolvimento equilibrado de nossa criança popular.
Neste contexto, o que nós estamos propondo é que nossa
ação educativo-técnica se transforme numa maneira
perrna-nente de criação de espaços sócio-culturais para que o sentir,
o fazer e agir popular tenham oportunidade de manifestar-se
na Escola e nas diferentes instâncias da cultura e da vida da
sociedade civil. Neste sentido, para nós, não pode existir bom
desempenho sem optar politicamente para um compromfsso
orgânico com a liberação dos grupos populares com os quais
estamos em contato cotidiano, através de nossas crianças
que despovoam a Escola Pública do Ceará.
4. MAS, PARA ONDE APONTAR NOSSA ENERGIA
"ABERTURISTA"?
Deixando de lado qualquer formulação do PODER em
ter-mos de TER, e valorizando uma perspectiva mais de SER,
te-mos que admitir que o PODER não é só uma "capacidade de
mandar", mas sobretudo uma forma de existência social, uma
certa força sócio-cultural que dá Significação humana às
coi-sas que produzimos no nosso dia. Daí, então, que para nós
não é importante estar na elite da decisão. Finalmente, quem
decide é sobre a base de certas alternativas possíveis de
sig-nificação, que Ihes são apresentadas por aqueles que estão
no processo produtivo de tais significações. Neste contexto e
aplicando tal conceito à Educação, poder para nós é a
capa-cidade do educador e do educando de produzir um processo
1 2
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z . 1 9 8 2 í a n / í u n . 1 9 8 3
de enslno-aprendizaqern que interesse ao desenvolvimento de
ambos e no qual ambos tenham a liberdade de desenvolver-se
usando e usufruindo desse processo que criarem. Isto é, que
nos tenham o poder de decidir na aplicação ou significação
pedagógica que eventualmente outros produzem para eles, ou
optar por aquele que eles mesmos criarem.
N e s t e sentido, a democratização do poder na Educação é
sobretudo um processo de conquistar espaço para o
desenvol-vimento equilibrado e autônomo da comunidade escolar ou
educacional, em g.eral.
Mas, este espaço não é doado ou cedido pelo poder
con-servador.
Sobretudo é um processo dinâmico de conquista, de
cons-trução de um modo de existência social pluriclassista e
plu-rideológico, onde não existe o consenso como forma de
su-peração dos conflitos sociais, mas a negociação das posições
divergentes para chegar a certas soluções comuns,
aceitan-do o fato de que na continuidade da existência social o outro
segue possuindo parte da verdade histórica e por isto tem a
liberdade toda para continuar sendo, socialmente sendo'.
Trata-se, em conseqüência, de criar uma nova atitude
nas relações sócio-educacionais entre o agente educador e o
agente educando, entre a Escola e a realidade comunitária do
aluno, entre o Estado e a Sociedade Civil.
A questão é começar agora a criar esta nova atitude,
precisamente num contexto sócio-político e cultural que é
al-tamente fechado para entender as atitudes democráticas e as
formas não autoritárias de existência e' convivência social.
Neste contexto, pareceria que a realidade estivesse
sobrede-terminando as atitudes dogmáticas e as práticas autoritárias
(e isto nos parece válido tanto para os agentes sociais de
es-querda como para os de direita. Pareceria que os agentes
sócio-educacionais não acreditassem muito na necessidade
de uma existência social mais democrática,
conseqüentemen-te, mais autônoma).
Mas é com estas limitações e sobre esta realidade que
devemos trabalhar em Educação.
!::
lutando contra estasde-terminantes que devemos procurar abrir os espaços
sócio-educativos para a manifestação do saber e do poder dos
opri-midos.
Para tanto, seja qual for a função ou a posição do agente
sócio-educativo que opte pela democratização do poder na
Educação e na Sociedade, seu âmbito ou as áreas de ação
para seu trabalho aberturista deve ser duplo.
1) De um lado, na nossa própria realidade institucional,
na qual estamos existindo como sujeitos sociais:
Precisamos abrir espaço na nossa instituição para que
nela se manifestem as atitudes democráticas. Nós devemos
lutar pela democratização do saber-instrumento que
ensina-mos -ou que aprendeensina-mos e conquistar nosso lugar na
produ-ção de tal saber-instrumento.
