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Mediação comunitária como ferramenta de pacificação social

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016

Mediação comunitária como ferramenta de pacificação social

Denise Costa Ceroni1

Karine Montanari Migliavacca2 Susanna Schwantes3

1. Introdução

O projeto de extensão em mediação comunitária, vinculado ao Laboratório de Mediação, tem por objetivo a implantação da mediação em comunidades localizadas no entorno do Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter, a partir da aplicação e desenvolvimento de habilidades direcionadas à resolução dos conflitos sociais, estimulando o diálogo, a escuta ativa e a compreensão mútua entre os participantes e indivíduos das comunidades do entorno. A atividade extensionista contempla a capacitação de mediadores comunitários e sua formação continuada, bem como a realização de oficinas à comunidade para sensibilização em relação às práticas da mediação como ferramenta de pacificação social. O projeto foi iniciado em junho de 2016 junto à Associação dos Moradores e Amigos da Vila Tronco (Amavtron), entidade de cunho assistencial localizada na Vila Tronco, Município de Porto Alegre, com a realização de oficinas de sensibilização dos colaboradores e educadores sociais ligados à entidade assistencial. As abordagens realizadas nas primeiras oficinas junto à Amavtron, de sensibilização e apresentação das práticas da mediação, abordaram os seguinte temas, confiança, escuta ativa e empatia, consideradas importantes ferramentas para o desenvolvimento do diálogo não violento e da convivência colaborativa e cooperativa, como base de sustentação da mediação comunitária.

2. A extensão universitária e seu(s) sentido(s)

1

Doutorando em Educação, UFRGS, Centro Universitário Ritter dos Reis- denise_ceroni@uniritter.edu.br

2 Mestre em Qualidade Ambiental - FEEVALE/RS, Centro Universitário Ritter dos Reis – UNIRITTER, karine_migliavacca@uniritter.edu.br

3

Mestrando em Direito, UCS, Universidade de Caxias do Sul- Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, susanna_schwantes@uniritter.edu.br

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016.

A extensão universitária no Brasil apresenta em seu histórico desdobramentos diversos em sua dimensão e conceito.

No início do século XX, as primeiras universidades brasileiras ofereciam palestras e conferências abertas ao público, mas sem relação dos temas com os problemas sociais ou políticos da época. Na década de 60, com o crescimento das reformas sociais, os projetos de extensão buscam uma interface com a comunidade para promover uma transformação social. As mudanças conceituais do objeto da extensão se alteram na décadas de 70, sendo compreendida a partir da prestação de serviços à comunidade e o retorno desse serviço ao ensino e à pesquisa, como uma característica de retroalimentação. Na década seguinte, anos 80, a extensão passa a desenvolver um papel caracterizado por um viés assistencialista, com práticas de cunho social e ações democráticas. Com o avançar do tempo, os desafios do século XXI provocam novas discussões que relacionam a importância da extensão universitária com a interface com a comunidade local, regional ou nacional, na medida em que a instituição de ensino superior, seus docentes e discentes, são partes de um contexto que engloba realidades políticas, econômicas e culturais, o que traz a necessidade de pensar a extensão a partir de uma interação com a comunidade a partir da transferência do conhecimento e o retorno ao seu público universitário, em constante transformação da univerisdade e da sociedade.4

Esse caráter transformador da extensão universitária, portanto, traduz uma ligação entre o saber acadêmico e o saber popular, possibilitando que todos os envolvidos no projeto, a instituição de ensino, pelos seus professores e alunos, e a comunidade, trabalhem de forma inter-relacional, a partir da troca entre o conhecimento técnico e os hábitos culturais da comunidade, permitindo, assim, o desenvolvimento de experiências diversas à prática acadêmica e à construção de novos conhecimentos. A extensão pressupõe ação e interação entre a instituição de ensino e a comunidade, em permanente troca e aprendizado, ambos elementos incentivadores da mudança social.

