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Inf 278 Gabriel Oliveira

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Academic year: 2018

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(1)

ACADEMIA MILITAR

DIRECÇÃO DE ENSINO

Mestrado em Ciência Militares Especialidade de Segurança (GNR)

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO APLICADA

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO

OPERACIONAL

AUTOR: Aspirante de Infantaria Gabriel Emanuel Roque de Oliveira ORIENTADOR: Capitão de Infantaria Hugo Dias da Silva

(2)

ACADEMIA MILITAR

DIRECÇÃO DE ENSINO

Mestrado em Ciência Militares – Especialidade de Segurança (GNR)

TRABALHO DE INVESTIGAÇÂO APLICADA

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO

OPERACIONAL

AUTOR: Aspirante de Infantaria Gabriel Emanuel Roque de Oliveira ORIENTADOR: Capitão de Infantaria Hugo Dias da Silva

(3)

DEDICATÓRIA

(4)

i

AGRADECIMENTOS

A realização do Trabalho de Investigação Aplicada no âmbito do final do mestrado em Ciências Militares na Especialidade de Segurança, não é possível sem contar com o contributo e apoio de determinadas entidades e pessoas. Como tal, desejo manifestar os meus agradecimentos a todos os que colaboraram neste trabalho ou que pelo seu apoio e incentivo o tornaram possível.

Assim, cumpre-me agradecer em primeiro lugar, ao Capitão Hugo Dias da Silva, responsável pela orientação deste trabalho, pelos ensinamentos, orientação crítica e pela dedicação e disponibilidade incondicional que me dispensou.

À Professora Doutora Manuela Sarmento pelas oportunas sugestões metodológicas que contribuíram decisivamente para a execução deste trabalho.

Ao Tenente-Coronel Rosinha pelos esclarecimentos facultados e tempo dispendido. Ao Major Bolas, Capitão Videira, Tenente Nogueira e em especial ao Capitão Barradas pela disponibilidade, que possibilitou a realização das entrevistas, elemento fundamental deste trabalho.

Ao Capitão Simões e aos militares da Unidade de Intervenção pela disponibilidade, participação activa e rapidez no preenchimento dos questionários.

Ao Dr. Jorge Fragoso Dias e à Dr.ª Eva Nogueira pela ajuda e colaboração dada ao longo da elaboração do trabalho.

Ao meu curso, 15º TPO/GNR pelo espírito de entreajuda, camaradagem e boa disposição que me ajudaram a ultrapassar mais uma fase da minha formação.

(5)

ii

RESUMO

A existência de conflitos entre indivíduos é uma constante verificada ao longo da História Humana. Os Estados Modernos perante a possibilidade da violência existente fazer perigar interesses colectivos, fez com que surgisse organismo estatal dotado de poderes coercivos, a POLÍCIA.

Portugal, como Estado de Direito Democrático, e inerentemente defensor dos direitos liberdades e garantias pessoais, atribuiu constitucionalmente à Polícia a função de defender a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos.

Contudo, actualmente esta função é enquadrada e influenciada por diversos diplomas legais nacionais e internacionais que limitam a actividade policial. A Sociedade também se revela no presente como um factor cada vez mais crítico e não pactuante com excessos de força. Desta forma, cria-se uma conjectura de difícil resolução, uma vez que coloca em confronto a eficácia policial perante a necessidade de garantir os direitos pessoais legalmente constituídos.

Desta forma, a Guarda Nacional Republicana perante a urgência de criar um equilíbrio entre a eficácia policial e o respeito pelos direitos fundamentais, aplicou armas de baixo índice letal ao seu dispositivo. Este estudo incide sobre o armamento de baixo índice letal e a sua aplicação operacional, definindo como objectivo principal verificar se a sua aplicação se traduz como uma mais-valia para o serviço policial.

Este trabalho é composto por duas partes estruturantes essenciais, em que a primeira se prende com uma abordagem teórica e conceptual com vista a um enquadramento, que servirá de base à segunda parte, onde será explanado todo o trabalho de campo, bem como os resultados obtidos e as respectivas conclusões e recomendações.

Metodologicamente a parte teórica baseou-se numa análise documental, na parte prática recorreu-se à realização de entrevistas e inquéritos a amostras diferentes, com o intuito de obter uma percepção mais alargada sobre as Armas de Baixo Índice Letal na Guarda Nacional Republicana.

Chegou-se à conclusão que este tipo de armamento se constitui como uma mais-valia para o serviço policial ao potenciar o respeito pelos direitos, liberdades e garantias ao mesmo tempo que facilita a intervenção policial. Propõe-se que no futuro seja elaborado diploma regulador do recurso às Armas de Baixo Índice Letal e que se alargue a possibilidade de utilização de algum deste armamento a todo dispositivo territorial.

(6)

iii

ABSTRACT

The existence of conflicts between individuals is a constant throughout Human History. The Modern States, faced with the possibility that the existing violence might become a threat to the collective interests, have created a governmental agency endowed with coercive powers, the Police.

Portugal, as a democratic state and a guardian of individual rights, liberties and guarantees, has constitutionally assigned to the police the function of ensuring democratic legality, internal security and the rights of citizens.

However, at present, this function is framed and influenced by several national and international legal instruments that bound the police activity. The society has also become more and more critical and non covenant with excessive strength. All this creates a status difficult to resolve, since it brings police effectiveness against the need to ensure the legally constituted personal rights.

Thus, the Guarda Nacional Republicana before the urgency of creating a balance between the police effectiveness and the respect for fundamental rights, introduced less-lethal weapons. This research focuses on less-less-lethal armament and its operational implementation. Our main goal is to verify if its use is really worth for the police service.

This work is divided into two essential structuring parts: the first is concerned with a theoretical and conceptual approach in order to provide the basis for the second part where all the field work will be explained as well as the results obtained, the conclusions and recommendations.

Methodologically, the theoretical part was based on the analysis of documents, while on the practical part we have implemented interviews and surveys in order to get a broader insight about the use of low-lethal weapons by Guarda Nacional Republicana.

We have reached the conclusion that weapons of this kind are constituted as an asset for the police service to enhance respect for the rights, freedoms and guarantees at the same time it enables the police intervention. It is proposed that in the future be prepared a decree regulating the terms of use of less-lethal weapons and to extend the possibility of using some of this devices at all territorial units.

(7)

iv

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ... i

RESUMO ... ii

ABSTRACT ... iii

ÍNDICE GERAL ... iv

ÍNDICE DE FIGURAS ... viii

ÍNDICE DE GRÁFICOS ... ix

ÍNDICE DE QUADROS ... x

ÍNDICE DE TABELAS ... xi

LISTA DE SIGLAS ... xii

LISTA DE ABREVIATURAS ... xiii

LISTA DE SÍMBOLOS ... xiv

CAPITULO 1 – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ... 1

1.1 – INTRODUÇÃO ... 1

1.2 – ENQUADRAMENTO ... 1

1.3 – JUSTIFICAÇÃO DO TEMA ... 2

1.4 – PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO ... 2

1.5 – QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO ... 2

1.6 – OBJECTIVOS ... 2

1.7 – HIPÓTESES ... 3

1.8 – METODOLOGIA E MODELO DE INVESTIGAÇÃO ... 3

1.9 – SÍNTESE DOS CAPÍTULOS ... 4

PARTE TEÓRICA ... 5

CAPÍTULO 2 – A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA E AS FUNÇÕES DE POLÍCIA ... 5

2.1 - INTRODUÇÃO ... 5

2.2 – POLÍCIA: FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS ... 5

(8)

v

2.4 – PRINCÍPIOS LIMITADORES DA ACTIVIDADE POLICIAL ... 8

2.4.1 – OPRINCÍPIO DA LEGALIDADE ... 8

2.4.2 – OPRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE LATO SENSU ... 9

