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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

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Academic year: 2021

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Registro: 2020.0000098289

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Direta de Inconstitucionalidade nº 2196074-32.2019.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é autor PREFEITO DO MUNICÍPIO DE HOLAMBRA, é réu PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE HOLAMBRA.

ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "JULGARAM A AÇÃO PROCEDENTE EM PARTE, COM INTERPRETAÇÃO CONFORME. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PINHEIRO FRANCO (Presidente), XAVIER DE AQUINO, ANTONIO CARLOS MALHEIROS, MOACIR PERES, FERREIRA RODRIGUES, EVARISTO DOS SANTOS, MÁRCIO BARTOLI, JOÃO CARLOS SALETTI, FRANCISCO CASCONI, RENATO SARTORELLI, CARLOS BUENO, FERRAZ DE ARRUDA, ALVARO PASSOS, BERETTA DA SILVEIRA, ANTONIO CELSO AGUILAR CORTEZ, ALEX ZILENOVSKI, GERALDO WOHLERS, ELCIO TRUJILLO, CRISTINA ZUCCHI, JACOB VALENTE, JAMES SIANO, ADEMIR BENEDITO E LUIS SOARES DE MELLO.

São Paulo, 12 de fevereiro de 2020.

RICARDO ANAFE RELATOR Assinatura Eletrônica

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Direta de Inconstitucionalidade nº 2196074-32.2019.8.26.0000 Autor: Prefeito do Município de Holambra

Réu: Presidente da Câmara Municipal de Holambra Comarca: São Paulo

Voto nº 31.009

AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE

§ 2º do artigo 5º; do inciso XI do artigo 15; do § 3º do artigo 17; do artigo 23; dos incisos XXII e XXXV do artigo 62; do artigo 63; do parágrafo único do artigo 64; dos artigos 65 e 67; do § 1º do artigo 69; do § 3º do artigo 73; do artigo 75; dos artigos 142B, 148, 149, 150, 154A, 154D, 154E, 154F, 154H, 162, 170, 188A, 196, 201D; e § 1º do artigo 227, da Lei Orgânica do Município de Holambra, com a redação dada pela Emenda nº 01, de 16 de abril de 2019, do Município de Holambra Atribuição de funções a órgãos municipais Prática legislativa que ao tratar do gerenciamento da prestação de serviços públicos, acaba por invadir a esfera de competência exclusiva do Executivo, em ofensa ao princípio da separação de Poderes Inconstitucionalidade do § 2º do artigo 5º, do inciso XXII do artigo 62, do § 3º do artigo 73, dos artigos 148, 149, 154F, 196, 201D e do § 1º do artigo 227, da Lei Orgânica da Estância Turística de Holambra Violação aos artigos 5º, 24, 47 e 144 da Carta Bandeirante Inciso XI do artigo 15 e inciso XXXV do artigo 62, da Lei Orgânica Municipal Concessão de serviços públicos e celebração de convênios A dependência de autorização legislativa para a concessão de serviço público ofende o princípio da separação de Poderes, por representar ingerência indevida em atividade típica do Poder Executivo Inconstitucionalidade Ofensa ao princípio da harmonia e independência dos Poderes Entendimento alinhado com a jurisprudência do Colendo Supremo Tribunal Federal no sentido de que viola o princípio da

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separação dos Poderes dispositivo de lei que atribua ao Poder Legislativo a competência para autorização de convênios, concessões ou acordos celebrados pelo Poder Executivo (ADI 676/RJ, Relator Ministro Carlos Veloso, Tribunal Pleno, DJ. 29.11.1996; ADI 462/BA, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 18.02.2000) Em acórdãos mais recentes, a posição da Suprema Corte foi alterada, de modo a aceitar a previsão de lei autorizativa em casos excepcionais na hipótese de oneração relevante do patrimônio público No julgamento da ADI 331/PB foi assentado que

“acordos ou convênios que podem gerar encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual podem ser submetidos à autorização do legislativo local, sem violar o princípio da separação dos poderes”. No mesmo sentido, no julgamento do RE 488.065 AgR/SP, a ementa do acórdão proferido destaca: “Não contraria o princípio da separação de poderes preceito local que submete a celebração de convênios pelo Executivo à autorização do Legislativo. Precedente: ação direta de inconstitucionalidade nº 331/PB, acórdão publicado no Diário da Justiça de 2 de maio de 2014”

Excepcionalidade não configurada na norma impugnada Violação aos artigos 5º, 47, incisos II e XIV, e 144, da Constituição do Estado de São Paulo O § 3º do artigo 17 da Lei Orgânica ao assegurar aos Vereadores livre acesso às repartições do Poder Executivo extrapola os limites estabelecidos pelos sistemas de controle previstos nos artigos 33 e 150, da Constituição Bandeirante

Inconstitucionalidade da expressão “da Prefeitura Municipal e de suas autarquias” do § 3º do artigo 17 Violação aos artigos 5º, 33 e 150, da Constituição do Estado de São Paulo Artigo 23, inciso III, da Lei Orgânica Direitos e deveres previstos para os parlamentares Observância às proibições e incompatibilidades constantes da Constituição Federal, aplicáveis aos Deputados Federais e Senadores, bem como às dispostas na Constituição Estadual, aplicáveis aos Deputados Estaduais, que por força do princípio da simetria, consoante o inciso IX, do artigo 29, da Constituição Federal, aplicam-se aos Vereadores Aplicação da

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técnica da interpretação conforme Artigo 63, parágrafo único do artigo 64 e artigos 65 e 67 da Lei Orgânica de Holambra Inconstitucionalidade – Definição de crimes de responsabilidade e estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento pelo Poder Legislativo local Usurpação de competência privativa da União Súmula Vinculante 46 do Supremo Tribunal Federal Afronta ao artigo 22, inciso I, da Constituição Federal Violação ao pacto federativo e aos artigos 1º e 144 da Carta Bandeirante Artigo 75 da Lei Orgânica do Município de Holambra Matéria relativa à Administração Municipal, de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo Vício de iniciativa Ofensa ao princípio da harmonia e independência dos Poderes Violação aos artigos 5º, 47, incisos II e XIV, e 144, da Constituição Estadual No tocante aos artigos 142B, 170 e 188A, da Lei Orgânica, há fundamento para a facultatividade das ações descritas, pois o legislador local ao utilizar o emprego do verbo

“poder” no lugar do verbo “dever”, não deixou margem a dúvidas acerca de seu caráter facultativo Artigos 150, 154A, 154D, 154E, 154H e 162 da Lei Orgânica Dispositivos que estabelecem diretrizes e normas relativas ao desenvolvimento urbano, produzidos sem planejamento técnico, exigência reservada às situações indicadas no artigo 181 da Constituição Estadual - Violação aos artigos 180, inciso II e 181, §1º, da Constituição do Estado de São Paulo § 1º do artigo 69 da Lei Orgânica de Holambra Subsídio do Prefeito Observância à norma constitucional Verdadeiro pedido de extensão da norma jurídica Alegação de inconstitucionalidade afastada.

