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Open Lazer e sociabilidade juvenil de usuários de drogas em contextos de risco.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

CLARA MARIA PEREIRA CARVALHO CARNEIRO DA CUNHA

LAZER E SOCIABILIDADE JUVENIL DE

USUÁRIOS DE DROGAS EM CONTEXTOS DE

RISCO

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CLARA MARIA PEREIRA CARVALHO CARNEIRO DA CUNHA

LAZER E SOCIABILIDADE JUVENIL DE USUÁRIOS DE

DROGAS EM CONTEXTOS DE RISCO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba, articulada a linha de pesquisa “Estado, Direitos Sociais e Políticas Sociais, para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Maria de Lourdes Soares.

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CLARA MARIA PEREIRA CARVALHO CARNEIRO DA CUNHA

LAZER E SOCIABILIDADE JUVENIL DE USUÁRIOS DE

DROGAS EM CONTEXTOS DE RISCO

Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da Universidade Federal da Paraíba, pela seguinte Banca Examinadora:

______________________________________________

Profª. Drª. Maria de Lourdes Soares Orientadora

______________________________________________

Profª. Drª. Maria do Socorro de Souza Vieira Examinadora Interna

______________________________________________ Profª. Drª. Tereza Correia da Nóbrega Queiroz Examinadora Externa

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Aristóteles

Dedico este trabalho ao AMOR: a DEUS;

aos meus pais Leopoldo e Alice; a minha irmã Gracinha;

ao meu esposo Roberto; aos meus filhos Lara e Erik;

aos meus sogros Gilberto e Lourdes;

aos meus cunhados Sílvia Helena e Gilberto Filho; a toda a família;

a Maria, funcionária dedicada; aos amigos;

às pessoas; à natureza;

à arte: expressa na música, dança, teatro, pintura... à minha profissão;

à juventude, ao lazer, ao risco... à vida;

a tudo aquilo em que acredito,

aos jovens que me confiaram momentos especiais de suas vidas; aos que acreditaram em mim.

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Sem amor, eu nada seria!

Portanto, agradeço ao amor que tiveram os entrevistados em me deixarem participar um pouco das suas vidas, no desafio de tentar entender o heroísmo de sobreviverem a tantas adversidades, onde nem sempre o amor está presente.

À minha família, principalmente, por entender o meu choro sofrido ao me sentir trilhando um caminho basicamente solitário, confortando-me com carinhos e sorrisos e assegurando-me: vá em frente, você é capaz e conseguirá chegar ao fim!

Em especial, à Profª. Drª. Lourdes Soares, que me acolheu com sensibilidade e competência na condução deste processo, à Profª. Drª. Socorro Vieira, que teve grande participação na estruturação da dissertação, à Profª. Drª. Tereza Queiroz, participante da Banca Examinadora, pelo incentivo, carinho e críticas criteriosas, à Profª. Drª. Marinalva Freire, pelo empenho e cuidadosa correção de Português e, ao corpo de professores que me fizeram enxergar outros paradigmas, fazendo-me aprender e apreender vários significados cujas significações me foram muito úteis.

Aos colegas e funcionários do Mestrado, pela troca prazerosa no convívio com eles. Aos profissionais do CAPS, por me terem aberto tal espaço.

À paciência de alguns que se fizeram presentes na realização deste sonho, no intuito de nos ver crescer juntos, bem como a impaciência de outros que com suas ausências me fizeram crescer mais e mais.

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Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo Outra parte é ninguém fundo sem fundo Uma parte de mim é multidão

Outra parte estranheza e solidão Uma parte de mim pesa pondera Outra parte delira!

Uma parte de mim almoça e janta Outra parte se espanta...

Uma parte de mim é permanente Outra parte se sabe de repente Uma parte de mim é só vertigem Outra parte linguagem!

Traduzir uma parte na outra parte Que é uma questão de vida e morte Será arte... será arte...

Será arte... será arte...

Uma parte de mim é permanente Outra parte se sabe de repente Uma parte de mim é só vertigem Outra parte linguagem!

Traduzir uma parte na outra parte Que é uma questão de vida e morte Será arte... será arte...

Será arte... será arte...

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Este estudo objetiva analisar as práticas de lazer, encontradas por jovens usuários de drogas, de bairros populares e periféricos de João Pessoa-PB, focalizando suas formas de sociabilidade num contexto de atração pelo risco. Os jovens selecionados para a pesquisa foram os que estavam em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS/Jovem Cidadão), um serviço localizado em João Pessoa, pertencente à Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba, que oferece tratamento gratuito. O pressuposto deste estudo é que, devido às exigências sociais contemporâneas impostas aos jovens que, não correspondendo a tais expectativas são tomados por sentimentos de incapacidade e baixa auto-estima, estes, vão buscar nas drogas sensações prazerosas, embora ilusórias, para redução das dores sociais e afetivas, exercendo as mesmas, o papel de diversão e de muletas emocionais que os possibilitam caminhar amparados. O eixo central deste trabalho é que, uma das formas de lazer, o uso abusivo de drogas, deve-se em parte ao impacto da modernidade que vem deteriorando a percepção dos indivíduos sobre si mesmos e, na ânsia de se sentirem poderosos, arriscam-se como forma de pertencimento à sociedade, que os exclui. A análise das falas dos sujeitos demonstra que o uso de drogas por si só é um tipo de lazer diretamente associado ao risco e que, a socialização nos espaços de lazer, mesmo propiciando riscos, é buscada como forma de obtenção de prazer e superação de desafios impostos, para que, ao superarem, encontrem-se em condições de pertencimento social.

Palavras-chave:

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ABSTRACT

This paper aims at analysing the exercises of leisure, which young users of drugs – who live in peripheral popular quarters of Joao Pessoa-PB – find out, focusing its ways of sociability in a context of risk attraction. During the research, these youths were being treated at the Centre for Psychosocial Attention (CAPS/Young Citizen), a free-of-charge service rendered in Joao Pessoa that belongs to the Paraiba State Health Secretariat. The presupposition of this study is that, due to today’s social demands imposed on youths, who – not corresponding to such expectations – are invaded by sentiments of incapacity and low self-esteem, these will look for in the drugs illusory sensations of pleasure to cut off the social and affective pains. These drugs play the role of entertainment and emotional crutches to allow them to feel properly supported. The central axis of this work is that the abusive use of drugs – one of the ways of leisure – is partly due to the impact of the modernity which is deteriorating the individuals’ perception over themselves and in the anxiety of their feeling powerful. They take a chance to belong to the society that excludes them. The analysis of the individuals’ speech shows that the use of drugs in itself is not but a sort of leisure directly associated with the risk, and that the socialisation in the spaces of leisure – even leading into risks – is searched for as a way to obtain pleasure and overcome the imposed challenges, so that – on overcoming them – they cope with the conditions of social belonging.

Key words:

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INTRODUÇÃO ...

10

CAPÍTULO I

1 AS CONCEPÇÕES DE JUVENTUDE, SOCIABILIDADE, DROGA, LAZER E RISCO...

1.1Juventude e Sociabilidade... 1.2Juventude e Drogas... 1.3O Lazer como Espaço de Sociabilidade... 1.4 Risco e Droga no Espaço de Lazer...

15 15 31 41 47 CAPÍTULO II

2 A PESQUISA DE CAMPO...

2.1Tipo ... 2.2 Espaço... 2.3 Os Sujeitos... 2.4 Procedimentos Metodológicos... 2.5 Análise dos Dados... 2.6 Por que os Super-Heróis... 2.7 Quem são os nossos Super-Heróis... 2.8 Os Heróis e suas Histórias: Realidade x Ficção...

53 53 54 58 59 62 63 65 67 CAPÍTULO III

3 A RELAÇÃO ENTRE JUVENTUDE, DROGA, LAZER E RISCO NA

PERCEPÇÃO DOS JOVENS SUPER-HERÓIS...

