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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 682.799 - PE (2004/0113464-6)

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (Relator):

Trata-se de recurso especial interposto pela UNIÃO, com fundamento na alínea a do permissivo constitucional, em face de acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado:

"CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. MOLÉSTIA PROFISSIONAL. AUSÊNCIA DE ESPECIFICAÇÃO LEGAL. PROVENTOS INTEGRAIS. POSSIBILIDADE.

- Servidora aposentada por moléstia profissional, devidamente comprovada, faz 'jus' a integralidade dos proventos.

- Exige-se previsão legal da patologia apenas nos casos de aposentadoria por doença grave, contagiosa ou incurável. Inteligência do art. 40 da CF/88 e do art. 186 da Lei 8.112/90.

- Ainda que se entendesse ser imprescindível a especificação da patologia para considerá-la moléstia profissional, deveria se ponderar que a D.O.R..T (substituição da nomenclatura L.E.R.) é uma doença de reconhecimento científico recente.

- Apelação e remessa oficial improvidas." (fl. 177)

Alega a União negativa de vigência ao art. 40, § 1º, inciso I, da Constituição Federal de 1988 e ao art. 186, inciso I, da Lei n.º 8.112/90, ao argumento de que a moléstia profissional, que enseja a aposentadoria integral, exige previsão legal expressa, tal como ocorre na aposentadoria integral por doença grave, contagiosa ou incurável.

Apresentadas as contra-razões às fls. 196/203, admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte.

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 682.799 - PE (2004/0113464-6)

EMENTA

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE. MOLÉSTIA PROFISSIONAL. DORT. NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVADA POR LAUDO PERICIAL. REFORMA DO ACÓRDÃO. INVIABILIDADE.

SÚMULA N.º 07/STJ. MOLÉSTIA PROFISSIONAL. DORT.

DESNECESSIDADE DE PREVISÃO LEGAL.

1. A Lei n.º 8.213/99, em seu art. 20, equipara a doença do trabalho ao acidente de trabalho, estabelecendo que a doença deve constar de relação organizada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS, sendo certo que os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT encontram-se descritos no Anexo II do Decreto n.º 3.048/99.

2. A Suprema Corte fixou a diretriz interpretativa do art. 186, inciso I, da Lei n.º 8.112/90, no sentido de que a concessão da aposentadoria integral por invalidez permanente não prescinde da análise da patologia que acometeu o servidor de modo a enquadrá-la como doença grave, contagiosa ou incurável – que carece de previsão legal – ou como moléstia profissional – que não exige tal requisito. Precedentes do STF.

3. Estando comprovados a existência de moléstia profissional, que incapacitou permanentemente o servidor, e o nexo de causalidade entre a enfermidade e as atividades desempenhadas no exercício do cargo público, a aposentadoria integral deve ser concedida ainda que ausente expressa especificação em texto legal da patologia.

4. A reforma do acórdão recorrido para afastar o entendimento de que a Recorrida ficou permanentemente inválida em decorrência do acometimento de DORT e que essa doença originou-se do exercício do cargo, se mostra inviável de ser realizada na via estreita do recurso especial, em face do entendimento sufragado na Súmula n.º 07/STJ, que veda o reexame de provas.

5. Recurso especial não conhecido.

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (Relator):

A Recorrida foi aposentada por invalidez com proventos proporcionais ao tempo de serviço no cargo de escrivã da Polícia Federal, no qual foi acometida por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT, conhecido também por LER - Lesões por Esforços Repetitivos.

O Tribunal a quo, mantendo a sentença de procedência, negou provimento à apelação da União, ao fundamento de que a Autora fora acometida por moléstia profissional, especificamente DORT, conforme perícia médica realizada, que constatou o nexo de causalidade com as atividades desempenhadas no cargo de escrivã de polícia. Ademais, afastou a exigência

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de a moléstia profissional estar expressamente prevista em lei, para ensejar a concessão de aposentadoria integral.