2.4.3 – OPRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO ... 10

2.4.4 – OPRINCÍPIO DA NECESSIDADE ... 10

2.4.4 – OPRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE STRICTO SENSU ... 10

2.5 – SÍNTESE ... 11

CAPÍTULO 3 RECURSO A MEIOS COERCIVOS ... 12

3.1 – INTRODUÇÃO ... 12

3.2 – MEDIDAS DE POLÍCIA E USO DE MEIOS COERCIVOS ... 12

3.3 – RECURSO A ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL ... 14

3.3.1 – NECESSIDADE ALTERNATIVA À ARMA DE FOGO ... 15

3.3.2 – ENQUADRAMENTO LEGAL:INTERNACIONAL E NACIONAL ... 16

3.3.3 – LEGISLAÇÃO INTERNA (GNR) ... 18

3.4 – SÍNTESE ... 19

CAPÍTULO 4 ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL ... 21

4.1 – INTRODUÇÃO ... 21

4.2 – DEFINIÇÃO ... 21

4.3 – ARMAS DE BAIXO ÍNDICE LETAL EM UTILIZAÇÂO ... 22

4.4.1 – BASTÃO EXTENSÍVEL ... 23

4.4.2 – GASES NEUTRALIZANTES ... 24

4.3.3 –TASER ... 25

4.4 – SÍNTESE ... 27

PARTE PRÁTICA ... 29

CAPÍTULO 5 – TRABALHO DE CAMPO ... 29

5.1 – INTRODUÇÃO ... 29

(9)

vi

5.3 – PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS ... 30

5.4 – ENTREVISTAS EXPLORATÓRIAS ... 30

5.5 – INQUÉRITOS ... 31

5.6 – MEIOS UTILIZADOS ... 32

5.7 – SÍNTESE ... 33

CAPÍTULO 6 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ... 34

6.1 – INTRODUÇÃO ... 34

6.2 – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ... 34

6.3 – CONCLUSÕES DAS ENTREVISTAS ... 42

6.4 – ANÁLISE DOS INQUÉRITOS ... 43

6.4.1 – CARACTERIZAÇÃO DOS INQUIRIDOS ... 43

6.4.2 – ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS RESPOSTAS DOS INQUIRIDOS ... 45

6.5 – CONCLUSÕES DOS INQUÉRITOS ... 47

CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 51

7.1 – INTRODUÇÃO ... 51

7.2 – VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES TEÓRICAS ... 51

7.3 – VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES PRÁTICAS ... 52

7.4 – CUMPRIMENTO DOS OBJECTIVOS ... 53

7.5 – RESPOSTA À PERGUNTA DE PARTIDA E ÀS PERGUNTAS DERIVADAS ... 54

7.6 – REFLEXÕES FINAIS ... 55

7.7 – RECOMENDAÇÕES ... 55

7.8 – LIMITAÇÕES ... 55

7.9 – INVESTIGAÇÕES FUTURAS ... 56

BIBLIOGRAFIA ... 57

APÊNDICES ... 60

APÊNDICE A ENTREVISTAS ... 61

(10)

vii

APÊNDICE A.2 – ENTREVISTA 1 ... 65

APÊNDICE A.3 – ENTREVISTA 2 ... 68

APÊNDICE A.4 – ENTREVISTA 3 ... 71

APÊNDICE A.5 – ENTREVISTA 4 ... 73

APÊNDICE B INQUÉRITOS ... 77

APÊNDICE B.1 - INQUÉRITO ... 77

APÊNDICE B.2 – CARACTERIZAÇÃO DETALHADA DOS INDIVÍDUOS ... 81

APÊNDICE B.3 – TESTE ALFA DE CHRONBACH ... 83

APÊNDICE B.4 – APRESENTAÇÃO DETALHADA DOS RESULTADOS DAS RESPOSTAS DOS INQUIRIDOS ... 84

ANEXOS ... 97

ANEXO C – PATAMARES DO USO DA FORÇA ... 98

ANEXO D – ARSENAL DE ARMAMENTO DE ABIL DA GNR ... 99

ANEXO E – BASTÃO EXTENSÍVEL ASP ... 100

ANEXO F – GÁS NEUTRALIZANTE (OC) ASI 2000 ... 101

ANEXO G – GÁS NEUTRALIZANTE (OC) ASP STREET DEFENDER ... 102

ANEXO H – TASER X26 ... 103

(11)

viii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 – Modelo de Investigação do Trabalho. ... 3

Figura 1.2 – Estrutura do trabalho. ... 4

Figura C.1 – Patamares do Uso da Força ... 98

Figura E.1 – Bastão Extensível ASP (Black Chrome) ... 100

Figura F.1 – Depósito de gás OC do equipamento ASI 2000. ... 101

Figura F.2 – Mecanismo aplicador do Spray. ... 101

Figura G.1 – Dispositivo aplicador de gás (OC) Street Defender. ... 102

Figura H.1 –Taser X26 ... 103

(12)

ix

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 6.1 – Distribuição da SubUnidade ... 43

Gráfico 6.2 – Distribuição do Género ... 43

Gráfico 6.3 – Distribuição das Habilitações Literárias ... 44

Gráfico 6.4 – Distribuição da Idade ... 44

Gráfico 6.5 – Distribuição do Tempo de Serviço ... 44

(13)

x

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 5.1: Caracterização da amostra ... 31

Quadro 6.1: Análise de resultados da questão n.º1 ... 35

Quadro 6.2: Análise de resultados da questão n.º2 ... 36

Quadro 6.3: Análise de resultados da questão n.º3 ... 37

Quadro 6.4: Análise de resultados da questão n.º4 ... 38

Quadro 6.5: Análise de resultados da questão n.º5 ... 39

Quadro 6.6: Análise de resultados da questão n.º6 ... 40

(14)

xi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 6.1 – Tabela resumo dos valores de estatística descritiva... 50

Tabela B.1 – Frequência e percentagens relativas à questão número 1. ... 81

Tabela B.2 – Frequência e percentagens relativas à questão número 2. ... 81

Tabela B.3 – Frequência e percentagens relativas à questão número 3. ... 81

Tabela B.4 – Frequência e percentagens relativas à questão número 4. ... 82

Tabela B.5 – Frequência e percentagens relativas à questão número 5. ... 82

Tabela B.6 – Frequência e percentagens relativas à questão número 6. ... 82

Tabela B.7 – Resumo do número de casos analisados. ... 83

Tabela B.8 – Resultado do Teste Alfa de Cronbach. ... 83

Tabela B.9 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 7. ... 84

Tabela B.10 – Valores da estatística descritiva da questão número 7. ... 84

Tabela B.11 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 8. ... 85

Tabela B.12 – Valores da estatística descritiva da questão número 8. ... 85

Tabela B.13 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 9. ... 85

Tabela B.14 – Valores da estatística descritiva da questão número 9. ... 86

Tabela B.16 – Valores da estatística descritiva da questão número 10. ... 86

Tabela B.17 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 11. ... 87

Tabela B.18 – Valores da estatística descritiva da questão número 11. ... 87

Tabela B.19 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 12. ... 88

Tabela B.20 – Valores da estatística descritiva da questão número 12. ... 88

Tabela B.21 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 13. ... 89

Tabela B.22 – Valores da estatística descritiva da questão número 13. ... 89

Tabela B.23 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 14. ... 90

Tabela B.24 – Valores da estatística descritiva da questão número 14. ... 90

Tabela B.25 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 15. ... 91

Tabela B.26 – Valores da estatística descritiva da questão número 15. ... 91

Tabela B.27 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 16. ... 92

Tabela B.28 – Valores da estatística descritiva da questão número 16. ... 92

Tabela B.29 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 17. ... 93

Tabela B.30 – Valores da estatística descritiva da questão número 17. ... 93

Tabela B.31 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 18. ... 94

Tabela B.32 – Valores da estatística descritiva da questão número 18. ... 94

Tabela B.33 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 19. ... 95

Tabela B.34 – Valores da estatística descritiva da questão número 19. ... 95

Tabela B.35 – Frequência e Percentagens das respostas à questão número 20. ... 96

