LISTA DE EXERCÍCIOS 2016
3º ANO/PV
LISTA - EM3 POR 37 - BIM 1
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Sobre a origem da poesia
A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a lin-guagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designa-das, 1a poesia aponta para um uso muito primário da
linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocor-rência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferên-cias, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.
4Como se ela restituísse, através de um uso
especí-fico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.
A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infân-cia da linguagem, antes que a representação rompes-se rompes-seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado.
Houve esse tempo? Quando não havia poesia por-que a poesia estava em tudo o por-que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os la-ços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experi-ências integrais, associadas a utilidades práticas, mági-cas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
2Pode ser que essas suposições tenham algo de
utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tri-bal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrên-cia, um pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substanti-vos), 5não numa partícula verbal externa a elas, o que
faria delas línguas poéticas por natureza, mais propen-sas à composição analógica.
3Mais perto do senso comum, podemos atentar
para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã ver-melha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os no-mes da própria existência − como se a fala não estives-se estives-se referindo àquelas coisas, e sim apreestives-sentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).
6No seu estado de língua, no dicionário, as palavras
intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. 7A linguagem poética
inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo.
Português II
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A arte de enganar
Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recor-da que, na era vitoriana, era proibido mencionar “cal-ças” na presença de uma jovem. Hoje em dia, diz ele, não cai bem utilizar certas expressões perante a opi-nião pública: “O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; imperialismo se chama globa-lização; suas vítimas se chamam países em via de de-senvolvimento; oportunismo se chama pragmatismo;
1despedir sem indenização nem explicação se chama
flexibilização laboral” etc.
A lista é longa. Acrescento os inúmeros precon-ceitos que carregamos: ladrão é sonegador; lobista é consultor; 2fracasso é crise; especulação é derivativo;
latifúndio é agronegócio; desmatamento é investimen-to rural; lavanderia de dinheiro escuso é paraíso fiscal;
3acumulação privada de riqueza é democracia;
sociali-zação de bens é ditadura; governar a favor da maioria é populismo; tortura é constrangimento ilegal; invasão é intervenção; 4peste é pandemia; 5magricela é
anoré-xica.
Eufemismo é a arte de dizer uma coisa e acreditar que o público escuta ou lê outra. É um jeitinho de es-camotear significados. De tentar encobrir verdades e realidades.
Posso admitir que pertenço à terceira idade, embo-ra esteja na caembo-ra: sou velho. 6Ora, poderia dizer que
sou seminovo! Como carros em revendedoras de veí-culos. Todos velhos! Mas o adjetivo seminovo os torna mais vendáveis.
Coitadas das palavras! Elas 7são distorcidas para
que a realidade, escamoteada, permaneça como está. Não conseguem, contudo, escapar da luta de classes: pobre é ladrão, 8rico é corrupto.
Pobre é viciado, rico é dependente químico.
Em suma, eufemismo é um truque semântico para tentar amenizar os fatos.
Frei Betto Adaptado de O Dia, 21/03/2015.
Questão 1
Na produção do humor, traço típico da crônica, o autor combina eufemismos com outros recursos ou figuras de linguagem.
O exemplo em que o humor é produzido por meio da superposição entre um eufemismo e uma compa-ração entre elementos distintos é:
a) despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral (ref. 1)
b) acumulação privada de riqueza é democracia; (ref. 3)
c) Ora, poderia dizer que sou seminovo! (ref. 6) d) são distorcidas para que a realidade, escamoteada, permaneça como está. (ref. 7)
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(...)
Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. 8Mas temos esses
pe-quenos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.
ARNALDO ANTUNES www.arnaldoantunes.com.br
Questão 2
Mas temos esses pequenos oásis − os poemas − conta-minando o deserto da referencialidade. (ref.8)
Na frase acima, o emprego das palavras “oásis” e “deserto” configura uma superposição de
figuras de linguagem, recurso frequente em textos artísticos. As figuras de linguagem superpostas na fra-se são:
a) metáfora e antítese b) ironia e metonímia c) elipse e comparação d) personificação e hipérbole
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas. [...]
O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
Questão 3
Na estruturação do texto, destaca-se: a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de ideias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
d) a repetição de sons e de construções sintáticas semelhantes.
e) a inversão da ordem sintática das palavras.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Sala de espera
(Ah, os rostos sentados numa sala de espera.
Um Diário Oficial sobre a mesa. Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência marcada.
Os retratos em cor, na parede, dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas, o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre adiados
e sentados
numa sala de espera.) Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de “lá fora”. Em seu oceano que é ter bocas e pés para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser: transeunte, republicano, universal.
Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício, do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora o Acontecimento.
A rua! uma aula de esperança ao ar livre.
(RICARDO, Cassiano. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964.)
Questão 4
A construção poética do discurso baseia-se fre-quentemente na utilização de figuras de linguagem, como a metonímia.
O poeta recorreu a esta figura em: a) “Ah, os rostos sentados”
b) “Os retratos em cor, na parede,” c) “que exerceram (...) o manso ofício” d) “de fazer esperar com esperança.”
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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Canção do ver
Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
1Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas. Eu quis filmar o abandono do poste. O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de
passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas. Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos. Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
Manoel de Barros. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
1 arrulos: canto ou gemido de rolas e pombas
Questão 5
No poema, o poste é associado à própria vida do eu poético. Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo seguinte recurso da linguagem:
a) anáfora b) metáfora c) sinonímia d) hipérbole
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Questão 6
O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas têm rela-ção direta com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do personagem como uma metonímia.
