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Igreja Forma e Essencia - Gene a. Getz

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Academic year: 2021

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I m 1

II

0 CORPO DE CRISTO PELOS

ÂNGULOS DAS ESCRITURAS, DA

HISTÓRIA E DA CULTURA

Gene A. Getz

(2)

IGREJA:

FORM AE

ESSÊNCIA

O CORPO DE CRISTO PELOS

ÂNGULOS DAS ESCRITURAS, DA

HISTÓRIA E DA CULTURA

Gene A

Getz

Tradução

M árcio L o u reiro R e d o n d o

(3)

° 1984 de SP Publications, Inc.

Título do original: Sharpening the Focus of the Church Traduzido da edição amplamente revisada, publicada por Victor Books (Wheaton, II, ED A )

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por So c ie d a d e Relig io sa Ed içõ es Vida No v a,

Caixa Postal 21486, São Paulo, SP. 04698-970

Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.). Permitida a reprodução

parcial somente em citações breves em obras, críticas ou resenhas, com indicação de fonte.

2 4 6 8 10 9 7 5 3 1 95 97 98 96 94

ISBN 85-275-0204-6

Printed in Brazil / Impresso no Brasil C o o rd e n a ç ã o d e p ro d u ç ã o • RobinsoN Malko m es

Rev isão • Luc y Ya m a k a m i e Fab ia n i Med eiros

C o m p o sição • Valdem a r KrÓker

D iagram ação * Ro g er L. Malkomes e Ja n ete D . Cele stin o

C ap a • Íbis Rox a n e

Dados internacionais de "M ieação (CIP)

(Cârpara Brasileira do Livro, SP, II)

Getz, Gene A. |

Igreja; forma e essência: o corpo de Cristo pelos ângulos das Escrituras, da história e da cuftura ( Gene A.. Getz ; ( tradução Márcio L o u re i| Redondo | . — São Paulo : Vida Nova, 1994,

Bibliografia ISBN 8 5 -2 7 5 -0 2 0 4 -6

1. Igreja 2. Igreja - Renovação 3. Teologia prática I, Título.

94-2817

p a ra catálogo sistemático

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Prefácio à edição em português 7 Prefácio ã edição em inglês 9 Introdução 11

Pr im e ir a Pa r t e • 0 ângulo das Escrituras

Um Uma perspectiva da renovação da igreja 15 Dois Uma visão por três ângulos 35

Três Por que a igreja existe? 53 Quatro A formação de discípulos 63

Cinco Os princípios de evangelização do Novo Testamento 77

Seis A edificação da igreja 93

Sete As experiências vitais do Novo Testamento 107 Oito Os princípios de edificação do Novo Testamento 123 Nove A liderança na igreja do Novo Testamento — primeira

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Üez A liderança na igreja do Novo Testamento — segunda fase 153

Onze O corpo em ação 173

Doze Os princípios de liderança do Novo Testamento 187 Treze Os exemplos bíblicos de administração e de

organização 209

Quatorze Os princípios bíblicos de administração e de organização 229

Quinze A comunicação no Novo Testamento 249 Dezesseis Os princípios de comunicação do Novo

Testamento 267

Se g u n d a Pa r t e • O â n g u lo da h istó ria

Dezessete O institucionalismo na história 285 Dezoito Os reflexos do institucionalismo na igreja

evangélica 297

Te r c e ir a Pa r t e • O ângulo da cultura

Dezenove As implicações culturais para a igreja do século XX 309

Q\járta Parte * O desenvolvimento de m a estratégia contemporânea

Vinte O desenvolvimento gradual de uma perspectiva correta 327

Vinte e um A formulação de objetivos, alvos e padrões 347 Apêndice a Uma oportunidade de fazer o seu próprio

estudo indutivo 359

Apêndice b Atividades e diretrizes — resultados e objetivos 403 O autor 419

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Todos nós, que já sonhamos e nos compfometemos com o surgimento de uma igreja mais dinâmica e mais pertinente ao seu meio, já depa­ ramos com o mesmo problema: a questão da fotm a c da rssêuúâ' Desejamos uma igreja que seja, simultaneamente, a “cara” de nosso povo e fiel aos princípios neotestamentários; desejamos uma igreja de impacto, sem, contudo, sacrificar seu entendimento teológico no processo.

Quando li este livro pela primeira vez, há cerca de 12 anos, muitas verdades se esclareceram. Todos sabemos que a Bíblia não nos apresenta formas imutáveis, mas, sim, elementos fundamentais que se revestem (ou, pelo menos, deveriam revestir-se) de roupagem nova em cada situação. Quando não aplicamos essa verdade, criamos igrejas que, por estarem tão apegadas à forma, perdem o contato com sua essência. Nossa mensagem é tão importante, que não nos devemos deixar prender a práticas e costumes que, embora possam ter sido adequados na origem, hoje são, na melhor das hipóteses, inócuos.

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Vivemos uma época em que o movimento evangélico está buscando novas fórmulas de sucesso. Muitas vezes temos buscado apenas uma roupa nova ou novas palavras de ordem. Precisamos aprofundar nossa compreensão da essência da igreja, se quisermos ser tudo o que Deus pretende que ela seja. Apesar de ter escrito originariamente em 1974, em outras circunstâncias (EUA), o Dr. Gene Getz, pastor de muitos anos, mostra-se sobremodo atual e pertinente. Igreja: Forma e Essên­ cia vai oferecer-lhe um roteiro pelo qual você poderá desenvolver a filosofia de ministério e a estratégia que Deus tem para sua igreja em seu tempo e lugar.

Nós, do Conselho de Igrejas para Desenvolvimento de Líderes

(b il d), nos consideramos privilegiados por poder facilitar a publicação deste livro em português. Acreditamos que, utilizado com seriedade, ele possa libertar sua comunidade de muitas formas, possibilitando um ministério muito mais aplicável a sua situação e muito mais harmônico com o propósito de Deus para sua igreja.

Pr. Da n i e l Lim a

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Os livros não cessam de vir à luz. Mas poucos com mensagens bem definidas, pertinentes e orientadoras. É difícil produzir livros assim. Exigem mente imaginativa, criadora. Não desaparecem com a crítica e a depreciação. Desbravam novas trilhas a exploradores corajosos do reino de Deus. E o caso de Igreja: Forma e Essência.

Segundo o NT, a igreja é gloriosa. Cristo amou-a e deu-se por ela. Ele a edifica. Caminha entre os candeeiros de ouro. Ela é a sua igreja, e apresentá-la-á a si mesmo sem mácula nem ruga.

Mas, na história, essa glória nem sempre se refletiu nas igrejas locais. Deve-se admitir humildemente esse fato trágico. Daí serem muitas delas duramente criticadas, cruelmente atacadas, tristemente ne­ gligenciadas e friamente rejeitadas pelos que as consideram inapli­ cáveis, antiquadas e sem sentido. Em alguns lugares, os edifícios das igrejas quase não passam de monumentos históricos ou museus.

Sem dúvida, o julgamento do mundo é cruel; às vezes, injusto. Mas será sem razão? As igrejas têm sido fiéis ao chamado divino, ao

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propósito que Deus traçou para elas? Não deveríamos, até, dizer-lhés: “Corrias berr»; quem te impediu...?” . Essa é, assim, a situação hoje.

Mas nossc> Senhor não cortou relações com a igreja. Agora canii- nha entre os candeeiros. Por sua graça, está levando alguns de seus servos a aplicar as habilidades e o conhecimento no diagnóstico das enfermidades das igrejas e na ajuda para que elas encontrem o ca­ minho da renovação e da reconstrução. Gene Getz foi dirigido p ^ o Senhor nos diagnósticos e nas indicações de saída do dilema.