3.1 Juventude Adulta ... 3.2 A Sexualidade Antecipada/ Diversão/ Socialização... 3.3 Escolaridade e Trabalho ... 3.4 Desejos e Expectativas... 3.5 O Uso das Drogas Lícitas e Ilícitas... 3.6 Lazer. Droga. Socialização. Risco...…...

89 89 96 102 107 110 117

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 151

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 156

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo investigar as práticas de lazer utilizadas por jovens usuários de drogas de bairros populares e da periferia de João Pessoa - PB, enfocando as suas formas de sociabilidade, num contexto de atração pelo risco na contemporaneidade.

E, como objetivos específicos, tentar apreender o significado que esses jovens fazem do risco durante o uso de drogas nos espaços de lazer; se o uso de drogas se faz necessário para a incursão nesses espaços de lazer como forma de pertencimento aos grupos; assim como investigar, se é o prazer pelo uso das drogas que possibilita o lazer ou se é o lazer que faculta a necessidade de usar as drogas, identificando as motivações dos jovens para outras formas de lazer e expressões culturais que não estejam necessariamente relacionadas a comportamentos de risco.

A idéia de estudar o tema do uso excessivo de drogas por jovens pobres, no universo de lazer risco e sociabilidade, surgiu a partir da minha experiência como psicóloga, por 23 anos, atuando na área de saúde mental, sabedora de como são estigmatizados e por ter em mente a relevância que o impacto social poderá causar, ao final da pesquisa, enquanto Política Social, com propostas e intervenções mais voltadas para uma melhor qualidade de lazer.

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A experiência profissional anterior no CAPS nos mostrou que o comportamento desses jovens apresentava uma estreita relação entre o uso de drogas e o lazer associado a transgressões nos locais de diversão aonde muitas vezes iam com o intuito de se socializarem, mas acabavam envolvendo-se em brigas, uso excessivo de drogas, vandalismo e outras formas de transgressão e, em alguns casos, não retornavam às suas casas, tornando-se vítimas fatais da violência inerente a esses locais.

Através de relatos em prontuários e dados estatísticos levantados no CAPS, no referido período, foi constatado que, dentre os jovens atendidos no Centro, destacava-se um segmento pertencente a uma população de baixo nível sócio-econômico, oriunda de diversos bairros periféricos e bastante populosos de João Pessoa. Os bairros detectados na época foram: Mangabeira, Valentina de Figueiredo, Mandacarú, Cruz das Armas e Centro, incluindo nestes as respectivas áreas de favelas.

Apontava-se para um consumo exagerado de Drogas lícitas e ilícitas, numa relação muito próxima destes jovens com a morte, sendo muitos deles atingidos individualmente, ou em galeras, e que, no momento de serem acometidos por algum ato de violência, encontravam-se quase sempre em espaços de lazer, aonde iam em busca de diversão.

Os espaços escolhidos ou disponíveis aos quais os jovens têm acesso são, em geral, permissivos a comportamentos transgressores e de exposição a diversas formas de risco. Sabe-se que os esportes radicais, violência entre os colegas, acidentes, acesso a locais perigosos como pontos de venda de drogas, ou macabros como cemitérios, associados ao uso abusivo de drogas, são exemplos desta necessidade de atração pelo risco.

As maneiras pelas quais estes jovens estão se divertindo impõe questionamentos do tipo:

Quais os tipos de lazer que possibilitam prazer para este seguimento jovem,

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que, as situações de risco presentes no contexto do uso de drogas, não impedem que os

jovens busquem os espaços de lazer, como espaços de socialização?

Sabe-se que os danos psico-físicos e sócio-culturais, decorrentes de determinadas formas de lazer associadas ao uso de drogas são inúmeros. A violência se expressa sob vários aspectos, saindo do plano psíquico individual para o plano físico coletivo. Os altos índices de homicídios e acidentes envolvendo jovens são um indicativo.

A questão é complexa e exige ampla reflexão bem como respostas concretas de Políticas Sociais voltadas para a valorização da população. Os jovens, pelas suas peculiaridades, devem ser entendidos como seres sociais nas suas diversidades e singularidades. Isto quer dizer que todos os aspectos do sujeito social devem ser apreendidos como dinâmicos e necessários a sua integralidade.

Diante de tais apreensões, conforme a proposta de estudo, tornou-se necessário um aprofundamento maior em analisar junto aos jovens, participantes da pesquisa, o contexto contemporâneo, em que vivem, sabendo que, embora com uma retórica ambígua, presenciamos o incentivo, a valorização e o culto a uma “cultura da droga”.

Assim, buscou-se saber através de suas histórias de juventude e de consumo de drogas, dados relacionados com o seu lazer e expressões culturais e a exposição ao risco nos espaços de lazer, vivenciadas tanto em seus bairros quanto em outros locais da cidade e quais as associações com as diversas formas de socialização.

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drogas, tanto quanto, os jovens menos favorecidos. Contudo, diferentemente do primeiro grupo dispõe, mais facilmente, de diversos aparatos educativos e terapêuticos de prevenção.

Outro motivo que incentivou a esta pesquisa deve-se à carência de estudos e de orientações que possam melhor subsidiar uma grande maioria de profissionais atuantes na área da infância e juventude para que possam lidar melhor com tal problemática.

O conhecimento de nossa realidade pode colaborar com esta população, ajudando aos profissionais que se interessam pela matéria a formularem políticas mais realistas voltadas para o contexto dos jovens, sabendo que, para o lazer, faz-se necessário um grande incentivo por parte do Estado, Órgãos Não Governamentais e sociedade em geral.

Com isso, enfoca-se neste estudo o conceito de risco, utilizando as práticas vivenciadas pelos jovens pesquisados, como balizadoras deste referencial, os quais crêem que o risco ou, é inerente ao homem, ou o homem se apaixona por ele, a fim de que possa se resgatar como indivíduo perante o social, que tanto valor atribui atualmente a quem se joga ao perigo, ou se arrisca. É neste contexto de lazer, risco e sociabilidade, que se estuda o jovem usuário de drogas das camadas pobres de João Pessoa.

A dissertação está estruturada em três capítulos que se desenvolvem da seguinte maneira:

O primeiro, aborda “as concepções da juventude, sociabilidade, droga lazer e risco” à luz de autores consagrados que vislumbram a compreensão das diversas juventudes, de acordo com as diferenças individuais, culturais e sociais, as maneiras de buscarem formas de lazer para se socializarem e a busca pelo risco que se faz presente como forma de pertencerem enquanto seres sociais.

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estudo, onde e como se deram os encontros, os instrumentos para coleta e análise dos dados, explicando inclusive por que são chamados de super-heróis.

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CAPÍTULO I

1 AS CONCEPÇÕES DE JUVENTUDE, SOCIABILIDADE, DROGA, LAZER E RISCO.

“Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou,

Mas tenho muito tempo, temos todo tempo do mundo ... ... Nem foi tempo perdido somos tão jovens.” (Tempo Perdido, Renato Russo)

1.1Juventude e Sociabilidade

“Nós somos muitos, não somos fracos, Somos sozinhos nessa multidão... Nós somos só um coração Sangrando pelo sonho de viver” (Tudo Azul, Lulu Santos) Conceitualmente, Juventude é uma categoria social, que pode ser definida como “uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes que lhes são atribuídos. Ao mesmo tempo, é uma situação vivida em comum por certos indivíduos” (GROPPO, 2000, p.7). Prosseguindo, ele argumenta:

Trata-se não apenas de limites etários pretensamente naturais e objetivos, mas também, e principalmente, de representações simbólicas e situações sociais com suas próprias formas e conteúdos que têm importante influência nas sociedades modernas. (GROPPO, 2000, p.8).

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para designar o período interstício entre as funções sociais da infância e as funções sociais do adulto.

