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6855603 Joao Guimaraes Rosa Homem Plural Escritor Singular Edna Maria F1 S Nascimento Lenira Marques Covizzi

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Edna Mari

Edna Maria F

a F. S. Nasci

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mento

Lenira Marques Covizzi

Lenira Marques Covizzi

JOÃO

JOÃO

GUIMARÃES

GUIMARÃES

ROSA

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Homem

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plural escritor

escritor singular

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2001

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ICHAICHA CATALOGRÁFICACATALOGRÁFICA

Copyright © Edna Maria Fernandes dos San

Copyright © Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento

tos Nascimento

(edna.fernandes@uol.com.br) e Lenira Marques Covizzi

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IREITOSIREITOS DESTADESTA EDIÇÃOEDIÇÃO RESERVADOSRESERVADOS ÀSÀS AUTORASAUTORAS

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CONFORME

CONFORME CONTRATOCONTRATO COMCOM AA

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DITORADITORA

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PROIBIDAPROIBIDA AA REPRODUÇÃOREPRODUÇÃO TOTALTOTAL OUOU PARCIALPARCIAL DESTADESTA OBRA

OBRA SEMSEM AUTORIZAÇÃOAUTORIZAÇÃO EXPRESSAEXPRESSA DASDAS MESMASMESMAS

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João Guimarães Rosa: Homem plural escritor singular

João Guimarães Rosa: Homem plural escritor singular

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Capa: Paulo França

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2001

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21 - 3393-4212

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agorailh@ruralrj.com.br

agorailh@ruralrj.com.br

NASCIMENTO, Edna Maria Fernandes dos Santos e

NASCIMENTO, Edna Maria Fernandes dos Santos e

COVIZZI, Lenira Marques / João Guimarães Rosa: Homem plural

COVIZZI, Lenira Marques / João Guimarães Rosa: Homem plural

escritor singular. – 2

escritor singular. – 2

aa

ed. – Rio de Janeiro, 2001.

ed. – Rio de Janeiro, 2001.

Rio de Janeiro, maio de 2001 - 2

Rio de Janeiro, maio de 2001 - 2

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edição

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76 páginas

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N 8866885544

Brasil:

Brasil: Escritores:

Escritores: Biografia

Biografia

928.699

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Escritores

Escritores brasileiros:

brasileiros: Biografia

Biografia

928.699

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Ficção:

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33

JOÃO

JOÃO GUIMARÃES GUIMARÃES ROSA ROSA ... ... 99 JOÃOZITO

JOÃOZITO ... ... 1010 HOMEM

HOMEM PLURAL PLURAL ... ... 1212 ESCRITOR SINGULAR ESCRITOR SINGULAR Criação/Criador Criação/Criador ... 18... 18 Expressão singular Expressão singular ... ... 2020 Precisão da palavra Precisão da palavra ... 21... 21 Horror ao lugar-comum Horror ao lugar-comum ... 24... 24 Universo singular Universo singular ... 35... 35

Arquitetura de universo engenhoso

Arquitetura de universo engenhoso ... ... 3535

Imaginário de universo singular

Imaginário de universo singular ... ... 4242

Processo narrativo: oralidade e reflexão de documentos Processo narrativo: oralidade e reflexão de documentos animados animados ... 45... 45 Criação/Público Criação/Público...5...511 Magma Magma ... ... 5151 Contos/Sagar

Contos/Sagarana. Engano de ana. Engano de Graciliano Ramos e nascimento doGraciliano Ramos e nascimento do escritor

escritor ... 53... 53

Corpo de Baile. Mistura de gêneros

Corpo de Baile. Mistura de gêneros ... .... 5656

Grande Sertão: Veredas. Inovação da estrutura narrativa

Grande Sertão: Veredas. Inovação da estrutura narrativa ... 56... 56

Primeiras Estórias. Condensação da

Primeiras Estórias. Condensação da linguagemlinguagem ... 60... 60

Academia e reconhecimento público

Academia e reconhecimento público ... ... 6262

Tutaméia. Prefácios travestidos

Tutaméia. Prefácios travestidos ... 65... 65

Capítulos não terminados: Estas Estórias e Ave, palavra

Capítulos não terminados: Estas Estórias e Ave, palavra ... ....67... ....67 BIBLIOGRAFIA ATIVA, PASSIVA E COMPLEMENTAR

BIBLIOGRAFIA ATIVA, PASSIVA E COMPLEMENTAR ... 71... 71

SUMÁRIO

SUMÁRIO

(4)

44

Para quem o enigma é tentação.

Para quem o enigma é tentação.

Em especial à prof 

Em especial à prof 

a.a.

Dr 

Dr 

a.a.

Cecília de Lara,

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responsável pelo

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Arquivo Guimarães

quivo Guimarães Rosa,

Rosa,

quando da

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55

 Re

 Registro Civil de nascimento de João Guimarães Rosa. Cópia expedida agistro Civil de nascimento de João Guimarães Rosa. Cópia expedida a 25 de março de 1934. (Documentos Pessoais – IEB)

(6)

66

“(..) a separação de minha biografia

“(..) a separação de minha biografia

da minha obra é impossível (...)”

da minha obra é impossível (...)”

(Lit...)

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“(...) às vezes, chego a acreditar,

“(...) às vezes, chego a acreditar,

que eu mesmo, eu, João,

que eu mesmo, eu, João,

sou uma estória que eu contei”.

sou uma estória que eu contei”.

(Lit...)

(Lit...)

“V

“Vou-lhe

ou-lhe revelar um

revelar um segredo:

segredo:

creio que eu já vivi uma vez.

creio que eu já vivi uma vez.

 Naquele tempo, eu também era

 Naquele tempo, eu também era

brasileiro e chamava-me

brasileiro e chamava-me

 João Guimarães Rosa”.

 João Guimarães Rosa”.

(Lit...)

(Lit...)

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77

ABREVIATURAS

ABREVIATURAS

AP

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== Ave, Palavra.

 Ave, Palavra.

Cor

Cor. trad

. trad. it.

. it.

= J.

= J. Guimarães Rosa - correspondência com

Guimarães Rosa - correspondência com

seu tradutor italiano Edoardo Bizzarri.

seu tradutor italiano Edoardo Bizzarri.

EE

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== Estas Estória.

Estas Estória.

EM

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== Em Memória de João Guimarães Rosa.

Em Memória de João Guimarães Rosa.

GR

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em guarda contra... = “Guimarães Rosa em guarda

em guarda contra... = “Guimarães Rosa em guarda

contra as emoções e a

contra as emoções e a

expan-sividade”.

sividade”.

GSV

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== Grande

Grande Sertã

Sertão: V

o: Veredas.

eredas.

IEB

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= Instituto de Estudos Brasileiros.

= Instituto de Estudos Brasileiros.

 Joãozito

 Joãozito

= Joãozito. Infância de João Guimarães Rosa.

= Joãozito. Infância de João Guimarães Rosa.

Lit...

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= “Literatura deve ser vida”.

= “Literatura deve ser vida”.

MM

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== Manuelzão e Miguilim.

 Manuelzão e Miguilim.

NA

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== Novo Dicionário de Língua Portuguesa.

 Novo Dicionário de Língua Portuguesa.

NS

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== Noites do Sertão.

 Noites do Sertão.

PE

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== Primeiras Estórias.

Primeiras Estórias.

SAG

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== Sagarana.

Sagarana.

TUT

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== Tutaméia.

Tutaméia.

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JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

JOÃO GUIMARÃES ROSA 

“Era um nome, ver o que. Que é que é  “Era um nome, ver o que. Que é que é  um nome? Nome não dá: nome recebe.” um nome? Nome não dá: nome recebe.” (GSV) (GSV)

Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908. Documen

Cordisburgo, Minas Gerais, 27 de junho de 1908. Documentos ates-tos ates-tam que nasceu João Guimarães Rosa, filho d

tam que nasceu João Guimarães Rosa, filho de Florduardo Pinto Rosa ee Florduardo Pinto Rosa e Francisca Guimarães Rosa.

Francisca Guimarães Rosa.

Copacabana, 19 de novembro de 1967, domingo 20:30 horas. Copacabana, 19 de novembro de 1967, domingo 20:30 horas. Três dias após sua posse na Academia Brasileira de Letras, morreu Três dias após sua posse na Academia Brasileira de Letras, morreu aos 59 anos,

aos 59 anos, sozinho, à mesa de trabalho, vítima de enfarte. O corposozinho, à mesa de trabalho, vítima de enfarte. O corpo foi trasladado para a Academia e exposto à visitação. Foi sepultado foi trasladado para a Academia e exposto à visitação. Foi sepultado no cemitério São João Batista.

no cemitério São João Batista.

