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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos.

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Academic year: 2021

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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 1

Consumidores e

não consumidores

de alimentos

orgânicos.

Moacir Darolt - Instituto Agronômico do Paraná

(2)

Resumo

O objetivo dessa investigação foi realizar um diagnóstico dos consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos em Curitiba-Paraná, traçando as características e o perfil sócio-econômico-cultural, conhecendo os hábitos de vida e percepções, identificando os motivos que levam ou não a consumir orgânicos, bem como as

potencialidades e entraves neste mercado. Para tanto, foi realizada uma pesquisa em três diferentes locais da cidade, por meio de questionários quali-quantitativos.

Os resultados mostram diferenças de hábitos de consumo e de vida entre consumidores de orgânicos (CO) e não consumidores (CNO), evidenciando maior conscientização, melhores hábitos de vida e engajamento de quem consome orgânicos. O estudo mostra que o comportamento do consumidor consciente se cria entre o primeiro e o terceiro ano de consumo e que consumidores temporários de orgânicos não são fiéis.

Apesar de já ter ouvido falar a respeito de produtos orgânicos, a maioria ainda não os consome. Dentre os principais motivos estão o preço, a dificuldade de acesso, a distância dos pontos de venda e a falta de informação.

DAROLT, Moacir

Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), darolt@iapar.br

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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 3

In tro

du ção

Apesar de representar uma parcela discreta do consumo total de alimentos, entre 1% e 2%, há evidências de um grande potencial de expansão da oferta de alimentos orgânicos no Brasil e no mundo (Willer; Lernoud, 2017). Um dos grandes desafios de segurança alimentar é aumentar a demanda de comida saudável e fresca, mantendo preços mais justos, apoiando a agricultura familiar e reconectando consumidores e produtores. Algumas iniciativas de grupos de consumo organizado começam a surgir no Brasil (Preiss e Marques, 2015) e apesar de incipientes em termos de cifras totais, atingem públicos diferenciados e mesclam apoio e informação aos consumidores e produtores, oferecem produtos orgânicos e agroecológicos a preços mais justos, incentivam os circuitos curtos de comercialização e a aproximação entre o urbano e o rural. A maioria dos consumidores de produtos orgânicos (72%) das principais capitais no Brasil ainda compra em supermercados, entretanto uma boa parte já complementa suas compras em pequenos varejos (42% em lojas especializadas) e cerca de 35% complementam suas compras em feiras do produtor (KLUTH et al., 2011). Segundo Darolt (2012) as formas alternativas de comercialização em circuitos curtos como feiras agroecológicas, cestas em domicílio, compras governamentais, vendas na propriedade, lojas especializadas começam a ganhar força e coexistir com outros circuitos longos. Ainda se conhece pouco sobre os hábitos de vida, as percepções e os motivos que levam as pessoas a consumir ou não um produto orgânico e, sobretudo, as diferenças e particularidades entre quem já consome e quem ainda não consome um produto orgânico. Nesse sentido, o objetivo principal do trabalho é investigar consumidores orgânicos e não orgânicos em diferentes locais de compra buscando comparar e traçar estratégias de diálogo com a agroecologia.

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Como a pesquisa

foi realizada

Para a operacionalização da pesquisa foram aplicados 312 questionários com questões qualitativas e quantitativas, entre os meses de novembro de 2013 e agosto de 2015 junto a consumidores orgânicos e não orgânicos da cidade de Curitiba-PR.

Foi realizada uma pré-tipologia definindo três perfis de locais diferenciados

frequentados por:

1) consumidores orgânicos (feiras orgânicas);

2) consumidores potenciais ou em

transição (feiras convencionais; sacolões) e 3) consumidores pouco informados sobre orgânicos (ruas centrais e terminais de ônibus). Os questionários foram aplicados de forma proporcional e representativa nos três grupos de consumidores de forma aleatória.

O formulário de pesquisa contou com trinta questões divididas em quatro blocos:

1. Conhecimento geral sobre alimentos orgânicos, com questões sobre definição, impactos positivos do consumo e

curiosidades;

2. Hábitos de consumo e de vida, questionando com que frequência o entrevistado costuma cozinhar, o que privilegia em suas compras, se pratica atividade física, se é vegetariano ou participa de movimentos sociais/ ambientais;

3. Questões específicas direcionadas a consumidores de orgânicos, visando identificar o conhecimento sobre

orgânicos, as motivações, percepções e dificuldades para consumir, gasto médio mensal, locais de compra, sugestões para melhoria dos espaços de comercialização, e;

4. O perfil do entrevistado, como sexo, idade, escolaridade, profissão, renda mensal e local de moradia.

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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 5

Os questionários foram tabulados em planilhas e os resultados analisados por meio de estatísticas descritivas e multivariadas.