Os três ângulos, Escrituras, história e cultura, aplicam-se com efi­ cácia e coerência, sendo muito reveladores e úteis. Essa abordagem ressalta que'as igrejas não devem viver na)Bíblia,“ mas por ela, na his­ tória e no ambiente cultural. E, embora a Bíblia permaneça constante e seja a norma absoluta da vida eclesiástica, a história e a cultura mu­ dam constantemente e requerem alterações na forma e na estrutura, para continuarem relacionadas com o mundo em que atuam. O pro­ cesso de institucionalização pode “congelar” as igrejas em padrões que geram estagnação e morte. A saída é a contínua metamorfose das igrejas, sem ^Iterar a mensagem imutável, nem deixar os padrões, os ideais e os objetivos encontrados na Bíblia. ' A apresentação bíblica das igrejas do NT feita por Getz trata-se eclesiologia prática em forma viva e bem fundamentada na Bíblia. Põe as igrejas locais no centro dos movimentos cristãos e evangélicos — como faz o NT. Define claramente o propósito delas, a função e os cargos nas igrejas, e traça uma linha divisória entre essencial e se- cuwAino * funcional e estrutural, conteúdo e forma, “çnêumenos” e fe­ nômenos organismo bíblico dinâmico e organização cultural.

O f e r e c e t n ' s e detalhes sobre as distinções e as definições de palavras

como pregação, ensino, evangelização e testemunho e as descrições de

c a r g o s e pessoas. Distingue-se entre os ministérios nas (para as) igfe-

jas locais e na (para a) igreja universal, em que as diferenças de opi­ nião e de interpretação são permissíveis sem ser conflitantes.

O livro tem uma mensagem para a igreja hoje, e será bom que pen­ semos sobre

e^a-G e o r g e W. P e t e r s Professor Emérito de Missões Mundiais, Dallas Theological Seminary

(10)

Tenho uma grande dívida com inúmeros cristãos que ajudaram a tornar este livro uma realidade. Devo especial reconhecimento a meus alunos e irmãos em Cristo do Dallas Theological Seminary, que me

KAYffiüVàràTn àfcm tro e, iw àfíiea\grais atíCft,

minha reflexão em torno das necessidades e dos problemas da igreja do século xx. Suas perguntas francas, seus comentários e especial­ mente suas reações positivas diante dos conceitos apresentados nesta obra foram fonte perpétua de estímulo e incentivo.

Dois alunos em especial — ambos missionários na Europa, atualmente — tiveram a ousadia de me desafiar a tomar parte na abertura de igrejas. “A teoria parece muito boa” , davam sempre a entender em nossas conversas depois da aula, “mas quando você vai demonstrar que pode funcionar numa situação real?”

De início, respondia que era tarefa deles aplicar esses princípios em situações culturais variadas. A minha era pesquisar, ensinar e preparar outros — como eles — para fundar e também renovar igrejas.

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Suas palavras, entretanto, martelavam na minha mente. Nem imaginava que, depois de 20 anos como professor de tempo integral, deixaria os meios acadêmicos de estudo sacro para tornar-me pastor de tempo integral. Embora eu ainda lecione em tempo parcial no seminário de Dallas, desde 1973 tenho gastado a maior parte do meu tempo junto às bases, abrindo e pastoreando igrejas.

Que grande experiência de aprendizado! Aquilo que descobri alguns anos atrás acerca dos princípios do Novo Testamento quanto à vida da igreja — o tema principal deste livro — ainda creio de todo o coração. No entanto, agora sei bem mais sobre como aplicar esses princípios. E ainda estou aprendendo! E o que estou aprendendo, estou tentando partilhar com outras pessoas. Esta revisão bastante ampla de Escrituras, História e Cultura é um reflexo desse esforço.

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O ângulo

das Escrituras

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A primeira parte tem o propósito de ajudá-lo a ver a igreja de hoje pelo ângulo das Escrituras. É o segmento maior do livro por ser o alicerce. É um estudo bíblico, e escrevi estes capítulos com o propósito de levantar algumas perguntas fundamentais acerca da igreja no Novo Testamento, a elas respondendo, e, depois, procurar princípios que servirão de diretrizes para a igreja do século xx.

Quais eram suas funções e quais os resultados? Quais eram suas diretrizes e objetivos? Como a igreja se relacionava com a cultura e a comunidade do século I? Quais eram as experiências significativas dos cristãos do Novo Testamento quando se reuniam para a edifi­ cação? Quem eram seus líderes? Como eram escolhidos e quais eram suas qualificações? Como os membros da igreja do Novo Testamento se comunicavam entre si e com o mundo? Quais eram suas estruturas e formas?

Certamente este estudo não é exaustivo, pois quem pode desvendar sozinho as profundezas da eterna Palavra de Deus? Mas espera-se que seja suficientemente abrangente para colocá-lo de frente, de modo novo e vital, com o dinâmico grupo de pessoas que mudou o curso da história — a igreja do século I.

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!

Uma

perspectiva da

renovaçao da

igreja

O que ocorreu nas igrejas evangélicas nas últimas duas décadas não está desvinculado do que aconteceu com a nossa cultura em geral. Jamais está. A “infiltração cultural” é inevitável.

No final da década de 60 e no início da de 70, os Estados Unidos começaram a experimentar um clima antiinstitucional que chegou a ameaçar os próprios alicerces de nossa sociedade. Foi sobretudo nesses anos que os alunos das universidades se rebelaram.

Essas agitações e crises culturais de fato “se infiltraram” em nossas subculturas evangélicas. A maioria de nós, que estávamos lecionando em faculdades evangélicas naqueles dias, lembra-se claramente das perguntas ameaçadoras e dos ataques verbais disparados contra as várias instituições em que lecionávamos, bem como das atitudes negativas dos alunos em relação à igreja como instituição (veja a figura 2).

Vários educadores, teólogos e clérigos começaram a enfrentar essas perguntas com sinceridade e procuram destrinchar o problema fazendo

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separação entre o que era realmente válido nessas reações e o que era simplesmente infelicidade, frustração e desilusão causadas por uma sociedade em crise.

O que estava ocorrendo na cultura em geral e de modo particular na subcultura evangélica na época também tinha raízes históricas significativas. Nenhuma crise se dá no vazio. No mundo secular, a “vaca sagrada” da ciência e os resultados por ela prometidos não estavam funcionando. Não havia nenhum indício da “grande so­ ciedade”. Além disso, o mundo adulto estava em processo de modificação de seu sistema de valores morais, o que provocou, de

Figura 2: Infiltração cultural

modo especial, uma desilusão entre nossa juventude. Além disso, mais e mais jovens estavam ficando muito insatisfeitos com o que sentiam ser uma sociedade despersonalizada, que os estava devorando, esmigalhando sua individualidade e destruindo seus impulsos criativos. Sentiam-se perdidos em meio a uma imensa máquina cultural que estava ficando descontrolada. Sentiam-se arrasados. O principal recur­ so deles era descarregar a ira nas instituições americanas. E a crise no Vietnã só pôs mais lenha na fogueira.

Entrelaçadas de forma intricada com essas instituições nos Estados Unidos estavam as igrejas e as escolas evangélicas. A “infiltração” negativa foi imediata. Mas havia algumas razões válidas. Para muitos, as instituições evangélicas, juntamente com as instituições seculares,

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pareciam desprovidas de significado e distantes da realidade. O cristianismo parecia meramente acadêmico e cognitivo, muitas vezes legalista e freqüentemente superficial e irreal. Em sua forma corrente, parecia carecer de soluções aceitáveis para as grandes questões do momento. O fato é que, em muitos casos, nem estávamos falando sobre essas questões.

O movimento de renovação da igreja

Foi naqueles dias que os escritores da renovação da igreja começaram a se manifestar acerca desses temas. Os próprios títulos dos livros mostram um perfil sem igual das preocupações básicas que ocupavam o pensamento de muitos líderes cristãos.

