AVALIAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUIMICAS E BIOLÓGICAS DA ÁGUA NO CAMPUS II DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS Antônio Pasqualetto1, Fernando Alcântara2, Flávia de Sousa2, Carlos Vieira2, Levi Martins2
RESUMO
A destinação de água para construção de viveiros de peixes, conduz a alterações nos valores das características físico-químicas e biológicas da mesma. Neste experimento, objetivou-se avaliar as características físico-químicas e biológicas da água oriunda de dois ambientes distintos: da represa e de tanques destinados a piscicultura (viveiros). O experimento foi conduzido no Campus II da Universidade Católica de Goiás. Foram eleitos 10 pontos de amostragem de cada ambiente, sendo coletada a água no dia 14 de setembro de 1999. Foi utilizado o kit Químico Alfa Tecno Química e o kit Eletrônico Bernaver Aquacultura. Foram avaliadas as seguintes características: dureza, a quantidade de amônia dissolvida, oxigênio dissolvido, temperatura, condutividade, pH e transparência bem como aspectos biológicos através da rede de plânctons e microscópio. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância pelo teste F. Concluiu-se que houve diferença entre a água dos dois ambientes para todas as características avaliadas. Deste modo atenção especial deve ser dada a água do viveiro de piscicultura, que apresenta características de transparência, dureza e oxigênio dissolvido fora dos padrões recomendados e com intensa atividade de microorganismos e algas.
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1 Prof. Dr. do Depto. Zootecnia da Universidade Católica de Goiás - UCG - Goiânia - GO 2 Acadêmicos de Zootecnia da Universidade Católica de Goiás - UCG - Goiânia - GO
INTRODUÇÃO
Em cultivos intensivo de peixes, com alta densidade populacional, um dos fatores primordiais é a qualidade da água. A taxa de decomposição da matéria orgânica comparada à produção é elevada, o que torna necessário o monitoramento diário da qualidade da água, devendo-se controlar a vazão, aplicar sistemas de aeração, dispor de adubações e calagens, entre outras técnicas de manejo.
ESTEVES et al.(1983) em descrição sobre a dinâmica de corpos de água rasos, em climas tropicais elucidam bem este tema. Segundo os pesquiadores, tanques e viveiros, comportam-se como um sistema intermediário entre um sistema lêntico e semilêntico, mas com processos mais acelerados pela ação das bactérias que liberam rapidamente os nutrientes para o meio (SIPAÚBA-TAVARES, 1995).
Outros pesquisadores como FROSSARD & VERANI (1996), YOSHIDA & SIPAÚBA-TAVARES (1996) também verificaram como o manejo adotado em tanques de piscicultura, tais como adubação, vazão, densidade de estocagem, aeração e taxa de arraçoamento, pode influenciar a qualidade da água.
Neste sentido, torna-se importante o estudo limnológico básico, pois por ele pode-se avaliar o grau de alterações causadas por esse processo de cultivo intensivo, tendo-se idéia do impacto ambiental possível de ser provocado. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo quantificar e qualificar os aspectos físico-químicos e biológicos do ambientes aquático do viveiro e da represa que abastece a piscicultura da Universidade, traçando um pararelo entre os dois ambiente aquáticos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Campus II da Universidade Católica de Goiás, junto ao Departamento de Zootecnia, no Laboratório do Centro de Biologia e Aquicultura. Foram utilizadas dez amostras de água de cada ambiente aquático: viveiro de piscicultura e represa que abastece o setor de piscicultura da Universidade. Constituindo-se em um
experimento inteiramente ao caso com dez repetições As amostras foram coletadas de no dia 14/09/1999, sendo submetidas a análises realizadas por diversos equipamentos. Foram avaliadas as seguintes características: dureza, a quantidade de amônia dissolvida, oxigênio dissolvido (O2D), temperatura, condutividade, pH e transparência bem como aspectos
biológicos através da rede de plânctons e microscópio
Os dados foram coletados no próprio ambiente de coleta através do kit Químico Alfa Tecno Química, para a característica de dureza da água. A quantidade de amônia dissolvida mediu-se pelo método de GOLTERMAN et al. (1978). O kit Eletrônico BERNAVER Aquacultura foi empregado para determinar o O2D, temperatura,
condutividade e o pH da água . A transparência da água foi observada através do disco de Secchi e os aspectos biológicos através da rede de plânctons e microscópio.
