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Primeiras Aproximações sobre a Formação Matemática das Normalistas do Instituto de Educação Rui Barbosa (Aracaju/SE a 1907)

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Academic year: 2021

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(Aracaju/SE - 1890 a 1907)

Valdecí Josefa de Jesus Santos

Neste artigo é apresentado o resultado inicial de uma pesquisa1 situada no campo da história da educação matemática, que segundo Valente (2013) é entendida “como a produção de uma representação sobre o passado da educação matemática. Não qualquer representação, mas aquela construída pelo ofício do historiador” (VALENTE, 2013, p. 25). Com a temática sobre a formação matemática das normalistas do IERB – Instituto de Educação Rui Barbosa (Aracaju/SE - 1890 a 1907), definimos como objetivo investigar como se apresentaram os saberes elementares na formação matemática das normalistas nos regulamentos de 1890 a 1907. A escolha pelo marco cronológico foi definida por conta das fontes já localizadas e analisadas até a presente data. Entretanto, o marco maior da pesquisa foi previamente estabelecido entre 1890 e 1930, podendo sofrer alteração ao longo da investigação.

Vale destacar que para o caso de Sergipe, ainda na década de 50 do século XX, Calasans (1951), já apontava para a necessidade de que na história de Aracaju, fosse escrito um capítulo dedicado à educação. “Como surgiram e como se desenvolveram as instituições escolares da cidade.” (CALASANS, 1951, p. 98). Neste trabalho a pretensão é examinar aspectos relacionados ao IERB que permitam construir uma representação sobre a formação matemática das normalistas. Pois, segundo Valente (2013) o pesquisador da história da educação matemática tem por ofício saber:

[...] como historicamente foram construídas representações sobre os processos de ensino e aprendizagem Matemática e de que modo essas relações passaram a ter um significado nas práticas pedagógicas dos professores em seus mais diversos contextos e épocas (VALENTE, 2013, p. 26).

1 A dissertação está inserida no Núcleo de Pós Graduação em Ensino de Ciências e Matemática –

NPGECMA – da Universidade Federal de Sergipe, tendo como orientadora a profa. Dra. Ivanete Batista dos Santos. Também é parte integrante do projeto maior desenvolvido pelo GHEMAT – Grupo de Pesquisa em História da Educação Matemática, intitulado “A Constituição Dos Saberes Elementares Matemáticos: A Aritmética, a Geometria e o Desenho no curso primário em perspectiva histórico-comparativa, 1890-1970” – coordenado pelo prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente.

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Neste trabalho priorizamos como documentos oficiais as seguintes fontes: Regulamento de 1890, Regulamento de 1900, Regulamento de 1901, Regulamento de 1907 e a Lei Nº 398, de 31 de Outubro de 1900, a fim de traçar um quadro sobre os saberes elementares matemáticos presentes no Curso Normal.

Ainda no final do século XIX, Felisbello Firmo de Oliveira Freire – primeiro Presidente nomeado pelo Governo Central - foi o responsável pela aprovação do primeiro regulamento dirigido à Instrução Pública no Estado de Sergipe, conforme Decreto Nº 30, de 15 de Março de 1890. No referido documento há uma indicação da necessidade de que fosse efetuada uma reforma de modo radical na instrução pública do estado. Para o ensino normal, foi restabelecida a Escola Normal2 para ambos os sexos, devendo o ensino ser ministrado em caráter essencialmente prático, baseado na experimentação e manipulação. É no artigo 249 do regulamento que notamos indicações ao ensino dos saberes elementares matemáticos, dispostos na quarta cadeira intitulada “Mathematicas elementares; arithmetica; noções de álgebra até as equações do primeiro grao; geometria; applicações praticas”3.

(REGULAMENTO DE 1890, p. 122-123).

Numa análise preliminar, podemos deduzir que a cadeira apresenta uma descrição de âmbito geral, pois apenas pelo descrito no regulamento não é possível identificar quais os conteúdos abordados nas cadeiras investigadas. Para Álgebra, destaca-se a limitação, de noções até as equações de 1° grau. E no caso da Geometria e aplicações práticas, o que significa? O exame apenas do Regulamento de 1890 não nos fornece indícios para uma possível resposta. Ou seja, ainda é preciso localizar e examinar outras fontes da época, como por exemplo, os programas de ensino. Ainda neste mesmo regulamento, conforme descrito no capítulo XI, que trata sobre a congregação de professores e suas atribuições, consta que os membros deveriam “organisar os progrommas [sic] do ensino e formular o horarario [sic] dos trabalhos” (Regulamento de 1890, art. 318, p. 133).

