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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Força-Tarefa Brumadinho

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Fo rça-Tare fa Bru ma d inho

EXMO(A) SR(A) DESEMBARGADOR(A) RELATOR(A) DA ___ CÂMARA CÍVEL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por intermédio da Procuradora de Justiça e Promotores de Justiça que subscrevem, vem mui respeitosamente, com fulcro no artigo 1.015, inciso I, do Código de Processo Civil, interpor recurso de

AGRAVO DE INSTRUMENTO

em face da decisão interlocutória proferida no dia 31 de maio de 2019, pela Juíza de Direito da 1ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da Comarca de Brumadinho, autos da Ação Civil Pública 5000053-16.2019.8.13.0090, no que tange aos indeferimentos, em sede de liminar de tutela de urgência da garantia no valor de R$50.000.0000.000,00 (cinquenta bilhões de reais) e da produção antecipada de provas requeridas.

Atendendo ao disposto no artigo 1.016, inciso IV, do Código de Processo Civil, informa que o agravado é representado judicialmente perante esse Tribunal pelos Advogados SERGIO BERMUDES, MARCIO VIEIRA SOUTO COSTA FERREIRA, FABIANO ROBALINHO CAVALCANTI, CAETANO BERENGUER, WILSON PIMENTEL, MATHEUS PINTO DE ALMEIDA, THAÍS VASCONCELLOS DE SÁ, CAROLINA SALLES SIMONI, ANA JULIA GREIN MONIZ DE ARAGÃO e

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Fo rça-Tare fa Bru ma d inho

ANA VICTORIA PELLICCIONE DA CUNHA, inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, sob os nos 17.587, 59.384, 95.237, 135.124, 122.685, 172.498, 178.816, 199.979, 206.830, e inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado de Minas Gerais, sob os nºs, 177.465, 177.504, 176.848, 177.466, 177.418, 177.422, 177.420-A e 177.419, respectivamente, todos integrantes da sociedade SERGIO BERMUDES ADVOGADOS, registrada na Ordem dos Advogados do Brasil sob o nº 098.438/89, com endereço à Praça XV de Novembro, nº 20, 7º e 8º andares, Rio de Janeiro/RJ.

O presente agravo de instrumento está instruído com cópias do processo, dentre as quais estão as peças obrigatórias para a sua formação, exigidas no artigo 1.017 do Código de Processo Civil.

Posto isso, requer seja recebido, conhecido e provido o presente recurso, de acordo com as inclusas razões que seguem anexas.

Belo Horizonte, 15 de julho de 2019.

Claudia Spranger e Silva Luiz Motta

Procuradora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH)

Paola Domingues Botelho Reis de Nazareth

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Autos nº: 5000053-16.2019.8.13.0090

Agravante: Ministério Público do Estado de Minas Gerais Agravado: Vale S.A.

Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Eminente Relator,

I RELATÓRIO

O Ministério Público propôs Ação Civil Pública com pedido principal em aditamento à tutela cautelar antecedente em face da Vale S.A., buscando, em linhas gerais, assegurar às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho no dia 25/01/2019, a reparação integral dos danos socioeconômicos sofridos.

Deferidos parcialmente os pedidos formulados em sede liminar, se insurge o Parquet contra a seguinte parte dispositiva da decisão de ID 70610802:

(...)

INDEFIRO os requerimentos formulados pelo autor para que seja determinado à requerida que mantenha, em fundo privado próprio, capital de giro nunca inferior a 100% (cem por cento)

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do valor a ser utilizado, para os 12 (doze) meses subsequentes, nas despesas para custeio da elaboração e execução dos planos, programas, ações e medidas tratados neste feito; e constitua garantia suficiente à reparação dos danos, no valor mínimo de R$ 50.000.000.000,00 (cinquenta bilhões de reais), sem prejuízo do valor já acautelado.

(...)