O Grupo dos Consagrados. No início da década de 60, Elton Trueblood publicou o livro The Company o fth e Committed [O Grupo dos Consagrados]. Citando Karl Heim em Christian Faith and Natural Science [A Fé Cristã e a Ciência Natural], ele viu a igreja como:'

Um navio em cujo convés a festa ainda corre solta e se ouve uma música maravilhosa, enquanto bem abaixo da linha de flutuação abriu-se um buraco e grande volume de água está entrando aos borbotões, de modo que a cada hora a embarcação vai afundando um pouco mais, embora as bombas de recalque funcionem dia e noite.1

Em Busca da Vitalidade na Religião. Findley Edge retomou, alguns anos mais tarde, o tema abordado por Trueblood. Experimen­ tando, ele próprio, a desilusão, especialmente com o que sentia ser uma falta de realidade cristã, apesar do contínuo crescimento de sua própria denominação, ele escreveu A Quest fo r Vitality in Religion

[Em Busca da Vitalidade na Religião], Afirmou:

Atualmente, as igrejas estão experimentando um período de popularidade e prosperidade quase sem precedentes. Normalmente uma situação dessas seria motivo de olimismo e satisfação irrestritos. Por estranho que pareça, não é o que acontece. Muitos líderes religiosos sérios e cristãos leigos maduros manilcstain o crescente tumulto de agitação e ansiedade. A despeito dos edifícios suntuosos, do crescimento no número de membros e do vigor de muitas das atividades realizadas dentro das igrejas, algum

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problema muito sério está afetando o cristianismo contemporâneo. Existe alguma coisa errada em seu cerne. Corre o perigo de perder a vida e a dinâmica.2

Um Novo Rosto para a Igreja. Poucos anos depois, a amplitude da preocupação se alargou quando um grupo de educadores evangélicos, representando várias escolas cristãs, encontrou-se no Acampamento de Honey Rock, do Wheaton College, em meados de 1967 e 1968. O resultado foi o livro A New Face fo r the Church [Um Novo Rosto para a Igreja], escrito por Larry Richards, que representa de forma geral o pensamento do grupo de Honey Rock e, de forma particular, o pensamento de seu autor.

Para a maioria, o livro era radical e idealista. Conclamava a uma completa avaliação e revisão de nossas formas e estruturas ecle­ siásticas atuais e, caso necessário, a um novo começo. Foi, no entan­ to, um livro instigante. Motivou muitos de nós a voltar para o Novo Testamento, para dar uma nova olhada naquilo que Deus havia dito sobre a igreja.3

A Igreja no Ano 2001. O segundo livro que apareceu no início da década de 70 foi A Igreja no Ano 2001, de autoria do Dr. Francis Schaeffer. Escrevendo com base em sua abrangente compreensão da história e da cultura, abordou diretamente o problema da diferenciação entre os absolutos e os não-absolutos nas Escrituras. “Numa época de ! mudanças rápidas como a nossa”, escreveu, “época de total convulsão como a nossa, fazer absoluto o que não é assegura o isolamento e a morte da igreja organizada e institucional.”4 Esse foi um livro particularmente perspicaz acerca da renovação da igreja.

O Problema dos Odres. Também no início da década de 70, começamos a ouvir outra voz. Howard A. Snyder, missionário atuante em São Paulo, no Brasil, começou a enviar artigos para várias revistas americanas. Os próprios títulos revelavam suas preocupações:

“The Fellowship of the Holy Spirit” [“A Comunhão do Espírito Santo”],5 “Church Renewal through Small Groups” [A Renovação da Igreja Através de Grupos Pequenos”],6 “Does the Church Suffer an Edifice Complex?” [“A Igreja Padece de um Complexo de Edi­

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fícios?”],7 “ ‘The People of God’ — Implications for Church Structure” [‘“ O Povo de Deus’ — Implicações para a Estrutura da Igreja”]8 e “Should the Protestant Pastor Be a Superstar?” [“O Pastor Protestante Deve Ser um Superastro?”].9 Depois de voltar aos Estados Unidos, ele utilizou esses artigos como base para a publicação de um livro intitulado The Problem o f the Wineskins [O Problema dos Odres], “O fato de sair do cenário americano e passar a me envolver com o trabalho da igreja noutra cultura” , escreveu, “levou-me a uma reavaliação fundamental acerca da missão e da estrutura da igreja no mundo de hoje.”10

Tanto as descobertas de Snyder quanto as de Schaeffer estavam diretamente relacionadas com suas experiências com a igreja após deixarem a cultura americana e atuarem no ministério em outra parte do mundo. Essa observação é significativa, porque muitas vezes nossas experiências culturais embaçam nossa visão no que diz respeito à natureza supracultural das Escrituras. Especificamente como pessoas que vivem nos Estados Unidos, com freqüência “americanizamos” a Bíblia e, inadvertidamente, impomos à Bíblia formas e estruturas culturais que não se encontram ali. Schaeffer e Snyder ajudaram á superar alguns desses erros de interpretação.

Círculo Completo. Aqui e ali, líderes cristãos fizeram experiências com novas formas e estruturas. David Mains, especialmente in- lluenciado pelos escritos de Elton Trueblood, deu início a uma expe­ riência ousada no centro de Chicago. Todos ficamos impressionados c animados com a Igreja do Círculo, que se tornou conhecida pela própria história de Mains, contada no livro Full Circle [Círculo Completo].u Aqueles de nós que acompanharam os esforços de Mains admiramos seu desejo de enfrentar o centro decadente da cidade e os problemas de integração e de diferenças sociais que infestavam não iípcnas nossa sociedade americana, mas também a subcultura evangélica.

A experiência, no entanto, não satisfez as expectativas de Mains Uma razão que ele apresenta é quefnão deu atenção ao princípio que eslava sendo proposto pelos especialistas em crescimento da igreja no ijtic diz respeito à necessidade de analisar uma estrutura para alcançar ii "unidade homogênea” . Mais tarde, afirmou que teria sido sábio se llvesse dado atenção a Wagner. Mains escreveu:

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Ele me advertiu para não tentar alcançar, numa única igreja, pessoas muito diferentes entre si. Exatamente como ele havia predito, por fim, a congregação se dividiu, em meio à nossa tentativa de estender demais, e muito rápido, o nosso amor imperfeito. Éramos jovens e estávamos obcecados com a idéia de solucionar, em poucos anos, problemas que vinham-se formando havia séculos.12

A Igreja nos Lares. Alguns (até mesmo eu) tentaram, no início da década de 70, o conceito de igreja nos lares, e freqüentemente ficávamos desapontados por não levarmos em conta os problemas do século XX. As exigências do estilo de vida imposto às famílias ameri­ canas logo fizeram com que fosse um fardo ter um lar sempre disponí­ vel para uma reunião da igreja, especialmente quando envolviam pes­ soas de todas as idades. Além do mais, nessas experiências não calcu­ lamos o enorme impacto da mentalidade de “igreja-edifício” , que se desenvolveu em nossa cultura e está inegavelmente relacionada com nosso senso de segurança e com a necessidade de estabilidade.

Essa experiência ensinou-me como é importante olhar não apenas pelo “ângulo das Escrituras”, mas também pelo “ângulo da cultura”, quando tentamos desenvolver formas e estruturas contemporâneas para a igreja de nossos dias. f

Alguns líderes cristãos tentaram desfazer-se dos ministérios educacionais tradicionais voltados para as crianças e para os jovens, passando a concentrar sua atenção na unidade familiar como um todo. Embora fosse um objetivo louvável, mais uma vez essas pessoas desprezaram a cultura. Muitos logo aprenderiam que essa abordagem funcionava somente com pessoas solteiras e com casais jovens sem filhos. Assim que os filhos começavam a nascer, acrescentavam-se programas educacionais ou as pessoas se desculpavam e passavam a freqüentar igrejas mais tradicionais, com berçários e programas educacionais para seus filhos. Embora muitas vezes perdessem a dinâmica gerada por uma estrutura eclesiástica simples, as necessi­ dades dos filhos superavam as suas, na hora de escolher um local de adoração.