No artigo 253 do capítulo IX, que versa sobre o regime das aulas, ressaltamos uma das condições prescritas no artigo 199: “Logo que baixar este regulamento, será convocada

2 De acordo com o artigo 48, a Escola Normal estava classificada como escola de quarta entrância, das quais

faziam parte as cadeiras da capital do estado. Entretanto, nessa classificação, não se compreendem as escolas do Asilo de N. S. da Pureza, da casa de prisão da Capital e a que for criada no núcleo colonial do patrimônio. De 1ª entrância estavam as cadeiras dos povoados; de 2ª entrância as cadeiras das vilas e as suburbanas de Laranjeiras, de Maruim, Estância e a da Barra dos Coqueiros; e de 3ª entrância as cadeiras das cidades e a do bairro Santo Antônio do Aracaju. (REGULAMENTO DE 1890, p. 94)

3 Optamos por destacar as citações na escrita da época, conforme consta nos documentos oficiais, para

manter a integridade do texto original.

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a congregação para organizar o programma dos estudos e o horário das aulas do corrente anno, nos quaes, bem como nos anos posteriores, deverão se consignar estas condições.” (REGULAMENTO DE 1890, p. 115). Percebendo tratar-se de uma regulamentação de âmbito geral, nos questionamos: como os programas de estudo estavam estruturados e qual a metodologia de cada estudo, em especial, a metodologia correspondente à quarta cadeira? Ou seja, o regulamento normatiza as metodologias dos estudos correspondentes aos saberes elementares matemáticos?

Pelo disposto no regulamento, os professores da congregação deveriam organizar cada aula em duas partes: uma de preleção e outra de arguição sobre a matéria explicada. Sempre que fossem entendidas, os professores faziam revisão das lições anteriores. Era incumbência dos professores, a explicação mais prática possível de suas lições, chamando a atenção dos alunos para o lado experimental das questões.

Outro documento examinado foi a Lei Nº 398, datado de 31 de Outubro de 1900, aprovada por Olympio de Souza Campos. No documento foi estabelecida a divisão das matérias do curso da Escola Normal. A cadeira que se refere aos saberes elementares matemáticos consta de Arithmética e Desenho Linear. Porém, conforme previsto no artigo 18, a referida lei somente passaria a ser executada após expedição do respectivo regulamento. Cabe-nos localizar novos documentos a fim de investigar o que teria ocorrido com os saberes elementares matemáticos que justificasse a inserção do Desenho Linear no rol das disciplinas, conforme previsto nessa lei, além de buscar identificar quais teriam sido os conteúdos abordados.

O Regulamento de 1900 foi posto em circulação por meio do Decreto N. 494 de 26 de dezembro do mesmo ano. Na análise do documento, percebemos similaridades nas prescrições do ensino quanto a sua duração. Em relação aos instrumentos, mantinha-se a existência de um contador mecânico e de uma coleção de pesos e medidas na escola para execução do ensino. Apesar de descrito – também – no regulamento anterior, ainda não encontramos indícios de como se dava a utilização desses instrumentos para o ensino. As cadeiras que constituíam o Curso Normal foram distribuídas em três anos, dentre elas, está a Matemática Elementar. A distribuição deu-se do seguinte modo:

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QUADRO 1–DESCRIÇÃO DAS DISCIPLINAS PROPOSTAS NO REGULAMENTO DE 1900

1º ANO Gramática Nacional, Frances e Aritmética

2º ANO Gramática Nacional, Aritmética e Álgebra, Francês, Geografia e

Ciências Físicas e Naturais

3º ANO Gramática Nacional, História, Pedagogia e Metodologia,

Agronomia e Higiene Domestica, Instrução Moral e Cívica Fonte: Quadro elaborado a partir de informações coletadas no Regulamento de 1900.

Constata-se que a Lei Nº 398, de 31 de Outubro de 1900, conforme já mencionada, instituía as cadeiras de Aritmética e Desenho Linear, contudo, o Regulamento que passou a circular em dezembro do mesmo ano fazia menção à Matemática Elementar.

