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Acordam os Juízes da 2.ª Secção do Tribunal da Relação de Guimarães:

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 2150 /14.7T8BRG-G1

Relator: FRANCISCA MICAELA MORA VIEIRA Sessão: 09 Março 2017

Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: PARCIALMENTE PROCEDENTE

CONTRATO DE EMPREITADA

RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL

PRESUNÇÃO DE CULPA

Sumário

1 - O não cumprimento do contrato de empreitada gera responsabilidade contratual e enquanto violação ilícita dos direitos de outrem no exercício da atividade de empreiteiro dá origem a responsabilidade extracontratual.

2 - O artigo 492º, nº1, do CC só estabeleceu a presunção de culpa, em caso de ruína do edifício ou obra, em relação ao proprietário ou possuidor.

3 - Logo, aquela presunção só seria aplicável ao empreiteiro nos termos desse artigo, se este for o proprietário ou possuidor do edifício ou obra, o que, não sucede na grande parte dos casos, uma vez que, em relação à posse, o

empreiteiro, pese embora mantenha o contacto material com a coisa, é um mero detentor ou possuidor precário, uma vez que possui a coisa em nome do dono da obra (( art. 1253º. Al. c) do CC).

Texto Integral

Acordam os Juízes da 2.ª Secção do Tribunal da Relação de Guimarães:

I - RELATÓRIO

G instaurou a presente acção de condenação comum, contra o Condomínio do edifício M, contra a administração do condomínio, “C”, “A” e “T”, alegando, em síntese, que é proprietário da fracção que identifica e que se situa no

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condomínio R.; que o 1º R., 2ª R. e 3ª R. celebraram cum contrato, com vista à substituição do telhado da cobertura do prédio; na noite de 23 para 24 de Dezembro de 2013, as chapas colocadas para cobrir o telhado voaram, permitindo a entrada da chuva na sua fracção, causando danos que a tornaram inabitável e destruindo vários objectos que se encontravam no

apartamento; imputando a responsabilidade pela ocorrência dos danos às três primeiras RR., o A. pretende que estas o indemnizem do valor dos objectos estragados, num total de 21.666,90 €; pela privação do uso do imóvel, que ainda ocorre; do valor que continua a pagar a título de luz e água, apesar de não poder residir no imóvel, e que perfaz a quantia de 330,99 € e 209,15 €, respectivamente; da prestação do crédito bancário para aquisição da casa e que continua a pagar apesar de não usufruir da mesma, e que ascende a 1.898,40 €; do crédito pessoal, e respectivos juros, que teve de contrair para poder repor alguns dos objectos estragados com a entrada da água; das despesas que contraiu por ter vivido num hotel, no total de 536,00 €; da

despesa tida com a colocação do cão num hotel canino, no montante de 258,30

€; da despesa tida com a certidão do auto de ocorrência elaborado pela PSP, no montante de 52,00 €; das despesas correspondentes a cerca de vinte

deslocações por ter sido obrigado a ir visitar a filha às Caldas da Rainha, uma vez que não a podia receber, atento o estado do seu apartamento; das

despesas de alojamento num hotel das Caldas da Rainha, no valor de 360,00 €;

toda a situação lhe causou tristeza, nervosismo, ansiedade e desgosto, devendo ser-lhe atribuída, a título de danos patrimoniais, a quantia de 15.000,00 €. Referiu ainda o A. que por força do contrato de seguro que celebrou com a companhia de seguros Liberty, foi indemnizado pelos danos decorrentes da reparação do imóvel. Por fim, alegou que o R. condomínio havia celebrado um contrato de seguro com a 4ª R.

No final da petição inicial o Autor alega que foi devido à remoção da cobertura do telhado, desacompanhada de medidas cautelares, que as águas pluviais se infiltraram na sua fracção, causando danos ao Autor.

Mais alega que deve ser presumida a culpa do Condomínio e da empresa empreiteira já que existiu uma omissão do dever de vigiar e conservar.

Com tais fundamentos, conclui a A. pedindo se condene os RR. a pagar-lhe, a título de indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais, a

indemnização de 45.152,14 €, acrescida de juros.

Os RR. foram citados.

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A 4ª R. contestou, tendo havido posteriormente desistência do pedido quanto a si, que já foi devidamente homologado por sentença.

O 1º e 2ª RR. contestaram, excepcionando a ilegitimidade da 2ª R., e impugnando os factos alegados pelo A.

A 3ª R. contestou, igualmente impugnando os factos alegados na petição inicial e no essencial alegou que no dia 20 de Dezembro de 2013, antes da verificação dos acontecimentos dos autos, já tinha procedido á remoção e substituição de todas as chapas da cobertura que eram de fibrocimento, por painéis sanduiche 50 mm de espessura com Poliuretano, estando a obra praticamente concluída “, que os danos que o Autor alegadamente sofreu ficaram-se a dever a um temporal imenso que se abateu sobre Braga, com ventos fortes e chuva intensa, situação essa imprevisível e excepcional, concluindo que não foi por causa de qualquer acção ou omissão sua que os danos ocorreram- vide artigos 17 e ss da contestação da 3ª Ré,

Foi designada data para a realização de uma audiência prévia, pronunciando- se o A. sobre a matéria de excepção alegada, conhecendo-se a excepção de ilegitimidade invocada, fixando-se o objecto do litígio e enunciando-se os temas da prova.

Realizou-se a audiência final, com observância do formalismo legal e foi proferida sentença que julgou totalmente improcedente a acção e, em consequência, absolveu os RR. do pedido.

Inconformado, o Autor interpôs recurso de apelação e formulou as seguintes Conclusões:

DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO DO FACTO PROVADO NA AL. MM)

1. Cumpre, a este propósito, analisar o depoimento da testemunha M, com a referência 20160530103606_4826172_2870569, com início às 01:33:52 e fim às 1:56:50, que se transcreve parcialmente supra, para o que ora importa, mas cuja transcrição integral se encontra no fim das “Conclusões”.

2. Deste depoimento – de um terceiro absolutamente alheio ao desfecho deste processo – resulta, com bastante clarividência, que as obras de conservação (substituição) do telhado não estavam terminadas à data do sinistro.

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3. Mas este depoimento, ao contrário do referido na sentença (e sempre com o devido respeito), foi corroborado por outras testemunhas.

4. Atente-se, na parte que ora releva, o depoimento de Almeno Ramalho da Silva, com a referência 20160530103l606_4826172_2870569, com início aos minutos 47:29 e fim aos 01:33:52 (a transcrição integral deste depoimento encontra-se no fim das “Conclusões”.

5. Mas o Sr. Almeno, antigo vizinho do demandante, ora recorrente, não foi a única testemunha a corroborar o depoimento do referido M.

6. Assim, analise-se o depoimento de M, com a referência

20160530141727_4826172_2870569, com início aos minutos 0:00:00 e fim aos minutos 06:38min, que se transcreve parcialmente, para os fins que ora

importam, mas que se encontra integralmente transcrito após as

“Conclusões”.

7. Por fim, também oA, vizinho do demandante, esclareceu que, à data do sinistro, a obra estava inacabada e que a grua ainda se encontrava no local.

8. Atente-se o depoimento daquele referido Sr. Adérito, com a referência 0160530141727_4826172_2870569 e com início aos minutos 07:52:00 e fim aos minutos 29:38:00, que se transcreve parcialmente, para o que ora

importa, mas cuja transcrição integral se encontra no fim das “Conclusões”.

9. EM SUMA: Não foi só a testemunha M que viu a grua no local da obra depois de, alegadamente, a mesma ter sido terminada; não foi só a

testemunha M que referiu que, segundo várias opiniões, os parafusos seriam inexistentes ou insuficientes.

10. Mas mais: no julgamento, deve o Meritíssimo Julgador fazer uso das regras da experiência: se o prédio (torre) ao lado, com as mesmas características do dos autos não sofreu com os fortes ventos daquela noite, porque é que este – com um telhado novo, alegadamente melhor, viu as suas placas serem

arrancadas???

11. Não seria suposto, segundo aquelas mesmas regras da experiência, o telhado novo ter uma maior segurança que um telhado antigo? Não se espera que uma obra terminada há dias esteja em condições tais que suporte melhor que as antigas qualquer intempérie?

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12. Por fim, também o próprio funcionário da demandada A, recusando, como seria de esperar, qualquer responsabilidade, preocupando-se, sempre, em afirmar que o telhado ficara pronto e aparafusado, reiterando que é um mero funcionário, veio dizer (depoimento com a referência

20160530141727_4826172_2870569, com início aos minutos 1:22:14 e fim aos minutos 1:32:06 minutos).