Pedido parcialmente procedente, com interpretação conforme.

1. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Prefeito do Município de Holambra visando ao reconhecimento da inconstitucionalidade do § 2º do artigo 5º; do inciso XI

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do artigo 15; do § 3º do artigo 17; do artigo 23; dos incisos XXII e XXXV do artigo 62; do artigo 63; do parágrafo único do artigo 64; dos artigos 65 e 67; do § 1º do artigo 69; do § 3º do artigo 73; do artigo 75; dos artigos 142B, 148, 149, 150, 154A, 154D, 154E, 154F, 154H, 162, 170, 188A, 196, 201D; e § 1º do artigo 227, todos da Lei Orgânica do Município de Holambra, com a redação dada pela Emenda nº 01, de 16 de abril de 2019, do Município de Holambra, porque, segundo ele, viola o disposto nos artigos 5º, 24, 25, 47, 144, 150, 180, inciso II e 181, da Constituição do Estado de São Paulo. Aduz, ainda, que não cabe à Edilidade intervir direta e concretamente nas atividades reservadas ao Executivo, que pedem provisões administrativas específicas. Pede a concessão de liminar para imediata suspensão da eficácia dos dispositivos em questão e, ao final, a procedência do pedido, com a declaração de inconstitucionalidade dos atos normativos impugnados.

Diante da relevância da matéria, esta relatoria adotou o rito abreviado previsto no artigo 12 da Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999 (fl. 187/197).

O Presidente da Câmara Municipal de Holambra prestou informações (fl. 202/221).

A Procuradoria Geral do Estado, citada, deixou transcorrer in albis o prazo para apresentar manifestação (fl. 234).

Manifestação do Prefeito do Município de Holambra requerendo a juntada de documentos (fl. 287).

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Parecer da douta Procuradoria Geral de Justiça a fl.

237/282 e fl. 677/678.

2. A norma impugnada, na parte que aqui interessa, dispõe:

EMENDA À LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO Nº 01, DE 16 DE ABRIL DE 2019.

Altera, inclui e revoga artigos da Lei Orgânica do Município de Holambra

Art. 5º - Altera a redação do art. 5º da Lei Orgânica do Município, conforme segue:

“Art. 5º (...)

§ 2º - Os Conselhos Municipais deliberativos e consultivos nos casos de competência municipal serão constituídos:

I um terço por representantes do Poder Público Municipal, preferencialmente por servidores integrantes da área de objeto de atuação;

II um terço por representantes dos usuários dos serviços da área, residentes em Holambra;

III um terço por representantes dos profissionais atuantes na área.”

Art. 14 Estabelece nova redação ao art. 15 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 15 (...)

XI autorizar convênios com entidades públicas ou

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particulares e ratificar consórcios com outros municípios;”

Art. 18 Dá nova redação ao art. 17 da Lei Orgânica do Município:

“Art. 17 (...)

§ 3º - Os Vereadores, no exercício do seu cargo, terão livre acesso a qualquer departamento da Câmara Municipal, da Prefeitura Municipal e de suas autarquias.”

Art. 23 O art. 23 da Lei Orgânica do Município passa a constar com a seguinte redação:

“Art. 23 O Vereador poderá licenciar-se:

I por motivo de doença ou gestação;

II para desempenhar missões temporárias, de interesse do Município;

III para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que o afastamento não ultrapasse a sessenta dias por sessão legislativa.”

Art. 63 - A redação do art. 62 da Lei Orgânica do Município passa a constar com o seguinte texto:

“Art. 62 (...)

XXII aprovar projetos de edificação e planos de loteamento, arruamento e, mediante lei, o zoneamento para fins urbanos, ambos com apreciação prévia do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano CMDU e da Câmara Municipal;

(...)

XXXV celebrar convênios com prévia autorização legislativa e consórcios com a devida ratificação legislativa;”

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Art. 65 - Altera a redação do art. 63 que passa a constar com o texto que segue:

“Art. 63 São crimes de responsabilidade do Prefeito os atos cometidos que atentarem contra a Constituição Federal, a Constituição Estadual, a Lei Orgânica do Município e, especialmente, os que:

I impedirem o livre exercício das atividades da Câmara Municipal;

II atentarem contra a probidade na Administração;

III ferirem a lei orçamentária;

IV descumprirem as leis e decisões judiciais;

V retiverem dolosamente os vencimentos, salários e vantagens, ou investimentos indevidos em aplicação financeira pela Administração Municipal;

VI Constituírem desvio de procedimento, falta de clareza ou omissão de dados;

VII configurarem a mora na remessa do duodécimo à Câmara Municipal, após o dia vinte de cada mês, nos termos do § 2º do art. 29-A da Constituição Federal;

VIII atentarem contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais.”

Art. 66 Atribui nova redação ao art. 64 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 64 (...)

Parágrafo único A Câmara Municipal, tomando conhecimento de qualquer ato do Prefeito que possa configurar infração penal comum ou crime de responsabilidade, nomeará comissão especial para apurar

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os fatos que, no prazo de até 90 (noventa) dias úteis, deverão ser apreciados pelo Plenário.”

Art. 67 - Altera o art. 65 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 65 O Prefeito ficará suspenso de suas funções, com o recebimento da denúncia pelo Tribunal de Justiça, que cessará em até cento e oitenta dias corridos, se não tiver concluído o julgamento, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.”

