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Uma Mulher Misteriosa - Astridy Gurgel

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Academic year: 2021

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Contos de Astridy Gurgel

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UMA MULHER MISTERIOSA UMA MULHER MISTERIOSA

Carmem Santiago mal conseguia esconder seu assombro enquanto Carmem Santiago mal conseguia esconder seu assombro enquanto seguia pelas dependências da gigantesca companhia. Ouvira falar do poder da seguia pelas dependências da gigantesca companhia. Ouvira falar do poder da família Alvarez, mas não supôs que fosse tanto. O prédio tinha vinte andares. família Alvarez, mas não supôs que fosse tanto. O prédio tinha vinte andares. Uma multidão de funcionários transitava de um Lado para o outro. Parada Uma multidão de funcionários transitava de um Lado para o outro. Parada diante do elevador, observava tudo chocada. Sabia que o pai negociava com o diante do elevador, observava tudo chocada. Sabia que o pai negociava com o velho Sr. Alvarez. Com a sua morte, todo o controle passou automaticamente velho Sr. Alvarez. Com a sua morte, todo o controle passou automaticamente para as mãos de sua filha. Ouvira falar muitas coisas sobre Marcela Alvarez. para as mãos de sua filha. Ouvira falar muitas coisas sobre Marcela Alvarez. Diziam coisas assustadoras sobre ela. Diziam ser uma criatura fria, dura e Diziam coisas assustadoras sobre ela. Diziam ser uma criatura fria, dura e implacável. Outras histórias davam conta de sua vida reclusa no casarão dos implacável. Outras histórias davam conta de sua vida reclusa no casarão dos Alvarez. Contavam que nem um iceberg era tão gelado quanto ela. Sua fama Alvarez. Contavam que nem um iceberg era tão gelado quanto ela. Sua fama de não perdoar e punir o menor erro era f

de não perdoar e punir o menor erro era famosa.amosa.

Seu corpo estremeceu quando o elevador abriu a porta levando-a até o Seu corpo estremeceu quando o elevador abriu a porta levando-a até o ultimo andar. Ali encontraria a criatura que poderia salvar sua vida ou ultimo andar. Ali encontraria a criatura que poderia salvar sua vida ou destruí-la.

la.

Foi recebida por uma secretária que aparentava ter uns quarenta anos. Foi recebida por uma secretária que aparentava ter uns quarenta anos. A mulher não sorriu o que a deixou mais apreensiva. Guiou-a por um Cumprido A mulher não sorriu o que a deixou mais apreensiva. Guiou-a por um Cumprido corredor até estarem diante de uma porta imensa e pesada. Deu uma leve corredor até estarem diante de uma porta imensa e pesada. Deu uma leve batida abrindo-a e anunciando num tom

batida abrindo-a e anunciando num tom impessoal.impessoal. - A Senhorita Santiago está aqui!

- A Senhorita Santiago está aqui!

Os passos que deu para dentro daquela sala escura foram incertos. Os passos que deu para dentro daquela sala escura foram incertos. Olhou em volta muito assustada. Viu uma estante de livros que ocupava toda Olhou em volta muito assustada. Viu uma estante de livros que ocupava toda

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uma parede, do chão quase ao teto. Havia imensas janelas na sala Ampla. uma parede, do chão quase ao teto. Havia imensas janelas na sala Ampla. Todas com cortinas fechadas de maneira que não entrava numa luz no Todas com cortinas fechadas de maneira que não entrava numa luz no ambiente.

ambiente.

Sentiu o cheiro de cigarro no ar. Estava parada sem conseguir dar um Sentiu o cheiro de cigarro no ar. Estava parada sem conseguir dar um único passo. Suas pernas tremiam descontroladamente. Nunca em toda a sua único passo. Suas pernas tremiam descontroladamente. Nunca em toda a sua vida sentiu tanto medo. Olhou para frente onde via uma mesa e por trás dela o vida sentiu tanto medo. Olhou para frente onde via uma mesa e por trás dela o que parecia ser o vulto de uma pessoa. Seria ela? Por que estava tudo tão que parecia ser o vulto de uma pessoa. Seria ela? Por que estava tudo tão escuro? Notou neste instante que havia uma luz acesa ali. Havia umas vinte escuro? Notou neste instante que havia uma luz acesa ali. Havia umas vinte cadeiras ao redor da mesa. A luz era de um abajur bem no centro, sobre a cadeiras ao redor da mesa. A luz era de um abajur bem no centro, sobre a mesa. Levou a mão ao peito respirando com dificuldade. Teria alguém mais mesa. Levou a mão ao peito respirando com dificuldade. Teria alguém mais naquela sala? A pessoa sentada imóvel na cadeira seria Marcela Alvarez? Mil naquela sala? A pessoa sentada imóvel na cadeira seria Marcela Alvarez? Mil pensamentos a invadiam quando uma voz masculina soou chamando sua pensamentos a invadiam quando uma voz masculina soou chamando sua atenção.

atenção.

- Senhorita Santiago! Aproxime-se, por favor! - Senhorita Santiago! Aproxime-se, por favor!

Voltou-se na direção da voz, vendo um homem de terno surgindo diante Voltou-se na direção da voz, vendo um homem de terno surgindo diante dela.

dela.

- Boa tarde! Pensei que iria falar com a

- Boa tarde! Pensei que iria falar com a Senhorita Alvarez.Senhorita Alvarez. - Vai falar comigo primeiro.

- Vai falar comigo primeiro.

Explicou apontando uma cadeira onde ela sentou. Explicou apontando uma cadeira onde ela sentou. - Muito bem, estou as suas ordens.

- Muito bem, estou as suas ordens.

Olhou em volta incerta. Viu que havia mesmo alguém sentado atrás da Olhou em volta incerta. Viu que havia mesmo alguém sentado atrás da mesa. A brasa do

mesa. A brasa do cigarro brilhou no escuro desfazendo suas duvidas. Voltou cigarro brilhou no escuro desfazendo suas duvidas. Voltou osos olhos para o homem. Ele, parecendo entender seu receio avisou num tom olhos para o homem. Ele, parecendo entender seu receio avisou num tom profissional.

profissional.

- Meu nome é Rodolfo Santos. Sou advogado da companhia. Agora - Meu nome é Rodolfo Santos. Sou advogado da companhia. Agora queira dizer a razão de ter solicitado esta reunião. Carmem respirou queira dizer a razão de ter solicitado esta reunião. Carmem respirou profundamente fitando o homem que a encarava sem mover um único músculo profundamente fitando o homem que a encarava sem mover um único músculo do rosto.

do rosto.