13. As regras da experiência mostram-nos, com muita clareza, que algo de errado se passou com aquele telhado que tinha sido acabado de construir.

14. Com o devido respeito, que é muito, se dúvidas sobraram ao Meritíssimo Julgador, deveria o mesmo ter ordenado, oficiosamente, e ao abrigo do

disposto no art. 411º do CPC, a rodução de novos meios probatórios, designadamente, a realização de uma perícia.

15. Isto para dizer que a prova produzida não permite, de forma nenhuma, julgar provado o facto vertido na al. MM) dos factos provados (“Nessa data, todas as chapas já se encontravam colocadas e fixas na estrutura, estando a obra praticamente concluída, faltando, apenas, pequenos trabalhos de

acabamento”)!

16. Há um erro grosseiro na apreciação da prova que deve ser corrigido!

17. Importa, sem sombra de dúvidas ampliar a matéria de facto, aferindo, concretamente, se e como tinham sido aparafusadas as placas do telhado. E se sim, se tal método de aparafusamento era o adequado.

18. ASSIM, requer-se a V. Excias:

- Seja o facto MM) julgado não provado;

- Seja a matéria de facto ampliada no sentido de se aferir, concretamente, se e como tinham sido aparafusadas as placas do telhado. E se sim, se tal método de aparafusamento era o adequado e, para tanto,

- seja ordenada a realização de uma perícia ao telhado, que averigue (c.1) da existência de dois métodos distintos de aparafusamento e qual o adequado e (c.2) se a utilização imediata do segundo método seria apta a evitar os danos sofridos pelo demandante.

DO FACTO NÃO PROVADO NA AL. 9)

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19. A prova do facto “O demandante paga, mensalmente, a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa sem poder usufruir da mesma” resulta, além do mais do documento junto à petição inicial como “doc. 20”.

20. Quanto a não usufruir da sua casa, o facto poderia, e deveria,

eventualmente, ser adaptado à factualidade apurada quanto à duração dessa privação. Sabe-se que a casa ficou inabitável, sabe-se que o demandante se viu obrigado a ir viver para um hotel, mas não se sabe por quanto tempo.

21. Assim, quanto à primeira parte deste facto “O demandante paga, mensalmente, a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu paraadquirir a sua casa” deve o mesmo ser jugado provado, como resulta do documentojunto como “doc. 20”.

22. Quanto à segunda parte, mais uma vez, a prova produzida foi insuficiente.

Contudo, sabe-se que o demandante apenas recebeu da L, em virtude de parte dos danos resultantes do sinistro dos autos, a 25/02/2014, data em que, com esse dinheiro, o demandante teve a possibilidade efectiva de reparar os danos da sua fracção – vd. als. FF) e GG) dos factos provados.

23. Assim sendo, resulta dos autos que, pelo menos até 25/02/2014, o

demandante se viu impedido de usufruir da sua casa, até porque, como resulta do facto provado na al F), “tais infiltrações causaram danos que tornaram inabitável a fracção”.

24. Em suma: porque a apreciação da prova padece de erro manifesto e grosseiro (vd. doc. nº 20 junto com a PI e factos provados nas als. F), FF) e GG), deve o facto vertido na al. 9) dos Factos não provados (“O demandante paga, mensalmente, a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa”) ser julgado PROVADO, com as legais consequências.

DO DIREITO

ANTES DE MAIS: DO ÓNUS DA PROVA DA CAUSA EFECTIVA DA RUÍNA E DA PRESUNÇÃO JUDICIAL:

25. Pode ler-se na sentença em crise:

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“A existência de vício ou defeito e a sua causação da ruína lesiva são factos da base da presunção de culpa. A prova daqueles factos cabe ao lesado, no caso o A.

(…)

Não é suficiente dizer-se que o próprio evento demonstra inadequada conservação.

Importaria saber qual a causa da ruptura.

(…)

Em termos de desencadeamento do processo causal provou-se apenas que algumas placas do telhado voaram, e que tal foi motivado pelo vento forte.

Donde se conclui que a causa da ruína parcial do telhado consistiu tão só no vento forte que se fez sentir, não constando da matéria provada outra causa efectiva da ruína.”

26. Ainda que não se entenda o que é “vento forte”, por se tratar de conceito indeterminado e não concretizado, por muito que se esforce, o recorrente não pode perceber este raciocínio. Ainda que não se tenha provado, em concreto, qual o facto ilícito praticado ou omitido pela demandada Alpinível, o certo é que o telhado da torre igual à dos autos, que se encontra mesmo ao seu lado não voou, como é certo que os ventos fortes se fizeram sentir em toda a cidade e o Sr. Agente da PSP referiu que não tinha conhecimento de mais nenhuma ocorrência do género em toda a cidade, naquela data.

27. Cite-se, a propósito o muito esclarecedor Ac. do TR de Lisboa de 07/07/2016, proc. nº 12509/1:

“Exceto se estiverem em causa fenómenos extraordinários, tais como terramotos, a ruína de um edifício ou obra é um facto que indicia, por si mesmo, o incumprimento de deveres relativos à construção ou conservação dos edifícios, não se justificando por isso que recaia sobre o lesado o ónus suplementar de demonstrar o modo como se operou esse incumprimento do dever de conservação. Pelo contrário, é o responsável pela construção ou conservação que deve genericamente demonstrar que a ruína do edifício ou obra não se deveu a culpa sua, nomeadamente, mediante prova da ausência de vícios de construção ou defeitos de conservação ou que os danos verificar-se- iam, ainda que não houvesse culpa sua.”

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28. É consabido que na responsabilidade extracontratual incumbe ao lesado provar a culpa do autor da lesão, nos termos dos artigos 487º, no 1 e 342º, no 1, ambos do Código Civil, salvo existindo presunção especial de culpa, já que a obrigação de indemnizar, independentemente de culpa, só existe nos casos especificados na lei – vd. nº 2 do art. 483º do CC.

29. Ora, os arts. 492º e 493º do CC contemplam presunções de culpa - e não responsabilidade objectiva - quer de quem tendo a seu cargo algum edifício ou obra ela vier a originar danos, causados por defeito de construção ou de

conservação, quer de quem exerce actividade perigosa.

30. Naqueles autos, cujo pensamento vimos a seguir, provado ficou que os estragos ocorridos no veículo da A foram causados pela queda de materiais da parte da cobertura do edifício do condomínio réu. Por isso, esta queda teve origem numa parte comum do edifício. Inequivocamente o preceituado no artº 492 do CC dispensa a prova do facto presumido, ou seja, a culpa.

31. O vício de construção ou o defeito de conservação podem provar-se por todos os meios, com particular destaque para as presunções judiciais (artigo 351.º do Código Civil), já que conhecida a causa do dano, se concluirá se

houve defeito de conservação – vd. VAZ SERRA, Responsabilidade pelos Danos Causados por Edifícios ou Outras Obras, BMJ n.o 88, 14 e 36 e ainda Ac. R.L de 29.11.2007 (Pº 8211/2007-8), acessível em www.dgsi.pt.

32. Ora, com o devido respeito, no caso dos autos, o Julgador dispõe de vários elementos que lhe permitem, através de presunção judicial, considerar

provado que existe um vício na obra de substituição da cobertura ou na conservação da mesma.

Dos autos resulta que, após o sinistro, a primeira demandada alterou o método de aparafusamento das placas da cobertura. Porque razão o terá feito???

Porque razão é que as placas deste prédio voaram e as do prédio vizinho não??

33. As obras de substituição tinham terminado naquele mesmo dia! Porque é que a cobertura nova, acabada de ser colocada, não resistiu e a antiga do prédio ao lado não levantou voo???

34. A prova exigida pelo Tribunal ad quem é impossível.

35. Veja-se, ainda, a posição doutrinária de L, Direito das Obrigações, vol. I, 6.ª ed.,. 325 e o Ac. do STJ de 29/04/2008, proc. nº 08A867, que determina que, ao lesado apenas é exigível a prova do evento - no caso em apreço a

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queda de telhas e placas de cimento do edifício - havendo que concluir pela culpa presumida, reportada ou a vício de construção ou a defeito de

conservação, caso não se demonstre a existência de caso fortuito de força maior ou a culpa do lesado; e desde que, evidentemente, o responsável não tenha feito a prova de que não houve culpa sua; "(...) Ruindo a obra, sem que se demonstre a existência de caso fortuito ou de força maior, ou culpa do lesado, não tendo o responsável feito a prova de que não houve culpa sua, ou que mesmo que tivesse adoptado a diligência devida o evento danoso teria ocorrido, há que concluir pela sua culpa presumida, reportada ou a vício de construção ou a defeito de conservação."

