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ESTRATÉGIAS DE ESTUDO DE VIOLÃO E O PAPEL DO PROFESSOR DE INSTRUMENTO Renato Mendes Rosa Comunicação Relato de pesquisa

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ESTRATÉGIAS DE ESTUDO DE VIOLÃO E O PAPEL DO PROFESSOR DE INSTRUMENTO

Renato Mendes Rosa renatomendesrosa@hotmail.com Comunicação – Relato de pesquisa

Resumo: Este texto trata de questões acerca da prática de estudo de violão com o olhar voltado

ao ensino do instrumento. É parte de meu trabalho de conclusão de curso e tem como objetivo compreender a prática de estudo de violão de professores e alunos da graduação em música da Universidade Federal de Uberlândia. Apresento como se deu construção do objeto de pesquisa, a metodologia utilizada e posteriormente discuto, por meio de relatos dos alunos e professores entrevistados e da literatura estudada, de que forma aspectos procedimentais da prática, como, por exemplo, as estratégias de estudo são tratadas na aula de instrumento. Aponto para a importância da aprendizagem de habilidades procedimentais da prática, bem como para a relevância desse tipo de abordagem no contexto do ensino de instrumento.

A construção do objeto de pesquisa

Esta comunicação é parte do meu trabalho de conclusão de curso1 em andamento. Essa pesquisa tem como objetivos conhecer, registrar e refletir sobre os procedimentos de estudo de violão utilizados por professores e alunos da graduação em música da Universidade Federal de Uberlândia, e identificar como esses alunos e professores abordam aspectos procedimentais na organização de suas práticas de estudo.

Em um primeiro momento, a motivação por realizar essa pesquisa partiu de anseios pessoais, enquanto estudante, em descobrir a melhor forma de estudar violão, buscando procedimentos adequados para resolução de problemas técnicos e musicais a fim de otimizar minha prática de estudo. No entanto, discutindo esse assunto com professores, colegas de curso, pessoas que conheci em festivais de música, fui percebendo que esse assunto era muito mais complexo e muito menos abordado do que eu imaginava. Percebi também, que esse mesmo anseio era frequente entre os músicos que eu tinha contato. A partir daí passei a pesquisar na literatura referências sobre essa temática. Deparei-me com um universo ainda pouco explorado.

A literatura em português até então encontrada não lidava diretamente com o assunto e não respondia aos questionamentos que eu vinha construindo. Vi-me numa situação um pouco conflitante. Como os estudantes e professores de violão lidam com o estudo de seu instrumento? Os professores e alunos detêm o conhecimento prático dos procedimentos de estudo? Será que os

1 Trabalho orientado pela professora Maria Cristina Souza Costa, do Departamento de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Uberlândia.

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estudantes realmente sabem estudar? Os estudantes sabem como aplicar estratégias adequadas para alcançar os objetivos propostos e idealizados? Os estudantes têm conhecimento das possíveis estratégias que possam ser utilizadas? Os estudantes são independentes, autônomos na realização de suas ações no estudo do instrumento fora da sala de aula?

Ao longo dessas conversas fui percebendo que, em parte, sim. Cada pessoa molda a sua prática a partir das suas necessidades e experiências prévias. Cada indivíduo cria os seus mecanismos para realizar sua prática de estudo. Assim, esses mecanismos são fruto de descobertas pessoais, que nem sempre são adequadas e são, muitas vezes, comportamentos não planejados.

Essas respostas não me satisfaziam suficientemente, pois acreditava que essa era uma problemática importante a ser discutida na formação de um instrumentista e que não vinha sendo tratada com a devida importância, tanto no meio escolar, nas relações de ensino-aprendizagem formais nas escolas de música, quanto no meio acadêmico, como objeto de pesquisa.

A partir disso fui construindo meu objeto de pesquisa baseando-me no pressuposto de que as informações que eu precisava pra responder às questões de pesquisa estavam nas pessoas que lidam diretamente com a prática de estudo, ou seja, os próprios estudantes e professores.