Numa análise mais atenta, Groppo (2000) aponta a adolescência e a juventude como fases sucessivas, nas quais a adolescência se aproxima mais da infância enquanto a juventude, da maturidade. Sociologicamente, temos várias juventudes, formadas a partir de suas diversidades vivenciais na fase de transição à idade adulta. O citado autor explica esta concepção, alertando sobre a existência real de grupos sociais concretos com recortes sócio-culturais diversificados de onde advêm, subcategorias de indivíduos. Em outras palavras,

A juventude como categoria social [...] também é uma representação e uma situação social simbolizada e vivida com muita diversidade na realidade cotidiana, devido a sua combinação com outras situações sociais – como a de classe ou estrato social –, e devido também às diferenças culturais, nacionais e de localidade, bem como às distinções de etnia e de gênero (GROPPO, 2000, p.15).

O conceito de Juventude sofre mudanças segundo a época e a sociedade, servindo a usos ideológicos (interesses sociais em jogo), sendo fortalecido na 2ª metade do século XX e apontando como fatores importantes:

• A representação numérica no pós-guerra e devido aos avanços econômicos e tecnológicos nas sociedades ocidentais que necessitavam seu trabalho;

• A crescente autonomia da juventude, que reunida entre si, estabelecem gostos diferentes nas atitudes, no vestir, inaugurando uma sub-cultura juvenil (SILVA, 2003).

Esta sub-cultura tem uma preocupação em demarcar suas diferenças, denunciando os valores corrompidos da cultura de consumo.

Marcuse (apud OLIVEIRA, 2001, p.136) fala da escolha pela qual a sociedade se organiza, enfocando a sua história em relação à cultura herdada e diz:

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interesses dominantes. Ela antevê maneiras específicas de utilizar o homem e a natureza e rejeita outras maneiras. É um “projeto” de realização entre outros. Mas assim que o projeto se torna operante nas instituições e relações básicas, tende a tornar-se exclusivo e a determinar o desenvolvimento da sociedade como um todo”. Ao se desdobrar, o projeto molda todo o universo da palavra e da ação, a cultura intelectual e material.

Estas observações fazem com que se pense mais especificamente no significado de cultura e nas suas influências na atualidade, em relação aos jovens.

“O conceito de cultura se referencia pela produção material e simbólica que confere peculiaridade e distinção aos grupos sociais humanos” (QUEIROZ, 2004, p. 17).

Para Margulis, (apud QUEIROZ, 2004, p.18), “a cultura seria o conjunto inter-relacionado de códigos de significação, historicamente constituídos, compartilhados por um grupo social que torna possível acomunicação e a interação”.

Para Grazia (apud OLIVEIRA, 2001, p.29), “se é procedente afirmar que a alma humana só se afeiçoa na cultura, talvez se deva complementar: numa cultura que é, simultaneamente, produto e fermento de interações solidárias”. Com isso, ele propõe que nossa cultura possibilite para nós mesmos, já que somos nós os autores, qualidade nas relações que, de forma harmoniosa deve fazer com que os indivíduos se preservem mais ligando-se, uns aos outros.

Falando-se de jovens, impõe-se aqui a necessidade de entender um pouco sobre as

chamadas “culturas juvenis”. “O conceito de culturas juvenis tem já uma história no campo das ciências sociais e remete à discussão sobre a sociedade moderna, sociedade que cria espaços diferenciados para a vivência de diferentes grupos etários” (QUEIROZ, 2004, p. 17).

Feixe (apud QUEIROZ, 2004, p.18), argumenta o seguinte:

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espacios intersticiales de la vida institucional. En un sentido más restringido, definen la aparición de microsociedades juveniles, con grados significativos de autonomía respecto a las instituciones adultas, que se dotan de espacios y tiempos específicos, y que se configuran históricamente en los países occidentales tras la segunda guerra mundial, coincidiendo con grandes procesos de cambio en el terreno económico, educativo, laboral e ideológico. Su expresión más visible son un conjunto de estilos juveniles espectaculares, aunque sus efectos se dejan sentir en amplias capas de la juventud.

A autora faz uma reconstituição de décadas passadas, para que se possa entender como se dá na atualidade, o lazer para os jovens, a partir da década de 50, abordando as culturas juvenis. Segundo ela, “a partir da década de 50, com a explosão do rock e a descoberta do potencial de consumo dos jovens, as culturas juvenis passam a ser constituídas principalmente nos espaços de lazer e do consumo.” (QUEIROZ, 2004, p.17).

Quem é então este adolescente de hoje, que se delineia ou se define através de suas interações sociais no percurso de sua vida?

É o adolescente concreto que se caracteriza basicamente por sua condição de pertencer à natureza, sua condição de ser social, ou seja, é definido pelo conjunto dessas relações sociais, sua condição de ser histórico, em que o seu grau de desenvolvimento dependerá da estrutura social mais ampla na qual ele se encontra inserido e finalmente, sua condição de pertencer à natureza, mas poder se diferenciar dela através da possibilidade de produzir meios de sobrevivência, que serão as matrizes geradoras de todas as relações humanas estabelecidas e, consequentemente, da produção da cultura e do conhecimento. (CONTINI, 2002, p.14).

As contribuições para a institucionalização da adolescência como um período que passou a “ser quase um modo de vida entre a infância e a idade adulta” tiveram como um dos responsáveis Erikson (apud OZELLA, 2002, p.16), que em 1976, dizia ser a adolescência uma “fase especial no processo de desenvolvimento ao introduzir o conceito de moratória, identificando essa fase com confusões de papéis e dificuldades de estabelecer identidade própria [...]”.

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diz que “[...] por detrás do aspecto da juventude, existe a juventude eterna, notavelmente idêntica a si própria no decurso dos séculos [...]” (OZELLA, 2002, p.16).

Na literatura há vários autores que, apesar de adotarem a idéia de o adolescente pertencer a uma realidade em que ele possa se fazer enquanto sujeito histórico e culturalmente social, ainda o vê subordinado ao seu interior, ou seja, há uma valorização maior do subjetivo, mesmo sabendo que ele é fruto das interações sociais.

Segundo Ozella (2002), Santos fez um levantamento histórico de concepções relacionadas à infância e à adolescência, dentre as quais transitou pela filosofia, ao citar Rousseau, dizendo ser este o “inventor da adolescência”, quando a demarca como “um período típico do desenvolvimento, marcado pela turbulência no qual o jovem não é nem criança nem adulto”, atribuindo-lhe uma visão naturalista e universal, na qual ambas (infância e juventude), são tidas como “um estado e não como uma condição social”. Percebe-se, então, a idéia de que existe um comportamento universal que independe do contexto onde este adolescente; não dando importância a outros aspectos, como o cultural, econômico, espiritual, social etc.

Ozella (2002) ainda refere-se a Bock (1997), quando esta critica tal pensamento, dizendo que “a universalidade traz implícita a idéia de uma evolução natural do ser humano, linear, independente das condições concretas de sua existência”.

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Freud precursor dos estudos sobre a sexualidade na infância e na juventude, numa perspectiva, psicanalítica enfatizou os conflitos, os lutos, as mortes simbólicas que se há de fazer ao tentar ultrapassar a etapa da infância à adolescência.

Com muita propriedade para a época, Freud colocava nos sujeitos responsabilidades individuais ao viverem marcadamente o Complexo de Édipo, Complexo de Castração, as angústias advindas de sentimentos sexuais incestuosos com familiares; demarcou bem os papéis familiares, quando deu ao pai, o papel de interditor da relação erótica entre mãe e filho, um papel que delimitava as leis e as responsabilidades, à mãe, o papel da protetora, a que se permitia fazer a maternagem. Enfim, se antecipou em devolver para a criança e o adolescente o que já lhes pertencia e se encontrava em silêncio: sua sexualidade. E, resolveu falar sobre ela e sobre o prazer, sobre o instinto de vida, instinto de morte, etc., endossando o fato de todos serem desejosos de prazer.

Piaget, Aberastury e Klein são todos contribuidores efetivamente importantes como marcos na história da infância e juventude, porém, pressupondo para esta fase a existência de uma crise, desprezam o contexto social e cultural que a envolve, já que enfatizam as estruturas internas como propulsoras do desenvolvimento.

