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ANÁLISE DO CONTEÚDO ECOLOGIA NO LIVRO DIDÁTICO CONSIDERANDO OS ESTATUTOS DO CONHECIMENTO BIOLÓGICO

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ANÁLISE DO CONTEÚDO ECOLOGIA NO LIVRO DIDÁTICO CONSIDERANDO OS ESTATUTOS DO CONHECIMENTO BIOLÓGICO

Maurício Francisco Gomes 1, Letícia Almeida Silva 2 1 FAA - Faculdade Anhanguera de Anápolis

2 UFG - Universidade Federal de Goiás

RESUMO

O livro didático é considerado como o principal material de apoio do aluno e professor, exercendo diferentes funções, dentre elas: material de pesquisa, instrumento de apoio do professor, estruturação de conceitos, entre outros. Durante a formação do professor é necessário de subsídios que gerem reflexões sobre o LD. Dada à importância deste, o objetivo do presente trabalho é analisar como o conteúdo de ecologia está abordado em um livro didático de biologia da rede pública de ensino, considerando os estatutos do Conhecimento Biológico proposto por Nascimento Jr. (2011). Concluímos que o LD apresenta alguns equívocos e uma visão antropocêntrica e utilitarista do meio ambiente. Logo, cabe ao professor usá-lo como uma ferramenta de apoio, buscando novos recursos didáticos.

Palavras-chave: Livro didático, estatutos do conhecimento biológico; ecologia.

INTRODUÇÃO

O livro didático (LD) é uma ferramenta importante para o ensino, por proporcionar uma fácil acessibilidade e disponibilidade, além de desempenhar diferentes funções, dentre elas: material de pesquisa, amparo ao professor na elaboração das aulas, fonte de estudo para os alunos, entre outros.

O livro didático deve aparecer como um instrumento de apoio, problematização, estruturação de conceitos, e de inspiração para que os alunos, e o próprio professor, investiguem os diversos fenômenos que integram o seu cotidiano, deve servir como fonte de pesquisa sobre assuntos diversos, mas que estabelecem nexos durante as investigações dos alunos (BRASIL, 2012).

Se considerarmos a condição financeira da maioria dos brasileiros, a alta taxa de evasão dos alunos nas escolas públicas do país e outros fatores relacionados podem dizer que o livro didático talvez seja o único texto com que muitos brasileiros interagem ao longo dos anos. “Essas considerações levam a um problema bastante sério: a escolha do livro didático 5799

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apropriado” (FRACALANZA, AMARAL e GOUVEIA, 1989). Para auxiliar nesta escolha, ao longo dos últimos anos, surgiram programas do Governo. “O programa de distribuição do livro didático no Brasil foi instituído em 1985, através do decreto de Lei nº 91.542, tratado como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)” (BIZZO, 2000).

O LD é escolhido pelo professor de acordo com este guia, entretanto, essa escolha deve ser baseada em diversos fatores da realidade da escola e dos alunos, como por exemplo, o projeto político pedagógico (BRASIL, 2012). Porém mesmo com a avaliação do PNLD, alguns LDs aprovados exibem insuficiências, erros conceituais, imagens desproporcionais e/ou sem legendas, entre outros. O LD de fato deve ser incluído e discutido nas políticas educacionais, de forma a garantir um melhor material na educação pública, um material de qualidade e acesso a todos. “A escolha e utilização do LD devem ser fundamentadas nas competências dos professores, por ser um instrumento importante para o ensino formal, além de representar um instrumento decisivo na qualidade de aprendizagem” (LAJOLO,1996).

Como afirma Lajolo (1996), por melhor que o LD seja este não é melhor que o professor, pois é o professor que conhece a individualidade da sala de aula em que atua e qual o conteúdo retrata a realidade dos seus alunos. Lembrando que “O livro didático não é transmissor de uma verdade absoluta” (AZEVEDO, 2005, p. 6). Dessa forma o professor é o agente construtor das suas aulas, cabe a ele escolher a melhor forma possível de utilizar o LD e/ou estratégias pedagógicas para complementar ou superar as insuficiências que o LD possui. Para que isso ocorra de forma satisfatória são necessárias discussões e uma leitura crítica do LD na formação inicial. Conforme afirma:

O professor precisa analisar os textos que encontra a seu dispor, antes de decidir sobre aquele a ser adotado. Não só para detectar erros de conteúdos ou distorções pedagógicas, mas principalmente para verificar se os objetivos e pressupostos do autor são adequados ao curso que planejou (ALVAREZ, 1991).

