• Nenhum resultado encontrado

MAPA 2 - O mapa da divisão africana a partir da Conferência de Berlim

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "MAPA 2 - O mapa da divisão africana a partir da Conferência de Berlim"

Copied!
28
0
0

Texto

(1)
(2)

MAPA 1 – A região dos Grandes Lagos

MAPA 2 - O mapa da divisão africana a partir da Conferência de Berlim

MAPA 3 - O mapa do genocídio de Ruanda

(3)

ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

AGNU Assembleia Geral das Nações Unidas

CNUDH Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos

CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas

DUDH Declaração Universal de Direitos Humanos

FPR Frente Patriótica Ruandesa

OIM Organização Mundial de Migração

ONU Organização das Nações Unidas

OUA Organização da Unidade Africana

UNAMIR Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda (em inglês, United Nations Assistance Mission for Rwanda)

UNCTAD Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (em inglês, United Nations Conference on Trade and Development)

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (em inglês, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization)

(4)

SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA... 5

2 APRESENTAÇÃO DO TEMA ... 6

2.1 O genocídio ... 10

2.2 A questão da transnacionalidade das etnias ... 14

3 CONCEITOS GERAIS ... 15

a. Direitos Humanos ... 16

b. Nacionalismo: ... 17

c. Migração em massa: ... 17

4 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ ... 18

5 POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES ... 19

5.1 Ruanda: ... 19

5.2 Tanzânia/ Uganda/ Zaire ... 20

5.3 Burundi: ... 21

5.4 Organizações Internacionais ... 21

6 QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES ... 21

REFERÊNCIAS ... 22

(5)

1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA Diretora - Yasmim Debossan

Olá senhoras delegadas e senhores delegados, bem-vindos à Organização da Unidade Africana 1994! Meu nome é Yasmim Debossan, tenho 20 anos e durante o 21º MINIONU estarei cursando o 6º período de Relações Internacionais. Minha experiência no MINIONU começou em 2015, quando fui delegada no comitê AGNU (2030) - A formação do Curdistão; em 2016 participei do Comitê em espanhol OSCE - Tráfico de pessoas; e em 2017 na OMS - A volta do Ebola na Líbia. Em 2018, já como parte da equipe organizadora, fui Voluntária no Comitê AGNU 2018 - O uso da mídia pelo Estado Islâmico - e em 2019 fui Diretora Assistente do UNDESA 2009 - A crise econômica mundial. O MINIONU foi uma oportunidade única na minha vida e crucial para minha escolha do curso de Relações Internacionais, todas as experiências que tive na simulação foram incríveis e contribuíram muito para o meu crescimento pessoal, cada uma a seu modo. É com imensa alegria que no 21º MINIONU serei Diretora no Comitê OUA 1994 e espero contribuir da melhor forma possível para que tenhamos uma excelente simulação. Bons estudos e nos vemos em outubro!

Diretora Assistente – Emanuelle Freitas

Olá senhores delegados e senhoras delegadas, sejam bem-vindos ao comitê da OUA 1994! Meu nome é Emanuelle F. Freitas e é com grande entusiasmo que me apresento como Diretora Assistente a vocês! Tenho 20 anos e estou cursando o 5º período de Relações Internacionais na PUC-MG. No ano passado participei do MINIONU como voluntária no comitê do FMI 2018, no qual pude aprender e amadurecer muito, tanto academicamente quanto pessoalmente. Não tenho dúvidas que esse comitê será incrível e que teremos um ótimo debate. O projeto é uma oportunidade incrível para vocês se socializarem, aprenderem e criarem vínculos, por isso esperamos proporcionar a melhor simulação possível para vocês, sempre prezando pelo respeito! Desejo bons estudos a todos e até outubro!

Diretora Assistente – Rachel Carvalho

Olá prezados delegados e delegadas, sejam bem-vindos à Organização da Unidade Africana (OUA)! Me chamo Rachel Antunes, tenho 19 anos e é com muito orgulho e alegria que me apresento como uma das Diretoras Assistentes do comitê OUA 1994 – O Genocídio de Ruanda e a reconstrução da paz -, durante o MINIONU estarei no 4º período de Relações

(6)

Internacionais da PUC (Unidade Praça da Liberdade), sendo esta minha segunda participação no projeto. Apesar de conhecer o MINIONU desde o Ensino Médio, não tive a oportunidade de participar como delegada, uma vez que não havia escolas envolvidas nele em Uberaba, cidade do Triângulo Mineiro de Minas Gerais, onde eu morava. Entretanto, ingressei no “MINIONU 20 anos” como voluntária no comitê UNODC (2018) – Combate Internacional ao Tráfico Humano, em que tive uma experiência única de aprendizado e relacionamento profissional. Dessa forma, espero ansiosamente para fazer parte da OUA com vocês durante a 21ª edição do MINIONU, espero poder ajudá-los, junto aos meus colegas de comitê, para que tenham a melhor simulação possível. Vejo vocês em outubro!

2 APRESENTAÇÃO DO TEMA

A República de Ruanda, popularmente conhecida como País das Mil Colinas, devido a sua geografia física montanhosa, é um Estado de apenas 26 mil quilômetros quadrados localizado na região dos Grandes Lagos (composta por Etiópia, Quénia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Burundi, República do Zaire, Malawi e Moçambique). Por ser historicamente palco de vários conflitos violentos e guerras civis após a independência dos Estados africanos, a região dos Grandes Lagos é caracterizada por uma profunda crise democrática e de soberania territorial, o que levou a Organização da Unidade Africana (OUA) a defender, no período pós Guerra Fria, a soberania territorial1 e a independência política dos Estados africanos, como forma de amenizar os conflitos regionais (BIZAWU, 2007)

1 Segundo Matteucci (1998), o conceito político-jurídico de Soberania está relacionado ao máximo poder de mando

em uma sociedade. Ou seja, dizemos que um Estado possui soberania, pois dentro do seu território, possui legitimidade para agir em última instância

(7)

MAPA 1 – A região dos Grandes Lagos

(UNITED NATIONS, 2020)

Como pode ser visto no mapa acima, Ruanda é um Estado que faz fronteira com a Tanzânia, com o Zaire, com a Uganda e com o Burundi. Pelos fatores sociais e históricos, a economia ruandesa é considerada frágil, o que é ainda mais agravado pelo fato de Ruanda não ter saída para o mar e pela moeda (Franco Ruandês - FRw) ser fraca e desvalorizada; a economia é majoritariamente baseada no plantio de banana e mandioca, além das importantes exportações de chá e de café.