(15)

xii

LISTA DE SIGLAS

ABIL Armas de Baixo Índice Letal ANL Armas Não Letais

C Concordo

CCFRAL Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei

CDSP Código Deontológico do Serviço Policial CEDH Convenção Europeia de Direitos do Homem CRP Constituição da República Portuguesa CT Concordo Totalmente

D Discordo

DLG Direitos, Liberdades e Garantias DT Discordo Totalmente

DUDH EG

Declaração Universal dos Direitos do Homem Escola da Guarda

EMGNR Estatuto dos Militares da Guarda Nacional Republicana EUA Estados Unidos da América

GIOE Grupo de Intervenção de Operações Especiais GIOP Grupo de Intervenção de Ordem Pública GNR Guarda Nacional Republicana

IESM Instituto de Estudos Superiores Militar IGAI Inspecção-Geral da Administração Interna IGNR Inspecção da Guarda

ISCPSI Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna LSI Lei de Segurança Interna

MMOP Manual de Manutenção de Ordem Pública NCND Não Concordo Nem Discordo

OC Oleoresin Capsicum

ONU Organização das Nações Unidas

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte PSP Polícia de Segurança Pública

RGSGNR Regulamento Geral de Serviço da Guarda Nacional Republicana SPSS Statistical Package for the Social Sciences

(16)

xiii

LISTA DE ABREVIATURAS

al. Alínea art.º Artigo

g Gramas

in Citado em mA Miliamperes ml Mililitros n.º Número p. Página

v Volts

(17)

xiv

LISTA DE SÍMBOLOS

n Amostra

λ Nível de Confiança D Nível de Erro

α Nível de Significância Zα/2 Normal estandardizada N População

(18)

“Sendo possível determinar o início de uma situação violenta, difícil é antecipar o seu término e com que consequências”

(19)

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 1

CAPÍTULO 1

APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

1.1 – INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Investigação Aplicada (TIA) subordinado ao tema Armamento de Baixo Índice letal: Aplicação Operacional, surge no âmbito da estrutura curricular existente nos cursos ministrados na Academia Militar, sendo um elemento necessário para conferir o grau de mestre em Ciências Militares na Especialidade de Segurança.

Este capítulo inicia-se com um pequeno enquadramento do tema e respectiva justificação, posteriormente apresenta-se o problema de investigação, as questões de investigação, os objectivos e as hipóteses. Por fim, enuncia-se a metodologia e o modelo de investigação finalizando com uma pequena síntese dos capítulos.

1.2 – ENQUADRAMENTO

As Forças de Segurança definem-se como sendo genericamente um órgão estatal dotado de poderes coercivos e capaz do uso da força em termos juridicamente controlados e legitimados pelo contrato social. Apesar do uso da força pelas autoridades ser alvo de treino e estar balizado juridicamente, o escalar dos meios de coerção em situação conflitual evidencia-se como de difícil controlo quanto mais caótica e violenta for a desordem enfrentada (Alves, 2009).

Tendo em conta estes factores e baseando-nos na Constituição da República Portuguesa (CRP), veremos que esta atribui à polícia a defesa da legalidade democrática e o garantir da segurança interna e dos direitos do cidadão (art.º 272.º, n.º1 e n.º2). Adequando com o n.º3 do mesmo artigo veremos que a prevenção de crimes deverá ter como princípio basilar o respeito pelos direitos, liberdades e garantias (DLG) dos cidadãos.

Surge então como necessidade, o controlo por parte das Forças de Segurança do recurso à violência, fazendo com que este seja reduzido ao mínimo essencial, visto lidar com garantias constitucionais. Para além do uso da força ser restringido legalmente e existirem cada vez mais limitações ao uso de meios coercivos, a reprovação social de baixas efectuadas decorrentes da acção policial aumenta.

(20)

Capítulo 1 Apresentação do Trabalho

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 2

1.3 – JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

A escolha do tema enunciado teve por base o interesse do autor pelas questões do uso da força na actuação policial e a curiosidade por tentar compreender quais as repercussões da adopção de armamento de baixo índice letal na GNR, e de que forma esta se adequa à realidade vivida pela instituição.

Trata-se, a nosso ver, de um tema bastante pertinente pela importância que reveste o uso de meios coercivos na sociedade actual e, inevitavelmente, na organização GNR.

1.4 PROBLEMA DA INVESTIGAÇÃO

O objecto de estudo desta investigação é o armamento de baixo índice letal e a sua aplicação operacional, sendo que o objectivo geral será, através do estudo dos meios existentes na GNR e a sua utilização pelos militares, verificar quais as suas repercussões na actividade policial. Desta forma a questão de investigação ou de partida é: São as armas de baixo índice letal uma mais-valia para o serviço policial?

1.5 – QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Uma vez enunciada a pergunta de partida surgem depois algumas questões que derivam da questão central e que a sua resposta se revela de crucial importância para o desenrolar do trabalho. Assim, as questões de investigação são:

 A utilização das Armas de Baixo Índice Letal tem enquadramento legal?

 A utilização do Armamento de Baixo Índice Letal produz efeitos nefastos no adversário?

 As Armas de Baixo Índice Letal podem ser consideradas como facilitadoras da intervenção policial?

 A aplicação de Armas de Baixo Índice Letal pode substituir o recurso à arma de fogo?

1.6 – OBJECTIVOS

Para dar resposta ao problema formulado, definiram-se os seguintes objectivos específicos, tendo em vista o enquadramento teórico do tema e a investigação de campo:

 Caracterizar o enquadramento jurídico do recurso aos meios coercivos;  Verificar as características do armamento de baixo índice letal;

(21)

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 3 1.7 – HIPÓTESES

Depois da questão central e das questões de investigação derivam agora as hipóteses formuladas. São seis hipóteses das quais as primeiras duas são apenas teóricas e as restantes quatro são práticas. Assim, as hipóteses teóricas são:

H1 – A utilização das armas de baixo índice letal está juridicamente enquadrado.

H2 O emprego das armas de baixo índice letal reduz a probabilidade de infligir danos irreversíveis no adversário.

Por seu lado as hipóteses práticas são:

H3 – O recurso às armas de baixo índice letal facilita a intervenção policial.  H4 O emprego das armas de baixo índice letal potencia a segurança.

H5 – A utilização das armas de baixo índice letal revela-se de simples manejo.

H6 As ABIL substituem totalmente a necessidade de recurso à arma de fogo.

1.8 – METODOLOGIA E MODELO DE INVESTIGAÇÃO

Este trabalho obedece à metodologia científica empregue no âmbito da investigação em ciências sociais e está de acordo com o que é proposto por Sarmento (2008), adaptado às orientações dadas pela Academia Militar (Academia Militar, 2008).

O trabalho está dividido em duas partes, para além do capítulo da apresentação do trabalho, onde a primeira parte se traduz como parte teórica e baseou-se numa revisão de literatura, através de análise livros, artigos, publicações científicas, diplomas legais e até de algumas conversas informais com especialistas no tema abordado. Foram formuladas as questões de investigação e hipóteses para fazer face aos objectivos do trabalho.

A metodologia de investigação da segunda parte, parte prática, foi baseada na observação directa através da aplicação de entrevistas exploratórias semi-estruturadas e posteriormente da aplicação de inquéritos de modo a poderem ser verificadas as hipóteses e os conceitos teóricos desenvolvidos na parte teórica

(22)

Capítulo 1 Apresentação do Trabalho

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 4

1.9 – SÍNTESE DOS CAPÍTULOS

O trabalho está dividido em três partes lógicas: a apresentação do trabalho, a parte teórica e a parte prática.