Art. 68 Atribui nova redação ao art. 67 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 67 São infrações político-administrativas do Prefeito sujeitas ao julgamento pela Câmara dos vereadores e sancionadas com a cassação do mandato:

I impedir o funcionamento regular da Câmara;

II impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de obras e serviços Municipais, por comissão de investigação da Câmara ou auditoria, regularmente instituída;

III desatender, sem motivo justo as convocações ou os pedidos de informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular;

IV retardar a publicação ou deixar de publicar as Leis e atos sujeitos a essa formalidade;

V deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular, a proposta orçamentária;

VI descumprir o orçamento aprovado para o exercício

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financeiro;

VII praticar contra expressa disposição de Lei, ato de sua competência ou omitir-se na sua prática;

VIII omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Município, sujeitos à administração da Prefeitura;

IX ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido em Lei, ou afastar-se da Prefeitura, sem autorização da Câmara dos Vereadores;

X proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.”

Art. 72 Dá a seguinte redação ao art. 69 da Lei Orgânica do Município:

“Art. 69 (...)

§ 1º - O subsídio do Prefeito é estabelecido em parcela única e atendido o limite constitucional, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, fixado através de Lei de iniciativa privativa da Câmara Municipal.”

Art. 78 O texto do art. 73 da Lei Orgânica do Município passa a constar com a redação que segue:

“Art. 73 (...)

§ 3º - Os órgãos da Administração Direta e Indireta ficam obrigados a constituir comissão Interna de Prevenção de Acidentes CIPA, conforme legislação pertinente e, quando o exigirem suas atividades, Comissão de Controle Ambiental-CCA, visando à proteção da vida, do ambiente e

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das condições de trabalho dos seus servidores, na forma da lei.”

Art. 79 - Dá a seguinte redação ao art. 75 da Lei Orgânica do Município:

“Art. 75 O Poder Executivo Municipal instituirá órgãos de consulta, deliberação e cooperação ao planejamento municipal, integrados por representantes do Poder Público e sociedade civil, obedecido o que está previsto nesta Lei Orgânica, com atribuições e composições definidas em lei própria e na forma prevista por esta Lei Orgânica, visando:

I- discutir os problemas suscitados pela comunidade;

II- assessorar a Administração no encaminhamento e solução dos problemas;

III- discutir as prioridades do Município;

IV- fiscalizar os atos da Administração;

V- auxiliar no planejamento da cidade.

Parágrafo Único- Os órgãos de que trata o presente artigo poderão ser constituídos por temas, áreas, regiões ou para administração global.”

Art. 146 Acrescenta os arts. 142A e 142B da Lei Orgânica Municipal com a seguinte redação:

“Art. 142B Poderá o Município criar órgão colegiado de caráter consultivo, para fins de controle social dos serviços de saneamento básico, assegurada a participação:

I dos titulares dos serviços;

II de órgãos governamentais relacionados ao setor de saneamento básico;

III dos prestadores de serviços públicos de saneamento

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básico;

IV dos usuários de serviços de saneamento básico;

V de entidades técnicas, organizações da sociedade civil e de defesa do consumidor relacionadas ao setor de saneamento básico.”

Art. 148 Corrige a redação do art. 148 da Lei Orgânica do Município nos seguintes termos:

“Art. 148 O Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano estabelecerá as diretrizes para a política de desenvolvimento urbano e manifestar-se-á sobre assuntos a ela relacionados, sendo garantida a cooperação das associações representativas, legalmente constituídas.”

Art. 149 Corrige a redação do art. 149 da Lei Orgânica do Município nos seguintes termos:

“Art. 149 O Município criará o Conselho Municipal de Trânsito, cujas atribuições, composição e funcionamento serão definidas em lei, e terá as seguintes finalidades:

I - orientar os alunos da rede escolar sobre as leis de trânsito;

II opinar na criação de espaços livres para pedestres;

III opinar na criação de espaços livres para ciclistas;

IV opinar na criação de rampas de acesso para deficientes físicos;

V opinar na disciplina do tráfego de veículos rurais;

VI opinar na disciplina mão ou contramão e estacionamento.

VII opinar no ordenamento, sinalização e disciplina do trânsito.”

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Art. 150 Dá ao art. 150 da Lei Orgânica do Município a seguinte redação:

“Art. 150 A área urbana terá o mínimo de vinte por cento de sua área, em área verde e arborizada.”

Art. 153 Acrescenta os arts. 154A, 154B, 154C, 154D, 154E, 154F e 154G na Lei Orgânica Municipal com a redação que segue:

“Art. 154A O Município deverá notificar os responsáveis pelos parcelamentos para que regularizem, nos termos da legislação federal, os loteamentos clandestinos, podendo, em caso de recusa, assumir, juntamente com os moradores, a regularização, sem prejuízo das ações punitivas contra os loteadores.

Art. 154D Os loteamentos, áreas destinadas ao sistema de circulação, à implantação de equipamentos urbanos e comunitários, bem como os espaços livres de uso público, serão entregues completamente desocupados, ou edificados, quando for o caso, e o registro público destas áreas deverá ser feito num prazo de cento e oitenta dias corridos, a contar da entrega.

Art. 154E O Poder Executivo, antes de conceder a licença para o loteamento urbano, exigirá, complementarmente à lei federal, áreas destinadas a equipamentos urbanos comunitários, conforme a expectativa da demanda local.

Art. 154F Antes da aprovação de projeto de loteamento e desmembramento urbano, e após estabelecer as diretrizes, o Poder Executivo encaminhará cópia de todo o processo à

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Câmara de Vereadores, o qual ficará à disposição de seus membros e da sociedade civil, durante 30 (trinta) dias corridos.

Parágrafo único Será necessária a realização de audiência pública, para ampla publicidade e transparência, a ser realizada por técnicos da Prefeitura Municipal.

Art. 154H Os novos loteamentos, só poderão ser autorizados, desde que 80% (oitenta por cento) dos lotes disponíveis estejam edificados ou em fase de construção, exceção aos loteamentos de cunho social, destinados à população de mais baixa renda.”