Devemos exigir respeito para as significações científicas
e culturais que contribuímos para produzir com nosso
traba-lho individual e coletivo. Sobretudo se elas são produto de
um trabalho de equipe.
Enfim, devemos criar as condições materiais para uma
existência sócio-educativa que acabe com os dogmatismos
epistemológicos que transformam o fazer científico mais nu'!l
ato de fé que num processo de produção e usufruto do
conhe~l-mento científico. Nossa instituição tem que ser uma expressao
do pluriclassismo, do plurideologismo, da
pluridirnensicnall-dade epistemológica.
Em termos mais sociológicos, os espaços institucionais
que devemos conquistar estão relacionados com as situações
sociais seguintes:
a) Primeiramente, nossa valorização como agentes
so-ciais particulares, e como tais, fazer reconhecer
nossa força produtiva. _
Isto é, se somos técnico-educacionais, conquistar o
espaço para produzir nosso saber-instrumento,
unin-do-nos e organizanunin-do-nos para a produção coletiva e
o usufruto individual de tal conhecimento.
b) Em segundo lugar, a necessidade de fazer reconhecer
nossa força e nossa significação face aos outros
gru-pos existentes na nossa instituição.
Isto é, se somos Educadores comprometidos com uma
certa visão epistemológica, conquistar o espaço para
ser legitimados como científicos pela comunidade
ci-entífica composta por outras visões epistemológicas.
Se somos técnicos, ser respeitados nas nossas
opi-niões pelas outras equipes técnicas que existem na
instituição. Mas isto exige de nós competência
profis-sional e força organizada de nossa parte.
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 4
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , í u l / d e a 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
c) Em terceiro lugar, também devemos ser reconhecidos
por nosso compromisso social e profissional pelas
or-ganizações da classe ou pelas outras organizações
referenciais às quais pertencemos.
Isto é, seja como educador ou como técnico, ternos o
dever de participar ativamente nas nossas
organiza-ções de classe e projetar nossa presença individual
ou coletiva nas organizações político-ideológicas às
quais aderirmos voluntariamente.
d) Por último, devemos legitimar-nos como produtores
técnicos ou intelectuais face às autoridades
institu-cionais.
Isto é, tanto como técnico ou como educador, temos
que mostrar nossa competência nos assuntos
educa-cionais que são discutidos e que procuram uma
solu-ção para um problema provindo da realidade. Só desta
maneira vamos influir nas orientações que adota o
de-senvolvimento da Educação na nossa instltulção.
2) De outro lado, conquistar espaço para trabalha! com os
grupos populares e poder realizar com eles nossa opçao
demo-crática da Educação.
E aqui está, a nosso entender, a parte difícil da ação edu-cativa democrática.
Numa sociedade estruturalmente autoritária, o agente
edu-cador tem sido um funcionário a serviço da dominação dos
grupos poulares. Como tal, tem servido como instrum~~~o ?e
legitimação do saber-instrumento dominante. Em consequencra,
este funcionário tem estado ausente da vida dos grupos
popu-lares e, com sua ação legitimadora, tem impedido a emergência
histórica do saber e do poder cultural do povo.
A perspectiva da educação democrática exige uma
re-aprendizagem educacional deste agente. E isto significa, um
re-situar-se historicamente face aos grupos populares.
Tra-ta-se de recuperar um espaço sócio-educativo que estava
per-dido para o povo.
a agente educador precisa reconquistar uma
competên-cia esquecida, na qual o professor era quem inventava os
processos pedagógicos a partir de uma explicação
sócio-cul-tural da realidade diversificada.
Na atualidade, a recuperação desta capacidade implica
em criar, juntamente com os grupos populares, os
procedi-E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z , 1 9 8 2
mentos pedagógicos básicos que transformem as
significa-ções culturais e instrumentais disponíveis na sociedade ou
no seu mundo local, em conteúdos educativos e em
conheci-mentos científicos aprofundados que ajudem aos grupos
po-pulares a "armar-se" para resolver seus problemas
comuni-tários.
