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4 ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (2015-2035) E SUA

5.1 CONSTRAGIMENTOS ENDÓGENOS

5.1.2 Dimensão social

Dentro dos limites domésticos, uma das dimensões importantes para o desenvolvimento, é a dimensão social (SACHS, 1993). O mesmo autor (Ibid), considera que, a dimensão social deve corresponder à criação de um desenvolvimento inclusivo, que busque maior proximidade entre as várias camadas populacionais, que seja sustentado por um outro crescimento e subsidiado por uma outra visão do que seja uma sociedade boa, como por exemplo uma maior participação da comunidade nas decisões orientadoras dos estados. A meta é construir uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens de modo a reduzir o abismo entre os padrões dos ricos e dos pobres, factos que encontram adversidades nas características da sua estrutura social. Nesta ordem de ideias, é imperioso fazer-se a confrontação dos factores que promovem a exclusão como por exemplo os mercados de trabalho fortemente segmentados cuja maior parcela dos trabalhadores se encontra confinada nas actividades informais e ainda; a frágil ou total exclusão de participação política, da qual as mulheres são sujeitas á discriminação de género e são fortemente atingidas.

A estrutura social dos países em desenvolvimento caracteriza-se por ter uma base alargada como indicativo de ter uma população jovem, de baixa renda, baixa escolaridade, alta taxa de analfabetismo, acesso limitado à saúde com altas taxas de mortalidade principalmente a infantil, problemas de saneamento do meio e de acesso à água potável. Ainda assim, parte significativa da população activa, além de se dedicar às

actividades agrícolas, dedica-se também às actividades informais, onde a mulher é o símbolo desta actividade, principalmente nas zonas urbanas.

Paralelamente a estes males, concorre igualmente uma exclusão no acesso aos recursos económicos, sociais e políticos. Os residentes nas zonas urbanas têm maiores oportunidades de acesso aos serviços sociais (hospitais, escolas, etc.) e, como resultado disso, a população urbana apresenta menores taxas de analfabetismo com cerca de 18,8% e 50,7% para a zona rural, conforme apresenta a tabela 10. Isto elucida que existe uma grande diferença de acesso aos serviços de educação, de acordo com as zonas e, por conseguinte, uma grande exclusão de acesso para a população rural que é a maioria do país.

A baixa escolaridade da população leva a uma grande falta de mão-de-obra qualificada para empregos mais estáveis, para oportunidades de trabalho e de empreen-dedorismo advindas do investimento estrangeiro. Dessa forma, muitas empresas em-pregam funcionários estrangeiros em Moçambique, um número que é limitado pela cota da relação entre o número de trabalhadores estrangeiros e de trabalhadores nativos estabelecidos pelo governo. Nesse sentido, o governo adoptou em 2016 uma regulação trabalhista que fortaleceu a exigência de que empresas com funcionários estrangeiros criem programas de treinamento para que cidadãos nacionais venham a substituí-los (MOÇAMBIQUE, 2019).

Por exemplo no número 1 do art. 3, Dec. 35/2016, de 31 de Agosto infere que:

O trabalhador estrangeiro deve possuir as qualificações académicas ou profissionais necessárias e a sua admissão só pode efectuar-se desde que não haja nacionais que possuam tais qualificações ou o seu número seja suficiente, exceptuando-se sócios administradores e mandatários (DEC. 35/2016, de 31 de agosto).

E, no número 2 do mesmo artigo explica que;

Havendo necessidade de contratar um trabalhador estrangeiro, a entidade empregadora deve garantir a transmissão de conhecimentos científicos ou técnicos profissionais, na base de um plano de formação e de substituição gradual por nacionais, apresentado pela entidade empregadora a partir do terceiro ano da implementação de actividade (DEC. 35/2016, de 31 de agosto).

Analisando os dados estatísticos sobre a escolaridade, é de considerar que Moçambique deveria apostar muito na educação porque ela é fundamental para a promoção do desenvolvimento, tanto que, além de promover os novos ciclos de desenvolvimento económico ou que também são essenciais para a compreensão e

aceitação dos novos modelos de desenvolvimento, que visam a redução das desigualdades, a solidariedade e a adopção de acções económicas e sociais capazes de reduzir os impactos ambientais. Morais (2016) adianta que falar de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável, encontra espaço numa população suportada na educação, não querendo com isto negligenciar o papel e o conhecimento das populações ou comunidades não alfabetizadas, no processo de desenvolvimento e de desenvolvimento sustentável.

É de concordar que as populações ou comunidades indígenas têm muito conhecimento relacionado ao desenvolvimento e de protecção ambiental que deve ser valorizado. Entretanto, uma população formada está melhor preparada para a recepção e uso das novas tecnologias que constitui uma vantagem comparativa rumo ao desenvolvimento sustentável.