Gil-Pérez e Carvalho (2006) apontam, entre outras necessidades na formação do professor, que conhecer a matéria a ser ministrada é fundamental para o êxito do trabalho docente. A falta de conhecimento científico implica em um obstáculo nas atividades do professor, podendo transformá-lo, conforme os autores, em um “transmissor mecânico dos conteúdos do livro de texto” (p. 21).

Segundo Nascimento Júnior (2011) a Biologia como área do conhecimento pode ser estudada com base em uma série de atributos que sintetizam a constituição da Biologia como Ciência. Esses atributos são conhecidos como os Estatutos do Conhecimento Biológico e tem

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como objetivo ser elementos que orientam para um olhar histórico e filosófico do processo de construção do conhecimento da Biologia em uma perspectiva materialista dialética. Nesse sentido, os Estatutos do Conhecimento Biológico são o Ontológico, o Epistemológico, o Sócio-histórico e o Conceitual.

O Estatuto Ontológico diz respeito à visão de mundo proporcionada pelo Conhecimento Biológico. Representa o olhar do biólogo para a Natureza, para o Organismo e para a Vida (NASCIMENTO JR, 2011). O Estatuto Epistemológico se refere à constituição da Biologia como Ciência, como o conhecimento científico é produzido dentro dessa área, como são formuladas as hipóteses e teses, como o Método Científico pode ser aplicado nessa Ciência e como essa área conceitua teoria, modelo e lei. O Estatuto Sócio-Histórico se caracteriza pelo papel social e ideológico da Biologia, além de se fundar no processo histórico da construção do Pensamento Biológico. Este estatuto diz respeito à relação entre o conhecimento científico e o contexto social existente naquele determinado período de tempo, a relação entre o conhecimento biológico e as tecnologias produzidas, a origem das sociedades científicas, a ideologia proposta pela Biologia, entre outros aspectos, todos influenciados pela história da Biologia em um aspecto não linear.

O Estatuto Conceitual são os conceitos produzidos pelo Conhecimento Biológico e podem ser organizados em cinco teorias, a Teoria Celular, a Teoria da Homeostase, Teoria da Herança, Teoria da Evolução e Teoria dos Ecossistemas. Com base nesse estatuto podemos identificar os temas estruturantes da Biologia, esses temas perpassam todos os outros Estatutos do Conhecimento Biológico e são a base do todo o conhecimento.

Diante do exposto apresentado, o presente trabalho tem como objetivo analisar como os estatutos estão presentes na unidade de ecologia no LD. Para a análise foi utilizado uma unidade do livro BIOLOGIA, volume único, ano 2010, Editora Saraiva, dos autores Sônia Lopes e Sérgio Rosso.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O livro didático de biologia1 analisado é um livro amplamente distribuído pelas escolas da rede Estadual de ensino do Estado de Goiás. Portanto, escolhemos este devido a sua utilização.

1 LOPES, Sônia: ROSSO, Sérgio. Biologia – volume único. 1º edição, Saraiva. São Paulo, 2005.

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A análise deste LD se baseou nos estatutos do Conhecimento Biológico proposto por Nascimento Jr. (2011). Para tal, estabelecemos os parâmetros que seriam observados, para o Estatuto Ontológico foi analisada a abordagem de natureza; o enfoque dos problemas ambientais provocados pelo ser humano e como o material enxerga a ecologia.

No Estatuto Epistemológico buscamos compreender como o material aborda o desenvolvimento da produção do conhecimento da ecologia; a contextualização do conhecimento com o período em que foi produzido e a forma que é abordado o método científico na ecologia.

Para o Estatuto Histórico-social pontuamos a abordagem das mudanças nos espaços ambientais ao longo do tempo; a ideia de linearidade da história da Ecologia; as atividades e discussões sobre os aspectos históricos e filosóficos da ecologia e a relação do conhecimento da ecologia com as transformações tecnológicas.