Com esse êxodo constante ou com a impossibilidade de atrair famílias, ou as duas coisas ao mesmo tempo, geralmente essas novas igrejas eram constituídas de pessoas solteiras ou de casais jovens. Isso

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apresentava outro problema. Faltava, nessas igrejas, líderes m aduros, homens e mulheres de mais idade, com famílias bem estruturadas. Além disso, essas igrejas careciam da dinâmica que uma fam ília completa traz para o corpo de fiéis.

O Dr. George Peters, grande líder missionário por seus p ró p rio s méritos e uma pessoa que influenciou meus pensamentos mais do que qualquer outro líder evangélico, acredita que, para serem saudáveis, “as igrejas devem ser construídas a partir de unidades fam iliares, e não a partir de cristãos isolados” .13

Irmãos, Fiquem à Vontade. Alguns entusiastas da renovação da igreja reagiram fortemente contra a estrutura em si e tentaram p lan ejar igrejas “sem estrutura” e “sem líderes” , cuja melhor ilustração está no livro Brethren, Hang Loose [Irmãos, Fiquem à Vontade], 14 de Bob Girard. Embora Girard na verdade não pensasse ser po ssív el funcionar sem forma ou haver grupos sem líderes, ele parecia carreg a r uma inquietação, quando a igreja começou a se tornar organizada. P o r outro lado, sua preocupação com o “funcionamento do corpo” sob a liderança do Espírito Santo é, com certeza, algo elogiável e, em m inha opinião, uma perspectiva bíblica. Mas, na época, representou um a reação excessiva e um ‘ movimento pendular de afastamento da síndrome institucional. Parecia que ele desejava um “organism o” sem “organização” — uma impossibilidade funcional.

Corpo Vivo. Nessa época, algumas igrejas tradicionais com eçaram a fazer mudanças significativas. A Península Bible Church, d e Paio Alto, na Califórnia, é um excelente exemplo. Sob a liderança d e Ray Sledman, essa igreja popularizou o culto do “corpo vivo” . O liv ro de Slcdman Igreja: Corpo Vivo de Cristo disseminou o conceito e incentivou várias igrejas tradicionais a incorporar mais as funções de "corpo vivo” em suas estruturas.15

Fui muito inspirado pelo ministério de Stedman. Aliás, passei iilgum tempo naquela igreja, observando o fenômeno e gravando em vlileo os cultos de “corpo vivo” da Peninsula Bible C h u rch e mmpartilhando-os com meus alunos no Dallas Theological Sem inary.

Logo, porém, tornou-se óbvio que muito da dinâmica na P eninsula liihlc Church estava diretamente relacionado com a cultura d a costa

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oeste dos Estados Unidos e com o movimento de Jesus que ganhava impulso rapidamente naquela época. No £ntanto, o ministério de Ray Stedman inspirou muitos líderes cristãos.16

O tradicionalismo reavivado

Ironicamente, outro grande movimento começou praticamente ao mesmo tempo em que a busca pela renovação da igreja, que acabamos de descrever. Ao passo que muitos estavftm questionando o conceito tradicional de estrutura eclesiástica, tanto na formação teológica quanto na igreja como um todo, alguns começaram a incentivar a escola dominical tradicional. Quando Richards e muitos outros estavam questionando a validade dos meios educacionais tradicionais e sua contribuição para o fortalecimento da igreja, Elmer Towns, por exemplo, publicava um livro intitulado The Bright Future o f the Sunday School [O Futuro Brilhante da Escola Dominical]}1 No mesmo ano ele publicou The Ten Largest Sunday Schools and What Makes Them Grow [As Dez Maiores Escolas Dominicais e o que as Faz Crescer].1*

Esse destaque estava destinado a ser mais do que uma influência sobre a escola dominical. Envolvia pastores, já que uma das descobertas de Towns era que “grandes pastores” criavam “grandes escolas dominicais”, e “grandes escolas dominicais” formavam “grandes igrejas” .

Towns conseguiu despertar o interesse de inúmeros líderes religiosos, basicamente porque, naquela época, teve na revista Christian Life [Vida Cristã] um canal para expor publicamente as estatísticas e as conclusões de suas pesquisas. A par com seus próprios escritos, ele começou a divulgar grandes escolas dominicais, seu crescimento estatístico e as classificou tanto por tamanho como por taxa de crescimento. E talvez seja muito significativo que ele tenha identificado cada pastor.

Essa foi uma idéia engenhosa, apoiada numa técnica de motivação intrínseca. Lamentavelmente, o principal destaque recaía no cresci­ mento numérico. Isso estimulou uma competição prejudicial e, em alguns casos, gerou relatórios estatísticos pouco éticos; mas gerou uma grande dose de atividades para alcançar novas pessoas com o evangelho.

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Uma das coisas mais importantes que resultou dessa ênfase é que os pastores de algumas dessas igrejas grandes têm ministrado cursos com o propósito de motivar pastores jovens, convencendo-os de que também podem ser tão bem-sucedidos no desenvolvimento de uma grande escola dominical e igreja, caso sigam certas técnicas e méto­ dos. Infelizmente, esses líderes têm desconsiderado o meio cultural que contribuiu significativamente para o seu próprio fenômeno de crescimento. Além disso, têm desprezado a força e a singularidade de suas próprias personalidades no crescimento dessas igrejas.

William J. Petersen, editor da revista Eternity assinalou que essas “igrejas menores que seguiram o exemplo de evangelização su- peragressiva e gastaram dinheiro em ônibus, televisão, terrenos & instalações maiores (e até salários para evangelistas da igreja) muitas vezes não se saíram tão bem” .19 O fato é que algumas dessas igrejas íoram à falência.

O movimento de crescimento da igreja

No início dal década de 70, começou outro movimento simultâneo ao movimento de renovação da igreja e ao renovado destaque no cres­ cimento da escola dominical. É o que identifico como o movimento “oficial” de crescimento da igreja, com pessoas de destaque como \I)onald A. McGavran, Winfield Arn e Peter Wagner. Escrevendo livros como How to Grow a Church [Como Fazer uma Igreja Crescer],10 Your Church Can Grow [A Sua Igreja Pode Crescer]2' c Ten Steps fo r Church Growth [Dez Passos para o Crescimento da Igreja],22 esses homens fizeram uma abordagem mais elaborada desse processo. Aplicando boas técnicas de pesquisa, trouxeram à tona vários princípios e diretrizes que conduzem ao crescimento da igreja.

Embora esses autores ressaltem a necessidade de evangelização e dc edificação e um compromisso com a autoridade das Escrituras, o resultado prático desse destaque ainda se concentra no crescimento quantitativo. Embora tentenyintegrar princípios bíblicos com diretrizes científicas, salientandoy4 necessidade de uma experiência cristã quali- laliva, muitas vezes os aspectos pragmáticos e científicos parecem obscurecer o bíblico. Parece que deliberadamente focalizam princípios ivlesiológicos gerais de modo que possam relacioná-los a uma ampla variedade de igrejas e denominações no mundo religioso.

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Pessoalmente, minha principal preocupação é que a maioria dos escritores do movimento de crescimento da igreja não principia com um estudo e uma exposição da Bíblia para sustentar suas posições. Em vez disso, começa com “o que funciona” e depois tenta integrar a base bíblica ao seu sistema pragmático. Freqüentemente, isso resulta numa perspectiva nebulosa daquilo que a Bíblia realmente ensina acerca da igreja. Entretanto, esses homens e muitos que foram inspirados por eles estão exercendo uma influência significativa e contínua sobre igrejas e líderes cristãos. O que estão dizendo não pode e não deve ser subestimado. Valiosas descobertas quanto à cultura e uma elaborada metodologia de pesquisa tornam esse movimento digno de elogios, especialmente em se tratando de ajudar a alcançar mais pessoas para Cristo.

