METODOLOGIA DE PROJETO
Introdução
◼ Considera-se como MÉTODO
(do grego
methodos
= modo de agir) o procedimento oucaminho racional para se atingir
determinado objetivo que, no caso da arquitetura e
urbanismo, depende do enfoque que se quer dar ao problema de
criação do espaço
arquitetônico e urbano, ou
seja, da metodologia projetual.
Falk House |House II
◼
Segundo Edson Mahfuz (1984), a atividade
criativa exercida pelos arquitetos baseia-se em
grande parte na interpretação e adaptação de
precedentes, através do uso de
ANALOGIAS
,
ou seja, comparando-se com o que já foi feito.
◼Assim, as formas arquitetônicas seriam geradas
basicamente por 04 (quatro) métodos, sendo
que em todos ocorreriam comparações
(positivas ou negativas) com algo preexistente,
a saber:
MIMÉTICO
,
TIPOLÓGICO
,
◼ Esses métodos de
geração formal aparecem
em combinações durante o processo de composição em arquitetura, sendo que,
pelo menos, dois ou três estariam presentes, em
geral sendo usados hierarquicamente, como, por exemplo, um para as partes principais do projeto
e outros para as demais.
Vitruvian House
(1990, South Bend IN - EUA)
Thomas Gordon Smith
Fernando Bopp & Valeria Bechara
(1995/96, Curitiba PR)
◼ Na verdade, os quatro métodos devem ser vistos como
complementares e não como sistemas independentes ou mutuamente exclusivos, pois é possível identificar todos
sendo aplicados ao mesmo tempo, como foi o caso da VILLA STEIN, projetada por Le Corbusier (1886-1965).
1º Pavimento 2º Pavimento Terraço Térreo 1 Hall Social 2 Garagem 3 Serviços 4 Cozinha 5 Sala de Jantar 6 Sala de Estar 7 Terraço 8 Dormitório 9 Banheiro 10 Vazio 1 2 3 4 5 6 7 7 7 7 8 8 8 8 10 8 8 8 8 8 7 9 9 9 9 Villa Stein (1927/29, Garches França)
◼ É aquele pelo qual novos
objetos e edificações são gerados com base na
imitação
de modelos anteriores, em que predomina a tradição em
detrimento da invenção. ◼ Inicia-se com a escolha de um
MODELO preexistente, o qual tem forma familiar, a qual foi testada exaustivamente e tem
uma longa aceitação.
Método Mimético
(c. 82 d.C., Roma - Itália)Arco de Tito - h=15m
Arco do Triunfo - h=50 m
◼ A escolha desse modelo
implica em um juízo de
valor: o reconhecimento
de que certa obra seria a melhor solução para
determinado problema.
◼ Outra característica desse
método de projeto é que há um razoável grau de
invenção, cuja finalidade é
sempre ADAPTAR o modelo às novas circunstâncias.
Piazza d’Italia
(1974/78, N. Orleans LO - EUA)
◼ Com base no conceito de MIMESIS provindo de
Aristóteles (384-322 a.C.), em que há um sentido de interpretação e adaptação, o fato de que modelos são transpostos no tempo e no espaço significa que existem
sempre diferenças entre os contextos envolvidos, o que invalida a cópia perfeita, mas possibilita a ADEQUAÇÃO.
Jay Sarno
(1962/66, Las Vegas NV - EUA)
◼ Nesse método, a obra é gerada por analogias visuais
com o preexistente, o que é feito de 03 (três) modos:
• Por REVIVALISMO ou revificação estilística, em que se faz a imitação de edifícios de outro tempo e lugar, em sua aparência geral ou nas partes principais, como ocorre nos estilos neo (neoclássico, neogótico, neobarroco, etc.); • Por ECLETISMO, em que se imita não edifícios inteiros,
mas fragmentos deles, fazendo a justaposição de partes, a permutação compositiva ou a miscelânea estilística, o que foi frequente na segunda metade do século XIX; e
• Por ESTILISMO, em que se escolhe um número reduzido de partes, tomadas cuidadosamente de modelos visando conferir significados precisos a novas obras e sem
transposição literal de elementos, preferindo-se a sua “reinvenção”, como alegado por alguns pós-modernistas.
Templo da Maison Carrée
(Séc.II d.C., Nîmes França)
Catedral de Buenos Aires
(1752/1852, Argentina)
Próspero Catelin & Pedro Benoit
Pierre Vignon
(1764/1828, Paris França)
Igreja de La Madeleine
Galeria Vittorio Emanuele II
(1877, Milão - Itália) - Giuseppe Mengoni
ECLETISMO
Cândido de Abreu (1913/16, Curitiba PR) Paço da Liberdade Basílica de Santo Estevão (1851/1905, Budapeste Hungria)AT&T [Sony] Building (1978/82, N. York - EUA) Philip Johnson
ESTILISMO
Museu Infantil (1980, Houston TX EUA) Robert VenturiThomas G. Smith
(1980/81, Cathedral City CA - EUA)
Método Tipológico
◼ É aquele que se baseia no
conceito de TIPO, ou seja, uma
estrutura interior ou subjacente a uma forma arquitetônica que
pode sofrer qualquer variação, inclusive sua própria modificação.