36. Cite-se, novamente, o já identificado Ac. do TR Lisboa, de 07/07/2016:

“Entendemos seguir esta última orientação, porquanto reportando-nos às regras da experiência da vida, a derrocada do prédio, a sua ruína indicia que não foram observadas as boas regras de construção ou conservação. .Por isso, não faz sentido que o lesado tenha que provar essa inobservância.

Porém, faz todo o sentido, até pela especial ligação do proprietário ou possuidor ao imóvel, que este prove a ausência de vícios de construção ou defeitos de conservação ou que os danos continuariam a verificar-se, ainda que não houvesse culpa sua.

A não entender-se deste modo, na prática, o que aconteceria é que a dita presunção de culpa se desvaneceria, face à dificuldade de prova para quem é

"apanhado" desprevenido numa situação inesperada.”

37. A factualidade dos autos não se subsume, de maneira nenhuma, ao conceito de força maior ou caso fortuito. Ninguém pode afirmar que no Inverno – em Dezembro – é improvável, ou imprevisível a ocorrência de tempestades como a dos autos!

38. ASSIM, ultrapassada a questão da causa da ruína parcial do prédio dos autos, - quer pela presunção judicial a aplicar ao caso subiudice, - quer pela inexistência da prova de que aquela ruína não resulta de defeito de construção ou conservação, conclui-se pela verificação de todos os pressupostos da

responsabilidade civil extracontratual, com o que devem ser as demandadas condenadas a indemnizar o demandante pelos danos sofridos.

DA LIQUIDAÇÃO EM EXECUÇÃO DE SENTENÇA

39. Apesar de resultar provado que o demandante sofreu danos (cfr. factos provados nas als. A), B), C), E), F), G), Q), QQ) e RR), esses danos não foram

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quantificados, devendo os mesmos ser liquidados em execução de sentença, o que também se requer.

DAS NORMAS JURÍDICAS VIOLADAS

40. A sentença em crise violou, entr e outras, as normas previstas nos arts. 6º e 411º do CPC e 492º e 493º do CC.

(EM ANEXO, seguem as transcrições integrais de todos os depoimentos prestados nos autos, com indicação da referência e dos minutos de cada um dos depoimentos).

TERMOS EM QUE:

Deve o presente recurso ser julgado procedente, alterando-se a decisão de facto nos termos propostos, aplicando-se a presunção judicial supra motivada e, em suma, condenando-se as demandadas a reparar os danos sofridos pelo demandante em virtude do sinistro dos autos, devendo os mesmos ser

liquidados em execução de sentença.

SUBSIDIARIAMENTE,

Caso não seja considerado o alegado quanto à presunção judicial aplicável e quanto ao ónus da prova, sempre deve a matéria de facto ser ampliada no sentido de se aferir, concretamente, se e como tinham sido aparafusadas as placas do telhado. E se sim, se tal método de aparafusamento era o adequado e, para tanto, ser ordenada a realização de uma perícia ao telhado, que

averigue (c.1) da existência de dois métodos distintos de aparafusamento e qual o adequado e (c.2) se a utilização imediata do segundo método seria apta a evitar os danos sofridos pelo demandante, com o que se fará a acostumada JUSTIÇA!

Foram apresentadas contra – alegações pela Recorrida A, das quais resulta que esta pugna pela manutenção da decisão recorrida.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

II -DELIMITAÇÃO DO OBJECTO DO RECURSO.

As conclusões acima transcritas definem e delimitam o objecto do presente recurso – cfr. artigos 608º., nº. 2, exvi do artº. 663º., nº. 2; 635º., nº. 4; 639º., nºs. 1 a 3; 641º., nº. 2, b), todos do Código de Processo Civil (C.P.C.).

Porque assim, urge apreciar as seguintes questões :

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1-Apreciar e decidir o recurso relativo à decisão sobre a questão-de-facto, concretamente, apurar se existiu erro de julgamento na parte relativa à alínea MM) dos Factos Provados e alínea 9) dos Factos Não Provados.

2- Apreciar e decidir sobre o Enquadramento Jurídico dos factos provados em resultado da decisão que recair sobre o recurso que incide sobre a decisão da questão-de-facto.

III- FUNDAMENTAÇÃO

3.1- Na primeira Instância foram considerados provados e não provados os seguintes Factos :

Resultam provados os seguintes factos:

A)O demandante é legítimo possuidor da fracção autónoma, designada pelas letras "EG", correspondente a um apartamento, habitação tipo T2, nº 112, do prédio urbano descrito na Conservatória do Registo Predial de Braga sob o número 872 e inscrito na matriz predial sob o artigo 4302º/EG, fracção que adveio ao demandante, mediante escritura pública de compra e venda, e a favor de quem está inscrito o respectivo direito de propriedade.

B)O demandante, por si, antepossuidores e anteproprietários, tem estado na posse do referido prédio, desde há mais de 10 anos, por forma pública,

pacífica, titulada e continuada, dela fruindo e usando-a, aí vivendo, dela retirando todas as utilidades e proveitos, bem como suportando todos os inerentes encargos, pagando as contribuições e impostos autárquicos, à vista de toda a gente, por forma contínua e pacífica perante todos e sem oposição de ninguém, com o ânimo de exclusivo proprietário, na convicção de exercer um direito próprio: o direito de propriedade plena.

C)O demandante habita no prédio referido supra, recebendo a visita da sua filha de 12 anos, B, fruto do seu anterior casamento.

D)Pagando o condomínio e participando, como condómino, nas assembleias de condomínio.

E)Na noite de 23 para 24 de Dezembro de 2013, na fracção do demandante (e noutras), verificaram-se infiltrações profusas de água da chuva, provenientes da cobertura, que inundaram a fracção.

F)Tais infiltrações causaram danos que tornaram inabitável a fracção,

deteriorando os tectos e as paredes, cujo estuque e pintura empolou e ficou

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esboroado, o pavimento em taco de madeira da fracção, que empolou e levantou.

G)Destruindo e inutilizando várias coisas, objectos, que se encontravam no apartamento, nomeadamente, algum mobiliário, algumas roupas e calçado, quadros.

H)As águas pluviais provieram da cobertura do prédio, do telhado.

I)Entre os três 1ºs. demandados, antes do sinistro, tinha sido celebrado, no dia 9 de Dezembro de 2013, um contrato de empreitada, onde estipularam a

execução de trabalhos de "substituição de cobertura".

J)Os 1ºs. doisco-demandados tiveram, no mesmo dia, conhecimento destes factos, sendo que o demandante, perante a inacção dos demandados,

comunicou os factos ao 1º co-demandado, de forma verbal e por comunicações escritas.

L)Onde solicitou uma averiguação dos danos e a assumpção de

responsabilidades, sendo que, a manutenção do status quo compeliu o

demandante a remeter para os três 1ºs. co-demandados, de cartas registadas, com data de 03 de Abril de 2014.

M)Nas quais se refere que se verificaram infiltrações de água provinda da chuva, proveniente da cobertura e que "Tais infiltrações causaram danos de tal forma graves que tornaram inabitável a fracção, deteriorando e destruindo e inutilizando mobiliário, roupas, calçado, electrodomésticos, quadros,

tapetes, carpetes, todo o recheio da fracção", solicitando a ambos os interpelados a realização de vistoria da fracção, do seu estado, dos seus danos, dos trabalhos de reparação a realizar, dos restantes danos no

mobiliário, nos electrodomésticos, no vestuário, no calçado, nos quadros, na tapeçaria, e ainda, solicitando orçamentos para reparação, substituição de todos os bens danificados.

N)Em ambas as missivas, o demandante notificou os três 1ºs. co-demandados para:

“10- Deste modo, e antes de se proceder à reparação dos danos, concede-se a Vªs. Exªs. o prazo de 05 (cinco) dias úteis para:

i) proceder à vistoria da fracção, do seu estado, dos seus danos, dos trabalhos de reparação a realizar, dos restantes danos no mobiliário, nos

electrodomésticos, no vestuário, no calçado, nos quadros, nas tapeçarias;

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ii) no mesmo prazo, se assim o entenderem, solicitar orçamentos para reparação, substituição de todos os bens danificados, prazo que se reputa como razoável, dado que o N/ cliente já por diversas vezes e formas, deu conhecimento a Vªs. Exªs. destes factos, sem qualquer reacção da v/ parte.

