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EM TEXTOS DE ESPECIALIDADE - O

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Academic year: 2019

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Texto

(1)

TEXTOS

DE

ESPECIALIDADE

-

O

CASO DO

VIH

/

SIDA

Iracema Maia

___________________________________________________

Dissertação de Mestrado em Terminologia e Gestão da

Informação de Especialidade

(2)

   

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Terminologia e Gestão de Informação de Especialidade, realizada sob a orientação

científica de

(3)

mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia. 

O candidato,

___________________________________________

Lisboa,

Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apresentada a provas

públicas.

A orientadora,

__________________________________________________

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(4)

   

Agradecimentos

À Prof. Doutora Rute Costa pela gentileza em aceitar prontamente orientar a

presente dissertação e pelos magnificentes ensinamentos de ciência e de vida.

À Professora Doutora Maria Teresa Lino pelas lições de terminologia, de

lexicologia e de lexicografia.

À Prof. Doutora Maria Francisca Xavier e à Prof. Doutora Ana Maria Madeira pela

crença absoluta no meu potencial científico.

À Dra. Raquel Alves Silva por me ter indicado o caminho certo em direcção à

terminologia, à lexicologia, à lexicografia e à linguística.

À Dra. Susana Martins e ao Dr. Sérgio Barros que, para além da amizade, se

demonstraram invariavelmente receptivos para debater questões de ordem linguística e

terminológica.

À Dra. Rita Resende, ao Dr. Carlos Sousa Colaço e ao Dr. João Paulo da Silva

Sacramento que, não obstante a grande amizade, estiveram sistematicamente disponíveis

quer para me transmitir conhecimento, quer para me elucidar em termos de questões do

domínio das ciências da saúde.

Ao Prof. Doutor Marc Gruas que, para além de ser um amigo, se mostrou

invariavelmente um apoiante incondicional do meu progresso académico.

Aos meus colegas do mestrado em terminologia e gestão da informação de

especialidade.

Aos meus amigos Fernanda Câmara, Glória Ventura, Júlia Heymès, Paula Costa,

Júlio Santos, Manuel Euclides Rosa e Rogério Puga que, ainda que em circunstâncias

distintas, me confortaram com as palavras certas.

À memória de Otília de Matos Vilarigues.

Aos meus pais.

 

 

 

 

(5)

Resumo

Variação terminológica em textos de especialidade – O caso do VIH / sida

Iracema Maia

PALAVRAS – CHAVE: Variação terminológica, variação terminológica formal, variações terminológicas formais lexicais

Tendo como pano de fundo a problemática de que a terminologia da terapêutica anti-retrovírica (TAR) no âmbito do domínio da infecção VIH / sida pressupõe opacidade, a presente dissertação formulou a hipótese de que a terminologia da TAR empregue pelos especialistas é objecto de variação terminológica. Assim, a presente dissertação propôs-se apresentar uma tipologia de variação terminológica formal com o intuito de descrever as variações terminológicas formais lexicais produzidas no discurso de especialidade e nos textos de especialidade com base num corpus de especialidade inscrito na área de especialidade da terapêutica anti-retrovírica no âmbito da infecção VIH / sida. Posteriormente, o presente estudo fundamenta-se teórica e metodologicamente em alguns pressupostos da socioterminologia e da terminologia textual, pelo que se considera um estudo terminológico empírico e descritivo. Destarte, os dados terminológicos provêm do corpus denominado Corpus Textual TAR. Numa primeira instância, a constituição do Corpus Textual TAR trata-se do resultado de uma observação socioterminológica dos textos de especialidade. E, numa última instância, resume-se ao produto de uma prática metodológica textual aplicada à terminologia que, por sua vez, se traduziu na extracção semiautomática, com auxílio do programa CONCAPP, das 34283 unidades terminológicas que compreendem o corpus. Ulteriormente, procedemos a uma resenha teórica subordinada ao estudo da variação em terminologia, tendo inferido que presentemente é passível de abordagens e de descrições heterogéneas. Com vista a posicionar teoricamente a presente dissertação nos estudos de variação em terminologia, avançámos com uma proposta de tipologia de variação terminológica formal que reflecte a visão teórica de que a variação é um fenómeno terminológico que coloca lado a lado duas unidades terminológicas que ainda que partilhem o mesmo referente, distanciam-se denominativamente sendo que uma delas constitui uma metamorfose formal da unidade terminológica que a precede. Assim, de modo a analisar a variação terminológica formal seleccionámos 21 unidades terminológicas de acordo com critérios extralinguísticos e linguísticos, as quais foram circunscritas ao contexto de ocorrência textual. Consequentemente, identificámos 42 casos de variação terminológica formal. Dentro destes casos, observámos que os mais ocorrentes eram os do subtipo de variação terminológica formal lexical. Por isso, avançámos com uma proposta de tipologia de categorias de análise de variações terminológicas formais lexicais. Esta proposta de análise permitiu-nos organizar os resultados em consonância com os subtipos de variação terminológica formal ocorrentes no corpus textual TAR. Por sua vez, os subtipos ocorrentes foram objecto de descrição linguística e terminológica.

 

 

(6)

   

Resumé

Variation terminologique en textes de spécialité – Le cas du VIH / Sida

Iracema Maia

MOTS-CLÉS: variation terminologique, variation terminologique formelle, variations terminologiques formelles lexicales

(7)

Abstract

Terminological variation in specialized texts – The case of HIV / aids

Iracema Maia

KEYWORDS:

terminological variation, formal terminological variation, lexical formal terminological variation

The assumption, that HIV / AIDS anti-retroviral therapy terminology is ambiguous, led us to form the hypothesis that the same terminology is prone to terminological variation when it is used by specialists. Thus, this dissertation have proposed a formal terminological variation typology in order to describe lexical formal variations produced within the special discourse and within the special texts which compose a special corpus in the area the antiretroviral therapy for HIV / AIDS infection. Then, this study is theoretically and methodologically based in some proposals advanced by the socioterminology and the textual terminology approaches which mean that this dissertation is empirical and descriptive. Consequently, terminological data arises from a special corpus named ART Textual Corpus. In a first stage, the constitution of this corpus is a result of a socioterminological observation of the special texts which ended up in a socioterminological description of them. Finally, this corpus constitution is a consequence of a textual methodological practice applied to terminology which has enabled us to extract semi-automatically 34283 terminological units using the software CONCAPP. Afterwards, we have proceeded to a literature review on terminological variation studies. According to the prior one, we have concluded that nowadays terminological variation invokes heterogeneous approaches as well as it corresponds to heterogeneous descriptions. Therefore, we have presented a proposal of formal terminological terminology typology in the scope of building a theoretical framework meeting the purposes of this dissertation. Our theoretical framework suggests that variation is a terminological phenomenon between - at least - two terminological units which have in common the same referent although they differ in terms of denomination due to a formal metamorphosis occurred in one of them. As a result we have selected 21 terminological units according to extra linguistic and linguistic criterion in order to analyze formal terminological variation. These terminological units were organized according to their textual occurrence in context. Subsequently, we have identified 42 cases of formal terminological variation. Then, we have observed that most recurrent cases of this type of variation are the subtype of lexical formal terminological variation. Therefore, we also proposed a typology aiming the analysis of the several categories of lexical formal terminological variations. This analysis typology has allowed us to organize the referred cases according to the subtypes of lexical formal terminological variations produced in corpus. On the other hand, these subtypes of lexical formal terminological variations were subjected to a linguistic and terminological description.