Em seguida, interpôs a União o presente recurso especial.

Pois bem. Inicialmente, vale destacar que a Lei n.º 8.213/91, em seu art. 20, equipara a doença profissional ao acidente de trabalho, estabelecendo que a doença profissional deve constar de relação organizada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS,

in verbis :

"Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

[...]

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I."

A relação mencionada no inciso I, à época da aposentação, encontrava-se descrita no Anexo II do Decreto n.º 3.048/99, no quadro intitulado "Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo, Relacionadas com o Trabalho, Grupo XIII da CID-10".

Por sua vez, a Norma Técnica sobre Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, aprovada pela Ordem de Serviço INSS/DSS n.º 606, de 05 de agosto de 1988, na Seção I, item n.º 2, vigente à época da aposentadoria, assim dispunha, in verbis :

"Entendemos Lesões por Esforços Repetitivos - LER como uma "síndrome clínica", caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não por alterações objetivas e que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros superiores em decorrência do trabalho .

O termo LER é genérico, e o médico deve sempre procurar determinar o diagnóstico específico. Como se refere a diversas patologias distintas, torna-se difícil estabelecer o tempo necessário para uma lesão persistente passar a ser considerada como crônica. Além disso, até a mesma patologia pode se instalar e evoluir de forma diferente, dependendo dos fatores etiológicos.

Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as lesões causadas por esforços repetitivos são patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, em conseqüência de trabalho realizado de forma inadequada. Assim, o nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde a proposta da nova terminologia Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho-DORT ."

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(grifo nosso)

Como se vê, é inquestionável o enquadramento dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT como moléstia relacionada ao trabalho, nos termos da legislação acima citada.

Dessa forma, caracterizados os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT como moléstia profissional, mostra-se necessário examinar se há necessidade de especificação da mencionada doença em texto lei, para que seja concedida a aposentadoria integral, na forma do art. 186, inciso I, da Lei 8112/90, tal como se é exigido para a aposentadoria integral decorrente de doenças graves, contagiosas ou incuráveis.

Com efeito, inicialmente, cumpre esclarecer que a aposentadoria por invalidez permanente está expressamente prevista no art. 40, inciso I, da Constituição Federal, sendo certo que a norma constitucional foi repisada no art. 186, inciso I, da Lei n.º 8.112/90, que cuida do Estatuto do Servidor Público Federal Civil.

A propósito, confira-se a redação dos mencionados dispositivos, litteris :

"Art. 40 - Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

[...]

I - por invalidez permanente , sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificadas em lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)"

"Art. 186. O servidor será aposentado: (Vide art. 40 da Constituição)

I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos; "

Nesse contexto, ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o mencionado dispositivo constitucional, distinguiu as hipóteses de aposentadoria por invalidez permanente ocasionadas por doença grave, contagiosa ou incurável das ocasionadas por moléstia profissional, no ponto relativo à necessidade de haver expressa especificação em texto legal da patologia adquirida pelo servidor

Segundo a Suprema Corte, a doença grave, contagiosa ou incurável capaz de ensejar a aposentadoria integral deve estar especificada em norma legal, enquanto, ao revés, a

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moléstia profissional prescindiria dessa especificação legal.

É o que se colhe do recente julgado, a seguir colacionado:

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PROVENTOS INTEGRAIS. MOLÉSTIA PROFISSIONAL. INTERPRETAÇÃO DE LEGISLAÇÃO LOCAL. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

1. Os proventos serão integrais quando o servidor for aposentado por invalidez permanente decorrente de moléstia profissional.

2. Reexame de fatos e provas e de legislação local. Inviabilidade do recursos extraordinário. Súmulas 279 e 280 do Supremo Tribunal Federal.

Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag

601.787/GO, 2ª Turma, Rel. Min. EROS GRAU, DJ de 07/12/2006)

Do voto condutor proferido pelo i. Ministro Relator extrai-se o elucidativo trecho,

in verbis :

"3. O acórdão supra está em consonância com o entendimento do Supremo Tribunal Federal que, em se tratando de aposentadoria decorrente de moléstia profissional, não há necessidade de uma lei apontando-a como suficiente a conduzir aos proventos integrais, como acontece no caso de doença grave,contagiosa ou incurável. Nesse sentido, o RE n.º 175.980, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 20.2.1998, ementa que transcrevo juntamente como o voto exarado pelo Ministro Marco Aurélio para melhor elucidação da controvérsia:

"EMENTA - CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO: APOSENTADORIA INVALIDEZ. MOLÉSTIA GRAVE: ESPECIFICAÇÃO EM LEI. CF., ART. 40, I.

I - Os proventos serão integrais quando o servidor for aposentado por invalidez permanente decorrente de moléstia profissional ou doença grave, contagiosa oi incurável, especificadas em lei. Se não houver essa especificação, os proventos serão proporcionais: C.F., art. 40, I.

II - R.E. conhecido e provido". VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Senhor Presidente, diante da explicitação de que em jogo se fez não moléstia profissional, mas doença grave, tenho que nesse caso há necessidade de uma lei apontando-a como suficiente a conduzir aos proventos totais.

Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator."

Como se vê, a Suprema Corte fixou a diretriz interpretativa do art. 186, inciso I, da Lei n.º 8.112/90, no sentido de que a concessão da aposentadoria integral por invalidez permanente não prescinde da análise da patologia que acometeu o servidor de modo a enquadrá-la como doença grave, contagiosa ou incurável – que carece de previsão legal – ou como moléstia profissional – que não exige tal requisito.

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Nessa esteira, estando comprovados a existência de moléstia profissional, que incapacitou permanentemente o servidor, e o nexo de causalidade entre a enfermidade e as atividades desempenhadas no exercício do cargo público, a aposentadoria integral deve ser concedida ainda que ausente expressa especificação da moléstia profissional em texto legal.

No caso em tela, como já ressaltado, os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT restaram caracterizados como moléstia profissional, e o nexo causal entre o exercício do cargo e o acometimento da doença foi devidamente comprovado pelo Tribunal de origem, por meio laudo pericial e provas constantes dos autos.

Nesse contexto, a reforma do acórdão recorrido para afastar o entendimento de que a Recorrida ficou permanentemente inválida em decorrência do acometimento de DORT e que essa doença originou-se do exercício do cargo, se mostra inviável de ser realizada na via estreita do recurso especial, em face do entendimento sufragado na Súmula n.º 07/STJ, que veda o reexame de provas.

A propósito:

"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DOENÇA PROFISSIONAL GERANDO INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. LER ou DORT. CERCEAMENTO DE DEFESA. NEXO CAUSAL. JUROS MORATÓRIOS. DANDOS MORAIS. PRECEDENTES DA CORTE.

1. Não há falar em cerceamento de defesa diante do indeferimento de nova prova pericial, considerada idônea a perícia realizada. O tema da qualificação do profissional não foi tratado no acórdão, e, ainda, a circunstância da associação com patologia psiquiátrica não malfere o cerne da incapacidade gerada pela LER – Lesão por Esforço Repetitivo.

2. O nexo causal foi devidamente identificado pelo Tribunal de origem, com base no laudo pericial objetivamente posto, com identificação de doença incurável em decorrência do trabalho exercido, impossível de reexame diante da Súmula nº 7 da Corte.

3. Os juros moratórios devem seguir o padrão legal de 6% ao ano. 4. A jurisprudência da Corte já assentou que não há falar em prova do dano moral, mas, apenas, do fato que lhe deu causa.

5. Recurso especial conhecido e provido, em parte." (REsp

595.355/MG, 3ª Turma, Min. Rel. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ de 11/04/2005; sem grifo no original.)

Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso especial, mantendo o acórdão recorrido na íntegra.

É o voto.

MINISTRA LAURITA VAZ Relatora

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