A intercomunicação é sustentada por Freire ao analisar a ação extensionista e, nesse sentido, afirma

“Não há, realmente, pensamento isolado, na medida em que não há homem isolado. Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto pensado, que mediatiza o primeiro sujeito do segundo, e a comunicação entre ambos, que se dá através de signos linguísticos.

4

Carbonari, Maria; Pereira, Adriana. A extensão universitária no Brasil, do assistencialismo à sustentabilidade. São Paulo, Setembro de 2007. Revista de Educação, vol.10. Disponível em: http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/educ/article/view/2133.Acesso em: 04set.2016.

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016.

O mundo humano é, desta forma, um mundo de comunicação.”5

Nesse caminho, a extensão busca o aproveitamento que a troca de saberes pode ofertar aos envolvidos, que deve se desapegar do caráter assistencialista para um prática de interação, numa lógica de ação e reação entre o conhecimento técnico e o saber da comunidade.

Assim, a extensão universitária traz benefícios a todos os envolvidos, ganha a instituição de ensino ao retroalimentar sua dimensão de pesquisa e extensão, além de firmar sua responsabilidade social na comunidade local ou regional, ganham os professores e os alunos, que ao expandirem as práticas acadêmicas e os saberes técnicos constroem conhecimento e, por fim, mas não menos importante, ganha a sociedade ao apropriar-se de novas práticas para o exercício da cidadania, além de permitir, na troca realizada com a comunidade acadêmica, a perpetuação de seus hábitos culturais tradicionais.

3. A mediação comunitária

A função jurisdicional monopolizada pelo Estado, já não traz mais respostas a sociedade complexa, assim como os métodos e conteúdos empregados pelo direito, tanto no caráter técnico como na linguagem formal, necessitando a busca de alternativas. Surgindo a mediação comunitária como meio de tratamento de conflitos mais adequada à complexidade dos conflitos atuais.

A mediação comunitária objetiva relações mais humanizadas, compreensivas, buscando o aprofundamento da percepção, significados e componentes emocionais, minimizando os conflitos, reconhecendo diferenças, estabelecendo assim uma relação mais harmoniosa, propiciando uma nova cultura de relação social pacificada. A mediação envolve trocas, afinal mediar também é se colocar no lugar de todas as partes envolvidas, assim trabalhando de uma maneira afetiva a imparcialidade, contribuindo de maneira segura e acreditando que as grandes mudanças possam ocorrer6.

Dessa forma, a mediação comunitária propõe uma nova cultura, que está muito além da jurisdição tradicional, focando em práticas consensuais e autônomas que responsabilize o próprio cidadão e a comunidade em que está inserido a capacidade de lidar com os conflitos que geram litígios, de forma autônoma. O objeto básico da mediação comunitária é o pluralismo de valores, pois seus local de trabalho é a comunidade. No pluralismo o mais desafiador é a aceitação das diferenças e as incoerências geradas. Razão pela qual a

5FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 8ª ed.Editora Paz e Terra:São Paulo. Pg.44. 6Vasconcelos, Carlos Eduardo de. Mediação de Conflitos. 3 ed. Editora Método. São Paulo. 2014. P. 209.

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016.

principal finalidade é reabrir os meios de comunicação interrompidos e reconstruir relações destruídas7.

O conflito em si não é o problema, sendo inclusive uma das formas de relação com outros indivíduos e coletividade. Assim, estar em conflito numa comunidade nada mais é do uma forma de relação, mas também é possível optar pela cooperação. Qualquer comunidade é construída, de acordo com as formas de conflito e de cooperação dos seus agentes. Consequentemente o conflito é uma forma social de evolução e/ou retrocesso, constituindo-se num espaço em que o próprio confronto gera transformações nas relações dos envolvidos8. O conflito não pode ser considerado um problema, mas, sim uma chance de evolução e de crescimento conjunto.