 

 

(8)

   

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1

1. Constituição e institucionalização científicas da terminologia 3

2. Pós-wüsterianismo 5

3. Socioterminologia 7

4. Terminologia Textual 8

5. Justificação de enquadramento teórico e metodológico 10

CAPÍTULO II– CORPUS TEXTUAL -TAR 12

1. Abordagem empírica à terminologia 12

1.1. Corpora de especialidade 12

1.2. Textos de especialidade 13

2. Metodologia para a constituição do Corpus Textual TAR 16

2.1. Observações preliminares 16

2.2. Etapas de constituição do Corpus Textual TAR 16

2.2.1. Delimitação da área de especialidade 17

2.2.2. Selecção dos textos 18

3. Levantamento semiautomático dos dados 18

CAPÍTULO III – VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA 19

1. Percursos da variação em terminologia 19

2. Variação em terminologia na óptica da TGT 20

3. Os revisionistas wüsterianos e a variação terminológica 22

4. Modelo teórico de variação terminológica de Faulstich 24

5. Descrição de alguns estudos 29

6. Variação terminológica formal 34

(9)

CAPÍTULO IV– OBSERVAÇÃO DA VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA

FORMAL 37

1. Selecção das unidades terminológicas 37

2. Identificação dos casos de variação terminológica formal 37

CAPÍTULO V – DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS 43

1. Forma de apresentação das variações terminológicas formais lexicais 43 2. Descrição das variações terminológicas formais lexicais 43

2.1. Por redução 43

2.1.1. Redução por siglação 43

2.1.2. Redução da extensão 45

2.2. Por expansão 47

2.2.1. Por expansão da base 47

2.2.2. Por expansão da extensão 49

Considerações finais 51

Bibliografia 53

Anexos 60  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(10)

   

 

(11)
(12)

 

INTRODUÇÃO

O domínio do VIH / sida, em Portugal, tem recentemente sido objecto de atenções

dos demais sectores da sociedade portuguesa, nomeadamente do sector político.

Uma das medidas políticas mais proeminente é o do “Plano Nacional de Prevenção

e de Controlo da Infecção VIH / sida 2007-2010” cujo objectivo é o de desenvolver uma

estratégia transdisciplinar nacional para orientar e coordenar acções subordinadas à luta

contra a infecção VIH / sida.

O controlo da infecção VIH / sida, entre muitos dos seus aspectos, remete-nos

para a questão do tratamento das pessoas com VIH.

O tratamento da infecção VIH / sida, denominado outrossim Terapêutica

Anti-Retrovírica (TAR), corresponde a uma área de especialidade do domínio da infecção VIH /

sida.

Por sua vez, a área de especialidade da TAR, cuja origem remonta a 1987 aquando

da introdução no mercado do AZT (zidovudina), parece-nos que poder ser abordada tanto

do ponto de vista da actividade socioprofissional, como de um ponto de vista científico

ligado à medicina

Enquanto actividade socioprofissional, apurámos que, no caso português, ela se

desenvolve num circuito envolvendo três intervenientes: o médico hospitalar, o

farmacêutico hospitalar e a pessoa que vive com VIH.

Cada um dos três intervenientes, ainda que concorra para o mesmo objectivo, ou

seja, o sucesso terapêutico, tem funções distintas: o médico hospitalar prescrever a TAR; o

farmacêutico dispensar os fármacos da TAR; e a pessoa que vive com VIH aderir à TAR.

Quanto ao conhecimento científico, observámos ser necessário uma actualização

permanente do conhecimento da TAR por parte dos intervenientes referidos de modo a

obviar erros de medicação em termos de prescrição, de dispensa e de uso dos seus

fármacos.

A TAR, no âmbito do domínio da infecção do VIH / sida enquanto área de

especialidade é objecto de estudo da presente dissertação, sendo o objectivo observar a

(13)

De modo a verificar a hipótese formulada, propomo-nos desenvolver um estudo

terminológico e linguístico baseado num corpus textual que é constituído por um conjunto

de textos redigidos por especialistas em contexto de especialidade.

Posteriormente, identificámos e seleccionámos as unidades terminológicas a partir

do corpus textual de modo a observar e a classificar os casos de variações terminológicas

formais em texto.

Ulteriormente, descrevemos linguística e terminologicamente os demais casos de

variações terminológicas formais decorrentes da terminologia da TAR afecta ao corpus

textual TAR.

A presente dissertação encontra-se organizada em cinco capítulos:

• No capítulo 1 fazemos uma incursão por algumas perspectivas terminológicas de modo a fundamentarmos teórica e metodologicamente o

posicionamento no qual nos inscrevemos;

• No capítulo 2 não só apresentamos uma metodologia para constituição de corpora como também reflectimos sobre algumas noções de base que

subjazem a constituição de corpora de especialidade;

• No capítulo 3 apresentamos várias perspectivas de abordagem ao estudo variacionista em terminologia com a finalidade de apresentar uma proposta

de tipologia de variação terminológica formal;

• No capítulo 4 identificamos e classificamos os demais tipos de variações terminológicas formais que ocorrem no corpus textual TAR;

• No capítulo 5 focamo-nos no tipo de variação terminológica formal mais frequente no corpus textual TAR com o intuito de descrevê-la linguística e

terminologicamente.

(14)

CAPÍTULO I - TEORIAS E METODOLOGIAS EM

TERMINOLOGIA

1. Constituição e institucionalização científicas da terminologia

A consensualidade em torno da polissemia decorrente do termo terminologia é cada

vez mais um lugar-comum. Por isso, não nos parece de todo inusitado partilhar da ideia de

que a suscita pelos menos três sentidos distintos ( Sager 1990 cf. bibliografia): o primeiro sentido remete-nos para um conjunto de termos de um determinado domínio; o segundo para um

conjunto de práticas que visam descrever as unidades terminológicas e o último

convoca-nos para o termo ciência e /ou disciplina.

Na sequência do último sentido imputado ao conceito de terminologia, ressaltam

algumas questões: se para alguns teóricos a terminologia é uma ciência, para outros trata-se

de uma disciplina científica.

Pretender dirimir a questão previamente exposta e emitir juízos de valor face à mesma

são dois exercícios dos quais nos absteremos na presente dissertação. Todavia,

convencionamos que para a presente dissertação a terminologia é uma disciplina “no seio da Linguística que estuda o comportamento das unidades terminológicas, recorrendo aos contextos e, de forma mais abrangente, aos textos em que ocorrem” (Costa 2001: 6).

Assim, podemos considerar que os princípios metodológicos da ciência terminológica

são da autoria de Wüster, ao passo que os princípios teóricos da mesma são da autoria da

escola russa, ou seja: “Wüster levou a cabo trabalhos dando especial relevo à organização sistemática das terminologias, incrementando a definição de postulados fundamentais para o desenvolvimento de métodos de trabalho. Porém, é na URSS, pela mão de Lotte, responsável do Comité de Normalização Terminológica do Instituto de Normalização do Conselho dos Ministros da URSS e membro da Academia de Ciências, que a terminologia nasce como ciência (cf. Rondeau 1983) ” (Costa 2001: 6-7).

Por outro lado, isentos da intenção de subestimar o trabalho desenvolvido pela escola

russa, bem como de contemporizar outros factores, parece-nos que a disciplina

terminológica constitui-se e institucionalizou-se sob a égide de Wüster.

(15)

que tiveram o mérito de empreender “d’immenses efforts pour la reconnaissance disciplinaire et politique de la terminologie.” (Cabré 2007: 3).

Tais esforços traduziram-se em “doter la terminologie d’une théorie qui justifierait son statut comme discipline. Cette théorie a été dénommée de, par les disciplines de Wüster, Théorie Générale de la Terminologie (TGT), afin de l’opposer à ce que Wüster appelait les théories propres à chaque spécialité” (Cabré 2007: 4).

