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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS ESTRATÉGICOS INTERNACIONAIS

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS ESTRATÉGICOS INTERNACIONAIS

LISBOA AUGUSTO MACHAVANE

LIMITES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOÇAMBIQUE: UMA ANÁLISE DA ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

Porto Alegre

2021

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LISBOA AUGUSTO MACHAVANE

LIMITES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOÇAMBIQUE: UMA ANÁLISE DA ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Faculdade de Ciências Económicas da UFRGS, como requisito parcial e final à obtenção do título de Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais, área de concentração de Economia Politica Internacional

Orientadora: Profª. Dra. Verônica Korber Gonçalves

Porto Alegre 2021

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LISBOA AUGUSTO MACHAVANE

LIMITES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM MOÇAMBIQUE: UMA ANÁLISE DA ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

Tese submetida ao Programa de Pós- Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Faculdade de Ciências Económicas da UFRGS, como requisito parcial e final à obtenção do título de Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais, área de concentração de Economia Politica Internacional.

Aprovada em: Porto Alegre, 16 de dezembro de 2020.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Verónica Korber Gonçalves

UFRGS

_____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Inês Raimundo

UEM (Moçambique)

_____________________________________________ Prof. Dr. João Gabriel de Barros

UJC (Moçambique)

_____________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Ernesto Filippi

UFRGS

____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Jacqueline Angélica Hernández Haffner UFRGS

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Dedico, a presente tese à minha esposa Sérgia Helana Mazivila Machavane, pela sua empatia ao longo dos anos e pela família que me deu.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora Veronica Korber Gonçalves, primeiro por ter aceitado a difícil tarefa de orientar o trabalho e com muita paciência fê-lo com dedicação e seriedade. Em segundo, agradeço pelo trato simples, correcto como fomos abordando o tema. Em terceiro por me ter feito participante do grupo de pesquisa GERIMA, uma verdadeira escola e debates de temas actuais sobre desenvolvimento, mudanças climáticas, entre outros. Obrigado Professora. Ao Dr. José de Jesus Mateus Pedro Mandra, Reitor da Academia de Ciências Policiais, pela oportuniddade que me concedeu de continuar com os meus estudos ao nível de doutorado, no meio de tanta dificuldade financeira que a instituição atravessa.

Agradeço ao Prof. Dr. Fernando Francisco Tsucana, Vice-reitor da Academia de Ciências Policiais pelo companheirismo ao longo dos anos e pela inspiração na realização dos três níveis do ensino superior. À Professora Dra. Inês Raimundo que no momento de indecisão sobre que instituição para continuação de estudos, sem se aperceber, acabou influenciando para experimentar outros horizontes. Agradeço ao Prof. Dr. João Gabriel de Barros pelo apoio na forma de abordagem conceptual.

Agradeço aos docentes da Universidade Federal do Rio Grande de Sul, Faculdade de Ciências Económicas Programa de Pós-graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI) pela forma simples e clara na interacção com os doutorandos ao longo dos quatro anos. Professores Visentini, Eduardo Filippi, Jacqueline Haffner, entre outros. Ao Professor André Reis, um agradecimento especial pela paciência que teve com os doutorandos como coordenador. À minha esposa Sérgia Helena Mazivila Machavane, às minhas filhas, Felicina, Edna, Afrânia, Érica, Yórica e Shéron, aos meus genros Cassamo e Isaque Sulemane, netinhos, agradeço-vos pela paciência e motivação. Aos meus amigos, Domingos Bihale que no meio de cansaço e desespero, sempre soube apoiar e, Fernando Concelho que mesmo fora do País foi-se interessando sempre dando força e apoio. Aos Professores Alice Langa, capitã em horas difíceis, José Cossa, Mestres Venâncio Alfiado e Francisco Bilério pelo apoio na revisão dos textos. Agradeço à minha mãe, sogra e todos companheiros da turma que directa ou indirectamente tornaram possível, o meu sonho.

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RESUMO1

O presente trabalho versa sobre os Limites de Desenvolvimento Sustentável em Moçambique: uma análise da Estratégia Nacional de Desenvolvimento. A Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Moçambique aborda a necessidade de desenvolvimento sustentável, mas, ao longo do discurso, nota-se que o enfoque está mais virado para um desenvolvimento baseado no extractivismo. Deste modo, questiona-se sobre os limites de desenvolvimento sustentável de Moçambique tendo em conta que a sua economia é dependente da exploração e uso intensivo dos recursos naturais. O objectivo central visa compreender os limites de desenvolvimento sustentável em Moçambique. A pesquisa justifica-se pela necessidade de encontrar uma explicação como Moçambique pode superar os limites domésticos e estruturais através da teoria de dependência. A importância da escolha desta teoria, reside no facto de poder encontrar nela elementos de debate sobre a relação entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento. Para conseguir atingir o objectivo traçado, seguiu-se o método hipotético – dedutivo e a abordagem qualitativa. A pesquisa é explicativa, pois, para além de identificar os limites de desenvolvimento sustentável, procura explaná-los a partir da uma leitura crítica da estratégia nacional de desenvolvimento e de outros documentos estruturantes tais como o programa nacional de desenvolvimento sustentável, programa quinquenal do governo, entre outros. Concluiu-se que, o desenvolvimento de Moçambique requer um novo paradigma, propondo-se um modelo que se apoie na economia de conhecimento da natureza que representa uma combinação do conhecimento das populações tradicionais com métodos trazidos da 4ª Revolução Industrial, seja no monitoramento das actividades produtivas, seja, sobretudo, para ampliar o conhecimento e a exploração de produtos cuja composição e utilidade hoje ainda pouco se conhece.

Palavras-chave: Limites de desenvolvimento. Desenvolvimento. Desenvolvimento sustentável. Estratégia Nacional de Desenvolvimento. Teoria da dependência. Economia extractiva.

1 A Tese está escrita em Português de Moçambique

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ABSTRACT

This work is about the Limits of Sustainable Development in Mozambique: an analysis of the National Development Strategy. The National Development Strategy of Mozambique addresses the need for sustainable development, but throughout the discourse it is noted that the focus is more on development based on extractivism. Thus, it is questioned about the limits of sustainable development in Mozambique taking into account that its economy is dependent on the exploitation and intensive use of natural resources. The central objective is to understand the limits of sustainable development in Mozambique. The research is justified by the need to find an explanation of how Mozambique can overcome domestic and structural limits through dependency theory. The importance of the choice of this theory lies in the fact that it can find elements of debate on the relationship between development and underdevelopment. In order to achieve the outlined goal, the hypothetical - deductive method and the qualitative approach were followed. The research is explanatory because, in addition to identifying the limits of sustainable development, it seeks to explain them from a critical reading of the national development strategy and other structuring documents such as the national sustainable development program, five-year government program, among others. It was concluded that the development of Mozambique requires a new paradigm, proposing a model that is based on the economy of knowledge of nature that represents a combination of knowledge of traditional populations with methods brought from the 4th Industrial Revolution, either in monitoring productive activities, or, above all, to expand the knowledge and exploitation of products whose composition and usefulness is still little known today.

