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O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE

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Academic year: 2021

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O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, AS ESCOLHAS PROFISSIONAIS E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO

DOCENTE

Natalia Neves Macedo Deimling Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali Universidade Federal de São Carlos

Resumo: Objetivamos com este trabalho apresentar alguns dos resultados parciais de uma pesquisa de doutorado em andamento, a fim de que seja possível apresentar uma análise prévia sobre as influências do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) nas escolhas profissionais dos alunos bolsistas da licenciatura que participam desse Programa. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa que tem na entrevista semiestruturada o principal instrumento de construção e análise dos dados. As entrevistas aqui analisadas foram realizadas com quarenta alunos bolsistas de quatro subprojetos do PIBID da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) no anode 2013. Os resultados obtidos até o momento mostram que alguns dos bolsistas entrevistados desejam seguir a carreira docente e que o Programa os tem influenciadopositivamente nessa escolha. Todavia, relatos apresentados por outros bolsistas demonstramjustamente o desestímulo que eles apresentam pela profissão devido à desvalorização da carreira, aos baixos salários e às condições adversas de trabalho que eles observam nas escolas de educação básicapor meio de sua participação no Programa. A partir desses dados preliminares é possível considerar que o PIBID, ao passo que proporciona aos alunos da licenciatura a inserção e o contato com a realidade escolar, tem, ao mesmo tempo, contribuído para a permanência de alguns alunos na licenciatura e no magistério - um dos objetivos do programa - e levado outros a desistirem de assumir a carreira docente, justamente devido ao que observam e vivenciam em seu contato com o cotidiano escolar e com o trabalho docentena educação básica.

Palavras-chave:Formação de professores; PIBID; Condições de trabalho docente. Introdução

De acordo com a Portaria n° 96/2013 (BRASIL, 2013), o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) tem por objetivos, entre outros aspectos, incentivar a formação docente em nível superior para a educação básica, contribuir para a valorização do magistério e inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação. Considerando que o PIBID se encontra dentro de um contexto mais amplo de reforma educacional e das estratégiasdo Estado para suprir a carência de professores de diferentes áreas do conhecimento no país, objetivamos com esse trabalho apresentar alguns dos resultados parciais de uma pesquisa de doutorado em andamento, a fim de que seja possível apresentar uma análise prévia sobre as influências do Programa nas escolhas profissionais dos alunos bolsistas da licenciatura

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quedele participam e compreender se seus objetivos relacionados à valorização e incentivo ao magistério estão sendo atendidos.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa que tem na entrevista semiestruturada o principal instrumento de construção e análise dos dados. As entrevistas aqui analisadas foram realizadas no ano de 2013 com quarenta alunos bolsistas de quatro subprojetos do PIBID vinculados a quatro cursos de Licenciatura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)nas áreas de Física, Química, Matemática e Letras – Inglês.Para a discussão dos dados utilizamos alguns excertos retirados das entrevistas, os quais foram apresentados ao longo do texto em itálico a fim de fosse possível colocá-los em destaque e diferenciá-los de uma citação bibliográfica.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, as escolhas profissionais e as condições de trabalho docente

Tardif (2012), em seu livro “Saberes Docentes e Formação Profissional”, argumenta que as escolhas profissionais, apesar detambém serem influenciadas pelas experiências pré-profissionais, não estão relacionados apenas aos aspectos subjetivos, mas, igualmente, às condições concretas nas quais o trabalho do professor se desenvolve. No caso particular do magistério, as condições objetivas de trabalho as quais escolas e professores são submetidos, bem como a valorização ou desvalorização da carreira docente, podem aproximar ou afastar os estudantes da escolha pela profissão e também levar professores já em exercício a permanecerem ou desistirem da docência.