Art. 160 Corrige a redação do art. 162 da Lei Orgânica Municipal, nos termos que seguem:

“Art. 162 - Fica instituído direito de servidão administrativa ao Município, em dois metros para cada margem das estradas municipais, além do leito carroçável, o qual não poderá ser nunca inferior a sete metros de largura.”

Art. 161 Corrige a redação do art. 170 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 170 - O Município, mediante lei, poderá criar um sistema de administração de qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar e integrar a ação de órgãos e entidades da Administração Pública Direta e Indireta, coordenado por órgão da Administração Direta e será integrado pelo:

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I - Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente;

II - órgãos executivos, incumbidos da realização das atividades de desenvolvimento ambiental.”

Art. 173 Acrescenta o art. 188A da Lei Orgânica do Município, nos termos que seguem:

“Art. 188A Poderá o Município criar órgão colegiado de caráter consultivo, para fins de controle social dos serviços de saneamento básico, assegurada a participação:

I dos titulares dos serviços;

II de órgãos governamentais relacionados ao setor de saneamento básico;

III dos prestadores de serviços públicos de saneamento básico;

IV dos usuários de serviços de saneamento básico;

V de entidades técnicas, organizações da sociedade civil e de defesa do consumidor relacionadas ao setor de saneamento básico.”

Art. 180 Atribui nova redação ao art. 196 da Lei Orgânica do Município, nos seguintes termos:

“Art. 196 - O Conselho Municipal de Saúde, com sua composição e competência fixadas em lei, garante a participação de representantes e técnicos da comunidade, em especial dos trabalhadores, empregadores, entidades e prestadores de serviços da área de saúde, além do Poder Público, na elaboração e controle das políticas de saúde, bem como na formulação, fiscalização e acompanhamento do Sistema Municipal de Saúde.”

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Art. 184 Acrescenta os arts. 201A, 201B, 201C, 201D e 201E, nos termos que seguem:

“Art. 201D Ficam criadas, no âmbito do Município, a Conferência e o Conselho Municipal de Saúde, como instâncias colegiadas de caráter deliberativo ou consultivo, de orientação e fiscalização, cuja Presidência, composição, funcionamento e atribuições, obedecerão ao disposto em Lei específica.”

Art. 201 Altera a redação do art. 227 da Lei Orgânica Municipal, nos termos que seguem:

“Art. 227 (...)

§ 1º - Os conselhos de escolas serão presididos pelos respectivos diretores ou administradores de unidades escolares compostos de forma paritária por alunos, pais, mestres, e serão os órgãos de fortalecimento da democracia local e terão competência, objetivos formais e composição estabelecidos em lei.”

O § 2º do artigo 5º, o § 3º do artigo 73, os artigos 148, 149, 196, 201D e o § 1º do artigo 227, da Lei Orgânica Municipal, na nova redação, estabelecem:

“Art. 5º (...)

§ 2º - Os Conselhos Municipais deliberativos e consultivos nos casos de competência municipal serão constituídos:

I um terço por representantes do Poder Público Municipal, preferencialmente por

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servidores integrantes da área de objeto de atuação;

II um terço por representantes dos usuários dos serviços da área, residentes em Holambra;

III um terço por representantes dos profissionais atuantes na área.”

“Art. 73 (...)

§ 3º - Os órgãos da Administração Direta e Indireta ficam obrigados a constituir comissão Interna de Prevenção de Acidentes CIPA, conforme legislação pertinente e, quando o exigirem suas atividades, Comissão de Controle Ambiental-CCA, visando à proteção da vida, do ambiente e das condições de trabalho dos seus servidores, na forma da lei.”

“Art. 148 O Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano estabelecerá as diretrizes para a política de desenvolvimento urbano e manifestar-se-á sobre assuntos a ela relacionados, sendo garantida a cooperação das associações representativas, legalmente constituídas.”

“Art. 149 O Município criará o Conselho Municipal de Trânsito, cujas atribuições,

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composição e funcionamento serão definidas em lei, e terá as seguintes finalidades:

I - orientar os alunos da rede escolar sobre as leis de trânsito;

II opinar na criação de espaços livres para pedestres;

III opinar na criação de espaços livres para ciclistas;

IV opinar na criação de rampas de acesso para deficientes físicos;

V opinar na disciplina do tráfego de veículos rurais;

VI opinar na disciplina mão ou contramão e estacionamento.

VII opinar no ordenamento, sinalização e disciplina do trânsito.”

“Art. 196 - O Conselho Municipal de Saúde, com sua composição e competência fixadas em lei, garante a participação de representantes e técnicos da comunidade, em especial dos trabalhadores, empregadores, entidades e prestadores de serviços da área de saúde, além do Poder Público, na elaboração e controle das políticas de saúde, bem como na formulação, fiscalização e acompanhamento do Sistema Municipal de Saúde.”

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“Art. 201D Ficam criadas, no âmbito do Município, a Conferência e o Conselho Municipal de Saúde, como instâncias colegiadas de caráter deliberativo ou consultivo, de orientação e fiscalização, cuja Presidência, composição, funcionamento e atribuições, obedecerão ao disposto em Lei específica.”

“Art. 227 (...)

§ 1º - Os conselhos de escolas serão presididos pelos respectivos diretores ou administradores de unidades escolares compostos de forma paritária por alunos, pais, mestres, e serão os órgãos de fortalecimento da democracia local e terão competência, objetivos formais e composição estabelecidos em lei.”

Da leitura dos dispositivos, verifica-se evidente atribuição de funções a órgãos municipais (Conselhos Municipais e aos Conselhos de Escola), de forma que essa prática legislativa ao tratar do gerenciamento da prestação de serviços públicos, acaba por invadir a esfera de competência exclusiva do Executivo, em clara ofensa ao princípio da separação de Poderes. Também o § 3º do artigo 73, ao disciplinar como deve ser a instituição de comissões de controle dentro de cada órgão da Administração Pública incide sobre a gestão administrativa, usurpando função própria do Executivo.

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Ora, é o Prefeito quem tem a aptidão, segundo a regra constitucional, de administrar o Município (artigo 47, incisos II e XIV, da Constituição Estadual). É ele quem exercita as funções de governo relacionadas com o planejamento, organização e direção de serviços da Municipalidade.