11- O não respeito por este prazo precludirá o direito de reparar que lhes incumbe e, em conformidade, o n/ cliente procederá conforme lhe aprouver no sentido de repor a situação àquela em que estaria não fosse a lesão, cujos custos imputará e reclamará de Vªs. Exªs..

12- Tal reparação é, atento o fim que se pretende para a fracção, de natureza urgente, com o que não se compadece com demoras desmedidas, sob pena de se poder verificar uma excessiva onerosidade, dado que, assistindo ao lesante o direito/dever da realização da reparação dos bens que forem susceptíveis de reparação, ou substituição daqueles cuja reparação seja inviável, também o prejuízo que resultará da morosidade na sua realização, correspondente à impossibilidade de viver, fruir, usufruir, gozar da sua casa e outros, lhe seria imputável.

13- Nesta medida, após decorrido o prazo razoável concedido, o n/ cliente ao substituir-se a Vªs. Exªs., estará a contribuir para evitar o agravamento do dano, com o que se legitima a sua actuação, sem que seja permitido a Vªs.

Exªs. opor-se ao valor despendido e reclamado.

14- Por fim, sempre se dirá que os danos sofridos pelo n/ cliente não são apenas de natureza patrimonial, mas também de natureza não patrimonial, atenta a sua gravidade, por a v/ conduta (por acção e/ou omissão) ser

violadora de direitos absolutos, de propriedade e de personalidade.

Deste modo, ficam Vªs. Exªs. expressamente interpelados para, no prazo de 5 dias úteis a contar da recepção da presente comunicação, procederem em conformidade com o supra.

Findo esses prazos, o n/ cliente proceder a suas expensas à reparação dos danos, sendo que, posteriormente, recorrermos às vias judiciais para fazer valer os seus direitos.”.

O)Desde aí, por várias vezes, interpelou os demandados o que fez inclusive em assembleia de condóminos, tudo conforme melhor resulta da Acta de

Condomínio de 26 de Abril de 2014, na qual consta: “Foi efectuada pela empresa A, a substituição da cobertura do edifício conforme cadernos de encargos, pelo valor de trinta e seis mil, novecentos e cinquenta e três euros e

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oitenta e oito cêntimos. (…) O proprietário da fracção "EG" comunicou à Assembleia que, não obstante, os contactos pessoais, telefónicos e por escrito conforme revelam (....) Que sucessivamente estabeleceu com a C e à A,

contactos referente aos danos causados à minha fracção, "EG", pelo sinistro ocorrido a vinte e quatro de dezembro de dois mil e catorze, em virtude das obras de "Substituição de cobertura", conforme Contrato de Empreitada de nove de dezembro de dois mil e treze. Informo que foram e continuam a ser realizadas avaliações dos peritos, que os danos estão se avolumando. Estou a solicitar orçamentos e a inventariar os danos sofridos. (...) São também Vºs.

Exªs. responsáveis por todos os danos ocorridos em resultado da v/conduta por acção e/ou omissão, com exceção daqueles indemnizados por terceiros."

P) Ao abrigo de um contrato de seguro celebrado com a L, do ramo multirriscos habitação, titulado pela apólice nº 047/97604120/000, o demandante já foi indemnizado pelos danos decorrentes da reparação do imóvel.

Q) O demandante suportou ainda o valor de € 52,00 pelo pedido do auto de ocorrência.

R)O demandante é docente do 3º ciclo.

S) A 2ª co-demandada ser uma sociedade, constituída antes de 2006, que tem como objecto social a administração de condomínios, à qual se dedica, de forma organizada, reiterada, profissional e com escopo lucrativo.

T) A 3ª co-demandada é uma sociedade cujo objecto social reside na indústria de construção civil, compra e venda de bens imóveis, comércio, importação e exportação de materiais para construção civil, que se dedica, de forma

organizada, reiterada, profissional e com escopo lucrativo, à actividade de construção civil.

U) O co-demandado Condomínio do Edifício M tinha celebrado contrato de seguro, do ramo Multiriscos, titulado pela apólice 0002961513, com a “T”, para a qual transferiu a responsabilidade perante terceiros pelos danos causados pelas partes comuns.

V) As chapas do telhado voaram, dada a intensidade dos ventos.

X) As chapas tinham acabado de ser colocadas pela 3ª demandada, contratada pela 1ª demandada, e as obras na cobertura do edifício encontravam-se em fase de conclusão, quando se deu o sinistro.

(15)

Z) Os demandados deslocaram-se ao local, tentando organizar com as forças policiais e bombeiros, a remoção dos destroços, nomeadamente da via pública e acorrendo às diversas necessidades dos condóminos.

AA) A 3ª demandada, compelida pela 1ª demandada tentou organizar a

reparação e reposição das chapas de cobertura e recolocação do telhado sem o qual, não seria possível iniciar a reparação das fracções autónomas e conter definitivamente as infiltrações.

BB) Providenciou a 3ª demandada a recolocação de novas chapas, tendo sido necessário encomendar novas aos fornecedores.

CC) Logo que as chapas de cobertura foram disponibilizadas, procedeu a 3ª demandada à colocação daquelas reparando o telhado.

DD) Ainda no mês de Janeiro de 2014, iniciaram-se as obras nas fracções autónomas afectadas pelas infiltrações.

EE) Foram reparadas pela 3ª demandadatodas asfracções, com excepção do apartamento do Autor, pelo facto deste não o ter permitido.

FF) O Autor acordou com a Companhia de Seguros A, em 25.02.2014, na sequência dos danos que terão sido vistoriados e participados que o valor daqueles era de 13.720,00€.

GG) O Autor recebeu o montante de 13.720€, da referida seguradora.

HH) As obras a realizar consistiam na reabilitação de coberturas não acessíveis; fornecimento e aplicação de painel sanduiche de 50 mm de espessura com poliuretano; tratamento de caleiras e platibandas, incluindo isolamento; tratamento de corpos salientes na cobertura e cobertura da casa das máquinas.

II) O prazo previsto para a realização destas obras era de 15 dias, com início em 10 de Dezembro de 2013.

JJ) No referido dia 10 de Dezembro de 2013, as obras tiveram início.

LL)Em 20 de Dezembro de 2013, a Ré já tinha procedido à remoção e

substituição de todas as chapas da cobertura, que eram de fibrocimento, por painéis sanduiche 50 mm de espessura com poliuretano.

(16)

MM)Nessa data, todas as chapas já se encontravam colocadas e fixas na

estrutura, estando a obra praticamente concluída, faltando, apenas, pequenos trabalhos de acabamento.

NN)No dia 23 de Dezembro de 2013 e, na madrugada do dia 24, ocorreu, na cidade de Braga e arredores, um temporal com ventos fortes e chuva intensa.

OO)No dia seguinte, ou seja, no dia 24 de Dezembro de 2013, a pedido da Ré Condomínio do Edifício M, da Rua Luís Soares Barbosa, …, Braga, dois

funcionários da Ré, o Eng. Bruno dias e o José Leite deslocaram-se ao prédio para se inteirarem dos danos provocados pelo vento e evitar danos maiores.

PP)No dia 26 de Dezembro de 2013, os trabalhadores da Ré iniciaram os trabalhos, para colocar as novas chapas, que ficaram concluídos no dia 27 de Dezembro de 2013.

QQ)O demandante esteve ainda alojado no Hotel Meliã, por não poder habitar a sua casa, despendendo da quantia de € 536,00.

RR)O demandante tem ainda um cão, que teve que colocar num hotel canino, despendendo também da quantia de € 258,30.

FACTOS NÃO PROVADOS

1- As infiltrações destruíram electrodomésticos, tapetes e carpetes.

2- As chapas voaram da cobertura, porque tinham sido colocadas pelos 1ºs.

demandados para “cobrir” o telhado.

3- O demandante não vendo a sua situação resolvida, continua, até hoje, a viver em casa de amigos.

4- Cada dia que passa, a fracção está a degradar-se.