Keywords: Limits of development. Development. Sustainable development. National Development Strategy. Dependency theory. Extractive economy.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação esquemática do conceito de Desenvolvimento Sustentável, no Diagrama de Venn (a esquerda) e Nested (a direita) ... 65

Figura 2 - Estrutura Económica e Social de Moçambique no período Colonial ... 70 Figura 3 - Mapa de Moçambique ... 73

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Contribuição dos Mega-projectos no Investimento Directo Estrangeiro ... 82

Gráfico 2 - População Activa por Sector... 83

Gráfico 3 - Estrutura etária segundo Grupos Funcionais ... 90

Gráfico 4 - % dos AFs segundo o tipo de saneamento ... 90

Gráfico 5 - % do AFs segundo qualidade de água para beber ... 94

Gráfico 6 - Alocação de Despesas em Percentagem ... 132

Gráfico 7 - Despesas nos Sectores Economicos e Sociais ... 135

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dimensões da sustentabilidade segundo Sachs (1993)...63 Quadro 2 - Prioridades estratégicas do PNDS...119 Quadro 3 - Conceitos de desenvolvimento e meio ambiente nos PES 2015 a 2019...125 Quadro 4 - Convenções ratificadas por Moçambique no âmbito da conservação da

Biodiversidade...165 Quadro 5 - Resultados dos acordos, protocolos e compromissos firmados...168

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dimensões da sustentabilidade segundo Sachs (1993) ... 75

Tabela 2 - Importações de Bens por País de Origem (USD milhões) ... 77

Tabela 3 - Principais produtos de importação (10³ USD) ... 79

Tabela 4 - Indicadores macroeconómicas ... 80

Tabela 5 - Evolução da produção das culturas de rendimento e culturas básicas (10³t) ... 84

Tabela 6 - Evolução da produção florestal (2015-2019) ... 85

Tabela 7 - Capturas registadas da pesca industrial e semi-industrial (2015-2019) ... 88

Tabela 8 - Contribuição para taxa de crescimento ... 96

Tabela 9 - Evolução da Taxa de analfabetismo por sexo, 2007/2017 ... 96

Tabela 10 - Taxa de analfabetismo por sexo segundo área de residência ... 98

Tabela 11 - Mortalidade Infantil ... 130

Tabela 12 - Prioridades estratégicas do PNDS ... 133

Tabela 13 - Conceitos de desenvolvimento e meio ambiente nos PES 2015 a 2019 ... 138

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AA Avaliação Ambiental AC Áreas de Conservação AFs Agregados Familiares

ANAC Administração Nacional das Áreas de Conservação

BM Banco Mundial

BM/DER Banco de Moçambique BR Boletim da República

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul CDB Convensão sobre a Diversidade Biológica

CEPAL Comissão Económica para a América Latina e Caribe CIP Centro de Integridade Pública

Co2 Dióxido de Carbono

CQMC Core Quality Measure Collaborative CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação

DEC Domicílio Electrônico do Contribuinte DIT Divisão Internacional do Trabalho DS Desenvolvimento sustentável

DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra

EADS Estratégia Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável EN Estrada Nacional

END Estratégia nacional de desenvolvimento

ESCDM Estratégia da Suécia para a Cooperação para o Desenvolvimento com Moçambique

EUA Estados Unidos de América

FDA Fundo de Desenvolvimento Agrário FDD Fundo de Desenvolvimento Distrital FMI Fundo Monetário Internacional FOFAC Fundo de Cooperação China- África FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique GCT Grandes Corporações Internacionais GEE Gases com efeito estufa

HE Hyper Expansion

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HIV Human Immuno-Deficiency Virus / Virus da Imunidificência humana IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IESE Instituo de Estudos Económicos e Sociais

INDC Intended Nationally Determined Contributions/ Contribuição Nacionalmente Determinada

INE Instituto Nacional de Estatística

ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros ISID Desenvolvimento Industrial Inclusivo KM Quilómetro

MANU Mozambique African National Union MARP Mecanismo Africano de Revisão de Pares

MASA Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar MC Mudança Climática

MFA Ministry For Foreign Affairs

MGCAS Ministério do Género, Criança e Acção Social MIC Ministério da Indústria Comércio

MICOA Ministério de Coordenação Ambiental

MITADER Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

MT Metical

NEPAD Nova Parceria para o Desenvolvimento de África NOE Nova Ordem Económica

OBS Observações

OCED Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ODM Objectivos do De senvolvimento do Milénio

ODS Objectivos de Desenvolvimento Sustentável OE Orçamento Estado

ONGs Organizações Não-governamentais ONU Organização das Nações Unidas

ONUD Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial PARP Programa para a Redução da Pobreza

PEANAC Plano Estratégico da Administração Nacional das Áreas de Conservação PES Plano económico e social

PES,s Planos económicos e sociais PIB Produto Interno Bruto

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PII Programa Integrado de Investimento PNB Produto Nacional Bruto

PNDS Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável PPI Plano Prospectivo Indicativo

PQG Programa quinquenal do governo PRE Programa de Reabilitação Económica PSD Países Subdesenvolvidos

QGAS Quadro de Gestão Ambiental e Social RI Revolução Industrial

RSA República SulAfricana

SADC Coordenação para Desenvolvimento da África Austral SHE Sane Human Ecologica

SI Sistema Internacional

SRI Sistema de Relações Internacionais

UDENAMO União Democrática Nacional de Moçambique

UNAMI União Nacional Africana de Moçambique Independente UNICEF Fundo das Nações Unidas Para a Criança

ZEE Zona Económica Exclusiva

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

2 DISCUSSÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO ... 24

2.1 TERMO DESENVOLVIMENTO E A ANÁLISE DOS DEPENDENTISTAS .. 26

2.1.1 Desenvolvimento: perspectiva dependentista ... 32

2.1.2 Uma explicação sistémica para o subdesenvolvimento ... 33

2.1.3 Divisão Internacional do Trabalho como promotora do Subdesenvolvimento36 2.1.4 Desenvolvimento e desigualdade ... 42

2.3 DESCONSTRUÇÃO DO CONCEITO DESENVOLVIMENTO: UMA ANÁLISE SOB O PARADIGMA SUSTENTÁVEL ... 48

2.3.1 Do desenvolvimento ao desenvolvimento sustentável ... 50

2.3.2 Desenvolvimento sustentável: uma leitura dependentista ... 59

2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS ... 65

3 ESTRUTURA ECONÓMICA E SOCIAL DE MOÇAMBIQUE ... 67

3.1 ESTRUTURA ECONÓMICA DE MOÇAMBIQUE NO PERÍODO 2015-2019 69 3.1.1 Agricultura ... 73

3.1.2 Pesca ... 77

3.1.3 Indústria... 78

3.2 ESTRUTURA SOCIAL DE MOÇAMBIQUE PERÍODO 2015-2019 ... 81

3.2.1 Educação ... 82

3.2.2 Saúde ... 85

3.2.3 Mortalidade ... 86

3.2.4 Saneamento ... 88

3.3 REFLEXÕES SOBRE A ESTRUTURA ECONÓMICA, SOCIAL E AMBIENTAL DE MOÇAMBIQUE 2015-2019... 90

3.4 INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO E SUA INFLUÊNCIA ... 92

NA ESTRUTURA ECONÓMICA E SOCIAL DE MOÇAMBIQUE ... 92

3.5 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS ... 98

4 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (2015-2035) E SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MOÇAMBIQUE ...100