- O Senhor deve estar ciente dos negócios do meu pai com o falecido Sr. - O Senhor deve estar ciente dos negócios do meu pai com o falecido Sr. Alvarez. Também deve saber que meu pai encontra-se num hospital, pois teve Alvarez. Também deve saber que meu pai encontra-se num hospital, pois teve um infarto muito grave.

um infarto muito grave.

- Estou ciente de tudo isto. - Estou ciente de tudo isto.

- Sim, é claro – Ela concordou apertando a bolsa no colo – Deve saber - Sim, é claro – Ela concordou apertando a bolsa no colo – Deve saber que assumi a empresa do meu pai. Há seis meses estou lutando para salva-la que assumi a empresa do meu pai. Há seis meses estou lutando para salva-la de um desastre maior. Hoje estou aqui, porque encontrei entre os papeis do de um desastre maior. Hoje estou aqui, porque encontrei entre os papeis do meu pai anotações que provam que ele contraiu uma grande divida com o Sr. meu pai anotações que provam que ele contraiu uma grande divida com o Sr. Alvarez. Vim saber o valor desta divida e discutir as melhores formas de Alvarez. Vim saber o valor desta divida e discutir as melhores formas de saldá-la. O advogado abriu um livro anunciando o valor da divida. Assim que ouviu o la. O advogado abriu um livro anunciando o valor da divida. Assim que ouviu o Montante ela agarrou mais a bolsa junto ao corpo arregalando os olhos.

Montante ela agarrou mais a bolsa junto ao corpo arregalando os olhos. - O Senhor deve estar brincando!

- O Senhor deve estar brincando! - Infelizmente não!

- Infelizmente não! - Mas...

- Mas...

- Seu pai tomou dinheiro em

- Seu pai tomou dinheiro emprestado durante dez anos. Imaginamos queprestado durante dez anos. Imaginamos que por amizade estes empréstimos continuaram sendo concedidos. Seu pai por amizade estes empréstimos continuaram sendo concedidos. Seu pai obviamente nunca teve condições de saldar a divida. Sua empresa está para obviamente nunca teve condições de saldar a divida. Sua empresa está para abrir falência. A situação é insustentável. Deve funcionários, bancos e abrir falência. A situação é insustentável. Deve funcionários, bancos e

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seguradoras. As ações trabalhistas vêem se acumulando nos últimos meses. seguradoras. As ações trabalhistas vêem se acumulando nos últimos meses. Se entregasse sua casa, a empresa e

Se entregasse sua casa, a empresa e todos os seus bens,todos os seus bens,

Nem assim saudaria dez por cento do valor. Devo informá-la que tenho em Nem assim saudaria dez por cento do valor. Devo informá-la que tenho em minhas mãos uma ação que devera ser encaminhada para a justiça. Estou minhas mãos uma ação que devera ser encaminhada para a justiça. Estou apenas aguardando o parecer da Senhorita Alvarez. Ela quer solucionar essa apenas aguardando o parecer da Senhorita Alvarez. Ela quer solucionar essa questão o mais breve possível.

questão o mais breve possível.

- Oh... Por favor! – Interrompeu-o desesperada – Logicamente eu teria - Oh... Por favor! – Interrompeu-o desesperada – Logicamente eu teria vindo antes se soube do fato. Vivia fora do país onde me formei em vindo antes se soube do fato. Vivia fora do país onde me formei em administração de empresas. O meu único desejo sempre foi cuidar dos administração de empresas. O meu único desejo sempre foi cuidar dos negócios da minha família. Para falar a verdade nunca soubemos como a negócios da minha família. Para falar a verdade nunca soubemos como a empresa chegou a está situação desastrosa. Precisa saber que desde que empresa chegou a está situação desastrosa. Precisa saber que desde que assumi a produção foi reaquecida e tenho conseguido manter as portas assumi a produção foi reaquecida e tenho conseguido manter as portas abertas. Estou fazendo uma reestruturação completa e

abertas. Estou fazendo uma reestruturação completa e pretendo...pretendo...

- Senhorita! – Ele a interrompeu erguendo a mão no ar demonstrando - Senhorita! – Ele a interrompeu erguendo a mão no ar demonstrando impaciência – Seu pai foi informado da ação judicial e não nos procurou como impaciência – Seu pai foi informado da ação judicial e não nos procurou como supúnhamos.

supúnhamos.

- Não sei como explicar. Meu pai andava muito nervoso e estranho. - Não sei como explicar. Meu pai andava muito nervoso e estranho. Agora entendo a razão. Peço desculpas pela atitude dele. O Senhor há de Agora entendo a razão. Peço desculpas pela atitude dele. O Senhor há de convir que...

convir que...

- Não temos nada m

- Não temos nada mais para discutir – ais para discutir – Falou erguendo-se neste instante.Falou erguendo-se neste instante. - Por favor...

- Por favor...

- Desculpas não pagam dividas, Senhorita! –

- Desculpas não pagam dividas, Senhorita! – Lembrou frioLembrou frio - Sei disto, por isto estou aqui.

- Sei disto, por isto estou aqui.

- Não tem como pagar a divida, portanto terá que resolver na justiça! - Não tem como pagar a divida, portanto terá que resolver na justiça! - Mas...

- Mas...

- Não temos mais nada para discutir! - Não temos mais nada para discutir!

- Só lhe peço que fale com a Senhorita Alvarez de minha presteza. Eu - Só lhe peço que fale com a Senhorita Alvarez de minha presteza. Eu lutei me especializando para cuidar da minha empresa. Perde-la seria lutei me especializando para cuidar da minha empresa. Perde-la seria certamente o fim dos meus esforços. Estou disposta a saldar até o último certamente o fim dos meus esforços. Estou disposta a saldar até o último centavo desta divida. Porém necessito de um

centavo desta divida. Porém necessito de um tempo.tempo. - Em sua

- Em sua situação não posso imaginar como!situação não posso imaginar como!

- O trabalho não me assusta. Se puder trabalhar sem pressões, garanto - O trabalho não me assusta. Se puder trabalhar sem pressões, garanto que num prazo de dois anos reconstruo a minha empresa. Fale com ela em que num prazo de dois anos reconstruo a minha empresa. Fale com ela em meu nome. Por favor!

meu nome. Por favor!

O homem a observou por alguns instantes e recolheu sua pasta dizendo O homem a observou por alguns instantes e recolheu sua pasta dizendo franco.

franco.

- A Senhorita é uma sonhadora! - A Senhorita é uma sonhadora!

- Não! Sou uma lutadora! Se puder provar eu provarei o meu

- Não! Sou uma lutadora! Se puder provar eu provarei o meu valor!valor!

Ele a fitou parecendo surpreso. Depois lançou um olhar na direção da Ele a fitou parecendo surpreso. Depois lançou um olhar na direção da porta falando num tom menos duro.

porta falando num tom menos duro.