2- Quanto aos pedidos formulados a título de antecipação de provas: (...) INDEFIRO os aludidos requerimentos vez que, ao ver desta magistrada, a produção antecipada das provas requeridas não se revela medida imprescindível ao deslinde da questão posta em juízo, e tampouco urgente, diante do fato de serem incontroversos os danos socioeconômicos causados pelo rompimento da barragem 1 da Vale S/A, conforme dito alhures. Além disso, mostra-se desnecessária a realização de audiência pública para a oitiva da comunidade perante este juízo, vez que os atingidos encontram-se devidamente representados pelo Ministério Público no presente feito, atuando o Parquet em substituição processual nas causas envolvendo direitos coletivos e/ou difusos, não havendo que se falar, portanto, em prejuízo.

Em que pese o respeito cabível à decisão da Juíza a quo, o Ministério Público, por discordar de seus fundamentos, interpõe o presente recurso visando a reforma do decisium, e tece para tal suas razões.

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II DA TEMPESTIVIDADE

O Código de Processo Civil unificou o prazo de interposição de recursos em 15 (quinze dias), contados a partir da data em que ocorrer a intimação. Ainda segundo o aludido Códex, o Ministério Público gozará de prazo em dobro para manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação pessoal.

O Parquet teve conhecimento da decisão ora agravada no dia 03/06/2019, conforme comunicação da intimação que instrui este recurso. De acordo com o artigo 219 do CPC, na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,

computar-se-ão somente os dias úteis. Logo, apresentado nesta data, é tempestivo o

agravo de instrumento.

III DO MÉRITO RECURSAL

III.1 Da necessidade de constituição de garantia suficiente à reparação integral dos danos socioeconômicos

Importa observar que a dimensão da tragédia decorrente do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, por si só, já é fator de risco e insegurança à garantia dos direitos dos milhares de atingidos, haja vista a (re)vitimização diária, seja por falta de trabalho, moradia adequada, lazer, vida comunitária e outros direitos sociais.

Frente a esse cenário de incertezas, indispensável adotar providências para salvaguardar indenizações que abarcam danos por perdas

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materiais, humanas, emocionais, urbanísticas e sociais dos atingidos. Assim, por decorrência lógica, em sede de liminar postulou-se que:

(...)

3. Diante das práticas abusivas e da recalcitrância da Requerida em atender as medidas emergenciais judicialmente impostas, determine que a Requerida:

3.1. Mantenha, em fundo privado próprio, capital de giro nunca inferior a 100% (cem por cento) do valor a ser utilizado, para os 12 (doze) meses subsequentes, nas despesas para custeio da elaboração e execução dos planos, programas, ações e medidas tratados neste feito;

3.2. Constitua garantia suficiente à reparação dos danos, no valor mínimo de R$50.000.000.000,00 (cinquenta bilhões de reais), sem prejuízo do valor já acautelado;

(...)

Nesse sentido, verificado o descumprimento sistemático das medidas emergenciais determinadas judicialmente, ao contrário do que elenca a r. decisão, torna-se indispensável garantir provisões capazes de operacionalizar ações reparatórias, indenizatórias e de mitigação de forma satisfatória, a fim de que a sentença definitiva não se apresente como uma mera deliberação sem compromisso com a efetividade.

Decerto, a exata extensão das consequências do mar de lama que avançou sobre vários municípios, ainda é desconhecida, contudo, alguns fatos são incontestes:

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1. A catástrofe tirou a vida de centenas de pessoas, inclusive funcionários da Vale S.A, pais perderam seus filhos, filhos ficaram órfãos, esposas sem maridos;

2. Famílias tiveram que conviver com a ansiedade do encontro de corpos, e, por muitas vezes, com a dor da entrega de apenas segmentos corpóreos, localizados em momentos diferentes;

3. Centenas de pessoas foram desalojadas de suas casas, sendo que, após a saída dos moradores, muitas dessas casas foram saqueadas;

4. Outras centenas de pessoas ainda se encontram desaparecidas, impondo às suas famílias luto interminável1; 5. Casas, fazendas, plantações e florestas foram devastadas

pela avalanche de lama;

6. Pequenos agricultores perderam seus plantios, de modo que estão sem recursos para o pagamento de suas contas mensais, além de terem perdido o que investiram na terra e o produto que comercializariam para quitar a dívida contraída;

7. Mesmo aqueles agricultores que não tenham tido interrompidas de modo definitivo a produção convivem com atual discriminação na venda de produtos da região por receio de risco de contaminação;

1 Sobre a questão, como exemplo, confira-se em

<https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/03/10/interna_gerais,1036651/familias-de-desaparecidos-de-brumadinho-temem-nao-encontrar-parentes.shtml?utm_source=fanpage> acesso em 11/07/2019.