A educação é um factor determinante para o desenvolvimento de qualquer que seja a área e de um país. No caso de Moçambique, a educação deve reduzir as desigualdades entre o campo e a cidade, entre as zonas rurais e as zonas urbanas, porque o desenvolvimento sustentável é sinónimo ou oposto das desigualdades promovidas pelo tradicional de desenvolvimento. Moçambique é desafiado a reduzir os níveis de analfabetismo que se situam quase à metade da população, uma vez que a eliminação do analfabetismo constitui uma condição prévia para que seja possível instituir um processo de desenvolvimento. Outrossim, para que o esforço educacional seja considerado suficiente, existe um mínimo indispensável para que a pessoa se sinta humanamente realizada e a sua actuação seja socialmente útil, tal é a escolaridade obrigatória de 9ª classe no caso moçambicano.

No objectivo estratégico (i) sobre a promoção de um Sistema Educativo inclusivo, eficaz e eficiente que garanta a aquisição das competências requeridas ao nível de conhecimentos, habilidades, gestão e atitudes que respondam às necessidades de desenvolvimento humano, o balanço mostra que nos quatro anos do quinquénio foram construídas 3,004 salas de aula, beneficiando mais de 360 mil alunos do ensino primário e secundário, merecendo ainda o destaque a construção de 6 Escolas Secundárias; no âmbito da expansão do acesso ao ensino superior, foram atribuídas bolsas de estudo a 1,515 estudantes para frequentar cursos de licenciatura, sendo 1,141 bolseiros dentro e 374 fora do país; no âmbito do Ensino Técnico Profissional, durante o período em análise, o número de instituições de Ensino Técnico Profissional passou de 144 em 2015 para 193 em 2018, o que resultou no aumento do efectivo escolar de

42,000 em 2015. Deste, 38% corresponde ao número de raparigas. Em 2018 foram formados 91,615, dos quais 44,440 são raparigas correspondendo a 48,5%. A subida do número de raparigas pode justificar-se pelas políticas de intervenção do governo no sector estarem a surtir algum efeito. De facto têm-se desenvolvido políticas que incentiva as raparigas a permanecerem nas escolas e a realizarem cursos que outrora estivessem “reservados” para os rapazes. Enquadram-se no quadro da implementação da Reforma do Ensino Profissional. O objectivo tem em vista acabar com as desigualdades no acesso à educação (MOÇAMBIQUE, 2019).

Como forma de minimizar os efeitos das desigualdades no sector da educação, o programa quinquenal do governo 2015-2019 desenhou um objectivo educacional de inclusividade, que, de acordo com o Dec.nº 29/2015 de 14 de Abril, havia que promover um Sistema Educativo inclusivo, eficaz e eficiente que garanta a aquisição das competências requeridas ao nível de conhecimentos, habilidades, gestão e atitudes que respondam às necessidades de desenvolvimento humano. Mas a forma como está desenhada a operacionalização do objectivo não leva à inclusão, porque não fala da expansão do ensino, nem da necessidade de equilibrar neste sector o ensino urbano e o rural através da expansão de infra-estruturas de qualidade e de recursos humanos qualificados. Por essa via, este objectivo enquadrado dentro da prioridade IV é dos que não foi cumprido ao longo do quinquénio sobre a avaliação geral de desempenho por prioridade e pilar (MOÇAMBIQUE, 2019).

Um outro factor importante dentro da dimensão social para análise do desenvolvimento tem a ver com a saúde. Apoiando-se na análise de Wolf (1967) sobre a importância da saúde para o desenvolvimento, conclui-se que ela vai adquirindo cada vez mais importância na estratégia do desenvolvimento, reconhecendo que o investimento nos recursos humanos para sector conduz ao melhoramento de um dos três elementos mais importantes do crescimento económico: recursos naturais, capital e recursos humanos. O objectivo estratégico (ii) que tem a ver com o expandir o acesso e melhorar a qualidade dos serviços de saúde, reduzir a mortalidade materna por desnutrição crónica, malária, tuberculose, HIV, doenças não transmissíveis e doenças transmissíveis. Para colmatar esta situação foram colocados cerca de 10,294 profissionais nas diferentes instituições do Sistema de Saúde, fortalecendo, deste modo, o Sistema Nacional de Saúde, sendo para 2015 (3,169), 2016 (3,104), 2017 (2,002) e 2018 (2,019).

Na prioridade II da estratégia e do PQG 2015-2019, foram desenhados dentre vários, dois objectivos estratégicos ligados ao desenvolvimento do sector da saúde. O primeiro objectivo estratégico que chama a atenção é o da “expansão do acesso e melhoramento da qualidade dos serviços de saúde, redução da mortalidade materna, da morbi-mortalidade por desnutrição crónica, malária, tuberculose, HIV, doenças não transmissíveis e doenças preveníveis”. E o segundo aumento da provisão é o do acesso aos serviços de abastecimento de água, de saneamento, de transporte, das comunicações e habitação.