A agricultura é responsável pelo emprego da maioria da população - os Hutus -, enquanto a minoria da população - os Tutsis - fica a cargo da pecuária. Dessa forma, afirma-se que a população de Ruanda é majoritariamente rural, sendo que apenas cerca de 18% da população está localizada na área urbana, incluindo a capital Kigali. Do ponto de vista étnico, Ruanda é composta pelo povo Bantu, que pode ser dividido entre Hutus (maioria, cerca de 80% da população), Tutsis (cerca de 19% da população) e Twás (1% da população). O conflito entre os dois primeiros no ano de 1994 trouxe grande atenção do mundo para o País das Mil Colinas e para os problemas que constrangem a comunidade internacional. No entanto, a grande rivalidade entre as etnias Tutsis e Hutus que causou um dos maiores genocídios já visto na história nem sempre existiu (ANDRADE, 2015).

Sendo membros de um mesmo grupo étnico-linguístico (os Bantu), os Tutsis e Hutus falam a mesma língua (Kinyarwanda) e também possuem a mesma religião. Segundo Teresa

(8)

Pinto (2011, p. 45), qualquer genocídio tem suas causas históricas e suas consequências imprevisíveis para o futuro, ultrapassando os limites temporais e geográficos. Dessa forma, para que se entenda os antecedentes do genocídio em Ruanda, em 1994, é necessário retroceder mais de um século e remeter à Ata Geral da Conferência de Berlim (1885) que institucionalizou a colonização dos africanos por parte dos europeus nos anos subsequentes, com o discurso de “levar a civilização e a democracia” para o continente africano. É também importante salientar que, até o ano de 1889, as fronteiras dos Estados africanos haviam sido delimitadas de maneira arbitrárias pelos europeus, sem que questões regionais religiosas, étnicas, culturais e políticas fossem levadas em consideração, o que acarretou na união, dentro de um mesmo território, de etnias inimigas, cujas consequências são extremamente danosas para o desenvolvimento da região até hoje (DÖPCKE, 1999).

MAPA 2 - O mapa da divisão africana a partir da Conferência de Berlim

(BEZERRA, 2020)

Tutsis e Hutus conviviam na mesma área por séculos, travando disputas territoriais através de guerras e, por vezes, através de negociações pacíficas, mas sua convivência era consideravelmente estável, fato exemplificado pelos casamentos que ocorriam entre Tutsis e Hutus (FLORÊNCIO, 2000). Após a Conferência de Berlim (1884-1885) e a delimitação das

(9)

fronteiras de Ruanda, Tutsis e Hutus passaram a compartilhar um mesmo território sob o comando alemão de 1890 até o fim da Primeira Guerra Mundial. Com a derrota da Tríplice Aliança, o controle de Ruanda passa a ser da Bélgica, que começa a estabelecer regras e a modificar a estrutura social deste Estado para garantir seu domínio (BATISTA, 2010, p. 104),

promovendo uma política de favorecimento da minoria Tutsi, utilizando da teoria pseudocientífica das raças para alegar que os Tutsis seriam teoricamente superiores aos Hutus por serem mais altos e terem o nariz mais fino, assemelhando-se, supostamente, aos europeus. Os Tutsis eram majoritariamente pecuaristas enquanto os Hutus eram majoritariamente agricultores; o fato de que, pela cultura dos Tutsis e dos Hutus, o gado era mais importante do que a produção agrícola, tornava os Tutsis a elite econômica. Devido aos Tutsis serem uma minoria demográfica, o que por si só já facilitava o controle belga para impedir revoltas, e ainda com maior controle econômico, fez com que o governo da Bélgica concedesse aos Tutsis cargos políticos e menosprezassem a maioria Hutu, o que fez com que os Tutsis se tornassem uma “maioria política”, alimentando, assim, por mais de cinquenta anos uma rivalidade histórica que resultou no genocídio de 1994 (ANDRADE, 2015, p. 4).

É importante salientar que nem toda a culpa do genocídio pode recair somente sobre a colonização europeia de Ruanda. Todavia, é inegável que a rivalidade e os conflitos entre Tutsis e Hutus foram fomentados e alimentados pelo colonialismo da Alemanha e principalmente da Bélgica, uma vez que a desordem local e os conflitos inter-étnicos favoreciam o domínio europeu. Para Pereira (2013, p. 182), “não se pode afirmar que o ódio que levou ao genocídio dos tútsis tem como causa única o imperialismo europeu”, sendo também necessário considerar aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais da região, embora a colonização europeia possa ser considerada como a origem do ódio e da intolerância entre os grupos.

Após a independência de Ruanda, em 1961, ocorreu a chamada “Revolução Hutu”, que destituiu a então monarquia Tutsi e instaurou um governo Hutu, sob a presidência de Kayibanda, que começou a hostilizar os Tutsis, fazendo com que muitas pessoas desse grupo fugissem para países vizinhos. Em 1990, no governo do presidente Juvénal Habyarimana - que subiu ao poder em 1993 -, os Tutsis que haviam fugido para Uganda após 1961 e seus descendentes formam um grupo, a “Frente Patriótica Ruandesa” (FPR), que começa a exigir, com o apoio da Uganda, seu direito de retorno e representação no governo (VEZNEYAN, 2009, p. 291-294). Quando a FPR invade o território ruandês, o conflito começa a escalar com o início da guerra civil entre os grupos extremistas Hutu (Poder Hutu) e Tutsi (Frente Patriótica Ruandesa). Já com os ânimos extremamente acirrados, o presidente Habyarimana, membro da etnia Hutu, é forçado pela dinâmica doméstica e pelas pressões exercidas pelo Ocidente a ir até

(10)

a Tanzânia assinar um acordo de paz com a FPR (“Acordos de Arusha”), concordando em dividir o poder entre Tutsis e Hutus, o que contrariava os interesses dos membros do governo Hutu (ANDRADE, 2015).