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8. Limitações do direito de ir e vir dos atingidos, em decorrência da interrupção de vias que fazem ligações com a cidade Brumadinho (algumas pelos rejeitos, outras por limitações ou restrições de acesso estabelecidas em algumas áreas);

9. Impactos no acesso à saúde, em especial, em decorrência da interrupção do trecho que liga algumas localidades à sede do Município de Brumadinho, com retardamento nos atendimentos em razão da dificuldade de acesso, perda de vagas em consultas especializadas e exames;

10. Impactos psicológicos causados pela passagem constante de helicópteros e deposição de corpos encontrados próximos às suas casas;

11. Perda dos espaços de lazer com a destruição do rio; 12. Queda expressiva nas vendas do comércio em geral;

13. Ainda apontam-se como principais problemas: a desestruturação das famílias mediante as mortes, a falta de apoio/solidariedade da empresa e a perturbação psicológica que os moradores enfrentam;

14. Arrefecimento do turismo e, por conseguinte, da renda de setores diretamente dele dependentes e da arrecadação tributária;

15. a cada dia sem o resgate de direitos fundamentais abruptamente destituídos, os atingidos são revitimizados, pois muitos perderam tudo e, como se não bastasse, lhes foi

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retirado o estilo de vida pacífico que desfrutavam na vida em comunidade.

Assoma-se a esses fatos incontestes, os seguintes: 1. O luto que não chega;

2. O horror no recebimento de segmentos corpóreos; 3. Destruição de casas, quintais, moradias;

4. Destruição e inviabilização das plantações e estruturas de produção;

5. Deslocamento forçado de pessoas;

6. Mudança abrupta do modo de viver das populações atingidas;

7. Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento das relações comunitárias e familiares;

8. Impedimento e/ou dificuldade de acesso à água; 9. Problemas relativos ao direito à informação;

10. Falta de informação e incertezas das pessoas atingidas sobre as repercussões futuras dos danos;

11. Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento das formas de produção rural nos municípios banhados pelo rio Paraopeba

12. Perda da segurança alimentar das populações atingidas; 13. Perda e/ou diminuição das atividades econômicas e/ou

comerciais;

14. Cadeias Produtivas afetadas; 15. Interrupção de práticas culturais;

16. Perda ou dificuldade da capacidade de locomoção; 17. Morte de animais domésticos e/ou de produção; 18. Ofensa à saúde coletiva (saúde física e mental);

19. Perda dos bens pessoais (veículos, mobília, documentos etc.);

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20. Perda dos bens imateriais;

21. Impactos e necessidade de gastos extraordinários com infraestrutura e políticas públicas;

22. Desmantelamento, eliminação e/ou enfraquecimento da cadeia econômica do turismo nos municípios atingidos; 23. Desvalorização dos imóveis;

24. Práticas abusivas da Requerida e do insatisfatório atendimento das medidas emergenciais;

25. Revitimização das populações atingidas.

Importante ressaltar que todas estas questões foram abordadas a fundo na peça exordial, que se amparou em trabalho intenso do Ministério Público junto às comunidades e Municípios afetados, a demonstrar a magnitude dos danos causados.

Deve-se enfatizar que o valor de R$50.000.000.000,00 (cinquenta bilhões) requerido é totalmente razoável com a dimensão ainda incalculável dos danos ocasionados aos atingidos e o porte econômico da Vale S.A, uma das maiores mineradoras do mundo.