O escritor Guimarães Rosa deixou publicadas as seg

O escritor Guimarães Rosa deixou publicadas as seguintes obras de fic-uintes obras de fic-çã

çãoo: Sagarana: Sagarana;; Corpo de BaileCorpo de Baile (a partir da 3ª edição dividido em três livros:(a partir da 3ª edição dividido em três livros:  Manuelzão e Miguilim

 Manuelzão e Miguilim;; No Urubùquaquá, no Pinhém No Urubùquaquá, no Pinhém;;  Noites do Sertão Noites do Sertão);); Gran

Grande Sertãde Sertão: Vo: Veredaseredas;; Primeiras EstóriasPrimeiras Estórias;; TutaméiaTutaméia (T(Terceiras Estórias); erceiras Estórias); ee dois volumes de organização póstuma:

dois volumes de organização póstuma: Estas EstóriasEstas Estórias ee Ave, Palavra Ave, Palavra..

A maior parte dessas obras foi traduzida em vários países. A maior parte dessas obras foi traduzida em vários países. Algu-mas, como

mas, como Grande Sertão: VeredasGrande Sertão: Veredas e “A hora e vez de Augustoe “A hora e vez de Augusto Matraga”, foram ainda adaptadas para a linguagem de outros veículos de Matraga”, foram ainda adaptadas para a linguagem de outros veículos de comunicação. Inúmeros são os artigos, os livros e as teses que têm como comunicação. Inúmeros são os artigos, os livros e as teses que têm como objetivo o estudo de sua obra.

objetivo o estudo de sua obra.

Os apontamentos, cadernos de estudo, recortes, correspondência, Os apontamentos, cadernos de estudo, recortes, correspondência, originais, biblioteca, transformaram-se no

originais, biblioteca, transformaram-se no Arquivo Guimarães Rosa, Arquivo Guimarães Rosa, per- per-tencente ao Instituto de Estudos Brasileiros.

tencente ao Instituto de Estudos Brasileiros. João Guimarães Rosa é hoje nome

João Guimarães Rosa é hoje nome de escola, em Magalhães Bastosde escola, em Magalhães Bastos (RJ), e em Osasco (SP), e de pico de 2 150 metros na fronteira com a (RJ), e em Osasco (SP), e de pico de 2 150 metros na fronteira com a V

Venezuela. Há em Minas Gerais uenezuela. Há em Minas Gerais uma sala em sua homa sala em sua homenagem na Facul-menagem na Facul-dade de Medicina, onde estudou. A

dade de Medicina, onde estudou. A casa em que nasceu foi transformadacasa em que nasceu foi transformada no Museu Guimarães Rosa.

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JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

JOÃOZITO

“Pois não é ditado: menino – trem do “Pois não é ditado: menino – trem do

diabo.” diabo.”

(GSV) (GSV)

Cordisburgo – antes Saco dos Cochos, depois coração de Jesus da Cordisburgo – antes Saco dos Cochos, depois coração de Jesus da Vista Alegre, abreviadamente Vista Alegre – assim descrita no início do Vista Alegre, abreviadamente Vista Alegre – assim descrita no início do discurso de posse na Academia Brasileira de Letras: “Cordisburgo era discurso de posse na Academia Brasileira de Letras: “Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se des

quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné,encerra a Gruta do Maquiné, milmaravilha, a das fadas; e o próprio campo,

milmaravilha, a das fadas; e o próprio campo, com vasqueiros cochos decom vasqueiros cochos de sal ao gado bravo, entre gentis morros ou s

sal ao gado bravo, entre gentis morros ou sob o demais das estrelas, fala-ob o demais das estrelas, fala-va-se antes:

va-se antes: os pastos da Vista Alegreos pastos da Vista Alegre”.”.

O cenário está montado para Joãozito. Perto, Maquiné. A pedra de O cenário está montado para Joãozito. Perto, Maquiné. A pedra de sua pia batismal é

sua pia batismal é extraída da caverna.extraída da caverna.

Adquire na observação direta das plantas, dos bichos, da

Adquire na observação direta das plantas, dos bichos, da natureza, osnatureza, os primeiros conhecimentos de botânica, de zoologia, de geologia. Explora primeiros conhecimentos de botânica, de zoologia, de geologia. Explora os campos e, não raro, assusta os

os campos e, não raro, assusta os cinco irmãos com as descobertas que trazcinco irmãos com as descobertas que traz para casa: sapos, cobras. Faz tijolinhos com barro em fôrmas de caixa de para casa: sapos, cobras. Faz tijolinhos com barro em fôrmas de caixa de fósforo para construir casinhas de bonecas de suas irmãs. Escolhe sabugos fósforo para construir casinhas de bonecas de suas irmãs. Escolhe sabugos de espiga de milho e os transforma em bois de carros. Cria um jornal: de espiga de milho e os transforma em bois de carros. Cria um jornal: escrito à mão, em folhas de p

escrito à mão, em folhas de papel de embrulho, do armazém do papel de embrulho, do armazém do pai.ai.

Joãozito – menino pouco comum. Aprende a ler sozinho, soletra as Joãozito – menino pouco comum. Aprende a ler sozinho, soletra as letras dos jornais ou os rótulos dos caixotes do armazém de seu pai letras dos jornais ou os rótulos dos caixotes do armazém de seu pai Florduardo. Rejeita os brinquedos; prefere os bichos, os mapas. Fica Florduardo. Rejeita os brinquedos; prefere os bichos, os mapas. Fica fa-moso na família o dia em que some. É quase noite. Todos o procuram. moso na família o dia em que some. É quase noite. Todos o procuram. Está no fundo do armazém, no depósito de mercadorias, já adormecido Está no fundo do armazém, no depósito de mercadorias, já adormecido sobre um saco de arroz com u

sobre um saco de arroz com um livro nas mãos. A m livro nas mãos. A vela ainda acesa.vela ainda acesa. Dessas fugas, talvez a confissão magoada:

Dessas fugas, talvez a confissão magoada:

“Não gosto de falar de infância. É um tempo de coisas boas, mas “Não gosto de falar de infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, interferindo, sempre com pessoas grandes incomodando a gente, interferindo, estra-gando os prazeres. Recordando o tempo de

gando os prazeres. Recordando o tempo de criança, vejo por lá um exces-criança, vejo por lá um exces-so de adultos, todos eles, mesmo os mais q

so de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo de soldados eueridos, ao modo de soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada. (...) Gostava de estudar sozinho e policiais do invasor, em pátria ocupada. (...) Gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas tempo bom de verdade, só começou com a de brincar de geografia. Mas tempo bom de verdade, só começou com a

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conquista de algum isolamento, com

conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me numa segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, ro-mances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando mances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas”. (EM)

as melhores coisas vistas e ouvidas”. (EM)

A leitura é um hábito constante; sua posição predileta: sentado, A leitura é um hábito constante; sua posição predileta: sentado, per-nas cruzadas como um pequeno buda, sobre elas o livro. Inicia o estudo nas cruzadas como um pequeno buda, sobre elas o livro. Inicia o estudo dada língua francesa com frei Estevam, religioso franciscano. Traduz revistas língua francesa com frei Estevam, religioso franciscano. Traduz revistas francesas que sua mãe, dona Chiquinha, recebe. Lê seu primeiro livro em francesas que sua mãe, dona Chiquinha, recebe. Lê seu primeiro livro em francês –

francês – Les femmes qui aiment  Les femmes qui aiment – entre seis e sete anos. Com frei Canízio– entre seis e sete anos. Com frei Canízio Zoetmulder começa a estudar holandês e, mais ou menos aos dez anos, Zoetmulder começa a estudar holandês e, mais ou menos aos dez anos, toma contato com a língua japonesa com um lavrador.

toma contato com a língua japonesa com um lavrador.

Míope, usa óculos com apenas nove anos. Como Miguilim, Míope, usa óculos com apenas nove anos. Como Miguilim, persona-gem de “Campo Geral”, a revelação do mundo?:

gem de “Campo Geral”, a revelação do mundo?: “Miguilim olhou. Nem“Miguilim olhou. Nem podia acreditar! T

podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo udo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, ase lindo e diferente, as coisas, as árvores, a cara das pessoas.

coisas, as árvores, a cara das pessoas. VVia os grãozinhos de areia, a pele daia os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus,

distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...”tanta coisa, tudo...”

Com dez anos é levado por seu avô, Luís Guimarães, para Belo Com dez anos é levado por seu avô, Luís Guimarães, para Belo Hori-zonte. Aí estuda no Colégio Arnaldo, por onde também passam Carlos zonte. Aí estuda no Colégio Arnaldo, por onde também passam Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Gustavo Capanema.