No caso da institucionalização científica1 da Terminologia, julgamos que este processo

científico, que segundo Silveira (2008) tem como fundamento uma perspectiva cognitiva e

uma perspectiva social, foi igualmente empreendido por Wüster.

Sob a perspectiva da institucionalização cognitiva, que é o momento em que uma dada

ciência firmemente constituída “trabalha com a clareza das questões teóricas, epistemológicas, metodológicas e interdisciplinares” (Silveira 2008: 41), pensamos que é plausível considerar Wüster o mentor do presente processo científico no âmbito da terminologia, na medida em

que teve êxito na corporação de pessoas que aderiram, e interiorizaram, às suas ideias

epistemológicas e que, posteriormente, passaram a ser denominados de terminólogos em

virtude do empenho de Wüster.

Doutro modo, Wüster consciente da constituição e da institucionalização cognitiva da

terminologia debateu-se em prol “d’une formation de professionnels de la terminologie. Leur tâche consisterait à élaborer des dictionnaires spécialisés (appelés dictionnaires techniques) perçus alors comme des ouvrages incontournables à une époque ou la technique et les technologies se déployaient dans de nombreux secteurs d’activité.” (Cabré 2007: 3).

Sob a perspectiva da institucionalização social, que é a altura em que uma determinada

ciência “trabalha com a organização interna e externa, dos instrumentos de divulgação e das estruturas políticas e institucionais da área que promovem a sua identidade social” (Silveira 2008: 41), a contribuição de Wüster nesse sentido parece-nos fundamental, pois aproximou a terminologia da ISO, criando o Comité técnico 37, “dont Wuster a été le secrétaire, s’est occupé – et continue de le faire – de l’établissement des principes de travail en terminologie et de la représentation des données terminologiques.” (Cabré 2007: 4), assim como a relacionou com a UNESCO, criando a INFOTERM e, consequentemente, concretizando o objectivo da “la création d’un centre international de terminologie.” (ibidem).

      

(16)

   

Diante o exposto, tivemos oportunidade de revisitar sucintamente alguns factos que, a

nosso ver, atestam que a terminologia reúne princípios que permitem legitimar a sua

constituição e institucionalização científicas, e tal se deve a Wüster.

Todavia, considerar Wüster o precursor da Terminologia Moderna não implica

necessariamente unanimidade em torno da sua proposta de Teoria da Terminologia.

Destarte, a terminologia preconizada por Wüster não fica imune às incertezas e aos

cepticismos decorrentes de questões teóricas e metodológicas.

Segundo nos parece, o primeiro grande debate em torno das questões previamente

referidas, no interior da comunidade dos terminólogos, teve lugar com a fase da história da

terminologia a qual convencionámos denominar pós-wüsterianismo.

2. Pós – wüsterianismo

O conceito de pós-wüsterianismo ao qual nos referimos na presente dissertação, não

tem que ver necessariamente com aqueles que romperam com Wüster e com a perspectiva

de Viena. Ao invés, prende-se com uma tentativa de reflexão em torno do acolhimento da

obra de Wüster e as subsequentes reacções.

Numa tentativa de descrever e de situar cronologicamente a evolução da teoria da

terminologia no âmbito do pós-wüsterianismo, Cabré (2007) prevê a existência de dois

períodos distintos: o de contenção teórica (nos anos 60, 70 e 80) e o da expansão teórica

(nos anos 90 e nos princípios do presente século).

Por outro lado, Humbley sublinha que as reacções à obra de Eugen Wüster, tendo em

conta os períodos delimitados por Cabré, são díspares “non seulement selon les points de vues linguistiques mais aussi selon les diverses aires géographiques” (Humbley 2004: 33).

Assim, Humbley não só observa que “les terminologues de langues allemande et scandinaves ont poursuivi leurs recherches dans la continuité de cette “théorie générale”” (Humbley 2004: 33)

como também constata “un relatif isolement des pays francophones (et anglophones) par rapport à la pensée wüsterienne” (Humbley 2004: 35).

Não obstante as dissonâncias face ao pensamento wüsteriano identificadas por Humbley,

supomos que é pertinente adoptarmos os períodos demarcados por Cabré e, como tal,

centrar-nos unicamente na evolução teórica e prática da terminologia no seio das escolas de

(17)

O momento de contenção teórica face à obra de Wüster, por parte das escolas

terminológicas de língua francesa, tem que ver directamente com o isolamento referido

previamente por Humbley.

Consequentemente, esse isolamento prende-se em parte com a aceitação da doutrina

wüsteriana, por parte dos poucos terminólogos de língua francesa, que a dominavam e,

simultaneamente, com o desconhecimento total da mesma por parte daqueles que exercem

a actividade terminológica à época.

Contudo, com a tradução francesa do “Manual de Terminologia” de Felber, em 1987,

parte-se do princípio que parte-se está perante uma fac-similação do pensamento wüsteriano.

Daí, alguns teóricos, Thoiron et al (1996 cf. bibliografia) e Gambier (1987cf. bibliografia),

começarem a pôr em causa alguns postulados wüsterianos.

O momento de expansão teórica, o qual teve lugar entre 1994 e 2004, à luz da

interpretação da L’Homme et al. (2003), é despoletado na Universidade de Rouen onde

assistimos de forma inédita a uma contestação organizada à doutrina wüsteriana (Humbley

2004:7).

Na sequência do levantamento teórico de Rouen, surge uma nova abordagem à

terminologia: a socioterminologia.

A reivindicação socioterminológica resumia-se à “necessity to take into account the social dimension of terms as they are subject to variation according to the social context in which they are used”(L’Homme et al. 2003: 154).

Em 1999, após alguns anos de maturação teórica, surge o conceito de terminologia

textual, que com a chancela de Slodzian e de Bourigault, “plaide pour un abandon pure et simple de la doctrine de Wüster” (Humbley 2004: 13).

Por outro lado, num contexto exterior ao espaço francófono, com Cabré também surge,

em 1999, uma nova teoria terminológica: a Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT).

A TCT é uma proposta terminológica que pretende enfatizar “the communicative dimension of terms in addition to their cognitive and linguistic aspects” (L’Homme et al. 2003: 154).

Novamente dentro do espaço francófono, aparece uma nova abordagem terminológica,

com Temmerman (1997, 2000), designada de Terminologia Sociocognitiva através da qual se

(18)

   

inclusion of a diachronic and social perspective in the description of terms” (L’ Homme et al. 2003: 154).

O estado da arte da terminologia apresenta-se-nos diverso, pelo que a presença de

diferentes teorias, correntes e abordagens terminológicas nos permite outrossim posicionar

teórica e metodologicamente no âmbito de uma delas.

No caso da presente dissertação, e atendendo aos moldes expostos previamente,

adoptaremos pressupostos teóricos e metodológicos de ordem socioterminológica e,

simultaneamente, de ordem da terminologia textual.

3. Socioterminologia

Alguns dados bibliográficos, tais como: Gaudin (1993a), Faulstich (1995) e De La Torre

(2004), apontam Jean – Claude Boulanger (1981 / 1982) como sendo o primeiro estudioso a

empregar o termo socioterminologia.

De acordo com Faulstich, “a partir de então, vários são os linguistas que defendem o estudo e o registro social do termo, pois reconhecem que as terminologias estão abertas à variação” (Faulstich 1995: 2).

Um dos linguistas, que subscreve a reflexão precedente, é Gambier (1986), a quem

Gaudin atribui o mérito de tornar o termo socioterminologia “une désignation programmatique” (Gaudin 1993a: 67).

Todavia, observamos que é com a publicação da tese de Doutoramento de Gaudin, em

1993, que se discorre de forma mais aprofundada sobre a importância de um programa

terminológico orientado para a questão social do termo: a socioterminologia.