A coleta de dados

Partindo dos objetivos estabelecidos para a pesquisa, a entrevista semi-estruturada mostrou-se mais adequada enquanto instrumento de coleta de dados. No total, foram realizadas oito entrevistas. Foram entrevistados três professores de violão do curso de música da UFU e cinco alunos de diferentes períodos, tanto da licenciatura quanto do bacharelado. As entrevistas foram gravadas em aparelho MD, transcritas e posteriormente categorizadas.

As entrevistas abordaram elementos organizacionais da prática desses sujeitos como, por exemplo, sua rotina e planejamento de estudo; elementos procedimentais sobre como os sujeitos abordavam aspectos da leitura, técnica, memorização e interpretação, ou seja, os procedimentos e estratégias adotadas por eles durante o estudo.

Concomitantemente à realização das entrevistas foi dada continuidade à revisão de literatura iniciada na fase de elaboração do projeto abordando questões sobre a prática instrumental. Por meio da revisão, descobri que pesquisas que indicam o papel da prática no estudo de instrumento vêm ganhando cada vez mais espaço em uma linha de pesquisa em

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Práticas Interpretativas chamada Performance Planning2. A literatura estudada demonstra que, nas duas últimas décadas, essa linha de pesquisa cresce em nível quantitativo e qualitativo. Os principais trabalhos encontrados têm como objetivo compreender a influência da prática no resultado das performances e evidenciam a importância dos fatores procedimentais na prática instrumental. Para Barros (2008) essa linha de pesquisa é a que mais se aproxima da didática do instrumento.

No ambiente dessas descobertas e das informações que eram apresentadas pelos entrevistados surgiu mais um aspecto que mostrou-se relevante para uma discussão sobre a aprendizagem instrumental e a prática de estudo: o papel do professor de instrumento no ensino dos procedimentos de estudos. Evidenciaram-se, portanto, outros questionamentos. De que forma os professores de violão trabalham aspectos organizacionais e procedimentais da prática de estudo com seus alunos? Qual a importância do professor de instrumento na transmissão de estratégias de estudo adequadas? O professor de instrumento se sente responsável por desenvolver habilidades de autonomia de estudo em seus alunos? As aulas possibilitam aos estudantes serem independentes de seus professores para realizar suas ações no estudo de violão fora da sala de aula? Os alunos saem da aula de instrumento sabendo o que praticar e como praticar em seu estudo diário? Reflexões e dados significativos sobre essa temática foram coletados na revisão de literatura e nas entrevistas.

A seguir serão abordados alguns aspectos relativos aos procedimentos de estudo de violão e o papel do professor de instrumento no ensino dos procedimentos de estudos.

A prática de estudo de violão e o papel do professor

A prática de estudo no processo de aprendizagem instrumental tem um papel fundamental no desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas. Portanto, a prática considerada deliberada, ou seja, a prática desenvolvida sob planejamento das estratégias adequadas para alcançar determinado objetivo tem grande relevância no resultado técnico- musical de instrumentistas. (ERICSSON et al, 1993). Assim, é necessário ao estudante o desenvolvimento de habilidades que promovam uma prática deliberada consistente e adequada. A

2 Performance Plannig : Segundo Barros (2008), o termo é utilizado por Gabrielsson (2003) para designar a linha de pesquisa Planejamento da Execução Instrumental.

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aprendizagem instrumental caminha, ou deve caminhar, portanto, parelamente à aprendizagem das estratégias de estudo e de habilidades metacognitivas3.

Para se alcançar os procedimentos de natureza metacognitiva propostos por Hallan (2001) o professor de instrumento é o responsável por incentivar os processos de pensamentos crítico-reflexivos dos alunos, a fim de vencer barreiras, e dificuldades pessoais frente às obras que estuda.

É nesse momento que o professor atua como um facilitador da aprendizagem do aluno, já que ele possui maior experiência e, portanto já possui as estretégias adequadas para a resolução de problemas. Barry e McArthur (apud BARROS, 2008) afirmam que essas informações nem sempre são ditas de forma clara e sistemática pelos professores. Eles, muitas vezes, acreditam que estão ensinando o como estudar, mas na verdade estão apenas ensinando o o que estudar.

As falas dos alunos e professores entrevistados nesta pesquisa revelaram informações e opniões sobre: autonomia de estudo, orientação do professor quanto a aspectos específicos da prática e quanto a responsabilidade do professor em provomer autonomia de estudo à seus alunos.