A parte intitulada de apresentação do trabalho é onde se enuncia o tema e o porquê da sua escolha e onde é feita uma breve alusão ao trabalho em si e à metodologia abordada.

A parte teórica é constituída por três capítulos, sendo o primeiro dedicado ao enquadramento das funções de polícia perante a Constituição da República. O segundo aborda o enquadramento legal do recurso aos meios coercivos e as problemáticas inerentes. O terceiro capítulo aborda especificamente o armamento de baixo índice letal, concretizando com meios em utilização na GNR.

Posteriormente apresenta-se a parte prática, que tem início com o quinto capítulo, onde se apresenta o trabalho de campo efectuado. Segue-se o sexto capítulo coma análise e discussão dos resultados obtidos. Finalmente, o sétimo capítulo apresenta conclusões e recomendações.

(23)

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 5

PARTE TEÓRICA

CAPÍTULO 2

A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA E AS FUNÇÕES

DE POLÍCIA

2.1 - INTRODUÇÃO

Um Estado pode ser definido como sendo uma instituição enquadrada a nível jurídico, político e social, ocupando um território onde o seu governo exerce soberania. Neste enquadramento, o Estado sob direcção de um governo é responsável pela organização e controlo social, uma vez que “o Estado contemporâneo … reivindica … o monopólio da violência física legítima” (Monjardet in Alves, 2009: p. 20).

Portugal na sua Lei Fundamental1 reporta-se como sendo um Estado de Direito Democrático2, “baseando-se na soberania popular” onde “os cidadãos participam na vida política do país, através do exercício do direito de sufrágio, elegendo livremente os seus representantes” (Clemente, 2005: p21). Este facto é corroborado pelo art. 2.º da Constituição da República Portuguesa (CRP) onde se afirma que “ A República Portuguesa é um Estado de direito Democrático, baseado na soberania popular (…) no respeito e na garantia da efectivação dos direitos liberdades e garantias fundamentais”.

Porém, como factor inerente à condição humana, existem transgressões desses preceitos, provocando estes comummente conflitos sociais susceptíveis de fazer perigar interesses colectivos. Houve assim a necessidade da criação de um aparelho estatal dotado com poderes coercivos, a Polícia, “instituída para manter a ordem pública, a liberdade, a propriedade, a segurança individual” (Caetano, 2004: p. 1154), com a ultima ratio de salvaguardar a existência da pessoa humana.

2.2 – POLÍCIA: FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS

Analisando a CRP não se encontram referências a uma definição de polícia, contudo, no capítulo dedicado à Administração Pública, mais especificamente no n.º 1 do art. 272.º, as suas funções são aí consagradas, referindo que “a polícia tem por funções defender a legalidade democrática e garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos”. O legislador através desta dicotomia de valores pretendeu assim adquirir o equilíbrio perfeito entre a segurança e a liberdade.

(24)

Capítulo 2 A Constituição da República Portuguesa e as Funções de Polícia

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 6

Os autores Canotilho e Moreira (1993) fazem uma leitura do facto do órgão estatal Polícia se encontrar inserido neste capítulo, como que reportando essa função a uma pluralidade de organismos, isto é, “o conjunto de órgãos e institutos encarregados da actividade polícia” que têm por objectivo o garante do cumprimento das leis que respeitam à vida em sociedade.

Segundo Caetano (2004), a função de polícia será “uma das formas que os Estado utiliza para levar a cabo a sua função executiva” através de uma “actividade essencialmente preventiva das violações da Lei” transmitindo aqui, a emergente necessidade da sociedade proteger e defender os seus cidadãos, respeitando os DLG do cidadão.

Será ainda de relevar uma definição do mesmo autor que caracteriza a noção de polícia como sendo:

“o modo de actuar da autoridade administrativa que consiste em intervir no exercício das

actividades individuais susceptíveis de fazer perigar interesses gerais, tendo por objectivo evitar que estes produzam, ampliem ou generalizem os danos sociais que as leis procuram prevenir”

Podemos então considerar a partir do exposto, que a Polícia tem capacidades conferidas e poderes materiais atribuídos pelo Estado, para fazer cessar ou limitar o exercício de actividades individuais dos cidadãos, quando estes ponham em causa o normal funcionamento da vida em sociedade.

Enunciando Valente (2009), a “Polícia reveste prima facie o manto de força de segurança, desde logo por imperativo constitucional – n.º 4 do art. 272.º da CRP”, porém, somente a Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Polícia de Segurança Pública (PSP)

revestem na totalidade esta delimitação ao preencher o quesito da territorialidade3, e de possuírem nas suas Leis Orgânicas4 a determinação de Força de Segurança.

A Lei n.º 63/2007 de 6 de Novembro aprova a orgânica da GNR, definindo-a no seu art.º 1.º:

“A Guarda Nacional Republicana é uma força de segurança de natureza militar,

constituída por militares organizados num corpo especial de tropas e dotada de autonomia administrativa cuja missão é assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os

direitos dos cidadãos”

Constata-se assim a intenção do legislador de aproximar a missão da GNR à função de polícia explícita no art.º 272.º da CRP.

A Lei de Segurança Interna (LSI), Lei n.º 53/2008 de 29 de Agosto, refere-se relativamente à definição e finalidades da segurança interna como sendo:

3

Competência para actuação em todo o território Nacional.

(25)

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 7

“a actividade desenvolvida pelo Estado para garantir a ordem, a segurança, e

tranquilidade públicas, proteger pessoas e bens, prevenir e reprimir a criminalidade e contribuir para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, o regular exercício dos direitos, liberdades, e garantias fundamentais dos cidadãos e o respeito pela legalidade

democrática”

A sociedade através dos vários diplomas legais celebra um contrato social de legitimação do uso dos meios coercivos para que seja salvaguardado o direito à segurança, não colocando em perigo a dignidade humana e os direitos individuais para se atingir esse fim.

2.3 DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS PESSOAIS

Portugal, conforme descrito no art.º 1.º da CRP “é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana…”, este texto constitucional torna assim como primado do Estado português o respeito pelo direito à vida e à integridade pessoal5.

Face a este quadro, todas as funções de polícia, actividades e intervenções das forças de segurança, serão pautadas pelo estritamente necessário para repor a legalidade, aquando da sua violação, tal como refere (Vilela, 2009: p.6) através de uma “conduta ponderada, avaliando os diversos interesses em causa e que adoptem as medidas necessárias, adequadas e proporcionais”.

A imposição de limites à actividade policial é imposta constitucionalmente mais uma vez na referência efectuada no n.º 3 do art.º 272.º da CRP, onde se refere: “A prevenção de crimes (…) só pode fazer-se com observância das regras gerais sobre polícia e com respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”. Valente (2009: p.100) refere que, “o exercício de qualquer direito não pode funcionar como limite dos direitos dos outros”, reforçando assim a ideia que a Polícia na prossecução da sua missão de vigilância e prevenção criminal, promove a protecção da vida e da integridade das pessoas, mas simultaneamente garantindo também a sua concretização.

Numa actuação real, a utilização do uso da força, mais propriamente dos meios coercivos, poderá colocar em causa os direitos constitucionalmente garantidos6.

Ao considerar-se a vida humana como inviolável e a inexistência da pena de morte como o primeiro direito a ser garantido pela CRP (art.º 24.º) traduz-se assim a valoração deste como o mais fundamental dos direitos. O direito à integridade pessoal colocado no seguimento (art.º 25.º da CRP) constitui uma significativa valoração do mesmo no leque de direitos constitucionalmente protegidos.