Outrossim, pensamos que a perspectiva socioterminológica de Gaudin “ correspond au développement des préoccupations sociales et politiques auxquelles elle permet d’offrir des éléments de réponse” (Gaudin 2007: 26).

Portanto, depreendemos que a abordagem socioterminológica consiste numa nova

abordagem terminológica, contemplando instrumentos teóricos e metodológicos no intuito

de “introducir la terminología en la práctica social que es todo discurso, incluído el discurso metatermilógico con el objetivo de examinarlo como actividade produtora / social y como actividade cognosctiva” (Borbujo 2001: 661).

Enquanto actividade cognitiva, a socioterminologia prevê que a unidade terminológica,

(19)

Enquanto actividade social, a socioterminologia induz que a unidade terminológica

consiste numa “outil de travail et de production de sens dans une sphère d’activité” (Gaudin 1993ª: 221).

Assim, a unidade terminológica é um resultado de uma construção e de uma

apropriação do mundo real por parte do locutor.

Porém, o locutor, na acepção socioterminológica, não é o único elemento que contribui

para a efectivação da construção da unidade terminológica, logo torna-se imperativo

“refléchir sur des niveaux intermédiaires entre le locuteur, sujet de parole, et la communauté linguistique qui partage l’usage d’une même langue” (Gaudin 1993ª:179).

Consequentemente, é no seio do discurso, e aqui entendemo-lo “no lo sequencia de palabras / de términos, receptáculo de informaciones, datos y conceptos, sino como lugar de fuerzas, de negociación de sentido, de equilíbrio entre necessidades y formas de denominacíon, como lugar y forma producidos por lagunas posiciones sócio-ideológicas” (Borbujo 2001: 662) que a palavra adquire o estatuto de unidade terminológica reconhecida.

Na sequência da exposição dos conceitos socioterminológicos precedentes, inferimos

que a prática socioterminológica passa sobretudo pela análise dos discursos de

especialidade.

Doutro modo, actualmente a socioterminologia é “avant tout une posture descriptive qui examine la façon dont les termes replacés dans leurs pratiques sociodiscursives sont utilisés et circulent » (Delavigne e Holzem 2006 : 1).

Mais, podemos inferir que a socioterminologia é uma “démarche descriptive qui prend en compte la variété des usages et la construction contextuelle du sens des unités terminologiques » (Holzem 2007 : 4).

4. Terminologia Textual

A reavaliação das metodologias em terminologia da altura (dos anos 80 e 90), na nossa

perspectiva, encontra-se na origem da maturação e da formalização de uma abordagem

textual à terminologia.

Em termos de maturação teórica e metodológica da abordagem textual à terminologia,

parece-nos que esta teve a sua origem na escola de terminologia do Canadá.

Na realidade, tal como presumíamos após a leitura de Kocourek (1991 b), também Collet

(2000: 221) sustenta que o interesse em relacionar a unidade terminológica com o texto se

(20)

   

place dans l’analyse du plan textuel, il n’est pas en opposition au texte” (Kocourek 1991 b: 75). E, por isso, afirma igualmente que “la dimension textuelle, qui a d’ailleurs toujours été respectée dans la méthodologie terminologique canado-québécoise, a enrichi la réflexion terminologique » (Kocourek 1991 b : 71).

Porém, como sublinha Collet (2000), a abordagem textual preconizada por Kocourek

(1991 b), traduz uma disposição de reconciliação da abordagem sistemática com a

abordagem textual que na sua essência outrossim “se traduit par une certaine prise en considération de l’environnement contextuel du terme” (Collet 2000: 221-222).

Contrariamente a Kocourek (1991 b), a proposta e formalização de uma abordagem

textual à terminologia de Slodzian e de Bourigault, em 1999, procura romper com a

terminologia wüsteriana (ou sistemática).

Assim, o surgimento da terminologia textual proposta por Slodzian e por Bourigault, em

1999, que pretende colocar o texto no epicentro dos estudos terminológicos, justifica-se

pela constatação empírica da existência de variabilidades das terminologias, isto é: “étant donné un domaine d’activité, il n’y a pas UNE terminologie, qui représenterait LE savoir sur le domaine, mais autant de terminologies que d’applications dans lesquelles ces terminologies sont utilisées” (Bourigault e Slodzian 1999: 30).

Na sequência desta constatação de variabilidade das terminologias, os autores

esboçam algumas propostas teóricas e metodológicas centradas na noção de texto.

Teoricamente, para Bourigault e Slodzian, a terminologia deve fundamentar-se nas

bases teóricas da Linguística Textual, já que “l’objet empirique d’une linguistique textuelle, le texte, est le point de déapart de la description lexicale”(Bourigault e Slodzian 1999: 31).

A proposta metodológica consiste em partir do texto para se estudar o termo: “on va du texte vers le terme” (ibidem).

O termo, por seu turno, “est un construit” (ibidem) consequência de uma análise de

“une signification (type) à partir des sens (occurences) attestés dans les corpus” (ibidem).

Pelo exposto, entendemos a terminologia textual como sendo uma abordagem que

(21)

Outrossim, entendemos que a terminologia textual mais do que uma abordagem

teórica, é sobretudo uma abordagem metodológica que “aurait pour base les méthodologies propres aux linguistiques de corpus, mais appliquées aux textes de spécialités” (Costa e Silva 2009: 10).

E, consequentemente, o estudo dos textos de especialidade, no âmbito da

terminologia textual, visa “le fonctionnement réel des unités lexicales en contexte” (Slodzian 2000: 74).

5. Justificação de enquadramento teórico e metodológico

A opção por um enquadramento teórico e metodológico socioterminológico e da

terminologia textual significa que a abordagem à terminologia, que subjaz a presente

dissertação, é uma abordagem descritiva.

Não obstante o seu carácter descritivo, sabemos que a socioterminologia e a

terminologia abordam a unidade terminológica sob ópticas distintas.

A socioterminologia repousa sobre fundamentos principalmente sociolinguísticos,

ao passo que a terminologia textual “ouvre portes à tous les acquis de l’analyse linguistique et textuelle” (Bourigault e Slodzian 1999: 32).

A socioterminologia privilegia o estudo da unidade terminológica num contexto

discursivo, enquanto a terminologia textual privilegia o estudo da unidade terminológica

num contexto textual.

Todavia, pensamos que as naturezas teóricas e metodológicas de ambas as

abordagens não se confundem, nem se sobrepõem.

Pelo contrário, no âmbito da presente dissertação, partimos do pressuposto de que

há uma forte probabilidade de conciliação teórica e metodológica entre a socioterminologia

e a terminologia textual.

Se a socioterminologia se interessa por discursos, a terminologia textual interessa-se

por textos. No entanto, ainda que o discurso e o texto possam ser passíveis de uma análise

individual, julgamos que também podem ser analisados e estudados conjuntamente.

Assim, o estudo terminológico, que pretendemos realizar, pretende-se discursivo e

textual, o que significa que desejamos perspectivar a unidade terminológica num contexto

(22)

A perspectiva da unidade terminológica num contexto discursivo denota o ímpeto

de invocarmos não só as características linguísticas subjacentes à mesma como também as

características extralinguísticas, das quais se destacam o uso dado pelo locutor especialista

da esfera de actividade humana a estudar.

Por outro lado, a perspectiva da unidade terminológica num contexto textual revela

a necessidade de não só entender o comportamento linguístico da unidade terminológica,

mas também a necessidade de descrever os contextos em que as unidades terminológicas

ocorrem.

Assim, o presente estudo é empírico, pelo que assenta num corpus. A colecção de

textos que constitui o corpus deve ser previamente organizada em função de características

extralinguísticas.