5- Os danos sofridos pelo demandante reportam-se a:

a. Lustres/luminárias, no valor de € 450,00;

b. Somier - Conforama, no valor de € 316,00;

c. Colchão Visc. - Conforama, no valor de € 699,00 d. Frigorífico, no valor de € 345,00;

e. Placa Glem, no valor de € 74,00;

(17)

f. Camiseiras, no valor de € 300,00;

g. Aparador no valor de € 490,00;

h. Camisolas, t-shirts, pólos danificados, no valor de € 3000,00;

i. Camisolas femininas, no valor de € 120,00;

j. Fatos/ Roupa, no valor de € 500,00;

k. Tapetes, no valor de € 600,00;

l. Toalhas, no valor de € 70,00;

m. Mala, no valor de € 50,00;

n. Calçado, no valor de € 270,00;

o. Meias/Roupa interior, no valor de € 100,00;

p. Quadros, no valor de € 500,00;

q. Travesseiros/ Almofadas, no valor de € 100,00;

r. Edredões, no valor de €200,00;

s. Cobertores, no valor de € 105,00;

t. Colchas, no valor de € 240,00;

u. Lençóis, no valor de € 280,00;

v. Sapateira, o valor de € 90,00;

w. Secretária, no valor de € 30,00;

x. Escrivaninha, no valor de € 150,00;

y. Tábua de Engomar, no valor de € 36,00;

z. Pufs, no valor de € 75,00;

aa. Romanetes, no valor de € 1.000,00;

bb. Disco Multimédia, no valor de € 109,00;

cc. Sofá pele, no valor de € 1.399,00;

(18)

dd. Lâmpadas, no valor de € 30,00;

ee. Livros, no valor de € 1000,00;

ff. Reparação de móveis madeira maciça, no valor de € 1221,00;

gg. Mapas de parede, no valor de € 70,00;

hh. Móveis/Parede/exaustor - cozinha, no valor de € 284,00;

ii. Transporte, no valor de € 14.303,00;

jj. Vidros de janela, no valor de € 400,00;

kk. Manual Merck - Credital Editorial, no valor de € 138,00;

ll. Diciopédia - Porto Editora, no valor de € 28, 49;

mm. Computador Toshiba, no valor de € 150,00;

nn. Combo LG Açor Computer, no valor de € 105,00;

oo. PU Samsung, no valor de € 210,00;

pp. Olivetti Et, no valor de € 110,00;

qq. USB Drive, no valor de € 23, 88;

rr. Máquina lavar roupa LG, no valor de € 938, 90;

ss. Forno Samsung, no valor de € 499,00;

tt. Kenwood Robot de cozinha, no valor de € 42,00;

uu. DirtDevilCentrix, no valor de € 74,90;

vv. Haeger Sigma, no valor de € 17,90;

ww. Toshiba USB, no valor de € 14,90;

xx. Sony M-455, no valor de € 37,36;

yy. Scanner HP, no valor de € 101,84;

zz. Sony mc, no valor de € 3,94;

bbb. Beckengrb 1500, no valor de € 9,92;

(19)

ccc. Irrad. Dakar 2000, no valor de € 37,99;

ddd. VHS, no valor de € 9,49;

eee. Aspirador tw 1650, no valor de € 44,99;

fff. DVD Crow, no valor de € 39,50;

ggg. AEG Asp. AG54x, no valor de € 18, 42;

hhh. Micro-ondas Siemens, no valor de € 281, 67;

iii. TV LG LCD, no valor de 379,00;

jjj. Kneissel VK4+, no valor de € 280,00;

kkk. Sistema MIDI Sanyo, no valor de € 100,00;

lll. Máquina VAP Master, no valor de € 59,94;

mmm. DVD 8806, no valor de € 119,00;

nnn. Mini-Hifi Sony, no valor de € 159,00;

ooo. TV Crown, no valor de € 269,00;

ppp. PenLexar, no valor de € 19,00;

qqq. Writeline hm21xl, no valor de € 13,90;

rrr. Veta Vc Transmissor FM, no valor de € 12,90;

sss. Mesa com 4 cadeiras, no valor de € 299,00;

ttt. Colchão e estrado, no valor de € 463,86;

uuu. Cama, no valor de € 243,00;

vvv. Cómoda 2p, no valor de € 288, 78;

www. Moldura com espelho, no valor de € 87, 45;

xxx. Toucador, no valor de € 55, 93;

yyy. Cama Silver, no valor de € 191, 16;

zzz. Espelho MOD.102, no valor de € 60,00;

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aaaa. Mesa - Pórtico, no valor de € 94,00;

bbbb. Botellero - Pórtico, no valor de € 89,00;

cccc. Secretária com móvel de tv, no valor de € 339,00;

dddd. Roupeiro com espelho, no valor de € 378,00;

eeee. Carrinho Res., no valor de € 9,90;

ffff. Estante FJ, no valor de € 14,99, num total de € 21.666,90.

6 – O demandante está privado, por facto que lhe é alheio, e apenas imputável aos demandados, de poder viver na sua casa e de aí poder receber a sua filha.

7 – A fracção está repleta de baldes e recipientes para recolha de água.

8 - O demandante continua a pagar, mensalmente, a luz, tendo já despendido a quantia de € 330,99 e paga ainda água, tendo despendido a quantia de €

209,15, valores suportados sem que retirasse proveito da fracção.

9 – O demandante paga mensalmente a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa sem poder usufruir da mesma.

10 – De forma a poder repor alguns dos artigos danificados, aqueles mais prementes e indispensáveis ao dia a dia, o demandante teve que recorrer a um crédito pessoal de € 5.000,00, junto do Santander Totta, S. A.

11 – De forma a poder ver a filha teve que, quinzenalmente, se deslocar às Caldas da Rainha, indo e regressando no mesmo dia, percorrendo cerca de 562 quilómetros nesse percurso, o que ocorreu, desde o sinistro pelo menos umas 20 vezes, com o que se viu obrigado a perfazer 11.240 quilómetros.

12- O demandante teve que ficar alojado, pelo menos algumas noites, num hotel nas Caldas da Rainha, despendendo assim da quantia de € 360,00.

13 – Esta situação criou, e continua a criar ainda, no demandante tristeza, nervosismo, ansiedade e desgosto por ver a sua casa, que adquiriu com grande sacrifício no estado em que está.

14 – O demandante recebia aos fins de semana amigos para jantar, para conviver, o que está privado de fazer, estando privado também de passar tempo – de qualidade – com a filha.

(21)

15 – Estava anunciada pelo serviço de meteorologia, o IPMA, instituto que, dias antes, lançou “aviso laranja”, segundo grau de aviso mais grave, para Braga de chuva forte e queda de neve.

16 – A violência dos ventos foi tal que vários telhados foram arrancados e muitas árvores derrubadas, conforme noticiou a impressa local e nacional.

3.2- Do Recurso sobre a decisão da questão-de-facto.

Considerando o disposto no artigo 640º do CPC, considerando o teor das Conclusões formuladas, entendemos que o recurso satisfaz os pressupostos aí previstos,e, assim, admitimos o recurso sobre a decisão da questão de facto no tocante aos factos vertidos na alínea MM) dos Factos Provados e na alínea 9) dos Factos Não Provados.

No que concerne à al. MM) dos Factos Provados, o recorrente pretende que esse facto seja julgado como não provado e para tanto, convoca os

depoimentos das testemunhas Manuel Afonso, Almeno Ramalho da Silva, Maria da Glória Santos Ferreira e Adérito Costa e Silva, vizinho do

demandante.

E relativamente à alínea 9) dos factos não provados, o recorrente alega que “ a prova do facto “O demandante paga, mensalmente, a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa sem poder usufruir da mesma” resulta, além do mais do documento junto à petição inicial como “doc. 20” e que quanto a não usufruir da sua casa, o facto poderia, e deveria, eventualmente, ser adaptado à factualidade apurada quanto à duração dessa privação. Sabe-se que a casa ficou inabitável, sabe-se que o demandante se viu obrigado a ir viver para um hotel, mas não se sabe por quanto tempo.

Apreciando e decidindo:

Relativamente à al. MM) dos Factos Provados, este Tribunal da Relação procedeu à audição do registo fonográfico dos depoimentos das testemunhas indicadas pelo recorrente e da reapreciação destes depoimentos resulta o seguinte.

A testemunha A, antigo vizinho de porta do A. no prédio em causa, no

essencial, revelando conhecimento directo dos factos, referiu que as águas da chuva também entraram na sua fracção, mas que não foi tão grave como na fracção do A.; relatou que o prédio andava em obras de substituição do

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telhado e, disseram-lhe, que as placas que substituíam a telha antiga não

tinham sido aparafusadas; frisou que ele não viu como estava realizada a obra.