4.1 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE 2015-2035 ...101

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4.2 PROGRAMA QUINQUENAL DO GOVERNO E PLANOS ECONÓMICOS E

SOCIAIS (2015- 2019) ...120

4.2.1 Programa Quinquenal do Governo (2015-2019) ...120

4.2.2 Planos Económicos e Sociais 2015-2019 ...124

4.3 ORÇAMENTAÇÃO DO ESTADO PARA O QUINQUÉNIO 2015-2019 ...129

4.4 CONSIDERAÇÃO PARCIAIS ...138

5.1 CONSTRAGIMENTOS ENDÓGENOS ...141

5.1.1 Dimensão económica ...142

5.1.2 Dimensão social...149

5.1.3 Dimensão ambiental ...154

5.1.4 Dimensão espacial ...156

5.1.5 Dimensão cultural ...158

5.1.6 Dimensão Estrutural ...160

5.2 CONSTRANGIMENTOS EXÓGENOS ...170

5.3 DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS PRÓXIMAS ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE ...172

6 CONCLUSÕES ...181

REFERÊNCIAS ...187

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1 INTRODUÇÃO

Moçambique está a conhecer importantes transformações sociais, económicas, políticas e ambientais, decorrentes da descoberta e exploração de recursos naturais, com destaque para os minerais que representam uma oportunidade para tornar a economia nacional mais competitiva. O País também está a sofrer profundas mudanças ambientais, sobretudo devido às alterações climáticas que podem perigar os ganhos de desenvolvimento alcançados e almejados fundamento bastante para a elaboração da Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2015-2035, que tem como objectivo geral elevar as condições de vida da população através da transformação estrutural da economia, expansão e diversificação da base produtiva.

Entretanto, é um país que enfrenta dificuldades no âmbito económico-social, ambiental e mesmo cultural. O desenvolvimento sustentável enfocado na Estratégia Nacional de Desenvolvimento, só é possível superando estas dificuldades. É uma economia extractivista, como tal o seu desempenho está virado para o mercado internacional. O mercado internacional está organizado entre aqueles que fornecem matérias-primas e são ao mesmo tempo consumidores e aqueles que ditam as regras de acordo com a organização do sistema internacional. Esta situação, associada a exploração ilegal dos recursos e a corrupção pode pôr em causa o desenvolvimento sustentável. É dentro deste contexto que surgiu o tema: Limites de Desenvolvimento Sustentável em Moçambique: uma análise da Estratégia Nacional de Desenvolvimento, que se insere linha de Pesquisa Economia Política Internacional. Abordar o tema utilizando o conceito limite remete à análise dos constrangimentos que impactam o desenvolvimento de Moçambique. Sendo assim, no capítulo da análise dos limites, como forma de contornar o conceito, estes serão abordados como constrangimentos para o desenvolvimento sustentável de Moçambique.

A questão que se coloca é: quais são os limites de desenvolvimento sustentável de Moçambique tendo em conta que a sua economia depende da exploração e uso intensivo dos recursos naturais?

De uma forma geral procura-se compreender os limites de desenvolvimento sustentável em Moçambique, tendo em conta que o País tem altos índices de pobreza e, a sua estrutura económica é dependente da exploração e utilização intensiva dos recursos naturais. Especificamente pretende-se apresentar um quadro teórico

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relacionado à noção de desenvolvimento sustentável com maior enfoque na teoria de dependência; descrever a estrutura económica e social de Moçambique numa perspectiva histórica e sua relação com o meio ambiente; analisar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento de Moçambique a partir da sua estrutura económica.

A pesquisa é desenvolvida partindo do pressuposto geral de que o modelo de desenvolvimento seguido por Moçambique é um projecto internacional de gestão de recursos naturais de áreas ecológicas importantes. Sendo assim, a retórica de desenvolvimento sustentável sustenta acções políticas e legitima determinados grupos, obscurecendo que as decisões são tomadas por alguns e colocadas como globais para todos. Ele implica a exploração acelerada da flora, fauna, recursos marinhos e dos recursos minerais, com impacto directo sobre o meio ambiente.

De forma específica assume-se que o quadro institucional e política do meio ambiente que sustentam os desafios de desenvolvimento sustentável em Moçambique chocam com os planos e programas governamentais que tem como base a exploração intensiva dos recursos naturais. Na prática, a Estratégia tem maior enfoque, nas entrelinhas, para a indústria extractiva, indústria transformadora, Agricultura comercial e, na energia enfocada nos hidrocarbonetos que são grandes emissores de Gás com Efeito Estufa (GEE), o que dificulta a realização dos compromissos de Moçambique assinados e ratificados nos acordos ambientais de forma geral.

A escolha deste tema justifica-se pelo seu grau de importância e actualidade. Moçambique desenhou e começou a implementar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento e dentro dos seus objectivos está o desenvolvimento industrial e o desenvolvimento sustentável. Além destes objectivos, a estratégia torna claro que Moçambique é uma economia extractivista e por aquilo que se teoriza deste tipo de economia, ela está virada para fora, alimenta as indústrias dos países industrializados, tornando mais pobres os países pobres. Por essa via, a pesquisa tenta encontrar a explicação sobre como Moçambique, estando dentro de um sistema comandado por outros pode realizar o objectivo de desenvolvimento sustentável. A Estratégia Nacional de Desenvolvimento é um documento de base que orienta as políticas de desenvolviemnto do país por um período de 20 anos. Não se pode falar de desenvolvimento sem se olhar a estratégia, tanto que é na estratégia onde se encontra a orientação do Estado moçambicano por esse período. Tratando-se de uma tese que discute desenvolvimento de Moçambique, não tem como não olhar para estratégia a partir do qual possa chegar aos outros documentos.

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Um outro acontecimento que justifica a escolha do tema é o facto de se falar do desenvolvimento sustentável dentro da própria estratégia e, sabendo que o conceito em si parece estar viciado como justificam alguns autores que discordam dele. Segundo Almeida (2010)2, o desenvolvimento sustentável exige claramente que haja crescimento económico em regiões onde tais necessidades não estão a ser atendidas, por um lado. Por outro, fala-se do desenvolvimento económico em países que durante longos anos foram a base para o desenvolvimento dos países que hoje impõe a agenda global. Entretanto, tal como aqueles países, os de periferia olham para os recursos naturais como base para alavancar o seu desenvolvimento. O ponto central e relevante é como um país como Moçambique, dependente do investimento directo estrangeiro e de uma economia comandada pelas multinacionais, com défices nos sectores primários como a educação e saúde, pode falar de desenvolvimento sustentável!

A tese busca explicar as formas como Moçambique pode superar os constrangimentos endógenos e exógenos através da teoria de dependência. A importância da escolha desta teoria para explicar os constrangimentos é o facto de encontrar nela elementos de debate sobre a relação centro - periferia que outras teorias, ainda que expliquem, declinam mais para as teorias eurocêntricas e evolucionistas.

Em relação à metodologia, optou-se pelo método hipotético – dedutivo porque partiu-se da identificação da área de interesse da pesquisa, seguida da revisão preliminar da literatura e informação, definição do problema de pesquisa, formulação de hipóteses, desenho da investigação, análise e interpretação da informação recolhida, que culminou com a dedução das hipóteses formuladas.