A fortiori, o pleito ministerial é compatível com a situação até o

momento delineada, qual seja: abrupta alteração da rotina dos atingidos, o que gerou impactos negativos à saúde física, mental e emocional dessas pessoas, sendo difícil mensurar a extensão dos danos e da reparação. Além disso, o mar de lama solapou projetos de vidas, estabelecimentos comerciais, propriedades privadas, destruiu o patrimônio social e cultural e, por conseguinte, a memória de um povo, de famílias, de dezenas de municípios ao longo da Bacia do Rio Paraopeba.

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Urge ressaltar que o direito fundamental à cidade foi atingido de forma quase irreparável. A antiga qualidade da vida urbana se ruiu e ainda, para alguns, afundada na lama está a liberdade de escolha do bairro, da rua, da residência, dos serviços, lazer e cultura. A qualidade da vida urbana virou uma mercadoria. Há uma aura de liberdade de escolha de serviços, lazer e cultura – desde que se tenha dinheiro para pagar. Muitos se perguntam: onde está minha cidade? A cidade, nas palavras do sociólogo e urbanista Robert Park, é a tentativa mais bem-sucedida do

homem de refazer o mundo em que vive mais de acordo com os desejos do seu coração. (...)Assim, indiretamente, e sem ter nenhuma noção clara da natureza da sua tarefa, ao fazer a cidade o homem refez a si mesmo.

Contabilizar danos irreparáveis ou de difícil reparação não é tarefa fácil. Na atual conjuntura, é impossível mensurar a real extensão dos danos humanísticos e socioeconômicos causados pelo rompimento das barragens da Mina do Córrego do Feijão, o que justifica a existência de fundo privado próprio, direito dos milhares de atingidos que não podem permanecer sem qualquer segurança quanto à exequibilidade de futura reparação.

Logo, não há que se entender como em demasia o valor de cinquenta bilhões para constituição de garantia, já que, como bem pontuou o juízo a

quo, a precisão quanto aos valores necessários à reparação dos danos, por ora, são

incalculáveis.

Frise-se que a importância de cinco bilhões acautelados em tutela cautelar antecedente trata-se de salvaguarda, tão somente, a danos emergenciais do Município de Brumadinho. Já os cinquenta bilhões destinam-se à constituição de fundo privado próprio a ser utilizado nas despesas para custeio da

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elaboração e execução de planos, programas e ações de todos os atingidos ao longo da bacia do Rio Paraopeba.

Registre-se que a pluma de rejeitos já percorreu dezenas de cidades ao longo da calha do rio Paraopeba, deixando uma rota da lama e de destruição em: Brumadinho, Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Igarapé, Juatuba, Esmeraldas, Florestal, Pará de Minas, São José da Varginha, Fortuna de Minas, Pequi, Maravilhas, Paraopeba, Papagaios, Curvelo, Pompéu, sem falar na marca psicoemocional deixada no triste caminhar da lama.

A gravidade, a extensão, intensidade dos danos e a certeza da responsabilidade da Requerida podem ser expressados - também - pela natureza e pela quantidade de direitos humanos e fundamentais que foram violados pelo rompimento da barragem.

Com efeito, elencam-se os seguintes direitos das pessoas atingidas violados a partir desse desastre:

1. Direito à vida;

2. Direito à integridade física;

3. Direito à dignidade humana (autonomia); 4. Direito à moradia;

5. Direito à propriedade;

6. Direito à liberdade de locomoção (ir e vir); 7. Direito à saúde pessoal;

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10. Direito às infraestruturas públicas; 11. Direito ao trabalho;

12. Direito ao meio ambiente saudável; 13. Direito à felicidade;

14. Direito à segurança e à soberania alimentares; 15. Direito ao lazer;

16. Direitos da personalidade; 17. Direito à informação 18. Direito de acesso à água; 19. Direito à integridade psíquica; 20. Direito à identidade cultural; 21. Direito à educação;

22. Direito à livre iniciativa;

23. Direito à contemplação do meio ambiente natural; 24. Direito à tranquilidade, à paz e ao bem-estar; 25. Direito à imagem;

À evidência dessa realidade adversa, é premente que se diga que, diante da magnitude dos danos, com a intervenção da assessoria técnica, planos, programas e ações emergenciais já começarão a serem delineados, não se podendo ficar a mercê da busca incessante de recursos para provê-los, sob pena de que ainda mais danos em ondas sejam causados. Além do mais, desde o desastre, a Vale tem elevado os níveis de emergência de suas barragens, o que demanda a existência de garantias capazes de assegurar a reparação dos danos da população dos milhares de atingidos ao longo do Rio Paraopeba.