- Vou falar sobre o seu pedido. Darei uma resposta até amanhã. Passe - Vou falar sobre o seu pedido. Darei uma resposta até amanhã. Passe bem! – Terminou estendendo a m

bem! – Terminou estendendo a mão.ão.

- Suas palavras foram benditas! Serei eternamente grata por sua ajuda. - Suas palavras foram benditas! Serei eternamente grata por sua ajuda. Até logo.

Até logo.

Assim que a porta se fechou, ele voltou-se para Marcela. Assim que a porta se fechou, ele voltou-se para Marcela.

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- O que devo fazer? Vai dar o que tempo que ela pediu? – Perguntou pegando sua pasta.

O silêncio que se seguiu foi muito longo. Até que ela respondeu num tom muito tranquilo.

- Vou pensar sobre o assunto. Pode se retirar agora!

Marcela Alvarez girou a cadeira erguendo-se lentamente. Carmem Santiago! Um sorriso surgiu em seus lábios. Como ansiou por este momento. Exatamente quatro meses de espera. Desde a primeira vez que colocou os olhos nela que nunca mais conseguiu tira-la da cabeça. Estava jantando sozinha num restaurante naquela noite. Numa mesa a frente da sua, estavam ela, a mãe, a irmã e o irmão. Estavam comemorando o aniversário da mãe.

No momento em que seus olhos cruzaram com os dela sentiu como se uma

Bomba explodisse dentro do seu peito. Ela não fugiu dos seus olhares. Passou todo o tempo correspondendo ao seu olhar encantada. Tinham flertado por mais de duas horas. Quando pagou sua conta seguindo para a porta parou voltando-se na direção da mesa dela. Ela ainda a olhava fixamente. Com o mesmo olhar que a tinha devorado sem o menor pudor, enquanto esteve sentada diante dela. Era bonita! Possuía um porte impecável e uma elegância incomum. Nenhuma mulher despertou a revolução que ela desencadeou naquela noite. Quando se deitou em sua cama sentiu o corpo todo ardendo ao pensar nela. Desde então não pensava em outra coisa. Nunca ansiou tanto por uma algo como ansiou para vê-la sentada ali na sua frente. Sabia que ela viria desde o dia que leu nos jornais que ela assumira a empresa do pai. Ela perecia ser muito inteligente e esperta. Mas era inexperiente no mundo dos negócios. Que certeza poderia ter de que iria realmente reerguer a empresa falida? E se falhasse? O prejuízo seria desastroso. Soltou um suspiro lembrando-se do corpo divino dela. O desejo louco que sentia por ela renasceu dominando seu corpo. Não era seu estilo ser boazinha com as pessoas. Por que tinha que ser com ela? O que ganharia arriscando-se assim? Logicamente precisava de uma compensação. Quem poderia condená-la? Afinal na vida não se conseguia nada de graça. Nada caia do céu. Não no mundo dos negócios!

Carmem viveu a pior noite da sua vida. Teve pesadelos horríveis. Quando acordou estava toda molhada de suor. Pulou da cama rapidamente. Teria por fim a resposta de Marcela Alvarez. A primeira coisa que fez foi ir ao hospital ver o pai. O quadro era o mesmo. Continuava em coma. Dali correu para a empresa. Uma tristeza imensa encheu seu coração. O pai estava quase morto no hospital. E não tinha um centavo para salvar a empresa. No entanto sabia que não podia entregar os pontos. Tomou o elevador subindo rápido para a sua sala. Ali sorriu para a secretaria que se ergueu ao vê-la.

- Bom dia Solange! Alguém me ligou?

- Bom dia! Ainda não. Teve notícias do seu pai?

- Está na mesma – Falou dando um meio sorriso – Estou aguardando uma chamada muito importante de Rodolfo Santos. Avise-me, sim?

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No entanto foi um longo dia de espera. Anoitecia quando recebeu a tal chamada. Ficou surpresa ao ouvir as palavras curtas dele quando atendeu.

- Conversei com Marcela como me pediu. - Sim?

- Ainda não tenho uma resposta! - Como não?

- Ela está pensando. Ligarei quando tiver algo de concreto. Passe bem! Colocou o fone no gancho com um suspiro de alívio. Se ela estava pensando é porque ainda restava uma esperança.

Aquela agonia que passou por uma noite inteira foi em vão. Os dias passavam sem que tivesse a resposta. Desorientada viu a semana chegar ao fim. Uma vontade imensa de ligar começava a invadi-la. Entretanto sabia que não podia pressionar aquela mulher. A única coisa que podia fazer é continuar esperando. Isto não era um fato que sua família entendia. Todas as noites quando entrava em casa iam logo a enchendo de perguntas sobre aquele assunto. Por mais uma semana se viu presa naquela espera irritante. Começava a se perguntar se ela não estaria fazendo aquilo de propósito. Talvez fosse verdadeira a história de que tinha prazer em ser má. Sua cabeça era um caldeirão de perguntas e duvidas.

No fim da terceira semana recebeu a ligação que tanto esperava do advogado.

- Deve vir hoje às seis da tarde!

- Pensei que receberia uma resposta – Comentou surpresa – Aconteceu alguma coisa para que eu tenha que ir aí?

- Sua situação é bastante delicada para querer discutir imposições. Não acha?

- Oh! Perdão! Irei à hora marcada. Obrigada.

Às seis da tarde chegou ao ultimo andar daquele prédio. A mesma secretária seca a conduziu completamente muda. Carmem entrou vendo-a fechar a porta. A sala continuava escura. Novamente só pode ver a luz fraca sobre a mesa. Olhou em volta perguntando confusa.

- Está ai Senhor Santos?

Não obteve resposta. No entanto bem a sua frente à chama de um isqueiro brilhou chamando sua atenção. Tentou ver a pessoa, mas apenas ouviu a voz de mulher soando friamente.

- Sente-se! - Marcela pediu tranquila.

Sentou rápido na cadeira diante dela. Tentou ver seu rosto, mas foi impossível. Um silêncio insuportável invadiu a sala. Ela não disse mais nada. Esperou mais alguns minutos pacientemente. Forçou um sorriso confuso perguntando num tom suave.

- Você é Marcela Alvarez? - Esperava outra pessoa? - Não. Claro que não. - Está nervosa?

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- Um pouco. Não sabia o que esperar. Seu advogado deve ter explicado minha situação. Estou ansiosa por sua resposta. Dependo dela para tomar certas medidas na empresa. Por acaso já tem uma resposta para me dar?

