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HUGO DE SÃO VITOR E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E DA ESCRITA

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Academic year: 2021

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HUGO DE SÃO VITOR E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA E DA

ESCRITA

SANTIAGO, Viviane Paes (PIBIC/ Fundação Araucária/UNESPAR/FAFIPA) PERIN, Conceição Solange Bution (UNESPAR/FAFIPA)

INTRODUÇÃO

Esse trabalho apresenta um estudo sobre a influência do pensamento do mestre medieval Hugo de São Vitor em algumas alterações educacionais ocorridas na primeira metade do século XII e que levaram o homem a buscar outras formas de conhecimento, o que acabou influenciando nas mudanças de pensamento e comportamento do indivíduo.

O objetivo é mostrar que o florescimento do comércio e das cidades interferiu de forma significativa na formação do homem, o que aos poucos foi modificando suas ações e pensamentos. As atividades comerciais demandavam um conhecimento que os possibilitava entender o mundo pela própria experiência da razão. Para o homem saber comercializar e se relacionar, diante desta nova realidade de vida, tinha que buscar uma nova forma de se educar para poder conviver em sociedade, o que lhe acarretava dificuldades e sentimentos de dúvidas para acompanhar essas mudanças.

Sob essa perspectiva, o propósito é entender que, em momentos de transição, diante de novas formas de comportamentos e atitudes, novos interesses também surgem, e nesse período histórico em questão, metade do século XII, as escolas florescem e com elas os mestres e intelectuais que tiveram um papel significativo para a sociedade. Segundo Verger (2001), esses intelectuais tiveram um papel importante para a sociedade, pois trouxeram outro modo de instrução que iria modificar a formação e o desenvolvimento do homem.

De acordo com Verger (2001 p.78), era o “contexto de uma Paris em pleno desenvolvimento em que as escolas se multiplicavam” e com elas mestres e intelectuais de destaque como Hugo de São Vitor, um expoente na história da educação no ocidente

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medieval, que valorizava a capacidade ativa e contemplativa, ou seja, a capacidade intelectual e espiritual do homem medieval.

Hugo de São Vitor propôs um caminho para o conhecimento por meio da atividade filosófica para se chegar à Sabedoria, que para ele era a Sapiência, a nossa origem, que, no entanto, conhecendo-a conhecemos a nós mesmos, para tanto, apresentou a leitura como instrumento essencial na condução do saber. Dessa forma, a leitura representa para o autor um modo de ser e de viver, uma filosofia de vida, no entanto, há a necessidade de se impor regras e método para que a leitura possa se realizar e atingir a sua finalidade.

Nesse sentido, analisaremos a importância dos ensinamentos de Hugo de São Vitor para o seu período histórico por meio do seu pensamento ao asseverar a importância da leitura como instrumento para formação moral e intelectual do homem medieval.

OBJETIVOS

Objetivo Geral: O objetivo deste estudo é conhecer e entender o pensamento do mestre vitorino Hugo de São Vitor, associando-o às mudanças socioeconômicas, religiosas e educacionais que ocorreram, principalmente, na primeira metade do século XII.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Analisar as transformações educacionais da primeira metade do século XII; - Compreender o papel dos mestres e intelectuais neste período histórico e, em especial de Hugo de São Vitor, que discursava sobre a importância do estudo e da leitura para a apreensão da Sabedoria, a qual conduziria ao conhecimento de Deus.

METODOLOGIA

Este estudo foi realizado com leituras e fichamentos das obras de alguns estudiosos que analisam o período que está sendo tratado, como exemplo Le Goff e

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Verger e de pensadores como Aristóteles, Abelardo e em especial o mestre medieval Hugo de São Vitor. Para tanto, iniciamos com a leitura da obra: Didascálicon: Da Arte de Ler de Hugo de São Vitor onde nos mostra sobre a importância da leitura ordenada na condução do conhecimento divino e para nos pautarmos sobre a importância da ética na aquisição das virtudes fizemos a leitura da obra: Ética a Nicômaco de Aristóteles. Para contextualizar o século XII, visando os intelectuais e as instituições de ensino, fizemos a leitura das obras: Cultura, Ensino e Sociedade no Ocidente nos Séculos XII e XIII de Jacques Verger e Os intelectuais da Idade Média de Jacques Le Goff e para termos o conhecimento do método dialético fizemos a leitura da obra: Lógica para principiantes de Pedro Abelardo. Os estudos dessas obras nos possibilitaram o entendimento do período histórico em questão, a primeira metade do século XII, o que favoreceu a compreensão sobre a importância do conhecimento por meio do estudo, da leitura e do ato de filosofar para alcançar a Sapiência, ou seja, a Mente Divina, que é o conhecimento perfeito de todas as coisas.