Por último, o Estatuto Conceitual, neste observamos a clareza do texto; se os conceitos estavam apresentados de forma correta; a abordagem contextualizada destes; o nível de atualização; a presença de textos complementares e a qualidade das ilustrações e suas legendas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

• Estatuto Ontológico

Antes de iniciarmos a análise dos conteúdos referentes à ecologia propriamente dita, optamos por analisar o primeiro capítulo do livro, intitulado Biologia: visão geral e origem da vida. Quanto à descrição da Biologia, o texto apresenta esta área como uma ciência ampla, porém, de forma antropocêntrica, apresentando o estudo da Biologia para trazer melhorias na nossa própria saúde, higiene e problemas ambientais. Esse fato pode ser observado no trecho: “O conhecimento dos princípios biológicos pode ser a chave da sobrevivência humana e, obviamente, da vida na Terra” (Lopes e Rosso, 2005, p.11).

A visão de ciência apresentada nessa parte do capítulo mostra uma ciência saltacionista, ou seja, uma ciência onde os conhecimentos são produzidos em um período produtivo e posteriormente há um período sem nenhuma produção científica, o que não ocorre na realidade, e dependente dos esforços de “gênios”, ou seja, cientistas muito inteligentes e inatingíveis, não considerando os aspectos sociais dos impactos de suas pesquisas e muito

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menos o conhecimento pré-existente a essas pesquisas, nem aos colaboradores que auxiliaram nos trabalhos.

• Estatuto Epistemológico

Os autores apresentam a Biologia no primeiro capítulo do LD como uma ciência que está sempre se modificando, produzindo novos conceitos e reformulando os já existentes. Mostram que as áreas da biologia não podem ser dissociadas e que existem inter-relações entre elas. Apresentam um erro conceitual sobre a evolução, limitando esta área apenas ao estudo da origem de novas espécies e não as modificações das espécies existentes.

Retrata uma discussão sobre a filosofia da Biologia, porém, de forma muito superficial quando aborda o conceito de vida, se referindo apenas que o conceito de vida é algo muito difícil de ser definido, não aprofundando nesta discussão, neste sentido caracteriza a Biologia como a ciência que estuda os seres vivos. Para ilustrar um exemplo de ser vivo, o livro apresentar um ser humano, mulher, branca, de cabelo loiro e olhos claros, seguindo o padrão de beleza atual.

Neste capítulo os autores apresentam o conceito de método científico exibindo-o como critério e rigor para se fazer ciência, ressaltando as etapas do método científico. Expõe as teorias como sendo uma aproximação da verdade e nunca uma verdade absoluta e mostra a dinamicidade da ciência quando uma teoria é substituída por outra mais aceita. Apresenta outro quadro mostrando o método científico no cotidiano de forma contextualizada, correta e clara.

Na unidade 7 do LD, a Ecologia não é apresentada como uma ciência e sim como um ramo da Biologia que tem como objetivo estudar as relações entre os seres vivos e entre eles e o meio em que vive, com foco na interferência humana sobre os ecossistemas. Os autores não abordam o processo de construção desses conhecimentos, apresentando uma ideologia antropocêntrica, como pode ser visualizado no trecho retirado de um texto complementar intitulado: “A caminho de uma reconciliação entre o ser humano e a natureza”, adaptado de Jean Dorst no livro Antes que a natureza morra de 1973.

“O velho pacto que unia o primitivo e seu hábitat foi rompido de modo unilateral pelo ser humano, logo que este considerou ser suficientemente forte para seguir apenas as leis elaboradas por si mesmo. Devemos reconsiderar essa posição, mesmo que nosso orgulho sofra, e assinar um novo pacto com a natureza, que nos permita viver em harmonia com ela. É a melhor maneira de extrair do meio o rendimento que possibilite ao ser humano manter-se sobre a Terra e fazer com que

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sua civilização progrida tanto do plano técnico quanto no plano espiritual (...) A natureza não deve ser salva para rechaçar o ser humano, mas sim porque a salvação dela constitui a única probabilidade de sobrevivência material para a humanidade, devido à unidade fundamental do mundo onde vivemos” (LOPES; ROSSO, 2005, p. 540).

