II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica Santo Ângelo 2012

ATIVIDADES DEMONSTRATIVAS E INTERATIVAS COMO APOIO A

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS E A EDUCAÇÃO BÁSICA

Voltolini3, Julio Murilo Trevas dos Santos4

Universidade Federal da Fronteira Sul. Curso de Ciências: Biologia, Física e Química – Licenciatura. Campus Realeza/PR

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suelen_jv80@hotmail.com; 2daianguilherme@yahoo.com.br; 3carolinevoltolini@uffs.edu.br; 4

jtrevas@uffs.edu.br

1 CONTEXTO DO RELATO

Este projeto desenvolveu-se na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Campus de Realeza, Paraná, na área da extensão. A equipe contou com cinco licenciandos do curso de Ciências: Química, Física e Biologia - Licenciatura, três professores do mesmo curso e dois professores convidados de outra IES. Ele foi desenvolvido em algumas escolas do município de Realeza e Santa Isabel do Oeste e teve como tema principal o ensino de Ciências Naturais na Educação Básica. O curso de Ciências – Licenciatura tem como característica principal integrar quatro formações: licenciados em Ciências Naturais, licenciados em Biologia, licenciados em Física e licenciados em Química. Todos os licenciandos têm como formação comum a licenciatura em Ciências Naturais.

O ensino de Ciências Naturais muitas vezes não produz uma aprendizagem significativa. Santos e Vicentin (2010, p. 9) entendem a aprendizagem significativa como o processo através do qual ocorre a interação entre conceitos e idéias. Afirmam ainda (2010, p.7) que no ensino de ciências, são visíveis as dificuldades de compreensão dos conceitos pelos alunos. Contudo, essas dificuldades podem ser reduzidas se forem aplicadas atividades diversificadas que busquem mudar a identidade do ensino de ciências. Esta mudança de identidade, conforme propõem as “Diretrizes Curriculares de Educação: Ciências” do Estado do Paraná, requer repensar:

Os fundamentos teórico-metodológicos que sustentam o processo de ensino aprendizagem, a reorganização dos conteúdos científicos escolares a partir da história das ciências e das tradições escola; os encaminhamentos metodológicos e a utilização de abordagens, estratégias e recursos pedagógicos tecnológicos […] (PARANÁ 2008, p. 88)

Baseado na importância dos pontos explicitados o projeto buscou, principalmente, capacitar os futuros licenciados do curso de Ciências quanto a: novas metodologias de instrumentação, elaboração de materiais didáticos, aplicação destas atividades nas escolas públicas da rede estadual de ensino. Essa capacitação teve como eixo norteador a interação entre conceitos e idéias para promoção de uma aprendizagem significativa. A capacitação buscou também, auxiliar o processo de ensino e aprendizagem de Ciências Naturais.

2 DETALHAMENTOS DAS ATIVIDADES

Este projeto, que foi vinculado ao curso Ciências - Licenciatura, elaborou e buscou explicar atividades demonstrativas e interativas para o ensino de Ciências Naturais. O público alvo foi composto por alunos e professores de 6o a 9o ano de duas escolas de ensino fundamental dos municípios de Realeza e duas do município de Santa Isabel do Oeste, no estado do Paraná.

Estas atividades podem ser definidas como recursos didáticos que tornam evidente algum conceito. Elas são compostas por jogos, experimentos, vídeos, softwares, entre outras. São demonstrativas quando os alunos não as manuseiam, apenas observam sua execução. São interativas quando os alunos as manuseiam, individual ou coletivamente. Elas permitem a compreensão coerente de conceitos que parecem abstratos; estimulam as relações entre teorias e fenômenos observados cotidianamente; estimulam o interesse e a curiosidade científica; aprimoram a capacidade de observação e o senso crítico.

Em função das características supracitadas, decidiu-se utilizar as atividades demonstrativas e/ou interativas neste projeto. Dentre o conjunto de atividades foram selecionadas as que permitem uma abordagem integradora, ou seja, atividades que permitem a discussão de conceitos de diferentes áreas de forma integrada e pelo menos pluridisciplinar.

Como o projeto não se resumiu a simples elaboração de atividades demonstrativas e/ou interativas houve a necessidade de um embasamento teórico e discussão de outros instrumentos relacionados. Por isso foi realizada uma capacitação dos licenciandos quanto a conceitos de epistemologia da ciência e de teorias de aprendizagem, metodologias de instrumentação no ensino, elaboração de materiais didáticos, Diretrizes Curriculares na área de Ciências.