5 Direitos Fundamentais vertidos na CRP no Titulo II, capitulo I, respectivamente no art.º 24º e 25º. 6

(26)

Capítulo 2 A Constituição da República Portuguesa e as Funções de Polícia

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 8

A Polícia ao enfrentar-se com este espectro legal de balizamento das suas actividades, terá de se adaptar e moldar às repercussões que estes direitos têm na sua actividade.

2.4 – PRINCÍPIOS LIMITADORES DA ACTIVIDADE POLICIAL

Contextualizados pelos capítulos anteriores, inferimos que a Polícia é um órgão da Administração Pública, cabendo-lhe assim a “prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos” (n.º1 do art.º 266.º CRP). Depreendemos assim, que a Polícia na sua actuação deve proteger o interesse público, mas que não poderá sacrificar os direitos fundamentais para atingir esse fim.

Conforme, Almeida (2003: p115) com “o advento do Estado de Direito teve início um inexorável processo, hoje ultimado, (…) que submeteu a polícia (…) a todas as fontes de direito do sistema jurídico português…”, mas para além de se subordinar a este corpo legal existente, a acção policial terá também de se basear em princípios gerais administrativos com o objectivo de limitar e orientar a funções de polícia. Nesta perspectiva, estes princípios terão como principal função prestar às instituições policiais a qualidade e eficácia necessária para o estabelecimento de laços entre a sociedade e a Polícia.

Porém, na sua actividade, as forças de segurança, deparam-se com diversas situações que vão desde a resolução pacífica de diferendos a casos de violência/conflito. Deste modo, perante a necessidade de actuação, as forças policiais têm a sua actividade suportada e limitada pelos princípios gerais da actividade administrativa do Estado (princípio da legalidade, da igualdade, da imparcialidade, da justiça e da boa fé) não existindo qualquer relação de prioridade de aplicação entre eles uma vez que conforme a situação, o grau de precedência ou importância variará.

Assim, decorrente da análise dos vários diplomas, consideramos que no contexto do nosso estudo, os princípios de aplicação obrigatória aquando da necessidade inevitável do recurso a meios coercivos são: o princípio da legalidade, o princípio da proporcionalidade (sentido amplo e restrito), da adequação, da necessidade.

2.4.1 OPRINCÍPIO DA LEGALIDADE

(27)

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 9

criminal – tem de encontrar fundamento necessário na lei (…) e definido na lei ” (Canotilho e Moreira in Valente, 2009: p.140), sendo segundo estes os actos coercivos também envolvidos.

As forças de segurança, ficam assim restringidas a actuar conforme as medidas tipificadas nas leis constitucionais, leis penais e processuais penas, leis específicas das forças de segurança, dos seus estatutos e da legislação avulsa7 em vigor.

A GNR, como força de segurança, na sua lei orgânica (LOGNR)8, encontra aí descrita no art.º 2.º a sua definição, descrevendo que a Guarda “ tem por missão (…) assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos (…) nos termos da Constituição.

Fica assim plasmada mais uma vez, o cuidado do legislador em demarcar de forma nítida o princípio da legalidade na actuação da GNR, através da referência a este princípio nos principais diplomas que dizem respeito a esta força de segurança (CRP, LSI, LOGNR e Código Deontológico do Serviço Policial (CDSP)).

2.4.2 – OPRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE LATO SENSU

Face à realidade e missão experienciada pelos elementos das forças de segurança, existem momentos em que a sua intervenção se torna imprescindível. Porém o dever da actividade da polícia limita-se ao estritamente necessário, por força da segunda parte do n.º 2 do art.º 18 da CRP ao referir que existindo necessidade de restringir a prática de direitos, liberdades e garantias, essa intervenção deverá “ limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos”.

Canotilho e Moreira (1993)9, referem-nos que as medidas de polícia englobam também as medidas de coerção, envolvendo assim o emprego de armamento, o qual sendo tema de estudo, mais propriamente do armamento considerado de baixo índice letal, implicará que este deverá reportar-se ao princípio da proporcionalidade lato sensu (ou da proibição do excesso). Deste modo, as medidas de polícia devem pautar-se e justificar-se pelo não recurso “a medidas gravosas quando medidas mais brandas seriam suficientes para cumprir a tarefa” (Canotilho e Moreira, 1993: p.956).

Considera-se assim que face à consagração do princípio da proporcionalidade em sentido amplo no texto Constitucional, este deverá servir forçosamente de orientação à actuação policial, na justa medida que deve atender a uma escalada progressiva de meios a empenhar, onde a respectiva escolha do meio deverá ser feita com prudência e moderação, conforme o tipo de ameaça ou o grau de violência enfrentado, concretizando-se assim como um “princípio informador e conformador da actividade da polícia” (Valente, 2009).

7

Diplomas legais com abrangência geral que podem ter repercussões em vários destinatários. 8 Lei n.º 63/2007 de 6 de Novembro de 2007.

9

(28)

Capítulo 2 A Constituição da República Portuguesa e as Funções de Polícia

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 10 2.4.3 OPRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO

Segundo Valente (2009), o princípio da adequação implica que “as medidas restritivas legalmente previstas devem revelar-se como meio adequado para a prossecução dos fins visados pela lei, salvaguardando-se outros direitos ou bens jurídicos constitucionalmente protegidos”.

A actividade policial respeitará um nexo de causalidade entre a adopção de um meio e o objectivo, no propósito da prossecução da missão através da adequação dos meios empregues e o perigo que enfrentam, sempre com a intenção de se socorrerem do meio menos ofensivo ao cidadão que seja possível.

2.4.4 OPRINCÍPIO DA NECESSIDADE

A CRP evidencia o princípio da necessidade no n.º2 do art.º 18.º referindo que a restrição dos DLG dos cidadãos só pode ocorrer nos casos expressamente previstos, e limitar-se ao estritamente necessário salvaguardando os interesses e direitos constitucionais.

Citando Valente (2009), “as medidas restritivas previstas na lei devem revelar-se necessárias, melhor, devem ser exigíveis na medida em que essas medidas nunca devem transpor as exigências dos fins de prossecução do interesse a tutelar”, traduzindo assim a limitação da polícia no que respeita à sua actuação, onde meios utilizados deverão ser necessários e proporcionais ao bem que se pretende proteger. Assim, face aos meios ao dispor dos elementos das forças de segurança, estará em causa a opção que estes terão de efectuar perante as situações, de modo que a “solução encontrada seja a mais eficaz, a menos onerosa e a menos lesiva para o cidadão” (Vilela, 2009: p.11).

2.4.4 OPRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE STRICTO SENSU

Este princípio consagrado constitucionalmente10, considera-se como sendo o princípio da justa medida, uma vez que transmite a intenção de que “as medidas ou os meios legais restritivos e os fins obtidos situam-se numa justa e proporcionada medida, impedindo-se a adopção de medidas (…) restritivas desproporcionadas, excessivas em relação aos fins obtidos.” (Valente, 2009: p.144).

Pretende-se assim criar um equilíbrio entre o bem restringido e aquele que se está a tutelar, de modo que a protecção de um bem não implique um dano maior que o fim tutelado.

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 11

Visando este estudo, a utilização de armas de fogo pode implicar que a sua intensidade no visado, seja mais gravosa do que a utilização de outro tipo de meio menos letal, para que assim, o princípio aqui explanado seja desta forma protegido.

2.5 – SÍNTESE

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Capítulo 3 Recurso a Meios Coercivos

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 12

CAPÍTULO 3

RECURSO A MEIOS COERCIVOS

3.1 – INTRODUÇÃO

A Polícia, como órgão estatal responsável pela ordem e segurança públicas, depara-se recorrentemente com situações que fazem perigar o decorrer pacífico da vida em sociedade. Assim, existindo condutas propiciadoras de lesar interesses e direitos constitucionalmente protegidos, cabe às forças de segurança terem o papel de dirimir esses conflitos de ordem pública.

