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ÁGORA Revista Eletrônica ISSN Página 54-58

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Academic year: 2021

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ABORDAGEM FENOMENOLÓGICO-HERMENÊUTICAS

Henriqueta Alves da Silva1

RESUMO

O presente artigo elege a abordagem fenomenológico-hermenêutica como um dos métodos mais importantes para a elaboração de pesquisas em educação. Nessa abordagem, o sujeito é que interpreta e dá sentido ao texto a partir do contexto histórico que ocorre, buscando investigar o mundo pessoal das experiências e não um ente independente do sujeito. Para Gadamer e Heidegger, a hermenêutica é que recupera o sentido da coisa, levando em consideração a ocupação do contexto histórico que acontece. O sujeito interpretativo não pode eximir-se de sua história, pois esta é a condição da busca da verdade. A realidade social é tomada como texto a ser analisado e interpretado a partir do contexto histórico. A hermenêutica gadameriana também tem contribuído para a formulação do método concretista da interpretação do direito. Assim, a validade da norma somente se complementa no ato interpretativo. A concretização da norma pelo intérprete vai pressupor sempre uma pré-compreensão desta; essa compreensão pressupõe uma pré-compreensão. Nesse caso, a validade da lei está no ato interpretativo no qual o jurista dará sentido ao concretizar a norma objetiva. A hermenêutica deve levar em conta o aspecto construtivista da história, não podendo, quando interpretar um texto, ficar limitada à intenção do autor, mas considerar , sobretudo, a influência que o texto opera no decurso da história.

Palavras-Chave: hermenêutica; pesquisas, sujeito.

Considerações introdutórias

A opção pela escolha da abordagem fenomenológico-hermenêutica, método no qual o sujeito aparece como intérprete do objeto reside no importante papel das pesquisas qualitativas buscarem desvendar ou decodificar subjetivamente o sentido real que está implícito nos textos, palavras, leis, etc., e oferecendo significado a partir da manifestação dos textos e de seus contextos históricos.

Nessa abordagem, o sujeito é que interpreta e dá sentido ao texto a partir do contexto histórico que ocorre, buscando investigar o mundo pessoal das experiências e não um ente independente do sujeito. O mundo é envolvido de sujeitos que dão sentido e vida ao mundo que está aí. Assim, percebe-se que para as pesquisas com abordagem fenomenológico-hermenêuticas o mundo é visto como inacabado e por isso o conhecimento é um processo dinâmico e constante.

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Para Gadamer, os significados são apreendidos pelo sujeito, este é quem tem a obrigação de compreender o objeto da investigação. Para Gadamer e Heidegger, a hermenêutica é que recupera o sentido da coisa, levando em consideração a ocupação do contexto histórico que acontece. O sujeito interpretativo não pode eximir-se de sua história, pois esta é a condição da busca da verdade.

A hermenêutica emerge nas ciências sociais no qual refuta o positivismo e como possibilidade de análise dessas ciências. A realidade social é tomada como texto a ser analisado e interpretado a partir do contexto histórico.

A hermenêutica se preocupa com a alteridade, quando nos diz que não devemos envolver nossas opiniões no ato de interpretar para que o sentido do texto não fique prejudicado a partir dessa pré-compreensão. Devemos deixar o texto expressar seu sentido, deixar que ele diga alguma coisa por si, levando em conta a linguagem e as tradições. Pois, uma consciência formada hermeneuticamente tem que se mostrar receptiva, desde o princípio, para a alteridade do texto. “O eu que enfrenta o texto na interpretação não é um eu, mas é um cruzamento fortuito e multiforme de experiências em geral linguísticas (tradições, costumes, informações, ideologias, etc”. (D’ Agostini, 2002, p. 144).

Assim, “toda a interpretação correta tem que proteger-se da arbitrariedade de intuições repentinas e da estreiteza dos hábitos de pensar imperceptíveis, e voltar seu olhar para “as coisas elas mesmas” (GADAMER, 2005, p. 355). O que importa nesse aspecto é que devemos ficar atentos para que não nos desviemos do real sentido, já que se “vê constantemente submetido o intérprete em virtude das ideias que lhe ocorrem. Quem quiser compreender um texto, realiza sempre um projetar,” (GADAMER, 2005, p. 356). Esse projeto prévio deve ser constantemente revisado conforme vai avançando o aprofundamento de sentido.