Durante a viagem de retorno, o avião do presidente Juvénal Habyarimana, é abatido por um míssil, provocando a morte dos presidentes ruandês, Juvénal Habyarimana, e burundinês, Cyprien Ntaryamira. A queda do avião foi o estopim do genocídio de Ruanda: o governo Hutu, argumentando que o avião havia sido derrubado pelos Tutsis, começa a convocar, através de propagandas no rádio e na televisão e por milícias paramilitares, o povo Hutu para matar Tutsis (ANDRADE, 2015). Todos os cidadãos de Ruanda eram, assim, obrigados a carregar consigo carteiras de identidade para comprovarem de qual grupo faziam parte, afinal, ser Tutsi, nesse momento, significava provavelmente a morte. Armados pelo governo com facões, bastonetes, machados, facas e pedras, estima-se que extremistas Hutus massacraram cerca um milhão de Tutsis e de Hutus moderados em cerca de três meses (VEZNEYAN, 2009).

2.1 O genocídio

Considera-se genocídio uma prática sistemática contra a população civil, incluindo assassinatos, estupro e qualquer outro tipo de profanação ou destruição de uma cultura específica, cujo dolo seria puramente exterminar um povo por aquilo que ele é (CANÇADO TRINDADE, 2016). O termo “genocídio” foi sendo construído por Raphael Lemkin desde 1915 com estudos sobre o genocídio armênio, praticado pelos turcos, mas só foi completamente fundamentado após os horrores da Segunda Guerra Mundial. A palavra genocídio representa a união das palavras grega “genos”, que significa “tribo” e “cida”, que significa “matar”; todavia, na obra de Lemkin, citada por Andrea Borelli (2010, p. 119-131), a prática do genocídio é retratada de maneira muito mais profunda, como um conjunto de ações que visam atingir um determinado grupo cultural por aquilo que ele é:

Genocídio não significa necessariamente a destruição em massa de todos os membros. Objetiva significar um plano coordenado de diferentes ações dirigidas à destruição das fundações da vida nacional de um grupo, com o objetivo de aniquilar o grupo em si. Os objetivos deste plano serão a desintegração das instituições políticas e sociais, da cultura, da língua, do sentimento nacional, da religião e da existência econômica dos grupos nacionais [...]. O genocídio é dirigido contra o grupo nacional como um todo e as ações são dirigidas às pessoas não como indivíduos, mas como membros de um grupo nacional (LEMKIN, 2010 apud BORELLI, 2010, p. 125).

Dessa forma, observa-se a grande importância dada por Lemkin à destruição do legado cultural de um povo na prática do genocídio, como a destruição de livros e de obras de arte.

(11)

Após o Tribunal de Nuremberg, no qual Lemkin foi convidado para compor a comissão que redigiria a Convenção Sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948), que tinha as pretensões de considerar o genocídio um crime cujo objetivo seria exterminar um grupo nacional, e cujos responsáveis seriam tanto os líderes que incentivaram a prática, quanto seus executores. Além disso, os Estados deveriam, além de formular políticas domésticas para prevenção e punição do crime, responder por seus atos perante a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) (SAYAPIN, 2010 apud BORELLI, 2010, p. 129).É também importante notar, nesse quesito, a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Convenção Sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 1948 que caracterizou, no seu documento final, genocídio como um conjunto de atos capazes de causar grave dano à integridade física ou mental (parcial ou total) de membros de um grupo específico. Esse conjunto de atos pode ser caracterizado como:

a. Matar os membros de um grupo;

b. Colocar a integridade física dos membros de um grupo em risco; c. Impor medidas direcionadas a provocar a morte de um indivíduo; d. Impor medidas para controlar a natalidade de um determinado grupo; e. A transferência de crianças de um grupo para outro.

Tendo em vista a discussão acima elaborada sobre o conceito de genocídio e suas práticas, analisa-se o caso de Ruanda, no qual, após o início da guerra civil em 1990, começa-se o processo de “desumanização do outro” quando os Hutus começam a propagar, através das escolas e dos rádios, uma “ideologia Hutu”, que instiga o medo na população Hutu e o abandono do sentimento de compaixão em relação aos Tutsis. Para tal, ocorre uma verdadeira manobra de propagandas por meio de rádios, jornais e televisão incentivando, através de campanhas como “os dez mandamentos anti-Tutsi, para um bom Hutu”, o extermínio dos Tutsis, considerados como inimigos da República (VEZNEYAN, 2009, p. 291). Nesse sentido, os Tutsis começam a ser tratados como inimigos e a serem chamados de “baratas”, em um processo de animalização do outro como política de Estado2, que, segundo Sémelin (2009, p. 69), é um forte indicativo de que um genocídio está a caminho:

Não há dúvida, porém, de que a desumanização age, nesse caso, mediante a animalização do Outro, colocando-o fora do campo das relações humanas. Começa-se a matá-lo com palavras que desqualificam a sua humanidade. [...] A carga imaginária é bem mais hostil e perversa: os nazistas se referiam aos judeus como vulgares ratos ou piolhos, enquanto os Hutus extremistas

2 Segundo Weber, “Estado é uma comunidade humana que reclama para si o monopólio legítimo da força em um

(12)

chamavam os invasores Tutsis de baratas (inyenzi). E não seria um “direito” se livrar dos animais nocivos? É um gesto doméstico, de pura higiene. Todo mundo pode fazer esse gesto, todo mundo deve fazê-lo (2009, p. 69)

Em 1993, o Sistema Internacional passa a notar as complicações que decorriam da guerra civil em Ruanda e passa a interferir no conflito, facilitando os acordos de Arusha. Nesse mesmo ano, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprova uma missão de paz em Ruanda, batizada como Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda3, cujo

objetivo era supervisionar o cumprimento dos princípios estabelecidos nos Tratados de Arusha; no entanto, essa operação de paz contava com poucos soldados e armamentos defasados. As tropas da ONU se veem, então, diante da preparação do Estado de Ruanda para um genocídio, adquirindo armamentos e treinando milícias e, mesmo sabendo do que estava para acontecer, a ONU e todo o Sistema Internacional insistem em manter sua atuação circunscrita à Resolução do CSNU (VEZNEYAN, 2009, p. 292).

