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Sobre o patriotismo constitucional. Flávio Azevedo Reis. Mestre em Filosofia e Doutorando. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra

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Academic year: 2021

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Sobre o patriotismo constitucional.

Flávio Azevedo Reis Mestre em Filosofia e Doutorando Orientador: Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Terra

Departamento de Filosofia, FFLCH-USP

1) Resumo:

O objetivo deste trabalho é fazer algumas indicação iniciais sobre o conceito de patriotismo constitucional, como um modo de responder aos desafios da democracia brasileira atual. Dado a existência de um déficit democrático da cultura política, é proposto uma concepção normativa de patriotismo constistucional como resposta a este déficit. O trabalho irá apontar algumas características da concepção normativa de patriotismo que, ao partir de uma noção kantiana de autonomia, se contrapõe às concepções comunitarista e republicana de patriotismo.

2) Resumo Expandido:

Segundo Jan-Werner Müller1, a discussão de Habermas sobre o patriotismo constitucional teve como pano fundo o debate em torno da história do nazismo na Alemanha. Em meados dos anos 80, no momento em que discutiam uma lei que iria

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proibir a publicação de textos que negam o holocauso, Habermas utilizou o conceito de patriotismo constitucional para fazer uma delicada articulação entre a necessidade de reconhecer a sombria história alemã e, ao mesmo tempo, estabelecer as bases para uma “militância” democrática afim de fortalecer o compromisso dos cidadãos com princípios constitucionais de uma democracia liberal. Assim, Habermas defendeu a pertinência de um debate público sobre a história do nazismo acompanhado pela discussão sobre a formação de um patriotismo constitucional. Neste contexto, o conceito de patriotismo foi definido por Habermas em direta oposição ao nacionalismo. Patriotismo não significa uma identificação coletiva em bases étnicas ou culturais pré-políticas. Ele não se refere ao “povo” ou à “autêntica cultura alemã”. Pelo contrário, Habermas definiu o patriotismo constitucional como um compromisso comum dos cidadãos em torno da promoção de uma sociedade democrática e plural.

“This idea [of self-legislation] does not refer to the substantive generality of a popular will that would owe its unity to a prior homogeneity of descent or form of life. The consensus fought for and achieved in an association of free and equal persons ultimately rests only on the unity of a

procedure to which all consent. This procedure of democratic opinion- and will-formation

assumes a differentiated form in constitutions based on the rule of law. In a pluralistic society, the constitution expresses a formal consensus. The citizens want to regulate their living together according to principles that are in the equal interest of each and thus can meet with the justified assent of all.”2

Trata-se, portanto, da formação de um consenso em torno de procedimentos e valores democráticos. Diante da terrível história alemã, foi necessário pensar uma forma de identidade política capaz de reconhecer os eventos passados e estabelecer bases para que eles não se repitam.

Ora, é óbvia a relevância deste debate para o contexto brasileiro atual. Os longos regimes autoritários que marcaram nossa história durante o século passado ainda exercem uma forte influência no Brasil de hoje. Enquanto cidadãos brasileiros, temos

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HABERMAS, J. Between Facts and Norms. Contribtions to a Discourse Theory of Law and