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A tragédia do dia 25/01/2019, para além dos impactos ambientais, provocou impactos socioeconômicos devastadores, motivo pelo qual há de se concluir que é imprescindível a provisão de capital como fornecimento de garantia à responsabilização da requerida.

III.2 Da indispensabilidade da produção antecipação de provas

Este não é um litígio que possa ou deva ser debatido e decidido tão somente no interior dos gabinetes. O sofrimento inenarrável das populações atingidas, verdadeiros titulares dos direitos materiais litigados nestes autos, precisa ser conhecido diretamente pelo juiz e pelos sujeitos processuais. E não é possível que essas provas sejam produzidas anos adiante, quando este processo estiver pronto para instrução. Toda a riqueza dos fatos terá se perdido até lá. O processo será apenas uma sombra esmaecida da realidade.

Em 27 de março último ocorreu a 5ª Reunião do Comitê Interinstitucional para integração do Poder Judiciário aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O evento reuniu a conselheira Maria Tereza Uille Gomes, servidores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e representantes da Secretaria de Governo da Presidência da República (SEGOV), IBGE, IPEA, CNPq, Pnud e Ministério de Relações Exteriores na Escola Superior do Tribunal de Contas da União (TCU).

Um dos objetivos é que o Poder Judiciário dê mais um passo para atender aos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) constantes da

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maiores desafios contemporâneos. Para tal, pensa-se em um levantamento de ações que são distribuídas e decididas pelo Judiciário, e também temas que geram maior número de demandas como, por exemplo, saúde, educação, questões previdenciárias, execução fiscal, combate ao crime organizado, organizações criminosas, corrupção, etc. Aprimorar processos e políticas públicas é o foco, a partir de metas de sustentabilidade, seja no âmbito econômico, social, ambiental ou institucional, com o fito de se desenvolver o país, elevando-se a qualidade de vida e desenvolvimento sustentável, como prevê a agenda da ONU.

Cultos Julgadores, em poucos minutos, grande parte da perspectiva socioeconômica, sem falar nos inúmeros projetos individuais de vida, de toda a população da bacia do Paraopeba foram atingidos pelo rompimento das Barragens do Córrego do Feijão. Algumas perspectivas simplesmente desapareceram. Outras ainda são uma incógnita e, quem sabe, há esperanças para tantas outras.

Nesse contexto, a prova do sofrimento dos indivíduos e da comunidade atingida é perecível e justifica, na forma do art. 381 do CPC, sua produção antecipada, perante o juízo, para conhecimento pessoal dos fatos.

Por essa razão, e tendo em vista a necessidade de que o juízo tome contato pessoal e imediato com a realidade, a fim de conhecer o objeto material litigioso, o autor ratifica seu requerimento, após intimação do réu para acompanhar a sua respectiva produção, a determinação da produção das seguintes provas, de maneira imediata, independentemente da apresentação de contestação ou de saneamento do processo:

a) Realização de audiência pública judicial, para a qual possam se inscrever e fazer uso da palavra integrantes de todas

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pessoas atingidas dos diversos segmentos sociais atingidos pelo Desastre da Vale;

b) Inspeção judicial, na forma dos artigos. 481-484 do CPC, fazendo-se os respectivos registros, para que constem dos autos.

Essas duas providências são fundamentais para que um dos maiores desastres humanos e ambientais do Brasil não seja conhecido pelo zeloso Magistrado apenas nas vozes de terceiros, mas sim naquelas das vítimas. Evita-se, dessa forma, um fenômeno muito frequente no processo coletivo, e que o Judiciário Mineiro, neste patamar, terá a oportunidade de não deixar ocorrer: as vítimas, que já tiveram lamentavelmente suas vidas modificadas sem mesmo entender as causas para tal, também não serem ouvidas no momento da reparação.