O Poder Legislativo Municipal, a seu turno, é o que elabora, modifica, altera e emenda as leis, em caráter geral, abstrato e impessoal, que regula o comportamento dos munícipes. A Câmara do Município não administra, mas apenas fixa regras de administração, reguladoras da atuação administrativa do Prefeito. Por isso, por deliberação do plenário, pode indicar medidas administrativas ao Chefe do Poder Executivo Municipal, a título de colaboração e sem qualquer obrigatoriedade. Todavia, não pode prover situações concretas por seus próprios atos e impor ao Executivo a tomada de medidas específicas de exclusiva atribuição e competência.

N'outro giro, “Ives Gandra Martins, referindo-se aos atos típicos de administração, ensina que 'sobre tais matérias tem o Poder Executivo melhor visão do que o Legislativo, por as estar gerindo. A administração da coisa pública, não poucas vezes, exige conhecimento que o Legislativo não tem, e outorgar a este Poder o direito de apresentar os projetos que desejasse seria oferecer-lhe o poder de ter iniciativa sobre assuntos que refogem a sua maior especialidade' ('Comentários à Constituição do Brasil', 4º vol. Tomo I, 3. ed., atualizada,

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São Paulo, Saraiva, 2002).”1

A seu turno, o inciso XI do artigo 15 e o inciso XXXV do artigo 62, da Lei Orgânica, dispõem:

“Art. 15 (...)

XI autorizar convênios com entidades públicas ou particulares e ratificar consórcios com outros municípios;”

“Art. 62 (...) (...)

XXXV celebrar convênios com prévia autorização legislativa e consórcios com a devida ratificação legislativa;”

Como se vê, os dois dispositivos analisados cuidam da autorização da Câmara Municipal para a celebração de convênios pelo Poder Executivo.

A respeito do tema, peço vênia para breve digressão acerca da jurisprudência da Suprema Corte, a fim de que seja possível a fiel compreensão do arrimo do pedido.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em

1 ADI nº 2047125-42.2014.8.26.0000, Rel. Des. Ferreira Rodrigues, j. 22/10/2014.

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outrora firmou o entendimento de que a exigência de prévia autorização legislativa para a realização de convênios, convenções, acordos ou contratos de concessão de serviços públicos viola o artigo 2º da Constituição Federal. Nesse sentido, confiram-se os seguintes julgados:

ADI 676/RJ, Relator Ministro Carlos Veloso, Tribunal Pleno, DJ 29.11.1996; ADI 462/BA, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 18.02.2000; e Agravo de Instrumento 755.058/MG, Relator Ministro Gilmar Mendes, decisão monocrática de 05.03.2013.

E ainda:

“DIREITO CONSTITUCIONAL. CONVÊNIOS:

AUTORIZAÇÃO OU RATIFICAÇÃO POR ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO.

PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES.

AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE DO INCISO XXI DO ART. 54 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ, QUE DIZ: "Compete, privativamente, à Assembleia Legislativa: XXI - autorizar convênios a serem celebrados pelo Governo do Estado, com entidades de direito público ou privado e ratificar os que, por motivo de urgência e de relevante interesse público, forem efetivados sem essa autorização, desde que encaminhados à Assembleia Legislativa, nos noventa dias subsequentes à

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sua celebração". 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a regra que subordina a celebração de acordos ou convênios firmados por órgãos do Poder Executivo à autorização prévia ou ratificação da Assembleia Legislativa, fere o princípio da independência e harmonia dos poderes (art. 2º, da C.F.). Precedentes. 2. Ação Direta julgada procedente para a declaração de inconstitucionalidade do inciso XXI do art. 54 da Constituição do Estado do Paraná. (ADI 342/PR Paraná, STF, Tribunal Pleno, Rel.

Min. Sydney Sanches, j. 06/02/2003).

De fato, a jurisprudência do Colendo Supremo Tribunal Federal alterou-se a partir do julgamento da ADI 331/PB, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes que, em 3 de abril de 2014, reconheceu a constitucionalidade do inciso XXII do artigo 54 da Constituição do Estado da Paraíba, de seguinte teor:

“Art. 54. Compete privativamente à Assembleia Legislativa:

XXII autorizar e resolver definitivamente sobre empréstimo, acordos e convênios que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual.”

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Ao proferir seu voto, o eminente Ministro Relator afirmou que:

“(...) na hipótese dos autos, cuida-se apenas daqueles acordos ou convênios capazes de acarretar encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual. Nesse sentido, não parece irrazoável que o constituinte estadual procure conferir maior controle dessas operações à Assembleia Legislativa.

Tampouco significa violação à separação dos poderes o fato de os acordos ou convênios que podem gerar encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual poderem ser submetidos à autorização do legislativo local.

Com efeito, o fortalecimento do controle desses atos implica prestigiar os mecanismos de checks and balances, não a invasão de competências.

(...)” (g.n.)

Com base no precedente referido (ADI nº 331/PB), seguiram-se vários julgados do Supremo Tribunal Federal, todos de relatoria do Ministro Marco Aurélio, sob o entendimento de que “não contraria o princípio da separação de poderes, considerada a simetria constitucional, preceito local que submete a celebração de acordos e convênios à autorização do Poder Legislativo” (Cf. RE 1.159.814/SP, decisão monocrática de 26/02/2019). Na mesma linha: RE 602.458/SP,

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decisão monocrática de 02/04/2019; RE 974.493/MT, decisão monocrática de 17/04/2018.

Todavia, no julgamento do Agravo de Instrumento nº 721.230/MG, o relator Ministro Roberto Barroso, decisão monocrática de 04 de dezembro de 2018, filiando-se à jurisprudência tradicional da Suprema Corte, reafirmou o entendimento de “que viola o princípio da separação dos Poderes dispositivo de lei que atribua ao Poder Legislativo a competência para autorização de convênios, concessões ou acordos celebrados pelo Poder Executivo.”

Assim, diante do julgamento dos citados precedentes, não se pode dizer que a Suprema Corte tenha assentado uma orientação definitiva sobre o assunto, ao revés, formaram-se duas teses na composição atual do Colendo Supremo Tribunal Federal sobre a matéria.