Drummond de Andrade, Pedro Nava, Gustavo Capanema.

Com o menino vai Cordisburgo: cenário e personagens para as suas Com o menino vai Cordisburgo: cenário e personagens para as suas (dos outros) estórias.

(dos outros) estórias.  Joãozito (EM)

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HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

HOMEM PLURAL

“Mas agora já chegamos de novo “Mas agora já chegamos de novo na-quele ponto, que indica o momento no quele ponto, que indica o momento no qual o homem e sua biografia resultam qual o homem e sua biografia resultam em algo completamente novo. Sim, fui em algo completamente novo. Sim, fui médico, rebelde, soldado. Foram médico, rebelde, soldado. Foram eta-  pas importantes da minha vida, e, em   pas importantes da minha vida, e, em rigor, a seqüência representa um rigor, a seqüência representa um para-doxo. Como médico, conheci o valor  doxo. Como médico, conheci o valor  místico do sofrimento; como rebelde, o místico do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da consciência; como soldado, o valor da proximidade da morte. ..” valor da proximidade da morte. ..”

(Lit...) (Lit...) “Você pode me tratar como quiser. Me “Você pode me tratar como quiser. Me chama de João, de Guimarães Rosa ou chama de João, de Guimarães Rosa ou de Rosa. Todos são eu.”

de Rosa. Todos são eu.”

(Rosiana) (Rosiana)

A mudança para Belo Horizonte, em 1918,

A mudança para Belo Horizonte, em 1918, não altera a personalida-não altera a personalida-de personalida-de Joãozito. Os conhecimentos adquiridos diretamente com a de de Joãozito. Os conhecimentos adquiridos diretamente com a nature-za são agora aperfeiçoados nas aulas de História Natural, sua dis

za são agora aperfeiçoados nas aulas de História Natural, sua disciplinaciplina preferida. Aproveita esses conhecimentos para montar uma coleção de preferida. Aproveita esses conhecimentos para montar uma coleção de borboletas e insetos. O estudo de língu

borboletas e insetos. O estudo de línguas, iniciado muito cedo, é aperfei-as, iniciado muito cedo, é aperfei-çoado pela sistematização gramatical.

çoado pela sistematização gramatical.

Continua a ler muito e, já nessa época, conhece a obra de Euclides Continua a ler muito e, já nessa época, conhece a obra de Euclides da Cunha. A paixão pela leitura leva-o freqüentemente, aos domin

da Cunha. A paixão pela leitura leva-o freqüentemente, aos domingos, àgos, à Biblioteca Pública, onde devora os livros juntamente com empadinhas e Biblioteca Pública, onde devora os livros juntamente com empadinhas e soda limonada, compradas com a mesada de dois mil-réis.

soda limonada, compradas com a mesada de dois mil-réis. Joãozito ainda encontra tempo para ser

Joãozito ainda encontra tempo para ser center half center half no time de fute-no time de fute-bol do colégio e estudar, nas horas vagas, violino. Co

bol do colégio e estudar, nas horas vagas, violino. Conta-se que por faltanta-se que por falta de dinheiro vende o violino para visitar uma namorada que se mudara de dinheiro vende o violino para visitar uma namorada que se mudara para outra cidade.

para outra cidade.

Isso tudo se passa até 1925, quando decide matricular-se na Isso tudo se passa até 1925, quando decide matricular-se na Facul-dade de Medicina de Minas Gerais. Ainda estudante de Medicina, ocupa dade de Medicina de Minas Gerais. Ainda estudante de Medicina, ocupa os seguintes cargos: Agen

os seguintes cargos: Agente Itinerante da Diretoria do Serviço de Estatís-te Itinerante da Diretoria do Serviço de Estatís-tica Geral do Estado de Minas Gerais / Secretaria da Agricultura (1928), tica Geral do Estado de Minas Gerais / Secretaria da Agricultura (1928), percebendo o salário anual de 4:800$000; Auxiliar Apurado

percebendo o salário anual de 4:800$000; Auxiliar Apurador da Diretoriar da Diretoria do Serviço de Estatística Geral do Estado de Minas Gerais / Secretaria do Serviço de Estatística Geral do Estado de Minas Gerais / Secretaria da Agricultura, em caráter de substituição (1930

da Agricultura, em caráter de substituição (1930).). O salário é pouco, os livros de

O salário é pouco, os livros de Medicina custaMedicina custam caro. A revistam caro. A revista O Cru-O Cru- zeiro

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13

com vinte e um anos. Envia para o p

com vinte e um anos. Envia para o periódico o conto “Mystério de Highmoreeriódico o conto “Mystério de Highmore Hall”, que é selecionado e publicado no número 57 d’

Hall”, que é selecionado e publicado no número 57 d’O CruzeiroO Cruzeiro (1929).(1929). Este conto, lembrando Oscar Wilde e passado na Escócia, valeu-lhe o Este conto, lembrando Oscar Wilde e passado na Escócia, valeu-lhe o prê-mio de cem mil-réis.

mio de cem mil-réis.

Em 9 de fevereiro de 1930, publica, no suplemento dominical de Em 9 de fevereiro de 1930, publica, no suplemento dominical de OO  Jornal

 Jornal, o conto “Makiné”. Ainda no mesmo ano, publica mais dois con-, o conto “Makiné”. Ainda no mesmo ano, publica mais dois con-tos na revista

tos na revista O Cruzeiro:O Cruzeiro: a 21 de a 21 de junho, “Chronos Kai Anjunho, “Chronos Kai Anagke” (Tagke” (Tempoempo e Destino) – uma história de xadrez passada no s

e Destino) – uma história de xadrez passada no sul da Alemanha; a 12 deul da Alemanha; a 12 de  julho, “Caçadores de Camurça”.

 julho, “Caçadores de Camurça”. Estes contos são

Estes contos são a estréia literária de João Guimarães Rosa. Escritosa estréia literária de João Guimarães Rosa. Escritos em estilo convencional, eles não agradam ao próprio

em estilo convencional, eles não agradam ao próprio autor, que confes-autor, que confes-sa, em carta datada de 19 de outub

sa, em carta datada de 19 de outubro de 1966 e dirigida à ro de 1966 e dirigida à prima Lenice,prima Lenice, que eram outros os seus interesses na época: “Mas, escrever, mesmo, só que eram outros os seus interesses na época: “Mas, escrever, mesmo, só comecei em 1929, com alguns

comecei em 1929, com alguns contos, que, naturalmente, não valem nada.contos, que, naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião, eu só me interessava, e intensamente, pelo estudo da Até essa ocasião, eu só me interessava, e intensamente, pelo estudo da Medicina e da Biologia”. (

Medicina e da Biologia”. ( Joãozito Joãozito)) Mas os

Mas os personagens estranpersonagens estrangeiros com os geiros com os nomes inventados – Inagywyddol,nomes inventados – Inagywyddol, Affael, Lleoddag, Duw-Rhoddoddag, Inverary, Sviazline – antecipam o seu Affael, Lleoddag, Duw-Rhoddoddag, Inverary, Sviazline – antecipam o seu gosto pelo inusitado. Os cenários longuínquos

gosto pelo inusitado. Os cenários longuínquos – Bulgária, Londres, Alemanha,– Bulgária, Londres, Alemanha, depois substituídos pelo sertão – são explicados na carta à prima:

depois substituídos pelo sertão – são explicados na carta à prima:

“Desde menino, muito pequeno, eu brincava de imaginar estórias, “Desde menino, muito pequeno, eu brincava de imaginar estórias, verdadeiros romances; quando comecei a estudar g

verdadeiros romances; quando comecei a estudar geografia – matéria deeografia – matéria de que sempre gostei – colocava as person

que sempre gostei – colocava as personagens e cenas nas mais variadasagens e cenas nas mais variadas cidades e países; um faroleiro, na Grécia, que namorava uma moça no cidades e países; um faroleiro, na Grécia, que namorava uma moça no Japão, fugiam para a Noruega, depois iam passear no México... coisas Japão, fugiam para a Noruega, depois iam passear no México... coisas desse jeito, quase surrealistas”. (

desse jeito, quase surrealistas”. ( Joãozito Joãozito))

No mesmo ano de sua formatura, 1930, Joãozito se casa no dia de No mesmo ano de sua formatura, 1930, Joãozito se casa no dia de seu aniversário, com a jovem de 16 anos Lygia Cabral Penna. O Dr. seu aniversário, com a jovem de 16 anos Lygia Cabral Penna. O Dr. Guimarães Rosa é o orador da turma.