No que tange à abordagem, a pesquisa é qualitativa. Este tipo de pesquisa tem uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. Que também existe um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito e que não pode ser traduzido em números, absolutos ou percentuais (LUNDIN, 2016). A autora avança que a interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados são básicos no processo desta pesquisa e que não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. Ainda sobre a

2 O autor questiona o conceito de desenvolvimento sustentável analisando a perspectiva de desenvolvimento dos países desenvolvidos que segundo ele são: altamente industrializados considerados desenvolvidos, produzem-se necessidades cada vez maiores de se aumentar o consumo de energia, mercadorias e, nesta trajectória se conjugam os esforços de países subdesenvolvidos. Qual seria o limite de contenção dessa fúria de consumo? Ou será que não teria que ser contida, já que faz parte das aspirações humanas, um dos objectivos do desenvolvimento? Questiona ainda sobre: Como resolver o dilema da miséria social e da degradação ambiental pelo Progresso e Desenvolvimento, sendo que o modelo de sua ampliação significaria uma ampliação de novos consumidores, gerando mais resíduos ambientais?

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mesma temática, Richardson (1999, p.79), concordando com Lundin (2016), explica que: “a abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenómeno social”. Para o desenvolvimento da presente pesquisa não se recorreu a métodos e técnicas estatísticas. Pelo contrário, descreveu-se a estrutura económica e social de Moçambique numa perspectiva histórica e sua relação com o meio ambiente. A maior preocupação nesta pesquisa foi interpretar o conceito de desenvolvimento sustentável a partir da realidade de Moçambique e, não necessariamente, a mensuração de variáveis relacionadas com indicadores do desenvolvimento sustentável.

Quanto à natureza a pesquisa é básica porque tem como finalidade aprofundar conhecimentos sobre o desenvolvimento sustentável, compreendendo os seus limites na realidade moçambicanos. De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p.51) a pesquisa básica “objectiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais”. É nesta perspectiva que se fundamenta a pesquisa que ora se apresenta.

Do ponto de vista de objectivos, a pesquisa é explicativa, pois, para além de identificar os limites de desenvolvimento sustentável, procura explaná-los a partir da uma leitura crítica da estratégia nacional de desenvolvimento e de outros documentos estruturantes tais como o programa nacional de desenvolvimento sustentável, programa quinquenal do governo, entre outros.

A pesquisa é bibliográfica e documental quanto aos procedimentos. Estas foram as técnicas do suporte teórico e metodológico para a concepção do problema, para a elaboração do projecto e para análise e interpretação dos dados recolhidos. A revisão bibliográfica foi desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos científicos. Segundo Gil (1999, p.65), a pesquisa bibliográfica e documental tem a vantagem de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar directamente. Neste sentido, a análise documental consistiu em uma série de operações que visavam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e económicas com as quais podem estar relacionados (RICHARDSON, 1999).

Gil (1999) acrescenta que este tipo de pesquisa segue os passos da pesquisa bibliográfica, mas que esta vale-se muito de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objectivos

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da pesquisa, é assim que se foram lendo outros documentos que não sofreram nenhuma crítica. Portanto, trata-se de documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, etc. Foram também estudados documentos de segunda mão como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas, etc. Deste modo, a presente pesquisa foi desenvolvida a partir de livros e artigos científicos sobre desenvolvimento, desenvolvimento sustentável, teoria da dependência, entre outros. Neste ponto, destacam-se autores como Gilbert Rist3, José Veigas4, Raúl Prebisch5, Ignacy Sachs6, Jeffrey Sachs7, Alberto Acosta8 e Ricardo Abramovay9. A escolha destes autores resulta do tipo de abordagem em relação ao conceito desenvolvimento e desenvolvimento sustentável. Por exemplo, Gilber Rist critica o termo desenvolvimento sustentável olhando-o como mais uma forma de o Ocidente submeter os países em desenvolvimento. José Veigas e Ignacy Sachs são autores que, embora liberais, fazem uma crítica ao conceito desenvolvimento sustentável trazido pelo relatório de Bruntland. Ignacy, especificamente, a sua abordagem é sobre como promover o desenvolvimento ajudou na identificação dos limites de desenvolvimento. Alberto Acosta trata, em vários textos sobre o extractivismo e seu significado para as economias periféricas. Este autor foi útil na análise da economia de Moçambique tendo em conta que é uma economia extractiva. Jeffrey Sachs, é um crítico ao desenvolvimento proposto pelo ocidente. A obra deste ajudou para a definição de alguns conceitos. Raúl Prebisch é um teórico dependentista que ajudou na definição do conceito centro – periferia, porque aborda de uma forma incisiva as relações entre o norte e o sul e propõe acções para a solução das

3 RIST, Gilbert. El Desarrollo: historia de una creencia occidental, 2002. http://reko.utem.cl/assets/asigid_7389/contenidos_arc/60011_L-07-GilbertRist- pdf. Acessado em 2/3/2019.

RIST, Gilbert. The History of Development: From Western Origins to Global Faith. Third edition, New York: Zed Books Ltd, 2008.

4 VEIGA, José Ali da; ZATZ, Lia. Desenvolvimento Sustentável, que bicho é esse? Campiras, SP: Autores Associados, 2008

5 PREBISCH, Raúl. El desarrollo economic de la América Latina y algunos de sus Principales Problemas. Desarrollo Económico, Vol.26, nº 103, Ed. JSTOR, 1986.

6 SACHS, Ignacy. Estratégias de Transição para o Século XXI. In. BURSZTYN, Marcel (Org.). Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável, Editora brasiliense, S. Paulo, 1993.

SACHS, Ignacy. Ambiente e Sociedade, vol. VII, nº. 2 julho/dezembro. 2004.

7 SACHS, Jeffrey D. Common Wealth: Um novo modelo para a economia mundial, Sociedade Editora, 2008.

8 ACOSTA, Alberto. Extractivism and neoextractivism: two slides of the same curse. In LAND, M.; MORKANI, D. (Ed.)Beyond Development. Alternative vision from Latim America. Quito: Fundation Rose Luxemburg, 2013.

9 ABRAMOVAY, Ricardo. Amazônia. Por uma economia de conhecimento da natureza, São Paulo. Edições Terceira Via, 2019.

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diferenças. Prebisch é um dos cepalinos que ajudou na discussão sobre o desenvolvimento e desigualdade, assim como suas propostas sobre como resolver os problemas do fosso entre Norte e o Sul global. No geral os cepalinos definem princípios sobre como chegar a um desenvolvimento sustentável. Por sua vez, Ricardo Abramovay foi importante na proposta do desenho de um novo modelo do desenvolvimento que se apoia no conhecimento da natureza.

Além disso, foram analisados vários relatórios dos ministérios e várias organizações interessadas na sustentabilidade do desenvolvimento, bem como, contratos de empresas que estão envolvidos na pesquisa e exploração dos recursos naturais, artigos dos jornais com maior circulação que tratam do objecto da pesquisa, material bibliográfico disponível na Internet. Neste sentido, analisaram-se documentos tais como: a estratégia nacional de desenvolvimento 2015-2035, os planos económicos e sociais dos últimos 5 anos, o relatório balanço do Quinquénio 2015-2019, a Agenda 2025, a agenda 2060, o programa quinquenal do governo 2015-2019, entre outros.