◼ O tipo trata-se de um princípio
estrutural ou organizacional
da arquitetura que não pode ser confundido com uma forma passível de descrição detalhada. 15 tipos recorrentes na
◼ Segundo Quatremère de
Quincy (1755-1849), TIPO é
um princípio que pode reger a criação de vários objetos
totalmente diferentes,
distinguindo-se portanto de MODELO, o qual deve
ser repetido como ele é.
◼ Trata-se de um tema ou
estrutura arquitetônica
atemporal
que pode se transformar ao longo de◼ Todo edifício pode ser reduzido conceitualmente a um
TIPO, ou seja, é possível se abstrair a composição de uma edificação até o ponto em que se veem apenas as
relações existentes entre as partes, deixando de lado
as partes propriamente ditas.
Stahl House – CSH #22 (1959/60, West Hollywood CA EUA) Pierre Koening
◼ Projetar com esse método –
que também se apoia mais na
tradição
que ainvenção
,embora menos que o anterior – é usar tipos como parte do processo de criação de novos
artefatos arquitetônicos.
◼ Aqui, o emprego de
determinado tipo é justificado pela existência de alguma afinidade estrutural – ou uma
analogia entre um precedente
e o problema atual.
Casa-Pátio Grega
Antiga
1 Entrada (Prothiron) 5 Cômodos dos Homens (Andron)
2 Pátio (Aulas) 6 Latrina 7 Cozinha e Serviços
3 Sala/Copa (Oescus)
4 Cômodos das Mulheres (Gineceu)
1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 2
CASA-PÁTIO MODERNA
◼ No método tipológico, um TIPO qualquer oriundo do
passado pode ser usado de 02 (dois) modos distintos:
• DE MANEIRA HISTÓRICA: Quando se confere um
significado a uma forma por meio de associação mental
com um objeto-edifício já existente e conhecido. Aqui, o tipo é tanto um ponto de partida para o projeto como um instrumento de significação.
• DE MANEIRA A-HISTÓRICA: Quando o tipo é
absorvido no processo de composição e o significado do objeto resultante não é aquele do tipo utilizado,
mas resulta da própria operação de composição e do novo uso a que o tipo está sujeito
Biblioteca da Academia Phillips-Exeter
(1967/72, Exeter NH – EUA) Louis Kahn Térreo Pavimento Superior Corte PLANTA EM “O”
Método Normativo
◼ É aquele onde as formas
arquitetônicas são criadas com o auxílio de normas estéticas
ou princípios reguladores.
◼ Tais regras são usadas para se
criar um SENSO DE ORDEM
entre as partes de uma obra, o que pode ser obtido a partir de
relações de analogia entre elas ou subordinação a algum
◼ O uso de NORMAS ou regras
estéticas confere ao arquiteto maior
autoridade
esegurança
para a tomada de decisões formais e bidimensionais.
◼ Além disto, pode atribuir um
significado específico a uma
edificação por associá-la à
HISTÓRIA inerente ao sistema empregado ou através das
relações entre ele e sua violação dentro do próprio objeto.
Habitat’67 (1967, Montreal Canadá) Moshe Safdie
◼ Embora ainda presente
no método normativo, a tradição aqui se limita
ao sistema escolhido – geralmente de uso
consagrado no passado ou a ele referenciado –
para auxílio à projetação, havendo portando uma dose maior de invenção, caso for comparado às duas
metodologias anteriores.
Amsterdam Orphanage
(1955/60, Holanda)
◼ Embora existam muitas normas estéticas na arquitetura,
há 03 (três) tipos que se destacam pelo uso na história:
• SISTEMAS DE COORDENADAS: Consistem em linhas que se cruzam, com direções e dimensões constantes, em uma malha bidimensional (aplicada à planta para auxiliar na hierarquia entre espaços) e tridimensional (aplicada ao esqueleto estrutural para ajudar a justaposição ou tensão); • SISTEMAS DE PROPORÇÃO: Usados para se criar um
senso de ordem entre os elementos de uma composição, havendo também razões filosóficas ou metafísicas para seu emprego, como: a seção áurea, o Ken ou o Modulor; e
• SISTEMAS DE GEOMETRIA: Fazem uso de formas
geométricas elementares como instrumentos de definição e controle das partes principais de uma edificação, aplicando esferas, cubos e prismas, além de figuras planas primárias.