Guimarães Rosa é o orador da turma.

O casal muda-se para Itaguara, interior do Estado de Minas Gerais, O casal muda-se para Itaguara, interior do Estado de Minas Gerais, em 1931, onde Joãozito inicia a carreira médica. A 5 de junho, nasce a em 1931, onde Joãozito inicia a carreira médica. A 5 de junho, nasce a primeira filha: Vilma Guimarães Rosa.

primeira filha: Vilma Guimarães Rosa.

A carência de médicos, na região, exige

A carência de médicos, na região, exige que o recém-formado galopeque o recém-formado galope grandes distâncias para atender a clientes. Aproveita até esses momentos grandes distâncias para atender a clientes. Aproveita até esses momentos de viagem para estudar. A sua dedicação à profissão chega a extremos. de viagem para estudar. A sua dedicação à profissão chega a extremos. No artigo “Perfil de Guimarães Ros

No artigo “Perfil de Guimarães Rosa”, Renard Perez fala da perturbaçãoa”, Renard Perez fala da perturbação de Dr. João Rosa quando perde um paciente: “E uma vez em que isso de Dr. João Rosa quando perde um paciente: “E uma vez em que isso aconteceu ficou aflitíssimo, sem saber que resolução tomar. O padre já aconteceu ficou aflitíssimo, sem saber que resolução tomar. O padre já esperava ao lado do morto,

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aplicava injeções sobre injeções, como s

aplicava injeções sobre injeções, como se pretendesse ressuscitá-lo.e pretendesse ressuscitá-lo.

Foi uma noite de agonia. Em casa, mais tarde, o escritor fechou-se Foi uma noite de agonia. Em casa, mais tarde, o escritor fechou-se no quarto, sem querer jantar, imaginando represálias por parte dos no quarto, sem querer jantar, imaginando represálias por parte dos pa-rentes e amigos do morto, quem sabe um linchamento... Soube depois rentes e amigos do morto, quem sabe um linchamento... Soube depois que a preocupação era inteiramente infundada, e que todos haviam que a preocupação era inteiramente infundada, e que todos haviam reco-nhecido que ele fizera o impossível”.

nhecido que ele fizera o impossível”.

Apesar dos atropelos da Medicina e os imprevistos da morte, a vida Apesar dos atropelos da Medicina e os imprevistos da morte, a vida calma de Itaguara permi

calma de Itaguara permite o retorno aos estudos te o retorno aos estudos das línguas ao lado de das línguas ao lado de ou- ou-tras atividades: Inspetor da Secretaria da Educação e Saúde Pública (1932); tras atividades: Inspetor da Secretaria da Educação e Saúde Pública (1932); voluntário da Força Pública, durante a Revolução Constitucion

voluntário da Força Pública, durante a Revolução Constitucionalista, servin-alista, servin-do no Setor servin-do Túnel (1932). É nesses dias dramáticos da revolução que do no Setor do Túnel (1932). É nesses dias dramáticos da revolução que estreita laços de amizade com

estreita laços de amizade com o colega Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira.o colega Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em 1933, o Dr. João Guimarães Rosa presta concurso para a Força Em 1933, o Dr. João Guimarães Rosa presta concurso para a Força Pública e passa a integrar o 9° Batalhão de Infantaria, como oficial médico, Pública e passa a integrar o 9° Batalhão de Infantaria, como oficial médico, sediado em Barbacena

sediado em Barbacena (MG). Guimarães Rosa continua (MG). Guimarães Rosa continua a estudar a estudar línguas elínguas e não perde oportunidad

não perde oportunidade para exercitar e e para exercitar e aperfeiçoar os seus conhecimentoaperfeiçoar os seus conhecimentos:s: com um soldado

com um soldado da Polícia Militar de Minas, de origem russa, confronta suada Polícia Militar de Minas, de origem russa, confronta sua pronúncia pela primeira vez; o que retoma mais tarde com um grupo de pronúncia pela primeira vez; o que retoma mais tarde com um grupo de cadetes e antigos oficiais do exército czarista – componentes de Coro dos cadetes e antigos oficiais do exército czarista – componentes de Coro dos Cossacos do Juban e do Don

Cossacos do Juban e do Don – que se apresenta em Barbacena– que se apresenta em Barbacena. Ainda como. Ainda como homem público, é membro do Serviço de Proteção ao Índio de 1933 a 1935. homem público, é membro do Serviço de Proteção ao Índio de 1933 a 1935.

No início do ano de 1934

No início do ano de 1934, nasce Agnes, segunda filha do casal. E a, nasce Agnes, segunda filha do casal. E a 12 de maio, é nomeado para o cargo de capitão-médico do Serviço de 12 de maio, é nomeado para o cargo de capitão-médico do Serviço de Saúde da Força Pública do Estado de Minas Gerais, com vencimentos Saúde da Força Pública do Estado de Minas Gerais, com vencimentos anuais de 10:200$000.

anuais de 10:200$000. O seu

O seu continuado interesse continuado interesse por línguas por línguas leva o amigo, leva o amigo, DrDr. Jorge V. Jorge Vaz,az, a sugerir-lhe a diplomacia. A essa conversa informal, segue-se a entrada a sugerir-lhe a diplomacia. A essa conversa informal, segue-se a entrada para o Itamaraty depois da realização de duras provas; classificado em para o Itamaraty depois da realização de duras provas; classificado em segundo lugar, inicia nova

segundo lugar, inicia nova carreira como Cônsul carreira como Cônsul de Tde Terceira classe, a 11erceira classe, a 11 de junho de 1934, no Rio de janeiro.

de junho de 1934, no Rio de janeiro. É assim que o

É assim que o DrDr. João Guimarães Ros. João Guimarães Rosa abandona a Medicina para correra abandona a Medicina para correr mundo como diplomata, ocupan

mundo como diplomata, ocupando e exercendo os seguintes cargos e funções:do e exercendo os seguintes cargos e funções: 1938 – 5 de maio. É nomeado Cônsul-adjunto em Hamburgo, on

1938 – 5 de maio. É nomeado Cônsul-adjunto em Hamburgo, ondede

conhece Aracy Moebius de Carvalho, na companhia de quem conhece Aracy Moebius de Carvalho, na companhia de quem viveu até a morte.

viveu até a morte. 1941 –

1941 – 20 de 20 de maio. Vmaio. Vai a Lisboa ai a Lisboa na qualidade de na qualidade de correio diplomáticocorreio diplomático da Embaixada do Brasil em Berlim.

da Embaixada do Brasil em Berlim.

1942 – de 28 de janeiro a 23 de maio, com a ruptura entre o Brasil e 1942 – de 28 de janeiro a 23 de maio, com a ruptura entre o Brasil e a Alemanha, ficou internado, junto com Cícero Dias e Cyro a Alemanha, ficou internado, junto com Cícero Dias e Cyro de Freitas V

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ao Brasil. ao Brasil.

– 1de julho. É enviado para a Embaixada de Bogotá, como – 1de julho. É enviado para a Embaixada de Bogotá, como

Segundo-secretário. Segundo-secretário.

1944 – 27 de junho. Exonerado do cargo em Bogotá, volta ao Rio de 1944 – 27 de junho. Exonerado do cargo em Bogotá, volta ao Rio de

Janeiro para a Secretaria de Estado. Janeiro para a Secretaria de Estado.

1946 – É nomeado Chefe de Gabinete do Ministro João Neves da 1946 – É nomeado Chefe de Gabinete do Ministro João Neves da

Fontoura. Fontoura.

– É enviado a Paris como Secretário da Delegação à – É enviado a Paris como Secretário da Delegação à

Confe-rência de Paz. rência de Paz.

1948 – 19 de março. Segue para Bogotá como Secretário-geral da 1948 – 19 de março. Segue para Bogotá como Secretário-geral da

Delegação Brasileira à IX Conferência Pan-americana. Delegação Brasileira à IX Conferência Pan-americana. – 10 de dezembro. É no

– 10 de dezembro. É nomeado Primeiro-secretário da Embai-meado Primeiro-secretário da Embai-xada do Brasil em Paris.

xada do Brasil em Paris.

1949 – 20 de junho. É promovido a Conselheiro da Embaixada do 1949 – 20 de junho. É promovido a Conselheiro da Embaixada do

Brasil em Paris. Brasil em Paris.

1951 – Promovido a Ministro de Segunda Classe. 1951 – Promovido a Ministro de Segunda Classe.

– 29 de março. De volta ao Brasil, é outra vez nomeado Chefe – 29 de março. De volta ao Brasil, é outra vez nomeado Chefe

de Gabinete do Ministro João Neves da Fontoura. de Gabinete do Ministro João Neves da Fontoura.