Para Gadamer, é a hermenêutica que deve dar conta da possibilidade de compreensão das ciências do espírito e, para isto, a tarefa da filosofia deve fundamentá-la a partir da própria finitude humana em seu contexto existencial de comunicação.

A hermenêutica é vista, hoje, como uma teoria ou filosofia de interpretação, capaz de tornar compreensível o objeto de estudo mais do que sua mera aparência ou superficialidade. A hermenêutica tenta aprofundar o sentido além daquilo que aparentemente está exposta, sua condição permite-nos vivenciar pela interpretação os significados a partir do diálogo com o mundo.

A hermenêutica, uma palavra cuja origem grega é "hermeneia", e que está relacionada à figura de Hermes, o tradutor da linguagem dos deuses, tornando-a acessível aos homens. O deus Hermes procurava compreender aquilo que o humano não alcançava em algo que esta compreensão pudesse alcançar.

Assim como o verbo “interpretar”, segundo o dicionário Luft, significa “esclarecer, explicar o sentido, ajuizar a intenção, exprimir o sentimento” (LUFT).A hermenêutica, porém, visa esclarecer qual o significado mais profundo que está oculto, não-manifesto, não apenas de um texto, mas também da linguagem. Por meio da hermenêutica, podemos compreender o próprio homem, o mundo em que vive, sua história e sua

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existência.

A interpretação de cunho tradicional, que trabalha na perspectiva de que o processo interpretativo possibilita que se alcance a “interpretação correta”, “o sentido exato da norma”, “o verdadeiro significado da palavra”, etc., está sendo abandonada. E com isso deu lugar a hermenêutica contemporânea, assentada principalmente nos trabalhos de Martin Heidegger (“Ser e Tempo”) e de Hans-Georg Gadamer (“Verdade e Método”), direciona-se para a compreensão como totalidade e a linguagem como meio de acesso ao mundo e às coisas. Mas para que essa compreensão seja coerente e alcance seu verdadeiro sentido, o sujeito interpretativo deve examinar suas opiniões prévias quanto sua legitimação, origem e validez, pois assim poderemos alcançar a verdadeira possibilidade do sentido do real. “É só o reconhecimento do caráter essencialmente preconceituoso de toda compreensão que pode levar o problema hermenêutico à sua real agudeza” (GADAMER, 2005, p.360).

Para Heidegger e Gadamer, a hermenêutica se refere ao mundo da experiência, ao mundo da pré-compreensão, em que já somos e nos compreendemos como seres a partir da estrutura prévia de sentido.

A compreensão é ligada ao contexto do existente humano, e o ato de compreender é uma realidade existencial. A interpretação não é uma questão de método, mas, uma questão relativa à existência do intérprete.

As produções textuais de Heidegger e Gadamer propiciaram o nascimento de uma nova hermenêutica em que o processo interpretativo não decorre da descoberta do “exato” sentido do texto ou da norma, mas do exame das condições em que ocorre essa compreensão.

A hermenêutica gadameriana tem contribuído para a formulação do método concretista da interpretação do direito. Assim, a validade da norma somente se complementa no ato interpretativo. A concretização da norma pelo intérprete vai pressupor sempre uma pré-compreensão desta; essa compreensão pressupõe uma pré-compreensão. Como por exemplo, o direito objetivo, o art. 5º LXXXIV da Constituição Federal. “O Estado prestará assistência jurídica gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. É um direito que está aí e é igual para todo mundo. Mas devemos levar em conta que as leis só existem porque há o direito subjetivo, ou seja, porque há a prerrogativa de exigir algo de outrem em razão de uma lei. Nesse caso, a validade da lei está no ato interpretativo no qual o jurista dará sentido ao concretizar a norma objetiva.

Heidegger desenvolve uma hermenêutica no qual compreende a ideia de que o horizonte do sentido é dado pela compreensão; para ele é na compreensão que se delineia o método fenomenológico.

Já Gadamer, seguidor de Heidegger, diz que “ser que pode ser compreendido é linguagem”, retoma a ideia de Heidegger da linguagem como casa do ser, onde a linguagem não é simplesmente objeto, mas uma possibilidade de compreensão aberta e estruturada. Daí que, para Gadamer, ter um mundo é ter uma linguagem, pois só podemos compreendê-lo a partir da interpretação e, nesse caso, as palavras e seus

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significados têm relevância.