Ozella (2002, p.17) concorda com Santos, quando este diz que “as crianças (e adolescentes) parecem nascer e viver um vacum sócio-cultural”.

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Alguns autores têm uma concepção de adolescência vinculada à rebeldia, a contestação, dentre eles Ozório (1992, p.19), que diz: “[...] sem rebeldia e sem contestação não há adolescência normal [...]”.

Pode-se pensar hoje em dia em adolescência sem crise, sem contestação, sem rebeldia? O fato é que, na adolescência, o adolescer, que significa renascer, evidencia momentos de repensar, de reconceituar, de rememorar, ou seja, de restabelecer outras prioridades, talvez agora bem mais empatizadas e desejadas do que na etapa anterior – a infância, quando os atores sociais estão mais vulneráveis às imposições sociais.

É oportuno lembrar que há comportamentos tidos como “facilitadores para suas entradas no mundo dos adultos”, os ritos de passagem aos quais estão submetidos tais jovens numa tentativa de imitarem os adultos para por eles serem aceitos. Assim, os comportamentos utilizados pelos jovens, durante a transição de uma fase a outra, com ritos solitários, ou apenas com pares, sem interlocutores, os fazem se impor de maneira a serem mais ouvidos e respeitados e, para tanto, beber nos bares, nas festas, nas baladas, fumarem junto a locais não permitidos, jogarem a dinheiro, engravidarem, mostram um “falso” poder, necessário ao sentido de pertencimento a esta sociedade na qual, os adultos dão exemplo e cobram o comportamento.

A adolescência não é um período natural do desenvolvimento. É um momento significado e interpretado pelo homem [...]. O jovem não é algo por natureza. [...] o subjetivo não é igual ao social. Há um trabalho de construção realizado pelo indivíduo e há um mundo psíquico de origem social, mas que possui uma dinâmica e uma estrutura própria [...] Os elementos desse mundo psíquico vêm do mundo social (atividades do homem e linguagem), mas não são idênticos a ele. (OZELLA, 2002, p. 20-22).

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em que os possibilitava um aperfeiçoamento mais tecnológico em face da carência que o mercado mais sofisticado impunha. Segundo o autor, houve também uma contribuição da ciência para uma vida mais prolongada, com isso, mais trabalhadores e menos mercado de trabalho, num sistema capitalista que despontava para o desemprego e tinham de criar soluções viáveis, sendo uma delas a manutenção das crianças por mais tempo tuteladas por seus pais e pelas escolas. Exemplo claro de retardamento da juventude entre jovens de classes média-alta; não ocorrendo entre os jovens das classes menos favorecidas.

Tais exigências sociais mantiveram as crianças afastadas das famílias e com isso, mais próximas dos colegas de escola, daí a formação de grupos de iguais. Ele aponta outra característica para explicar a adolescência, que é a justificativa pela burguesia de sua própria manutenção, quando os pais afastavam seus filhos do trabalho e, com isso, eles ficavam apartados das decisões responsáveis e que deviam ser compartilhadas, só recebendo o que os pais lhes propiciavam. Esse retardamento juvenil só se dá nas classes média e alta.

Rocha (2002, p. 25), menciona fatores que uma vez mapeados apontam como se dá essa formação adolescente, são eles: a instantaneidade temporal, possibilitada pelo avanço tecnológico que, de forma veloz, acarreta conhecimentos superficiais; uma cultura de

consumo, na qual se adquire o que é descartável, para gerar outras necessidades

descartáveis; um quadro recessivo que favorece a uma exclusão social e que, junto à

pulverização das relações coletivas, aumenta de forma acentuada o individualismo, com

um especial desinteresse nas esferas pública e política.

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expectativas positivas, tradições, trocas de afetos criando um clima de insegurança gestada pela violência e concentração de renda exacerbada que o capital desencadeia. Tudo isso vai moldando o jovem.

Tais dificuldades propiciadas por um sistema que vislumbra o lucro mexem com as relações sociais, iniciando pelas famílias que são acometidas diretamente pelo fluxo de idas e vindas em busca de emprego.

Associada a este movimento, a família, segundo o modelo judaico-cristão, tida como célula fundamental, núcleo estruturante, para um bom funcionamento afetivo, que assegura e possibilita o desenvolvimento, protege, define papéis e limites, está perdida em seus desejos de sobreviver, principalmente as famílias pobres cujas condições sócio-econômicas afetam as produções de projetos de vida desses jovens cujas estratégias muitas vezes fracassam, deixando-os com a auto-estima em baixa.

É aconselhável, aqui, conceituar pobreza, para que se possa entender os jovens dos quais estamos nos referindo neste estudo:

[...] a pobreza é um conceito comparativo, e sua qualidade relativa aos outros gira em torno da desigualdade social. Esta não é uma conseqüência de sua cultura, mas o resultado de políticas públicas que provocam uma real privação material e uma real exclusão dos pobres nos campos ocupacional, educacional e político. (ZALUAR, 1985, p. 41).

A autora aborda a questão da exclusão social, que, conceitualmente, refere-se, segundo Paugam (1999, p. 60), a um “processo de acúmulo de perdas e desvantagens (handicaps)”, fazendo-se necessária uma leitura para maior entendimento de como vivem as famílias dos jovens em questão:

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Sarti explicando o significado de família para os pobres e, as rupturas pelas quais passam durante seu desenvolvimento, inclusive no tocante a criação dos filhos, escreve:

As dificuldades enfrentadas para a realização dos papéis familiares no núcleo conjugal, diante de uniões instáveis e empregos incertos, levam a desencadearem-se arranjos que envolvem a rede de parentesco como um todo para viabilizar a existência da família, tal como a concebem. (SARTI, 1996, p. 44-45)

Prosseguindo, o referido autor afirma:

A família, para os pobres, associa-se àqueles em que se podem confiar. Sua delimitação não se vincula à pertinência a um grupo genealógico e a extensão vertical do parentesco restringe-se àqueles com quem conviveu ou conviveram, raramente passando dos avós. [...] Como não há status ou poder a ser transmitido, o que define a extensão da família entre os pobres é a rede de obrigações que se estabelece: são da família aqueles com quem se pode contar, isto quer dizer, aqueles que retribuem ao que se dá, aqueles, portanto, para com quem se tem obrigações. São essas redes de obrigações que delimitam os vínculos [...] (SARTI, 1996, p. 62-63).

Rocha (KOLLER, 2002, p. 26) aborda a questão família, ressaltando a importância do uso do nós, como referência para a autonomia do jovem:

A diversificação de laços e referências em contínua relação com o mundo familiar trará aos adolescentes a possibilidade de construir sua autonomia. Neste sentido, o processo de singularização do sujeito se inscreve na relativização das referências familiares, o que implica que a instituição familiar não se constitua apenas como nós, mas também na presença do outro, condição indispensável da existência do nós.

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contatos, colegas são vistos como concorrentes e não como companheiros de trabalho, não possibilitando um aprofundamento das relações em todos os sentidos que vão do plano profissional ao afetivo. Desmoronam-se expectativas de futuro e tudo tem de se dar no plano do imediato e da maximização, pois as pessoas têm que ser não apenas bons profissionais e sim os melhores, não sobrando tempo para investirem no subjetivo e no afeto de relações mais humanizadas.

Ariès (1981, p. 270-271) faz a seguinte análise sobre a célula familiar moderna: Essa família do século XVII, entretanto, não era a família moderna: distinguia-se desta pela enorme massa de sociabilidade que condistinguia-servava. Onde ela existia, ou seja, nas grandes casas, ela era um centro de relações sociais, a capital de uma pequena sociedade complexa e hierarquizada, comandada pelo chefe de família.

A família moderna, ao contrário, separa-se do mundo e opõe à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos [..]