1953 – 9 de outubro. É nomeado Chefe da Divisão de Orçamento 1953 – 9 de outubro. É nomeado Chefe da Divisão de Orçamento

do Ministério das Relações Exteriores. do Ministério das Relações Exteriores. 1958 – Promovido à Ministro d

1958 – Promovido à Ministro de Primeira Classe (Embaixador).e Primeira Classe (Embaixador). 1962 – Assume no Itamaraty a Chefia do Serviço de Demarcação 1962 – Assume no Itamaraty a Chefia do Serviço de Demarcação

de Fronteiras. de Fronteiras.

– Toma parte ativa em casos como os do Pico da Neblina – Toma parte ativa em casos como os do Pico da Neblina

(1965) e das Sete Quedas (1965). (1965) e das Sete Quedas (1965). – Serve como correio-verbal de mens

– Serve como correio-verbal de mensagens cifradas em Berlimagens cifradas em Berlim e Lisboa.

e Lisboa.

Do diplomata, Guimarães Rosa faz o seguinte comentário quando Do diplomata, Guimarães Rosa faz o seguinte comentário quando responde a Günter Lorenz o que o havia motivado, em Hamburgo, a responde a Günter Lorenz o que o havia motivado, em Hamburgo, a arriscar-se na perigosa aventura de arrancar judeus da

arriscar-se na perigosa aventura de arrancar judeus da Gestapo:Gestapo:

“(...) um diplomata é um sonhador, por isso eu pude exercer esta “(...) um diplomata é um sonhador, por isso eu pude exercer esta profissão. Ele acredita poder reparar o que os políticos estragaram. Por profissão. Ele acredita poder reparar o que os políticos estragaram. Por isso eu agi assim e não de o

isso eu agi assim e não de outra maneira. Por isso também gostei de serutra maneira. Por isso também gostei de ser diplomata. E então, em Hamburgo, acrescentou-se ainda outra coisa. Eu, diplomata. E então, em Hamburgo, acrescentou-se ainda outra coisa. Eu, o homem do sertão, não posso presenciar injustiça. Na minha terra, num o homem do sertão, não posso presenciar injustiça. Na minha terra, num caso assim, a gente atira muito rápido. Lá não foi

caso assim, a gente atira muito rápido. Lá não foi possível. Então, fiz umpossível. Então, fiz um estratagema diplomático. Não foi assim tão perigoso. Mas agora eu lido estratagema diplomático. Não foi assim tão perigoso. Mas agora eu lido

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com limites de fronteiras e por isso

com limites de fronteiras e por isso vivo muito mais ilimitado”.vivo muito mais ilimitado”. Além das atividades diplomáticas, particip

Além das atividades diplomáticas, participa de várias a de várias sociedades cultu-sociedades cultu-rais: Pen Club, Sociedade de Geografia do Rio

rais: Pen Club, Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, hoje Sociedadede Janeiro, hoje Sociedade Brasileira de Geografia, Academia Brasileira de Letras, Cat

Brasileira de Geografia, Academia Brasileira de Letras, Cat Club.Club.

O reconhecimento público lhe confere em 1965 a Medalha da O reconhecimento público lhe confere em 1965 a Medalha da In-confidência, outorgada pelo governador Israel Pinheiro, e a confidência, outorgada pelo governador Israel Pinheiro, e a condecora-ção da Ordem de Rio Branco. Em 1967, é convid

ção da Ordem de Rio Branco. Em 1967, é convidado a integrar a comis-ado a integrar a comis-são julgadora do II

são julgadora do II Concurso Nacional de Romance Concurso Nacional de Romance WWalmap, ao lado dealmap, ao lado de Jorge Amado e Antônio Olinto. Como membro do Conselho Federal de Jorge Amado e Antônio Olinto. Como membro do Conselho Federal de Cultura, em outubro de 1967, elabora extenso pronunciamento sobre o Cultura, em outubro de 1967, elabora extenso pronunciamento sobre o novo acordo ortográfico. Na qualidade de relator do debate, Guimarães novo acordo ortográfico. Na qualidade de relator do debate, Guimarães Rosa manifesta-se contra o problema levantado pelos filólogos Rosa manifesta-se contra o problema levantado pelos filólogos brasilei-ros e portugueses em favor de um

ros e portugueses em favor de um acordo lingüístico luso-brasileiro. Seuacordo lingüístico luso-brasileiro. Seu parecer é apoiado por unanimidade pela comissão constituída também parecer é apoiado por unanimidade pela comissão constituída também por Raquel de Queiroz, Mo

por Raquel de Queiroz, Moisés Visés Velhinho e Cassiano Relhinho e Cassiano Ricardo.icardo.

Apesar das múltiplas atividades realizadas enquanto profissional liberal e Apesar das múltiplas atividades realizadas enquanto profissional liberal e no funcionalismo público, as paixões de Joãozito continuam no homem João no funcionalismo público, as paixões de Joãozito continuam no homem João

 Nas visitas ao zoológico, a descrição transfigurada do rinoceronte:  Nas visitas ao zoológico, a descrição transfigurada do rinoceronte: “Nepali consente que eu lhe coce a testa. É o rinoceronte hindustânico “Nepali consente que eu lhe coce a testa. É o rinoceronte hindustânico

monócero,

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Guimarães Rosa. O estudo das lín

Guimarães Rosa. O estudo das línguas leva ao Itamaratyguas leva ao Itamaraty. O amor pela nature-. O amor pela nature-za – espaço de sua infância e adolescência – é agora ampliado para âmbito za – espaço de sua infância e adolescência – é agora ampliado para âmbito universal. É membro de um clube inglês de gatos

universal. É membro de um clube inglês de gatos e freqüentador de zoológicos,e freqüentador de zoológicos, como confessa a 12 de junho de 1963 em carta a Mário Calábria:

como confessa a 12 de junho de 1963 em carta a Mário Calábria:

“Peguei-me com o coração me lembrando aquela nossa entretida “Peguei-me com o coração me lembrando aquela nossa entretida ida ao Parc Zoologique de Vicennes, onde bisões gorgeiam e as girafas ida ao Parc Zoologique de Vicennes, onde bisões gorgeiam e as girafas (maluco-metódicas) galopam. Luís Sérgio está no fecundo feliz, e (maluco-metódicas) galopam. Luís Sérgio está no fecundo feliz, e des-cobridor, sério sorridente, cosmical atento – e tudo muito o que ele é: cobridor, sério sorridente, cosmical atento – e tudo muito o que ele é: feito de sensível e clara e energética, suavidade.

feito de sensível e clara e energética, suavidade. Vejo-o

Vejo-o vendovendo muito mais que muito mais que nós alcançamos ver, o búfalo, a tarta-nós alcançamos ver, o búfalo, a tarta-ruga, o carneirinho-da-charneca. Imagino como o espírito dele estará ruga, o carneirinho-da-charneca. Imagino como o espírito dele estará daqui por diante enriquecido. E, mim para mim, depois dessa daqui por diante enriquecido. E, mim para mim, depois dessa experiên-cia, desta dele mágica aventura, passei a saber coisas novas a respeito cia, desta dele mágica aventura, passei a saber coisas novas a respeito do ouriço e da

do ouriço e da folha de faiafolha de faia. Fica programada . Fica programada – – para quando vocês ospara quando vocês os de Ushi, voltarem ao Rio – uma fina e festiva expedição toda nossa ao de Ushi, voltarem ao Rio – uma fina e festiva expedição toda nossa ao zoológico da Quinta da Bo

zoológico da Quinta da Boa Va Vista, lá com ariranhas, gaturamos, sabiás,ista, lá com ariranhas, gaturamos, sabiás, tatus. É perto dos bichos que os homens se amam mais”.

tatus. É perto dos bichos que os homens se amam mais”.

Os animais caçados em Cordisburgo e levados vivos – passarinhos, Os animais caçados em Cordisburgo e levados vivos – passarinhos, pombos, perus, veados, perdizes, sagüis – pelo pai Florduardo, são s

pombos, perus, veados, perdizes, sagüis – pelo pai Florduardo, são subs- ubs-tituídos por gatos e cachorros. Gatos: Tout Petit, Xizinho, Boizinho... O tituídos por gatos e cachorros. Gatos: Tout Petit, Xizinho, Boizinho... O seu último cachorrinho pequinês mereceu uma lápide no Cemitério dos seu último cachorrinho pequinês mereceu uma lápide no Cemitério dos Cães, em Mangueira: Cães, em Mangueira: “Sung, “Sung, Sunguinho de Deus”. Sunguinho de Deus”.