Relatos presentes na obra de Hatzfeld (2005) mostram que, após a queda do avião que levava o presidente Habyarimana, o próprio Estado foi o promovedor do genocídio, como pode ser notado no relato de Élie: “devíamos agir depressa, não tínhamos direito a dias de folga, muito menos aos domingos, era preciso terminar. Havíamos suprimido todas as cerimônias. Estávamos todos igualmente recrutados para um só trabalho: matar todas as baratas” (HATZFELD, 2005, p. 22) e no relato de Jean-Baptiste:

No dia 10 de abril, o burgomestre4, de traje plissado e todas as autoridades nos

convocaram para uma reunião. Passaram-nos um sermão, ameaçaram de antemão aqueles que fizessem um serviço porco; e as matanças começaram sem um método elaborado. As únicas regras eram perseverar até o fim, manter um ritmo satisfatório, não poupar ninguém e empilhar o que se encontrasse (HATZFELD, 2005, p. 23)

O genocídio de Ruanda que se seguiu então não foi só o mais letal considerando-se o período de tempo, mas também foi aquele que expôs da maneira mais aberta a herança da colonização branca europeia, além de escancarar as falhas da comunidade internacional de manter a paz após a Segunda Guerra Mundial. O que difere esse massacre dos anteriores acontecidos em Ruanda desde sua independência é que em 1994 as forças do governo Hutu ruandês montaram um cerco do país, fechando as saídas e monitorando as colinas, tornando a fuga de Tutsis algo extremamente improvável, o que nunca tinha acontecido até então. Dessa forma, os principais pontos de refúgio encontrados pelos Tutsis e Hutus moderados foram

3 Em inglês, United Nations Assistance Mission for Rwanda - Unamir

4 Segundo Ferreira (2006), autor do Minidicionário Aurélio, burgomestre é o “magistrado principal em municípios

(13)

igrejas e hospitais, que, delatados nos rádios, se tornaram os locais dos principais e maiores extermínios acontecidos, a exemplo da Igreja de Ntarama, onde cinco mil pessoas foram mortas em apenas um dia (VEZNEYAN, 2009, p. 295-297). Segundo relatos de sobreviventes, as igrejas eram consideradas lugares seguros, afinal, não se acreditava que poderiam ocorrer assassinatos em um lugar sagrado, como mostra o relato da sobrevivente Francine Niyitegeka (2020):

A Interahamwe5 começou a caçar Tutsis na nossa colina no dia 10 de abril. No mesmo

dia, nós subimos e saímos em grupo, planejando ficar na igreja de Ntarama porque nunca tinham matado famílias nas igrejas.

Esperamos cinco dias. Um fluxo interminável de camponeses continuava a chegar, viemos a ser uma grande multidão. Quando o ataque começou, havia muito barulho a cada massacre. Mas eu reconheci os rostos de muitos vizinhos que mataram com todas as suas forças. Muito cedo, eu senti um golpe. Desmaiei entre algumas bancadas, um pandemônio à volta. Quando acordei, verifiquei que eu não estava morrendo. Arrastei-me entre os corpos e escapei para o mato. Entre as árvores, deparei-me com um grupo de fugitivos e corremos até aos pântanos. Eu provavelmente permaneci lá por um mês (NIYITEGEKA, 2020, tradução nossa)6

5 A Interahamwe foi uma das principais milícias armadas Hutu, responsável por grande parte dos massacres de

1994 (TAYLOR, 2011)

6 “The interahamwe began hunting down Tutsis on our hill on the 10th of April. The same day, we upped and

left in a group, planning to stay in the church in Ntarama because they had never been known to kill families in churches.

We waited five days. An endless flow of fellow farmers kept arriving, we came to be a large crowd. When the attack began there was too much noise to take in every twist and turn of the killings. But I recognized many neighbors’ faces as they killed with all their might. Very early on, I felt a blow. I collapsed between some benches, pandemonium all around. When I woke up, I checked to see that I was not dying.

I crept out amongst the bodies and escaped into the bush. Amongst the trees, I came across a group of fugitives and we sprinted all the way to the marshes. I was to remain there a month.” (Francine Niyitegeka, 2020)

(14)

MAPA 3: O mapa dos maiores massacres durante o genocídio de Ruanda e as principais migrações por ele causadas

(LOBO, 2019)

2.2 A questão da transnacionalidade das etnias

Como já foi tratado, Tutsis e Hutus, como membros do grupo étnico-linguístico Bantu, conviveram juntos na região dos Grandes Lagos africanos durante séculos, travando disputas de poder e de território. Com o processo de independência configurando fronteiras a partir das bases territoriais da colonização europeia, a região dos Grandes Lagos foi dividida em nove Estados. A região ocupada tradicionalmente por Hutus e Tutsis passaram a dispor de uma intricada configuração etno-linguística na qual territórios nacionais se formaram desconsiderando antigos processos de cooperação entre povos ou suas rivalidades.

(15)

Mapa 4: As fronteiras étnicas e políticas da África

(HI7, 2020)

Para Gomes e Merchán (2017), transnacional é aquilo “que ultrapassa os limites da nacionalidade”. Tendo isso em vista, podemos afirmar que quando o Estado ruandês foi formalmente criado, Tutsis e Hutus passaram a ser etnias localizadas em mais de um país, ou seja, transnacionais. É importante também salientar que as emigrações (movimento de saída) de Tutsis e de Hutus ruandeses em diversas épocas, como após a independência de Ruanda em 1961 (com a ascensão do Poder Hutu), não foram responsáveis pela transnacionalidade desse povo, mas sim o processo de formação dos Estados da região dos Grandes Lagos. Dessa forma, existem Tutsis e Hutus localizados no território de Ruanda, do Burundi, do Zaire, etc. Tal fato possibilitou que, ao longo da história, ocorressem conflitos regionais, como por exemplo, o favorecimento do governo Hutu ruandês por parte do governo Hutu burundinês, e o massacre de migrantes Hutus em países nos quais existia uma preponderância Tutsi.

3 CONCEITOS GERAIS

Nessa seção vamos apresentar alguns conceitos importantes para os debates durante os dias da simulação.

(16)

a. Direitos Humanos: Os Direitos Humanos buscam resguardar os direitos de todo e

qualquer cidadão global, independente de sua etnia, sexo, nacionalidade, idioma, ou qualquer outra índole (ONU, 2019). A ideia de direitos fundamentais do ser humano começou a ganhar força durante a Revolução Francesa, mas só foi formalizada na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948), DUDH, no contexto pós Segunda Guerra Mundial, com a intenção de evitar novos genocídios; até a Segunda Guerra, a questão de direitos fundamentais do ser humana era vista como um objeto a ser tratado no âmbito doméstico, no entanto, com o Holocausto ocorre a percepção de que o próprio Estado pode ser um agente descumpridor desses direitos, o que começa a internacionalizar a questão (MARTINS, 2017).