As escolhas profissionais, as condições objetivas e a valorização do trabalho docente foram alguns dos temas comentados pelos alunos bolsistas em suas entrevistas. Quando questionados sobre seguir ou não a carreira do magistério e sobre as influências do PIBID nessa escolha, algunsdeles indicaram que desejam seguir a profissão docente e que o Programa os influenciou positivamente nessa direção, como é possível observar nos relatos que se seguem:

O PIBID me influenciou, porque na escola você acaba caindo realmente em sala de aula. Me ajudou a decidir. Quero ser professor.

Sim, ajuda bastante. Você vendo ali, observando como que ocorre, você vai direcionando, né, se você quer aquilo realmente ou não. O PIBID em si, ajuda nesse sentido.

A partir desses relatos é possível observar que o PIBID tem, em certa medida, incentivado a formação docentee contribuído para o contato dos estudantes com o

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cotidiano escolar da educação básica,o que vai ao encontro dos objetivos propostos pelo Programa e pela Política Nacional de Formação de Professores. Todavia, para muitos dos entrevistados, a escolha pelo magistério não está associada, necessariamente, à atuação como professores da educação básica, como é possível observar nos excertos:

(...) realmente eu quero ser professora, mas não só professora do ensino médio. Eu sei que eu preciso estudar bastante. Mas eu gostaria de trabalhar como professora universitária.

A ideia é ficar no ensino médio por um tempo e, se conseguir fazer um mestrado, um doutorado, trabalhar com a graduação.

É assim. É bem o meu pensamento dentro de estar iniciando com o ensino médio e depois ir se aprofundando, estudando e poder dar aula no ensino superior, na faculdade.

É interessante notar nos relatos a preferência de algunsalunos bolsistas pelo magistério superior em detrimento da atuação na educação básica. A análise das entrevistas nos permite observar que, apesar de não excluírem a possibilidade de trabalho nesse nível de ensino, os alunos consideram mais bem remunerado e valorizado o trabalho docente desenvolvido na universidadeou até mesmo em outras áreas de atuação, como,por exemplo, a indústria. Um dos alunos entrevistados, por exemplo, relatou seu desejo de ser professor do ensino médio, mas completou: “não quero que o meu sustento saia única e exclusivamente da sala de aula”. Para ele e vários outros colegas bolsistas do PIBID, a realização da pós-graduação e o trabalho na universidade estão associados a uma melhor remuneração e à valorização do trabalho do professor.

Assim, podemos afirmar que, ao mesmo tempo em que o PIBID se apresenta como uma influência positiva para a escolha profissional dos bolsistas, não tem se apresentado como um incentivo à permanência dos mesmos no magistério da educação básica, como objetiva o programa. Um aspecto mais alarmante pode ser observado ainda nos relatos apresentados por outros alunos que mostram justamente o desestímulo que apresentam pela profissão docente devido aos baixos salários, à desvalorização da carreira, e às condições adversas de trabalho que observam nas escolas em que estão inseridos por sua participação no Programa:

Eu tenho vontade de trabalhar na educação básica, mas ficar lá a vida inteira não. Vontade sim, pelas crianças, o incentivo pra você estar lá, não. Pelo dinheiro não dá vontade.

Ah, não sei. Eu até quero trabalhar um tempo com escola, até estava pensando em pegar aula, só que às vezes eu paro e penso, que nem tem um professor que trabalha lá,

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de matemática, ele tem 60 horas, você fala "nossa, 60 horas" pra ganhar, deve ganhar uns 4 mil, mas trabalha tanto. Aí eu penso eu como mulher, como eu vou ter um filho, é uma coisa que a gente pensa, imagina, né. Então se você também pega 20 horas, 20horas também é uma questão do Estado, você consegue aumentar seu salário, mas tem que estudar muito pra você conseguir ter condições de ficar com 40 horas.

A gente diz, “meu Deus são 4 anos estudando isso aqui, 4 anos de puro estresse, pra você ganhar um salário referente a um emprego”. Sei lá, tem tanta gente que não tem nenhuma formação e ganha melhor do que um professor.