Essa metonímia representa algo que se define como:
a) invisível b) expressivo c) inexistente d) contraditório
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Separação
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irreme-diável. 1No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao
che-gar à porta 2sentiu que 14nada poderia evitar a
reinci-dência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é a história do mundo. 10Ela o olhava com
um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo1, 15como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que
não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
(...)
Seus olhares 4fulguraram por um instante um
con-tra o outro, depois se 5acariciaram ternamente e,
final-mente, se disseram que não havia nada a fazer. 6
Dis-se-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar2
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aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas 16o
brus-co movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou reti-do, sem se poder mover do lugar, 11sentindo o pranto
formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
17Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia
do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos3 de suas vidas, 12não lhe dava forças para desprender-se dela. 8Sabia
que era aquela a sua amada, por quem esperara des-de sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, tam-bém, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, 9
dis-tanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. 18E no
entanto ali estava, a poucos passos, sua forma femi-nina que não era nenhuma outra forma femifemi-nina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele 7abençoara
com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou 3imaginá-la em sua dolorosa
mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias − um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
13De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas,
correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
MORAIS, Vinícius de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.
Questão 7
Uma metáfora pode ser construída pela combina-ção entre elementos abstratos e concretos.
No texto, um exemplo de metáfora que se constrói por esse tipo de combinação é:
a) como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e
que não deixasse de ir, (ref. 15)
b) o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as
folhas de madeira o espesso tecido da vida, (ref. 16)
c) Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do
momento, (ref. 17)
d) E no entanto ali estava, a poucos passos, (ref. 18)
Questão 8
Os meios de comunicação podem contribuir para a resolução de problemas sociais, entre os quais o da violência sexual infantil. Nesse sentido, a propaganda usa a metáfora do pesadelo para:
a) informar crianças vítimas de abuso sexual sobre os perigos dessa prática, contribuindo para erradicá-la. b) denunciar ocorrências de abuso sexual contra meninas, com o objetivo de colocar criminosos na cadeia.
c) dar a devida dimensão do que é o abuso sexual para uma criança, enfatizando a importância da denúncia. d) destacar que a violência sexual infantil predomina durante a noite, o que requer maior cuidado dos responsáveis nesse período.
e) chamar a atenção para o fato de o abuso infantil ocorrer durante o sono, sendo confundido por algumas crianças com um pesadelo.
Questão 9
Entrevistador: - Queria que você falasse um
pou-quinho sobre uma coisa que eu sei que é muito impor-tante pra você, a amizade.
Galeano: Sim, a amizade é uma forma de amor. E
como dizia pra você, acho que se exerce na base da honestidade, porque a outra amizade, a amizade do “amo muito você” e “que lindo você é” não é a verda-deira amizade. Os amigos, quando são amigos de ver-dade, dizem o que se deve dizer, e isso diz respeito a processos coletivos também. Então, amizade às vezes é difícil sobre essa base, porque atravessa períodos complicados. Mas quando a gente ama de verdade, no amor, na amizade, ama as luzes e as sombras de cada pessoa ou de cada lugar.
Trecho de entrevista dada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano ao jornalista Eric Nepomuceno no programa Sangue Latino. Disponível em: <http://canalbrasil.globo.com/programas/sangue-latino/videos/1289838. html>.
a) No texto, o entrevistado fez uso de duas metáforas na última frase da sua fala. Identifique essas metáforas e explique o sentido que elas assumem no texto. b) Transforme a fala do entrevistador em discurso indireto, fazendo adaptações necessárias para que o trecho não fique repetitivo
Questão 10
A busca da felicidade
Felicidade é um truque. Um truque da natureza concebido ao longo de milhões de anos com uma só finalidade: enganar você. A lógica é a seguinte: quan-do fazemos algo que aumenta nossas chances de so-breviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas e muitas vezes. E essa nossa perseguição incessante de coisas que nos deixem felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes. “As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo”, escreveu o escritor e psicólogo americano Ro-bert Wright, num artigo para a revista americana Time.
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3º ANO/PV
LISTA - EM3 POR 37 - BIM 1
A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade — é ela que nos força a estudar, traba-lhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar di-nheiro, gastar didi-nheiro, fazer amigos, brigar, casar, se-parar, ter filhos e depois protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais im-portante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas. Mas tudo isso é ilusão. A cada vitória surge uma nova necessidade. Felicidade é uma cenoura pendura-da numa vara de pescar amarrapendura-da no nosso corpo. Às vezes, com muito esforço, conseguimos dar uma mor-didinha. Mas a cenoura continua lá adiante, apetitosa, nos empurrando para a frente. Felicidade é um truque.
Extraído de AXT, Barbara. “A busca da felicidade”. Revista
Superinteressan-te – n.212, abril de 2005.
http://super.abril.com.br/cultura/busca-felicida-de-464107.shtml. Acesso em 26/07/2013.
a) No texto – A busca da felicidade –, Barbara Axt fez uso de alguns recursos metafóricos, tornando o assunto mais claro para seu público leitor. Explique, com suas próprias palavras, o que denota a metáfora da cenoura empregada no texto.
b) Sem que haja alteração de sentido, reescreva o trecho abaixo, transcrito do texto, observando o início proposto a seguir e fazendo as modificações necessárias.
“E essa nossa perseguição incessante de coisas que nos deixem felizes acaba aumentando as chances de transmitirmos nossos genes.”