O que viu foi à brasa do cigarro brilhando enquanto ela fumava. Não falava nada. Não sabia se a estava olhando ou que estava fazendo naquele silêncio odioso. Naquele lugar escuro não conseguia ver nada. Aquilo era uma grande falta de educação. Imagine conversar naquela escuridão! Aquilo realmente não era normal.

- Não!

- O que foi que disse? – Perguntou sem acreditar. - Não tenho uma resposta para dar.

- Mas se fui chamada aqui...

- Deve compreende que a minha duvida é grande – Falou lentamente. - Sim! Acho que compreendo – Riu nervosa – Não me conhece. Deve estar com medo de arriscar e perder tudo.

- Não! Não é quanto a sua competência que tenho dúvidas. - Não?

- Não! - Então...

- Não consigo compreender o que vou ganhar com isto.

- Ora... Não parece óbvio? – Riu desta vez mais agitada – Vai receber todo o seu dinheiro de volta com juros.

- Depois de dois anos? - Sim.

- Por que devo esperar tanto?

- Porque não tenho como pagar agora. Estou atolada em dividas. Estou praticamente perdendo tudo que minha família construiu. Entendeu?

- Entendi! Mas não faço favores. Não é meu costume. - Por favor...

- O que tem para oferecer?

- Como? – Carmem perguntou confusa. - Não entende minhas palavras?

O tom da voz dela era o mesmo desde o início da conversa. Parecia calma e inabalável. Carmem se perguntou se havia algo mais para entender. Do que ela estaria falando? O que poderia dar se nada tinha?

- Não estou entendo. Desculpe.

- Deve saber que é uma mulher bonita. - No que isto implica?

- Sei que é solteira. Que é homossexual e que não tem namorada.

Chocada Carmem olhou em volta. Uma vontade imensa de fumar tomou conta dela. Não sabia o que dizer. E o que pensava começava a assustá-la.

- Sendo uma mulher inteligente suponho que esteja começando a me entender.

- Pois seja mais clara, por favor!

- Estou disposta a cobrir todas as suas dividas se aceitar ser minha amante.

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Carmem sentiu como se o teto tivesse desmoronado sobre sua cabeça. Ergueu-se pegando a bolsa. Afastou a cadeira tropeçando no escuro. Queria pensar com clareza, mas não conseguia. Olhou em volta sem conseguir andar.

- Acho justo ser recompensada. Você terá dinheiro para reinvestir e salvar sua empresa. Nada lhe será tomado. A ação que iria para a justiça será rasgada. Não terá mais preocupações com dinheiro. E poderá pagar no final dos dois anos como propôs no início.

A cabeça dela girava enquanto ouvia as explicações. Amante? O que estava pensando que ela era?

- Não me importo se acha que estou sendo grosseira. Sou como sou! Sei que a sua situação é muito pior do que contou ao meu advogado. Não tem dinheiro nem para pagar o tratamento do seu pai no hospital. Mas se acha que está em posição de recusar não me importo.

- Não sou uma prostituta! – Conseguiu falar profundamente ofendida. - Estou certa que não é. Nunca gostei de prostitutas. Não aprecio sexo com este tipo de mulher. Se fosse prostituta não estaria diante de mim agora.

- E se eu não aceitar?

- Deixarei seu caso ir parar na justiça. Simplesmente lavarei as minhas mãos. A escolha é sua!

Imaginou o que faria se perdesse tudo. Seria um sacrifício muito grande ser amante dela? Claro que seria, pensou desolada. Mas se recusasse o que diria aos seus? Diria que por moral preferiu perder tudo que ainda restava? Que não era uma vadia? Que não aceitaria pagar com seu corpo a tranquilidade sua e deles?

- Você tem um minuto para dizer sim ou não. Meu tempo vale ouro! – Marcela avisou tensa.

Estremeceu diante daquela mulher. Não! Nunca tinha odiado ninguém em sua vida. Mas naquele momento sentiu um ódio imenso apertar seu peito. Engoliu em seco e disse decidida.

- Eu aceito!

- Ótimo! Meu advogado irá vê-la amanhã. Terá notícias minhas. Obrigada por ter vindo.

Carmem não soube como saiu dali e muito menos como chegou a sua casa. Encontrou a mãe e os dois irmãos reunidos na sala. Ergueram-se ao mesmo tempo olhando para ela apreensivos. Foi à mãe que perguntou agitada.

- Então filha? Conseguiu?

Olhou para os três com um sorriso doce. - Sim.

Eles explodiram numa alegria sem fim. Ricardo correu para buscar uma garrafa de champanhe. Laura pulou nos seus braços cobrindo o rosto dela de beijos. A mãe a abraçou aliviada. Comemoram e jantaram numa euforia contagiante. Depois que os irmãos subiram para os seus quartos, a mãe a encarou perguntando curiosa.

- Como você conseguiu este milagre? - Ela me recebeu pessoalmente.

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- Então ela simplesmente decidiu esperar pelos dois anos que lhe pediu de prazo?

- Não. Não foi assim. Ela vai pagar todas as nossas dividas. Vai também dar dinheiro para que eu possa estruturar a empresa.

- Por quê? Porque vai fazer isto por nós? Ela te disse? - Sim.

- Então me diga. Sei que tudo tem um preço. O que ela exigiu em troca? - Ela quer que eu seja amante dela – Falou olhando-a nos olhos desta vez.

Alice Santiago raspou a garganta sufocada. Pegou a taça de champanhe tomando um gole lentamente. Seus olhos voltaram a fitar a filha. Ela fumava com um ar distraído.

- Sabe o que dizem desta mulher? - Que é fria e cruel?

- Que ela é má!

- Não me deixou ter duvidas quanto a isto.

- Dizem que vive num casarão monstruoso. Tem cães enormes que comem as pessoas. Quem os viu afirma que são verdadeiros lobos selvagens. Quando está em casa os empregados não podem se aproximar. É uma criatura melancólica que mete medo em todas as pessoas. Você a viu? Viu o rosto dela?

- Não.

- Não viu porque é uma louca que vive nas sombras! - Sombras?

- Sim! Como os vampiros! - Você está me assustando.

- Não quer saber onde se meteu?

- O que esperava que eu tivesse feito? Devia ter a deixado tirar o resto que ainda temos?

- Carmem...

- Minha vontade foi de sair correndo sem olhar para trás – Contou desolada.

- Oh filha! Desculpe! – Falou puxando-a para os seus braços com tristeza – Sei que está fazendo isto por nós. Se seu pai não estivesse naquele hospital preferia perder tudo a deixá-la passar por isto.

- Eu vou sobreviver – Garantiu corajosa.

- Claro que vai. Será que ela percebeu que você é...

- Sim, ela percebeu. Pelo jeito andou investigando minha vida.