• Estatuto Sócio-histórico

A abordagem sobre a história da ecologia é realizada de forma linear e com discussões superficiais. A unidade apresenta vários textos complementares utilizando elementos regionais, porém os conceitos são levantados sem apresentar nenhum aspecto histórico e filosófico. Não é discutido em nenhum momento da unidade como os conceitos da ecologia foram elaborados e seus impactos sócio-históricos e nem os seus principais pesquisadores

Nessas circunstâncias, a ciência é pouco utilizada como instrumento para interpretar a realidade ou para nela intervir e os conhecimentos científicos acabam sendo abordados de modo descontextualizado.

• Estatuto Conceitual

O livro apresenta uma linguagem acessível e clara, com poucos erros conceituais, uma boa diagramação com figuras coloridas e legendas bem explicativas quanto ao tipo de imagem utilizada (fotografia, esquema, ilustração), a coloração utilizada (reais ou cores-fantasias) e a proporção de tamanho dos elementos visuais, além de textos e atividades complementares contextualizados e a maioria com perguntas questionadoras. Os exercícios propostos pelo autor na unidade são exercícios que visam apenas à conceituação dos termos, não proporcionando uma discussão crítica e aprofundada sobre os temas.

CONCLUSÃO

O LD é um instrumento de suma importância para o professor e o aluno, visto que esse material é dinâmico, de fácil acesso e distribuído gratuitamente nas escolas públicas. Os temas abordados na unidade de ecologia são polêmicos e contemporâneos, perpassando sobre os problemas e possíveis soluções ambientais.

De acordo com os resultados apresentados e nas análises do conteúdo de ecologia em relação aos estatutos do conhecimento biológico, a linguagem utilizada, a contextualização, a

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disposição das figuras e a organização dos conteúdos, pode-se concluir que o conteúdo de ecologia se apresenta de forma fragmentada no livro didático, visto que não se percebe uma articulação entre ecologia e as outras áreas da biologia. Percebe-se a importância de se considerar a ecologia como uma grande área de ensino e que esteja interligada com as demais áreas da biologia.

No livro didático analisado é notificada uma visão antropocêntrica e utilitarista do meio ambiente que pode desencadear sérios danos na visão de natureza dos alunos.

Ressaltamos a importância de estratégias inovadoras para o ensino de ecologia. Entende-se que ainda temos muito que avançar nesEntende-se Entende-sentido e que cabe a nós, professores e futuros professores, mudar essa realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVAREZ, Beatriz A. in MOREIRA, Marco A; AXT, Roland.(org).Tópicos em ensino de

Ciências. Porto Alegre: Sagra, 1991.

AZEVEDO, E. M.; Livro didático: uma abordagem histórica e reflexões de seu uso em sala de aula. Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo-MG, v. 4, n. 4, [e.n], 2005.

BIZZO, N. A avaliação oficial de materiais didáticos de Ciências para o ensino fundamental no Brasil. In: ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE BIOLOGIA, 7. Anais… São Paulo, 2000. p. 54-58.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Programa Nacional do Livro Didático - PNLD: Biologia. Brasília, DF, 2012.

FRACALANZA, Hilário; AMARAL, Ivan A do; GOUVEIA, Mariley SF. O ensino de Ciências no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986.

GIL-PÉREZ, D.; CARVALHO, A. M. P. Formação de professores de ciências. São Paulo: Cortez, 2006.

LAJOLO, M. Livro Didático: um (quase) manual de usuário. Brasília: Alberto, ano 16, n. 69, jan/mar. 1996.

LOPES, Sônia: ROSSO, Sérgio. Biologia – volume único. 1º edição, Saraiva. São Paulo, 2005.

NASCIMENTO Jr, A. F.; SOUZA, D. C.; Carneiro, M. C. O conhecimento biológico nos documentos curriculares nacionais do Ensino Médio: uma análise histórico-filosófica a partir dos estatutos da biologia. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n.2, pp. 223 – 243, 2011.

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