A família se hipertrofiou como uma célula monstruosa, quando a sociabilidade da cidade (ou da comunidade rural) se restringiu e perdeu seu poder de animação da vida. Tudo se passa como se a família tivesse, então, tentado preencher o vazio deixado pela decadência da cidade e das formas urbanas de sociabilidade. Daí por diante, essa família invasora, todo-poderosa e onipresente pretendeu responder a todas as necessidades afetivas e sociais. Constatamos que ela fracassou, seja porque a privatização da vida sufocou exigências comunitárias incoercíveis, seja porque foi alienada pelos poderes. O indivíduo pede hoje à família tudo que a sociedade exterior lhe recusa por hostilidade ou indiferença.

Segundo ele, o jovem tornava-se adulto porque buscava conquistas, no movimento de ir-e-vir num mundo social, onde ele tinha um círculo de domínio, ou seja, ele se inscrevia num contexto socializante, encontrando neste espaço, possibilidades de ser agente social, onde segundo ele, era “frouxo e permissivo a novas conquistas”.

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enredando-a em sua teia de afetos, em sua novela familiar, em sua fantasia lúdica, que dá ao papai e à mamãe essa aura de intimidade privada na mais pura concepção do romantismo”.

Estão as famílias num momento de favorecimento desta maternagem, deste cuidar? As famílias parecem perdidas no seu universo privado, marcado pela indefinição de papéis, pelas incertezas da atualidade que se abateram sobre seus membros e interrompe e fragiliza a sua relação afetiva; existe um impedimento nestes espaços familiares, de um favorecimento do aspecto lúdico, ou de uma diversão em conjunto, despertando nesses jovens, a procura de um transitar social, com outros grupos.

Ainda, segundo Teixeira (2002, p. 59):

[...] a família, e particularmente a típica de classe média, não cria o trânsito necessário à construção de um espaço de participação social do jovem mancebo. Não há nela os mecanismos e os laços de endereçamento ao social e à vivência da história que, enfim, o jovem não pode prescindir.

Sarti (1996, p.63), falando sobre as relações sociais nas famílias pobres, mostra a importância de trocas para elas e, entre elas e complementa: “A família como ordem moral, fundada num dar, receber e retribuir contínuos, torna-se uma referência simbólica fundamental, uma linguagem através da qual os pobres traduzem o mundo social, orientando e atribuindo significado a suas relações dentro e fora de casa”.

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É esta a nossa sociedade hoje, uma sociedade que impõe a juventude uma briga desigual por chances e condições mais “espetaculares” de se darem bem na vida, ao mesmo tempo em que nega esta condição à maioria de seus jovens, os deixando sem perspectivas de futuro. É importante lembrar que essa competitividade extrapola o mundo do trabalho e se dissemina para outros planos das relações sociais, inclusive a familiar e a do sistema educacional. Os indivíduos desde a infância estão expostos a esses padrões societários. Faltam projetos de futuro:

Se é durante a adolescência que se intensificam as produções de projetos de vida e que se desenvolvem as estratégias e ações para que sonhos se transformem em realidade, como favorecer a expressão de ideais, de frustrações, considerando os limites e as possibilidades do contexto em que vive o jovem? (ROCHA, 2002, p. 26).

É preciso entender o que se passa nas vidas destes jovens, como se dão suas relações familiares, grupais, sociais, pois se sabe que as questões que se apresentam na atualidade se interpõem valores, relações de gêneros, conflitos geracionais e, muitos outros fatores. A família pobre, importante peça desse contexto, tem de ser estudada, entendida e evidenciada. E a tendência da sociedade, é estabelecer normas que implicam um total desprezo do imaginário destes jovens e de seus familiares, que não só desejam melhorias, como também, querem concretizar estes desejos conjuntamente, se possível.

A expressiva desigualdade social produz marcas profundas na auto-imagem de grande parte da população que se apresenta nos serviços públicos, isto porque a inferioridade naturalizada, a imagem de núcleo doméstico incompetente, incompleto, faz com que acreditem menos nas possibilidades de contribuir para criar saídas, ficando mais fragilizadas frente aos discursos instituídos sobre elas. (ROCHA, 2002, p.27).

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Em assim sendo, tem-se de entender os motivos pelos quais estão os jovens se comportando, de maneira a não acatar o que lhes é imposto e funcionarem melhor na discordância, na não pactuação. O sistema como um todo, favorece a que os jovens tentem se inserir no social pelas vias da desobediência e Teixeira (2002, p.58) questiona: “[...] não é esse um fracasso que tem contribuído para que os jovens tentem se inscrever no social, pelas vias da divergência, do conflito, do confronto, da adrenalina, numa tentativa de que a sociedade os reconheça como atores sociais, partícipes da vida comunitária?”.

A autora põe em evidência o fracasso social, as imposições colocadas aos jovens, que tentam se impor, discordando, buscando na adrenalina, nas drogas, no fone de ouvido, no não pactuar com essa sociedade que condiciona e controla e que cria um “script sócio-cultural”, com:

[...] um exercício de poder desmedido, que além de demonstrar sua eficiência na suspensão da vida social efetiva, denota uma sociedade que lida mal com sua juventude, endereçando-a a um sem sentido, à falta de historicidade, num ambiente opressivo, quase manicomial, sobrepondo fatores econômicos de acumulação familiar e de classe a aspectos vitais da existência. Isso, por óbvio, numa dimensão jamais vista, a ponto de expor a juventude a estratégias de tortura pela própria desqualificação de sua condição mesma de ser renovadora, progenitora, autora, partícipe cidadã (TEIXEIRA, 2002, p. 60-61).

A sociedade lida mal com sua juventude. Pode-se perguntar, então, será que os jovens da pesquisa se colocam como transgressores ao usarem drogas e, ao se comportarem de formas tidas como censuráveis pela sociedade?

Matza (apud SILVA, 2002), refere que “a juventude é a fase da vida mais “dada” às revoltas e engajamentos [...]”.

Queiroz, (2004, p. 19-20), cita Matza (1968), quando este faz alusão às “principais formas de tradições rebeldes juvenis, a delinqüência, a boemia e o radicalismo”. Ela explica:

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próprio da delinqüência, é o comportamento violento, associado à masculinidade e ao ethos guerreiro. A delinqüência é definida pelo código legal e envolve dois aspectos: furtos, assaltos e vandalismo, e a adoção de práticas consideradas inadequadas como o fumo, a vagabundagem, jogo, bebida, liberdade sexual.

Sabe-se que comportamentos dessa natureza são executados tanto por jovens de classes economicamente mais abastadas, quanto por jovens pobres. Em ambos os casos, a busca pela aventura de viver o risco está presente, acrescida de questões outras pertinentes às realidades de cada um.

No contexto atual, para os jovens de maior poder aquisitivo, as festas, as baladas, os assustados, os jogos, as brincadeiras, os filmes, as aventuras, as escolas, os esportes, os shoppings, as paqueras, os namoros, os “ficar”, as viagens, as drogas, os riscos a que se expõem, tudo vivido com intensidade, compõem esse mundo lúdico juvenil fantástico de sociabilidade. Para os jovens de menor poder aquisitivo, nem todos esses equipamentos sociais, estão disponíveis, porém os desejos se dão também em torno deles.

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referencial para a entrada numa fase de vida mais responsável, só que uns entram mais cedo, uma vez que as reais necessidades os fazem queimar etapas de vida.

“Trabalho consiste em qualquer ação laboral lícita, formal ou informal, cujo objetivo final seja a obtenção de dinheiro, alimento, vestuário, bens, serviço ou privilégio” (SILVA; KOLLER, 2002, p.114-115). Os autores continuam enunciando “[...] o trabalho é gerador de identidade para o sujeito (Jackes, 1993) e renda para a sua sobrevivência e a de sua família, diferenciando os adolescentes dos “vagabundos” e dos “marginais” (BONAMINGO, 1996)”.