SISTEMA DE COORDENADAS
Lloyd's Bank Corporation Building
(1978/86, Londres - Inglaterra)
SISTEMA DE PROPORÇÃO
Casa Japonesa
1 Sala 1 Tatame = 3 x 6 shaku
2 Copa/Cozinha (1 x ½ ken) 3 Banheiro 4 Pátio 1 3 2 4
Georges Candilis, Aléxis Josic & Shadrach Woods (1961/71, Toulouse França) Complexo Habitacional Le Mirail Plantas da Unidade (Módulo)
SISTEMA DE GEOMETRIA
Pav. Superior Pav. Térreo Planta das Módulos CombinadosMétodo Inovativo
◼ É aquele pelo qual se tenta
resolver um problema sem precedentes ou um problema comum de maneira diferente.
◼ Sua origem remonta ao
passado, quando os primeiros
construtores, por
tentativa-e-erro, testaram os materiais disponíveis até garantirem
proteção e dar forma espacial a determinada cultura.
Herb Greene
(1961/62, Oklahoma – EUA
◼ Sua característica básica é
que por ele cria-se algo que não existia anteriormente,
pelo menos no campo da arquitetura e urbanismo.
◼ Daí ser o método com maior
grau de
invenção
que os demais anteriores, já que sebaseia mais na inovação e criatividade que na
tradição
.Larkin Building
(1904, Buffalo NY - EUA)
◼ Como, no mundo, grande número de artefatos já foram
criados, tal método está ligado principalmente à
PROPOSIÇÃO DE DETALHES, ou seja, de elementos que conferem um caráter específico a uma edificação ou espaço urbano, como pórticos, transições, aberturas, colunas, etc.
Catedral Metropolitana (1957/60, Brasília DF - Brasil) Oscar Niemeyer Santiago Calatrava (2010/16, N. York - EUA) WTC’s Oculus
L’Oceanogràfic
(1997/2005, València - Espanha)
◼ Nesse método, para se criar algo novo e diferente do
preexistente, se faz uso de
analogias
como, por exemplo:• ANALOGIAS VISUAIS: Comparação da arquitetura com a aparência de formas humanas e naturais e/ou de
artefatos não-arquitetônicos, como: frutas, animais, veículos de locomoção e objetos do cotidiano, etc.;
• ANALOGIAS ESTRUTURAIS: Comparação do espaço arquitetônico com a organização de um programa ou
sistema (Funcionalismo) ou ainda com o funcionamento de elementos do mundo natural (colmeia, teia, etc.); e
• ANALOGIAS FILOSÓFICAS: Comparação do fazer
arquitetônico com os princípios de outras disciplinas, tais como correntes filosóficas (Humanismo, Iluminismo,
Desconstrutivismo, etc,), religiosas (Xintoísmo, Islamismo, Cristianismo, etc.) ou mesmo crenças esotéricas.
ANALOGIA VISUAL
Sydney Opera House (1956/73, Austrália) JØrn ÜtzonANALOGIA ESTRUTURAL
Villa Savoye
(1929, Poissy França)
ANALOGIA FILOSÓFICA
Judisches Museum
(1998/99, Berlim - Alemanha)
Conclusão
◼ Na atividade projetual, o
arquiteto e urbanista deve encontrar o método que mais lhe convém, de acordo
com a NATUREZA de cada problema, pois ele varia também com a escala do projeto, com o seu público-alvo e com os seus prazos e recursos, além das intenções
plásticas do profissional.
Walter Gropius
(1923/25, Dessau - Alemanha)
◼ Além dessa categorização feita
por Mahfuz (1987;1995), há outras metodologias discutidas
por outros pesquisadores, que também incluem outros
determinantes na arte de criar em arquitetura, porém quase
sempre se estabelece uma relação íntima entre esta
atividade e o REPERTÓRIO de cada profissional, além da sua aptidão e experiência projetual.
Disney Concert Hall
(1999/02, Los Angeles CA - EUA)
BIBLIOGRAFIA
❑ MAHFUZ, E. Ensaio sobre a razão compositiva. Belo
Horizonte: AP Cultural / Imprensa Universitária, 1995.
❑ _____. Nada provém do nada: a produção da arquitetura
vista como transformação de conhecimento. In: REVISTA
PROJETO. São Paulo: n. 69, nov. 1984. p.89-95.
❑ _____. Tradição & invenção: uma dialética fundamental.
In: REVISTA AU – ARQUITETURA E URBANISMO. São Paulo: n. 12, ano 3, jun./jul. 1987. p.70-4.
❑ SNYDER, J.; CATANESE, A. Introdução à arquitetura.