Após a capacitação os licenciandos iniciaram a elaboração das atividades demonstrativas e/ou interativas. Foram elaboradas quarenta e nove atividades utilizando materiais alternativos e de baixo custo. Segundo Santos et al (2008, p. 23) as atividades podem ser consideradas alternativas quando “[…] não utilizam os materiais convencionais de um laboratório de ciências […]” e são confeccionados com materiais “[…] que após a utilização são comumente descartados e direcionados ao lixo […]”. Ainda na etapa de montagem das atividades a equipe do projeto se encaminhou até as escolas selecionadas dos municípios de Realeza e Santa Isabel do Oeste para agendar a recepção dos grupos de alunos e professores.

Essa recepção foi iniciada após a conclusão da montagem das atividades. A primeira turma atendida foi composta por professores das escolas convidadas. As atividades aconteceram no auditório do campus Realeza da UFFS. Nesse espaço foram organizadas doze das quarenta e nove atividades elaboradas. Essas doze atividades foram escolhidas porque permitiram a abordagem de temas de Ciências Naturais no Ensino Fundamental. Elas foram dispostas num circuito na qual os participantes em grupos executavam-nas seqüencialmente. Cada atividade tinha um roteiro procedimental acompanhado de algumas questões conceituais. Estas mesmas atividades foram aplicadas a cinco turmas de alunos das mesmas escolas. Além destas, mais duas turmas foram atendidas: uma de alunos surdos e outra de educação infantil (jardim I). Na turma de alunos surdos a abordagem das atividades foi adequada conforme à necessidade específica deles. Com os alunos da educação infantil foram desenvolvidas três atividades, as quais são adequadas a esse nível de formação. O último grupo atendido pelo projeto foi formado por professores da Educação Básica. Nesse encontro os licenciandos do projeto puderam discutir junto com esses professores a elaboração de mapas conceituais.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO RELATO

As atividades demonstrativas e interativas são recursos didático-metodológicos diferenciados, que tornam o ensino e aprendizagem mais atrativos e prazerosos. Assim sendo, “uma aula aliada a recursos didático-pedagógicos torna-se

mais motivadora e menos cansativa […]” (CASTOLDI, 2009, p. 689). A aplicação adequada dessas atividades implica que os professores estejam preparados para tal a fim de criarem um ambiente de ensino dinâmico, onde a assimilação de conteúdo seja facilitada, o interesse pelo estudo seja estimulado e o relacionamento com o mundo científico modificado.

Com a capacitação, que foi a primeira etapa de preparação para a aplicação adequada de atividades demonstrativas e interativas, os licenciandos puderam: efetuar pesquisas, resolver problemas, elaborar atividades/materiais didáticos, utilizar materiais de apoio ao processo de ensino aprendizagem, identificar e discutir conceitos científicos de forma coerente e segundo uma abordagem integradora.

Mesmo que inicialmente os licenciandos tenham encontrado dificuldades em conseguir concatenar as atividades com a utilização de instrumentos facilitadores como mapas conceituais, diagramas V e ADI o processo de capacitação foi satisfatório. Ele se refletiu no trabalho com as escolas, pois foi possível aos licenciandos: relacionar os conceitos segundo uma abordagem integradora; promover a transformação conceitual do senso comum para o científico; apresentar atividades integradas a um contexto conceitual, epistemológico, histórico e social; aplicar atividades demonstrativas e interativas de forma dinâmica e adequada à seriação.

Todo este processo causou mudanças na visão dos licenciandos. Antes desse processo os licenciandos não conseguiam perceber relações multidisciplinares entre as Ciências Naturais, e destas com outros campos do conhecimento. Eles começaram a compreender o que significa o ensinar ciências de uma forma não fragmentada. Complementarmente eles também conseguiram estabelecer dois diálogos: o primeiro entre ciência e ensino de ciências; o segundo entre a licenciatura e a Educação Básica. Antes do projeto, os licenciandos não sabiam resolver problemas de aprendizagem utilizando como recurso didático as atividades demonstrativas e interativas. Tampouco tinham clareza do que seriam essas atividades. Também não haviam tido contato com materiais de apoio ao ensino aprendizagem como mapas conceituais ou diagramas em ADI. Dessa forma os licenciandos puderam compreender que as atividades demonstrativas e interativas, além de instrumentos como mapas e diagramas, são recursos didáticos promotores da aprendizagem significativa. Graças a estes aspectos muitos dos licenciandos que se sentiam desmotivados diante da licenciatura puderam perceber que é possível fazer um trabalho diferenciado e relevante em educação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes da participação no projeto, muitos dos alunos da Educação Básica viam a disciplina de ciências fragmentada em Biologia, Física e Química. Eles se sentiam pouco estimulados e motivados para aprender. Quando os alunos perceberam que as atividades demonstrativas e interativas envolviam o que eles tinham aprendido ou estavam aprendendo na escola ficaram muito surpresos, uma vez que esperavam que as atividades fossem apenas brincadeiras. Puderam perceber também que o conhecimento científico está em seu cotidiano bastando apenas métodos para evidenciá-lo. De um modo geral, os alunos conseguiram associar bem as atividades com os conceitos e com os fenômenos cotidianos, bem como minimizaram a visão fragmentada nas Ciências Naturais.