Conquanto em acórdãos mais recentes, a posição daquela Corte tenha sido alterada, foi de modo a aceitar a previsão de lei autorizativa em casos excepcionais na hipótese de oneração relevante do patrimônio público. No julgamento da ADI 331/PB, foi assentado que

“acordos ou convênios que podem gerar encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual podem ser submetidos à autorização do legislativo local, sem violar o princípio da separação dos poderes”. No mesmo sentido, no julgamento do RE 488.065 AgR/SP, a ementa do acórdão proferido destaca: “Não contraria o princípio da separação de poderes preceito local que submete a celebração de convênios pelo

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Executivo à autorização do Legislativo. Precedente: ação direta de inconstitucionalidade nº 331/PB, acórdão publicado no Diário da Justiça de 2 de maio de 2014.”

Nesse contexto, importa observar que no julgamento da ADI 331/PB, considerando o caso do Estado da Paraíba, no qual o dispositivo impugnado tratava especificamente de “acordos ou convênios que podem gerar encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio estadual”, não há falar em invasão de competências, mas sim, no princípio tradicional de balança de poderes e contrapesos constitucionais, onde cada um dos Poderes serve de limitação ao arbítrio dos outros simplesmente por exercer sua ação constitucional dentro dos limites intransponíveis de sua própria competência (Eusébio de Queiroz Lima, in Teoria do Estado, p.

307). Sobre o tema, esclarece Dalmo Dallari que “o sistema de separação dos poderes, consagrado nas Constituições de quase todo o mundo, foi associado à ideia de Estado Democrático e deu origem a uma engenhosa construção doutrinária, conhecida como sistema de freios e contrapesos” (in Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 193).

Nessa toada, na ausência de excepcionalidade, nos termos do entendimento outrora consolidado pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, a prévia autorização legislativa para concessão de serviços públicos, constitui ingerência na competência específica do Executivo, por meio de controle prévio dos seus atos, o que não encontra amparo no texto constitucional federal. Note-se que a regra, no ordenamento constitucional, é a existência de poderes independentes e

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harmônicos entre si, só se justificando a interferência de um Poder em outro nas hipóteses expressamente previstas na Carta Federal. Essa a lição que se extrai do disposto no artigo 2º da Constituição Federal, in verbis:

“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”

Noutro bordo, a norma municipal impugnada invadiu a esfera de gestão administrativa que cabe ao Poder Executivo, e envolve o planejamento, a direção, a organização e a execução de atos de governo.

Com efeito, “isso não significa, todavia, que o Poder Executivo possui um cheque em branco para decidir a seu bel-prazer.

Primeiro, o sistema de freios e contrapesos estabelecido pela Constituição confere ao Poder Legislativo, além das funções legislativas típicas, uma série de atribuições de fiscalização e controle, inclusive por meio de órgãos de assessoramento. Existem atribuições específicas relativas ao controle de contratos administrativos celebrados pela Administração Pública (tais como os contratos de concessão), os quais, nos termos do art.

71, caput, inc. X e § 1º, podem ser sustados pelo Poder Legislativo, com base em comunicação efetuada pelo Tribunal de Contas competente.

Aliás, diga-se de passagem, a prestação executada por meio do contrato de concessão instrumento que prevê metas de disponibilidade e universalização dos serviços, indicadores de desempenho e qualidade e outras obrigações claramente atribuídas ao concessionário tende a oportunizar, como regra, um controle mais efetivo pelo Poder

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Legislativo, órgãos de controle e sociedade civil organizada do que aquele observado para a prestação direta. Além disso, nunca é demais ressaltar que a concessão de um serviço público não é o mesmo que negar, a partir da celebração do contrato de concessão, a responsabilidade do Poder Executivo pelo serviço delegado e pelo atingimento dos fins sociais a ele subjacentes. Há diversas outras funções de interesse público que permanecerão a cargo da administração, tais como o planejamento, a regulação e a fiscalização dos serviços outorgados. Segundo, cabe ao Poder Legislativo outro papel extremamente relevante, ditado pela Constituição, qual seja o estabelecimento de um regramento legal, geral e abstrato que vai pautar a atuação do Poder Executivo na contratação de concessões, dispondo, em atendimento ao conteúdo especificado no parágrafo único do art. 175 da Constituição, sobre o regime jurídico aplicável a tais contratos, os direitos dos usuários, a política tarifária e a adequação dos serviços. Adicionalmente, esse controle legislativo também se impõe por ocasião da discussão e aprovação de leis orçamentárias, ocasião em que a contratação de projetos de concessão poderá ser discutida sob o prisma da alocação de recursos e da programação orçamentária. Ou seja, é inconteste que existe um espaço de delimitação normativa, na linha do determinado pela Constituição, que só pode ser traçado pelo Poder Legislativo, no âmbito da União e dos entes subnacionais. Por conta desses fatores, tem-se que a exigência de lei autorizativa importa numa concentração excessiva de prerrogativas no Poder Legislativo, a quem caberá não apenas fiscalizar e dispor (de forma geral e abstrata) sobre a disciplina jurídica das delegações de serviços públicos, mas também dar a palavra final (leia-se, a

“autorização”), no caso concreto, para a contratação de qualquer

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concessão. Em termos práticos, a obrigatoriedade de autorização legislativa tem o efeito de transferir para o Poder Legislativo o poder de decisão sobre a delegação do serviço, bem como, em teoria, a responsabilidade pelo manejo e pela consideração, para cada concessão, de uma série de variáveis técnicas pertinentes à prestação de um serviço público. E nesse contexto cabe indagar: o Poder Legislativo é realmente o ator institucional mais capacitado para desempenhar esse papel? Por isso, reputar válida a necessidade de lei autorizativa para a prestação indireta de serviços públicos significa, para todos os efeitos, a caracterização de uma ascendência hierárquica do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo em matéria de prestação de serviços públicos, o que, a nosso ver, parece não condizer com a Constituição.” 2

De um modo geral, pode a Câmara, por deliberação do Plenário, indicar medidas administrativas ao Prefeito adjuvandi causa, isto é, a título de colaboração e sem força coativa ou obrigatória para o Executivo. A propósito ensina Hely Lopes Meirelles:

“A atribuição típica e predominante da Câmara é normativa, isto é, a de regular a administração do Município e a conduta dos munícipes no que afeta aos interesses locais. A Câmara não administra o Município;

estabelece, apenas, normas de administração

2 in “Discussão sobre a necessidade de autorização legislativa para concessões de serviços públicos R. BNDES, Rio de Janeiro, v. 25, n. 50, p. 345-400, dez. 2018. 363”, disponível em https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/conhecimento/publicacoes/periodicos/revista- bndes-50, acesso em 10 jun 2019.