No objectivo Estratégico (iv) ligado à construção e expansão de infra-estruturas de saneamento, incluindo aterros sanitários, durante o quinquénio foram construídas 42,426 fossas sépticas e efectuadas, ligações à rede de esgoto nas zonas urbanas, com vista ao melhoramento das condições de higiene e saneamento no seio das famílias e a preservação da saúde pública. Com a construção de infra-estruturas de saneamento, assegurou-se o acesso a serviços de saneamento seguro a 76,678 pessoas adicionais em 2015 e 254,861 pessoas em 2016 nas zonas urbanas. Foram ainda construídas 273,258 latrinas melhoradas nas zonas rurais o que permitiu elevar-se o acesso a serviços de saneamento seguro nas zonas rurais de 912,520 pessoas adicionais em 2015 para 1,366,290 pessoas adicionais (MOÇAMBIQUE, 2019).

Analisando o número acima pode-se perceber que o desenvolvimento económico tem uma ligação intrínseca com o estado de saúde da população que é o factor de produção e de consumo de diversos produtos resultantes dos vários sectores de produção. Essas, ideias são secundadas por Gadelha (2012), ao afirmar que a discussão sobre a saúde implica pensar na sua conexão estrutural com o desenvolvimento económico, com a equidade, com a sustentabilidade ambiental e a com mobilização política. Fica clara a necessidade da discussão de um modelo de desenvolvimento de que a saúde que possui uma dupla dimensão na sua relação com o desenvolvimento, pois, por um lado, é parte do sistema de protecção social, constituindo um direito de cidadania e, por outro, é a base produtiva de bens e serviços – composto por um conjunto de sectores que geram crescimento e tem participação expressiva no PIB e no emprego formal.

A forma como os resultados são expostos no relatório balanço (2019) é notória a preocupação do governo de Moçambique em prover serviços curativos através de construção de novas unidades sanitárias e centrando-se também, na promoção do serviço materno infantil, ou seja, o governo tem maior preocupação com os grupos

etários mais vulneráveis, residentes em zonas com menor acesso aos serviços de saúde. Esta forma de abordagem enquadra-se exactamente naquilo que Agudelo (1999) considera de impacto na saúde e no desenvolvimento como marginal, porque contribuem só para modificar parcialmente a qualidade de vida de uma parte da população que utiliza os serviços assistenciais, sem incidir sobre a esperança de vida da maioria da população.

Para a concepção de políticas públicas no sector de saúde é importante o conhecimento da evolução da mortalidade infanto-juvenil pelas autoridades ou governo de um determinado país. As taxas de mortalidade infantil estão intimamente ligadas às condições culturais, ambientais, sócio-demográficas e infra-estruturais de um país. Em países em desenvolvimento assiste-se a uma tendência de melhoramento dos índices de mortalidade infantil ao mesmo tempo que se assiste a uma subida das taxas de nascimento.

A nível da saúde infantil, o grande destaque vai para a introdução da vacina combinada e a suplementação nutricional com a Vitamina A e desparasitação, melhorando a taxa de cura da desnutrição aguda em crianças menores de 5 anos de 70% em 2015, para 83% em 2018, bem como, mais de 3,000,000 crianças são suplementadas anualmente com Vitamina A e desparasitaram para a prevenção da desnutrição correspondendo a cobertura acima de 90%. Ainda sobre o sector de saúde, cerca de 23,4 porcento da população moçambicana não tem latrina, satisfaz as suas necessidades ao céu aberto (matas ou nas águas) e 37 porcento em latrinas não melhoradas e só 39,6 porcento é provedora de condições mínimas de saneamento básico. Ou seja, cerca de 60,4 porcento da população não é provedora de condições dignas de saneamento básico. E, como resultado deste problema, são as doenças de transmissão feco - oral, como as diarreias e cóleras (MOÇAMBIQUE, 2019).

O objectivo estratégico (iv): Construir e expandir infra-estruturas de saneamento, incluindo aterros sanitários. Foram construídas 42,426 fossas sépticas e efectuadas, ligações a rede de esgoto nas zonas urbanas, com vista ao melhoramento das condições de higiene e saneamento no seio das famílias e a preservação da saúde pública. Com a construção de infra-estruturas de saneamento, assegurou-se o acesso a serviços de saneamento seguro a 76,678 pessoas adicionais em 2015 e 254,861 pessoas adicionais em 2016 nas zonas urbanas. Foram ainda construídas 273,258 latrinas melhoradas nas zonas rurais o que permitiu elevar-se o acesso a serviços de saneamento seguro nas zonas rurais de 912,520 pessoas adicionais em 2015 para 1,366,290 pessoas

adicionais. A qualidade de água consumida pela população faz parte da qualidade de saneamento provida por uma determina população.

A questão do saneamento do meio constitui um grande desafio para o Estado moçambicano, pois não se pode falar de desenvolvimento sustentável para uma população que grande parte dela não é provedora de condições mínimas de saneamento. E, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento aborda a área de saúde em poucas linhas e não indica estratégias e nem os indicadores de avaliação.