Para Marx, o trabalho, questão fundante no desenvolvimento do homem, enquanto ser social “é uma atividade e não uma mercadoria” [...] “é a expressão própria do homem, uma expressão de suas faculdades físicas e mentais”. [...] “não é só um meio para um fim – o produto – mas um fim em si mesmo, a expressão significativa da energia humana; por isso, pode-se gostar do trabalho” (FROMM, 1964, p.47-48).

Portanto, o trabalho é necessário para todos como uma importante forma de expressão, de contribuição, de participação social, contudo, não garante aos jovens pobres, o exercício pleno de sua cidadania e inclusão social, ou seja, não determina a socialização.

Entender a importância do lazer na vida dos jovens pobres que usam drogas, como conciliam trabalho, estudo e lazer, de que forma se socializam, como se estabelecem socialmente, o contexto em que estão inseridos e as peculiaridades individuais que propiciam a exposição ao risco, requer um maior aprofundamento se fazendo necessário estudar outros autores.

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necessidade de estar em grupo), pois faz dos colegas, as chamadas “famílias substitutas”, principalmente quando num grupo de idades próximas, quando pactua ideais, quer viver sensações intensas, precisa sentir-se poderoso e tais comportamentos o põe em evidência perante os demais. A discussão sobre as diferentes maneiras de socialização evidenciam, a necessidade de um maior entendimento das diversas culturas, etnias, religiosidades, contextos familiares, econômicos, ou seja, de uma visão que enfoque o indivíduo de forma integral em relação à sociedade.

Evidencia-se que um ambiente familiar conflitante, sem regras e limites democraticamente estabelecidos, sem definições de papéis, sem interesse pela vida familiar, sem condições afetivas, provedoras de segurança emocional e sem condições sócio-econômicas que assegurem uma boa qualidade de vida, se constitui como um grande fator de risco. Neste caso, o espaço de lazer pode servir como local de busca de superação dessas dificuldades, inclusive pelas práticas de transgressão. Na verdade, o contexto de socialização pela diversão, tanto pode ser favorável como desfavorável à exposição ao risco e ao uso excessivo de drogas pelos jovens.

1.2 Juventude e Drogas

“A vida imita o vídeo, Garotos inventam um novo inglês,

Vivendo num país sedento, Um momento de embriagues, Somos quem podemos ser, Sonhos que podemos ter”.

(Somos Quem Podemos Ser, Engenheiros do Hawaí)

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repercussão social e econômica para a sociedade contemporânea, entendo-se essa “contemporaneidade”, como um tempo social, marcado pelo movimento de ordem e desordem, que segundo Balandier (1997), são característicos da Modernidade cujos aspectos são as incertezas, as instabilidades a lógica da fragmentação e da descontinuidade e, a velocidade das mudanças.

Sobre o momento atual, Vieira (2002, p.34) assim se refere:

A sociedade Contemporânea tem de fato características que a especifica. O inédito, o destaque, o efêmero, a ruptura são traços do seu movimento que dão ritmo à produção humana e também definem as relações dos homens entre si e o mundo.

E, dentre essas relações do homem com o mundo e vice-versa encontram-se as relações estabelecidas entre o homem e as drogas, tendo como conseqüências desastrosas questões associadas à saúde pública e de ordem jurídica transnacional.

A origem das drogas e seus desdobramentos são bastante complexos. Embora incluam determinantes psicológicos e biológicos dos indivíduos, a apresentação do fenômeno abrange, seguramente, motivações e repercussões de ordem política, econômica, social e cultural.

Na contemporaneidade, os referenciais de sucesso e de vitória são inatingíveis, exaurem as forças dos indivíduos. Esta é a marca principal que diferencia os tempos atuais de épocas anteriores. [...] A sociedade Contemporânea esvazia o sujeito, retira dele a capacidade de conduzir sua história. O sentimento de impotência o invade. (VIEIRA, 2002, p. 36-37).

Seguramente, esses componentes citados acima, possibilitam sensações de vazio, uma vez não atingidos e, por não se sentirem condutores de suas histórias, os sujeitos, vão se inscrevendo como impotentes e fracassados, procurando encontrar outras formas de minimização desse “mal-estar” individual e social.

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metamorfoses sociais com diversas implicações negativas na qualidade de vida da nossa população acarretam uma “desfiguração comportamental” do ser humano, principalmente do jovem e adolescente, que busca sua identidade o seu espaço dentro do contexto pessoal, familiar e social. Na realidade, utilizadas por muitos, para curar males tanto físicos quanto psíquicos e espirituais, vem alimentando ideais nem sempre compatíveis com o desejo de que ao usá-las, haveria diminuição ou alívio dos padecimentos.

Pode-se pressupor que esta tendência atinge uma grande parte da população de jovens de diversos estados brasileiros que estão vivenciando este processo, pelas mais variadas causas, seja pela curiosidade, seja pelo desejo de fugir a dura realidade que lhes é imposta, em função da perda de direitos básicos de sobrevivência na qual há a exclusão de uma participação social plena enquanto cidadãos em desenvolvimento, seja pela diminuição do poder econômico de suas famílias que, cada vez mais, situam-se num mercado marginal, ou seja, nosso jovem vive, as conseqüências desse processo de carências diversas: habitação, alimentação, educação, cultura, lazer etc.

Estamos enfrentando as doenças da modernidade, como a depressão, o pânico, a toxicomania e outras compulsões, que são patologias psicossomáticas da atualidade, de origem social que afetam a saúde física e mental. A saúde da humanidade está fragilizada (BIRMAN, 1999).

Há, portanto, a necessidade de um maior comprometimento de toda a sociedade com tal questão, pois os prejuízos, além de individuais e familiares, implicam altos custos sociais e econômicos (MARTINS, 2002, p.19-20).

Segundo Martins (2002, p.13), na Grécia antiga, denominava-se a droga de

pharmakon, que tinha um duplo significado, sendo remédio e veneno, mostrava “a

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Freud (1930) já as colocava num contexto de minimização de sofrimentos para aqueles que se decepcionavam e não conseguiam desempenhar a contento, tarefas tidas como impossíveis, e assim acreditava:

Há vários métodos para evitar o sofrimento, contudo os métodos mais interessantes são os que procuram influenciar nosso próprio organismo. O mais eficaz é a intoxicação. O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tantos indivíduos quanto povos lhe concederam um lugar permanente na economia da libido. Com o auxílio desses amortecedores de preocupações, é possível, em qualquer ocasião, afastar-se da pressão da realidade e encontrar refúgio num mundo próprio (FREUD, 1996, p. 85-86). Mas, nas diversas sociedades, as drogas aparecem como elemento importante no contexto de socialização e de lazer.

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), define droga como qualquer substância de origem natural ou sintética que, administrada por qualquer via orgânica, afeta sua estrutura ou função. Há outros conceitos sobre droga:

Toda substância natural ou sintética que usada de maneira indefinida, modifica o comportamento emocional das pessoas, que procuram em sua ação euforizante a minimização dos sofrimentos, paralelamente à busca do fantástico e controvertido mundo das viagens enganosas com suas falsas emoções e prazeres (FILHO, 2001, p. 163).

As drogas se classificam sobre vários aspectos, dentre os quais estão os aspectos relacionados com a origem (naturais: de origem vegetal; semi-sintéticas: de origem vegetal que passam por processos químicos em laboratórios; e sintéticas: produzidas em laboratórios), mecanismos de ação (depressoras, estimulantes e perturbadoras) e legalidade (lícitas e ilícitas).

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morfina, heroína, codeína etc; os inalantes ou solventes: colas, tintas, removedores, clorofórmio, éter, querosene, gasolina; a codeína: xaropes e outros.

As drogas estimulantes atuam no SNC, aumentando a atividade cerebral: os

anorexígenos: anfetaminas ou bolinhas ou rebites; a cocaína: o craque, a pasta de merla; a cafeína; a nicotina: tabaco e outras.