Em 1901, o presidente, ainda Olympio Campos, autorizou novo Regulamento do ensino através Decreto Nº 501, de 05 de Agosto de 1901. Poucas mudanças foram propostas no documento, apenas inferindo-se que na oferta do ensino público normal a cadeira de Álgebra, antes ofertada, não mais aparece no currículo. A alteração que identificamos diz respeito às cadeiras correspondentes ao segundo ano do Curso Normal, entretanto, o documento não fornece indícios que justifique a alteração proposta da formação matemática das normalistas, nem oferece possibilidades de inferir se houve – ou não – possíveis prejuízos na aprendizagem daquelas professoras formadoras.

A aprovação de uma nova proposta de ensino parece indicar a insatisfação dos legisladores com as antigas reformas da instrução pública. Em 15 de abril de 1907, o Decreto de Nº 547 expediu novo regulamento para o funcionamento das Escolas Normais, autorizado por Guilherme de Souza Campos. A leitura do documento não indica grandes mudanças, continuando a existir a disciplina de Aritmética distribuída nas disciplinas do primeiro e segundo ano do curso. Entretanto, diferente dos três regulamentos anteriores, a leitura desse regulamento – conforme descrito no capítulo I, Art. 2º e 3º – nos faz observar que o uso do termo “cadeira” foi substituído por “disciplina” e o termo “disciplina” foi substituído por “matéria”. Apesar disso, não conseguimos encontrar registro que justifique essa alteração nos documentos analisados.

Numa análise em relação às cadeiras ofertadas, constatamos que a Geometria e Álgebra aparecem somente no Regulamento de 1890. Nos primeiros anos do século XX, as respectivas cadeiras não mais constaram nos documentos analisados. A cadeira de Desenho Linear foi descrita na Lei Nº 398, de Outubro de 1900, entretanto, o documento posterior

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que regulamentou o ensino normal – Decreto Nº 494, de 26 de Dezembro de 1900 – não propôs a oferta dessa cadeira. Não identificamos indícios do que teria ocorrido com os saberes elementares matemáticos que justificasse a inserção do Desenho Linear no rol das disciplinas. Já a cadeira de Aritmética aparece de modo distinto as outras cadeiras, sendo ofertada em todos os regulamentos analisados, contudo, sem indicações dos conteúdos propostos.

É possível identificar, a partir dos documentos já analisados, que até o ano de 1907 a mudança mais significativa que ocorreu diz respeito à estrutura do Curso Normal em relação às disciplinas para o ensino de Aritmética, Álgebra, Geometria e Desenho Linear. Os regulamentos não possibilitaram a visualização dos programas de ensino, já que podemos inferir que esses documentos podem conter maiores detalhes sobre os conteúdos matemáticos e recomendações para os professores.

O exame das fontes aqui observadas em relação ao Curso Normal do IERB no final do século XIX e início do século XX nos permitiu elencar um rol de questões que por certo nortearão os próximos investimentos da pesquisa no futuro. Pois, grosso modo, só é possível identificar similaridades nos regulamentos examinados no que se refere à oferta – ou não – das matérias de Álgebra, Aritmética, Geometria e Desenho Linear na formação matemática das normalistas, sem indícios de qualquer registro de recomendações específicas em relação a cada uma dessas matérias nas fontes analisadas.

Do que foi posto até aqui, reforçamos a necessidade de aprimorar as buscas de fontes em nosso estado – e caso não seja possível em outros estados – para uma compreensão sobre a formação matemática das normalistas que nos permita escrever uma narrativa.

Referências

CALASANS, José. Ensino público em Aracaju (1830-1871). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, v. XV, 1951, p. 96-120.

VALENTE, W. R. Oito Temas Sobre Histórias da Educação Matemática. REMATEC – Revista de matemática, Ensino e Cultura. Ano 8. N. 12. Jan-jun. RN, 2013.

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Publicações oficiais

SERGIPE. Colecção de Leis e Decretos de 1890. Decreto Nº 30, de 15 de Março de 1890. Aracaju: Typ. d’ O Estado de Sergipe, 1890.

_______. Colecção de Leis e Decretos de 1900. Lei Nº 398, em 31 de Outubro. Aracaju, Typ. d’ O Estado de Sergipe, 1900.

_______. Colecção de Leis e Decretos de 1900. Decreto Nº 494, de 26 de Dezembro de 1900. Aracaju: Typ. d’ O Estado de Sergipe, 1900.

_______. Colecção de Leis e Decretos de 1901. Decreto Nº 501, de 05 de Agosto de 1901. Aracaju: Typ. d’ O Estado de Sergipe, 1901.

_______. Colecção de Leis e Decretos de 1907. Decreto Nº 547, de 05 de Agosto de 1907. Aracaju: Typ. d’ O Estado de Sergipe, 1907.

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