Por outro lado, e ainda no âmbito da constituição de um corpus textual de

especialidade, é através da organização de textos, enquanto ocorrências de discurso, que

tencionamos identificar dados linguísticos e terminológicos pertinentes de modo a analisar os casos de variação terminológica no âmbito da área de especialidade da TAR. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(23)

CAPÍTULO II – CORPUS TEXTUAL TAR

1. Abordagem empírica à terminologia

A presente dissertação parte da hipótese da existência de variação terminológica formal

no discurso científico de especialidade da (TAR) no âmbito da infecção VIH / sida.

De modo a avaliar a hipótese enunciada, optámos por uma abordagem cujo ponto de

partida são dados empíricos de natureza discursiva e de natureza textual.

Por isso, propusemo-nos constituir um corpus - Corpus Textual - TAR - que reflectisse

uma organização dos mesmos dados empíricos de maneira que estes constituíssem a “réalité matérielle acessible, analysable et évaluable” (Slodzian 2000: 78).

Contudo, a constituição de um corpus em terminologia requer algumas reflexões

teóricas e metodológicas que invocam inúmeros conceitos passíveis de se inter-relacionar.

Assim, partindo da noção texto de especialidade, propomo-nos discorrer sobre os

conceitos de corpora de especialidade e de texto de especialidade.

Com a delimitação dos referidos conceitos, apresentamos a metodologia da

constituição do Corpus Textual TAR.

1.1.Corpora de especialidade

Costa (2001) considera que “os discursos proferidos em situações de especialidade constituem corpora de especialidade, que requerem aproximações metodológicas e teóricas particulares” (ibidem).

Assim, Costa (2001) assevera que os corpora de especialidade podem ser corpora de

referência de especialidade “se o conjunto de enunciados de especialidade for representativo dos enunciados produzidos pela classe profissional em causa e se a quantidade de enunciados recolhidos for significativa” (ibidem).

Deste modo, se para a Linguística de corpora, o conceito de referência remete

inevitavelmente para os conceitos de representatividade e de quantidade dos textos que

constituem o corpus, o mesmo não se pode afirmar para os corpora de especialidade. Para

estes a questão da representatividade e da quantidade de textos tendem a ser relativizadas,

(24)

   

Na sequência das particularidades intrínsecas aos corpora de especialidade, bem

como das suas similitudes com os corpora de língua geral, Costa (2001) apresenta uma

proposta de tipologia de corpora de especialidade que, apesar de substituir o conceito de

corpora de referência pelo de corpora de referencia de especialidade, mantém os outros

tipos de corpora, defendendo que os mesmas se aplicam de igual modo às línguas de

especialidade, conforme podemos observar na seguinte figura:

Figura 1: Proposta de tipologia de corpus de referência de especialidade (Costa 2001: 36)

1.2.Textos de especialidade

Os corpora de especialidade são a priori constituídos por enunciados orais e \ ou

escritos; também, eles, de especialidade.

Posteriormente, a organização dos enunciados – neste caso: de enunciados de

especialidade –, devido a razões de ordem teórica, pode ser analisados do ponto de vista

discursivo ou textual.

Assim sendo pretendemos dar enfoque ao conceito de texto de especialidade;

nomeadamente, ao texto de especialidade escrito enquanto produto que, por sua vez,

observamos que pode ser considerado “un objet d’observation et d’analyse pour ceux qui ont recours aux corpus pour identifier des termes, des concepts et en extraire des connaissances” (Costa e Silva 2009: 3).

Por outro lado, além de um produto, o texto de especialidade escrito “est le moyen le plus efficace pour le spécialiste de communiquer avec les membres de sa communauté professionnelle » (Costa e Silva 2009: 4).

(25)

Nos moldes previamente expostos, em terminologia uma das formas de estabelecer

a destrinça entre o texto de especialidade e os outros textos é adoptando uma abordagem

extralinguística. Doutro modo, o texto pode ser considerado de especialidade desde que

emane: “ a. la reconnaissance scientifique de l’auteur par la communauté à laquelle il appartient ; b. la connaissance du public auquel se dirige le texte ; c. la représentativité du texte pour les membres de la communauté scientifique. » (Costa e Silva 2009 : 8-9).

Para Costa, o texto de especialidade, e nomeadamente, o texto de especialidade

escrito, consiste no “produto estável resultante de uma actividade intelectual e profissional, provindo de uma comunidade de comunicação restrita” (Costa 2001: 60).

Como podemos observar, a constatação de Costa (2001) face ao texto de

especialidade escrito resume-se a uma abordagem material do texto em si, pelo que a autora

admite a necessidade de uma reflexão teórica do texto enquanto objecto abstracto.

Todavia, a natureza da reflexão teórica anterior parece que nos remete para outras

implicações teóricas e metodológicas, na medida em que coloca lado a lado o conceito de

texto e o de discurso que “nem sempre se conseguem distinguir cabalmente um do outro” (Costa 2001: 61).

De modo a dirimir a questão do conceito de texto e de discurso, Costa assume que

“tanto o discurso como o texto são enunciados; o que os distingue na realidade, é o ponto de vista sob o qual são abordados.” (Costa 2001: 62).

Assim, Costa (2001) infere que “o discurso deve ser apreendido como um enunciado associado às condições de produção em que foi produzido, enquanto o texto deve ser sentido, numa primeira instância, como um todo coerente, sendo tal coerência um dos parâmetros que permite definir o conceito de texto” (Costa 2001: 62-63).

De acordo com Costa (2001), o texto e o discurso não podem ser desassociados um

do outro “uma vez que o discurso actualizado apresenta-se, geralmente, sob a forma de texto” (Costa 2001: 66).

Na realidade, a autora conclui que “falar em texto implica a noção de discurso, uma vez que o texto fixa um discurso proferido por um indivíduo, num espaço e num tempo específicos” (ibidem).

Por outro lado, uma vez que o texto é passível de ser analisado enquanto um

(26)

   

necessário dar prioridade aos parâmetros extralinguísticos da produção textual, aquando da

análise do texto enquanto produto de uma actividade intelectual e social.

Por isso, Costa (2001) sustenta que o conceito de contexto deve estar presente

quando estão em causa a análise do texto e da sua respectiva produção.

Por outras palavras, Costa (2001) define o contexto como sendo “um conceito operatório, mediador entre o intralinguístico, o linguístico e o extralinguístico, sendo os intervenientes os principais protagonistas da mediação” (Costa 2001: 72).

Recentemente, os corpora de especialidade deixaram de ser perspectivados como

meros receptáculos de terminologia, pelo que as atenções recaem “non plus seulement sur les termes, les frontières du terme, mais aussi sur les limites du texte, et suggèrent l’établissement de typologies textuelles spécialisées” (Silva 2005: 2).

Destarte, os textos de especialidade “passent de simples réceptacles de termes à des ensembles organisés et structurés” (ibidem).

Contudo, a organização e a estruturação dos textos de especialidade, de acordo com

tipologias textuais de especialidade, revela-nos que “la simple et traditionnelle classification des textes en domaines reste certes fondamentale mais n’est plus suffisante” (ibidem) e, por outro lado, revela-nos que existe uma “insuffisance des critères de classification préétablis pour la constitution de corpus terminologiques” (ibidem).

Deste modo, verificamos que, aquando da constituição dos corpora de

especialidade, se torna necessário não só classificar os textos de especialidade em domínios

como também classificá-los segundo critérios sociológicos, sociolinguísticos e, até mesmo,

socioterminológicos, na medida em que “Ce sont ces paramètres qui permettent l’interprétation des données terminologiques contenues dans les textes spécialisés” (ibidem).