As drogas perturbadoras atuam no SNC, desorganizando os neurônios, alterando a

percepção, provocando delírios e alucinações, por exemplo, o THC da maconha; a mescalina do cacto mexicano; a psilocibina de certos cogumelos; o lírio: trombeteira, zabumba ou saia branca; o LSD-25; os anticolinérgicos: Artane, Bentil e o Êxtase.

Contudo, são as características da prevalência do uso que de acordo com Martins (2002, p. 18) “[...] reflete as normas culturais e valores da sociedade [...]”. E continua: “Uma perspectiva histórica dos padrões de consumo das substâncias psicoativas mostra importantes variações ao longo do tempo, que retratam, em linhas gerais, as diversas mudanças culturais nas sociedades, os movimentos migratórios e o contemporâneo fenômeno da globalização”.

“Por que as pessoas se drogam, se seus males são tão conhecidos e bem estabelecidos?” pergunta Sucar (2002, p.29) e responde, enfatizando o aspecto fisiológico do produto:

A resposta mais plausível, pressupõe que as substâncias, desde a cafeína até os alucinógenos, independente de suas diferenças químicas de atuação, produzem um efeito comum a todas elas de elevar num dado momento as concentrações de neurotransmissores cerebrais (serotonina, noradrenalina e dopamina) que provocam o aumento da liberação das endorfinas cerebrais, responsáveis pela sensação e, neste caso, ampliação da sensação de prazer, sendo os demais fatores coadjuvantes reforçadores e condicionadores para ao ato repetitivo de busca e utilização das substâncias de forma abusiva.

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Segundo Le Breton (2000), os jovens procuram o sentido de existir ao se lançarem aos riscos e menciona a “estrutura ordálica da toxicomania”, como um juízo que os faz merecedores ou não de viver, quando lançam suas vidas as sortes ou azares de viver ou morrer. Suas vidas “sem sentido e sem direção” estão lançadas a sorte e “a droga funciona como “simulacro simbólico” da morte do sujeito”. Porém, “ela sempre restaura o mínimo de sentido que torna possível a continuidade da vida”, mesmo “que em torno do produto”.

Vieira (2002, p.25-26) aborda em sua tese a interpretação de Weber sobre o desencantamento do mundo, que “[...] dominado pela racionalidade técnica e pelo império da ciência”, [...] baniu o sagrado, destruiu as utopias do Iluminismo e, conforme Freud (1997), lançou os indivíduos à condição de desamparo social.

Prosseguindo, Vieira (2002) aborda a utilização das drogas, por sujeitos que tentam “desafiar um mundo espetacular”, vislumbrando encantos e desencantos, propiciados pelo seu uso e mostra, a partir de Balandier e Birman, que a atualidade “cobre o mundo de desesperanças, intensificando as impossibilidades de satisfação psíquicas do sujeito e o abandono, e diz que “assim, o amparo propiciado pela droga, embora inconsistentemente sustentado na euforia e na onipotência narcísica, restitui, ao menos provisoriamente, o entusiasmo e o encanto pela vida e cria o fascínio pela substância”.

Parte-se, então, do pressuposto que, aqueles que a utilizam, assim o fazem como um mecanismo de buscarem minimizar seus processos de angústia, pois ao vivenciarem dificuldades e impedimentos surgidos ao tentarem alcançar limites inatingíveis, necessitam de algo que dilua um pouco tais sensações desagradáveis e, procurando parcerias com a droga, torna-se possível um enfrentamento com mais segurança acerca de tais desafios.

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apresentação dos dois lados em que a droga pode ter sua significação, apontando o lado do prazer, na busca de quem procura euforia, o risco ou o auxílio para seu enfrentamento, e do aplacamento do desprazer provocado pelas angústias do cotidiano e assim menciona:

De um lado, ela fomenta euforia, ânimo e coragem que lhe permitem permanecer na luta para alcançar a vitória; de outro, atua como anestésico, aplacando a angústia e o sofrimento psíquico causados pelos sentimentos de incompetência e de fracasso cotidiano, pelo desalento da incapacidade de vencer.(VIEIRA, 2002, p. 9-10).

Ela aponta a inclusão da dimensão social em 1926, no conceito de adição (aquele que adere à droga), pela OMS, quando alegou que a droga “leva o adito a refugiar-se da realidade”, isto por imperativos sociais. Enfoca o Princípio do Prazer, destacado por Freud, mencionando como naturais do ser humano, a busca pelo prazer e pela felicidade, como definidores do propósito de vida, havendo também uma conversão do prazer pela fuga ao desprazer, ocasionado pelo uso intensivo da droga, ou pela sua ausência após longo tempo de uso. Continua dizendo que Freud classificou como “grosseiro” e mais “eficaz”, um dos métodos de se obter felicidade, que é o químico, dizendo ser àquele que mais se distancia das “satisfações substitutivas”. “A droga, que sempre esteve presente nas histórias das civilizações, no atual contexto de crises, riscos e incertezas, amplia seu leque de funções, apresentando-se como elemento mediador e atenuante daquelas relações” (VIEIRA, 2002, p.19-23).

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A toxicomania, segundo Birman (1999), é tida como uma das “psicopatologias da atualidade”, estando próxima da depressão e síndrome do pânico, as quais ele atribui, suas existências em decorrência da fragilidade de alguns sujeitos por estarem expostos a esse frenetismo social de mudanças, daí a toxicomania “sintomatiza o sofrimento psíquico do sujeito e seus apelos dramáticos para preencher o vazio existencial e restituir a plenitude narcísica que possibilita sua sobrevivência psíquica na sociedade do espetáculo” (VIEIRA, 2002, p.25).

Dentre os fatores citados acima, na busca do jovem por desafios e riscos, impulsionados a experimentar novas sensações e prazeres, seguramente, pode-se incluir outros, tais como a curiosidade natural dos adolescentes, influência do hábito de consumo por amigos e pelo contexto familiar, e facilidade de obtenção de substâncias e modismos.

Na atualidade, como já foi mencionado, adolescentes vivem relações de curto prazo cujas realizações são também de curto prazo, vive o “aqui e agora”, e buscam satisfações imediatas, em que a sedução da droga apela para realizações instantâneas e sem requerer muitos esforços e, num “contexto de vida atual muitas vezes é mais fácil fumar um cigarro de maconha do que desgastar a imaginação e driblar as dificuldades de tempo, violência e problemas econômicos para sentir prazer” (SCIVOLETTO; FERREIRA, 2002, p.123)

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Os jovens, nos dias atuais, estão tentando definir um estilo próprio, em relação ao que vestem, a música, a dança, ao lazer em geral, às crenças, aos desejos, quase formando uma cultura própria, sem ter muita certeza do amanhã, jogam toda a sua energia no hoje e lançam-se cada vez mais aos riscos, buscando sempre “uma solução mágica” na resolução dos problemas. Tais soluções aparecem de várias maneiras: uma delas é na oferta de medicamentos como uma solução química, para relaxar, excitar, ter melhor desempenho sexual, enfim, criando uma relação entre o sujeito e a droga, como se ela fizesse parte necessariamente deste contexto, e as soluções magicamente aparecem, “[...] não requer grandes esforços e de ação rápida, vai ao encontro do imediatismo característico da juventude” (SCIVOLETTO; FERREIRA, 2002, p.125). Fazem ainda a seguinte afirmação: “o adolescente que não consegue se destacar em esportes, estudos, relacionamentos sociais, entre outros, pode buscar nas drogas a sua identificação: será aquele que mais consome cocaína no grupo, ou aquele que mais entende de drogas”.

Para a insegurança, a tristeza, o desânimo, a ansiedade, a angústia, a droga aparece como “remédio” para estes males, segundo as autoras.

A inserção de jovens no mundo das drogas, uma vez iniciada, torna-se cada vez mais incutida e cultuada, nos espaços onde a sociabilidade é evidente. Utilizando-se de códigos muitas vezes indecifráveis (causando sentimentos de segurança), o desejo de serem socialmente aceitos, impõe formas arriscadas (não seguras) de convivência, arremetendo-os a espaçarremetendo-os que, lúdicarremetendo-os ou não, despertam o desejo do uso como se farremetendo-osse o mesmo, um ingresso ou ticket para a entrada junto a novos grupos de amigos.