Em termos de estrutura, O trabalho está divido em cinco capítulos a contar com a parte introdutória. O segundo, intitulado por um conceito de Desenvolvimento. O objectivo é apresentar um quadro teórico relacionado à noção de desenvolvimento sustentável com o enfoque específico sobre os limites do mesmo para os países do Sul Global. Para tanto faz-se uma revisão bibliográfica acerca do contexto histórico e teórico do conceito desenvolvimento e desenvolvimento sustentável. A abordagem destes conceitos é feita buscando as visões do Norte e do Sul global. A teoria de análise é de dependência que é uma teoria crítica ao conceito de desenvolvimento apregoado pelo Norte Global. Discute-se os conceitos de desenvolvimento e de desenvolvimento sustentável. Os subcapítulos fazem várias abordagens entre elas a de nova dependência.

O terceiro capítulo é intitulado estrutura económica e social de Moçambique. Tem como objectivo descrever a estrutura económica e social de Moçambique numa perspectiva histórica e sua relação com o meio ambiente. A descrição visa compreender os limites de desenvolvimento sustentável em Moçambique, tendo em conta que o país tem altos índices de analfabetismo, de desemprego e de pobreza, com uma estrutura económica e social dependente da exploração e utilização intensiva dos recursos naturais.

O capítulo quarto é intitulado, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento (2015- 2035) e sua Relação com o desenvolvimento sustentável de Moçambique (2015-2019). Este capítulo tem como objectivo analisar a Estratégia Nacional de Desenvolvimento

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2015-2035 (END), bem como os documentos que a detalham, quais sejam o Plano Quinquenal (2015-2019), a Agenda 2025 e os Planos Económicos e Sociais de 2015 até 2019, em busca do conteúdo do Desenvolvimento Sustentável nos documentos.

O quinto capítulo e último intitulado Limites de Desenvolvimento Sustentável em Moçambique à luz da sua Estratégia Nacional de Desenvolvimento. O objectivo do capítulo é responder à pergunta que norteou a pesquisa: Quais são os limites do desenvolvimento sustentável em Moçambique, tendo em conta que o país tem altos índices de pobreza e a sua estrutura económica é dependente da exploração e utilização intensiva de recursos naturais? Para tanto, analisa-se a END para compreender os limites que inviabilizam a prossecução dos objectivos identificados para o alcance de desenvolvimento sustentável de Moçambique.

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2 DISCUSSÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

Neste capítulo, discute-se o conceito de desenvolvimento e suas diferenças conceptuais. O objectivo é apresentar um quadro teórico relacionado à noção de desenvolvimento sustentável com o enfoque específico sobre os limites do mesmo para os países do Sul Global. Este objectivo está em consonância com o objectivo geral da tese que é compreender os limites de desenvolvimento sustentável em Moçambique, tendo em conta que o país tem altos índices de pobreza e a sua estrutura económica é dependente da exploração e utilização intensiva dos recursos naturais. E, de acordo com Acosta (2013), o extractivismo tem sido um mecanismo de pilhagem e apropriação colonial e neo-colonial que surge da necessidade de exploração de matérias-primas essenciais para o desenvolvimento industrial e prosperidade do Norte Global. Tal situação perpetua as relações de dependência entre o sul e o norte global e tem sido uma constante na vida económica, social e política dos países do Sul Global que passam a produzir para a exportação e não para o consumo do mercado interno, não gerando, desta feita, benefícios para o país extractivo – exportador.

O argumento deste capítulo assenta no facto de que os conceitos de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável são passíveis de discussão. Não são uniformes e estão em conformidade com a posição que os estados assumem no concerto das nações. Para os estados do Norte, há uma tendência de uma concepção liberal e neoliberal sobre estes conceitos, diferentemente do Sul que migram entre o liberal e a dependência. O ponto aqui é que os conceitos, em si, são definidos pelo norte, orientando-se pelos seus princípios e, fazendo com que se pense que para atingir esse desiderato, passa por seguir os passos dos países centrais.

A metodologia seguida para o alcance do objectivo do capítulo foi qualitativa, consistindo no levantamento das obras e artigos que documentam o historial do conceito desenvolvimento tendo em conta as várias perspectivas e visões dos teóricos de desenvolvimento. Confrontou-se a teoria de Dependência, procurando encontrar nela o sentido de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável para os países do Sul Global tendo em conta a sua estrutura económica e social. Aqui foi importante procurar, além dos autores da dependência dos anos 1960 e 1970, os autores da nova dependência, ou seja, aqueles que procuram explicar as novas formas de dependência no mundo.

O capítulo está dividido em quatro subcapítulos. No primeiro, é desenvolvida a discussão sobre a evolução do conceito desenvolvimento, fazendo -se referência à

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origem do conceito e à discussão sobre como atingir o desenvolvimento. Além da perspectiva do Centro, a discussão estende-se para a visão dos dependentistas que entendem o subdesenvolvimento como duas faces da mesma moeda. O mais importante nesta discussão é o surgimento do conceito centro - periferia, sendo que o centro é representado por países industrializados e desenvolvidos, e periferia por aqueles que não conseguiram industrializar-se, ou seja, subdesenvolvidos. Discute-se igualmente nesta esteira a explicação destas duas faces do mesmo conceito.

No segundo subcapítulo, leva-se a cabo uma discussão do conceito na perspectiva dos dependentistas, buscando-se a explicação sistémica para o desenvolvimento, onde se afirma que o desenvolvimento dos países periféricos passa necessariamente pela ruptura com a dependência em relação aos países centrais, a Divisão internacional do Trabalho como promotora do subdesenvolvimento, explicitando-se ainda esta, em relação ao Sul, corresponde-lhe a periferia do sistema económico mundial um papel específico de produzir alimentos e matérias-primas para os países centrais, o que faz com que o Sul esteja dependente do Norte e, desenvolvimento e igualdade, em que se faz um debate de busca de uma nova ordem económica mundial, na igualdade no acesso aos recursos fosse igual entre os centrais e os periféricos. Procura-se fazer uma aproximação por semelhança entre os dependentistas e os cepalinos.

No terceiro subcapítulo deste texto, analisa-se também a teoria de dependência numa nova perspectiva. Levanta-se não apenas uma discussão sobre a valência da teoria de dependência como também busca-se a explicação sobre os novos actores nas novas relações de dependência, encerrando-se com uma clarificação sobre como a nova dependência está ligada a pressão de agentes estrangeiros por intermédio de capitais com efeitos negativos tanto sobre as direcções do desenvolvimento económico nacional, quanto a soberania política e o bem-estar social de população.

O quarto subcapítulo dedica-se à desconstrução do conceito desenvolvimento na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Debate-se nele o significado do desenvolvimento sustentável como uma nova visão de desenvolvimento, mas não diferente do que sempre foi. Confronta-se o ideal do desenvolvimento sustentável entre o Sul e o Norte, recorrendo aos autores como Rist, Sachs, Veigas, entre outros, que analisam o conceito como ocidental, chamando a atenção à sua ambiguidade trazida pela Comissão de Brundtland. Dentro deste capítulo, ainda se convoca a visão dos

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dependentistas sobre o desenvolvimento sustentável, explicando como será utilizada a teoria para a análise dentro da tese das limitações de desenvolvimento sustentável.

2.1 TERMO DESENVOLVIMENTO E A ANÁLISE DOS DEPENDENTISTAS A origem do conceito desenvolvimento está ligada à biologia, empregado como processo de evolução dos seres vivos para o alcance de suas potencialidades genéticas. É um conceito intimamente associado ao naturalista Charles Darwin, que o levou para a concepção de transformação, vista como um movimento na direcção da forma mais apropriada. Segundo o naturalista, um organismo desenvolve-se à medida que progride em direcção à sua maturidade biológica.