A tendência à interiorização, manifesta desd

A tendência à interiorização, manifesta desde a e a infância, se reafirmainfância, se reafirma de forma sistemática no adulto que alinha notas de comportamento numa de forma sistemática no adulto que alinha notas de comportamento numa cadernetinha: “1) Combater a expansividade em todas as suas formas. cadernetinha: “1) Combater a expansividade em todas as suas formas. De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio. 2) Dominar todos os De uma maneira geral, é preciso guardar silêncio. 2) Dominar todos os impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades. 3)

impulsos. Não comunicar notícias, não transmitir novidades. 3) Never  Never  explain, never complain

explain, never complain! (Nunca explicar, nunca queixar-se!) 4) Não! (Nunca explicar, nunca queixar-se!) 4) Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo). 5) Não ser afirmativo (dogmático) nem demonstrativo (explicativo). 5) Não ex-pressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das pressar nunca as nossas impressões, especialmente as que resultam das conversações que ouvimos. 6) Cada exclamação, cada palavra, cada conversações que ouvimos. 6) Cada exclamação, cada palavra, cada gesto – conservador – aumentam nossas reservas. 7) Moderar todos os gesto – conservador – aumentam nossas reservas. 7) Moderar todos os movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, movimentos expressivos e dar apenas mui ligeiras mostras de emoção, surpresa, alegria, descontentamento, etc. Todo gesto desordenado ou surpresa, alegria, descontentamento, etc. Todo gesto desordenado ou toda mostra de agitação rouba-nos algo”. (GR em guarda contra...) toda mostra de agitação rouba-nos algo”. (GR em guarda contra...)

A experiência do homem plural é

A experiência do homem plural é fonte para a criação lingüística defonte para a criação lingüística de universo singular.

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ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

ESCRITOR SINGULAR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

CRIAÇÃO/CRIADOR 

“Mas eu choco também meus livros; “Mas eu choco também meus livros; uma palavra, uma única palavra, ou uma palavra, uma única palavra, ou uma frase, podem ocupar-me durante uma frase, podem ocupar-me durante horas ou dias”.

horas ou dias”.

(Lit...) (Lit...) “Genialidade, pois sim. Mas eu digo: “Genialidade, pois sim. Mas eu digo: trabalho, trabalho, trabalho!”

trabalho, trabalho, trabalho!”

(Lit...) (Lit...)

 A busca da forma  A busca da forma  precisa: sinal  precisa: sinal característi característico co dede Guimarães Rosa Guimarães Rosa (m% = meu (m% = meu cem por cento). cem por cento). (Estudo de (Estudo de Vocabulário

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Anotar. Meditar. Escrever e guardar. Tornar a escrever. A técnica de Anotar. Meditar. Escrever e guardar. Tornar a escrever. A técnica de trabalho, a busca da forma precisa. Quando chega a ela, o s

trabalho, a busca da forma precisa. Quando chega a ela, o sinal caracterinal caracterís- ís-tico:

tico: m%m%, que significa “meu cem , que significa “meu cem por cento”. A angústia da por cento”. A angústia da perfeição:perfeição: “Apenas sou incorrigivelmente pelo melhorar e aperfeiçoar, sem “Apenas sou incorrigivelmente pelo melhorar e aperfeiçoar, sem descanso, em ação repetida, dorida, feroz, sem cessar até o último descanso, em ação repetida, dorida, feroz, sem cessar até o último momento, a todo custo. Faço isto com os

momento, a todo custo. Faço isto com os meus livros. Neles, não hámeus livros. Neles, não há nem um

nem um momento de inércia. Nenhuma preguiça! Tudo émomento de inércia. Nenhuma preguiça! Tudo é retrabalhado, repensado, calculado, rezado, refervido, recongelado, retrabalhado, repensado, calculado, rezado, refervido, recongelado, descongelado, purgado e reengrossado, outra vez filtrado. Agora, descongelado, purgado e reengrossado, outra vez filtrado. Agora, por exemplo, estou refazendo, pela vigésima terceira vez, uma por exemplo, estou refazendo, pela vigésima terceira vez, uma noveleta. E, cada uma dessas vezes, foi uma tremenda aventura e noveleta. E, cada uma dessas vezes, foi uma tremenda aventura e uma exaustiva ação de laboratório. Acho que a gente tem de fazer uma exaustiva ação de laboratório. Acho que a gente tem de fazer sempre assim. Aprendi a desconfiar de mim mesmo. Quando uma sempre assim. Aprendi a desconfiar de mim mesmo. Quando uma página me entusiasm

página me entusiasma, e vem a vaidade de a achar boa, eu a a, e vem a vaidade de a achar boa, eu a guardoguardo por uns dias, depois

por uns dias, depois retomo-a, masretomo-a, mas sinceramentesinceramente afirmando a mimafirmando a mim mesmo: – vamos ver por

mesmo: – vamos ver por que esta página não presta! e, só então, porque esta página não presta! e, só então, por incrível que pareça, é que os erros e defeitos começam a surgir, a incrível que pareça, é que os erros e defeitos começam a surgir, a pular-me dian

pular-me diante dos ote dos olhos. Vlhos. Vale a pena, ale a pena, dar tanto? Vdar tanto? Vale. A genale. A gente temte tem de escrever para setecentos anos. Para o Juízo Final. Nenhum de escrever para setecentos anos. Para o Juízo Final. Nenhum esforço suplementar fica perdido”. (Carta a Meyer-Clason)

esforço suplementar fica perdido”. (Carta a Meyer-Clason)

 Angústia da perfeição.  Angústia da perfeição. Correção de página do Correção de página do original de “A hora e vez original de “A hora e vez de Augusto Matraga”. de Augusto Matraga”.

(Originais

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As correções dos originais eram tantas que levaram o editor José Olympio As correções dos originais eram tantas que levaram o editor José Olympio a fundir as matrizes de

a fundir as matrizes de Sagarana, Corpo de BaileSagarana, Corpo de Baile ee Grande Sertão: Vere-Grande Sertão: Vere-das

das. A preocupação com as traduções gerou uma farta e rica correspondên-. A preocupação com as traduções gerou uma farta e rica correspondên-cia, repleta de glossários e considerações sobre língua e literatura.

cia, repleta de glossários e considerações sobre língua e literatura. A criação lingüística do universo rosiano é fruto de

A criação lingüística do universo rosiano é fruto de trabalho. O mate-trabalho. O mate-rial armazenado empiricame

rial armazenado empiricamente desde a nte desde a infância, depois nos cadernos deinfância, depois nos cadernos de anotações, nas pastas de recortes para a obra, compõe um un

anotações, nas pastas de recortes para a obra, compõe um universo singu-iverso singu-lar; a depuração lingüística dá-lhe

lar; a depuração lingüística dá-lhe uma expressão singular.uma expressão singular.

Precisão da palavra: correspondência do Autor colaborando com a Precisão da palavra: correspondência do Autor colaborando com a tradução para o inglês – glossário ilustrado. (Correspondência – IEB) tradução para o inglês – glossário ilustrado. (Correspondência – IEB)

Expressão Singular Expressão Singular

Desde menino a preocupação com a expressão: o conhecimento de Desde menino a preocupação com a expressão: o conhecimento de línguas e o estudo de gramáticas. Sua biblioteca e arquivo, a línguas e o estudo de gramáticas. Sua biblioteca e arquivo, a confirma-ção desse interesse: dicionários, gramáticas, glossários – listas de termos ção desse interesse: dicionários, gramáticas, glossários – listas de termos específicos, principalmente ligados a boi e usos

específicos, principalmente ligados a boi e usos e costumes do sertão.e costumes do sertão. Do manejo das línguas

Do manejo das línguas à criação. Criação ampla em vários níveis daà criação. Criação ampla em vários níveis da língua: lexical, sintático, sonoro, pontuação.

língua: lexical, sintático, sonoro, pontuação. A definição de língua a Lorenz:

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“E quero frisar, que ela foi fundida de elementos que não são “E quero frisar, que ela foi fundida de elementos que não são minha propriedade privada mas estão à disposição de todos os minha propriedade privada mas estão à disposição de todos os outros da mesma maneira”. (Lit...)

outros da mesma maneira”. (Lit...)