Alguns alunos demostraram dependência do professor quanto a realização das suas práticas, necessitando de orientação específica dos procedimentos de estudo enquanto outros se mostraram mais autônomos. Quando questionados se possuem autonomia de estudo os alunos revelaram4:

Aluno 1 - Hoje eu acho que não mais. Acho que eu dependo. Não sei se é por causa da minha condição de estudante, eu sinto que eu ainda preciso de orientação para isso. Dessas escolhas sempre... acho que eu não tenho nem autonomia, nem segurança suficiente, pra falar, não, aqui tem que ser assim. Prefiro consultar um mestre, um professor...alguém. (Entrevista em 30/03/2009) Aluno 2 - Não, acho que é sempre bom ter alguém pra acompanhar isso, mesmo, sei lá, depois de formado uma ajuda é sempre bem vinda. Hoje é meio difícil acontecer isso, assim, é bom ter alguém pra auxiliar.(Entrevista em 14/04/2009)

Aluno 3 - Então. Eh... [pensativo]... tenho autonomia sim. Eu não tenho é aquele negócio de paciência de esperar dar o resultado mas eu tento.. Eu já criei tanto método de estudo, cara, sabe!? E umas coisas assim que... eu já até fiz um método de estudo sabe!? Eu já fiz um método de estudo de técnica aplicada se quiser eu posso trazer pra você. Eu peguei trechos das músicas que eu estava

3 Metacognição é um conceito apresentado por Halam (2001) e se caracteriza pelo desnvolvinento de habilidades de auto-instrução, auto-monitoramento, auto-avaliação, reflexão e hipotetização.

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estudando no semestre, recortei, fiz no “finale” até e tal, e coloquei linha embaixo assim e eu ia colocando o que cada trecho tinha... por exemplo, um trecho lá... nesse trecho eh... tem ligados, então é um estudo de ligado. Então só de você tocar aquele trecho ali você faz o trecho em todas... vai subindo de meio em meio tom, sabe!? Vamos supor que tem um trecho na casa 1, sei lá, Ai você faz ele na casa 1, faz ele na casa 2, faz ele na casa 3, em toda região do braço. Eu já fiz métodos assim. [...]. (Entrevista em 23/04/2009).

A fala de um dos alunos revela-nos a visão de um estudante de como ele vê e percebe sua evolução no processo de aprendizagem das estratégias de estudo e a influência do professor na aquisição dessas habilidades.

Aluno 4 - É sei lá eu fui muito desesperado, sabe? Assim eu acho! Porque eu chegava assim na aula, eu via que não adiantava nada eu ter estudado aquilo lá. As principais coisas parecia que eu não tinha estudado, sabe? Aí depois que eu comecei a ouvir as dicas do professor [...]... ele me deu umas dicas bem particular, assim mesmo, sabe? Aí eu comecei a fazer assim mais consciente, sabe? Eu comecei a estudar do meu jeito, bem mais devagar, a estudar mais consciente mesmo! (Entrevista em 30/04/2009)

Quando questionado sobre a autonomia de estudo:

Aluno 4 - É... eu acho que comecei a criar isso. Eu tenho muita coisa... certo... digitação que ta lá. Tipo: digitação, eu tenho autonomia de fazer a minha ou até mudar uma interpretação. Eu acho que tem que ter isso! Você não precisa seguir assim o que o cara ta pedindo! Você tem que ter uma autonomia! Você mostra pro professor: “ah... ta boa?” “Ta legal...” Porque cada pessoa é de um jeito eu acho que cada pessoa tem que construir... [...] Eu acho que eu estou... tudo está numa fase de construção. (Entrevista em 30/04/2009)

Sobre a abordagem de seus professores quanto ao como trabalhar, os alunos mostraram que nem sempre os professores trabalham esses aspectos, ou não os verbalizam de forma clara e objetiva. Na maioria das vezes, esse assunto é tratado em sala de aula devido a questionamentos dos alunos. Esse tipo de abordagem ocorre somente quando há necessidade dos alunos, ou seja, não é uma temática constante na aula de instrumento.

