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Objetivos. 1. A organização e o sentido da sociabilidade entre os homens: noções gerais

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Academic year: 2021

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Mostrar maneira de organização dos grupos humanos: apresentação de diferentes realidades culturais;

O uso da Antropologia como interlocutora das realidades simbólicas e materiais dos grupos humanos: o exemplo da mesa de reunião e a disposição dos participantes.

A formação dos grupos humanos condiciona-se, em muitos aspectos, às necessidades do homem em constituir uma identidade coletiva. Esse processo traduz ansiedades múltiplas que, no caso, organizam a idéia de formação do seu saber social.

A identidade coletiva, fruto desse saber social, é um elemento de sustentação de uma memória e funciona como uma espécie de "ponto de retorno" quando, por exemplo, algum membro do grupo aventura-se para além das fronteiras estabelecidas no seu cotidiano. O grupo necessita de um ponto de união que organize e multiplique o sentido da vida diária.

Objetivos

1. A organização e o sentido da sociabilidade entre os homens: noções gerais

O homem como grupo é uma entidade que se trans-forma diariamente. Os problemas enfrentados no seu cotidiano modificam-se em elementos de agregação de seus membros, e essa capacidade de aprender e criar com os erros é um dos fatores primordiais da natureza humana. É nesse meca-nismo de agregação que surge a sociabilidade. O homem como grupo é uma entidade que se transforma diariamente. Os problemas enfrentados no seu cotidiano modificam-se em elementos de agregação de seus mem-bros, e essa capacidade de aprender e criar com os erros é um dos fatores primordiais da natureza humana. É nesse mecanismo de agregação que surge a sociabilidade. O sentido da sociabilidade, elemento usado e desenvolvido pelos homens, também está presente entre os animais. É comum observar a expressão de preservação que há entre os animais e a preparação dos filhotes para a vida adulta. Esse ato corresponde ao da sociabilidade: agrega-se ao grupo o novo membro e transmite-se a ele os elementos de identidade coletiva do grupo.

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A transmissão de novos valores pelos grupos humanos realiza-se de forma complexa e diferenciada. Para cada realidade criada, agregam-se sentidos simbólicos, o que pode ser visto como o grande diferencial entre o cotidiano dos homens e dos animais. O fator cultural é o que determina a principal diferença entre os homens e os animais. Os elementos simbólicos, na visão do antropólogo Laplantine (1991: 116), são sempre produções sociais. De fato, quando o homem soluciona seus problemas cotidianos, ele agrega valores que são usados como referência para o entendimento do coletivo. A sociabilidade é um fator que pertence a esse sistema de valores constituídos e dessa maneira deve ser vista. Os aspectos simbólicos que conduzem à sua interpretação e uso nascem de duas fontes principais. A primeira agrega valores ao sentido de existência da comunidade e a segunda transforma esses mesmos valores em reali-dades cotidianas. Ambas são instrumentos participativos com os quais os indivíduos dão sentido à sua existência.

Nota-se que não basta o homem se reunir para forma uma comunidade. É necessário se criar todo um sistema de valores que dê sentido a esse processo e que gere a noção de continuidade/perpetuação do grupo social.

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2. Elementos simbólicos dos objetos e seus valores culturais

A produção cultural humana agrega valores em duas representações criadas no cotidiano do grupo social analisado: os objetos materiais e a simbologia contida em suas representações.

Para o homem chamado de moderno, cada objeto possui uma carga simbólica que carrega valores do grupo ao qual aquela representação material pertence. A idéia do objeto nasce de uma necessidade diária, um problema a ser solucionado. Para conhecer a idéia, ou seja, o aspecto simbólico do objeto, torna-se necessário perceber o momento histórico de sua produção e o uso diário dado a ele. Objetos também foram usados como fator de reconhecimento da evolução dos grupos humanos no decorrer da história. A idéia do uso do arco e da flecha sempre foi pensada pelos antropólogos tradicionais (linha evolucionista), para designar em que estágio evolutivo estava determinado grupo social analisado.