Este órgão dotado de certos poderes conferidos pelo Estado, face a uma intervenção num conflito, poderá recorrer a diferentes métodos de actuação, sempre que houver necessidade de desempenhar uma actividade mais proactiva, as forças de segurança poderão intervir de uma forma preventiva ou através da tomada de uma postura de carácter reactivo.

3.2 MEDIDAS DE POLÍCIA E USO DE MEIOS COERCIVOS

As forças de segurança estão enquadradas pela CRP e demais leis em vigor, encontrando-se dotadas de direitos e deveres que norteiam a sua actuação. Estas, como se deparam com situações em que é necessário restringir condutas individuais e colectivas, encontram-se providas de meios que as tornam capazes de fazer cessar ou afastar os efeitos nefastos da concretização dessas condutas. Dentro dos poderes11 atribuídos às forças policiais, relevam-se os actos de polícia, que envolvem “não só actos administrativos como operações dos agentes, que em execução das leis e regulamentos, muitas vezes exercendo poderes discricionários” (Caetano, 1996: p.279) aplicam sanções de modo a reprimir e prevenir comportamentos ilícitos. Noutra opinião, os actos de polícia definidos por (Amaral, 2001: p.162) são “aqueles que impõem limitações à liberdade individual com vista a evitar que, em consequência da conduta perigosa dos indivíduos, se produzam danos sociais”.

Importa, dentro dos actos de polícia, dar particular destaque às medidas de polícia. Constitucionalmente, estas vêm versadas no n.º2 do art.º 272.º onde é referido que “as medidas de polícia são as previstas na lei”. A LSI encontra semelhante redacção no n.º2 do art.º 2, sendo que como possuem um carácter restritivo dos direitos dos cidadãos, estas também ficam sujeitas aos princípios constitucionais. Estas são consideradas por (Caetano, 2004: p.1166) como sendo “ providências limitativas da liberdade, (…) aplicadas pelas autoridades administrativas (…) com o fim de evitar a produção de danos sociais”.

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 13

Sendo a GNR, uma força de segurança, cabe-lhe em grande quota aplicar este tipo de medidas, assumindo assim grande relevo a harmonia existente entre os vários diplomas existentes. A própria legislação orgânica12 da GNR, remete-nos no art.º14 n.º1, para a subordinação das medidas aplicáveis por esta às “condições e termos da constituição e da lei de segurança interna”.

Após uma breve descrição, teremos de distinguir as medidas de polícia do uso de meios coercivos, isto porque existem autores que consideram que estes não se inserem nas medidas de polícia, opinião da qual se partilha. Caetano (2004: p.1166) refere que as medidas de polícia são “providências que têm já certo carácter repressivo relativamente a um perigo, e é esse perigo, que se atalha para prevenir que se transforme em dano efectivo”, sendo assim, são actos levados a cabo pela Polícia com carácter preventivo, distinguindo-se daquilo que é o recurso aos meios coercivos, que são actos repressivos mas de carácter reactivo face ao presenciamento da ilicitude.

Ultrapassada a fase em que as medidas preventivas são o bastante para a manutenção da harmonia da vida em sociedade, surge a necessidade de utilizar a repressão como meio de manutenção da harmonia da vivência em comunidade. Na opinião de (Caetano, 1996: p.63) a repressão “é um meio tornado indispensável para a eficácia da prevenção”, circunstância indispensável para impedir actos danosos.

Do desenvolvimento da sua missão, vastas são as situações em que as forças policiais se deparam com a necessidade do uso da força13, sempre com o farol da observação dos princípios da proporcionalidade, necessidade e adequação e orientadas pelas regras de conduta e pelo brio profissional. Porém, a utilização da força não é um direito adquirido das forças de segurança, mas é uma condição utilizada por estas e legitimada pelo Estado e pela Sociedade na prossecução do objectivo de interromper e evitar violações dos direitos fundamentais dos cidadãos. Perante isto, torna-se assim óbvio que a sociedade pretende a existência de um serviço que se desempenhe em conformidade com os preceitos legais, mas que na necessidade da sua protecção recorra ao uso da força. A legitimidade do recurso destes meios é o que distingue a força da violência, uma vez que a força recorre à violência, mas esta é enquadrada pela necessidade da protecção de valores constitucionais (direito à vida, integridade física) e por imperativos legais (Oliveira, 2009). Tornando-se em violência policial quando esta não se justifica através da protecção dos bens atrás referidos e pelo enquadramento legal existente.

Dentro do recurso à força, surge por vezes a necessidade de utilizar os meios coercivos, como último patamar dos argumentos da acção policial. A sua utilização é

12

Lei n.º 63/2007 de 6 de Novembro 13

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Capítulo 3 Recurso a Meios Coercivos

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 14

enquadrada na última fase dos meios disponíveis para anular a ameaça existente, pois necessariamente os agentes policiais recorrerão aos mesmos quando “estejam esgotados os meios de persuasão e de diálogo” (n.º1 do art.º8 do CDSP) surgindo então a regulação “por legislação apropriada e limitativa (…) de modo a prevenir o seu uso inadequado” (Directiva n.º28/91/CG/GNR 3.ª REP) Impõe-se assim a necessidade dos agentes aplicadores da lei, recorrerem primeiramente aos meios não violentos, uma vez que a urgência do recurso pode colocar em causa a integridade das pessoas e a própria vida. Desta forma, estes serão utilizados quando o conjunto das ocorrências presenciadas, não seja eficazmente dirimido pelos meios não coercivos. Caberá assim aos militares e agentes policiais, face às ocorrências, fazer a devida apreciação para distinguir o momento em que será correcta a utilização dos meios coercivos.

A avaliação efectuada pelos agentes policiais necessita assim de ser ponderada e é obrigatória uma vez que “o emprego imediato dos meios extremos contra ameaças (…) constitui abuso de autoridade.” (Maximiano, 1996: p.24) e pode causar também lesões irreversíveis nos visados. Assim, se existir uma utilização desproporcional dos meios, os agentes policiais podem incorrer em responsabilidade civil, criminal e/ou disciplinar, decorrente da previsão constitucional da responsabilização dos funcionários e agentes do Estado14. Em casos de responsabilidade civil, a GNR é responsabilizada, porém pode sempre exercer o direito de regresso sobre o seu militar, conforme o n.º4 do art.º 271.º da CRP. No sentido de evitar situações de erro, há a necessidade da actuação policial ser fiscalizada, através de Instituições especializadas, tais como a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) e Inspecção da Guarda (IGNR).

Neste contexto a acção das forças de segurança deverá ter em conta uma prévia avaliação da acção e das suas consequências uma vez que: “a autoridade mais respeitada é aquela que cumpre a missão sem recurso à força ou só recorrendo aos meios coercitivos em última instância e de modo proporcional e adequado”. (Clemente, 2000: p.196).

3.3 – RECURSO A ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL

O cumprimento da missão por parte das forças de segurança torna-se muitas vezes complicado, quando se enfrentam situações bastante problemáticas, onde a necessidade do recurso da força e/ou meios de coerção é imperioso. Segundo (Silva in Oliveira, 2007: p.17):

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 15

“Não é tarefa fácil a dos Polícias: terão que estar preparados para actuar em qualquer

situação, mesmo a mais imprevisível, podendo apenas utilizar meios consentidos pela lei, e deverão ponderar em cada caso a medida da sua necessidade”.

É evidente que o recurso a estes meios se torna unicamente admissível e legitimado, quando acontece em situações previamente definidas obrigando assim ao surgimento de um conjunto de diplomas legais nacionais e internacionais que regulamentam e restringem o uso dos meios coercivos pelas Polícias.

3.3.1 NECESSIDADE ALTERNATIVA À ARMA DE FOGO

Quando falamos do recurso a meios coercivos, está necessariamente implícito a utilização de armas, definidas em diploma nacional específico15 como quaisquer engenhos ou instrumentos construídos exclusivamente com o fim de serem utilizados como arma de agressão” (al. g) do n.º2, art.3.º, da Lei n.º5/2006).