Para dosar a dureza da água e amônia dissolvida, a amostra coletada foi submetida à ação de reagentes de concentração conhecida, e o resultado foi comparado com valores tabelados de GOLTERMAN et al. (1978). Os valores de O2D, temperatura, condutividade e
o pH foram obtidos prontamente através do visor digital dos aparelhos do kit eletrônico. A transparência foi avaliada pelo método do disco de Secchi que consta na introdução de um disco de cor preta ou branco e preto alternado no ambiente aquático, com uma fita métrica presa na sua face superior, onde se mede a profundidade em que não se consegue mais visualizar o disco. Os aspectos biológicos foram determinados através da coleta de amostras realizada com a rede de plânctons, ou seja, consiste de uma rede bastante fina, em forma de cone, apresentando na sua extremidade inferior um vidro para a coleta.
Os dados obtidos foram submetidos a análise de vairância pelo Teste F.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos demostraram que houve alteração considerável dos valores em quase todos as características fisico-químicas e biológicas da água no ambiente de viveiro de piscicultura comparado a água da represa.
A análise de variância demonstrou significância pelo teste F a 5% de probabilidade para as características de transparência, temperatura, condutividade, pH e O2D na água.
(Tabela 01).
Tabela 01. Quadrado Médio dos Resíduos para as características da água da represa e viveiro de piscicultura no campus II da UCG
Características Transparência (cm) Temperatura (ºC) Condutividade (µS/cm) pH O2D Quadrado Médio 0,24* 0,06* 0,70* 0,50* 0,03*
* Significativo a 5% de probabilidade pelo Teste F
As médias obtidas das características avaliadas constam na tabela 2.
Tabela 02 – Dados Médios das características Físico-químicas e Biológicas da água.
Tratamentos Características
Físicas Químicas Biológicas
Transparência Temperatura Condutividade pH O2D.
Dureza
Água Amônia Microorganismos Algas
Viveiro 20,00b 24,60b 45,43a 6,40b 2,71b 10 - Intenso Intenso
Represa 20,60a 25,92a 40,00b 6,60a 6,42a 20 - Moderado Moderado
C.V.(%) 2,44 1,02 197 2,58 4,02 - - - -
* As letras comparam médias para cada característica à nível de 5% de probabilidade pelo teste F.
A transparência da água no viveiro (20 cm) obteve média estatísticamente inferior a da represa (20,6 cm), porém ambos estão abaixo do padrão recomendado entre 25 e 40 cm, conforme SIPAÚBA-TAVARES, (1995). A transparência da água tem relação direta com o manejo adotado, ou seja, em decorrência do período do estudo situar-se no final da estação seca, a escassez de água, dificultou as práticas de manejo objetivando diminuir as partículas sólidas e plânctum em suspensão. O fato da água da represa apresentar maior transparência se deve a não manipulação do ambiente, deste modo, possibilitou maior
ocorrência de plânctons e material em suspensão são diminuídos. Entretanto para ambos os ambientes, os valores estão aquém dos recomendados, se fazendo necessário mitigar o problema, controlando poluentes que possam estar contribuíndo com a diminuição da transparência da água. Destacam-se no caso da represa erosões junto as margens, assoreamento, carreamento de partículas sólidas de dejetos de animais dentre outras. No caso do viveiro, o maior volume de água possibilitará manejo com produtos despoluentes. Todavia, há que se pensar que em períodos de seca, a movimentação constante de veículos nas estradas próximas, permitem que partículas sólidas em suspensão atinjam a superfície da água constantemente. Além disto, sobras de alimentos contribuem para a eutrofização deste ambiente aquático.
A temperatura apresentou-se compatível com o recomendável para região (20 – 28 ºC ) de acordo com SIPAÚBA-TAVARES, (1995). A água da represa teve temperatura estatisticamente superior (25,92ºC) se comparada à água do viveiro. Há que se considerar que o baixo nível da lâmina de água no viveiro dificultou a incidência de luz solar, em função das paredes do tanque. Não obstante, a condição do período de coleta (manhã) não permitiu grande acúmulo de calor. Como o calor armazenado pela água é maior quanto mais espessa for a lâmina de água, destacou-se a represa que apresenta maior profundidade.