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uma dupla tarefa. Por um lado, há a necessidade de formarmos uma memória comum dos trágicos eventos que ocorreram durante o regime militar. A abertura dos arquivos da ditadura e a instalação da comissão da verdade são passos importantes nesta direção. Por outro lado, devemos pensar como impedir que algo similar possa ocorrer novamente. Infelizmente, a transição para a democracia no Brasil foi, de um certo modo, incompleta. Hoje, é inegável que o Brasil está em em um período democrático. Porém, é preciso reconhecer que ainda persistem arranjos insituicionais pouco democráticos e resíduos de uma cultura política autoritária. Isto se torna evidente quando examinamos, por exemplo, a existência de “grupos de extermínio” compostos, em parte, por membros das próprias forças policiais. Isto indica a falta de mecanismos insituicionais capazes de controlar abusos por parte de membros das polícias. Há um óbvio déficit de “accountability” e uma falha nas instituições que deveriam estabelecer contrapesos a possíveis abusos. Além disso, a existência destes grupos indica que o desafio da democratização brasileira não é somente a busca por arranjos instituicionais mais democráticos. Há, no Brasil, uma cultura política autoritária que leva os membros destes grupos, com apoio de parte da população, a considerar que é moralmente correto assassinar jovens da periferia sem consideração alguma pelos direitos e garantias legais que deveriam constituir uma sociedade democrática. É possível apontar outros exemplos de problemas da democracia brasileira, mas os grupos de extermínio nos servem como o exemplo mais evidente da atual situação brasileira que combina o deficit democrático das insituições e uma cultura política pouco democrática.

Diante desta situação, devo discutir uma possível contribuição, ainda que limitada, da filosofia. A filosofia pode nos fornecer um quadro conceitual que nos ajude a julgar a situação atual e, possivelmente, orientar a ação política. O principal objetivo aqui é formular o esboço de uma concepção normativa de patriotismo constitucional que

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visa lidar com um dos aspectos do problema apontado, i.e. o déficit democrático da cultura política brasileira. Devo argumentar que uma concepção de patriotismo formulada a partir do conceito de autonomia pode servir como base para pensar uma cultura política capaz de realizar a tarefa de aprofundar a democracia no país. Neste caso, ao atribuir um papel importante ao conceito de autonomia, uma concepção “kantiana” de patriotismo se distingue tanto do patriotismo comunitarista de Alasdair MacIntyre3 quanto do patriotismo republicano de Maurizio Viroli4. Portanto, é preciso apontar como o quadro conceitual do patriotismo constitucional proposto aqui se distingue de ambas estas aleternativas.

Em resumo, este trabalho supõe a existência de um déficit demcrático da cultura política brasileira e, a partir disso, pretende traçar o esboço de uma concepção normativa de patriotismo constitucional inspirada em uma noção “kantiana” de autonomia. Pretende-se, portanto, delinear esta concepção normativa ao apontar o seu contraste em relação às alternativas republicana e comunitarista.

3) Objeto e objetivos

O objeto de pesquisa é o conceito de patriotismo constitucional. O objetivo é apontar a formulação uma concepção normativa de patriotismo constitucional a partir do conceito de autonomia.

4) Metodologia

Análise e discussão de conceitos da filosofia e teoria política.

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MACINTYRE, A. “Is patriotism a virtue?” In: Debates in Contemporary Political Philosophy. Edited By Derek Matravers and Jon Pike. New York, Rutledge, 2005.

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VIROLI, M. For Love of Country. An Essay on Patriotism and Nationalism. New York: Oxford University Press, 1995.

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5) Resultados e conclusões

Como resultado da pesquisa, é apresentado uma concepção normativa de patriotismo constitucional de acordo com os termos indicados no resumo expandido.

6) Síntese bibliográfica.

BEINER, R. (edited by) Theorizing nationalism. Albany: SUNY Press, 1999.

HABERMAS, J. Between Facts and Norms. Contribtions to a Discourse Theory of Law and Democracy. Cambridge: MIT Press, 1996.

KLEINGELD, P. Kant and Cosmopolitanism. The Philosophical Ideal of World Citizenship. New York: Cambridge University Press, 2012

MACINTYRE, A. “Is patriotism a virtue?” In: Debates in Contemporary Political Philosophy. Edited By Derek Matravers and Jon Pike. New York, Rutledge, 2005

MÜLLER, J. W. Constitutional Patriotism. Princeton: Princeton University Press, 2007.

NUSSBAUM, M. For love of country? Edited By Joshua Cohen. Boston: Beacon Press, 1996.

VIROLI, M. For Love of Country. An Essay on Patriotism and Nationalism. New York: Oxford University Press, 1995

Referências

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