Assim, podemos dizer que uma tipologia de textos é o “résultat de l’organisation des textes en fonction des traits qui les caractérisent et qui leurs sont communs, permettant une classification” (Costa e Silva 2009: 6).

Por sua vez, da classificação anterior, chegamos a uma sistematização de textos

segundo grupos ou segundo tipos. De acordo com Costa e Silva (2009), a presente

sistematização de textos é artificial e, simultaneamente, dependente do ponto de vista do

investigador e dos respectivos dos objectivos que guiam a sua investigação.

Por isso, uma das formas, de conceber uma tipologia de textos de especialidade,

(27)

concepção de tipologia como outra resultam “da observação das condições sociodiscursivas em que foi produzido o texto, testemunho representativo de uma colecção de textos que, no seu conjunto, caracteriza um discurso” (Costa 2001: 88).

Por último, qualquer uma das tipologias de textos de especialidade deixa-nos antever

que “ o texto decorre de um discurso, porém não podemos tomar a parte pelo todo. O estudo minucioso de um texto científico, não nos permite afirmar conhecer e dominar o discurso científico. Julgamos, contudo, que um corpus reflecte as propriedades de um tipo de discurso ou de vários tipos de discursos, tendo em conta que um texto é uma ocorrência de um ou vários géneros, que estabelece (m) o elo de ligação entre o texto e o (s) discurso (s)” (Costa 2001: 89).

2. Metodologia para a constituição do Corpus Textual - TAR 2.1.Observações preliminares

A problemática que identificámos no âmbito do presente estudo terminológico

prende-se com o facto de sabermos se a terminologia da TAR apresenta variação no seio

do discurso científico.

Na sequência da problemática enunciada, traçámos um objectivo geral que

corresponde à extracção semiautomática de unidades terminológicas, que nos permitirá

identificar casos de variações terminológicas formais em situação discursiva e textual de

usos da terminologia da TAR (concretamente, o uso científico), ocorrentes no Corpus

Textual TAR.

Por outro lado, convencionámos que a constituição do Corpus Textual TAR deve

ter em conta cinco critérios:

i. Reflectir a área de especialidade em estudo; ii. Incidir sobre o discurso científico;

iii. Basear-se numa única língua, o português europeu; iv. Cingir-se ao registo escrito da língua;

v. Ser sincrónico.

2.2. Etapas de constituição do Corpus Textual TAR

A constituição do Corpus Textual TAR desenvolve-se em duas etapas: 1.

(28)

   

2.2.1. Delimitação da área de especialidade

Os poucos anos que antecedem 1980, apanham a comunidade científica médica

desprevenida, sendo que “os médicos apercebem-se, bruscamente e com grande espanto, da existência de uma doença que lhes parece “nova”. Nova porque pensam nunca a ter visto antes e porque, para a compreender, é-lhes necessário recorrer a modelos desconhecidos da patologia e da epidemiologia clássicas” (Grmek 1994: 25).

Paralelamente à constatação que se tratava de uma nova doença, a comunidade

científica médica constatou outrossim que esta doença se propagava “inexoravelmente e as suas vítimas morriam apesar dos tratamentos mais sofisticados” (ibidem).

Diante as constatações previamente referidas, o Center for Disease Control (CDC), de

Atlanta, na Georgia, nos Estados Unidos da América, decide tornar público a existência da

infecção VIH / sida.

Assim, o primeiro anúncio oficial da infecção VIH / sida foi publicado no dia 5 de

Junho de 1981.

Vinte e nove anos, após, a oficialização da existência da infecção VIH / sida, ainda

desconhecemos a sua cura. Contudo, a comunidade científica tem-se empenhado bastante

em termos de investigação.

O primeiro grande avanço científico, em 1984, é a descoberta do retrovírus VIH,

do seu ciclo de replicação e dos potenciais alvos terapêuticos (cf. Coordenação Nacional

para a Infecção VIH – SIDA (2008)).

Dois anos mais tarde, em 1986, o National Institutes of Health (NIH) cria o Aids

Clinical Trials Group (ACTG) com o intuito de desenvolver fármacos para combater a

infecção VIH / sida.

O AZT, o primeiro fármaco desenvolvido pelo ACTG, surge em 1987. E, assim,

começa a desenhar-se uma nova área de especialidade do domínio da infecção VIH / sida:

a Terapêutica Anti-Retrovírica (TAR).

Com vinte e três anos de existência, a área de especialidade da TAR permite-nos

inferir que ela pode ser perspectivada sob inúmeros pontos de vista.

No caso da presente dissertação, propomo-nos observar a área de especialidade da

TAR sob o ponto de vista do discurso científico

(29)

2.2.2. Selecção dos textos

De modo a observar os critérios gerais de constituição do corpus textual TAR, os

textos seleccionados provieram do “Manual sobre SIDA” que se inscreve no discurso

científico e data de 2004.

O presente manual inscreve-se na esfera de actividade humana da infecção VIH /

sida, abordando inúmeros temas relacionados com a infecção VIH / sida sobre uma

perspectiva científica.

Os textos de especialidade escritos seleccionados prendem-se com a área de

especialidade da terapêutica anti-retrovírica (TAR) e perfazem um conjunto de 9 (nove)

textos.

3. Levantamento semiautomático dos dados

De modo a levantar os dados terminológicos para efectuar o presente estudo,

recorremos ao programa CONCAPP.

O CONCAPP permitiu-nos aferir que o Corpus Textual TAR é composto no seu

total por 34283 formas. Ver gráfico:

 

Gráfico 1: total de unidades terminológicas no corpus textual TAR

   

 

 

(30)

   

 

CAPÍTULO III – VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA

1. Percursos da variação em terminologia

De acordo com a literatura consultada subordinada à variação em terminologia,

supomos que é verosímil avançarmos com a proposta de que os estudos variacionistas em

terminologia podem ser situados em três fases: a primeira: a fase de constatação de

existência do fenómeno; a segunda: a fase de descrição do fenómeno; e, a terceira, a fase de

descrição do fenómeno.

A fase de constatação do fenómeno, na nossa acepção, remete-nos quer para Wüster,

quer para os ditos revisionistas da doutrina wüsteriana.

A remissão para Wüster convoca-nos igualmente para Felber, pelo que em termos de

estudos variacionistas em terminologia, depreendemos que foram as ideias de ambos que

prevaleceram até finais dos anos 80.

A convocação para os revisionistas da doutrina wüsteriana apela-nos para estudos de

alguns autores (Sager (1990), Kocourek (1991), Gambier (1991) Gaudin (1993), Cabré (1993) e

Auger (1994)) que “não descrevem como a variação realiza-se plenamente nas linguagens de

especialidade” (Lamberti 2003: 86), mas contribuem para uma postura que se define pela

tomada em consideração de que as unidades terminológicas tendem à variação.

A fase de formalização teórica do fenómeno, de acordo com a nossa interpretação, não

só vem colmatar a ausência de descrição da variação terminológica nos estudos

previamente referidos como também contribui para a efectivação de um modelo teórico da

variação terminológica.

A fase de descrição do fenómeno trata-se dos estudos que se têm desenvolvido, desde

1995 até à data, no âmbito da variação em terminologia.

Estudos, esses, que provêm de diferentes abordagens terminológicas; mas, segundo nos

parece, têm como denominador comum o objectivo de descrição da realização da variação

em terminologia.

Do lado da abordagem linguística em terminologia, destacamos o estudo de Daille et al.

(1996). Do lado da abordagem léxico-semântica, temos o contributo de L’Homme (2004). E,

(31)

de Cabré (1996) e a sua equipa da Universidade Pompeu Fabra (Cabré et al. (2002) e Freixa

(2002)).