DESENVOLVIMENTO

O ocidente medieval presenciou no século XII um período de renascimento, onde o regime feudal havia se estabilizado e com ele iniciou-se o desenvolvimento comercial, por meio do trabalho artesanal, o que favoreceu a criação de novas cidades e com elas o estabelecimento de novas relações sociais.

É importante conceituarmos que os homens desse período histórico, primeira metade do século XII, não estavam preparados para o florescimento dessas cidades, faltavam-lhes condições necessárias para lidar com esse desenvolvimento comercial e cultural exigindo do homem novo comportamento e novos conhecimentos. Conforme o autor, essas mudanças já estavam ocorrendo, mas “o fenômeno só atinge amplidão suficiente no século XII” (LE GOFF, 2011, p.31), modificando, então, as estruturas sociais, econômicas e políticas do ocidente.

No século XII, no ocidente medieval, renasceu a atividade comercial, sendo assim, os negócios demandavam o conhecimento da leitura, da escrita e do cálculo, pois a circulação das mercadorias e do dinheiro exigiam os cuidados para com as correspondências e para com a contabilidade dos ganhos.

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Para atender às estas necessidades, houve uma grande mudança no aspecto educacional desse período, pois com o desenvolvimento do comércio, o conhecimento, que antes só era para os clérigos, nobres e cavalheiros, também passou a ser privilégio dos filhos dos burgueses, mercadores e artesãos, os quais passaram a ter acesso ao ensino escolar.

De acordo com Le Goff, as escolas mais notórias da época ficavam em Paris que recebia estudantes das mais variadas partes do mundo, “[...] usando plenamente a contribuição aristotélica e o recurso ao raciocínio, faz triunfar os métodos racionais do espírito: a dialética[...]” (LE GOFF, p. 44).

Nesse período histórico, primeira metade do século XII, era tempo dos intelectuais mais sublimes, que se reuniam ao redor de seus inúmeros discípulos para transmitir o conhecimento. Nesse sentido, cabe-nos destacar a figura de Pedro Abelardo que, segundo Le Goff (2005), nomeia-o como “[...] a primeira grande figura de intelectual moderno, nos limites da modernidade do século XII: Abelardo foi o primeiro professor”.

A educação escolástica oferecida pelo mestre Abelardo, por meio de suas aulas, tentava acompanhar o desenvolvimento da sociedade desse período, a primeira metade do século XII, ou seja, por meio do seu método escolástico e dialético Abelardo tentava responder às questões postas pelos indivíduos, que como já mencionamos se encontravam em profundas dúvidas e indagações. Diante do método dialético com que discutia as questões o mestre Abelardo tentava mostrar aos homens que eles podiam, por meio de seus pensamentos, entender, refletir, perceber as alterações, enfim, tinham a capacidade de ampliar o conhecimento. Dessa forma, possibilitava aos indivíduos se atentarem a um novo olhar diante dos acontecimentos, levando-os a questionarem. O método dialético era uma forma diferente, pois levava os homens a debaterem sobre algumas questões que até então eram inquestionáveis, ou seja, o conhecimento era imposto pela Igreja e os indivíduos aceitavam como verdades, sem questionamento, pois, sempre a justificativa era de ser tudo a vontade de Deus. Abelardo, sem dúvida, teve um papel significativo no sentido de fazer com que os homens refletissem sobre a sua existência, sobre o mundo e tudo que os cercavam.

É nesse contexto de dúvidas e incertezas que Hugo de São Vitor se destaca preocupando-se, na primeira metade do século XII, com a importância do conhecimento

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e em como instruir, por meio da leitura, tanto intelectualmente quanto moralmente a sociedade que estava alterada pelas modificações no modo de pensar e agir dos homens daquele período histórico.

O mestre vitorino discursava, entre outros assuntos, sobre a importância do conhecimento por meio do estudo, da leitura e da reta conduta humana fundamentada em princípios éticos e morais para o conhecimento divino, contribuindo assim, para disseminar entre os indivíduos os bons sentimentos, os quais poderiam ser adquiridos através da Palavra de Deus contida nas Sagradas Escrituras e assimilados pela leitura.