Descreveu os danos que verificou no apartamento do A.; disse que alguma mobília ficou estragada e roupa, livros e quadros também; o apartamento não estava em condições de ser habitado, tendo o A. saído de lá; mais tarde, ouvia o cão a ladrar no apartamento, desconhecendo se o A. já lá estava a viver ou não; disse que a filha do A. vinha a Braga visitar o pai em média cinco a sete vezes por ano, passando períodos de férias; no ano seguinte a filha do A. não o visitou, porque o apartamento não tinha condições, não estava arranjado; o A.

andava abatido pela casa destruída e por não poder receber a filha; depois saiu do prédio e não sabe o que aconteceu. Afirmou ainda que quando

ocorreram os factos, a grua da obra estava no local.Esta testemunha revelou não saber a data em que o Autor deixou de habitar a fracção, se foi em Março de 2014 ou Março de 2015 e não revelou saber se o Autor fazia mais viagens às Caldas da Rainha para visitar a filha., sendo certo que esta testemunha, porque também foi lesado com o sinistro,revelou saber mais da sua própria vida e interesses.

Manuel Afonso, amigo do A., faz trabalhos de manutenção ao domicílio, disse que a pedido do Autor ajudou este a quando começou a chover dentro de casa, na véspera do natal. Descreveu de forma pormenorizada o que aconteceu na casa do Autor : a casa estava coberta de água, sendo obrigado “a andar de calcanhares”; disse que ficou tudo molhado, como roupa, mobília, tapetes, quadros. Relatou que deslocou-se a casa do autor a pedido deste mais alguns dias . Mais afirmou que no dia do sinistro estava no local junto ao prédio, uma grua, referiu que foi ao telhado, estando a maior parte da cobertura aberta, referiu que havia ferramentas no localquando se deslocou ao telhado, que o telhado estava por acabar, em sinais de as placas terem sido aparafusadas às vigas, que não tinham furos.

A testemunha M, doméstica e amiga do A., disse que foi ver a casa deste, e viu todo invadido de água; descreveu o estado do apartamento e a roupa e o

mobiliário cheios de água; foi visitar a casa no dia seguinte ao sinistro e acha que a grua estava no local; só teve conhecimento daquela situação na cidade de Braga.

A, comerciante, proprietário de uma loja e apartamento no prédio em causa, revelou que, na antevéspera do Natal, os funcionários da empresa responsável pela obra disseram que o telhado estava pronto e que já não chovia no prédio;

levaram a grua com eles nessa altura, que estava incorporada num camião.

Disse que houve um vento forte e que algumas placas novas voaram; revelou

(23)

que o condomínio e a empresa contratada para a realização da obra foram ao prédio no dia do sinistro. Disse que houve notícias de mais levantamentos de telhado noutras zonas. Falou sobre um email de Março de 2015 enviado pela comissão de moradores à administração do condomínio, e explicou que

faltavam acabar as chaminés e achava-se que as telhas tinham poucos parafusos.

Ora, na sentença recorrida em sede de motivação e após ter sido feito um resumo de todos os depoimentos prestados no julgamento, refere-se o seguinte:

“Tudo conjugado, e apesar de uma testemunha do A., Manuel Afonso, ter afirmado que a nova cobertura colocada pela R. Alpinivel não estava

aparafusada às vigas, mas apenas pousada, a verdade é que esse depoimento não foi confirmado por qualquer outro elemento de prova. Acresce que esse depoimento não foi rigoroso e não demonstrou um conhecimento suficiente dos factos, pois a testemunha afirmou que o A. fez obras em dois quartos e no corredor do apartamento e não em todo ele porque não tinha dinheiro. Tal afirmação foi infirmada pela informação prestada pelocompanhia de seguros do A., no sentido de que lhe entregou, em 25 de Março de 2014, o valor da reparação do imóvel. Note-se que o A. concordou com o valor entregue pela companhia de seguros, pelo que nem se pode argumentar que o valor não foi suficiente para realizar todas as obras necessárias. Afirmou também essa testemunha que o A. esteve meses sem voltar a residir na sua casa, o que também foi contrariado pela companhia de seguros do A., ao informar que o A.

a partir de 12 de Janeiro optou por permanecer no apartamento.

Por outro lado, se aquele erro de execução da obra existisse, e fosse tão

evidente como pareceu querer demonstrar a testemunha (referiu que subiu ao telhado e viu que as chapas não foram aparafusadas e que as vigas não tinham buracos), como é que os peritos de duas companhias de seguros – L – não observaram esse facto? Como é que as companhias de seguros concluíram, sem mais, que o sinistro estava coberto pelo item Tempestade, das respectivas apólices? Não é verosímil que tal ocorresse.

Outra testemunha, A, se referiu ao facto de as chapas do telhado não estarem presas mas somente pousadas, no entanto, admitiu que não viu como tinha sido realizada a obra nem identificou a quem ouviu dizer o facto que relatou.

Dos depoimentos das testemunhas resultou ainda que, apara além dos danos na fracção, o A. teve ainda prejuízos com a perda de alguma mobília, roupa, livros e quadros, no entanto, não foi possível apurar a extensão do dano e o

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prejuízo, porque as testemunhas não revelaram conhecimentos suficientes desses factos.

O A. juntou várias facturas relativas à aquisição de bens, mas não fez a ligação entre esses bens e os que perdeu na sequência da inundação.

Quanto aos alegados electrodomésticos que se estragaram por força das águas, nenhuma prova foi feita.

A companhia de seguros L informou, por documento junto aos autos e não impugnado pelo A., que pagou ao A. o transporte dos móveis e outros bens, colocação em armazém, e reposição na fracção. Ora, se todos os móveis e outros bens presentes na fracção se tivessem estragado por força da

inundação certamente não tinham sido transportados para um armazém, a fim de serem realizadas as obras de reparação do imóvel, e novamente colocados em casa do A.

Essa companhia de seguros afirmou ainda, no mesmo documento, que liquidou ao A. valores para habitação secundária, no seguimento da inabitabilidade do imóvel, entre 24 de Dezembro e 12 de Janeiro, no valor de 505 €; aí também se informa que “não foram liquidados quaisquer valores adicionais

relativamente à residência temporária, porque ainda que o imóvel tenha permanecido sem condições de habitabilidade, o segurado optou por

permanecer no mesmo (…)”. Resulta ainda dessa informação que o pagamento foi realizado em 20 de Janeiro de 2014.

Ou seja, em 12 de Janeiro, o A. optou por voltar para casa, pelo que ficou demonstrado que não ficou privado do uso do seu apartamento pelo período de tempo que alega, tendo sido ressarcido pela sua companhia de seguros das despesas que teve por ter permanecido entre 24 de Dezembro e 12 de Janeiro fora da sua casa.

As restantes testemunhas depuseram, no essencial, de forma credível, revelando conhecimento dos factos”

O dissidium apenas tem por base os depoimentos das quatro testemunhas convocadas pelo recorrente, sendo certo que o recorrente não convocou os demais meios de prova nos quais o Tribunal recorrido alicerçou a sua

convicção.

Ora, ouvidos aqueles depoimentos, entendemos que os mesmos não lograram convencer este Tribunal da Relação de que não corresponde à verdade o facto vertido na al. MM) dos Factos Provados.

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Efectivamente, M e de A referiram que as placas não estavam aparafusadas, sem contudo convenceram que tiveram conhecimento presencial dessa

factualidade. Acresce que tais depoimentos nesta parte não foram confirmados pelas outras duas testemunhas cujos depoimentos foram convocados pelo Recorrente.

E por forma a não sanar qualquer dúvida, foram ouvidos por nós ouvidos os registos fonográficos dos depoimentos das testemunhas A, F, funcionário da C, B e J e dessa reapreciação, a convicção formada não divergiu daquela que foi formada pelo Tribunal Recorrido, sendo que, porque releva, transcrevemos, aqui, o que de relevante a motivação da sentença recorrida referiu :

“A testemunha A, agente da PSP de Braga, disse que foi chamado ao local e viu chapas da cobertura a cair para a rua; entrou numa fracção e viu muita água, que entrava também pela varanda; só teve conhecimento dessa situação em Braga. Ficou com a ideia de o prédio se encontrar em obras de

substituição do telhado.

F, funcionário da C, antiga administradora da condomínio, disse que no dia do sinistro a obra estava praticamente concluída, faltando colocar o silicone nos rufos e a grua já não estava no local; explicou que esse silicone servia apenas para isolar; disse que antes do Natal o telhado levantou e o apartamento do A.

ficou inundado; explicou melhor que a grua já não estava no local porque o telhado já estava colocado e já não precisavam dela.