Para análise e comparação dos resultados entre consumidores orgânicos (CO)

e Consumidores Não Orgânicos (CNO), foram levantadas algumas hipóteses: se os consumidores de orgânicos possuem um estilo de vida mais saudável e engajado, se cozinham mais em casa, se fazem

uso de medicina alternativa, se o grau de escolaridade e renda tem relação

com o conhecimento do produto, se o consumidor torna-se fiel com o passar dos anos, se tem hábitos mais saudáveis, entre outras. As hipóteses foram testadas pelo teste chi-quadrado de Pearson

(Plackett,1983), além de análise de correlação multivariada.

As duas populações (Consumidores Orgânicos – CO e Consumidores Não Orgânicos – CNO foram estatisticamente diferentes (p=< 5*10-2).

Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 5

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Resultados:

consumidor orgânico

tem hábitos mais

saudáveis

Os resultados foram focados numa análise comparativa entre os consumidores que efetivamente compram (CO) e aqueles que ainda não consomem (CNO), além de destacar particularidades entre os locais pesquisados.

Nos três locais pesquisados foi observado um perfil com predominância do público feminino (67%), não existindo diferenças significativas entre faixas etárias, predominando consumidores na faixa entre 30 e 60 anos. Apesar de os consumidores orgânicos apresentarem maior renda e escolaridade (a maioria tem curso superior) – a renda isoladamente não é um fator determinante para o consumo. O grupo de não consumidores com renda de até 3 salários mínimos e escolaridade menor (63% tem até o segundo grau) também tem interesse no consumo de orgânicos.

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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 7

O quadro 1 mostra diferenças de hábitos de consumo e de vida entre consumidores de orgânicos (CO) e não consumidores (NCO), apontando uma tendência de maior conscientização, hábitos de vida mais saudáveis e engajamento de quem consome orgânicos.

Quadro 1- Atividades e estilo de vida de consumidores e não consumidores de orgânicos em Curitiba-PR.

ATIVIDADES CONSUMIDORES

ORGÂNICOS (CO) NÃO CONSUMIDORES (NCO)

Vegetarianismo Horta em Casa

Uso de medicinas alternativas Cozinhar em casa

Pratica atividade física regularmente

Participa de movimentos ecológicos

Preocupação com desperdício de água

Preocupação com separação do lixo

Participa de movimentos de ciclistas

Participa de movimentos sociais

Pratica associativismo Utiliza a própria sacola

18% 43% 62% 91% 61%

11%

87%

94%

8%

9% 10% 49%

13% 23% 27% 72% 51%

2%

76%

79%

4%

3% 1,5% 42%

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Algumas atividades como a manutenção de uma horta apareceu como um costume comum entre os CO (43%) quase duas vezes mais frequente que entre os CNO (23%). O uso de medicina alternativa (homeopatia, acupuntura, florais, fitoterapia) foi muito mais presente entre hábitos dos CO (62 %) de que entre CNO (27%). O consumidor de produtos orgânicos tem mais costume de cozinhar em casa (91%) contra 72% entre os CNO. Outros aspectos relacionados à separação de lixo e desperdício de água mostraram diferenças pequenas entre as amostras.

Nos dois grupos o engajamento como cidadão ainda é marginal (menos de 10% de todos os entrevistados participam de movimentos sociais, ecológicos ou de mobilização social), denotando pouco engajamento da sociedade brasileira na esfera do consumo quando comparado com países desenvolvidos como mostraram Darolt e Lamine (2017).

Existe uma evolução no tempo em relação ao valor que o consumidor está disposto a pagar. Assim, quem compra produtos orgânicos há menos de um ano, a tendência é de não estar disposto a pagar mais quando comparado ao mesmo produto convencional (89% não estão dispostos a pagar 30% a mais). Para quem compra orgânicos (CO) há mais de um ano, mais da metade está disposto a pagar pelo menos 30% a mais. Os resultados sugerem que o comportamento do consumidor “mais consciente” se cria entre o primeiro e o terceiro ano de consumo. Ademais, consumidores temporários não tem se mostrado fiéis. A pesquisa apontou ainda que pessoas preferem comprar próximo dos locais de moradia, demostrando a importância de descentralização de feiras e pequenos mercados. A maior parte dos que consomem orgânicos (CO) podem ser considerados “consumidores fiéis”, pois consomem há mais de 2 anos, continuando a comprar regularmente, alguns há mais de 10 anos. A maioria conheceu a produção por amigos, familiares e nas diversas feiras que surgiram na cidade. Apesar de já ter ouvido falar a respeito de produtos

orgânicos, a maioria ainda não os consome. Dentre os principais motivos estão o preço, a dificuldade de acesso, a distância dos pontos de venda e a falta de informação. A saúde foi considerada o principal motivo para o consumo, seguido do “não uso de agrotóxicos”.