Um momento decisivo

No final da década de 70, uma nova dinâmica penetrou na cultura em geral, afetando a vertente principal do movimento de renovação da igreja. Como se delineou há pouco, houve de início um grande volume de atividades, artigos, livros e experiências. Mas, quase simultaneamente, o movimento de renovação da igreja foi obscurecido pelo movimento de crescimento da igreja. Ao mesmo tempo, os movimentos anti-institucionais radicais existentes na cultura em geral começaram a acalmar-se, fazendo até com que alguns evangélicos radicais ficassem mais satisfeitos com a igreja institucional. O movimento de Jesus reforçou o ímpeto dessa tendência, representando em certo sentido, uma espécie de retorno da cultura jovem às estruturas institucionais, em busca de segurança e esperança. O movimento de renovação carismática também fortaleceu bastante essa tendência, particularmente em algumas denominações tradicionais que se caracterizavam pela falta de um bom ensino bíblico e de um cristianismo relacional. De fato, esse movimento vem causando um impacto significativo nas missões e na igreja desde a década de 80. Tem atraído a atenção dos especialistas em crescimento oficial.23

Tornou-se claro para todos que, dentro da sociedade, os evan­ gélicos estavam-se transformando numa força que precisava ser levada em consideração. Em 1978, George Gallup Jr. “predisse um contínuo

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crescimento do vigor evangélico” .24 Richard Quebedeaux ampliou essa análise ao escrever:

Os evangélicos são tema de conversa em todos os lugares. Suas igrejas em crescimento, seus ministérios bem visíveis nas universidades, a publicação de livros e revistas de espantoso sucesso e outras realizações com o uso dos meios de comunicação, e os improváveis “novos nascimentos” de celebridades nacionais [...] chamam a atenção de protestantes liberais, católicos romanos e jornalistas seculares.25 Para a maioria dos cristãos não era hora de rachar e dividir, mas de esquecer nossas diferenças e nos unir para a glória de Deus. Muitos escritores que haviam criticado a igreja começavam a enxer­ gar, no renascimento do evangelicalismo, as respostas em potencial para suas preocupações.

Mas a que leva tudo isso? Como se podia prever, os escritores do crescimento da igreja estão entusiasmados. Vêem nesse ímpeto de atividades o movimento do Espírito de Deus, E quem pode negar que Deus esteja atuando neste mundo? Além disso, com certeza faz bem ao ego o fato de participar de um movimento que tem sido desconsiderado com freqüência.

Entretanto, para ser franco, estou preocupado. Estou bem animado com o crescimento da igreja. Eu o experimentei pessoalmente, ajudando a começar várias igrejas nos últimos anos. E, enquanto escrevo este capítulo, pastoreio uma igreja de rápido crescimento no complexo metropolitano de Dallas.

Contudo, quando viajo pelo país para participar de reuniões com pastores, quando leio o que se está escrevendo sobre a igreja, quando observo o que está acontecendo com o cristianismo evangélico em geral e quando penso em minha própria experiência pastoral, con­ venço-me de que, normalmente, tanto a igreja quanto as organizações pareclesiásticas realmente não possuem uma compreensão clara do que a Bíblia ensina sobre a igreja. Ainda confundimos função com forma, princípios com padrões, absolutos com não-absolutos e o que deve ser supracultural com o que é estritamente cultural. Muitos líderes cristãos não possuem uma filosofia de ministério claramente definida, firmada numa eclesiologia satisfatória que brote de um estudo cuidadoso das

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Escrituras. Sem esse fundamento, muitos líderes cristãos avaliam o sucesso com base na experiência pessoal ou grupai, não na teologia bíblica. Além do mais, a resposta quantitativa ainda parece ser o critério final.26

Hoje, a necessidade de renovação da igreja é igualmente grande, se não maior do que no final da década de 60 e início da de 70. A popularidade dos evangélicos, por mais animadora que tenha sido, só nos desviou daquelas coisas básicas e contribuiu para o avanço do processo de institucionalização. Em muitas igrejas que crêem na Bíblia, prolifera a influência do humanismo, tanto na função como na forma. As preocupações levantadas no início da década de 70 podem ser èxpressas ainda hoje. Em alguns aspectos, demos uma volta completa. O que precisamos, entretanto, não é de teoria, reações .exageradas nem experiências superficiais que caracterizavam as tentativas iniciais de renovação da igreja. Necessitamos de uma perspectiva bíblica abrangente que oriente pastores, missionários e todos os líderes da igreja em meio a um emaranhado de concepções, que freqüentemente causam confusão.

A renovação bíblica

Qual seria a perspectiva bíblica acerca da renovação? Paulo foi o único escritor do Novo Testamento a empregar várias formas dessa palavra, mas o conceito subjacente às palavras permeia todos os escritos do Novo Testamento. A renovação está no cerne do cris­ tianismo. É uma palavra ativa e descreve a experiência de conversão, bem como o processo de crescimento em Cristo.

A renovação e a salvação. Escrevendo a Tito, Paulo definiu a “renovação” em termos da obra do Espírito Santo na regeneração de um coração não-salvo. Deus “nos salvou” , escreveu, “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia [...] mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).

A “renovação bíblica” envolve, então, a própria experiência de salvação. É uma obra realizada pelo Espírito de Deus. Nesse sentido, acontece no instante em que pomos nossa fé em Jesus Cristo. Diz respeito a um instante de nossa história pessoal em que passamos das trevas para a luz e nos tornamos membros da família eterna de Deus.

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A renovação e o crescimento espiritual. Paulo também empregou a palavra “renovação” para descrever 0 processo de nos ajustarmos à imagem de Cristo, depois de sermos renovados pelo Espírito Santo. A renovação inicial acontece instantaneamente, na hora em que confiamos em Cristo para a salvação. A renovação contínua, que nos conforma à imagem de Cristo, é constante e progressiva.

O uso mais vívido e abrangente que Paulo faz da palavra “renovação” , nesse sentido, encontra-se na carta que escreveu aos romanos. Depois de lançar, nos primeiros onze capítulos dessa carta, um amplo alicerce teológico, que ele resumiu em Romanos 12.1 como as “misericórdias de Deus” , Paulo instou esses cristãos a apresentar seus corpos a Deus como sacrifício vivo e santo. “Não vos conformeis com este século” , escreveu, “mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Esse processo, disse Paulo, é o meio pelo qual o cristão consegue verificar a vontade de Deus (Rm 12.1, 2).

Paulo referiu-se ao mesmo processo em suas cartas aos efésios e aos colossenses. “ ... vos despojeis do velho homem” , escreveu aos efésios, “ ... e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4.22-24; veja também Cl 3.9-11).

A renovação — tanto pessoal quanto coletiva. A experiência inicial de renovação é sem dúvida alguma pessoal. Envolve um rela­ cionamento individual com Jesus Cristo. A conversão é uma transação entre cada indivíduo e Deus. No entanto, a renovação progressiva é ao mesmo tempo pessoal e coletiva. Apresentar meu corpo a Cristo é, certamente, uma experiência pessoal. Conformar minha vida a Cristo, mediante a renovação da minha mente, também é uma experiência pessoal. Mas, no contexto, Paulo deixou claro que a renovação também é coletiva. Não são apenas os indivíduos que devem desenvolver a mente de Cristo; a igreja também. É por isso que Paulo falou a toda a congregação de fiéis de Éfeso, exortando-os a que fossem renovados no espírito de sua mente. Também é por isso que as Escrituras falam que os cristãos tinham um coração e uma mente (At 4.32).

A renovação pessoal, tal como Deus a planejou, não acontecerá a menos que ocorra no contexto de renovação coletiva. Por outro lado,

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a renovação coletiva, tal como Deus a planejou, não acontecerá a menos que envolva a renovação pessoal. Ambas são necessárias. É por isso que vemos o conceito de renovação empregado nas Escrituras às vezes com sentido coletivo e às vezes com sentido pessoal.

Pode-se ilustrar uma perspectiva bíblica acerca da renovação com os seguintes círculos:

Renovação bíblica

Figura 3: Romanos 12.1, 2

A renovação da igreja. O círculo maior representa a “renovação da igreja” . Esse é o conceito mais abrangente no Novo Testamento e se estende até chegar ao centro do círculo. Na maioria dos casos, as diretrizes bíblicas estão dirigidas às congregações locais de fiéis — não aos cristãos como indivíduos.