Para a atual Antropologia o uso ou não, por exemplo, do arco e da flecha para caça não é um fator determinante do caráter evolutivo da sociedade e sim reflexo de suas necessidades cotidianas. Os esquimós, por exemplo, não têm o arco e a flecha como um utensílio tradicional de caça e nem por isso podem ser tachados de "atrasados" na suposta "linha evolutiva".

Para o homem moderno, a carga simbólica dos objetos também pode se formar pela criação de uma propaganda satisfatória ao seu uso. Nesse caso, o elemento material pode não ter um valor de uso cotidiano, ou seja, pode não ter surgido de uma neces-sidade, mas sim da criação desse mesmo valor que, com a propaganda, passa a ser uma necessidade.

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Filme Recomendado

Vale a pena ver o filme A Guerra do Fogo, que retrata o momento em que os homens desenvolvem a capaci-dade de produzir o fogo. No filme, o diretor/autor passa a idéia que é nesse momento que a consciência humana nasce, pois o que está em jogo não é só a pos-sibilidade de uso do fogo, mas também a necessidade de viver em um grupo, com papéis sociais definidos.

Um outro exemplo encontra-se na religião, para a qual o uso de objetos serve como uma espécie de concretização da crença, um condutor para a materialização da idéias. Para os católicos, as imagens de santos conduzem à representação das idéias reli-giosas; para os protestantes, a Bíblia é vista como um objeto sagrado; e assim toda as representações religiosas constroem sua própria carga simbólica para os objetos materiais produzidos.

Encontram-se, nesse modelo, determinados tipos de roupas ou mesmo utilitários domésticos. Nesse caso, é aplicada a regra na qual o momento histórico, o sistema econômico capitalista, forjou o objeto e criou a necessidade. O grupo social que sofreu essa ação, acatou o objeto como necessidade e acabou por transformá-lo nos chamados "ícones de consumo". Por exemplo, tem-se a idéia de que um carro esportivo deve ser pintado de amarelo ou vermelho.

Para conhecer uma sociedade, é necessário percebê-la como uma espécie de organismo vivo no qual cada parte tem uma função específica que também se interli-ga ao conjunto. Os objetos materiais funcionam dessa maneira. Conhecendo os objetos e suas funções, é o suficiente para se saber como os grupos sociais se percebem? Isoladamente, cada objeto possui as mesmas características? Ou essas características só são percebidas quando ele está inserido em um todo?

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Respondendo-se a essas questões, descobre-se a importância do objeto como elemento de representação do cotidiano. Tal conhecimento é o suficiente? Não teria também o espaço no qual está inserido o objeto um valor igual ou próximo para o grupo social analisado?

3. O espaço e o objeto: inter-relações cotidianas

"A associação operatória do utensílio [objeto] e do gesto [forma de uso] pressupõe a existência de uma memória na qual se inscreve o programa do comportamento." (Leroi-Gourhan, 2002: 33)

O espaço é o local no qual os objetos podem, diretamente, assumir toda a carga simbólica de suas representações: sua memória de uso.

É importante perceber que os indivíduos criam os objetos pensando no seu espaço de circulação cotidiana. O cetro, pequeno bastão usado pelo rei e que é símbolo de seu poder, representa a existência de uma monarquia centralizada. Tal percepção só é possível desde que o objeto, o cetro, esteja inserido no contexto de sua represen-tação, ou seja, na sala do trono, com a presença dos súditos e estar sendo manipulado pelo rei.

Teria a existência do cetro alguma relação com o primitivo bastão de caça cuja posse pelo membro mais forte do grupo transmitiria uma posição de destaque? Provavelmente sim, mas sua caracterização simbólica - elemento material de representação de um poder político - ganha outro sentido ao ser inserida em outro espaço predeterminado.