A explicação a Lorenz da relação com sua língua: A explicação a Lorenz da relação com sua língua:

“É uma relação de parentesco, de amor. Minha língua e eu “É uma relação de parentesco, de amor. Minha língua e eu so-mos um casal de amantes, que juntos procriam fervorosamente, mos um casal de amantes, que juntos procriam fervorosamente, mas ao qual se

mas ao qual se recusou até hoje a bênção eclesiástica e científica.recusou até hoje a bênção eclesiástica e científica. Mas como sertanejo não ligo para a falta de tais formalidades. Mas como sertanejo não ligo para a falta de tais formalidades. Minha amante para mim é mais impo

Minha amante para mim é mais importante”. (Lit...)rtante”. (Lit...) Pr

Precisão da ecisão da palavrapalavra

A necessidade de nomear e descrever viva e exatamente as A necessidade de nomear e descrever viva e exatamente as pesso-as, os animais, as coispesso-as,

as, os animais, as coisas, leva o Autor a empregar termos especializados.leva o Autor a empregar termos especializados. Busca a palavra exata e afirma: “Eu não escrevo difícil. EU SEI O NOME Busca a palavra exata e afirma: “Eu não escrevo difícil. EU SEI O NOME DAS COISAS”. (

DAS COISAS”. ( Rosiana Rosiana))

Obra repleta de vocábulos já existentes da língua portuguesa ou em Obra repleta de vocábulos já existentes da língua portuguesa ou em outras línguas: elementos eruditos, arcaicos, técnicos, brasileirismos

outras línguas: elementos eruditos, arcaicos, técnicos, brasileirismos, for-, for-mas populares, empréstimos.

mas populares, empréstimos.

Uma passagem de “São Marcos” (SAG) é representativa pelo uso Uma passagem de “São Marcos” (SAG) é representativa pelo uso freqüente de elementos eruditos greco-latinos, geralmente relativos à freqüente de elementos eruditos greco-latinos, geralmente relativos à dis-ciplina científica:

ciplina científica:

“É que o meu parceiro Josué Cornetas conseguiu ampliar um “É que o meu parceiro Josué Cornetas conseguiu ampliar um tan-to os limites mentais de um sujeitan-to só

to os limites mentais de um sujeito só bi-dimensional, por meio debi-dimensional, por meio de ensinar-lhe estes nomes: intimismo,

ensinar-lhe estes nomes: intimismo, paralaxe, palimpsesto, sinclinal,paralaxe, palimpsesto, sinclinal, palingenesia, prosopopese, amnemosínia, subliminal”.

palingenesia, prosopopese, amnemosínia, subliminal”.

O termo arcaico é também reaproveitado. É freqüente encontrar O termo arcaico é também reaproveitado. É freqüente encontrar em

em SagaranaSagarana o emprego deo emprego de muimui porpor muitomuito. Nos exemplos abaixo,. Nos exemplos abaixo, alal,, imigo

imigo ee malinomalino são formas arcaicas, respectivamente, desão formas arcaicas, respectivamente, de algoalgo,, inimigoinimigo ee malignomaligno..

“(...) por al, por mal, eu estava s

“(...) por al, por mal, eu estava soflagrante encostado, rendido, semoflagrante encostado, rendido, sem salves”. (GSV)

salves”. (GSV)

“(...) no imigo, em véspera, não se proseia”. (GSV) “(...) no imigo, em véspera, não se proseia”. (GSV) “A bala eu chupei, estava azedinha gostosa...

“A bala eu chupei, estava azedinha gostosa... – ainda dizia, depois,– ainda dizia, depois, mais malino”. (MM)

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Se o tema do conto é “A simples e exata estória do burrinho do Se o tema do conto é “A simples e exata estória do burrinho do comandante” (EE), a linguagem do homem do mar será a usada. comandante” (EE), a linguagem do homem do mar será a usada. Pala-vras e expressões típicas permeiam o texto:

vras e expressões típicas permeiam o texto:

“Imagine-o: sobressaindo à meia-nau, uma escalavrada “Imagine-o: sobressaindo à meia-nau, uma escalavrada supe-restrutura, uma barraca – o

restrutura, uma barraca – o spardeck spardeck ou casa das máquinas – deou casa das máquinas – de onde sobe a chaminé; outra, fazendo corpo com a proa, o onde sobe a chaminé; outra, fazendo corpo com a proa, o caste-lo; e mais outra, à popa, o

lo; e mais outra, à popa, o tombadilho. Aí já pode ter como stombadilho. Aí já pode ter como seriaeria o seu perfil. E a quantidade de burros, sobreexcesso deles, lá, o seu perfil. E a quantidade de burros, sobreexcesso deles, lá, acotovelados, enchendo tudo, mui tranqüilos. Com a luneta, acotovelados, enchendo tudo, mui tranqüilos. Com a luneta, al-cançava-se percebe

cançava-se perceber como r como alguns levantavam cabeça, abrindo asalguns levantavam cabeça, abrindo as ventas, para tomar o sempre desacostumado forte cheiro de sal, ventas, para tomar o sempre desacostumado forte cheiro de sal, que subia na brisa, digo, vento 3, na tabela de Beaufort”.

que subia na brisa, digo, vento 3, na tabela de Beaufort”.

Os brasileirismos, principalmente na denominação de usos, Os brasileirismos, principalmente na denominação de usos, costu-mes e elementos da flora e da fauna, não são só de Minas Gerais, mas mes e elementos da flora e da fauna, não são só de Minas Gerais, mas termos regionais de todo o país:

termos regionais de todo o país: lapeava

lapeava (Norte): “cortar com o chicote o(Norte): “cortar com o chicote ou lapo; chicotear.”u lapo; chicotear.” “(...) pai acudiu, tiro não pod

“(...) pai acudiu, tiro não podia ter cautela de daria ter cautela de dar, lapeava só com o, lapeava só com o facão.” (MM)

facão.” (MM) urupuca

urupuca (Sul): “armadilha, arapuca”. “ – Dito, amanhã eu te ensino(Sul): “armadilha, arapuca”. “ – Dito, amanhã eu te ensino a armar urupuca, eu já sei (...)”(MM)

a armar urupuca, eu já sei (...)”(MM) sebaça

sebaça (Bahia): “aquisição de objetos alheios à mão armada; assal-(Bahia): “aquisição de objetos alheios à mão armada; assal-to à propriedade, seguido de roubo”. “Posso até livrar de sebaça, às to à propriedade, seguido de roubo”. “Posso até livrar de sebaça, às ve-zes, mas não posso perdoar isto não (...)” (SAG)

zes, mas não posso perdoar isto não (...)” (SAG) bate-pau

bate-pau (Goiás): “Indivíduo armado a serviço da polícia rural; aque-(Goiás): “Indivíduo armado a serviço da polícia rural; aque-le que presta serviços policiais em lugares desertos, onde é deficiente a le que presta serviços policiais em lugares desertos, onde é deficiente a força pública”.

força pública”. “Dali a “Dali a pouco, porém, tornava o pouco, porém, tornava o Quim, com nova deso-Quim, com nova deso-lação: os bate-paus não vinham (...)” (SAG)

lação: os bate-paus não vinham (...)” (SAG) savitu

savitu (Sul): “saúva”. “Içá, savitu, já ouvi dizer que homem faminto(Sul): “saúva”. “Içá, savitu, já ouvi dizer que homem faminto come frita com farinha essa imundície (...)” (GSV)

come frita com farinha essa imundície (...)” (GSV) caculucage

caculucage (Minas Gerais): “planta herbácea da família das Com-(Minas Gerais): “planta herbácea da família das Com-postas”. “As lagartixas que percorriam de leve, por debaixo das moitas postas”. “As lagartixas que percorriam de leve, por debaixo das moitas de caculucage.” (GSV)

de caculucage.” (GSV)

O elemento popular também auxilia a composição da expressão singular: O elemento popular também auxilia a composição da expressão singular:  pileca

(22)

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quase encostado em Turíbio, tal que, a um resfolego d

quase encostado em Turíbio, tal que, a um resfolego da pileca, um flocoa pileca, um floco de

de escuma escuma branca branca voou-lhe no voou-lhe no braço.” braço.” (SAG)(SAG) cavalicoque

cavalicoque: “cavalo pequeno e de pouco valor”. “Justo no mo-: “cavalo pequeno e de pouco valor”. “Justo no mo-mento, o cavalicoque cobreou com o lombo.

mento, o cavalicoque cobreou com o lombo.” (SAG)” (SAG) osga

osga: “aversão estranhada”. “Uma osga! P’r’aqui mais p’r’aqui que: “aversão estranhada”. “Uma osga! P’r’aqui mais p’r’aqui que eu fiquei! (...)” (SAG)

eu fiquei! (...)” (SAG)

Algumas formas populares são resultantes de deformações Algumas formas populares são resultantes de deformações fonéti-cas. São mudanças normais do sistema que o

cas. São mudanças normais do sistema que ocorrem, em geral, para faci-correm, em geral, para faci-litar a pronúncia, não alterando o significado do vocábulo.

litar a pronúncia, não alterando o significado do vocábulo.