- Nossa! Que perigosa que ela é! – Falou horrorizada - Deus queira que não seja violenta!

- Não deve pensar mais nisto. Fiz o que tinha que fazer e não adianta ficar lamentando. O que importa é que estamos salvos.

O advogado apareceu na empresa no dia seguinte. Abriu uma mala repleta de pacotes de dinheiro diante de seus olhos. Entregou uma promissória sem fazer qualquer comentário. Depois inclinou a cabeça e saiu sem nenhuma explicação. Carmem supôs que Marcela devia ter mandado apenas que ele

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entregasse o dinheiro. Sabia que ela não era de perder tempo com longas explicações. Uma mulher decidida e prática!

Carmem passou cinco dias colocando as dividas em dia. Recusou-se a pensar naquela mulher e nas suas razões. Obviamente ela devia ser muito feia para precisar ter uma mulher usando de chantagem. Só o que importava era que estava podendo reconstruir sua vida. Tanto a familiar Quanto a profissional.

Por um longo e interminável mês não teve notícias dela. Descobriu a razão nos jornais. Esteve viajando a negócios para a Alemanha. Falavam dos contratos bem sucedidos que assinou por lá. Não tinha foto dela nas matérias. As fotos eram sempre da Companhia. Jogou o jornal para o lado pensativa. O toque do telefone assustou-a. A secretária apareceu com a correspondência avisando enquanto estendia um papel com um endereço anotado.

- Tem um jantar está noite neste local. A mulher disse que você sabia do que se tratava.

Pegou-o lendo ansiosa. Mordeu os lábios dobrando o papel. Sentada a sua frente, Solange comentou sorridente.

- As máquinas estão funcionando a todo vapor. O que o dinheiro não faz, não é mesmo?

- Tem razão.

Não estava achando muita graça naquilo. Havia um preço. Teria que transar muitas vezes para pagar tudo aquilo. O fato de ela ser mulher não ajudava muito. Sempre que foi para cama tinha um envolvimento. Naquele caso era completamente diferente. Como iria se excitar? Nem conhecia aquela mulher. Nem viu seu rosto. Devia ser feia de matar. Com certeza era horrorosa para viver escondida nas sombras. Valeria aquele sacrifício todo? E se ela fosse violenta como a mãe tinha pensado? Melhor não ficar imaginando nada. Para que adivinhar o desconhecido?

A noite foi em casa apenas para tomar um banho. A mãe mostrou a mesa com o jantar servido perguntando curiosa.

- Não vai jantar?

- Não. Estou sem fome.

- Vai ver aquela pessoa? – Perguntou baixo.

- Vou. Ligou hoje. Vai dar tudo certo – Riu beijando-a no rosto – Não me espere acordada. Boa noite!

- Filha?

Estava diante da porta quando a mãe se aproximou correndo. - Se for muito difícil desista. Não sei mais se vale a pena. - Não tem mais volta. Esqueça. Durma bem.

Uma coisa que nunca mudava era a sua palavra. Dirigiu evitando pensar até deter o carro diante de um imenso portão de grade. Dois homens aproximaram-se a olhando sem a menor simpatia. Um deles meteu uma lanterna em seu rosto perguntando frio.

- Qual o seu nome? - Carmem Santiago.

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Contos de Astridy Gurgel

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A casa que avistou enquanto circulava uma espécie de lagoa, parecia assustadora. Parou o carro saltando e olhando em volta. Não havia ninguém. Estava tudo deserto. Deu alguns passos na direção da casa. Estacou quase morrendo de susto quando viu duas feras imensas vindo em sua direção. Lembrou que de cachorro não se corria. Estacou prendendo a respiração. Ouviu um apito e as duas feras simplesmente sentaram aos seus pés. Aproveitou para olhar em volta a procura de ajuda. Uma voz de homem soou de algum lugar que ela não pode distinguir.

- Vá até a casa e entre! A porta está aberta!

Seu coração batia descompassado no peito. Seguiu para a casa.

Entrou e fechou rápida a porta. Olhou em volta suspirando. A única luz vinha do fim do corredor. Certamente devia ir por ali. Passou rápido chegando num cômodo que imaginou ser uma sala. Olhou para o chão vendo minúsculos pontos de luz nos rodapés que iluminavam o chão. Alguém de bom senso devia ter pensado naquilo. Do contrario

Era provável cair e quebrar a cabeça por ali. Suspirou olhando em volta ansiosa. Onde estaria aquela louca afinal?

- Estou aqui! Suba!

Ergueu a cabeça vendo vários pontinhos de luz acendendo pela imensa escada. Subiu olhando em volta enquanto tentava enxergar alguma coisa. Notando que era impossível preferiu olhar para o chão temendo cair. No alto da escada, viu uma porta aberta e os pontos de luz que levavam até lá. Seguiu mais tensa do que quando chegou. Entrou olhando em volta. Breu, escuridão e silêncio. Estacou tentando ouvir alguma coisa. Engraçado aquele silêncio. Nunca pensou que existisse uma pessoa tão silenciosa. Sabia que estava ali. Podia senti-la e até isto estranhou.

- O escuro te assusta? – Marcela perguntou.

Percebeu que estava próxima. Fechou os olhos aspirando o ar do ambiente. Um perfume quase imperceptível pairava a sua volta. Estava mesmo próxima. Iria agarrá-la? Ou aquilo demoraria mais tempo? Então Marcela falou novamente.

- Vai se acostumar. Conhece algumas técnicas para buscar equilíbrio interior?

Estendeu a mão tateando o ar. Como adoraria encontrar um e acendedor de luz para iluminar tudo naquele instante.

- Não conhece – Ela concluiu atravessando o cômodo com passos suaves – Venha aqui para que possamos conversar – Marcela convidou gentil. A voz soou próxima. Ficou olhando quando ela acendeu uma lanterna iluminando uma poltrona. Percebeu que era para ela e sentou ali.

A lanterna apagou e ouviu o som de copos. - Aceita uma taça de vinho?

- Sim.

- Respire fundo. Está muito tensa – Aconselhou tranquila.

Aquilo era algum jogo? Ficarem no escuro daquele jeito era demais. Olhou em volta sem conseguir ver um palmo diante de nariz. Seria cega? Seria isto? Ou talvez fosse alguma cicatriz que precisava esconder. O rosto seria

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Contos de Astridy Gurgel

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deformado? Não sabia mais o que pensar. Sentiu o contato da taça quando ela a colocou em sua mão.

- Como consegue me ver?

- Hábito – Marcela respondeu sorrindo.

Percebeu que ela sentou e que estava próxima. Pode sentir o hálito dela em seu rosto. Levou o copo a boca bebendo um gole. Gostou bebendo mais um pouco. Sentiu a mão dela tocando seus cabelos. Prendeu a respiração. Não soube como a sentiu sentando ao seu lado.