A DUDH e a Carta da ONU (1945) sinalizam valores sobre os quais o regime de Direitos Humanos se sustenta, como a dignidade humana, a igualdade em direitos e a não-discriminação. Marshall e Vasak, conforme citados na obra de Dias e Machado (2017), defendem que os Direitos Humanos podem ser divididos, de maneira geral, em três gerações, apesar de ser necessário considerar os aspectos históricos de cada região:

1. Primeira geração - direitos liberais (século XVIII): em conformidade com o constitucionalismo ocidental vigente na época, prega a defesa dos direitos civis e políticos, colocando o indivíduo como central frente ao Estado;

2. Segunda geração - direitos sociais (século XIX): em meio a um contexto de percepção das desigualdades e da existência de privilégios de alguns frente a outros, começa-se o discurso da defesa dos direitos políticos, econômicos e de propriedade, promovendo a defesa da garantia de educação, saúde, segurança pública, etc; 3. Terceira geração - direitos difusos (século XX): noção de defesa do bem comum dos

indivíduos, como os direitos sobre leis ambientais, patrimônios históricos, paz e desenvolvimento;

É também importante salientar que, apesar de existirem gerações, os Direitos Humanos são indivisíveis e interdependentes entre si, ou seja, não se assume uma noção de evolução dos Direitos Humanos, as gerações formam um conjunto único, sendo que nenhuma substitui a outra. A DUDH é um documento de grande legitimidade no Sistema Internacional, mesmo entre aqueles Estados que não a ratificaram, apesar de ser largamente criticada por não considerar diferenças culturais. Assim sendo, a Declaração é considerada

(17)

uma fonte de soft law7, ou seja, foi incorporada no Direito Internacional Público como uma norma válida devido à repetição intensa de hábitos que a legitimam, principalmente no que está relacionado aos Direitos Humanos de primeira geração (ARAGÃO, 2009). A Declaração também forneceu bases para que outros mecanismos de promoção dos Direitos Humanos fossem criados, a exemplo das várias convenções internacionais, a exemplo da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948).

b. Nacionalismo: Podemos conceber uma nação como um conjunto de pessoas ligadas por

uma mesma cultura e tradições, mas que ao mesmo tempo são comunidades muito mais ideológicas que concretas, segundo Schwarcz (2008, p. 12), no prefácio da obra de Benedict Anderson (2008):

Por fim, nações são imaginadas como comunidades, na medida em que, independentemente das hierarquias e desigualdades efetivamente existentes, elas sempre se concebem como estruturas efetivas existentes, elas sempre se concebem como estruturas de camaradagem horizontal. Estabelece-se a ideia de um ‘nós’ coletivo, irmanando relações em tudo distintas (SCHWARCZ, 2008, p. 12)

Tendo como base do nacionalismo a noção de origem comum, adotamos, dessa forma, o conceito de nacionalismo como “uma política consciente e autodefensiva” (ANDERSON, 2008, p.221). Assim, é importante notar que o sentimento de pertencimento a uma comunidade costuma criar a distinção entre “nós” e “outro”, o que historicamente se mostrou problemático, na medida em que já provocou inúmeros conflitos entre povos, a exemplo do genocídio armênio, do Holocausto e da guerra da Bósnia.

c. Migração em massa: Migração é o movimento de uma pessoa ou grupo de pessoas de

uma unidade geográfica para outra através de uma fronteira política ou administrativa, que deseja se instalar definitiva ou temporariamente em um lugar diferente de seu lugar de origem. Há vários motivos para que migrações em massa aconteçam: mudanças climáticas, catástrofes naturais, pobreza e desigualdade social, perseguição étnica etc. No caso dos Tutsis, que emigraram de Ruanda após a independência para fugir de perseguições e retaliações do governo Hutu, a migração é caracterizada como forçada, visto que são compelidos a sair de seu local de origem para fugir de violências. Muitas são as

7 Segundo Mazzuoli (2018), soft law é um termo do Direito Internacional que se refere a regras que não têm caráter

coercitivo. É importante que os Direitos Humanos sejam uma fonte de soft law, pois assim os Estados não se veem vinculados com essa regra, o que facilita a adesão

(18)

consequências para os polos de atração de migrações em massa: falta de infraestrutura, incluindo alimentação, saúde e segurança, desemprego e xenofobia (ENRICONI, 2017).

4 APRESENTAÇÃO DO COMITÊ

Em 1963, a Organização da Unidade Africana (OUA) foi criada por 30 Estados africanos independentes pela Carta Manifesto pela Unidade Africana, com o objetivo principal de superar a colonização europeia e formar um bloco coeso, capaz de se integrar de maneira mais forte no Sistema Internacional. Baseando-se no pan-africanismo8, essa organização de caráter regional teve um importante papel na descolonização de alguns Estados na África, além de promover a paz e lutar contra o Apartheid (FERNANDES, 2016, p. 101-102).

Do ponto de vista processual, pontua-se que em 1994 a OUA tinha cinquenta e dois Estados Membros. Na época, o único Estado da África que não fazia parte da organização era Marrocos, que se retirou em 1985, em protesto a entrada do Saara Ocidental. Além disso, também é importante salientar que a reunião de chefes de Estado acontecia, no mínimo, uma vez ao ano e que as resoluções eram consensuais (GOMES, 2008).

O comitê é de caráter histórico, passando-se em maio 1994, bem em meio ao genocídio que ocorria em Ruanda e que só era agravado pelo silêncio que o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e as potências europeias no geral, em especial a Bélgica, manifestavam, além da interferência francesa politizada e polarizada que só piorou a situação. Em meio ao genocídio, as tropas da ONU, comandadas pelo Tenente-General Romeo Dallaire, se mostraram extremamente ineficientes para manter a paz; quando dez soldados belgas, membros dessa operação de paz, são capturados, torturados e mortos por Hutus, a ONU retira suas tropas e países como Estados Unidos, Itália e Bélgica começam a evacuar seus cidadãos do território ruandês. Todavia, a Sociedade Internacional, furtando-se de considerar o genocídio que se seguia como tal, uma vez que isso demandaria atitudes imediatas de sua parte, nada faz para proteger Tutsis e Hutus moderados (VEZNEYAN, 2009, p. 294-295). Diante da incapacidade da comunidade internacional de gerir a situação e garantir a manutenção da paz, a Organização da Unidade Africana se reuniria regionalmente com o objetivo de discutir, sem interferência de

8 Movimento político, social e filosófico de forte caráter ideológico continental que promove a ideia de que os

povos devem se unir como forma de lutar contra os problemas políticos, culturais e sociais da região. O pan-africanismo teve suporte em um conjunto de teorias sociais e importantes lideranças no transcurso das décadas (DECRAENE, 1962).