Muitos desses vocábulos podem ser coloquialismos mineiros, mas Muitos desses vocábulos podem ser coloquialismos mineiros, mas alguns deles, como

alguns deles, como arreunir arreunir dede reunir reunir ,, alembrar alembrar dede lembrar lembrar ,, arresidir arresidir  de

de residir residir , são ouvidos em outras regiões do Brasil., são ouvidos em outras regiões do Brasil. As deformações fonéticas podem resultar de: As deformações fonéticas podem resultar de:

l

l trocas vocálicas: jenuária trocas vocálicas: jenuária por januária, “cachaça”. “Vpor januária, “cachaça”. “Vamos con-amos

con-sumir uma jenuária, seu Camilo?” (MM) sumir uma jenuária, seu Camilo?” (MM)

l

l quedas de fonemas: branquiçadas por esbranquiçadas. “Árvoresquedas de fonemas: branquiçadas por esbranquiçadas. “Árvores

branquiçadas, traiçoeiramente.” (GSV) branquiçadas, traiçoeiramente.” (GSV)

l

l aumento de fonemas: serepente por serpente. “Nem cobraaumento de fonemas: serepente por serpente. “Nem cobra

serepente malina não é”. (GSV) serepente malina não é”. (GSV)

A busca do termo preciso leva Guimarães Rosa a introduzir na obra A busca do termo preciso leva Guimarães Rosa a introduzir na obra também termos estrangeiros. O empréstimo conota o modo peculiar de também termos estrangeiros. O empréstimo conota o modo peculiar de cada povo denominar os seres e objetos; por isso, afirma o Autor, há cada povo denominar os seres e objetos; por isso, afirma o Autor, há palavras e expressões intraduzíveis:

palavras e expressões intraduzíveis:

“Aprendi umas línguas estrangeiras só para enriquecer a minha “Aprendi umas línguas estrangeiras só para enriquecer a minha pró-pria linguagem. E

pria linguagem. E porque existem demasiadas coisas porque existem demasiadas coisas intraduzíveintraduzíveis,is, pensadas em sonho, intuitivas, que só se podem encontrar no som pensadas em sonho, intuitivas, que só se podem encontrar no som original. Quem quer entender corretamente Kierkegaard, tem de original. Quem quer entender corretamente Kierkegaard, tem de aprender dinamarquês, senão nada lhe ajuda, mesmo a melhor aprender dinamarquês, senão nada lhe ajuda, mesmo a melhor tra-dução; quem quer entender Dostoievski tem de lê-lo em russo, dução; quem quer entender Dostoievski tem de lê-lo em russo, as-sim é em toda parte onde uma realidade lingüística é velada diante sim é em toda parte onde uma realidade lingüística é velada diante de uma outra, de maneira que não se pode

de uma outra, de maneira que não se pode mais penetrar o véu (...)mais penetrar o véu (...) Por isso, aprendi línguas. Cada língua tem para si

Por isso, aprendi línguas. Cada língua tem para si própria uma ver-própria uma ver-dade interior que não é traduzível”. (Lit...)

dade interior que não é traduzível”. (Lit...) São empréstimos:

São empréstimos: drilldrill, “exercícios” (inglês);, “exercícios” (inglês); cachiporrascachiporras, “cacete”, “cacete” (espanhol);

(espanhol); bouvier bouvier , “vaqueiro” (francês);, “vaqueiro” (francês); tutiratutira, “tio” (tupi)., “tio” (tupi). “Escapara então ao rigor do drill prussiano

“Escapara então ao rigor do drill prussiano (...)” (AP)(...)” (AP)

“(...) não quiseram pegá-lo com as cachiporras (...)” (SAG) “(...) não quiseram pegá-lo com as cachiporras (...)” (SAG)

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“(...) o bouvier das landes gascãs (...)” (AP) “(...) o bouvier das landes gascãs (...)” (AP) “Jaguaretê tio meu, irmão de minha mãe,

“Jaguaretê tio meu, irmão de minha mãe, tutira (...)” (EE)tutira (...)” (EE)  Horror ao lugar-comum

 Horror ao lugar-comum

O uso desgasta o poder expressivo das palavras. As palavras se O uso desgasta o poder expressivo das palavras. As palavras se tor-nam clichês e perdem sua poesia. Cada autor, se quiser executar a sua nam clichês e perdem sua poesia. Cada autor, se quiser executar a sua tarefa, tem de usar cada palavra como se ela estivess

tarefa, tem de usar cada palavra como se ela estivesse acabando de nas-e acabando de nas-cer

cer. Revitalizar a palavra e, s. Revitalizar a palavra e, se necessário, criar o se necessário, criar o seu próprio voeu próprio vocabulá- cabulá-rio, aconselha Guimarães Rosa na entrevista a Lorenz:

rio, aconselha Guimarães Rosa na entrevista a Lorenz: “Nesta Babilônia espiritual dos valores n

“Nesta Babilônia espiritual dos valores na qual vivemos hoje em dia,a qual vivemos hoje em dia, cada autor tem de criar seu próprio vocabulário, ele não tem cada autor tem de criar seu próprio vocabulário, ele não tem alternati-va, senão ele não poderá executar a sua tarefa. Esses jov

va, senão ele não poderá executar a sua tarefa. Esses jovens ignorantesens ignorantes que declaram abertamente que não se trata mais da língua, que só que declaram abertamente que não se trata mais da língua, que só conta o conteúdo, esses são coitados dos quais só podemos ter pena. conta o conteúdo, esses são coitados dos quais só podemos ter pena. O melhor conteúdo não vale nada quando a língua não lhe faz juz, O melhor conteúdo não vale nada quando a língua não lhe faz juz, isso mostra Zola. E o conteúdo mais perigoso torna-se uma função isso mostra Zola. E o conteúdo mais perigoso torna-se uma função humana quando é exprimido em língua poética, isto é, em língua humana quando é exprimido em língua poética, isto é, em língua hu-mana. Podemos notar isso em Astúrias. Essa língua, como provam mana. Podemos notar isso em Astúrias. Essa língua, como provam também Astúrias, Thomas Mann e Musil, esta língua deve ser hoje também Astúrias, Thomas Mann e Musil, esta língua deve ser hoje em dia uma língua criada pelo próprio autor, porque o material em dia uma língua criada pelo próprio autor, porque o material lingüístico existente basta ainda para prospectos de publicidade e lingüístico existente basta ainda para prospectos de publicidade e de-clarações políticas, mas não basta mais para poesia, não basta mais clarações políticas, mas não basta mais para poesia, não basta mais para pronunciar verdades humanas

para pronunciar verdades humanas. Hoje em dia, um dicionário é, ao. Hoje em dia, um dicionário é, ao mesmo tempo, a melhor antologia lírica. Cad

mesmo tempo, a melhor antologia lírica. Cada palavra é na sua essên-a palavra é na sua essên-cia um poema. Pense só na sua gênese. No meu centenário publicarei cia um poema. Pense só na sua gênese. No meu centenário publicarei um livro, meu romance mais im

um livro, meu romance mais importante: um dicionário. Talvez já umportante: um dicionário. Talvez já um pouco mais cedo. Isso será então minha autobiografia”.

pouco mais cedo. Isso será então minha autobiografia”. É assim que age o

É assim que age o personagem-narrador de “São Marcos” (SAG). Apersonagem-narrador de “São Marcos” (SAG). A emoção nova experimentada por ele não pode ser descrita por palavras emoção nova experimentada por ele não pode ser descrita por palavras gastas pelo uso alheio. Procura o vocábulo de “ileso gume”, “raramente gastas pelo uso alheio. Procura o vocábulo de “ileso gume”, “raramente usado, melhor fora se jamais usado”:

usado, melhor fora se jamais usado”:

“Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo “Sim, que, à parte o sentido prisco, valia o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se pouco visto e menos ainda ouvido, raramente usado, melhor fora se  jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro  jamais usado. Porque, diante de um gravatá, selva moldada em jarro  jônico, dizer-se apenas

 jônico, dizer-se apenas drimirimdrimirim ouou amormeuzinhoamormeuzinho é justo; e, ao des-é justo; e, ao des-cobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinqüenta cobrir, no meio da mata, um angelim que atira para cima cinqüenta metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo metros de tronco e fronde, quem não terá ímpeto de criar um vocativo absurdo e bradá-lo – Ó colos

absurdo e bradá-lo – Ó colossalidade! – na direção da altura? E não ésalidade! – na direção da altura? E não é sem assim que as palavras têm canto e plumagem”.

Referências

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