Assim, vemos que o PIBID tem influenciado a formação e a escolha profissional dos estudantes a partir de duas perspectivas diferenciadas e antagônicas: para uma parcela, tem incentivado e contribuído na formação para o magistério na educação básica e, para outra parcela, tem também contribuído, mas no sentido de mostrar a realidade em que se encontraa grande maioria de nossas escolas e as condições objetivas as quais seus profissionais têm sido submetidos. Tal contribuição é possível pelo contato que esse programa proporciona aos estudantes da licenciatura com o cotidiano da escola pública de educação básica. Uma análise nessa perspectiva nos permite considerar que, ao invés de equacionar o problema da falta de professores para educação básica na direção de uma política de valorização dos professores e de sua formação, o PIBID, enquanto programa que integra a Política Nacional de Formação Docente, pode estar contribuindo para afastar os estudantes de licenciatura da docência.

Não se trata, todavia, de um problema relacionado ao Programa de Iniciação à Docência, mas, sim, da realidade observada pelos estudantes nas escolas em que se encontram inseridos. Concordamos com Saviani (2009) quando defende que a questão da formação de professores não pode ser dissociada do problema das condições de trabalho que envolvem a carreira docente, em cujo âmbito devem ser equacionadas as questões do salário e da jornada de trabalho. Para o autor, as condições precárias de trabalho não apenas neutralizam a ação dos professores, mas também dificultam uma boa formação, “pois operam como fator de desestímulo à procura pelos cursos de formação docente e à dedicação aos estudos” (p. 153).

A ausência de boas condições de trabalho e de carreira, especialmente na educação pública, acaba por afastar do magistério amplas parcelas da juventude que poderiam incorporar-se aos processos de formação das novas gerações. O grande número de estudantes queescolhem ainda hoje a licenciatura nas instituições de ensino superiorevidencia a potencialidadedessa juventude na direção da profissão (FREITAS, 2007). Todavia, os programas de formação propostos pelo Estado para o

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desenvolvimento da formação inicial e continuada de professores da educação básica não têm, em sua maioria, contribuído para a superação da realidade vivenciada nasescolas públicas, mas, tão somente, para mascará-las. Com isso, ao invés de incentivar a formação docente, acaba por desestimular os estudantes na escolha pela profissão.

Algumas considerações

A partir dessa análise preliminar dos dadospodemos observar que o PIBID, ao passo que proporciona aos alunos da licenciatura a inserção e o contato com a realidade escolar, tem, ao mesmo tempo, contribuído para a permanência de alguns alunos na licenciatura e no magistério - um dos objetivos do programa - e levado outros a desistirem de assumir a profissão docente, justamente devido ao que observam e vivenciam em seu contato com o cotidiano escolar e com o trabalho docente na educação básica.

Consideramos imprescindível o desenvolvimento de programas de formação dessa natureza que favorecem, em grande medida, a articulação entre os conhecimentos acadêmicos adquiridos na universidade e os saberes práticos observados e vivenciados no cotidiano escolar. Todavia, pensar em uma política de formação de professores implica tratar, com a mesma seriedade, tanto os processos de formação inicial e continuada quantoas condições concretas de trabalho, salário e carreira docente, na busca por uma educação de qualidade em termos reais e não apenas formais. Enquanto tais questões não forem equacionadas, nenhum programa de formação, por si só, será capaz de valorizar a formação docente e incentivar a escolha e a permanência dos estudantes no magistério da educação básica.

Referências

BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.Portaria nº 096, de 18 de julho de 2013. Regulamenta oPrograma Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>. Acesso em 12/08/2013.

FREITAS, H. C. L. de. A (nova) política de formação de professores: a prioridade postergada. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 1203-1230, out. 2007. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 02/02/2012.

SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação, v. 14 n. 40,p. 143-155, jan./abr.

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2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf >. Acesso em 12/11/2012.

TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. 13. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. 325 p.

Referências

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