É evidente, nas entrevistas, a concepção de que aos alunos é delegada a responsabilidade pelo desenvolvimento de habilidades dessa natureza. A ideia de que o estudo é algo exclusivamente pessoal está impregnada na fala dos alunos.

Aluno 5 – [...]uma aula que flui bem, por exemplo, é a aula que você consegue entender o como é a música que você está estudando. Então não é como você vai estudar depois, aquela música, mas o entender o como aquela música é. Se

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você entende como aquela música é, depois o como você vai estudar é problema seu, porque cada um tem, tem... tem tempo diferente de aprendizagem... (Entrevista em 07/05/2009)

Aluno 1 - Eu acho que o professor... bom pelo menos no meu caso, professor não fica falando, ah... chega em casa e faz isso, assim, assim, mas ele fala mais em linhas gerais aqui é isso... mas nunca especifica muito.. ah você tem que chegar em casa e fazer vinte minutos disso, fazer isso, aquilo. Nunca tem isso, acho que mais pessoal, de perceber e do como fazer em casa, como fazer pra estudar, assim. (Entrevista 30/03/2009)

Santiago (2006), em artigo que discute a relação entre a prática deliberada e a prática informal no ensino de instrumento, apresenta alguns depoimentos de pedagogos do piano que refletem sobre estas questões. Berenice Menegale afirma:

O ideal seria que a pessoa tivesse orientação que lhe permitisse depois trabalhar sozinha. Mas, para isso, realmente esse ensino precisava ser um ensino dirigido para o ‘como estudar’. É interessante que o professor procure fazer com que o aluno identifique naquela música situações equivalentes às da experiência anterior, mostrando “como” irá trabalhar. È um treinamento para autonomia. (apud SANTIAGO, 2006, p. 56).

Eduardo Hazan complementa:

Acho que é muito interessante o professor chegar na aula, sentar no sofá e dizer pro aluno: “agora você está em casa sozinho...agora você vai estudar” Ele pode descobrir muita coisa interessante com isso. Outra coisa que [o professor] pode fazer é estudar na frente do aluno. [...] Como dizia Lizt, é mais importante a técnica do estudo do que o estudo da técnica. (apud SANTIAGO, 2006, p.56)

Considerações finais

Muito se discute sobre o papel do professor de instrumento, bem como as competências

requeridas a esse professor. Para Harder (2003) cada vez mais o papel do professor de instrumento deixa de estar centralizado na ideia da transmissão do conhecimento passando a considerá-lo como um facilitador da aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, a preocupação com as estratégias de estudo dentro do contexto de uma aula de instrumento aparece com bastante evidência.

As referidas estratégias de estudo, bem como as habilidades metacognitivas devem ser encaradas com a mesma importância que temáticas sobre técnica ou interpretação. O como tem a

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mesma relevância do o que. Os caminhos para chegar aos objetivos têm a mesma importância que o próprio objetivo em si.

As estratégias de estudo são habilidades que são construídas junto às habilidades motoras, musicais e interpretativas, ou seja, elas também são aprendidas ao longo do desenvolvimento instrumental. Dessa forma cabe ao professor ensiná-las de forma clara e sistemática. Acredito que informações dessa natureza sejam muito importantes na aprendizagem instrumental para não serem encaradas com sua devida relevância.

REFERÊNCIAS

BARROS, Luis Cláudio. A pesquisa empírica sobre o planejamento da execução instrumental: uma reflexão crítica do sujeito de um estudo de caso. Porto Alegre. 2008. 265 p.

ERICSSON, K. Anders; KRAMPE, Ralf; TESCH-ROMER, Clemens. The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, v. 100 n.3, p.363-406, 1993.

HALLAN, S. The development of metacognition in musicians: Implications for education. British Journal of Music Education, v. 18, pp. 27-39, 2001.

HARDER, Rejane. Algumas considerações a respeito do ensino de instrumento: Trajetória e realidade. Opus, Goiânia, v. 14, n. 1, p. 127-142, jun. 2008

SANTIAGO, Patrícia. A integração da prática deliberada e da prática informal no aprendizado da música instrumental. Per musi, Belo Horizonte, n. 13, 2006, p. 52-62.

Referências

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