- Está tremendo – Sussurrou baixinho – Nervosa demais. - Eu...

- Está assustada e morrendo de medo de mim.

- Não. Só não entendo porque tem que ser assim – Carmem confessou ansiosa.

- Assim? Fala do escuro? - Sim. Sinto-me insegura.

- Não devia – Riu inclinando o rosto até os cabelos dela.

Percebeu que estava cheirando seus cabelos. Uma das mãos acariciava suavemente. Era cega! Só podia ser. Tinha os sentidos mais apurados que o normal. Tinha tentado há pouco. Bastou fechar os olhos e aspirar para sentir a presença dela.

- Por que precisamos ver os olhos? Sabe me dizer? – Marcela perguntou carinhosa.

- Não só os olhos. A vida nas trevas parece ser impossível. - Não sabe por isto diz isto.

Sentiu a boca dela roçando seu pescoço. Fechou os olhos sem conseguir controlar a respiração. O que devia fazer? O que podia dizer?

- Me conheça – Marcela pediu num tom rouco e excitado que a fez estremecer.

As mãos desceram pegando as de Carmem. Colocou-as no seu rosto. Fez o que ela pedia. Percorreu a fase dela com a ponta dos dedos lentamente. Ao mesmo tempo sentia as mãos dela percorrendo seu rosto.

- São muitas as formas de ver – Marcela sussurrou baixo no ouvido dela. Ainda tocou seu rosto por algum tempo. Não tinha cicatrizes. A pele era lisa e macia. A respiração dela estava mais acelerada. Sentiu as mãos descendo por seu pescoço. As caricias eram suaves, deliciosas. As mãos chegaram aos seios neste instante. Fecharam-se sobre eles. Carmem estremeceu novamente. As mãos acariciavam seus seios despertando seu desejo. Colada à poltrona sentiu quando ela começou a abrir os botões de sua blusa. Abriu um a um com certa urgência. Depois soltou o sitiem tirando-o de uma vez. Nua a disposição dela fechou os olhos tentando não sentir. Marcela escorregou para o chão enfiando-se mansamente pelo meio das pernas dela.

Carmem estendeu as mãos agarrando-se aos braços da poltrona. A língua passava pelos lábios terrivelmente seca. Marcela estava sugando a cada instante um dos seios. Sua língua era a coisa mais maravilhosa do mundo. A boca era extremamente macia. Percorria os bicos dos seios quase a levando a loucura. Desceu uma das mãos afastando a calçinha com suavidade.

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Os dedos correram no sexo enquanto um gemido de prazer escapou de seus lábios. A mão fazia movimentos cada vez mais rápidos. A boca continuava revezando entre os seios. Neste momento Carmem não conseguiu segurar mais. Um gemido escapou de sua garganta. O corpo tombou para frente enquanto o prazer explodia em suas entranhas. A boca de Marcela deixou seus seios. Ela sentou ao seu lado acariciando seus cabelos e comentando feliz.

- Que bom que não tem uma namorada para morrer de ciúmes de você. Carmem estava colocando o sitiem e fechando blusa e nada disse.

- Fui rápida demais?

- Não – Carmem respondeu baixo.

- Vai ser melhor da próxima vez – Prometeu roçando a boca na orelha dela – Acha que vai querer me tocar?

- Sim.

- Mentirosa – Acusou levando a mão ao meio das pernas dela. Carmem gemeu e ela riu divertida – Vou fazê-la querer me tocar. Vai ver – Marcela prometeu confiante.

- É tarde...

- Vou levá-la até a porta.

Ergueu-se pegando sua mão. Achou incrível como andou normalmente pela casa escura até chegar à porta. Abrindo a porta Marcela gritou para os cães.

- Rei? Mambo? Entrem!

Carmem correu escondendo-se atrás dela. Marcela sorriu protegida da luz que vinha dá lua lá fora. Os cães passaram correndo por elas. Ela pegou a mão de Carmem dizendo baixo.

- Vá. Boa noite.

No dia seguinte quando entrou em sua sala chamou a secretária. Solange entrou com o bloco de anotações na mão.

- Esqueça isto, quero outra coisa.

- O que é? – Solange perguntou curiosa.

- Consiga uma foto de Marcela Alvarez para mim. - Ouvi dizer que ninguém nunca a viu.

- Como nunca a viram? Ela sai de casa todo dia para trabalhar. Algum repórter deve ter alguma foto. Se a imprensa tem foto minha, obvio que devem ter dela também. Procure que vai achar.

- Vou ver o que posso conseguir.

No fim da tarde, quando Solange entrou em sua sala, ficou ouvindo admirada enquanto ela explicava o que o pessoal da imprensa tinha dito.

- Ninguém nunca a viu. Já cercaram a casa dela. Fizeram de tudo.

Só anda em carro com vidro escuro. Quando tentam no aeroporto ela desaparece como por encanto. Tem repórter que passa os dias na caça dela. Quem conseguir a foto vai ficar famoso.

- Mas... – Carmem se calou chocada.

- Quer saber as coisas que ouvi sobre ela? - O que você ouviu?

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- Dizem que ela tem o rosto todo deformado. Outros que têm uma doença terrível. Os cabelos caíram e ela tem feridas espalhadas por todo o corpo. Vive cercada de lobos assassinos no casarão onde mora. Dizem que manda cortar cabeças. Os empregados tremem de medo só de ouvir seu nome.

- Mais alguma versão? – Carmem perguntou pegando um cigarro e olhando-a com deboche.

- Ela vive no escuro. Afirmam que só se veste de preto. Arrasta-se pelas sombras. Tipo aqueles filmes de terror que vemos na televisão. Sabe? Já deve ter visto um filme assim.

- Pelo amor de deus! Não acredito que perca tempo com tanta bobagem! - Dizem que é uma vampira e que dorme num caixão! – Solange insistiu assustada.

- Que absurdo! Tem alguma informação real e plausível? - Bem, tem aquela versão de que é uma bruxa...

- Para! – Pediu apontando a porta – Pode ir. Obrigada.

Solange saiu e ela andou pela sala suspirando. Que loucura coletiva era aquela? Seria possível que todos acreditassem mesmo naquelas fantasias? Ela não tinha o rosto deformado e nem feridas pelo corpo. Não lhe faltava nenhum fio de cabelo na cabeça. Também não se arrastava. Andava

Normalmente como qualquer ser humano. Não tinha feras e sim dois cachorros bravos. E não era uma vampira porque se fosse teria bebido boa parte do seu sangue. De onde teria vindo tanta bobagem? Suspirou passando a mão pelos cabelos. Estava com fome. Saiu de casa sem comer nada. Olhou o relógio dando-se conta que já passava das cinco. Pegou sua bolsa descendo rápido para o restaurante mais próximo.