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(...). De um modo geral, pode a Câmara, por deliberação do plenário, indicar medidas administrativas ao prefeito adjuvandi causa, isto é, a título de colaboração e sem força coativa ou obrigatória para o Executivo; o que não pode é prover situações concretas por seus próprios atos ou impor ao Executivo a tomada de medidas específicas de sua exclusiva competência e atribuição. Usurpando funções do Executivo, ou suprimindo atribuições do prefeito, a Câmara praticará ilegalidade reprimível por via judicial” (in “Direito Municipal Brasileiro”, Malheiros Editores, São Paulo, 15ª ed., pp. 605/606).

A propósito os precedentes deste Colendo Órgão Especial: ADI nº 2034247-46.2018.8.26.0000, Rel. Des. João Carlos Saletti, j. 12/12/2018; ADI nº 2084946-41.2018.8.26.0000, Rel. Des.

Evaristo dos Santos, j. 26/09/2018; ADI nº 2020852-55.2016.8.26.0000, Rel. Des. Márcio Bartoli, j. 27/04/2016, dentre outros.

Assim, flagrante a inconstitucionalidade dos dispositivos mencionados, por afronta aos artigos 5º, 47, incisos II e XIV, e 144, da Constituição do Estado de São Paulo.

Já o § 3º do artigo 17 da Lei Orgânica trata:

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“Art. 17 (...)

§ 3º - Os Vereadores, no exercício do seu cargo, terão livre acesso a qualquer departamento da Câmara Municipal, da Prefeitura Municipal e de suas autarquias.”

A propósito, a Câmara Municipal, a par de sua função legislativa típica e predominante, também exerce uma função de controle e fiscalização do Executivo, nos termos do artigo 31 da Constituição Federal;

todavia esse poder fiscalizatório do Legislativo em relação ao Executivo, como ensina Hely Lopes Meirelles, “deve conter-se nos limites do regramento e dos princípios constitucionais, em especial o da independência e harmonia dos Poderes” (in “Direito Municipal Brasileiro”, 15. ed., São Paulo, Malheiros, 2006, pág. 609).

O princípio da separação e interdependência dos órgãos de soberania tem uma função de garantia da Constituição, pois os esquemas de responsabilidade e controle entre os vários órgãos transformam-se em relevantes fatores de observância da Constituição (J.J.

Gomes Canotilho, in Direito Constitucional, ed. 1991, p. 321 e 695).

Sobre o tema, esclarece Dalmo Dallari que “o sistema de separação dos poderes, consagrado nas Constituições de quase todo o mundo, foi associado à ideia de Estado Democrático e deu origem a uma engenhosa construção doutrinária, conhecida como sistema de freios e contrapesos” (in Elementos de Teoria Geral do Estado, p. 193).

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E, segundo o princípio tradicional de balança de poderes e contrapesos constitucionais, cada um dos Poderes serve de limitação do arbítrio dos outros simplesmente por exercer sua ação constitucional dentro dos limites intransponíveis de sua própria competência (Eusébio de Queiroz Lima, in Teoria do Estado, p. 307). E, na prática de atos, “se houver exorbitância de qualquer dos Poderes surge a ação fiscalizadora do Poder Judiciário, obrigando a cada um a permanecer nos limites de sua respectiva esfera de competência” (Dalmo Dallari, in ob. cit., p. 193).

In casu, o dispositivo impugnado ao assegurar aos

Vereadores livre acesso às repartições do Poder Executivo, extrapola os limites estabelecidos pelos sistemas de controle previstos nos artigos 33 e 150, da Constituição Bandeirante que, por sua vez têm fundamento de validade no artigo 32 da mesma Carta.

Nesse passo, dispõe o artigo 32, que a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Estado, das entidades da administração direta e indireta e das fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público será exercida pelo Poder Legislativo local, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo, na forma da lei, estabelecendo o artigo 33, que o controle externo será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios onde houver (Hely Lopes Meirelles, in Direito Administrativo Brasileiro, p. 714).

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A respeito do tema, julgados deste Colendo Órgão Especial:

“AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE - Lei nº 2.062, de 30 de junho de 2014, do Município de Santo Antônio do Jardim, que 'institui a obrigação da Prefeitura Municipal de Santo Antônio do Jardim a publicar previamente em seu sítio eletrônico, e enviar para a Câmara Municipal os editais referentes a qualquer modalidade de licitação pública a ser realizada no Município' Disposições que envolvem fiscalização do Legislativo sobre o Executivo local - Inobservância, porém, do modelo constitucional estabelecido Constatação de mácula ao princípio da separação dos Poderes - Norma, ademais, que desborda da competência legislativa constitucionalmente assegurada ao ente municipal, violando o pacto federativo Disposições que envolvem regras de procedimento de licitação Ofensa aos artigos 1º, 5º, 33, 144 e 150 da Carta Estadual Pedido inicial julgado procedente.” (ADI nº 2248831-42.2015.8.26.0000, Rel. Des. Francisco Casconi, j. 01/06/2016).

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“Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 11.190/2015, do Município de Sorocaba, que

“dispõe sobre a criação de emprego público de Agente de Combate às Endemias, a criação de funções gratificadas e dá outras providências”.

Artigos 9º e 10. Imposição ao Executivo do envio de prestação de contas e relatórios mensais ao Conselho Municipal da Saúde.

Inconstitucionalidade reconhecida por violação ao princípio da separação dos poderes e em razão da criação de sistema de controle em desconformidade com o modelo já previsto na Constituição. Artigos 33 e 150 da Constituição do Estado de São Paulo. Ação procedente.”

(ADI nº 2095354-62.2016.8.26.0000, Rel. Des.

Arantes Theodoro, v.u., j. 31/08/2016).