A transferência deste conceito para a vida em sociedade ocorreu nas últimas décadas do século XVII e tomou corpo com o darwinismo social. Com ela, verificou-se que o progresso, a expansão e o crescimento não eram virtualidades intrínsecas inerentes a todas as sociedades humanas, mas sim propriedades específicas de algumas sociedades ocidentais (SANTOS et al., 2012). Conforme este autor, ainda na mesma obra, refere que o conceito desenvolvimento vem-se tornando tanto um slogan, quanto um termo multiparadigmático e, historicamente, vem sendo construído com base em três visões paradigmáticas a saber: desenvolvimento como crescimento económico, desenvolvimento como satisfação das necessidades básicas e desenvolvimento como elemento de sustentabilidade socioambiental.

Vai ser a partir da segunda metade do século XX que o discurso sobre o desenvolvimento ganhou ímpeto com o fim da Segunda Guerra Mundial, onde se destaca a existência de países com elevados níveis de crescimento e o consequente bem- estar socioeconómico e outros que não atingiram níveis consideráveis de crescimento/desenvolvimento e permaneceram na pobreza: os então chamados Países em Desenvolvimento compostos por todos os países da África, Ásia, excepto o Japão e todos os países da América Latina10. Franklin Roosevelt (1941) e o Primeiro-ministro

10 Para Amaro (2003, p. 40 – não perdendo a sua importância note que esta obra tem cerca de 17 anos), esta asserção fundamenta-se nos seguintes factores: Primeiro, o processo da independência da maioria das antigas colónias europeias que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, grande parte delas nos continentes Africano, Asiático e Americano (América Latina que inclui as regiões central e sul de América), muito por efeitos dos eventos democráticos, dos interesses estratégicos dos Estados Unidos da América e da influência ideológica da União Soviética. Grande parte destes países tiveram a inspiração de caminhar para a prosperidade e a riqueza, como os seus antigos colonizadores, a par da sua independência política. Daí que a maior parte da produção teórica sobre desenvolvimento visasse a resolução dos problemas e vícios do subdesenvolvimento; Segundo, os desafios da reconstrução da Europa, com o apoio do Plano Marshall ; terceiro, as exigências do confronto Leste-Oeste na esteira

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Britânico Churchill (1941) passaram a fazer discursos que incluíam a necessidade de desenvolvimento. É o caso das afirmações solenes como: “as Quatro liberdades” do Franklin, que incluíam a liberdade de não passar necessidades; a Carta Atlântica, assinada pelo Primeiro-ministro Britânico Churchill e o presidente Americano Franklin Roosevelt (1941), que se propunha, entre outros aspectos, “promover o livre acesso de todos os países ao comércio externo e ao aprovisionamento de matéria-prima”, bem como garantir que “todos os seres humanos em todos os países possam viver sem sentir medo ou sofrer necessidades” e o famoso “Ponto quatro” da declaração do Presidente Americano Truman (1949) que foi o primeiro programa dos EUA de ajuda ao desenvolvimento (AMARO, 2003).

O uso do termo desenvolvimento encontra o seu maior impulso com o discurso do Presidente norte-americano Henry Truman (1949): um discurso que olhava para a industrialização como ponto de partida para o desenvolvimento e, portanto, seria necessário se desenvolver programas de ajuda ao desenvolvimento como, por exemplo, o Plano Marshal, desenhado para suprir as necessidades de desenvolvimento dos países da Europa saídos da Segunda Guerra Mundial. Como afirma Cervantes, (2013):

Como conceptos, el desarrollo y su contraparte, el subdesarrollo, cobran importancia por iniciativa de Truman en su discurso de toma de posesión como presidente de los Estados Unidos […]. El discurso se construye, pues, dando por sentado que el progreso, el crecimiento económico, la industrialización, serán la llave maestra que permita que los atrasados, los incompetentes, los analfabetas, o sea, la mayoría de los países del mundo, lleguen un día a ser como sus preceptores, como los triunfadores en la carrera de la modernización (CERVANTES, 2013, p.474).

De acordo com essa visão, para que um país atingisse o nível de desenvolvimento, tinha que se industrializar. É um discurso economicista, mais apegado às teorias evolucionistas visto que revela assumir um enfoque em etapas de desenvolvimento onde despontam os atrasados, os incompetentes, os analfabetos que constituíam a maior parte da população global. O desenvolvimento não é visto como um processo, mas como uma mecânica que pela frente tem um chefe capaz de orientar como a coisa deve acontecer sem respeitar os desígnios locais. Trata-se de uma visão de desenvolvimento que, como se observará, ressurge com força com a noção de desenvolvimento defendido no final da Segunda Guerra Mundial.

da Guerra Fria que implicou a existência de uma base produtiva que sustentasse a corrida aos

armamentos.

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Uma das características comuns dos países que obtiveram às respectivas independências depois da Segunda Guerra Mundial era de baixa renda, baixos índices de literacia, altas taxas de mortalidade materna infantil, elevadas taxas de doenças endémicas, problemas de saneamento do meio, entre outros. Em face destas características, os líderes destas nações começaram a colocar o discurso de desenvolvimento na sua agenda política nacional como principal objectivo onde os países do Norte flexibilizaram as suas agendas apontando para as áreas onde os seus interesses estavam mais virados para explorar os recursos naturais das suas colónias e não no desenvolvimento destes no longo prazo (SACHS. 2009).

Para o Norte Global, assumia-se que o desenvolvimento económico como tal, estava estruturado em fases, sem os quais os países não poderiam ascender ao mesmo. É um desenvolvimento que foi à custa da degradação do meio ambiente, que a ser seguido como expõe Rostow, acarretaria problemas de ordem ecológica. De acordo com este académico e economista Walt Whitman Rostow (1916-2003), no seu livro The Stages of Economic Growth: A Non Communist Manifesto, publicado em 1960, defendia que o desenvolvimento económico passava por cinco etapas: Sociedade tradicional, as pré- condições para o arranque, o arranque, a marcha para a maturidade e a era de consumo em massa11.

11 Uma sociedade tradicional, segundo o autor é aquela cuja estrutura se expande dentro de funções de produção limitadas baseadas na ciência e tecnologia pré-newtionianas. Essa sociedade tem de dedicar uma proporção, extremamente, elevada dos seus recursos à agricultura devido à limitação da sua produtividade. A segunda etapa abarca o período em que as pré-condições para o arranque estão criadas. As pré-condições para o arranque desenvolvem-se no início do século XVII e início do século XVIII à medida que as concepções da ciência moderna começavam a se converter em novas funções de produção na agricultura e na indústria num ambiente de expansão dos mercados mundiais e da concorrência internacional. Durante esta fase a sociedade tradicional foi abalada pelas transformações industriais que impulsionaram a ideia de que o progresso económico era possível e constitui uma condição indispensável para a dignidade nacional, o lucro privado, o bem-estar geral ou uma vida melhor para os filhos e a modificação e ampliação da educação para atender as necessidades económicas modernas. Um dos aspectos mais salientes desta fase é o crescimento de investimentos em transportes e comunicações, bem como, o aumento de interesses em matérias-primas de outras nações. A terceira etapa, o arranque, caracteriza-se pela acumulação do capital social fixo, surto da evolução tecnológica da indústria e da agricultura e pelo acesso ao poder político de um grupo preparado para encarar a modernização da economia como um assunto sério e do mais elevado teor político. A taxa real de investimento e de poupança subiram, as novas indústrias se expandem, rapidamente, e ao mesmo ritmo das áreas urbanas. A classe empresarial amplia-se e dirige os fluxos aumentados dos investimentos no sector privado. A economia explora recursos naturais usando novos métodos. As novas técnicas difundem-se e revolucionam a agricultura e a indústria e por sua vez, a estrutura básica da economia, a estrutura social e política da sociedade transformam-se ao ponto de serem mantidos num ritmo constante de desenvolvimento. A fase do arranque é seguida por um longo intervalo de progresso continuado que se chama a marcha para a maturidade. Durante esta fase, a economia modifica-se, incessantemente, com o aperfeiçoamento da técnica da indústria. As novas indústrias aceleram-se e as mais antigas se estabilizam. Pode-se definir, essencialmente, a maturidade como a etapa em que a economia demonstra capacidade de avançar para além das indústrias que, inicialmente, impeliram o arranque para a absorção e ampliação de forma eficaz num campo bem