Em relação ao educador que trabalha na Escola, ele deve
compreender os alunos com os quais convive, conhecer o seu
mundo e dominar as técnicas que lhe permitirão avançar no
processo de aprendizagem destes e na conseqüente
avalia-ção e promoavalia-ção dos mesmos.
Trata-se, então, de recuperar a unidade e a organicidade
do processo educativo. Para isto, o professor deve lutar para
reapropriar-se de tudo aquilo do qual foi expropriado pelas
sucessivas reformas ou modernizações aplicadas no Ensino
Público.
Neste sentido, um primeiro espaço que o professor
de-veria recuperar seria a sua legítimação como educador
popu-lar pelos grupos sociais com os quais concretiza sua ação
educativa.
Tal legitimação implica na sua transformação de
funcio-nário da cultura oficial num "aprendiz" da vida dos grupos
populares e, em, conseqüência, colocar sua competência
pe-dagógica e seu saber-instrumento como uma proposta
cogni-tiva para estes.
Esta nova função educativa para o professor deveria
tra-zer como resultado um crescimento substancial da capacidade
social e política dos grupos populares. Isto é, o conhecimento
causal dos seus problemas comunitários e um comportamento
ativo e orgânico na procura das soluções estruturais dos
mesmos.
A partir desta legitimação, a nosso ver, deveria começar
um novo processo sócio-educativo para a Educação Pública
do Ceará, isto é, uma certa dinâmica social de abertura, onde
a reprodução democrática da Educação e da Sociedade seria
a nova dialética que daria o conteúdo
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à Escola Pública. Emsuma, sem a criação desta nova dinâmica democrática, nós
. não acreditamos na possibilidade de transformar a atual
Es-cola Pública do Ceará nem sequer num Aparelho Ideológico
do Capitalismo. Isto é, num aparelho de Estado que contribua
para o desenvolvimento e a reprodução das Forças
Produti-vas, ainda potencialmente presentes na realidade da
Educa-ção Pública do Ceará.
1 6
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z , 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
NOTAS BIBLlOGRÁFldAS
...
---,.-
....~._ _
..•..
_
.-8 . ~ ; " : ' ~ ' (.. ' \
:.,v~
l"',
ll.~,f.t ~ ~ c ' . . .t..t1 t.:..t r...: ~ ." :) 1\ . . .
(1 ) - Dados colhidos do IBGE. Censo de 1980.
(2 ) - In: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARA. Centro de Informações CEDIN.
Sinopse do Ensino de 1.° GRAU - 1980. Edições CEDIN, Forta-leza. 1982. Várias Tabelas.
(3 ) - Alguns dados sobre a realidade da formação dos educadores do Ensino de 1.0 GRAU no Estado do Ceará estão referidos nos es-tudos seguintes:
- SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARA PRó-RURAL - Projeto de Melhoria do Ensino Municipal.. Programa de qualificação de Professores Municipais não titulados. Diagnóstico da situação nos PDRI's do Ceará. Fortaleza, 1982 - Mimeogra-fado.
- SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARA. Plano Estadual de Educação 1979-1983. Fortaleza, 1979. Particularmente: "Diagnóstico da Realidade Educacional do Ceará".
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA e FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Avaliação do EOURURAL nos Esta.dos de Pernambuco. Piauí e Ceará. Relatórios Técnicos ns. 3 e 4, Fortaleza, 1982.
(4 ) - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARA. PRÓ-RU-RAL. Dados proporcionados pelos Relatórios Anuais dos Projetos de Desenvolvimento Rural Integrado - PDRI's. Anos 1980, 1981 e
1982.
(5 ) - Pareceu-nos muito importante a distinção que faz o Professor Rubém Alves sobre o que é um funcionário do Sistema de Ensino e um Educador.
Não obstante, consideramos um tanto extrema a passagem de "funcionário" ao "educador", daí que o conceito de professor "competente" nos parece um passe intermediário nessa trans-formação' social do agente educador.
Ver: ALVES, Rubém. "O preparo do educador". In: Carlos R. BRANDÃO (Org.), O Educador: vida e morte, Rio de Janeiro, Edi-ções GRAAL t.tda., Biblioteca de Educação, 1982, p. 14 a 28.