Entre todos os entrevistados 40% afirmaram não saber a diferença entre orgânicos e hidropônicos. Verduras, legumes e frutas são os produtos mais comprados; o que indica que produtos frescos e o fato de serem os próprios produtores que vendem ou entregam são atrativos desse mercado, com destaque para compra via feiras e entregas de sacolas acessadas via aplicativos e internet.

Sobre a demanda dos consumidores, ficou evidente na pesquisa a necessidade de uma maior variedade de frutas de época; além de espaço no mercado para derivados de milho, batata e mandioca; cogumelos; castanhas em geral; óleos vegetais prensados à frio; tofu; grãos germinados (alfafa, feijão); brotos bambu; castanha de cacau, chocolates, cereais, pães sem glúten e cosméticos orgânicos.

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Consumidores e não consumidores de alimentos orgânicos 9

Outra deficiência ainda mais pronunciada foi percebida na parte de produtos de origem animal (carne, frango, peixe, leite e derivados, ovos, queijos e embutidos), possivelmente relacionado as dificuldades com a legislação e agroindustrialização da produção artesanal. As principais dificuldades apontadas pelos consumidores continuam sendo o preço

elevado para determinados produtos (tomate, batata, frutas, processados e derivados animais) e dificuldade de encontrar locais de compra próximos da residência. Os selos de certificação ainda são pouco reconhecidos. De forma geral, 47% pagariam até 30% a mais nos produtos orgânicos, todavia no grupo de Não Consumidores (CNO) isso não ocorre. A maioria dos consumidores (63%) compra uma vez por semana e prefere circuitos curtos, o que equivale a menos de 50% do consumo total de alimentos da família, evidenciando um potencial a ser atendido. Cerca de 51% dos entrevistados gastam, em média, até R$ 200,00 por mês com produtos orgânicos. Existe uma demanda ainda não atendida que é a criação de aplicativos para celulares que permitissem a venda direta e conexão entre produtores e consumidores orgânicos.

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Con clu

são

O estudo mostrou que consumidores orgânicos quando comparados com consumidores não orgânicos tendem a um estilo de vida mais saudável, dedicando maior atenção à saúde física, privilegiando o uso de medicinas alternativas, dedicando mais tempo a cozinhar refeições em casa com produtos frescos e tendendo a cultivar uma pequena horta (temperos, aromáticas, outras) na residência.

A pesquisa mostrou que características do perfil de consumidores orgânicos e não orgânicos como faixa etária, sexo e a maior escolaridade e renda não foram fatores determinantes na compra de produtos orgânicos. Em ambos os grupos de estudo (orgânicos e não-orgânicos) a participação em movimentos sociais e ecológicos foi considerada irrelevante e não significativa, sugerindo pouco engajamento e dificuldade na organização de grupos de consumo.

Finalmente, os resultados apontam que o comportamento do consumidor orgânico

“mais consciente” se forma entre o primeiro e o terceiro ano de consumo, e que consumidores ocasionais não têm se mostrado fiéis.

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Referências

Bibliográficas

DAROLT, M.R. Conexão Ecológica: novas relações entre produtores e consumidores. Londrina: IAPAR, 2012. 162 p.

DAROLT,M.R.; LAMINE,C. Dimensões da produção e consumo de alimentos de base ecológica em circuitos curtos na França e no Brasil. In: Cadeias curtas e redes

agroalimentares alternativas: negócios e mercados da agricultura familiar / organizadores Márcio Gazolla e Sérgio Schneider. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2017. p. 327-352.

KLUTH,B.; BOCCHI JR.,U.; CENSKOWSKY, U. Pesquisa sobre o comportamento e a

percepção do consumidor de alimentos orgânicos no Brasil – 2010. München, Germany: Organic Services e Jundiaí-SP: Vitalfood, 38p.

PLACKETT,R.L. Karl Pearson and the Chi-Squared Test. International Statistical Review, 51 (1):59-72, 1983.

PREISS, P. V.; MARQUES, F. C. Tendências no movimento de re-localização alimentar

brasileiro: uma análise de Iniciativas Colaborativas de Compras. Tessituras, Pelotas, v. 3, n. 2, p. 269-300, jul./dez. 2015.

WILLER, H.; LERNOUD, J. (Eds.). The World of Organic Agriculture 2017. Research Institute of Organic Agriculture (FiBL), Frick and International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), Bonn. 2017.

(12)

Endereço: Rua Doutor Correa Coelho, 767 Jardim Botânico - 80210-350

Curitiba - PR - Brasil (41) 4106-3308

www.organis.org.br

Referências

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