No entanto, é importante observar que, muito embora Deus quisesse que cada corpo local de cristãos fosse sua unidade de pessoas fundamental e dinâmica na sociedade, o corpo também consiste em unidades sociais menores, independentes, mas inter-relacionadas — o casamento e a família.

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A renovação da família. A família (o círculo seguinte) aparece nas Escrituras como a “igreja em miniatura” . Por sua própria natureza, cada igreja local é constituída de várias unidades familiares. Dessa forma, a família cristã é uma parte complexa da igreja local. O que Deus diz à igreja, também diz à família, embora às vezes diga algumas coisas especiais para os membros de cada unidade familiar. (Veja Ef 5 .2 2 -6 .4 ; Cl 3.18-21; 1 Pe 3.1-7).

A renovação do casamento. A família, por sua vez, é constituída de uma unidade ainda menor — o marido e a esposa. De fato, o relacionamento entre marido e esposa deve ser um constante lembrete do relacionamento que deve existir entre Cristo e a igreja. Deve ser o mais íntimo de todos os relacionamentos humanos.

A renovação pessoal. O círculo central representa a renovação pessoal, que está inseparavelmente ligada a todas as outras unidades básicas. Por exemplo, o casamento é constituído de dois indivíduos distintos que se tornam um. Além disso, a família é formada por pais e filhos, os quais, como uma unidade familiar, também devem refletir a mente de Cristo. E a igreja é formada não apenas de indivíduos, mas também de casais e de famílias.

Na perspectiva bíblica, é impossível renovar a igreja sem renovar famílias, cônjuges e indivíduos cristãos. Por outro lado, não é possível renovar indivíduos cristãos sem renovar cônjuges, famílias e a igreja.

O processo de renovação

É possível iniciar a renovação bíblica dentro de qualquer uma das diferentes unidades sociais incluídas na figura 3. Mas, não importa por onde você inicie — pela igreja, pelas famílias, pelos cônjuges ou pelos indivíduos — você vai mexer imediatamente com todas as demais unidades sociais do esquema divino. Além disso, a menos que compreendamos as funções e os princípios que Deus estabeleceu para cada unidade, não conseguiremos provocar uma mudança positiva, inspirada no exemplo de Cristo, tal qual Deus planejou. De fato, podemos cometer sérios erros de julgamento e, em alguns casos, “encurralar as pessoas” naquilo que pensamos que Deus está dizendo a determinada unidade social ou a um indivíduo, quando na realidade

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temos uma visão bitolada. Por outro lado, podemos inconscientemente ir além dos princípios das Escrituras e dar liberdade excessiva, sem perceber que estamos sendo afetados pela nossa cultura, humanista.

Portanto, os princípios bíblicos de renovação devem incluir aquilo que Deus diz primeiramente à igreja, depois a pais e filhos, em seguida a maridos e esposas e> finalmente aos cristãos como indi­ víduos. Isso é importante por ser difícil compreender e discernir as coisas especiais que Deus diz às famílias, aos casais e aos indivíduos cristãos, sem compreender aquilo que disse à igreja. Como se afirmou anteriormente, aquilo que se diz à igreja constitui a maior parte daquilo que Deus diz nas cartas do Novo Testamento. Sem essa perspectiva total, desenvolvemos pontos cegos em nossa filosofia de ministério.

Quero ilustrar como uma visão restrita pode levar a uma interpretação incorreta das Escrituras. Certo dia estive conversando com duas pessoas profundamente ativas no processo de renovação matrimonial. Com um estudo das Escrituras, chegaram à conclusão de que o conceito de “cabeça da família” não era bíblico. Ambos acreditavam que Paulo havia ressaltado essa responsabilidade em razão do contexto cultural do Novo Testamento. Insistiram que Jesus jamais tivera a pretensão de mantê-la continuamente daquela forma. Em outras palavras, para eles a liderança masculina dentro do casamento não era um absoluto, mas uma adaptação cultural.

Naquela altura perguntei-lhes sobre a autoridade na igreja local. “Que dizer dos presbíteros?”, indaguei. “Que dizer da autoridade d elesT A resposta que deram à minha pergunta foi esclarecedora. Não tinham dificuldade com o fato de que os presbíteros devessem ser os líderes da igreja, com uma autoridade conferida por Deus; no entanto, acreditavam que o plano de Deus para o casamento era diferente.

Nesse momento ficou claro — pelo menos no meu próprio raciocínio — que a interpretação bíblica dos dois tinha sido influen­ ciada pelo fato de que não haviam desenvolvido uma eclesiologia adequada, isto é, o que o Novo Testamento ensina sobre a igreja. Pareciam não perceber a coerência presente no Novo Testamento. Vemos essa coerência no fato de que os presbíteros devem liderar a igreja, os pais devem liderar suas famílias e os maridos devem ser os

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cabeças de suas esposas, assim como Cristo é o cabeça da igreja. Na realidade, é impossível separar a função da família e a função do casamento da função da igreja local. Todas essas unidades sociais estão inter-relacionadas. Não seria lógico que Deus tivesse uma série de princípios supraculturais para a igreja, outra para a família e ainda outra para o relacionamento marido—esposa.

Isso ajuda a convergir a atenção para um problema enfrentado por fundadores e líderes de muitas organizações pareclesiásticas que surgem em razão de necessidades específicas do corpo de Cristo em geral. Há muitos exemplos. Uma organização pode surgir em virtude de um senso de responsabilidade na área da evangelização pessoal. Sem uma eclesiologia satisfatória, os líderes freqüentemente negli­ genciam aquilo que a Bíblia diz a respeito da evangelização coletiva. Outra organização pode surgir por causa de um senso de respon­ sabilidade na área do discipulado pessoal. Sem uma eclesiologia satisfatória, os líderes vão negligenciar a importância da atuação do corpo no processo de levar as pessoas à maturidade em Cristo. '

O problema se complica quando algumas organizações iniciam um ministério junto a unidades sociais menores e depois tentam expandi-lo para incluir o conjunto mais amplo abordado nas Escrituras. Por exemplo, estou-me lembrando de certa organização que começou ajudando os jovens a se relacionarem com seus pais. Desenvolveu-se uma série de princípios, sem levar em conta aquilo que a Bíblia diz à igreja local. O passo seguinte foi envolver-se na área do relacio­ namento marido—esposa. De novo, desenvolveu-se uma série de princípios sem levar em conta aquilo que a Bíblia diz sobre a igreja local. Todavia, por causa da necessidade, por fim os princípios foram expandidos para incluir a igreja local. O problema é que, quando partimos do interior para o exterior do círculo, podemos desenvolver “pontos cegos” em nossa interpretação bíblica. Por isso é tão vital desenvolver todos os princípios para dirigir a família, o casamento e os indivíduos, levando em conta os princípios mais abrangentes que Deus estabeleceu para a igreja. Afinal, essa é a essência do Novo Testamento. A maior parte do Novo Testamento foi escrita para o corpo de cristãos, não para os cristãos como indivíduos, nem mesmo para as unidades familiares.

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A renovação bíblica — e a evangelização

Devemos recordar que a renovação bíblica não é um fim em si. O corpo de Cristo deve edificar-se em amor, de maneira que a unidade resultante sirva de ponte para trazer até Jesus Cristo o mundo perdido — seja como indivíduos, casais, famílias ou a igreja como um todo. Essa foi a essência da oração de Cristo em favor dos fiéis: “Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste” (Jo 17.23, NVI).

Resumo

A renovação baseada na bíblia é um processo abrangente. É a essência do cristianismo, o objetivo principal da igreja e a mensagem fundamental da Bíblia. Abarca todos os segmentos da comunidade cristã. Portanto, a primeira tarefa diante de nós é descobrir aqueles princípios que Deus estabeleceu para a igreja. A partir daí, podemos focalizar os princípios bíblicos de renovação para a família, para o relacionamento marido—esposa e para o crescimento pessoal em Cristo. Há um meio de alcançar esses objetivos — é o tema do nosso próximo capítulo.