Em relação a condutividade houve diferença significativa entre os ambientes. A água do viveiro com maior condutividade (45,43 µS/cm). Contudo ambos os locais possuíram valores aceitáveis para a piscicultura, os quais são considerados ideais quando situados entre 20 e 75µS/cm ( CASTAGNOLLI, 1992). A diferença se deve a manipulação de fertilizantes químicos no viveiro, aumentando assim os micronutrientes em suspensão na água.
As medidas de pH da água do viveiro e da represa situaram-se dentro dos padrões satisfatórios sugeridos por CASTAGNOLLI (1992), não acarretando maiores problemas respiratórios aos peixes. Houve incoerência entre os valores do pH e condutividade da água do viveiro, isto provavelmente aconteceu devido a condutividade no viveiro ser proveniente não de carbonatos, mas sim de metais. Para se confirmar a hipótese, torna-se necessário análise mais detalhada do solo deste local. As médias obtidas demonstram que a represa apresenta melhores condições de vida para os peixes.
Outro parâmetro avaliado foi o O2D na água. O viveiro apresentou deficiência, que
via de regra, condiciona os peixes a viverem sob situação de estresse, prejudicando seu desenvolvimento.
Em relação aos aspectos biológicos foi verificada a presença de inúmeros organismos nos dois ambientes. Face as dificuldades na identificação e contagem desses, foi feita somente a avaliação da presença intensa ou moderada de algas e microorganismos. No viveiro observou-se a presença intensa de organismos como microcrustácios, rotíferos, protozoários e principalmente de microalgas devido ao manejo que é submetido na preparação para o cultivo de peixe. Já na represa essa presença é moderada, tendo em vista sua não manipulação.
Os valores apresentados demostram que algumas características devem ser melhoradas afim de obter qualidade da água, especialmente no viveiro, já que se propõe a criação de peixes, que em última instância serão consumidos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comparação de parâmetros limnológicos de viveiros de piscicultura com outros ecossistemas deve ser feita com cautela, pois não há muitos estudos nesta área.. A estrutura e o funcionamento desses ecossistemas possuem diferenças fundamentais como foi observado através dos dados obtidos.
Nos lagos e represas, a disponibilidade de nutrientes está estreitamente ligada aos ciclo de estratificação térmica, isotermia e circulação da água durante o ano. Nos reservatórios, o metabolismo das águas está diretamente controlado pelo fluxo/vazão e deste forma o tempo de residência é de fundamental importância.
A variação dos parâmetro entre os dois ambientes era esperada, pois no viveiro há todo um preparo do mesmo para receber quantidade considerável de peixes. O manejo é voltado para o adensamento da população, com consequentes mudanças no meio. Daí a necessidade de se monitorar diariamente este ambiente e de se avaliar constantemente as características de qualidade da água.
Sem dúvida nenhuma a água que tem fluxo de saída do viveiro deve merecer atenção especial, de modo que o seu retorno aos leitos de córregos e rios possa ocorrer com menor quantidade de contaminantes. Daí a necessidade de se planejar e conduzir a piscicultura com seriedade e competência, preservando o meio ambiente às gerações futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTAGNOLLI, N. Criação de peixes de água doce. Jaboticabal: FUNEP, 1992. p.21-33p.
ESTEVES, F. A., BARBIERI, R., ISHII, I. H., CAMARGO, A. F. M. Estudos
limnológicos em algumas lagoas costeiras do Estado do Rio de Janeiro. Anais.
Semana Ecológica III, São Carlos:UFSC 1983. p. 25-38
FROSSARD, H., VERANI, J.R., Variação nictimeral em viveiros de criação de pacu,
Piaractus mesopotamicus, sob diferentes taxas de arraçoamento em diferentes estações climáticas. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AQÜICULTURA, 9, Resumos ... Sete Lagoas, 1996. p.3.
GOLTHERMAN, H. L. CLYMO, R. S., OHNSTAD, M. A. M. Methods Physical and
chemical analysis of fresh water. London: Blackwell, 1978. 213p.
SIPAÚBA – TAVARES, L. H. S. Limnologia aplicada à aqüicultura. Jaboticabal: FUNEP, 1995, 70p.
YOSHIDA, C. E., SIPAÚBA – TAVARES, L. H. influência da renovação continua da água, aeração artificial e ausência da renovação da água em algumas variáveis limnológicas no período de 24 horas em três tanques de piscicultura. In: SIMPÓSIO
BRASILERIO DE AQÜICULTURA, 9, Resumos ...Sete Lagoas, 1996. p.3.