Na sala real, a presença do trono é um outro elemento de representação desse poder. A poltrona real, sempre colocada acima do nível do chão, representaria a diferenciação social para aquele que vive o cotidiano da corte do rei.

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Essa representação poderia ser transferida para outras situações, como no caso de uma sala de aula: a mesa do professor está sempre à frente dos alunos, em local de destaque. Ou o arranjo foi feito pela perspectiva didática, afinal, a lousa está atrás e é usada pelo professor para passar o conteúdo de sua disciplina?

Na prática, a resposta seria sim, mas, pensando na disposição dos objetos e nas relações sociais do grupo, pode-se negar a resposta com outras perguntas: não seria o arranjo um elemento explícito de representação do poder naquele espaço específico? O professor não deveria ser o elo entre o conhecimento (representado e descrito no quadro negro) e aqueles que o procuram (os alunos)? Deve-se pensar na questão e refletir no significado das posturas pedagógicas atuais que buscam "quebrar" esse modelo ao propor um arranjo em círculo para o grupo de estudantes.

Nesse aspecto, o arranjo do grupo em círculo é um modelo que cria proximidade entre seu membros: todos podem olhar a todos ao mesmo tempo. Não seria essa, por acaso, a representação da brincadeira de roda, que é uma das principais ativi-dades lúdicas das crianças.

O uso do círculo como orientação espa-cial/social também pode sugerir a busca de uma organização: a luta do homem contra a situação de caos oferecida pelos

elementos da Natureza. Essa condição pode ser associada ao início do processo de organização do homem em grupo. Leroi-Gourhan (2002: 124) chama essa atitude de "domesticação simbólica" do espaço, e, para os antigos hominídeos, essa atitude é coincidente, por exemplo, com a criação de elementos para medir o tempo cronológico, como pode ser obser-vado no uso de primitivos calendários lunares ou solares.

O famoso sítio arqueológico de Stonehenge, datado de aproximadamente 5 mil anos antes de nossa Era e localizado na Grã-Bretanha, demonstra essa possibilidade de uso: uma espécie de calendário lunar, com pedras dispostas em círculo, por meio do qual o homem cria mecanismos para "domesticar" o caos oferecido pela Natureza cotidiana.

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O monumento arqueológico de Stonehenge é um exemplo do uso do espaço e de sua organização funcional. Os objetos e atos cotidianos também se inserem nessa perspectiva de racionali-dade prática e simbólica, fazendo parte de uma estrutura não percebida em um primeiro momento por estar presente em uma prática cotidiana inconsciente.

3. O espaço e o objeto: inter-relações cotidianas

Nesse momento, pode-se argumentar como as relações simbólicas representam o comportamento dos indivíduos, buscando, como exemplo, a funcionalidade da disposição das pessoas em uma mesa de jantar, confraternização, negócios, etc. Para começar podemos falar de uma das mais famosas representações existentes desse tipo de organização das pessoas.

Leonardo da Vinci, famoso pintor da época da Renascença italiana, pintou o quadro [na realidade, trata-se de um afresco, localizado no convento de Santa Maria della Grazie, na cidade de Milão] da Santa Ceia, último evento de reunião dos apóstolos e Cristo antes de seu julgamento e posterior crucificação.

Evento de reunião dos apóstolos

Deve-se lembrar que a representação de Leonardo da Vinci é ficcional e está baseada em seus conhecimentos dos textos bíblicos. Na realidade Leonardo, como autor, é o único responsável pelo formato, significados e disposição dos componentes existentes na pintura.

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A pintura da Santa Ceia tornou-se um ícone de adoração religiosa, estando presente, na atualidade, em muitas residências e em alguns restaurantes. Na obra do pintor, as pessoas estão sentadas todas de um lado da mesa em um arranjo pouco comum na realização de uma refeição. Leonardo oferece, com essa disposição dada à pintura, a possibilidade de o observador participar da cena e, assim, aproximar-se da realidade criada pela representação do acontecimento.