Daí a Carta de Ouro Preto, expedida no XL Encontro do Colégio Permanente de Diretores de Escolas Estaduais da Magistratura, reunido na cidade de Ouro Preto em 2015 mencionar em seu item 3 que “o juiz deve ser agente de transformação social, e não apenas intérprete da lei, num viés normativo.”2

Como se não bastasse, o mesmo Respeitável Colégio, no seu último encontro ocorrido novamente em terras mineiras (XLVIII), fixou na Carta de Belo Horizonte que “a formação judicial passa por processo de transformação, que parte do pressuposto de que o juiz é permanentemente chamado para resolver problemas, para os quais sua formação, essencialmente técnica e dogmática não é suficiente. Para tomar decisões, gerir pessoas e processos, comunicar-se em ambientes cada vez mais complexos, o juiz precisará associar teoria e prática. (...) É

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preciso preparar o magistrado para que seja capaz de mobilizar os saberes prévios, diante de situações concretas.”3

À guisa desse entendimento afirma a doutrina mais abalizada:

(...) a solução consensual do conflito pode ser buscada, inclusive, pelo próprio juiz do processo em que se produz a prova, o que se justifica nos termos do art. 3º, §2º do Novo CPC 138. Em especial quando tratar-se de produção complexa de prova, é possível que as partes já possam ter substrato fático mais seguro para a autocomposição mesmo que a produção da prova ainda não tenha se encerrado. A possibilidade de prévio conhecimento de fatos que possam justificar ou evitar o ajuizamento de ação é a última hipótese de cabimento da produção antecipada de prova, consagrada no inciso III do dispositivo ora analisado. Essa hipótese diz respeito à necessidade de produção da prova como forma de preparar a pretensão principal, possibilitando assim a elaboração de uma petição inicial séria e responsável.4

Sob o influxo dessas considerações, espera-se que os atingidos pelo rompimento das barragens da Mina Córrego do Feijão não sejam mantidos em silêncio nestes autos, mas que suas vozes possam ser ouvidas diretamente pelo julgador.

3 Disponível em <http://copedem.com.br/images/copedem/pdf/2019/carta_copedem_bh_2019.pdf> acesso em

12/074/2019.

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IV DO PEDIDO

Por tudo quanto exposto, requer o Ministério Público seja recebido e, ao final, provido o presente recurso de agravo de instrumento, a fim de reformar a decisão guerreada para que:

1. Diante das práticas abusivas e da recalcitrância da Requerida em atender as medidas emergenciais judicialmente impostas, determine que a Requerida: 1.1. Mantenha, em fundo privado próprio, capital de giro nunca inferior a

100% (cem por cento) do valor a ser utilizado, para os 12 (doze) meses subsequentes, nas despesas para custeio da elaboração e execução dos planos, programas, ações e medidas tratados neste feito;

1.2. Constitua garantia suficiente à reparação dos danos, no valor mínimo de R$ 50.000.000.000,00 (cinquenta bilhões de reais), sem prejuízo do valor já acautelado.

E, tendo em vista a necessidade de que o juízo tome contato pessoal e imediato com a realidade, a fim de conhecer o objeto material litigioso, o Ministério Público requer, após intimação do réu para acompanhar a sua respectiva produção, a determinação da produção das seguintes provas, de maneira imediata, independentemente da apresentação de contestação ou de saneamento do processo, seja determinada a produção antecipada de prova, consistente em:

a) realização de audiência(s) pública(s) judicial(is) para a oitiva da comunidade, garantindo a representatividade das diversas coletividades atingidas ao longo da bacia do Rio

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b) Inspeção judicial, na forma dos artigos. 481-484 do CPC, fazendo-se os respectivos registros, para que constem dos autos.

Belo Horizonte, 15 de julho de 2019.

Claudia Spranger e Silva Luiz Motta

Procuradora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH)

Paola Domingues Botelho Reis de Nazareth

Promotora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (CAO-DCA)

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