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não teme desafios e enfrenta o novo, ou seja, o reconhecimento pelo grupo de sua importância enquanto um ser social que acompanha o movimento que a contemporaneidade exige.

Em diversas sociedades, as drogas aparecem como elemento importante no contexto de socialização e de lazer.

Os espaços de sociabilidade freqüentados por jovens, favorecem diferentes maneiras de diversão cujas situações de risco, inclusive o uso de drogas, são inerentes.

A socialização de muitos de nossos jovens nos espaços de lazer reafirma um comportamento de uso de drogas aceitas socialmente, incutido há muito tempo, tanto nas classes sócio-econômicas mais favorecidas quanto naquelas de menor poder aquisitivo. Ao se reunirem em momentos de diversão, o objetivo passa a ser não apenas usar o que é permitido, como também utilizar algo e adotar comportamentos que venham transgredir normas impostas socialmente, a exemplo do uso de drogas ilícitas e de outras práticas de risco.

Através do uso do álcool e outras drogas, os jovens conjugam maneiras e vivências sociais que lhes possibilitam a construção de trajetórias de vida, mesmo que, pelo veio da transgressão.

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contemporaneidade dos contextos de sociabilidade sobre o desempenho dos jovens. São estas relações que esta pesquisa se propôs investigar.

Portanto, o uso de drogas em uma sociedade, é um fenômeno dinâmico, multifacetado e de difícil apreensão. Estão em jogo os fatores que fazem despertar nos jovens o desejo pelo uso, entendendo o momento de vulnerabilidade a que estão expostos, afetados pelas mudanças corporais e psicológicas, como também por determinantes familiares e sociais.

1.3 - O Lazer Como Espaço de Sociabilidade

“Atrás do trio elétrico, Só não vai quem já morreu

Quem já botou pra rachar Aprendeu, que é do outro lado Do lado, de lá, do lado Que é lado, lado de lá... (Atrás do Trio Elétrico, Caetano Veloso)

Entenda-se por lazer:

Um conjunto de atividades prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstico e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (CAMARGO, 2003, p. 97).

Ao se estudar o lazer, entendendo-o como espaço de sociabilidade, percebe-se a importância desta prática como forma de humanização, e, mais ainda “O lazer abre um campo educativo não para aprender coisas, mas para se exercitar equilibradamente as possibilidades da participação social lúdica.” (Ibid, id, p.71-75).

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atividade, em: físicas, manuais, intelectuais, artísticas e sociais e, Camargo acrescenta o lazer turístico e associativo, como descreve abaixo:

As atividades físicas de lazer: caminhadas, ginástica, esporte e atividades correlatas,

executadas de maneira formal ou informal. Interesse central: forma física, estética, contemplação da natureza, socialização e busca da solidão. (CAMARGO, 2003, p.20-21); Atividades manuais de lazer: lavar automóvel, cultivar hortaliças e animais de corte em quintais urbanos, tricô, fabricação de máquinas e utensílios domésticos”. Interesses: [...] prazer de manipular, explorar e transformar a natureza.”. (Ibid, id, p.20-22).

Atividades intelectuais de lazer: conversação aparentemente banal com os amigos, meios de difusão eletrônica, consulta especializada. Interesses: o exercício do conhecimento e satisfação da curiosidade intelectual, em todos os campos. (Ibid, id, p.25);

Atividades artísticas de lazer: “[...] a decoração da casa, por simples que seja, as

roupas, a maquiagem e, principalmente as festas. Todo tipo de festas”. Interesses: a prática e a assistência de todas as formas de cultura erudita conceituadas como arte, tais como cinema, teatro, literatura, artes plásticas, etc. (Ibid, id, p.23).

Atividades turísticas de lazer: freqüentar locais com paisagens de céu, sol e água; praias seguidas de montanhas, campo e lugares históricos. Interesses: viver ritmos opostos à rigidez do tempo de trabalho urbano com estilos de vida mais requintado, mesmo sem ser necessário ser mais caro, com o consumo de lembranças, roupas, comidas e bebidas. (Ibid, id, p.25-28).

Atividades associativas de lazer: lazer doméstico: passeios e jogos com a família,

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Oliveira (apud ERICH FROMM, 2001, p.22), argumenta que “na arte de viver, o homem é simultaneamente o artista e o objeto de sua arte” e também Lapassade: “Nenhum de nós se humaniza sozinho; necessita da presença dos outros, que com suas peculiaridades, oferecem testemunho vivo de nosso inacabamento”, chamam atenção para o homem como aquele que é criador e criativo e, para um viver social, como formas de nos tornarmos cada vez mais humanos. Oliveira, abaixo, mostra a importância do lúdico em nossas vidas como forma de fertilizar as amizades, de nos tornarmos mais criativos, criticando a sociedade atual que não possibilita esse espaço.

A sociedade em que vivemos não fertiliza a amizade em nós e algo semelhante poderia ser dito a respeito de nossa inventiva. Em nossa infância, todavia, parecíamos mais imunes a isso, alimentando amizades e cultivando fluência na fantasia, a criar brinquedos e a reinventar brincadeiras (OLIVEIRA, 2001, p.23).

Oliveira (2001, p.18-20) refere que “ninguém basta a realização das chamadas necessidades básicas”, e retoma ao tempo do século XVIII quando na Grã-Bretanha, trabalhadores reuniam-se após o horário de trabalho, nas tavernas, locais propícios par beber e se divertir, tidos por alguns, como “a igreja do trabalhador”, indo “comprar cerveja e ter fins de tardes alegres”, como também discutir interesses comuns, para o bem comum. Aí as associações foram emergindo com um sentido lúdico.

Simone Weil, já atentava para o fato de que “um regime de trabalho deve convir à produção, mas não a ela somente. Precisa também convir aos homens, às necessidades humanas dos que produzem” (p.19), estando claro as necessidades de afeto, carinho, amor, prazer em se relacionar com objetos de desejo, satisfazendo-se das realizações advindas destes momentos lúdicos.

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Quem diz lazer, diz, essencialmente, escolha, liberdade. O lazer corresponde às disposições, aos gostos individuais, a um complexo de tendências abrigadas no próprio coração da personalidade. Respeitar a pessoa humana, é respeitar também seu lazer e mesmo, segundo o título de um panfleto célebre, seu “direito à preguiça” (FRIEDMANN, 2001, p.129).

Segundo Grazia, (apud OLIVEIRA 2001, p.28), “uma condição essencial para o lazer é ter um sentido de tempo diferente do moderno”.

Oliveira (2001, p.113) argumenta que “uma das formas mais comuns para se enxergar utilidade no uso do tempo é a possibilidade de convertê-lo em grandezas mensuráveis dentro da racionalidade econômica, que hoje predomina em nós”, acrescentando que [...] “Não é raro descobrir alguém dizendo não ter feito nada. “Nada” este que se traduz na impossibilidade de conversão financeira de gestos e atitudes” e, ainda: [...] “O trabalho é sim importante, mas também o são a necessidade de justiça, o desejo de amar e ser amado, o direito a condições dignas de existência, a necessidade de descontração, a entrega a momentos risonhos...”.

Pode-se, então, falar de lazer nas populações de jovens pobres, sem recursos

sequer de subsistência? Pergunta Camargo que responde com outro questionamento: “Não será mais fácil compreender que há necessidades básicas materiais e não materiais e que o sonho, a alegria fazem parte dessas necessidades?” (CAMARGO, 2003, p. 98).

Russell (2001, p.40-41), mostra o direito de toda a comunidade a participar do lazer, com a seguinte citação: “A técnica moderna tornou esse lazer possível, a fim de diminuir consideravelmente a quantidade de trabalho exigida para assegurar a subsistência de todos”, expondo, dentre outros conceitos históricos, o que acontecia em Atenas:

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