(6 ) - Sobre o problema da relação entre a "competência profissional" e o compromisso político do educador, recomendamos ver: - MELLO, Guiomar Namo de - Magistério de 1.° GRAU: da
competência técnica ao compromisso político, Cortez Editora, São Paulo, 1982.
- CHAUI. Marilena. 'O que é ser educador hoje?" In Oarlos R. Brandão.
O Educc:-dor:Vida e Morte. Op. cit. p. 53 a 70.
- COELHO, IIdeu M. ,"A questão política do trabalho pedagógico". - In: Carlos R. BRANDÃO (org.) O Educador: Vida e Morte. Op. cIt. - GIRALDEZ VIEITEZ, Candido. Os professores e a organização da Escola. A nova hege'monia na Escola. São Paulo, Cortez Editora, 1982.
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 ,[ u l / d e z , 1 9 8 2
- SALGADO, Maria Umbeli na Caiafa. "O papel da didática na formação do Professor".
In: Revista ANDE, Ano 1, n.o 4, 1982. São Paulo.
(7 ) - Sobre algumas visões ou estudos críticos da realidade da Educa-ção no Nordeste brasileiro, recomendamos ver:
- CARVALHO, Valter de. "Educação Primária no Nordeste Bra-sileiro:
Um Desafio
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à Pesquisa. In: CNPq. Pesquisa em Educação no Nor-deste. Brasília, 1981, p. 19 a 30. _HAGUETTE, André. "A Pesquisa Institucional: uma proposta meto-dológica exemplificada". Revista Educação em Debate, Fortaleza, 3 (2): 1980. p. 67 a 104. Particularmente ponto referido a
"Cami-nhos Democráticos: 1975 a 1980".
- PINTO CONTRERAS, Rolando. A Formação dos Pesquisadores Educacionais na Realidade Sócio-educativa Nordestina. Trabalho apresentado no 1 1 1 Encontro Regional de Pesquisa Educacional, Fortaleza, Setembro 1982. particularmente ponto sobre: "Alguns Problemas Referenciais para a Pesquisa Educacional". Mimeogra-fado.
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA e FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Avaliação da Educação Básica no Nordeste BrasiJe:ro•. Fortaleza, Relatório Técnico N.o 5. Projeto de Avaliação do EDU-RURAL, 1982.
(8 ) - Uma das conseqüências mais sérias desta situação de disfuncio-nalidade regional da Educação Pública do Nordeste é a migração dos nordestinos alfabetizadoS para o Sul do país. Poder-se-ia afirmar que a Escola pública, particularmente a Rural, está qua-lificando para a migração e não para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural da realidade nordestina.
Como um exemplo disto, recomendamos ver: WEFFORT, Fran-cisco. "Nordestinos em São Paulo. Notas para um Estudo sobre a Cultura Nacional e Cultura Popular". In: A Cultura do Povo. Cole-ção do Instituto de Estudos Especiais n . ? 1, Op, cit, p. 13 a 23.
(9 ) - O problema da improdutividade da Escola Pública Brasileira está aprofundado hipoteticamente em alguns estudos, particularmente realizados em São Paulo e Salvador. Sobre os primeiros aqui citados, recomendados ver: MELLO, Guiomar Namo de "As con-dições lntra-escolares na determinação da seletividade do ensino-de 1.° GRAU, um problema de Pesquisa". In: 'Vários autores. Seletividade Sócio-econômica' no Ensino de 1.° Grau. Rio de Ja-neiro, Achiame/ANPED, 1981, P. 15 a
Também, da mesma autora: "Educação Escolar e Classes Popu-lares:
Uma reflexão sobre o atual momento educacional e político do Brasil". In V Encontro Nacional de Supervisores de Educação.
Rio de Janeiro, 10 a 15 de outubro de 1982. ASSEERJ, Plurarte, 1982, p. 17 a 28.
E da mesma Guiomar Namo de MELLO: "Relação professor-aluno no ensino de 1.° GRAU: questão apenas de atenção e carinho ou também de competência profissional?". REVISTA "Ande", São Paulo, Ano 1, (1): 34-5, 1981.