Acresce-se que no âmbito das abordagens referidas, e ou exterior ao contexto teórico

das mesmas, têm ultimamente surgido outros estudos que não só descrevem e categorizam

a variação terminológica como também procuram atribuir-lhe causas; como é o caso de

Freixa (2002), (2005) e (2006) e de Bowker e Hawkins (2006).

Gostaríamos de salientar que existem muitos mais estudos de relevância, actualmente,

subordinados à variação que não se encontram referenciados na presente dissertação.

2. Variação em terminologia na óptica da TGT

A variação em terminologia parece-nos ser uma questão cujos autores revisionistas

tendem a considerar um contraponto à TGT, na medida em que “esta perspectiva induz à interpretação de que casos que geram ambigüidades e motivam a variação são indesejáveis no discurso científico e técnico” (Lamberti 2003: 85).

Por sua vez, e relacionando ainda a TGT com a variação, também constatamos que

alguns autores tendem a inferir que a TGT não admite a existência do fenómeno da

variação em terminologia.

De acordo com as conclusões de Lamberti (2003) e de Barros e de Jesus (2005)), a TGT

não reconhece a variação e, além disso, considera a variação pode provocar ambiguidade na

língua de especialidade e, como tal, comprometer os objectivos afectos à normalização

terminológica.

Assim, julgamos imprescindível, para a presente dissertação, tentar de facto esclarecer a

relação entre a TGT e o fenómeno de variação terminológica.

Pensamos que reflectir sobre a relação da TGT com a variação terminológica requer

uma incursão pelas obras de Wüster (1968) e de Felber (1984), respectivamente: “Introdução à

Teoria Geral da Terminologia e à lexicografia terminológica” e “Manual de Terminologia”, de modo a

estabelecer um paralelo entre ambas.

Na obra póstuma de Wüster “Introdução à Teoria Geral da Terminologia e à lexicografia

terminológica” encontramos no capítulo 8 uma secção intitulada “Variação Linguística”.

O título “Variação Linguística” não deixa de suscitar interesse, sendo que a priori nos dá a

(32)

   

assim: “se denomina variacíon lingüistica toda perturbacíon de la unidad linguística” (Wüster 1968: 150). Posteriormente, Wüster aprofunda a questão, caracterizando a variação linguística como sendo “la aparicíon de sinónimos u homónimos de variación. Una parte de la comunidad lingüística utiliza un sinónimo mientras que las demás utilizan otro sinónimo” (ibidem). Ulteriormente, Wüster classifica a variação linguística: por um lado, prevê a existência de

variação linguística monolingue; e, por outro lado, a variação linguística interlíngua.

Da classificação precedente, a variação linguística monolingue parece-nos a mais

relevante, na medida em que Wüster admite a variabilidade do uso em língua de

especialidade. Ou seja, Wüster constata que “ La variacíon lingüística monolingue también puede darse entre campos temáticos. Ya hemos dados ejemplos de este fenómeno en las séries de Pleuelstange, Treibstange, Schustange y Stelze ‘biela’, y también hemos llamado la atención sobre la variación lingüística entre los términos en farmacia y en química. En filosofia, la variación lingüística entre autores es particularmente fructífera” (ibidem).

Na sequência exposição de Wüster no que diz respeito à variação, notamos que o

teórico “constate et reconnaît la variabilité des usages et la variation linguistique” (Candel 2004: 20). O que parece divergir da ideia generalizada, daqueles que pretendem demarcar-se da dita terminologia dominante fazendo alusões a Wüster que “vont du psychologique (“ses préceptes les plus dogmatiques”, “la survivance d’un positivisme révolu” (Slodzian: 1994)); “obsession fétichiste” (Gambier 1991: 42), au médical (“son aveuglement sur l’interpénétration ») voire au politique (« fascisme linguistique (Gambier 1991 : 42)) ou libéralisme (« marché du sens» (Gambier 1991 : 42)) » (Humbley 2004 : 48).

Na verdade, consideramos que o feixe de alusões, citado por Humbley, não se coaduna –

pelo menos, em termos de reconhecimento da existência do fenómeno de variação da

linguística – com a postura de Wüster.

Pelo contrário, a aceitação da existência do fenómeno de variação linguística; a

consequente classificação da mesma; e a admissão de variação linguística nos demais

domínios de especialidade, levam-nos a supor que Wüster nesta “son ouvrage propose une forme de discussion, voire de remise en cause de quelques grands principes, dont on tend généralement à croire qi’ils les admet sans réserve” (Candel 2004: 20).

Assim, consideramos extemporâneo afirmar que Wüster rejeita teoricamente a existência

de variação em terminologia.

Segundo Humbley (2007), o “Manual de Terminologia” de Felber trata-se de uma solicitação

(33)

produção de um novo manual de Terminologia com o intuito de “servir de “matériel didactique” et d’ “instrument de travail” dans le cadre de Termnet” (Humbley 2007: 84-85).

Porém, consideramos que, em muitos aspectos, este novo Manual de Terminologia não

é uma fac-similação do manual de Wüster. Por outras palavras, o novo manual de

terminologia parece-nos que corresponde mais a um projecto político institucional do que a

um projecto meramente científico.

Mesmo assim, Felber mantém incólume o princípio terminológico wüsteriano de que “une communication univoque au sens stricte du terme exigerait que, pour une notion – l’élément de la pensée – une seul terme existe et vice-versa » (Felber 1987 : 11).

Contudo, ainda que Felber discorra sobre questões linguísticas e terminológicas que

podem inviabilizar o princípio terminológico referido, nomeadamente as questões de

ambiguidade, não encontrámos qualquer tipo de menção à questão da variação em língua

(s) de especialidade.

Doutro modo, Felber considera que existem diversas afectações entre termos e noções,

tais como a monossemia, a monossemia acompanhada de mononímia, a plurivalência

(homonímia e polissemia) e a sinonímia (cf. Felber 1987: 152). Tem também a preocupação

de defini-las e de classificá-las teoricamente, bem como o cuidado de apresentar as suas

causas e os efeitos nocivos que podem ter no projecto terminológico que dirige.

Em oposição ao manual de Wüster, o de Felber não nos permite inferir o que quer que

seja em matéria de variação em terminologia sendo que, como já salientamos, se trata de

uma questão ausente.

3. Os revisionistas wüsterianos e a variação terminológica

Com a edição francesa do Manual de Terminologia passa-se a ter acesso mais eficaz à

doutrina da TGT.

Por sua vez, a recepção do pensamento de Wüster, nos moldes expostos previamente,

parece ter suscitado um “mouvement de cristallisation” (Van Campenhoudt 2006: 2).

Um dos corolários desse movimento de cristalização consistiu na condução

“inéluctablement à des tensions voire à des ruptures plus au moins constructives” (ibidem).

Tensões e rupturas, na nossa perspectiva, sustentadas alegadamente por ideias – chave,

da TGT, que nos convidam a “ focaliser sur des points de tension par rapport à l’évolution de la

(34)

   

Um dos pontos do desenvolvimento da investigação em terminologia tem que ver com

a assunção de que Wüster, e a TGT, “défend impérativement une biunovicité normalisatrice”

(Candel 2004: 16).

Assim, partir do pressuposto apresentado, permitiu que inúmeros autores revisionistas,

provenientes de posicionamentos terminológicos diversos, enfatizassem nos seus estudos

“a importância da variação em terminologia” (Lamberti 2003: 86) bem como “a falta de

sensibilidade dos trabalhos terminológicos a situações de variação, ocasionadas pela diversidade de

grupos sociais que trabalham em uma área de especialidade” (Lamberti 2003: 85).

