EDUCAÇÃO E JUVENTUDE EM PERSPECTIVA: O CASO DO PROJOVEM EM JOÃO PESSOA
Cláudia Farias Basílio de Souza 1 ; Carmem Moizinho 2 ; Elisângela Batista 2 ; Maríllia Freire de Mendonça 2 ; Swamy de Paula Lima Soares 3 ; Jean Carlo de Carvalho Costa 4
Centro de Educação/ Departamento de Fundamentação da Educação
RESUMO
Este texto procura apresentar os resultados parciais do Projeto PROLICEN intitulado “Juventude e educação em perspectiva: o caso do ProJovem em João Pessoa, desenvolvido no Centro de Educação, Departamento de Fundamentação da Educação na UFPB. O objetivo geral do projeto é analisar o referido programa no sentido de problematizar as discussões sobre juventude e educação, contribuindo para nossa formação enquanto pedagogos e com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia. Foram aplicados questionários a 120 alunos do Programa, todos eles concluintes da primeira turma do ProJovem em João Pessoa. Os resultados foram analisados apontando dimensões positivas do programa no que se refere, principalmente, às expectativas dos usuários. Mais de 80% dos pesquisados tinham o objetivo de continuar os estudos em nível médio e apresentavam boas expectativas na entrada no mercado de trabalho após a conclusão do curso. Entretanto, os mesmos dados apontam deficiências no programa relacionadas às condições estruturais e gerenciamento do mesmo. Os resultados obtidos servirão de base para a realização do I Seminário sobre Educação e Juventude, a ser realizado no Centro de Educação da UFPB, etapa final do Projeto.
PalavrasChave: Educação, Juventude, Projeto Político Pedagógico.
1. Introdução
O objetivo deste texto é apresentar/discutir os resultados parciais do Projeto PROLICEN intitulado “Juventude e educação em perspectiva: o caso do ProJovem em João Pessoa”, desenvolvido nos períodos 2006.01 e 2006.02. O objetivo geral do Projeto é de “ Investigar as ações do Projovem em João Pessoa contribuindo para o alargamento da discussão sobre Juventude nos cursos de formação de professores, especialmente o curso de Pedagogia da UFPB”. Para isso foram aplicados 120 questionários à alunos do referido programa em 05 núcleos da capital paraibana, correspondentes a 20% do total de núcleos em funcionamento. Ressaltamos que, conforme sua estrutura organizacional, o Programa é desenvolvido em núcleos compostos por 05 turmas com até 30 jovens. Os questionários foram aplicados no mês de dezembro de 2006 com as primeiras turmas concluintes do ProJovem, cujas atividades foram finalizadas no final do mês de fevereiro.
Neste sentido, faremos uma apresentação e discussão dos resultados no decorrer do texto, juntamente com uma reflexão sobre o tema juventude e educação. Após a discussão sobre os resultados, apresentaremos nossas considerações finais. Destacamos que nosso projeto está em fase de conclusão; a última etapa será a realização de um seminário sobre Educação e Juventude e a constituição de um grupo permanente de discussão sobre o tema. 2. Descrição Metodológica
Os questionários foram aplicados a alunos de ambos os sexos em 05 núcleos do ProJovem e em João Pessoa, correspondente a uma amostra de 20% de núcleos e alunos concluintes. As perguntas do questionário eram relativas à: 1) identificação do aluno; 2) avaliação do programa – aspectos positivos e negativos; 3) gerenciamento do programa e 4) atuação das esferas federal e municipal. Os resultados foram catalogados no sentido de apresentar um perfil que refletisse as visões dos usuários da referida política pública, objetivando problematizar algumas questões centrais do ProJovem como, por exemplo, a tentativa de proporcionar ao jovem a inclusão social pela via da escolarização. Os resultados, discutidos com a equipe do projeto – Prolicen, servirão de base para apresentação e construção do I Seminário sobre Educação e Juventude, a ser realizado no Centro de
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) (1)Educação na Ufpb; da mesma forma, os resultados serão apresentados à Coordenação do curso de Pedagogia para discussão/contribuição no novo projeto político pedagógico do curso, a ser implementado no ano de 2008.
3. Resultados
3.1 Caracterização/análise sobre o ProJovem
Com mais de um ano de sua implantação em nível nacional, o Projovem realiza um trabalho que tem como públicoalvo jovens das capitais dos Estados da federação com idade entre 18 e 24 anos que tenham concluído a 4.ª série mas não tenham concluído a 8.ª O programa, que tem como uma das finalidades a conclusão do ensino fundamental no período de um ano, tem por objetivo
(...) proporcionar formação integral ao jovem, por meio de uma associação entre: elevação da escolaridade, tendo em vista a conclusão do ensino fundamental; qualificação profissional com certificação de formação inicial; e desenvolvimento de ações comunitárias de interesse público. Além disso, o Programa contribui especificamente para a reinserção do jovem na escola, a identificação de oportunidades de trabalho e capacitação, a identificação, elaboração de planos e o desenvolvimento de experiências de ações comunitárias e a inclusão digital como instrumento de trabalho e comunicação (BRASIL, 2006).