Para tanto, o mestre asseverava que qualquer pessoa tinha a capacidade de aprender, pois para o vitorino todo o conhecimento humano residia no próprio homem: “[...] Somos reerguidos pelo estudo, para que conheçamos a nossa natureza e aprendamos a não procurar fora de nós aquilo que podemos encontrar dentro de nós” (HUGO DE SÃO VITOR, P. 51). Hugo de São Vitor apresentou um caminho para o conhecimento por meio da atividade filosófica para se chegar à Sabedoria que para ele era a Sapiência, a nossa origem, que, no entanto, conhecendo-a conhecemos a nós mesmos e podemos direcionar os nossos atos no contato com o próximo. De acordo com o mestre vitorino “De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é a Sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito” (HUGO DE SÃO VITOR, p. 47). A Sapiência é para Hugo a mente de Deus concedida ao homem que deve buscá-la por meio da filosofia, da reflexão.

Para Hugo de São Vitor o conhecimento é propiciado através dos estudos e da leitura, que possibilita ao homem procurar e encontrar o que está dentro de si. Para Hugo, tudo começa pelo ato de ler, sendo assim, a leitura foi apresentada pelo mestre como um caminho a ser trilhado pelos homens para adquirir e/ou aprofundar o saber.

A leitura representa para o autor um modo de ser e de viver, uma filosofia de vida, no entanto, há a necessidade de se impor regras e método para que a leitura possa se realizar e atingir a sua finalidade. Para tanto, o mestre prega que o aluno precisa ter prudência e humildade ao lidar com a leitura, ou seja, não deve desprezar conhecimento algum pois o desprezo caracteriza um vício: o da vaidade “[...] este vício da vaidade ocorre a alguns, porque olham com demasiada diligência o próprio conhecimento [...]” (HUGO DE SÃO VITOR, 2001, p. 159).

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Para o mestre Vitorino, a integridade da natureza humana se realiza de duas maneiras: “pelo conhecimento e pela virtude, e esta é a única semelhança que temos com as substâncias superiores e divinas” ( HUGO DE SÃO VITOR, 2001, p.61). Conforme Hugo, o homem se humaniza por meio do conhecimento e da prática das virtudes, e adquire a racionalidade através do intelecto e do comportamento virtuoso os quais os conduzem a Deus.

Neste sentido, analisaremos o que é a virtude da justiça para Aristóteles. Segundo o pensador , [...] “é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo, as faz agir justamente e a desejar o que é justo” (ARISTÓTELES, 2011, p.99). Para o filósofo grego, a justiça é uma virtude completa ou é muitas vezes considerada a maior das virtudes. O melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil, e no entanto, a mais nobre.

Segundo Hugo de São Vitor, em qualquer trabalho são necessárias duas coisas, a saber: a aplicação e o método da aplicação e que estas coisas estão tão interligadas entre si que uma sem a outra é ou inútil ou pouco eficiente. Para Hugo, [...] o método é tão importante, que sem ele qualquer ócio (dedicação ao estudo) é torpe e todo trabalho é inútil (HUGO DE SÃO VITOR, 2001, p. 219). Dessa forma, ao estudante que quiser adquirir sabedoria é importante dedicar-se com afinco.

CONCLUSÕES

O estudo nos favoreceu a compreensão de que os ensinamentos realizados por Hugo de São Vitor contribuíram para algumas mudanças na educação dos homens na primeira metade do século XII, pois apontou aos indivíduos que o conhecimento, por meio da leitura sobre os ensinamentos divinos, favorecia o aprendizado da reflexão, onde possibilitava o diálogo com Deus através das Escrituras Sagradas e assim o homem poderia corresponder às vontades do Criador contidas na Palavra Sagrada, colocando em prática os sentimentos cristãos, disseminando amor, caridade e paz coletiva.

A nosso ver, Hugo de São Vitor foi um intelectual do século XII, que contribuiu para com sociedade da sua época, instruindo-a na busca do conhecimento e da reflexão

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pautados no uso da razão. Hugo de São Vitor se preocupou na primeira metade do século XII com a importância do conhecimento, e em como instruir, por meio da leitura, tanto intelectualmente quanto moralmente a sociedade que estava alterada pelas modificações no modo de pensar e agir dos homens daquele período histórico.

REFERÊNCIAS

ABELARDO, P. Lógica para principiantes. São Paulo: Nova Cultural, 2005. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2001.

LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Tradução: Marcos de castro, 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

SÃO VITOR, Hugo de. Didascálicon; da arte de ler. Tradução: Antonio Marchioni. Petrópolis. RJ: Vozes, 2001.

VERGER, Jacques. Cultura, Ensino e Sociedade no Ocidente nos Séculos XII e XIII. Bauru, SP: EDUSC, 2001.

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