B, colaborador da R. A, responsável pela fiscalização das obras e

acompanhamento e execução das obras, disse que elaborou o contrato; que a obra ficou concluída, com a colocação do telhado, antes do Natal; a grua esteve no local no dia 20, tendo sido alugada ao dia, pela quantia de 1.000,00

€; explicou que se as placas não estivessem fixas não tinham vindo apenas algumas placas cá abaixo com o vento; afirmou que o vento estava muito forte, tendo sido registadas outras ocorrências em Braga; disse que nunca lhes foi comunicado qualquer defeito na obra; que o perito da companhia de seguros Tranquilidade concluiu que o telhado voou porque as chapas rasgaram com a força do vento, tendo a companhia de seguros assumido o pagamento dos danos causados nas fracções. Disse que foi ver a fracção do A. no próprio dia e que não houve intervenção na sua fracção porque ele tinha seguro associado ao crédito à habitação com outra seguradora. Afirmou que às 7.30 horas da manhã estava no local e esteve com o A., que não mostrou interesse na sua ajuda.

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J, alpinista urbano e funcionário da R. A há seis ou sete anos, afirmou que colocaram as chapas e aparafusaram-nas, tendo ficado pronto antes do Natal;

a grua esteve no local um dia, quando retiraram o telhado antigo e transportaram o telhado novo; no dia 24 estiveram no local para tentar minimizar os danos e pensa que no dia 26 já estavam em obra a resolver os problemas; deixaram tudo pronto e nunca ninguém se queixou.”

Assim, os depoimentos convocados e por nós reapreciados não são suficientes para criar neste Tribunal da Relação convicção diferente daquela que foi formada pelo Tribunal recorrido sobre o facto vertido na al. MM).

Mais. Como resulta do recurso interposto o recorrente não impugnou a factualidade vertida nas alíneas X) e LL), as quais, contrariam a versão dos factos que o recorrente pretende que se considere provada.

De resto, o recorrente no recurso interposto também não impugnou o facto vertido na al. V) ( na qual se refere que as chapas do telhado voaram, dada a intensidade do vento) o qual também foi alegado pela 3ª Ré, recorrida, para afastar a responsabilidade que nesta acção o Autor lhe pretende imputar, como resulta dos artigos 5 e seguintes da Contestação apresentada a 6 de Maio de 2015, versão essa que não difere daquela que o Condomínio apresentou na sua contestação de 6-05-2016.

Acresce que a factualidade impugnada, corresponde a saber “ se, no dia 23 de Dezembro de 2013 a obra que o Condomínio encomendou à 3ª Ré- recorrida estava concluída”, conforme foi alegado pela 3ª Ré na sua Contestação, resultando dos autos que o recorrente na sua petição inicial e na resposta apresentada no âmbito da Audiência Prévia nada alegou no sentido de que a obra não estava concluída.

Ora, quanto a essa matéria, a 3ª Ré recorrida fez a devida prova, conforme resulta da motivação da sentença recorrida, sendo que neste recurso, o recorrente pretende tão só que o Tribunal da Relação proceda a nova

reapreciação, não de toda a prova, mas tão só daqueles meios de prova que lhe interessam.

Ora, é sabido que, não obstante se garantir no sistema processual civil um duplo grau de jurisdição, nomeadamente quanto à reapreciação da matéria de facto, não podemos ignorar que continua a vigorar entre nós o princípio da livre apreciação da prova, conforme resulta do art. 607º, nº5 do C. P. Civil, o qual estatui que “o juiz aprecia livremente as provas segundo a sua prudente

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convicção acerca de cada facto”.Para que decisão da 1ª instância seja alterada haverá que averiguar se algo de “anormal” se passou na formação dessa

apontada “prudente convicção”, ou seja, ter-se-á que demonstrar que na formação da convicção, retratada nas respostas que se deram aos factos, foram violadas regras que lhe deviam ter estado subjacentes, nomeadamente aferir da razoabilidade da convicção formulada pelo juiz da 1.ª instância, face às regras da experiência, da ciência e da lógica, da sua conformidade com os meios probatórios produzidos, sem prejuízo do poder conferido à Relação de formular, nesse julgamento, com inteira autonomia, uma nova convicção, com renovação do princípio da livre apreciação da prova(1).

Ora, a verdade é que verificamos ter havido, por parte do Tribunal recorrido, uma criteriosa avaliação dos meios probatórios referidos, tendo em conta o princípio geral da livre convicção do julgador, assente nos princípios

instrumentais da oralidade e imediação, sendo igualmente essa a nossa

convicção, fundada nos depoimentos referidos, pelo que não se vê fundamento bastante para alterar essa matéria de facto, como pretende o apelante.

Não obstante, dir-se-á que a referida factualidade não nos parece essencial para a resposta à questão jurídica que nos é colocada, ou seja, saber se o Autor tem ou não direito a exigir das rés a indemnização peticionada.

Relativamente à matéria vertida na al. 9) dos Factos Não Provados na qual se refere “ – O demandante paga mensalmente a prestação de € 189,84, a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa sem poder usufruir da mesma” diremos o seguinte:

O documento nº20 junto à petição a fls 112 e ss, correspondente a cópia de uma carta endereçada pelo Santander Totta ao recorrente, emitida a

30-09-2014, onde constam o detalhe de movimentos da conta à ordem e do qual resulta que o recorrente nessa data tinha nas suas responsabilidades um débito hipotecário.

Todavia, essa cópia por si só, desacompanhada de qualquer outro meio de prova, não permite que este Tribunal da Relação considere provada que o recorrente paga mensalmente a prestação no valor de € 189, 84 a título de amortização do crédito bancário que contraiu para adquirir a sua casa sem poder usufruir da mesma, sem prejuízo dos factos provados vertidos nas F) , G), P), PP) e RR).

Acresce que nesta parte, este Tribunal não pode olvidar a motivação da decisão recorrida, na parte em que aí se refere :

(28)

“A companhia de seguros L informou, por documento junto aos autos e não impugnado pelo A., que pagou ao A. o transporte dos móveis e outros bens, colocação em armazém, e reposição na fracção. Ora, se todos os móveis e outros bens presentes na fracção se tivessem estragado por força da

inundação certamente não tinham sido transportados para um armazém, a fim de serem realizadas as obras de reparação do imóvel, e novamente colocados em casa do A.

Essa companhia de seguros afirmou ainda, no mesmo documento, que liquidou ao A. valores para habitação secundária, no seguimento da inabitabilidade do imóvel, entre 24 de Dezembro e 12 de Janeiro, no valor de 505 €; aí também se informa que “não foram liquidados quaisquer valores adicionais

relativamente à residência temporária, porque ainda que o imóvel tenha permanecido sem condições de habitabilidade, o segurado optou por

permanecer no mesmo (…)”. Resulta ainda dessa informação que o pagamento foi realizado em 20 de Janeiro de 2014.

Ou seja, em 12 de Janeiro, o A. optou por voltar para casa, pelo que ficou demonstrado que não ficou privado do uso do seu apartamento pelo período de tempo que alega, tendo sido ressarcido pela sua companhia de seguros das despesas que teve por ter permanecido entre 24 de Dezembro e 12 de Janeiro fora da sua casa.”

Assim, relativamente á factualidade não provada e que foi impugnada com fundamento apenas no documento nº20 junto á petição, em conjugação com os factos vertidos nas als F), FF), GG) dos factos provados resulta apenas para este Tribunal a convicção de que o recorrente contraiu um crédito bancário para adquirir a sua casa e que desde a noite de 23-12-2013 até 12-01-2014 o Autor viu-se impedido de usufruir da fracção dos autos.

Assim, nesta parte o recurso merece provimento parcial e por isso determina- se a eliminação da alínea 9) dos Factos Não provados, e ordena-se o

aditamento aos factos provados da alínea SS) cuja redacção é a seguinte : SS) – O autor contraiu um crédito bancário para adquirir a sua casa e desde a noite de 23-12-2013 até 12-01-2014 o Autor viu-se impedido de usufruir da fracção dos autos.

3.3- Da Pretendida Ampliação da matéria de facto.

Para a hipótese de não provimento do recurso sobre a decisão de facto, a título subsidiário, veio o Recorrente, pedir a ampliação da matéria de facto no

(29)

sentido de se aferir, concretamente, se e como tinham sido aparafusadas as placas do telhado. E se sim, se tal método de aparafusamento era o adequado e, para tanto, ser ordenada a realização de uma perícia ao telhado, que

averigue (c.1) da existência de dois métodos distintos de aparafusamento e qual o adequado e (c.2) se a utilização imediata do segundo método seria apta a evitar os danos sofridos pelo demandante.