(19)

potências não africanas, medidas imediatas para cessar a situação, maneiras de impedir novos genocídios no futuro e termos para a reconstrução política e social de Ruanda.

Sendo assim, o comitê OUA 1994 contará com 26 delegações, sendo 21 Estados Membros da Organização e 5 membros observadores9; é importante notar que os membros observadores serão Organizações Internacionais, cujo objeto de atuação está intimamente relacionado com as discussões do comitê, e que terão um importante papel na mediação e na resolução do conflito. Todos os Estados possuem direito ao voto, sendo que o voto de todos possui o mesmo peso; os membros observadores, no entanto, não possuem direito ao voto em questões substanciais (questões que tratam de resoluções, por exemplo), mas possuem em questões procedimentais (questões que tratam do andamento do comitê, como por exemplo, o tipo de debate). Durante o comitê, as discussões serão realizadas através da Lista de Oradores, na qual as delegações colocam seus nomes na lista e, ao serem anunciados pela mesa, possuirão o direito ao discurso; tendo as delegações debatido e discursado, será necessária a elaboração de um documento, que deverá conter medidas que solucionem o tópico em debate; é importante notar que o comitê tem caráter consensual, ou seja, todos os Estados devem estar de acordo com as resoluções (caso algum Estado vote contra alguma resolução, ela será automaticamente reprovada), e vinculante, ou seja, as resoluções aprovadas devem necessariamente ser adotadas pelos Estados-membros da OUA.10

5 POSICIONAMENTO DOS PRINCIPAIS ATORES

Nessa seção serão abordados os posicionamentos de alguns atores durante a reunião da OUA 1994. É importante salientar que as demais delegações que aqui não foram citadas também são de extrema importância para as discussões e para o bom andamento do comitê e mais informações serão trazidas nos dossiês e no blog do comitê. Ademais, as posições aqui trazidas são para guiar os estudos dos senhores delegados e as posições abordadas dos atores principais não altera ou diminui, em nenhuma hipótese, a posição dos demais atores.

5.1 Ruanda: É importante relembrar que o genocídio está sendo promovido pelo próprio

governo ruandês, o que o torna uma política de Estado do Poder Hutu, que é o grupo que se encontra no poder em Ruanda durante as discussões. Além disso, o fato do massacre estar sendo promovido por campanhas nas rádios e nas escolas, faz com que o genocídio tenha

9 A lista completa das delegações está disponível no final do Guia de Estudos

10 Mais informações sobre os procedimentos do comitê, tais como a moderação, debates e resoluções, serão tratadas

(20)

sido institucionalizado, ganhando grande apoio e credibilidade por parte da população Hutu de Ruanda. O Poder Hutu se posiciona contra intervenções internacionais na questão doméstica, alegando que elas seriam uma forma de imposição internacional no seu âmbito doméstico, o que se configuraria como uma “quebra” da soberania ruandesa. Além disso, ainda existem dois pontos que fazem com que Ruanda não deseje intervenções na questão do genocídio:

1. Como já foi detalhado, a Organização das Nações Unidas já havia enviado operações de paz para Ruanda em 1993 por resolução do Conselho de Segurança. Tal intervenção, além de não ter promovido o efeito esperado, ainda piorou a visão internacional da questão ruandesa, após o assassinato de soldados belgas por membros da etnia Hutu;

2. O governo ruandês teme que intervenções mal sucedidas possam ser fonte para um aumento da desestabilização política de Ruanda, o que poderia abrir espaço para o avanço da FPR.

O governo ruandês confia que não haverá intervenções pelo fato de que o Poder Hutu estava dialogando com o governo francês do presidente François Mitterand (a França se configura como uma aliada de Ruanda, promovendo uma atuação em prol dos interesses do Poder Hutu) e que a população Hutu presente nos demais Estados fronteiriços pressionará seus governos locais para que não haja contra os interesses ruandeses (VEZNEYAN, 2009). Dessa forma, por tudo que aqui foi discutido, afirma-se que, no comitê OUA 1994, Ruanda adotará uma postura contra intervenções mediadas pela OUA e seguirá negando as proporções desastrosas do massacre.

5.2 Tanzânia/ Uganda/ Zaire: Como Estados vizinhos do conflito de Ruanda, os impactos

negativos do conflito de Ruanda acabam atingindo esses países. A chegada de refugiados, a formação de milícias paramilitares em seu território (como foi o caso de Ruanda), a contração econômica e o aumento da violência e da xenofobia envolvendo os refugiados são apenas alguns desses impactos que podem ser citados (PEREIRA, 2013). É também importante relembrar a questão da transnacionalidade das etnias, ou seja, também nos Estados vizinhos de Ruanda há pessoas das etnias Tutsi e Hutu, o que faz com que esse grupo de países tenda a mobilizar ao máximo, domesticamente e regionalmente, todo o tipo de ajuda necessária para findar o conflito, mas sem ir totalmente contra o Poder Hutu, para que não se criem levantes populacionais domésticos por parte dos Hutus (GOMES; MERCHÁN, 2017). Assim, por tudo que foi exposto, a Tanzânia, a Uganda e o Zaire adotarão uma postura conciliatória, tendendo a fugir de posições extremistas.

(21)

5.3 Burundi: Logo após a independência de Ruanda, em 1961, e a ascensão dos Hutus ao

poder, Tutsis começaram a emigrar e a buscar refúgios em Estados fronteiriços, entre eles, o Burundi. Ocorreu, então, um massacre, incitado pelo governo do Burundi, de cerca de 15 mil Tutsis, além de que esse Estado passou a promover políticas de favorecimento dos Hutus, uma vez que a população do Burundi é majoritariamente Hutu. Além disso, o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, também foi uma vítima da queda do avião que levava Juvénal Habyarimana para assinar o acordo de paz com a FPR em 1994 (BATISTA, 2010, p. 106). Assim, por tudo que foi exposto, o Burundi se caracteriza como um aliado do Estado de Ruanda e do governo Hutu.