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Rostow (1960), percepciona o conceito de desenvolvimento como mudanças institucionais, estruturais e das condições de produção, que incluem mudanças nos valores, atitudes e normas de pessoas, resultantes de motivação individual e acumulação de capital e fluxos de investimento. Adicionalmente, o desenvolvimento seria produto da interacção entre mudanças nas condições de produção tais como a terra, a mão-de- obra, capital e a tecnologia, e factores não económicos, tais como o surgimento de uma nova elite para construir indústrias modernas, ambiente cultural e social, num processo que decorreria em fases ou estágios, desde a tradicional, take off, até sociedade de alto consumo em massa.

Diante deste contexto e seguindo o desenho teórico de Rostow, o conceito de desenvolvimento, desde o início, tomou como referência para a sua formulação e conteúdo, a experiência histórica dos EUA e dos países da Europa Ocidental considerados desenvolvidos, no âmbito das sociedades industriais, entendendo-se como

«boas práticas» as suas evoluções, a caminho de uma sociedade de abundância, durante cerca de 200 anos que tinham percorrido entre os finais do Séc. XVIII e a 2ª Guerra Mundial12, mais ligado ao crescimento e desenvolvimento dos EUA, como economia desenvolvida modelo pós-Segunda Guerra Mundial. Conforme Veiga (2008), debatia-se nessa altura a questão do subdesenvolvimento e a necessidade de sua superação e que se imaginava que bastaria a economia de um país crescer para que automaticamente se tornasse desenvolvido. Este pressuposto, conforme José Veiga, justificava-se pelo facto de que os poucos países desenvolvidos eram exactamente aqueles que tinham atingido alta renda por habitante e esses países situados na América do Norte e na Europa.

A ideia de modernização dos países fora da Europa, em especial o continente africano, foi a que conduziu a realização da Conferência de Berlim realizada entre 1884- 85, que tinha como uma das missões a acção civilizadora do povo africano por se

amplo dos seus recursos – se não a todos eles – os frutos mais adiantados da tecnologia (então)

moderna. Esta é a etapa em que a economia demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir (Rostow, 1960, p.10). De acordo com o autor, para a fase da marcha para a maturidade, não existe uma duração exacta. No entanto, o intervalo entre o arranque e a maturidade é sucedido pela era do consumo em massa. Esta fase é caracterizada pela elevação da renda real por pessoa. Maior número de pessoas passa a ser de consumidores e ultrapassadas as necessidades mínimas de alimentação, habitação e vestuário. A estrutura da força do trabalho modifica-se e a população urbana em relação à total, aumenta.

12 Por outras palavras, o eurocentrismo do Alemão Frederic Hegel está patente neste período de discussão do conceito desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento para o Norte encontra-se, desde o início, estreitamente ligado ao projecto da modernidade ocidental. A crença oitocentista no progresso ilimitado da Razão, da Ciência e da Técnica, sob os auspícios do paradigma racionalista, individualista e antropocêntrico das Luzes, preparou o caminho para a afirmação do evolucionismo social no século XIX (RAPOSO, 2017).

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entender que os seus habitantes estavam atrasados comparativamente aos da Europa. Assim, o desenvolvimento, no sentido do Norte, é visto no sentido de evolucionismo. Ou seja, tinha que se seguir as cinco etapas de Rostow, porque só é desenvolvido aquele Estado que tenha passado por aquelas etapas. Esta é a visão do Ocidente em relação à noção das premissas para atingir o desenvolvimento. Na concepção ocidentalista, desenvolvimento significa ocidentalização13.

Com efeito, o desenvolvimento era visto como uma transformação estrutural com o objectivo de superar o atraso histórico em que se encontram os chamados países em desenvolvimento e alcançar, no prazo mais curto possível, o nível de bem-estar dos países considerados “desenvolvidos”. Assim, o desenvolvimento era conotado com a modernização ou industrialização (SANDRONI, 1999). Uma industrialização que se realizou à custa da degradação do meio ambiente e poluição da atmosfera que teve como resultado a Mudança Climática que as gerações actuais estão sentindo com cada vez mais eventos climáticos novos. A Revolução Industrial ocorrida nos séculos XVII e XVIII caracterizou-se pela mecanização da produção e pela substituição da energia humana e animal por novas, como o vapor, o carvão e o petróleo. Segundo Andreassa e Mai (2007), no artigo: O consumo como um factor de relevância, na degradação ambiental explicam que:

O vapor teve especial importância nesse cenário, mas apesar das suas inegáveis vantagens, tinha o inconveniente de necessitar grande quantidade de combustível, que em primeiro momento veio da madeira, que já nos primeiros anos do século XIX se esgotou com o aniquilamento das florestas inglesas, sendo substituído então pelo carvão mineral. Esse desmatamento foi o primeiro grande impacto ambiental trazido pela Revolução Industrial. a outra consequência ambiental importante, no começo da era industrial, foi o grande número de baleias mortas, cujo óleo era usado tanto para a lubrificação das máquinas como para a iluminação das fábricas. O carvão passou a ser o mais importante insumo para o desenvolvimento de uma nação (ANDREASSA; MAI, 2007, p. 2).

13 A polissemia do conceito de desenvolvimento, por vezes compreendido como sinónimo de crescimento económico, conferiu-lhe ambiguidade. Esta ambiguidade encontra fundamento no pressuposto de que os problemas relacionados à pobreza, discriminação, desemprego, falta de acesso à escolaridade, à água, o saneamento do meio e problemas de distribuição da renda, resolvem-se com o crescimento económico, não havendo diferença entre os dois conceitos (crescimento e desenvolvimento). Para Amaro (2003), a ligação entre os dois conceitos (desenvolvimento e crescimento) trouxe as seguintes consequências: a) considerar-se, frequentemente, o crescimento económico (enquanto processo contínuo de aumento da produção de bens e serviços) como condição necessária e suficiente (sine qua non) para o desenvolvimento, de que depende as melhorias de bem- estar da população, a todos os outros níveis (educação, saúde, habitação, relações sociais, sistema político, valores culturais, etc.); b) utilizar-se, sistematicamente, os indicadores de crescimento económico, e em particular o nível de rendimento per capita, para classificar os países em termos de desenvolvimento.