“A interpretação de algo como algo funda-se, essencialmente, numa posição prévia, visão prévia e concepção prévia. A interpretação nunca é a apreensão de um dado preliminar isenta de pressuposições” (HEIDEGGER, 2002, p. 207). Assim, para Heidegger “interpretar não é tomar conhecimento do que se compreendeu, mas elaborar as possibilidades projetadas na compreensão” (2002, p. 204).

O que ocorre nesse caso, é que o intérprete já possui uma pré-compreensão daquilo que vai interpretar, inclusive das palavras que irá usar, pois, compreendemos a partir de nossa visão de mundo e de nossa autenticidade com o mundo que está aí. O “ser” do intérprete contamina a interpretação que ele fará, porque, em sendo ele um indivíduo inserido num contexto social, histórico, linguístico, etc, a interpretação feita estará, necessariamente, associada às suas impressões anteriores, à sua pré-compreensão.

Ao compreender a essência do “ser”, Heidegger contribui de forma efetiva para a hermenêutica contemporânea, pois nos leva a concluir que não há interpretações definitivas, elas hão de ser estudadas à luz do tempo em que foram concebidas e tendo em vista as possíveis pré-compreensões do intérprete, de maneira que nós mesmos ao lê-las, a partir de nossas pré-compreensões, dentro de nossas circunvisões, também estaremos abrindo um novo sentido, uma nova possibilidade de interpretar.

Na hermenêutica gadameriana não há diferença entre a interpretação e a compreensão, pois compreender é sempre interpretar. Gadamer entende o processo hermenêutico como a compreensão, a interpretação e a aplicação, como se estes três aspectos fossem uma única coisa. A compreensão de um texto histórico somente é possível a partir da historicidade do intérprete.

Em sua produção textual, Gadamer prossegue afirmando que “ter horizontes significa não estar limitado ao que há de mais próximo, mas poder ver para além disso. Aquele que tem horizontes sabe valorizar corretamente o significado de todas as coisas que caem dentro deles, segundo os padrões de próximo e distante, de grande e pequeno” (Gadamer, 1991, p.373).

O ato de interpretar implica na produção de um novo texto, mediante a adição de sentido que lhe fora dada pelo intérprete dentro de uma concepção dialógica. Essa adição de sentido decorre da consciência da história do intérprete.

Aspectos conclusivos

A hermenêutica deve levar em conta o aspecto construtivista da história, não podendo, quando interpretar um texto, ficar limitada à intenção do autor, mas considerar sobretudo a influência que o texto opera no decurso da história. A hermenêutica deve tentar para a intenção ou até mesmo perceber o impacto que o texto procura ou procurou causar a partir do contexto histórico decorrido. Somente assim podemos compreender a agudeza real que determinadas palavras, textos, normas nos querem dizer por si mesmo.

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Podemos concluir então que Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer inauguram um novo paradigma, em que a hermenêutica é um método especial das ciências do espírito, ciência considerada por Dilthey capaz de compreender o interior, mas um modo de compreendê-las através da interpretação dentro da tradição.

O sujeito interpretativo deve deixar que o texto lhe diga algo por si só, não pode impor-lhe suas opiniões pré-estabelecidas, mas confrontá-la criticamente com o objeto do texto.

Em resumo, a hermenêutica busca fazer a relação da parte com o todo, avaliar os preconceitos, buscar o “acordo na coisa” e deixar que o texto lhe diga algo. Por isso, a fenomenologia-hermenêutica é uma das mais importantes abordagens da pesquisa em educação, pois o conhecimento é dependente da compreensão subjetiva ou intersubjetiva dos fenômenos em suas diversas manifestações e contextos. E somente o sujeito pode compreender o fenômeno através do contexto histórico no qual ocorre.

Assim, a compreensão implica em o sujeito, com suas pré-compreensões, estabelecer um novo horizonte no presente, ou seja, dar um novo sentido, uma nova forma de ser em si mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição Federal. 15º edição. São Paulo: Saraiva, 2009.

D’AGOSTINI, Franca. Analíticos e Continentais. São Leopoldo, RS: Unisinos, 2002.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 7. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo: Parte I. 12º edição. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. LUFT. Dicionário. Ministério da educação. Brasília: Ática, 2001.

TREVISAN, Amarildo Luiz. DEVECHI, Catia Piccolo Viero. Sobre a proximidade do senso comum das

pesquisas qualitativas em educação: decadência ou déficit teórico? Rio Grande do Sul: Santa Maria,

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