5.4 Organizações Internacionais (membros observadores: Cruz Vermelha, Médicos sem

Fronteiras, ACNUR, CNUDH, UNESCO, OIM, Banco Mundial e UNCTAD): Organizações Internacionais (OIs) são, de maneira geral, agências especializadas que disseminam regras e normas de comportamento. As OIs adotam posturas conciliadoras e neutras, o que as torna extremamente importantes para mediar o conflito entre as partes (HERZ, 2004). Cada Organização presente no comitê atua em alguma área relacionada ao objeto do comitê, principalmente no que diz respeito à terceira parte da discussão (medidas para a reconstrução de Ruanda e para a manutenção da paz no continente africano como um todo), como reconstrução econômica (como é o caso do Banco Mundial e da UNCTAD), reconstrução social (CNUDH e UNESCO), cuidado dos feridos e das vítimas no geral (Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras), tratamento dos refugiados (OIM e ACNUR). Assim, por tudo que foi exposto, as Organizações Internacionais adotarão uma postura mediadora, sem tomar lados do conflito, mas tentando auxiliar a todos da melhor maneira possível.

6 QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES

a) Quais as medidas a serem tomadas a fim de cessar o mais rápido possível o genocídio? É necessária uma intervenção militar em Ruanda? Se sim, de que maneira?

b) Deve haver algum tipo de punição internacional para o Estado de Ruanda por ter cometido crime de guerra ou as punições devem ser feitas individualmente através da criação de Tribunais Internacionais?

c) De que maneira pode-se promover a democratização de Ruanda, a retirada do grupo radical do poder e a reinserção na comunidade internacional?

(22)

e) Quais as medidas capazes de promover a paz no âmbito regional e garantir que outro genocídio não ocorra?

REFERÊNCIAS

(23)

2008.

ANDRADE, Camila Santos. O processo de reconstrução pós-genocídio e a Cooperação Internacional Descentralizada em Ruanda: reflexões sobre o Estado de Mil

Colinas. Revista Debates, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p.1-21, set. 2015. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/sicp/wp-content/uploads/2015/09/ANDRADE-2015-O-processo- de-reconstru%C3%A7%C3%A3o-p%C3%B3s-genoc%C3%ADdio.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2019.

ARAGÃO, Eugênio. A Declaração Universal dos Direitos Humanos: mera declaração de propósitos ou norma vinculante de direito internacional?. 2009. Disponível em:

<http://www.prrj.mpf.mp.br/custoslegis/revista_2009/2009/aprovados/2009a_Dir_Pub_A ragao%2001.pdf&gt>. Acesso em: 06 nov. 2019.

BATISTA, Cleival Kisney da Silva. Ruanda: Uma análise da ingerência internacional em seus conflitos étnicos. Caderno de Relações Internacionais, Recife, v. 1, n. 1, p.102-152, jan. 2010.

BEZERRA, Juliana. Partilha da África: divisão do continente africano. divisão do continente africano. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/partilha-da-africa/. Acesso em: 19 jan. 2020.

BIANCHI, Álvaro. O conceito de Estado em Max Weber. Lua Nova, São Paulo, v. 0102-6445, n. 92, p.79-104, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n92/a04n92.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2018

BIZAWU, Sébastien Kiwonghi. Internacionalização dos conflitos na região dos grandes lagos. Revista da Escola Superior Dom Helder Câmara: Veredas do Direito, [s.i], v. 4, n. 7, p.1-30, jan. 2007.

BORELLI, Andrea. Um crime sem nome: Raphael Lemkin e o desenvolvimento do conceito de genocídio. In: ZAGNI, Rodrigo Medina; BORELLI, Andrea. Conflitos armados,

massacres e genocídios: constituição e violação do direito à existência na era contemporânea.

Belo Horizonte: Fino Traço Editora, 2013. Cap. 6. p. 119-131.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Atos de genocídio e crimes contra a humanidade: reflexões sobre a complementariedade da responsabilidade internacional, do indivíduo e do Estado. Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos, [s.l.], v. 16, n. 1, p.59-75, nov. 2016. Disponível em:

<http://revista.ibdh.org.br/index.php/ibdh/article/view/342/327>. Acesso em: 02 nov. 2019.

CONVENÇÃO, para a prevenção e a repressão do crime de genocídio. Nova Iorque, dez. 1948. Disponível em:

<https://www.oas.org/dil/port/1948%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20sobre%20a%20Prev en%C3%A7%C3%A3o%20e%20Puni%C3%A7%C3%A3o%20do%20Crime%20de%20Gen oc%C3%ADdio.pdf>. Acesso em 03 de janeiro de 2020

(24)

DIAS, Norton Maldonado; MACHADO, Edinilson Donisete. Reflexões sobre a crise na determinação dos direitos fundamentais nos pensamentos de Thomas Humphrey Marshall e Karel Vasak. Revista da Faculdade de Direito UFPR, Curitiba, PR, Brasil, v. 62, n. 1, jan./abr. 2017, p. 183 – 208. ISSN 2236-7284. Disponível em

<https://revistas.ufpr.br/direito/article/view/45775/32431>. Acesso em: 02 fev. 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/rfdufpr.v62i1.45775.

DÖPCKE, Wolfgang. A vida longa das linhas retas: cinco mitos sobre as fronteiras na África Negra. Revista Brasileira de Política Internacional, [s.l.], v. 42, n. 1, p.77-109, jun. 1999. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0034-73291999000100004. ENRICONI, Louise. A história mundial é uma história de migrações. 2017. Disponível em: <http://www.politize.com.br/migracoes-historia-mundial/&gt >. Acesso em: 06 maio 2018

FERNANDES, Márcia. A organização da unidade africana como expressão do projeto

político continental no pós-independência: disputa e reivindicações. Sankofa, São

Paulo, v. 9, n. 17, p.99-117, 15 ago. 2016. Universidade de Sao Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/issn.1983- 6023.sank.2016.119063. Disponível em:

<http://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/119063/116437>. Acesso em: 02 nov. 2019.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua

portuguesa. O dicionário da Língua Portuguesa. 6. ed. Curitiba: Editora Positivo, 2006.

FLORÊNCIO, Fernando. Ruanda No Epicentro Do Sismo Zairense: novas Variações Sobre O Tema De David Contra Golias. Revista África Debate, [S.I.], v4, n. 2, p. 46-56, dez. 2000

GOMES, Aliu. Ilusão de povo africano: de organização da unidade africana a carta africana dos direitos e dos povos. Revista Eletrônica do Curso de Direito da Ufsm, Santa Maria, v. 3, n. 1, p.51-65, 13 abr. 2008. Universidad Federal de Santa

Maria. http://dx.doi.org/10.5902/198136946827.