A mediação feita nos moldes da justiça comunitária utiliza os mediadores cidadãos, pois sãos os próprios membros da comunidade, escolhidos por ela e capacitados para o ofício de mediador. São pessoas que dedicam seu tempo e responsabilidade, em busca de um vínculo social efetivo entre os membros da comunidade, pois participam efetivamente da vida em sociedade e procuram incessantemente transmitir todo o conhecimento adquirido.9

A escolha pela modalidade de oficinas pedagógicas para a ação extensionista em questão origina-se pela convicção de que as oficinas são recursos pedagógicos interessantes que representam ícones de cooperação, como afirma Richard Sennett (2012). Nas oficinas pedagógicas o modo de operar é mais humano e colaborativo, pois há interação entre os sujeitos, a participação da comunidade é incentivada pela conversa amistosa e ajuda mútua, garantindo assim um espaço de aprendizagem coletiva e de cooperação.

O clima se estabelece pela cumplicidade em que todos contribuem com seus diferentes saberes e, dessa forma, a construção do protagonismo se fortifica em direção à cidadania plena e responsável pelo coletivo comunitário. Para Freire não há saberes melhores, apenas diferentes e em uma oficina pedagógica há a promoção de um ambiente de escuta, de diálogo, de solidariedade e de descobertas.

Sem a intenção de concluir, mas com a pretensão de provocar reflexão, afinal, quais as vantagens da cooperação? Melhorias em diversos âmbitos da vida, quer seja na aquisição e construção de conhecimentos acadêmicos como nas atitudes e valores permeados nas relações sociais no respeito e na aceitação das diferenças . Assim como o fortalecimento de um sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade.

7

Programa de Mediação de Conflitos Ano 2010. Mediação e Cidadania. Arraes Editora. Belo Horizonte. 2010. P. 135

8

Spengler, Fabiana Marion. Fundamentos Políticos da Mediação Comunitária. Editora Unijuí. Ijuíz. 2012.p. 110

9

Spengler, Fabiana Marion. Fundamentos Políticos da Mediação Comunitária. Editora Unijuí. Ijuíz. 2012.p. 238

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016.

A mediação comunitária é um enorme avanço para devolver à comunidade a resolução de seus conflitos, que segundo Spengler10 apresenta efetivamente: “a possibilidade do acesso à Justiça; segundo, a resolução dos conflitos por meio do diálogo e da compreensão mútua”, gerando “a prevenção dos conflitos, na medida em que as partes se tornam responsáveis por suas decisões, e ainda, porque são decisões discutidas e acordadas com base na solidariedade” estabelecendo uma transformação da condição de cidadão pois, “ quando soluciona os conflitos com base no diálogo, transforma-os e possibilita novos vínculos entre as pessoas; conscientiza-se sobre seus direitos e acerca de como buscar estes direitos” e por fim “inclui socialmente os excluídos quando possibilita que indivíduos pobres atuem como mediadores ou partes oferecendo a estes oportunidades de discussão e solução de conflitos.”

Referências bibiliográficas:

CARBONARI, Maria; PEREIRA, Adriana. A extensão universitária no Brasil, do assistencialismo à sustentabilidade. São Paulo, Setembro de 2007. Revista de Educação,

vol.10. Disponível em:

http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/educ/article/view/2133.Acesso em: 04set.2016.

CARBONELL, Jaume. Pedagogias do Século XXI :bases para a inovação educativa .3ª ed. Editora Penso.Porto Alegre.2016

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? 8ª ed.Editora Paz e Terra:São Paulo. SPENGLER, Fabiana Marion. Fundamentos Políticos da Mediação Comunitária. Editora Unijuí. Ijuíz. 2012.

Programa de Mediação de Conflitos Ano 2010. Mediação e Cidadania. Arraes Editora. Belo Horizonte. 2010.

VASCONCELOS, Carlos Eduardo de. Mediação de Conflitos. 3 ed. Editora Método. São Paulo. 2014

10

Spengler, Fabiana Marion. Fundamentos Políticos da Mediação Comunitária. Editora Unijuí. Ijuíz. 2012.p. 239

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