Sentou pedindo um prato suculento. Estava distraída comendo quando seus olhos caíram na mulher que vinha na direção da sua mesa. Estava toda de preto. Os olhos estavam ocultos por óculos escuros. Andava com uma sensualidade impressionante. O corpo escultural deixou Carmem de boca aberta. Passou por sua mesa seguindo para o toalete feminino. Voltou o rosto acompanhando o movimento sensual daquele corpo até desaparecer pela porta.

- Nossa! – Suspirou voltando a comer com um sorriso nos lábios. Por que Marcela Alvarez não era como aquela mulher? Se fosse tudo séria mais fácil.

Voltou para sua sala. Ainda tinha alguns documentos para liberar antes de ir para casa. Solange avisou que tinha uma ligação para ela. Girou a cadeira na direção da janela enquanto atendia.

- Sim? - Carmem?

Sentiu o sangue correr mais rápido nas veias. Que voz que ela tinha! Apertou o aparelho pegando um cigarro.

- Sim. Sou eu – Carmem respondeu agitada. - Quero te ver hoje.

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- Vai começar a ficar ocupada? - Não. Claro que não.

- Melhor – Marcela riu satisfeita. - Não podia ser em outro lugar? - É normal temer o desconhecido.

- Não! Não é isto. Só acho a sua casa muito sinistra.

- Sinistra? Vamos, não acredita nas bobagens que falam sobre mim. Achou que estava tocando num monstro ontem quando sentiu meu rosto?

- Não. De forma alguma.

- Devo acreditar? Parece que está morrendo de medo. - Pois não estou! – Carmem respondeu baixo.

- É mesmo? Estou tentando acreditar. Espero você.

À noite os cães não apareceram quando ela desceu do carro. Achou curioso como percorreu com mais segurança e rapidez o caminho que a levou até o alto da escada. Seguiu as luzinhas até entrar no quarto onde tinha estado na noite passada. Seria mesmo um quarto? Naquela escuridão enervante não sabia de nada ao certo. Aquela situação mexia com seus nervosos. Uma casa estranha e escura. Uma mulher misteriosa e obscura que não conseguia ver. Um silêncio irritante que a fazia se sentir cada vez mais impotente. Era fato que estava nas mãos dela. Justamente por isto se sujeitava as suas regras. Mas até quando teria Paciência para seguir com aquilo? Sentiu o hálito dela junto de seu rosto. A boca escorregou por sua pele, passando lentamente por seus lábios. Era isto que a sufocava. Como ela podia enxergar tão bem naquele breu, quando ela mal via uma sombra a sua frente?

- Sabe onde estamos? – Marcela perguntou. - Não...

- Vai saber.

Pegou sua mão guiando-a pelo local escuro. Acendeu uma lanterna mostrando uma cama de casal.

- Seu quarto – Carmem comentou. - Viu como é fácil? Venha.

Puxou-a com suavidade para os seus braços e deitaram juntas. Ali ela se afastou começando a se despir. Carmem ficou quieta esperando.

- O que faz quando leva uma mulher para a cama? – Marcela perguntou num tom meigo.

- Não entendo sua pergunta. - O que faz antes de transar?

- Tiro a... Roupa? – Carmem perguntou confusa. - Então tire. Por favor.

Tirou a roupa tendo consciência de que ela estava ali esperando paciente. Ao menos isto, ela era calma! Aquilo há deixava um pouco mais confortável. Quando terminou, as mãos de Marcela começaram a tocar seu corpo. Pegou as mãos dela colocando sobre seus seios.

- Vamos, conheça-me melhor. Saberá se sou o monstro que afirmam – Marcela pediu num tom íntimo.

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Será que alguma pessoa conseguiria ficar fria numa situação como aquela? Carmem perguntava-se isto enquanto acariciava o corpo dela de forma mais íntima. Os gemidos loucos dela logo se misturaram aos seus. Estavam de frente uma para a outra se acariciando mutuamente.

- Quando fecha os olhos e toca a pele, pode ver com as mãos. Pode sentir o cheiro. Se imaginar pode sentir tudo. Olhe para mim – Marcela pediu erguendo o rosto dela.

- Estou olhando – Carmem respondeu pensando que ela era louca. Pediu para olhar para ela naquela escuridão. Estava olhando para frente porque sabia que ela estava sentada na sua frente. Como iria vê-la? Não via nem o seu próprio corpo.

- Me vê? - Ah...

- Mas me sente – Sussurrou agarrando mais as pernas dela e puxando-a mais para perto de seu corpo. Assim com as pernas abertas sentiu-a buscando seu sexo com extrema sensualidade.

- Ah...

Carmem fez o mesmo entregando-se sem reservas. Sua cabeça estava a mil por hora. Que loucura era aquela? Seu corpo se dava e a buscava sem se conter. Estremeceu quando percebeu o quanto estava excitada. Há quanto tempo não sentia uma mulher assim? Fechou os olhos deixando o corpo viajar  junto dela. Ficaram assim até gozarem intensamente. Marcela tombou a

cabeça sobre o ombro dela relaxando. Algum tempo depois se afastou acendendo dois cigarros. Entregou um para Carmem sorrindo meiga.

- Por que fala tão pouco?

Carmem tragou olhando atentamente a brasa do cigarro dela a sua frente.

- Não sei.

- Você me odeia? – Marcela perguntou baixo. - Não sei.

- Talvez não. Acho que tentou no início, mas não conseguiu cultivar o ódio.

- Não costumo odiar ninguém.

- Eu sinto que não. Você é dedicada à família.

- Deixe a minha família fora disto – Carmem pediu agitada. - Não é por eles que está aqui?

- Não só por eles. Também por mim. Pela empresa.

- Tudo bem – Riu acariciando a perna dela com suavidade – Mas você já transou por transar antes. Não é a primeira vez. Eu sei.

- Não pode saber – Marcela comentou surpresa. - Mas eu sei. Eu sinto.

- Bobagem! – Suspirou virando o rosto. - Fica curiosa tentando saber como eu sou? - Fico – Falou suspirando – Você é cega, não é?

- Por quê? Se eu for vai perder a vontade de transar comigo? - É só uma pergunta – Carmem explicou.

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- Uma pergunta tola demais para ter uma resposta.

- Só acho que isto parece um jogo, sabia? Um jogo muito chato se quer minha opinião.

- Mas não é um jogo. Sabe o que é melhor nos seres humanos? Não conseguimos controlar nosso desejo. Você gostaria de ficar fria. Adoraria não se excitar. Seria uma forma de me castigar, não é?