A recepção de alunos surdos mostrou a dificuldade dos mesmos na aprendizagem das Ciências Naturais. Eles têm grande carência de atividades, pois o número dessas que os atendem no ensino de Ciências Naturais é muito pequeno.

Isso significa que as atividades demonstrativas e interativas precisam ser melhoradas nos requisitos de acessibilidade e que precisam ser acompanhadas de outros materiais e instrumentos didáticos que potencializem o processo de ensino e aprendizagem para esses educandos (e obviamente para todos os demais).

Verificou-se que as atividades demonstrativas e interativas são pouco utilizadas pelos professores. Algumas vezes, os professores desconhecem a existência e importância destes recursos, imaginam se tratar de algo que exija materiais laboratoriais caros ou não sabem relacionar os conteúdos do plano de ensino com alguma atividade de apoio ou facilitadora da aprendizagem. Após acompanhar o projeto eles puderam perceber a variedade de atividades existentes e que podem possibilitar uma boa exploração conceitual e multidisciplinar dentro das suas disciplinas.

Este projeto também foi importante para os licenciandos. Ele possibilitou a experiência com alunos do ensino fundamental, incluindo educação infantil e educação especial. Permitiu a percepção da realidade que cerca a licenciatura. Permitiu também que os licenciandos efetivassem as diferentes relações disciplinares. E finalmente contribuiu para a visão dos cuidados e da postura do ensinar e fazer ciências. E o mais importante: permitiu que os licenciandos compreendessem a proposta das quatro formações integradas no curso de graduação da UFFS.

Embora sejam necessários aprimoramentos às atividades, bem como a elaboração de novas atividades e instrumentos, pode-se afirmar que o projeto conseguiu apresentar um caminho, ou alternativa, para melhoria do ensino das Ciências Naturais e da formação dos professores dessas áreas. Os resultados globais contribuirão significativamente em disciplinas de laboratório ou instrumentação de ensino, bem como para ajustes e melhorias do projeto pedagógico do curso de graduação em Ciências – Licenciatura da UFFS.

5 REFERÊNCIAS

CASTOLDI, R.. A utilização dos recursos didático-pedagógicos na motivação da aprendizagem. Anais: I Simpósio de Ciência e Tecnologia. p.684-692. Ponta

Grossa: UTFPR, 2009. Disponível em:

<http://www.pg.utfpr.edu.br/sinect/anais/artigos/8%20Ensinodecienciasnasseriesinici ais/Ensinodecienciasnasseriesinicias_Artigo2.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2012.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes curriculares da educação básica: ciências. Paraná: SEED, 2008. p.81-135.

SANTOS, J. M. T.; STANGE, C. E. D.; SANTOS, S. A.. Instrumentação, demonstração e experimentação em Química, Física e Biologia. PublicAção, v.1,

n.1, p.21-26. Guarapuava: UNICENTRO, 2008 Disponível em:

<http://revistas.unicentro.br/index.php/publicAcao/article/view/755/848>. Acesso em: 27 mar. 2012.

VICENTIN, J.; SANTOS, S. A.. Ciências: o conceito do ensino de pressão a partir de uma abordagem integradora, com o apoio de mapas conceituais, diagramas ADI, (atividades demonstrativo-interativas) e experimentos alternativos na 8ª série do

ensino fundamental. Paraná: SEED, 2010. Disponível em:

<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1616-8.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2012.

PAQUALI, I. S. R.; MASSING, J.; CUNHA, J. T. D.; ABICHT, A. D. M.. Educação ambiental: Material Alternativo em Auxílio à Educação Ambiental para a Aplicação de Práticas no Ensino Médio de Biologia. Bauru são Paulo Brasil 06 a 08 de novembro

de 2006 XIII SIMPEP. Disponível em: <http://www.simpep.feb.unesp.br/anais/anais_13/artigos/220.pdf> Acesso em: 09 abr. 2012.