Notas

1 Elton Tr u e bLOOD, The company o f the committed, Harper Brothers, p. 5., apud Karl He i m, Christian faith and natural science, Harper Brothers, p. 2 4 . 2 Findley B. Ed g e, A quest fo r vitality in religion, Broadman, p . 9. 3 Larry Ri c h a r d s, A new face for the Church, Zondervan, p . 9. [Larry Richards continua escrevendo sobre a questão da renovação da igreja. Embora tenha em Larry um bom amigo e colega e admire sua capacidade como escritor, pessoalmente acredito que ele tem-se desviado cada vez mais para a estrada do idealismo. Suas concepções sobre liderança, em especial, e sobre o funcionamento do corpo da igreja não se baseiam numa experiência realista. Levada a sério, sua teoria de liderança é inexeqüível, especialmente numa igreja em expansão. Aliás, sob certas circunstâncias, pode acabar levando ao caos e à divisão na igreja. Veja “A Biblical Style of Leader­ ship?”, artigo em que rebato Larry Richards na questão da liderança, na revista Leadership (vol. 2 , número 2 , primavera de 1981), p . 68-78. Veja

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também os livros de Richards A Theology o f Church Leadership, Zondervan, e Teologia do Ministério Pessoal, Vida Nova.

4 Francis SCH AEFFER, A igreja no ano 2001, APLIC, p. 90.

5 Howard S n y d e r . The fellowship of the Holy Spirit, Christianity Today, p. 4-7.

6 Idem, Church renewal through small Groups, United Evangelical Action, verão 1971, p. 29-31.

7 Idem, Does the Church suffer an edifice complex?, World Vision, Sept. 1971, p. 4s.

8 Idem, ‘The people of God’ — implications for Church structure, Christianity Today, 27 Oct. 1972, p. 6-11.

9 Idem, Should the protestant pastor be a superstar?, The Other Side, Mar.- Apr. 1973, p. 8-11.

10 Idem, The problem of the wineskins, Intervarsity, p. 11. 11 David M a i n s , Full circle, World Book, p. 22.

12 Idem, A balanced stride, Christianity Today, 18 Aug. 1971, p. 22. 13 George W. PETERS, Saturation evangelism, Zondervan, p. 153. 14 Robert G i r a r d , Brethren, hang loose, Zondervan.

15 Ray S t e d m a n , Igreja, corpo vivo de Cristo, Mundo Cristão.

16 Abaixo alguns dos livros escritos durante esse período que contam a história de várias igrejas que estavam fazendo mudanças significativas em suas estruturas:

Dan B a u m a n n , All originality makes a dull Church, Vision; Bernard P a l m e r , Pattern for a total Church, Victor Books; Larry R i c h a r d s , Three Churches in renewal, Zondervan; Mike T u c k e r , The Church that dared to change, Tyndale; Frank TlLLAPA UGH T, The Church unleashed, Regal.

17 Elmer T o w n s , The bright future of the Sunday School, F. C. Publications. 18 Idem, The ten largest Sunday Schools and what makes them grow, Baker. 19 William J. P e t e r s e n , Thinking Big, Eternity, Feb. 1978, p. 21. 20 Donald A . M c G a v r a n , Ho w to grow a Church, Regal.

21 C. Peter W a g n e r , Your Church can grow, Regal.

22 Donald A . M c G a v r a n & Winfield A r n , Ten steps for Church growth, Harper and Row.

23 Veja na revista Christian Life de outubro de 1982, um número dedicado ao movimento carismático e ao crescimento da igreja.

24 Albert J. M e n e n d e z , Who are the evangelicals?, Christianity Today, 27 Jan. 1978, p. 42.

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26 Para um ótimo estudo que trata dessas preocupações, veja George W. P e te rs, A theology o f Church growth, Zondervan,

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Crédito: Mazinho Rodrigues

Doação Exdusiva

pant:

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coin.

-Uma visão

por três ângulos

Sempre que há pessoas, há função. E, sempre que você encontrq. ‘anção, você encontra forma. Ou seja, a “forma” e a “estrutura” sãq inevitáveis. Em outras palavras, não se pode ter “organismo” sem organização” . Sempre que se tenta alcançar um objetivo ou aplicai- um princípio, precisa-se desenvolver um procedimento ou um padrãq para fazê-lo. Não se consegue comunicar uma “mensagem” sem “método” . Não se consegue ensinar uma “verdade” sem desenvolvei algum tipo de “tradição” . E, citando o Dr. George Peters, “Sempre- que houver ‘pnêumenos’, haverá ‘fenômenos’” . I A igreja local não foge à regra. Sempre que houver pessoa^ ativamente atuantes em várias funções, haverá forma e estrutura. Um^

1 pressupõe a outra

Atenção!nÉ possível descrever a ati.idaae sem descrevei a forma. Os escritores da Bíbiia fizeram isso o tempo todo Mas você podç estar certo de que, no exercício das funções do Novo Testamento.1 sempre houve algum tipo de forma cultural. ^

(35)

A inc

PESSOAS

\ ispensabilidade da forma

FUNÇÃO

--- v 1 \

FORMA

Figura 4

Todos nós podemo-nos identificar com es§a realidade. Vivemos dentro do círculo da forma e da estrutura (veja a figura 5). É o que nos dá sensação de segurança. Mas a pergunta importante diante de cada líder de igreja é: Que tipo de forma e estfutura devemos ter em nossa igreja?

Figura 5: O círculo da fortna

Uma filosofia de ministério adequada

Não temos condições de responder a essa pergunta, para nós mesmos ou para qualquer outra pessoa, sem que tenhamos uma filosofia de

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ministério adequada, que levanta uma pergunta fundamental: “por quê?” . Por que fazemos o que fazemos? Mesmo como indivíduos, temos uma filosofia que determina a maneira como atuamos na vida. Talvez não a tenhamos explicitado ou articulado para nós mesmos ou para os outros. Mas está presente, determinando as nossas ações e a maneira como agimos.

Acontece o mesmo com a igreja. Todos os líderes de igreja possuem mna^filosofia de ministério. Embora talvez não seja óbvio para os próprios líderes nem para as congregações em que atuam, ela está presente, determinando como cada igreja atua (veja a figura 6).

Minha preocupação ao escrever este livro é ajudar os cristãos £

Figura 6: A filosofia de ministério

desenvolver uma filosofia bíblica de ministério. Só assim poderemos estruturar e organizar devidamente as nossas igrejas. Só assim poderemos escolher métodos e padrões que ajudarão a igreja a tornar- se aquilo que Deus planejou que ela fosse neste mundo.

É interessante que os que escrevem sobre o “crescimento da igreja” ressaltem a importância de os líderes da igreja darem atenção à sua filosofia de ministério, a fim de experimentarem crescimento numérico. Entretanto raramente especificam, pelo menos com minú­ cia, qual deve ser essa filosofia. Aliás, muitas vezes reconheceiri várias filosofias de ministérios como válidas e aceitáveis.1

(37)

{ Será possível desenvolver uma filosofia de ministério verda- < deiramente bíblica — algo reconhecido como aquilo que as Escrituras ( ilustram e ensinam? Creio que sim — se empregarmos uma metodologia de pesquisa adequada que nos ajude a ter uma idéia nítida do que Deus está dizendo. Embora tenhamos diferenças de opinião acerca de questões secundárias, creio que certamente ,é possível compreender o plano específico de Deus para as igrejas locais da mesma forma que é possível descobrir a verdade a respeito da ) divindade de Cristo, da Trindade, da salvação — e de outras doutrinas

(bíblicas importantes.