Neste sentido, cada jovem integrante recebe uma bolsa no valor de R$ 100,00 (cem reais) para estímulo à permanência; esta bolsa é condicionada à freqüência do jovem e entrega regular das atividades desenvolvidas no programa. Em João Pessoa, as primeiras turmas do Projovem iniciaram suas aulas no mês de Janeiro de 2006; sua estrutura se mostra, em nível de organização, bastante inovadora:
O Programa é desenvolvido em Núcleos, compostos de 5 turmas com 30 jovens, que funcionam diariamente, em locais onde há espaços adequados disponíveis e, se possível, próximos aos domicílios dos estudantes. Dada à exigência metodológica do programa, que se fundamenta no trabalho coletivo dos docentes, não é possível separar fisicamente as cinco turmas de um núcleo. Os núcleos, por sua vez, estarão vinculados a uma Estação Juventude. Local para onde os jovens e os educadores, que atuam nos núcleos, possam se deslocar com alguma freqüência. A Estação Juventude funciona como espaço de referência para os jovens. É um local de encontro, busca de informação e orientação, estudo, servindo, ainda, para o desenvolvimento de atividades em grupo, realização de eventos culturais, entre outras ações que favorecem o processo formativo, a expressão cultural e a participação cidadã (BRASIL, 2006).
O governo federal e os municípios têm responsabilidades partilhadas na condução do Programa; essa forma de gestão se expressa tanto na oferta de condições estruturais quanto na organização pedagógica e na avaliação e monitoramento (responsabilidade do governo federal). Isso por um lado, demonstra a preocupação de uma ação coordenada pela União, principalmente para garantir condições estruturais próximas em um país marcado pela desintegração regional; por outro lado aponta para uma forte responsabilidade dos poderes locais (municípios) na condução do Programa. As primeiras aproximações com nosso objeto de estudo revelam, a partir desta dinâmica, que a ação do poder local na condução do programa tem se apresentado como fator decisivo no seu desenvolvimento. Neste sentido, há de se aprofundar, para além das delimitações do nosso projeto, até que ponto o Projovem permite uma articulação entre as instâncias estatais que transcenda algo constante nos últimos anos
na condução de várias políticas públicas no Brasil: uma distância entre o planejamento centralizado e a execução desconcentrada, ou seja, sem a efetiva participação das instâncias locais.
No que se refere à questão pedagógica, o Projovem é organizado em Unidades Formativas, que pretendem ser eixos de articulação entre as áreas de Língua Portuguesa, Artes, Matemática, Língua Estrangeira e Informática e a introdução à profissionalização e ação comunitária. Segundo as informações oficiais do Programa, as Unidades são assim organizadas:
Unidade Formativa I: Juventude e Cidade
A juventude e as práticas de ocupação do espaço urbano pelos jovens (vivência na cidade globalizada). Reposicionamento diante das dinâmicas urbanas de inclusão e exclusão social. Unidade
Formativa II: Juventude e Trabalho
O Mundo do Trabalho, as transformações pelas quais vem passando na sociedade contemporânea e as práticas de inserção dos jovens no trabalho. Reposicionamento diante das dinâmicas de inclusão e exclusão no trabalho e na escola. Unidade Formativa III: Juventude e Comunicação Informação e comunicação na
sociedade contemporânea e as práticas dos jovens.
Reposicionamento diante das dinâmicas de inclusão e exclusão no acesso à informação e à comunicação. Unidade Formativa IV:
Juventude e Cidadania
Diferenças sócioculturais que segmentam a juventude brasileira: preconceitos e discriminações intra e intergeracionais. Reposicionamento diante das dinâmicas (BRASIL, 2006)
A partir das informações sucintamente apresentadas, observamos um caráter de inovação do Programa, partindo de uma primeira análise de sua proposta. O caráter de “inovação” se dá tanto pelo direcionamento pedagógico quanto pelas intenções de uma ação integrada entre conteúdos curriculares, formação profissional e introdução do jovem às ações comunitárias. Outro ponto de destaque é a forma de avaliação/monitoramento do programa. Foi estabelecida uma parceria entre o governo federal e instituições públicas de ensino superior para dar encaminhamentos aos sistemas periódicos de monitoramento e avaliação. Nestas primeiras aproximações percebemos os diversos atores envolvidos na condução do programa; destacamos o fato de que esses atores interagem em uma rede de responsabilidades conjuntas que se configura como fundamental para a qualidade do Projovem. Entretanto, para além dos olhares sobre as propostas, se faz necessário aprofundar as “nuances” desta relação estabelecida entre as esferas do próprio Estado na condução de políticas para a Juventude 1 , tendo como referencia o município de João Pessoa.