Sager (1990) afirma que “the recognition that terms occur in various linguistic contexts and

that they have variants which are frequently context-conditioned shatters the idealized view that

there can be or should be only one designation for a concept and vice-versa” (Sager 1990: 58-59), o

que significa que não só admite o fenómeno da variação linguística em terminologia como

também considera que a constatação deste fenómeno inviabiliza a operacionalização do

postulado de biunivicidade da unidade terminológica previsto pela TGT.

Por seu lado, Kocourek (1991) considera que, uma vez que, “ […] la langue de spécialité est

un sous-ensemble de la langue entière, elle est sujette à la variation linguistique, historique et

géographique de celle-ci » (Kocourek 1991 : 24).

Ainda que Kocourek se distancie teoricamente de Sager a partir do momento em que

estabelece parâmetros de variabilidade, ambos parecem acordar no facto de existir variação

linguística no seio da língua de especialidade.

Uma outra analogia entre os dois autores, que nos parece relevante, prende-se com o

facto de relegarem o estudo da variação linguística em língua de especialidade quer para a

figura da linguística e, mais concretamente, dos estudos dialectológicos (cf. Kocourek 1991:

31), quer para a figura da linguística e dos especialistas (cf. Sager 1990: 213 - 214).

Em acordo com a ideia de Kocourek e de Sager, Auger (1993) sustem, de acordo com De

la Torre (2004), que “es al terminologo a quien corresponde aceptar la variación lingüística,

describir los usos y orientar estos usos sobre una base pluralista, consensual y realista” (De la Torre

2004: 51).

Na sequência dos estudos previamente discorridos, também Cabré (1993) se mostra

favorável à existência de variação linguística nos usos terminológicos. Todavia, observamos

que, contrariamente aos outros autores, a autora passa a denominar o presente fenómeno

(35)

Segundo Cabré (1993), “todo lenguage de especialidad, en la medida en que es un

subconjunto del general, participa de sus mismas características; se trata, pues, de un código unitario

que permite variaciones” (Cabré 1993: 157).

Todos os autores, que referimos, demonstram consensualidade em termos de aceitação

de existência do fenómeno de variação na (s) língua (s) de especialidade. Outrossim,

concordam entre si que a (s) língua (s) de especialidade é susceptível de variedade, ou

variabilidades, no uso.

As duas dificuldades apontadas relativamente ao estudo da variação em terminologia,

começam a ser superadas com o estudo de Faulstich em 1995; o qual, sob o nosso ponto de

vista, se trata de um prelúdio para o desenvolvimento e para a consolidação de um modelo

teórico da variação em terminologia.

4. Modelo teórico de variação terminológica de Faulstich

Sob uma perspectiva socioterminológica, Faulstich apresenta o artigo “Socioterminologia:

mais que um método, uma disciplina” em 1995, o qual presumimos que se trata da fase

embrionária para a formalização de uma teoria da variação terminológica.

Assim, constatamos que Faulstich tenta demarcar-se da ideia de que o estudo da

variação linguística em terminologia deve ser desenvolvido única e exclusivamente pela

sociolinguística pelo que afirma que “o conceito de variação linguística, desenvolvido pela sociolinguística, serve de suporte para essa nova interpretação que se vem desenvolvendo sobre a variação terminológica” (Faulstich 1995: 7).

Um ano mais tarde, no artigo “Variações terminológicas: princípios linguísticos de análise e

método de recolha”, a autora reitera a ideia veiculada anteriormente socorrendo-se do

argumento que a socioterminologia e a sociolinguística concorrem para objectos de análise

distintos na medida em que “a primeira se ocupa da variação social que o termo sofre nos diversos níveis e planos hierárquicos do discurso científico e técnico” (Faulstich 1996:1) ao passo que a segunda “trata a variação social por que passa a língua geral, no decorrer de sua sincronia, em vista de mudança que poderá vir a ocorrer” (ibidem).

Por isso, Faulstich admite que, à semelhança da sociolinguística, também a

socioterminologia deverá descrever e explicar os fenómenos linguísticos variáveis quer sob

(36)

   

Baseada no postulado precedente e na tentativa de sistematizar os produtos do

fenómeno da variação terminológica, Faulstich esboça uma tipologia de variantes

terminológicas que, por sua vez, se traduz em dois grupos: o das variantes linguísticas e o

das variantes de registo.

Em 1998, no artigo “Entre a sincronia e a diacronia: variação terminológica no código e na

língua”, Faulstich apresenta um estudo de variação terminológica diacrónica com o intuito de

sustentar a tese de que “o termo é uma entidade do discurso independentemente de sua realização no plano sincrónico e no plano diacrónico e, por isso, passível de apresentar variantes antigas e actuais” (Faulstich 1998: 3).

No âmbito do mesmo artigo, Faulstich não só adopta a tipologia apresentada em 1996

com também procura definir as variantes terminológicas: as variantes terminológicas

linguísticas são “aquelas que cujo fenómeno propriamente linguístico determina o processo de variação” (Faulstich 1998: 6) e as variantes de registo são “aquelas que cuja variação decorre do ambiente de concorrência, no plano horizontal, no plano vertical e no temporal em que se realizam os usos linguísticos dos termos” (ibidem).

Ainda no mesmo artigo, Faulstich reformula a tipologia de variantes de 1996, pelo que

verificamos três tipos de variantes: as variantes terminológicas concorrentes (no qual se

inscrevem os dois grupos de tipologias atrás descritos), as variantes terminológicas

coocorrentes e as variantes terminológicas competitivas.

Em 1999, na sequência da publicação do artigo “Principes formels et fonctionnels de la

variation en terminologie”, os estudos em variação terminológica atingem o seu expoente

máximo, na medida em que Faulstich surge com um conjunto de cinco postulados teóricos

que sustentam a teoria da variação terminológica (Faulstich 2006: 28); e, por outro lado,

(37)

V a r ia çã o

V a r iá ve l

V a r ia n t e

Com pe t it iva Co- ocor r e n t e

Con cor r e nt e

Em pr é st im o

V a r ia n t e for m a l Sin ón im o

Figura 2: Proposta de modelo teórico de variação terminológica (Faulstich 1999: 10)

Os cinco postulados, que decorrem da necessidade de atribuir vínculos teóricos de

carácter linguístico e, simultaneamente, de conferir legitimidade linguística ao fenómeno da

variação terminológica, já que a autora advoga que “En terminologie, plus la variation est soutenue par des postulats linguistiques, plus elle doit être catégorique” (Faulstich 1999: 10), são os seguintes:

i. Dissociation entre structure terminologique et homogénéité, univocité, et association de la notion d’hétérogénéité ordonnée à la structure terminologique;

ii. Abandon de l’isomorphisme catégorique entre terme-concept-signifié;

iii. Acceptation du fait que, puisque la terminologie est un fait de langue, elle contient des éléments qui varient;

iv. Acceptation du fait que la terminologie varie et cette variation peut indiquer un changement en cours ;

v. Analyse de la terminologie dans des co-textes linguistiques et en contextes discursifs de la langue écrite et de la langue orale ;

(Faulstich 1999 : 10)

O modelo teórico de variação terminológica de Faulstich, conforme podemos

observar, procura hierarquizar, associar e reunir um conjunto de conceitos fundamentais

Imagem

Figura 1: Proposta de tipologia de corpus de referência de especialidade (Costa 2001: 36)
Figura 2: Proposta de modelo teórico de variação terminológica (Faulstich 1999: 10)
Gráfico 2: Unidades terminológicas seleccionadas e respectivas frequências
Gráfico 3: Número de casos e classificação por subtipos das variações terminológicas  formais no corpus textual TAR
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Referências

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