De fato, o Poder Legislativo Municipal foi além do que dispõe a Constituição, pois dentro dos sistemas de controle previstos tanto no texto da Constituição Federal (Cf. artigo 31) como na Estadual, não há metodologia de fiscalização que se assemelhe àquela adotada no dispositivo impugnado. Assim, a Câmara Municipal extrapolou os limites de controle, na medida em que referido dispositivo cria para a Administração obrigação inexistente no paradigma constitucional estadual, o que implica em ofensa ao princípio da independência e harmonia dos Poderes (artigo 5º), de observância obrigatória também aos Municípios

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(artigo 144).

Portanto, se conclui da inconstitucionalidade da expressão “da Prefeitura Municipal e de suas autarquias” prevista no § 3º do artigo 17 da Lei Orgânica do Município de Holambra, por afronta aos artigos 5º, 33 e 150, da Constituição do Estado.

O artigo 23 da Lei Orgânica, conforme a sua nova

redação prevê:

“Art. 23 O Vereador poderá licenciar-se:

I por motivo de doença ou gestação;

II para desempenhar missões temporárias, de interesse do Município;

III para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que o afastamento não ultrapasse a sessenta dias por sessão legislativa.”

Segundo o autor, o inciso III, do artigo 23, padece de vício de inconstitucionalidade por ofensa ao princípio da simetria, já que a inovação trazida por intermédio de emenda legislativa, ao restringir a apenas “sessenta dias por sessão legislativa” o período de tempo de afastamento do Vereador, foi além das disposições das Constituições Federal e Estadual. A respeito, estabelece a Constituição do Estado de São Paulo:

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“Art. 17. Não perderá o mandato o Deputado:

(...)

II licenciado pela Assembleia Legislativa por motivo de doença ou para tratar, sem subsídio, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.”

E, tal norma, apenas reflete o disposto no artigo 56, inciso II, da Constituição Federal:

“Art. 56 Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:

(...)

II licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.”

Com efeito, nos termos do disposto no artigo 29, inciso IX, da Constituição Federal, a Lei Orgânica Municipal deverá prever as

“proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da Assembleia Legislativa”.

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Desta feita, o ato normativo impugnado deve observância às proibições e incompatibilidades constantes da Constituição Federal, aplicáveis aos Deputados Federais e Senadores, bem como às dispostas na Constituição Estadual, aplicáveis aos Deputados Estaduais, que por força do princípio da simetria, consoante o inciso IX, do artigo 29, da Constituição Federal, aplicam-se aos Vereadores, de tal arte que deve ser conferida interpretação conforme no que tange ao inciso III do artigo 23 da Lei Orgânica de Holambra, dando, dessa forma, ao dispositivo impugnado, sentido compatível com a Constituição que contempla o afastamento por cento e vinte dias por sessão legislativa.

O inciso XXII do artigo 62 e o artigo 154F, da Lei Orgânica de Holambra, dispõem que:

“Art. 62 (...) (...)

XXII aprovar projetos de edificação e planos de loteamento, arruamento e, mediante lei, o zoneamento para fins urbanos, ambos com apreciação prévia do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano CMDU e da Câmara Municipal;”

(...)

“Art. 154F Antes da aprovação de projeto de loteamento e desmembramento urbano, e após estabelecer as diretrizes, o Poder Executivo encaminhará cópia de todo o processo à

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Câmara de Vereadores, o qual ficará à disposição de seus membros e da sociedade civil, durante 30 (trinta) dias corridos.

Parágrafo único Será necessária a realização de audiência pública, para ampla publicidade e transparência, a ser realizada por técnicos da Prefeitura Municipal.”

O inciso XXII do artigo 62 e o novo artigo 154F violam o princípio da separação de Poderes, na medida em que impõem atribuição a Conselho Municipal e condição para agir à Administração Municipal que representam indevida invasão da gestão administrativa pela Câmara Municipal. Ora, é o Chefe do Executivo Municipal quem tem aptidão, segundo a regra constitucional, de administrar o Município (artigo 47, incisos II e XIV, da Carta Bandeirante). É ele quem exercita as funções de governo relacionadas com o planejamento, organização e direção de serviços da Municipalidade.

Por sua vez, o artigo 63, o parágrafo único do artigo 64 e os artigos 65 e 67 da Lei Orgânica do Município de Holambra determinam:

“Art. 63 São crimes de responsabilidade do Prefeito os atos cometidos que atentarem contra a Constituição Federal, a Constituição Estadual, a Lei Orgânica do Município e, especialmente, os que:

I impedirem o livre exercício das atividades

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da Câmara Municipal;

II atentarem contra a probidade na Administração;

III ferirem a lei orçamentária;

IV descumprirem as leis e decisões judiciais;

V retiverem dolosamente os vencimentos, salários e vantagens, ou investimentos indevidos em aplicação financeira pela Administração Municipal;

VI Constituírem desvio de procedimento, falta de clareza ou omissão de dados;

VII configurarem a mora na remessa do duodécimo à Câmara Municipal, após o dia vinte de cada mês, nos termos do § 2º do art. 29- A da Constituição Federal;

VIII atentarem contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais.”

“Art. 64 (...)

Parágrafo único A Câmara Municipal, tomando conhecimento de qualquer ato do Prefeito que possa configurar infração penal comum ou crime de responsabilidade, nomeará comissão especial para apurar os fatos que, no prazo de até 90 (noventa) dias úteis, deverão ser apreciados pelo Plenário.”

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“Art. 65 O Prefeito ficará suspenso de suas funções, com o recebimento da denúncia pelo Tribunal de Justiça, que cessará em até cento e oitenta dias corridos, se não tiver concluído o julgamento, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.”

“Art. 67 São infrações político- administrativas do Prefeito sujeitas ao julgamento pela Câmara dos vereadores e sancionadas com a cassação do mandato:

I impedir o funcionamento regular da Câmara;

II impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de obras e serviços Municipais, por comissão de investigação da Câmara ou auditoria, regularmente instituída;

III desatender, sem motivo justo as convocações ou os pedidos de informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular;

IV retardar a publicação ou deixar de publicar as Leis e atos sujeitos a essa formalidade;

V deixar de apresentar à Câmara, no devido

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