Nota-se que essa disposição também é buscada em eventos como formaturas, na qual a mesa dos membros homenageados/participantes é toda preenchida de um único lado. O público que assiste à cerimônia pode visualizar de forma total a mesa central, havendo, portanto, de forma simbólica, uma diminuição das diferenças sociais entre os membros do grupo.

O profissional de eventos deve observar essa regra básica para não cometer o erro de aumentar ou perpetuar as diferenças simbólicas existentes no grupo. Pensando nesse exemplo, observa-se que a dis-posição das pessoas no evento não é algo aleatório, ou seja, o espaço perce-bido tem seus símbolos domesticados e adaptados às necessidades apresen-tadas pelo cotidiano do grupo.

Para os grupos ocidentalizados, essa forma de disposição das pessoas em determinado acontecimento festivo atrela-se aos valores inconscientes e às suas raízes, presas em modelos há muito tempo difundidos.

Leonardo da Vinci aproveita-se, provavelmente, de uma situação já exis-tente em seu cotidiano, recriando-a de

forma a satisfazer sua necessidade de propagação de uma idéia coletiva de sociedade da qual ele, como autor, faz parte. E o profissional de eventos, seguin-do o exemplo seguin-do pintor, deve observar valores intrínsecos para adaptá-los a pro-posta de organização do acontecimento. O evento, e toda sua representação simbólica, funciona dessa maneira, ou seja, cada "peça" do acontecimento tem uma vestimenta própria que deve ser colocada no locais específicos.

Em uma reunião de negócios, um jantar ou mesmo uma formatura, cada repre-sentação/arranjo tem uma função específica a ser respeitada na cons-trução dos espaços à mesa ou mesmo na distribuição das pessoas pelo espaço do acontecimento.

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Função Específica

Veja abaixo uma tabela comparativa do uso/interpretação das funções de cada evento:

É preciso lembrar que esta Tabela é apenas um exemplo de organização de idéias em alguns momentos, não representando todas as possibilidades oferecidas por um evento. As sociedades humanas são dinâmicas e adaptam-se ao desenvolvimento de novas realidades cotidianas.

Pensando-se no ato da refeição diária, deve-se lembrar da função social do fogo. Na pré-história do homem, ele funcionava como um elemento de agregação, pois era em torno da fogueira, ao preparar os alimentos, que o homem discutia suas questões diárias: era o momento de pausa e reflexão do grupo para o cotidiano vivido ou para aquele a ser imaginado.

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Na Antiguidade Clássica (Egito, Grécia, Roma), os encontros para as refeições assumem a roupagem da desigualdade social. As refeições e a quantidade de produtos à mesa eram sinônimo de status do anfitrião. Sentar-se com serviçais era algo inadmissível. Esse modelo de compor-tamento sobrevive até o mundo moderno e percebem-se reflexos dessa história em muitas das residências da elite. No caso do Brasil, que durante muito tempo conviveu com o regime escravista, estudaremos esse aspecto com mais detalhes em outras aulas.

No mundo moderno, vinculado ao processo industrial de produção, o hábito das refeições reflete diretamente o cotidiano vivido, o que justifica o sucesso dos chamados fast-food. Há nessa representação um padrão/organização de consumo que também organiza o comportamento social dos indivíduos.

Percebendo o mundo moderno dessa forma, observa-se que, nos eventos nos quais os jantares são o ápice da festa, cria-se uma espécie de "ficção cotidiana", que deve ser administrada de forma a satisfazer as necessidades do grupo envolvido com o acontecimento. O profissional de eventos deve observar quais são esses valores e administrá-los da maneira mais satisfatória possível.

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GOURHAN-LEROI, André. O gesto e a palavra: memória e ritmos. Lisboa. Edições 70, 2002.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.

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Referências

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