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Portanto, o desenvolvimento dos países centrais foi à custa da degradação ambiental, porque a matéria-prima vinha da natureza e não havia a reposição necessária para manter a natureza intacta para o uso futuro. Aliás, o crescimento industrial levou a utilização de uma outra fonte energética, o petróleo, que passou a ser a principal fonte energética do século XX, o que agravou ainda mais o meio ambiente, tanto urbano quanto o rural. Tanto que, como afirma Silva (2007), a deterioração dos ambientes urbanos e rurais é consequência de um modelo de desenvolvimento pautado no crescente aumento da produção, do consumismo, da opulência e do desperdício, iniciados com a formação do modo capitalista de produção com o início do século XV, e acirrado com o advento da Revolução Industrial, século XVII e XVIII e a formação da sociedade industrial urbana nos séculos XIX e XX, que ameaça as gerações futuras e, dentre as principais consequências desse modelo de desenvolvimento serão as alterações climáticas, alterações do solo, assoreamento dos rios e lagos, aumento da temperatura da Terra, erosão do solo; desertificação, escassez de água potável, perda da biodiversidade, poluição do ar, da água, do solo, sonora, visual; redução da camada de ozono, exclusão social, etc.

Estas consequências têm efeitos para todo o globo e logicamente, os países periféricos são os que mais sofrem destes problemas, mesmo tendo em conta que os que mais danificam o ambiente são os países centrais que são mais industrializados e com um parque automóvel maior comparativamente com os periféricos.

A evolução recente da economia global, mostra que a economia periférica propiciou, e continua a prover as melhores condições do meio ambiente dos países centrais em detrimento próprio. Isso levou a um desequilíbrio desses termos entre os dois blocos que pode se tornar até dramático e talvez irreversível, condenando, em alguns casos mais graves, as populações dessas nações a viverem abaixo de padrões aceitáveis por absoluta falta de condições do seu próprio meio ambiente (ANREASSA; MAI, 2007).

Como se vai demonstrando, o conceito de desenvolvimento vai evoluindo e vai adquirindo novos rumos diferentes dos que deram sua origem. Por exemplo, Sen (2003) conceitua desenvolvimento como liberdade. Para ele, “o desenvolvimento pode ser encarado como um processo de alargamento das liberdades reais de que uma pessoa goza” (SEN, 2003, p. 19). Esta perspectiva do Amartya Sen contrasta com a visão de que desenvolvimento é igual ao crescimento, que olha para o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB) e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Em outra

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análise, a visão do Amartya Sen não tem como base o aumento das receitas nem da contínua crescente da industrialização e muito menos o progresso tecnológico, independentemente de achar que esses elementos todos têm grande importância e/ou influência no processo de desenvolvimento, por conseguinte influenciam para o alargamento das liberdades. O argumento para que as liberdades não dependam só do crescimento económico é notório na sua análise ao afirmar que:

As liberdades dependem também de outros factores determinantes, tais como os dispositivos sociais e económicos (por exemplo, serviços de educação e de cuidados de saúde), bem como os relativos aos direitos políticos e cívicos (por exemplo, a liberdade de participar no debate público ou no escrutínio eleitoral). De modo semelhante, a industrialização ou o progresso tecnológico ou a modernização social podem contribuir substancialmente para alargar a liberdade humana, mas esta depende de outras influências (SEN, 2003, p.19).

Adicionalmente, Sen (2003) explica esta acepção afirmando que o desenvolvimento requer a eliminação de alguns factores obstrutores como a pobreza, a tirania, falta de oportunidades económicas, sistemática limitação das liberdades sociais, falta do profissionalismo dos serviços públicos como a intolerância e prepotência dos estados repressivos. Portanto, uma concepção adequada de desenvolvimento deve ser aquela que ultrapassa a definição baseada nos indicadores económicos, deve ter como enfoque a promoção da vida das pessoas e as liberdades que estas usufruem.

2.1.1 Desenvolvimento: perspectiva dependentista

A teoria da dependência surgiu durante os anos 70, como uma escola de pensamento estruturalista-globalista com o objectivo de explicar o fosso existente entre as nações ricas e as nações pobres do mundo. O objectivo da teoria é compreender as limitações de uma forma de desenvolvimento que se iniciou num período histórico no qual a economia mundial já estava constituída sob a hegemonia de poderosos grupos económicos e forças imperialistas (DUARTE; GRACIOLLI, [2019]). Por esse motivo, entendia-se que a forma de desenvolvimento implementada na América Latina só tenderia a aprofundar cada vez mais as relações de dependência.

A teoria da dependência, no entendimento do Hage (2013), pretende explicar as razões sociais, económicas e históricas que concorrem para a manutenção da situação de pobreza em grande parcela das sociedades nacionais. No plano externo, a teoria da dependência também é utilizada para analisar as desigualdades políticas e económicas existentes entre os estados industrializados, grosso modo localizados no Hemisfério

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Norte e os dependentes pobres, do Hemisfério Sul. Apresenta a dicotomia centro/periferia.

A teoria de dependência resulta da necessidade de encontrar uma estrutura teórica para analisar e explicar, suficientemente, o desenvolvimento e subdesenvolvimento dentro do sistema internacional. Neste contexto, Bresser-Pereira (2010), indica que nos anos 1950 dois grupos de intelectuais públicos, organizados em torno da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas (CEPAL)14, em Santiago do Chile, e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB)15, no Rio de Janeiro, pensaram a América Latina de forma pioneira de um ponto de vista nacionalista.

Raúl Prebisch, Celso Furtado e Aníbal Pinto Santa Cruz, propõem que o desenvolvimento produtivo, competitivo e sustentável demanda dos esforços permanentes e significativos que são influenciados pelo papel da ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Este debate tinha como objectivo a busca de uma nova ordem económica para o desenvolvimento, onde a igualdade no acesso aos recursos fosse igual entre os países centrais ou hegemónicos e os países periféricos. O subcapítulo está organizado em três secções principais: a primeira secção faz uma explicação sistémica para o subdesenvolvimento, a segunda discute a questão da divisão internacional do trabalho, explicando a lugar dos países do sul na DIT e como esta promove subdesenvolvimento destes e a terceira secção faz uma análise do desenvolvimento olhando para o norte e para o sul na perspectiva de que o desenvolvimento assim como é pregoado é promotor de desigualdade entre os países.

2.1.2 Uma explicação sistémica para o subdesenvolvimento

Os teóricos dependentistas não se mostravam satisfeitos com aqueles que atribuíam o fracasso do desenvolvimento e à modernização das sociedades do Terceiro Mundo às tradições religiosas e culturais (DOUGHERTY; PFALTZGRAFF JR., 2003),

14 A CEPAL nasce num momento histórico muito importante da organização da economia mundial. Terminava a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a Europa estava num processo de reconstrução depois da guerra. E como uma das consequências da guerra, vários países africanos ascendiam à independência e se tornavam novos actores no sistema internacional ao lado da América Latina. E, para garantir que esses países fossem inseridos no sistema de relações internacionais, a Organização das Nações Unidas (ONU) instalou comissões temporárias para avaliar a situação económica e social das novas nações. A CEPAL criticou a lei das vantagens comparativas.

15 ISEB concentrou sua atenção na coalizão de classes burguesa e burocrática por trás da estratégia nacional de desenvolvimento proposta.

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