Como a harmonia social depende da ausência de violência (Clemente, 2005: p.25), o Estado socorre-se de elementos armados com objectivo da protecção da colectividade, tornando-se a utilização por parte das forças de segurança deste tipo de meios legítima, porque a sua tarefa “consiste na protecção de pessoas e bens” e a sua utilização “é para que naturalmente possam cumprir melhor essa missão, (…) estando aptos a todo o momento garantir a segurança de todos e a sua própria segurança.” (Diaz, 2003: p.62).

Apesar de todos os condicionalismos impostos à utilização das armas pelas instituições policiais, a preocupação com o seu uso continua a existir, e vivendo-se uma realidade de Estado de direito democrático onde se elege como valor fundamental a dignidade da pessoa humana, a busca por alternativas menos letais que a arma de fogo é premente.

Nos últimos anos, as forças policiais Europeias têm vindo a preferir o uso de meios alternativos às armas de fogo na gestão de incidentes (Clemente, 2005: p.28), pois existe o sentimento cada vez mais forte de se evitar fatalidades ou lesões permanentes decorrentes das intervenções policiais, de modo a respeitar-se os princípios salvaguardados constitucionalmente. Esta preocupação/exigência desta busca, não implica a eliminação da arma de fogo do arsenal disponível de meios aos agentes de autoridade, mas traduz-se numa adição de mais um patamar prévio antes do extremo – arma de fogo. Cria-se desta forma uma escalada de força que segue o seguinte percurso: “a informação; o comando verbal (ordem); a coacção física desarmada; a colocação de algemas; a força física com

15

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Capítulo 3 Recurso a Meios Coercivos

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 16

bastão; a arma não (menos) letal; a arma de fogo.”16 (Clemente, 2005: p.28). Com efeito, a intervenção policial pauta-se pela adopção de medidas estritamente necessárias, proporcionais e adequadas prevalecendo o recurso aos meios menos violentos.

Perante os condicionalismos do recurso à arma de fogo, surge a proliferação dos meios de baixo índice letal na actividade policial, o que possibilita uma maior diferenciação do uso da força e de força letal, não sendo estas também imunes a polémicas e críticas por parte de várias organizações no seio da sociedade, como foi o caso dos gases neutralizantes no passado e recentemente das armas eléctricas17.

3.3.2 ENQUADRAMENTO LEGAL:INTERNACIONAL E NACIONAL

A temática do uso da força é uma preocupação internacional e tem sido objecto nas últimas décadas de preocupação legislativa. Ao longo de vários anos têm sido criados diplomas que legitimam o uso da força, de forma a padronizar o seu recurso pelas instituições estatais. Primariamente temos de nos reportar a textos universais considerados como os principais influenciadores de todos os diplomas sobre esta temática, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH). Estes dois diplomas possuem vertidos vários artigos com relevância para a actividade aplicadora da lei, e concomitantemente para o recurso à força na acção policial.

Analisando estes dois diplomas, encontramos na DUDH no seu art.º 3.º que “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, mas que “ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes” (art.º5) e que todos, conforme o art.º 7.º, “são iguais perante a lei”. Associando este diploma à CEDH, constatamos que o direito à vida é “protegido por lei” (art.º 2.º CEDH).

Após a salvaguarda da vida e da proibição de existência de comportamentos que possam degradar ou colocar a vida humana em risco, o recurso à força é invariavelmente uma necessidade decorrente do comportamento humano. Os padrões de actuação das forças policiais estão legitimados internacionalmente pelo Código de Conduta da Organização das Nações Unidas para os Funcionários Responsáveis pela aplicação da Lei (Código de Conduta da ONU), e pelos Princípios Básicos da Organização das Nações Unidas (Princípios da ONU).

Analisando os modelos de actuação, encontramos no diploma referente aos princípios, no ponto 4 a previsão de que “no cumprimento das suas funções, os responsáveis pela aplicação da lei devem, na medida do possível, aplicar meios não violentos” e somente em casos em que estes se tenham tornado obsoletos fazer recurso à

16 Vide Anexo C, Figura C.1. 17

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 17

arma de fogo. Porém, anteriormente18 este diploma de uma forma geral, aconselhava os governos a tomar providências para incluir nas suas preocupações o aperfeiçoamento de dispositivos “não-letais”, com o propósito de limitar crescentemente a aplicação de meios que causem a morte ou ferimentos aos cidadãos. Associando estas medidas à conduta imposta pelo diploma19 respectivo, encontramos no art.º 3.º, a limitação de que os agentes aplicadores da lei “só podem empregar a força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever”, salientando-se assim a intencionalidade de restringir o uso da arma de fogo, e desta forma fomentar-se a utilização dos meios de baixo índice letal, que é o tema de estudo.

Enquadrando a temática do uso da força ao estrato europeu, no ano de 1979 com a Resolução 690 de 1 de Fevereiro20, o Conselho da Europa elabora uma declaração específica sobre a actividade policial. Sobre esta matéria é proferido que “no desempenho das suas funções, um polícia deve usar toda a determinação necessária para atingir um objectivo que é legalmente exigido ou permitido, mas ele nunca pode usar mais força do que é razoável” (art.º 12), confirmando novamente o versado pelos diplomas da ONU, de que o recurso à força se deve efectuar de forma a causar o menor dano possível.

Relativamente ao enquadramento legislativo nacional, existem um conjunto de leis relevantes que se devem abordar. Como se viu anteriormente21 na nossa Constituição, há uma panóplia de princípios que veiculam a Administração Pública, onde se insere a actividade Policial. De forma mais específica, encontramos na LSI, parâmetros que estabelecem limites à actuação policial, definindo que “toda a actividade de segurança interna exerce-se nos termos da constituição e da lei” (n.º 2. do art.º1.º) e que todas as medidas executadas na actividade policial “destinam-se em especial, a proteger a vida e a integridade física das pessoas” (n.º3 do art.º1.º). Continuando a explorar a moldura legal nacional, encontramos também o CDSP, diploma que veio legislar a necessidade do recurso aos meios coercivos, impondo desta forma um conjunto de regras deontológicas aos responsáveis pela aplicação da lei. Foram também consignadas regras para a utilização da força como as descritas no n.º1 do art.º8 dizendo que “os membros das forças de segurança usam os meios coercivos adequados (…) só quando estes se mostrem indispensáveis, necessários e suficientes (…) e estejam esgotados os meios de persuasão e de diálogo”.

De forma mais específica, no ano de 1999 surge o Decreto-lei n.º 457/9922 de 5 de Novembro de 1999 que legisla especificamente sobre a utilização da arma de fogo em acção policial – último patamar dos meios coercivos. Referindo no n.º1 do seu art.º2 “ que o

18

Ponto 2 dos Princípios Básicos da Organização das Nações Unidas. 19

Código de Conduta da Organização das Nações Unidas para os Funcionários Responsáveis pela aplicação da Lei.(CCFRAL)

20

Declaração sobre a Polícia. 21 Vide em Capitulo I, ponto 1.4. 22

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Capítulo 3 Recurso a Meios Coercivos

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 18

recurso à arma de fogo só é permitido em caso de absoluta necessidade, como medida extrema, quando outros meios menos perigosos se mostrem ineficazes …”.

Constatamos assim, que existe uma preocupação internacional sobre o recurso à força e que se reflecte também nos diplomas nacionais, tornando-se por inerência cada vez mais uma preocupação das instituições policiais.

3.3.3 LEGISLAÇÃO INTERNA (GNR)

A utilização de meios coercivos encontra-se descrito e consignado em diversos diplomas legais nacionais, porém, há uma necessidade por parte das forças de segurança de clarificar e criar regras específicas para o seu empenhamento.