Para desenvolvermos uma filosofia de ministério adequada — endossada por Deus — precisamos olhar pelo menos por três ângulos (veja a figura 7). O primeiro é básico e fundamental — o ângulo das Escrituras. Em seu conteúdo, os ângulos da história e da cultura não estão dissociados do ângulo das Escrituras, mas também revelam percepções extrabíblicas e são muito importantes para evitar uma “visão bitolada” e uma miopia eclesiástica à medida que desen- —volvemos uma filosofia pessoal de ministério. Ou, falando positivamente e levando adiante nossa analogia, os três ângulos podem auxiliar-nos no desenvolvimento de uma visão 6/6 acerca do plano de Deus para a igreja.

Como podemos chegar aos três ângulos? Esse é o propósito deste livro. O que temos depois deste capítulo são os resultados desse processo. Todavia, o que temos logo a seguir, neste capítüfõ", é uma \expi icâção j íustradasobre como utilizar esse processo. Nesse sentido, a abordagem dos três ângulos compreende um método de pesquisa bíblica, histórica e cultural.

(JO ângulo das Escrituras. E aí que se começa a formular uma filosofia bíblica, de ministério. Vamos ilustrar. Examine as seguintes exortações na Epístola aos Hebreus:

Não deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia (Hb 10.25, nvi).

(38)

Figura 7: Os três ângulos

Essa passagem bíblica delineia claramente duas diretrizes e funções do Novo Testamento. Os cristãos devem^“reunir-se regularmente” a fim d e '“encorajarem-se uns aos outros” . No entanto, também está claro que esse versículo não menciona nenhuma_ “ forma” ou “estrutura” para essas duas funções. Isso não significa que para o autor dessa epístola os cristãos deveriam reunir-se sem nenhuma forma. Eles também não poderiam “animar-se uns aos outros” sem algum tipo de estrutura.

Vamos olhar a primeira diretriz com mais cuidado (veja a figura 8). Esses cristãos deviam Treunir-se regularmente. Entretanto, a passagem não especifica quando deviam reunir-se, com que freqüência V deviam reunir-se, onde deviam reunir-se nem a ordem específica de q dto que deviam seguir quando se reunissem.

Se olharmos mais atentamente para o contexto maior do Novo Testamento — aspecto muito importante numa interpretação precisa da Bíblia — encontraremos exemplos que nos indicam quando a igreja se reunia, com que freqüência ela se reunia e onde ela se reunia. Em

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proporção menor, encontraremos algumas referências à maneira como estruturavam seus cultos. Entretanto, ao se aprofundar na questão, você vai observar algo bem significativo.

Em primeiro lugar, muitas vezes o Novo Testamento descreve funções e diretrizes, sem descrever formas, exatamente como na passagem de Hebreus. Por exemplo, Lucas registrou no livro de Atos que os apóstolos “não deixavam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo” (At 5.42). “Ensinar” e “pregar” são fimçôes. Embora Lucas tenha feito referência a essas funções, não descreveu a metodologia (forma) de ensino e de pregação utilizada pelos apóstolos; entretanto, sabemos ser impossível “ensinar” e “pregar” sem alguma espécie de forma e de metodologia. A função no século 1 Reuniam -se regularmente A forma variava Função

I

Princípio

I

A função no _ século xx

1

___ Reúnem-se regularmente

1

Liberdade na forma

(AbsoJuto)

(Não-Abso!uto)

Figura 8: Função e forma

Em segundo lugar, quando existe alguma descrição de forma, é sempre parcial ou incompleta. Nunca é possível copiar com exatidão a forma e a estrutura bíblica porque sempre faltam certos pormenores e informações no texto bíblico. Por exemplo, Lucas registrou na mesma passagem que os apóstolos “não deixavam de ensinar e proclamar ” à medida que iam “de casa em casa” (5.42b). Ir “de casa

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em casa” é, sem dúvida alguma, forma e estrutura. Entretanto, q

processo não é delineado com minúcia. Será que paravam em cada casa? Ou iam somente aos lares daqueles que já acreditavam em Cristo? Será que as pessoas convidavam os vizinhos para ir ouvir os apóstolos? Os apóstolos “entravam na casa”, “ficavam do lado de fora” ou “iam ao terraço” como seria possível naquela cultura? Não sabemos as respostas a essas perguntas, porque a forma descrita (ir “de casa cm casa") é incompleta e parcial.

Em terceiro lugar, - a forma e a estrutura descritas parcialmente variam de um cenário do Novo Testamento para outro. De fato, encontramos variações dentro do texto que estamos observando. Os apóstolos não apenas ensinavam e pregavam de casa em casa, mas também iam ao “templo” (5.42a, nvi).

Imediatamente, surge um problema. Em algumas culturas talvez não seja muito problemático ir “de casa em casa” para ensinar o evangelho de Cristo. Entretanto, teríamos de escolher cuidadosamente nossa metodologia, pois, caso empregássemos a abordagem apostólica descrita nos Atos dos Apóstolos, provavelmente violaríamos a legislação de muitas cidades e teríamos problemas com as autoridades locais.2

O jro b lern a das restrições culturais em relação ao cristianismo causou um forte impacto em mim há alguns anos, quando eu estava compartilhando princípios da vida da igreja neotestamentária com pastores atrás da cortina de ferro. Nesse país, era ilegal grupos de pessoas se reunirem em residências. Nem mesmo parentes podiam reunir-se em grande número. Não era uma determinação dirigida apenas a cristãos. Essa política governamental havia sido estabelecida para evitar qualquer possibilidade de conspiração contra a autoridade do Estado. Naturalmente, restringia bastante os cristãos, impedindo-os de usar seus lares para qualquer tipo de reunião religiosa que envolvesse mais do que os parentes mais próximos.

Entretanto, nosso maior desafio, em qualquer cultura da atualidade, seria ensinar o evangelho no “pátio do templo” . Esse fenômeno cultural era exclusivamente judaico, relacionado com os primeiros dias do cristianismo. Todavia não levou muito tempo para que o “templo” fosse vedado aos cristãos judeus.

(41)

• Com freqüência, a Bíblia ensina função sem descrever a forma. / A • Quando chega a descrever a forma, ela é parcial e incompleta.

A forma descrita varia de uma situação para outra.

A

Isso conduz a uma conclusão muito importante. Em conferências sobre renovação da igreja, muitas vezes me perguntam [como é possível fazer distinção entre absolutos e não-absolutos nas Escrituras. Ã resposta está nessas três observações a respeíto da forma no Novo V Testamento.^ Não é possível tornar absoluto algo que não esteja) í ■! descrito, que esteja sempre incompleto e que esteja sempre mudando l ; de um contexto para outro. É por isso que a forma e as estruturas não j

são absolutas na Bíblia. Não encontrei uma que não se encaixasse^ nesse critério tríplice. De fato, existe somente uma estrutura, em toda a Bíblia, descrita circunstanciadamente — ,o tabernáculo no Antigo - Testamento. Mas, mesmo assim, não é possível reconstruir esse local de adoração do Antigo Testamento sem acrescentarmos alguns

pormenores nossos. v

Por outro lado, as funções e os princípios são absolutos — se aparecem invariavelmente ao longo de j oda a história do Novo Testamento e não são circunstanciais.3(^josso desafiõ é “olhar pelo ^ ângulo das Escrituras” e isolar aquelas fiinções e diretrizes absolutas e supraculturais.

ângulo da história, Observe, antes de mais nada, que podemos sobrepor o ângulo das Escrituras ao da história. As Escrituras são< história, isto é, história divina, história inspirada ou história “soprada por Deus” . É aqui que encontramos diretrizes e funções absolutas que nos permitem lançar os alicerces de uma filosofia bíblica de

ministério. .

Além disso, podemos aprender lições valiosas com nossos antepas­ sados..Paulo ilustrou essa questão em sua primeira epístola aos corín­ tios, quando escreveu: “Estas cousas lhes sobrevieram [aos filhos de Israel] como exemplos, e foram escritas [no Antigo Testamento] para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1 Co 10.11). Hoje, os cristãos têm não apenasta história do Antigo Testamento, mas tambénAa história do Novo Testamento — a história divinamente inspirada da igreja. Ela também foi registrada para nossa instrução, para nos ensinar a dirigir sua igreja.

Referências

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