1 8
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , . F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2 j a n / j u n . 1 9 8 3
Sobre Os estudos do satvador, B a h í a , ver: GOLOBERG', Maria Amélia e alteris.
Seletividade Sócio-econômica no Ensino de 1.° GRAU. Op. cit ., p . 63 a 92.
(10) - Uma experiência deste tipo foi realizada pela equipe técnica do Projeto de Pesca do PRÓ-RURAL, no Treinamento de Professo-ras Municipais de MUNDAO, realizado no mês de janeiro de 1982. Nessa oportunidade as professoras, divididas por séries de
ensi-no, fizeram uma adequação do Currículo Oficial às propostas de conteúdos novos que implicava o Projeto da Pesca.
Para um resumo desta experiência, recomendamos ver:
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, PRÓ-RU-RAL - PRODASEC.
Relatório do Projeto de Desenvolvimento da Pesca. de Mundaú. Fortaleza, setembro de 1982. Particularmente: Anexo N.o IV:
"Treinamento das Professoras da Comunidade de Mundaú;'.
(11) - Sobre a possibilidade de reformular certas áreas do Currículo Oficial, particularmente na Área de Estudos Integrados, recomen-damos ver a experiência que está se realizando no PRÓ-RURAL, através do Programa de Qualificação das Professoras Municipais. Uma Equipe Técnica Central está elaborando uma proposta de reformulação que deverá ser discutida e analisada pelas professo-ras rurais, nos Cursos de Treinamento Direto dados por esta mesma Equipe.
Ver: SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ. PRÓ-RURAL. Projeto Melhoria do Ensino Municipal. Programa de Qua-lificação de Professores Municipais não Titulados. Fortaleza,
fe-vereiro de 1982.
(12) - Considerado o "educador funcionário" como um agente dostatus-quo, parece-nos que ele cumpre uma função claramente de elite e enquanto tal exerce uma função' social autoritária. Em relação a isto, ver: CHAUí, Marilena. "Cultura do Povo e Autoritarismo das Elites". In: A Cultura do Povo, Coleção do Instituto de Es-tudos Especiais N.o 1, São Paulo, Edições da Universidade Ca-tólica de São Paulo - EDUC., 1982, p. 119 a 134.
Também: COELHO, IIdeu. "A questão política do trabalho peda-gógico".
In: Carlos R. BRANDÃO (Org.) O Educador: Vida e Morte. Op. cit.
(13) - Recomendamos ler o capítulo: Você sabe com quem está falan-do? A Relação entre Pessoa e Indivíduo na Sociedade Brasileira." In: MATTA, Roberto de - Carnavais, Malandros e Heróis. Para uma sociologia do dilema brasileiro. Rio de Janeiro, Zahar, 1980, p . 139 a 193.
(14) - Queremos assinalar a vinculação entre Educação e Democracia, entre Agente Educativo Democrático e a necessidade de inovar na
Educação. .
Ver: CHAUr, Marilena. "O que é ser educador hoje? Da arte à ci-ência: a morte do educador". ln: Carlos R. BRANDÃO. O Educador: Vida e Morte, Op. c í t ,
d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , [ u l / d e z . 1 9 8 2
(15) - Aqui estamos seguindo as orientações pedagógicas e filosóficas de Dermeval SAVIANI. Com ele afirmamos que a verdadeira função social da Educação é procurar que a intencionalidade educativa no aluno se expresse no processo de transformação do conhecimento a partir de uma visão sincrética da realidade para uma visão sin-tética da mesma.
Em relação a isto. recomendamos ver:
SAVIANI, Dermeval. "Escola e Democracia ou a Teoria da Curva-tura da Vara". RevistaANDE, São Paulo. Ano 1, (1): 23-35. 1981.
E do mesmo autor: "Escola e Democracia ou Além da Teoria da Curvatura da Vara". Revista ANDE, São Paulo. Ano 1, (3): 56 e sego 1982.
WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t a l e z a , 4 / 5 ( 2 / 1 ) : 1 - 2 0 , j u l / d e z . 1 9 8 2