Abordando o diploma base da Instituição GNR - LOGNR, o antigo diploma23 fazia referência no seu art.º 30.º às situações em que os militares da Guarda poderiam recorrer aos meios coercivos, facto que já não existe na nova lei orgânica24, legislando esta apenas que a GNR não pode “fazer uso dos meios de coerção para além do estritamente necessário” (n.º1, art.º14). Esta inexistência recente deve-se ao facto de as circunstâncias em que se prevê o recurso aos meios coercivos já estarem descritos em vários diplomas internacionais, também porque no art.º 32.º do Código Penal25, já se prevê a legítima defesa.

Relativamente ao Regulamento Geral de Serviço da GNR (RGSGNR)26 é referido no seu art.º 7.º, quando descreve os princípios de actuação, que se utilizarão os meios coercivos “apenas e só quando se mostrem indispensáveis, necessários e suficientes e estejam esgotados os meios de diálogo e de persuasão” deixando a utilização da arma de fogo para “medida extrema, nos casos previstos na lei”. (n.º 5 e n.º8 do Art.º7.º do RGSGNR).

O Estatuto dos Militares da Guarda27 (EMGNR) também aborda a temática do uso da força e do recurso aos meios coercivos, dizendo que a sua utilização só será efectuada em situações que se demonstre ser indispensável e previamente tenham sido esgotados os métodos de persuasão e diálogo, rematando esta designação referindo que o militar “só deve recorrer ao uso de armas de fogo, como medida extrema” (art.º 15.º).

De uma forma geral, o Manual de Operações da GNR, concretiza todos os diplomas atrás referidos de modo a existir uma doutrina geral de aplicação dos meios coercivos e do uso da força (Volume I, Título I, capítulo V). De realçar que, apesar do esforço feito por parte da Guarda em uniformizar para todo o dispositivo os ensinamentos vertidos nesta

23

Decreto-Lei n.º 231/93, de 26 de Junho. 24

Lei n.º 63/2007 de 6 de Novembro. 25

Lei 59/2007, de 4 de Setembro. 26

Despacho n.º 13-A/10 do Tenente General Comandante-Geral da GNR.

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 19

publicação, facto é que nos últimos anos os diplomas que serviram de base para a criação de doutrina sofreram várias alterações.

De uma forma mais específica, o Manual de Manutenção de Ordem Pública (MMOP) da Unidade de Intervenção (UI), refere a aplicação de vários tipos de armamento para o restabelecimento da ordem pública concretizando de forma individualizada a utilização de vários meios coercivos, como é caso dos meios coercivos de baixo índice letal, definindo também patamares28 de emprego dos meios violentos em situações de ordem pública.

De uma outra forma, face às constantes alterações legais dos diplomas reguladores da actividade da policial, a GNR foi emanando um conjunto de diplomas com a intencionalidade de sintetizar as várias referências publicadas em diversos diplomas legais, e também de esclarecer/adequar a actuação dos militares perante o mencionado nas redacções dos mesmos. Uma primeira referência a ter em conta é a Directiva n.º28/91 de 9 de Outubro de 1991, da 3.ª REP/GNR, porque fez uma súmula de toda a legislação até então existente sobre a utilização da arma de fogo. Após a publicação do Decreto-Lei n.º457/99, é enviada para o dispositivo29 a Circular n.º19/99 de 18 de Novembro da 3.ª REP/GNR, com o principal objectivo de “alertar os vários Comandos da GNR para esclarecerem os seus efectivos sobre as circunstâncias e a base legal que permitem o uso da força e da Arma de Fogo” (Oliveira, 2009: p.38). Esclarecendo também sobre o expediente a efectuar após a utilização da arma de fogo, foi enviado para o dispositivo a nota n.º9940, P.º 03.02.37.20, de 23DEC99, da 3ª Repartição/CG - Utilização de armas de fogo.

A GNR, considerando a problemática dos meios coercivos, descreveu em vários documentos de uma forma geral os princípios da sua utilização, fazendo com maior objectividade a regularização do recurso à arma de fogo.

3.4 SÍNTESE

Na actualidade, os constrangimentos ao uso da força na actividade policial são previstos por diversos diplomas legais internacionais e nacionais, como também o seu excesso é sujeito a uma crítica social muito mais veemente. Face a estes novos desafios, a actividade policial tem-se adequado aos novos diplomas e a esta realidade, através da adaptação aos procedimentos e à introdução de meios coercivos menos letais.

No caso da GNR, constatamos que os diplomas legais que estabelecem o seu funcionamento salvaguardam os princípios gerais da actividade policial, e de uma forma específica definem procedimentos de uma forma objectiva para a utilização da arma de fogo. Averiguámos também que relativamente aos restantes meios coercivos, mais

28

Vide Anexo C, Figura C.1.

(38)

Capítulo 3 Recurso a Meios Coercivos

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 20

precisamente o armamento de baixo índice letal, o quadro legal existente não é objectivo, fornecendo somente um enquadramento geral para o seu uso. A PSP deparando-se com um quadro legal nacional, criou um diploma que regulamenta a utilização dos meios coercivos30, envolvendo também as armas de baixo índice letal (ABIL), tema do trabalho.

30

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ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL: APLICAÇÃO OPERACIONAL 21

CAPÍTULO 4

ARMAMENTO DE BAIXO ÍNDICE LETAL

4.1 – INTRODUÇÃO

Na actualidade e face à conjuntura social existente, o principal objectivo das forças de segurança é manter uma elevada eficácia policial sem deixar de respeitar os valores inerentes à condição Humana. Assim, a grande maioria das alterações efectuadas actualmente, centra-se na alteração de métodos e técnicas policiais que simultaneamente preservem a eficácia e a integridade física. Com base nesta preocupação, surgiram nos últimos anos mecanismos que possibilitam, acrescentar mais um patamar prévio ao da utilização das armas de fogo - Armamento de Baixo Índice Letal – quando estamos perante a resolução de incidentes policiais.

Esta preocupação também foi assumida pelo poder político ao assumir alterações legislativas ao uso da força, veiculando os governos a tomar providências que “deverão incluir o aperfeiçoamento de armas incapacitantes “não-letais”, para uso nas situações adequadas, com o propósito de limitar cada vez mais a aplicação de meios capazes de causar morte ou ferimentos às pessoas”31.

A GNR a par das restantes forças policiais nacionais e internacionais, conscientes da necessidade de evolução, adquiriu alguns meios considerados como menos letais e que se enquadram como armas que podem reduzir os danos no cidadão, distribuindo-as para aplicação a algumas unidades e subunidades da sua estrutura orgânica.

4.2 DEFINIÇÃO

A utilização de armamento como utensílio de defesa e ataque é conhecido desde os primórdios da Humanidade.

Do senso comum, a imagem de arma transmite a ideia de morte, de um alto índice de letalidade decorrente do seu uso. Esta constatação é evidente porque durante séculos estes instrumentos foram sendo desenvolvidos com o objectivo crescente de causar o maior dano possível em seres e equipamentos. Definição que atinge o seu apogeu durante a Guerra Fria32 em que “os dois blocos digladiavam-se através da apresentação de armas cada vez mais potentes e destrutivas” (Oliveira, 2009: p.56).

Todavia, com o cimentar e salvaguardar internacional de vários direitos e garantias pessoais, a utilização de armas letais encontrou cada vez mais circunstancialismos legais

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Ponto 2 dos Princípios Básicos da Organização das Nações Unidas (Princípios da ONU). 32

Imagem

Figura 1.1  –  Modelo de Investigação do Trabalho.
Figura 1.2  –  Estrutura do trabalho.
Gráfico 6.1  –  Distribuição da SubUnidade  Gráfico 6.2  –  Distribuição do Género
Gráfico 6.5  –  Distribuição do Tempo de  Serviço
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