3.2 O Projovem em João Pessoa
A estrutura de gestão do Projovem em João Pessoa segue as diretrizes nacionais para o programa 2 : um comitê gestor formado por representantes da Assessoria especial de políticas públicas para a Juventude, Secretaria de Educação do município, Secretaria de Desenvolvimento Social e Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Produção. Ressaltamos que essa última secretaria tem ganhado destaque na atual gestão municipal ao desenvolver projetos de alta visibilidade local como, por exemplo, o “Empreender – JP”, destinado à geração de emprego e renda a partir do microcrédito. As primeiras aproximações com o Programa em João Pessoa, tomando como referência a própria composição do comitê gestor, indicam um certo esforço da municipalidade no sentido de integrar o programa ao plano maior da gestão, a partir dos principais projetos desenvolvidos pela gestão nos últimos dois anos. 1 Há uma vasta literatura sobre Juventude e Políticas Públicas. Consultar Abramo (1994), Alvim (2000), Madeira (1998), Novaes (2000) e Paiva (2000). 2 O comitê gestor é uma exigência da estrutura do Projovem; entretanto, destacamos que há variantes na composição do mesmo, principalmente no que se refere à participação de algumas secretarias.
O município conta com 25 núcleos distribuídos em quatro Estações da Juventude. Segundo as informações do questionário, o Projovem tem se configurado como uma ação governamental de impacto nas expectativas dos sujeitos. Mais de 70% dos participantes da pesquisa acreditavam que tanto suas chances de entrada no mercado de trabalho quanto suas perspectivas de continuidade de estudos aumentavam com a participação no programa. Desses, 80% expressaram desejo de matrícula imediata no ensino médio, o que, grosso modo, revela um impacto positivo na expectativa de mobilidade social pela via do aumento da escolarização. Ainda com relação aos dados obtidos, mais da metade dos jovens apontavam como principais dificuldades pedagógicas a duração do programa (doze meses que incluem do início das atividades à certificação do ensino fundamental), a necessidade de maior tempo pedagógico para disciplinas como Português e Matemática e, principalmente, a iniciação à informática. Segundo os alunos, poucos núcleos estão com aulas de informática alegando como principal motivo a falta de instalação dos computadores. Outro dado importante a ser destacado é que a maioria dos participantes observa o Projovem como um programa de maior responsabilidade do governo federal; neste sentido, ainda que o município tenha significativa participação na condução do mesmo, as respostas revelam a União como esfera estatal de maior visibilidade. Resta saber, entretanto, qual a qualidade que podemos atribuir ao termo “visibilidade”; ou seja, até que ponto essas respostas revelam uma maior dificuldade de associação entre o programa e o município, pela falta (ou não) de maior identificação local com a política.
4. Considerações Finais
Tendo em vista as análises parciais sobre o ProJovem em João Pessoa, destacamos um ponto central de (in)conclusão do texto. Estamos nos referindo à relevância do debate sobre juventude e educação para os cursos de formação de professores especialmente o curso de Pedagogia. Tradicionalmente, este curso tem suas atenções ligadas mais diretamente à questão da infância; entretanto, tomando como referencia as novas diretrizes curriculares aprovadas no ano de 2006, o trabalho educativo com juventude em ambientes escolares e não escolares também é competência do pedagogo. Neste sentido, o levantamento de um amplo debate do âmbito do Centro de Educação e imprescindível para o alagamento da própria atuação do profissional formado em Pedagogia. Ressaltamos, ainda, que a Educação de Jovens e Adultos é também objeto de estudo de nossa estrutura curricular, o que fortalece ainda mais os argumentos favoráveis ao aprofundamento da questão apresentada; ainda que o ProJovem não se enquadre formalmente nesta modalidade de ensino, sua análise contribui fortemente para o debate entre juventude e educação de forma aprofundada, a partir de matrizes sociológicas, políticas e, evidentemente, educativas.
5. Referências
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas Juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo, Scritta/ Página Aberta, 1994.
ALVIM, Rosilene & PAIM, Eugênia. Os Jovens Suburbanos e a mídia: conceitos e preconceitos”, in Rosilene Alvim e Patrícia Gouveia (orgs.), Juventude Anos 90: conceitos, imagens e contextos. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2000.
BRASIL, República Federativa do. Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária PROJOVEM. Disponível em <www.projovem.org.br> Acesso em 03 de Agosto de 2006.
MADEIRA, Felícia R. e Rodrigues, E. M. Recado dos Jovens: mais qualificação. in: Berquó, E. (org.). Jovens Acontecendo na trilhas das políticas públicas. Brasília: CNPq.
MARTINS, Heloisa Helena T. Souza. (2000), “A Juventude no contexto da reestruturação produtiva”, in: Helena W. Abramo, Mª Virgínia Freitas e Marília P. Sposito (orgs.), Juventude em Debate. São Paulo, Cortez/ Ação Educativa, 1998.
NOVAES, Regina R. “Juventude e Participação Social: apontamentos sobre a reinvenção da política”, in Helena W. Abramo, Maria Virgínia Freitas e Marília P. Sposito (orgs.) Juventude em Debate. S.Paulo: Cortez/ Ação Educativa, 2000.
PAIVA, Marcelo Rubens. “Juventude e Mobilização”, in Helena W. Abramo, Maria Virgínia Freitas e Marília P. Sposito (orgs.), Juventude em Debate. São Paulo, Cortez/ Ação Educativa, 2000.