Apreciando e decidindo:

Conforme resulta da petição inicial e da resposta apresentadas o recorrente – autor, relativamente à 3ª Ré- recorrida, alegou que esta a pedido do dono da Obra ( o co-réu – Condominínio) e na qualidade de empreiteira executou obras, a saber, a empreitada de substituição da cobertura do prédio onde se integra a fracção do recorrente, que na execução dos trabalhos da empreitada não usou da diligência devida, tomando precauções, no sentido de evitar que a chuva se infiltrasse pela cobertura e que voaram as chapas da cobertura que aí foram colocadas pela 1ºs Demandados - Ver artigos 23º e 108 e seguintes da petição e 34º e seguintes da Resposta apresentada em sede de Audiência

Prévia realizada a 9-12-2015 - não respeitando o dever objectivo de cuidado que lhe era exigível pelas regras de direito e da construção civil.

Assim, o facto jurídico concretamente alegado pelo Recorrente relativamente à 3ª Ré-recorrida corresponde à alegação da omissão de diligência devida na execução da empreitada que lhe foi encomendada, tomando precauções, no sentido de evitar que a chuva se infiltrasse pela cobertura - Ver artigos 108 e seguintes da petição e 34º e seguintes da Resposta apresentada em sede de Audiência Prévia realizada a 9-12-2015 - não respeitando o dever objectivo de cuidado que lhe era exigível pelas regras de direito e da construção civil.

Todavia, como resulta desses articulados o Autor-recorrente não concretizou a alegada omissão de diligência devida por parte da 3ª Ré- recorrida.

E só agora, em sede de recurso de apelação, após ser realizado o julgamento e após ser proferida a sentença recorrida vem pedir a este Tribunal da Relação que faça introduzir nova factualidade, alegando, que dos autos resulta que, após o sinistro, a primeira demandada alterou o método de aparafusamento das placas da cobertura.

Posto isto, cumpre decidir.

Conforme resulta da exposição que antecede o recorrente vem pedir a este Tribunal da Relação que faça introduzir factualidade , alegando que dos autos

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resulta que, após o sinistro, a primeira demandada alterou o método de aparafusamento das placas da cobertura.

Todavia, resulta dos factos vertidos nas als. V) e X) dos Factos Provados que, aquela factualidade se revela inútil para a sorte da acção, porquanto ficou provado que as chapas do telhado voaram, dada a intensidade dos ventos e que as chapas tinham acabado de ser colocadas pela 3ª demandada,

contratada pela 1ª demandada, e as obras na cobertura do edifício encontravam-se em fase de conclusão, quando se deu o sinistro.

Mais. As alegações vertidas na petição inicial e na resposta são conclusivas e não estão suportadas em quaisquer factos concretos consubstanciadores de uma concreta causa de pedir contextualizada no tempo e no espaço, sendo que perante aquela forma de alegar não era nem é legalmente possível, sob pena de violação do princípio do dispositivo plasmado nos arts 5º, 552º , nº1, alínea d) do CPC, introduzir factualidade que no entender do autor-recorrente releva.

Essa factualidade que terá sido referida pelas testemunhas que o recorrente convoca não traduz , assim, factos concretizadores dos factos essenciais alegados para fundamentar a demanda da 3ª Ré-recorrida, e, tão pouco é susceptível de consubstanciar factos instrumentais de uma hipotética factualidade essencial não alegada.

Por último, cabe referir que reapreciada a prova resulta que sobre essa factualidade foi produzida prova que não foi consistente, como resulta dos factos provados e não provados e da motivação aduzida pela 1ª instância e da nossa reapreciação da prova nos termos expostos.

Improcede assim, a requerida ampliação da factualidade apurada.

3.4-Enquadramento Jurídico.

Perante a ineficácia parcial do recurso sobre a questão-de-facto, importa agora apreciar e decidir sobre o enquadramento jurídico da factualidade apurada por forma a confirmar ou alterar o sentido decisório da decisão recorrida.

Desde já adiantamos que não concordamos com a subsunção jurídica desses factos que foi acolhida pela sentença recorrida .

3.4.1. Obrigação de indemnizar a Autora pelos danos sofridos.

(31)

3.4.1.1- Como é sabido, a responsabilidade civil extracontratual pode emergir da prática de factos lícitos, factos ilícitos ou do risco, sendo que no âmbito da responsabilidade civil por ato lícito, a lei consente a prática do ato, face à natureza do interesse que visa satisfazer, mas dele decorre prejuízo para

outrem que a lei impõe, por razões de justiça, que o titular daquele interesse o indemnize pelos danos que lhe cause – Galvão Teles, Direito das Obrigações, pág. 150.

Constitui princípio geral de que “aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação" – art.º 483.º do C. Civil - , preceito legal que

estabelece os pressupostos gerais da responsabilidade civil por facto ilícito.

E como flui do nº 1 do art.º 487.º C. Civil, em matéria de responsabilidade civil extracontratual, é ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, exceto se houver presunção legal de culpa.

Em princípio a culpa não se presume. Recai, em regra, sobre o lesado o ónus de a provar. É que, sendo a culpa do lesante um elemento constitutivo do direito à indemnização, ao lesado incumbe fazer a sua prova, de acordo com a repartição do ónus da prova previsto no nº 1 do art. 342.º C. Civil.

Por outro lado, quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à

reparação, e verificado o respetivo nexo de causalidade entre o dano e o facto danoso – art.º 562.º e 563.º do C. Civil.

E só quando a reparação natural não for possível, não repare integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor é que a indemnização é fixada em dinheiro, devendo refletir a diferença entre a situação patrimonial do lesado na data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal e a que existiria nessa data, se não fossem os danos (artº 566º/1 e 2 do C. Civil). Se não puder ser averiguado o valor exatodos mesmos danos, o tribunal julgará equitativamente dentro dos limites que tiver por provados –seu n.º3.

A obrigação de indemnização abrange todos os danos que o lesado

provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão, que tiveram como causa adequada o acidente, impendendo sobre o lesante o dever de reparar o

prejuízo causado (danos emergentes), bem como os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência do evento danoso, incluindo os danos

(32)

futuros, desde que previsíveis, segundo um juízo de normalidade (lucros cessantes) – artºs 563º e 564º, nºs 1 e 2, do C. Civil.

3.4.1.2 -A causa de pedir alegada, relativamente ás 1ª e 2ª Rés está vertida nos artigos 95 e ss da petição inicial e funda-se no facto dos danos

alegadamente sofridos pelo Autor- recorrente, terem tido a sua casa numa parte comum, sendo que o Recorrente convocou os artigos 1421º e 485ºdo CC relativamente aos 1º e 2ª Réus.

Relativamente à 3ª Ré- recorrida, o autor recorrente alegou que esta agiu na qualidade de empreiteira a quem foi adjudicada a empreitada de substituição da cobertura do prédio e alegou que esta não tomou as precauções que devia no sentido de evitar que achuva se infiltrasse pela cobertura. Vide artigos 108º e ss da petição onde o Autor-recorrente afirma que se presume a culpa da 3ª Ré, nos termos do artigo 493º do CC.Por fim, o autor recorrente alegou no artigo 119 da petição que deste modo, verifica-se, por acção ou por

omissão, a obrigação de indemnizar o demandante pelos danos que causou.

Na decisão recorrida afastou-se a aplicação do artigo 492º do CCivilpor se considerar não existir qualquer presunção de culpa que onere a 3ª Ré, empreiteira porque “a presunção do invocado artigo 492º do CC, só poderia operar no caso de se ter provado que o facto lesivo se ficou a dever a vício de construção ou defeito de conservação, sendo nítido que a autora não fez essa prova”.

No recurso o recorrente discorda da qualificação jurídica a que chegou o Tribunal a quo, por considerar que devia ter lugar a aplicação do regime de responsabilidade civil decorrente dessa disposição legal no que concerne à actuação quer da Primeira e Segunda Rés , quer da 3ª Ré, na medida em que estamos, em seu entender, claramente perante uma obra, cuja deficiente conservação veio a causar danos, sendo responsáveis por essa obra todas as Rés em regime solidário.

Apreciando e decidindo:

Desde já afirmamos que o Autor não pode convocar as normas da

responsabilidade contratual para responsabilizar a 3ª Ré, porquanto, não celebrou com esta qualquer contrato.

Efectivamente, a 3ª Ré foi contratada pelo dono da Obra, o Condomínio daquele edifício, para executar trabalhos de substituição da cobertura do telhado e no dia 20-12-2013, antes do “ sinistro “ dos autos, a 3ª Ré já tinha

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