GOMES, Marcus Vinícius Peinado; MERCHÁN, Catherine Rojas. Governança

Transnacional: Definições, Abordagens e Agenda de Pesquisa. Revista de Administração

Contemporânea, [s.l.], v. 21, n. 1, p.84-106, fev. 2017. FapUNIFESP (SciELO).

http://dx.doi.org/10.1590/1982-7849rac2017150332.

HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

HERZ, Monica. Organizações Internacionais: histórias e práticas. histórias e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

HI7. Mapas de etnias/nações e países no continente africano. Disponível em: https://geografia.hi7.co/mapas-de-etnias-nacoes-e-paises-no-continente-africano 56c3d004f25b3.html. Acesso em: 19 jan. 2020.

(25)

LOBO, Ramón. Genocidio Ruanda: lección olvidada. lección olvidada. 2019. Disponível em: https://www.elperiodico.com/es/internacional/20190406/genocidio-ruanda-leccion-olvidada-7393302. Acesso em: 04 jan. 2020.

MARTINS, Leandra Rajczuk. Países que violam direitos humanos permanecem imunes a

processos em tribunais de outros países: Dissertação da USP analisa argumentos contra e a

favor da imunidade dos países nos casos de violação de Direitos Humanos. 2017. Disponível em:

<https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/04/18/paises-que-violam-direitos-humanos-permanecem-imunes-a-processos-em-tribunais-de-outros-paises/&gt> Acesso em: 01 maio 2018.

MATTEUCCI, Nicola. Soberania. In: BOBBIO, Noberto et al. Dicionário de Política. 11. ed. São Paulo: Unb, 1998. p. 1179-1188.

MAZZUOLI, V. O curso de direito internacional público. [s. l.], 2018. Disponível em <http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&amp;db=edsmib&amp;AN=edsmib.000 012026&amp;lang=pt-br&amp;site=eds-live&gt> Acesso em: 01 nov. 2019.

MUÑOZ, Alejandro. Regimes internacionais de direitos humanos. 2017. Disponível em: <https://sur.conectas.org/wp-content/uploads/2017/09/sur-25-portugues-alejandro- anaya-munoz.pdf&gt> Acesso em 04 nov. 2019.

NIYITEGEKA, Francine. Rwandan Stories: ntarama church suvivors. Ntarama Church Suvivors. 2020. Disponível em:

<http://www.rwandanstories.org/genocide/ntarama_church.html#2>. Acesso em: 15 mar. 2020.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. A declaração universal dos direitos

humanos. 1948. Disponível em <

https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2020.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. 1945. Disponível em: <

https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2017/11/A-Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf>. Acesso em: 03 jan. 2020

PEREIRA, Flávio de Leão Bastos. Algumas considerações sobre o genocídio em Ruanda. In: ZAGNI, Rodrigo Medina; BORELLI, Andrea. Conflitos armados, massacres e

genocídios: constituição e violação do direito à existência na era contemporânea. Belo

Horizonte: Fino Traço Editora, 2013. Cap. 10. p. 181-196.

PINTO, Teresa Nogueira. Ruanda: Entre a segurança e a Liberdade. Relações Internacionais, [s.l.], v. 1, n. 32, p.45-57, mar. 2011. Disponível em:

<http://www.scielo.mec.pt/pdf/ri/n32/n32a04.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2019.

SÉMELIN, Jacques. Purificar e Destruir: Usos políticos dos massacres e dos genocídios. Rio de Janeiro: Diefel, 2009.

TAYLOR, Christopher C.. Sacrifício rei, estado ruandês e genocídio. Caderno Crh, [s.l.], v. 24, n. 61, p.63-79, abr. 2011. FapUNIFESP (SciELO).

(26)

http://dx.doi.org/10.1590/s0103-49792011000100005. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792011000100005>. Acesso em: 15 mar. 2020.

UNITED NATIONS. The Great Lakes Region. 2020. Disponível em:

https://www.un.org/Depts/Cartographic/map/profile/glr.pdf. Acesso em: 28 maio 2020.

VEZNEYAN, Sergio. Genocídios no século XX: uma leitura sistêmica de causas e consequências.. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009.

WEBER, Max. A política como vocação. In: WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. duas vocações. São Paulo: Martin Claret Ltda., 2015. Cap. 4. p. 61-139.

LISTA DE DESIGNAÇÕES

Delegação Status

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

(27)

(ACNUR)

Banco Mundial Membro Observador

Cruz Vermelha Membro Observador

Médicos Sem Fronterias (MSF)

Membro Observador Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)

Membro Observador

República Árabe do Egito Membro Oficial

República Centro-Africana Membro Oficial

República da África do Sul Membro Oficial

República da Zâmbia Membro Oficial

República de Angola Membro Oficial

República de Madagascar Membro Oficial

República de Moçambique Membro Oficial

República Democrática e Popular da Argélia Membro Oficial República Democrática Federal da Etiópia Membro Oficial

República de Ruanda Membro Oficial

República de Uganda Membro Oficial

República do Burundi Membro Oficial

República do Chade Membro Oficial

República do Malawi Membro Oficial

República do Quênia Membro Oficial

República do Senegal Membro Oficial

República do Sudão Membro Oficial

República do Zaire Membro Oficial

República Federal da Nigéria Membro Oficial

República Islâmica da Mauritânia Membro Oficial

(28)

Referências

Documentos relacionados

Portanto, conclui-se que o princípio do centro da gravidade deve ser interpretado com cautela nas relações de trabalho marítimo, considerando a regra basilar de

A Fraternidade, assim, aplicada às questões de identidade de gênero, e em especial às identidades “trans” funcionará como uma possibilidade real de reconhecimento

Nessa medida, procedeu-se inicialmente à revisão da literatura disponível sobre a resiliência, com especial ênfase na sua relação com a prática desportiva e o suporte social,

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

patula inibe a multiplicação do DENV-3 nas células, (Figura 4), além disso, nas análises microscópicas não foi observado efeito citotóxico do extrato sobre as

Para devolver quantidade óssea na região posterior de maxila desenvolveu-se a técnica de eleva- ção do assoalho do seio maxilar, este procedimento envolve a colocação de

Durante este estágio, tive também a oportunidade de frequentar o serviço de urgência,. onde me foi possível observar a abordagem do doente pediátrico, as patologias

mais generalistas. Constatei que, sendo a Medicina Geral e Familiar o pilar da prestação de cuidados primários de saúde, engloba uma enorme abrangência de abordagens, que vão desde