- Está louca... – Carmem riu sufocada.

- Hum! – Marcela fez o som baixinho pegando o cigarro da mão dela – Não vamos brigar. Veja – Pegou a mão dela colocando em seu sexo novamente.

Carmem gemeu involuntariamente. Seus dedos deslizaram ali sem que pudesse se controlar. Marcela empurrou-a para a cama até que ela deitasse. Desceu com a boca roçando seu corpo sensualmente. Chegou ao sexo dela abrindo suas pernas mansamente. A boca perdeu-se nele quase levando Carmem ao delírio. Rápida, deitou-se sobre ela pedindo em seu ouvido.

- Me toque.

Carmem tocou-a adorando fazê-lo. Quando ela gozou escorregou fugindo de seu corpo. Pegou as suas roupas vestindo no escuro sem reclamar. Quando terminou ela estava sorrindo roucamente ao seu lado.

- Viu como a gente se acostuma fácil? Carmem se ergueu suspirando.

- Boa noite, Carmem! – Marcela falou calma. - Não vai me levar até a porta?

- Não – Falou baixo – Precisa começar a conhecer os meus caminhos. - Então... Vou indo.

- Vá.

Quando entrou em casa a mãe estava à espera dela. Não negava que estava evitando ter aquela conversa. Sabia que ela estava curiosa. Todos tinham curiosidade sobre Marcela. Parou fitando-a séria.

- Mãe? Ainda acordada?

- Não acha que temos que ter uma conversa?

- Prefiro não ter – Falou fechando a porta – Estou morta de cansada! - Não vai me dizer como ela é?

- Não é diferente. É só mais uma mulher!

- Mas e as coisas que dizem dela? Tem mesmo cicatrizes? - São bobagens... – Carmem respondeu rindo.

- Tem certeza?

- É só uma mulher comum. Boa noite! - Mas...

Fugiu porque não queria falar sobre ela. O que poderia dizer? Que não a tinha visto? Que se encontravam no escuro? Como explicar que estava participando de algo tão irreal? Sua mãe não entenderia. Ninguém entenderia. Estava vivendo uma loucura sem explicação. Jogou-se em sua cama pensando nos momentos passados ao lado dela. Não podia negar que estava sendo delicioso transar com ela. O corpo dela devia ser bonito. Não via, mas sentia. Engraçado conhecer um corpo só pelo toque. A pele dela era deliciosamente

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macia. Por que não a beijava? Estava sentindo falta dos beijos. Que gosto teria os lábios dela? Suspirou rolando na cama. Por que estava pensando assim nela? Não podia se envolver. Devia ser apenas sexual. Será que ela iria exigir que fosse fiel?

No dia seguinte desceu mais animada para o café da manhã. Sentou percebendo a expressão estranha do irmão. Olhou para ele confusa.

Ele abaixou a cabeça para a torrada que comia.

- O que aconteceu? Por que está com esta cara? - Carmem perguntou desconfiada.

- Eu bati o carro ontem.

- Você se machucou? Como foi que aconteceu?

- Estava fazendo pega. Sabe como é. Entrei mal numa curva – Contou rindo.

Carmem virou mais café em sua xícara falando enquanto o olhava fixamente.

- Dê graças a Deus por estar vivo!

- Isto acontece a todo o momento. Todos meus amigos já capotaram. - E daí? O que você quer?

- O carro acabou. Perda total. Mamãe mandou falar com você.

A mãe entrou neste momento. Beijou os dois e sentou servindo uma xícara de café.

- Está querendo um carro novo? – Marcela perguntou chocada.

- Por que não? Carros acabam! Qual é? – O irmão perguntou num tom arrogante.

- Para destruí-lo também? Qual é digo eu! – Explodiu nervosa – O que está pensando da vida? Se acha mesmo que tem idade para dirigir então devia começar a trabalhar.

- Você não é meu pai! – Ele falou nervoso.

- Não sou mesmo! Se eu fosse não teria te dado um carro como ele te deu. O seu pai está quase morto num hospital. As coisas mudaram muito. Nós quase perdemos tudo que tínhamos. Faz ideia de quanto devemos? – Carmem perguntou sem acreditar na reação violenta dele.

- Qual é? Mãe? Vai deixá-la mandar na gente agora?

A mãe olhou para ele colocando a xícara sobre o pires paciente. - Sua irmã tem razão. As coisas mudaram. Precisa entender que... - Mudaram droga nenhuma! Não vou ficar andando a pé se...

- Cale essa boca! – A mãe ordenou batendo na mesa com raiva – Deixe sua irmã tomar o café da manhã em paz! É a única que se mata de trabalhar nesta casa! Por que não procura ajudar para variar?

- Mas...

- Deixe-me com sua irmã! – Pediu olhando para Carmem preocupada. Ela estava rodando a xícara no ar com o olhar perdido. Nem viu o irmão saindo de cara fechada. Percebeu que a filha não estava bem.

- Isto está tirando a sua paz, não é Carmem?

O que tirava a sua paz não era a situação, era Marcela. Sorriu balançando a cabeça meigamente.

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- Só um pouco. Só até me acostumar. - Está sendo assim tão penoso?

Penoso? Estava sendo delicioso pensou suspirando.

- Não. Não é isto – Carmem riu brincando com o dedo na boda da xícara.

- Então o que é? Ela está te forçando? É isto? - Claro que não.

- Então você está gostando de estar com ela?

- Se ela fosse um homem eu estaria odiando – Falou se erguendo.

- Filha? Será possível que esteja gostando de estar com essa mulher odiosa? – Perguntou chocada.

Carmem olhou em volta respirando fundo.

- Tenho que ir. Vou passar no hospital. Sobre o carro não vou comprar outro!

Não posso esbanjar dinheiro. Quanto mais rápido pagar essa divida, melhor! Até mais.

Passou no hospital e viu o pai. O quadro era o mesmo. Conversou um longo tempo com o médico dele. Não lhe deu nenhuma esperança quanto à recuperação. Seguiu para o trabalho triste com aquela notícia. Realmente a empresa estava funcionando a todo vapor. Nesta manhã quando saiu com o encarregado geral para uma vistoria, sentiu um grande

Alívio. Antes as maquinas estavam parando uma a uma. Andou com ele decidindo algumas mudanças e dando ordens a amanhã toda. Quando subiu recebeu os recados dos telefonemas que recebeu enquanto esteve fora. Retornou a maioria resolvendo tudo rapidamente. Quando conseguiu respirar começou a pensar em Marcela. Sabia que não podia ficar lembrando-se dela a toda hora. Tinha que ver outra mulher para tirá-la da cabeça. Pegou o telefone discando para Paula, um antigo flerte do passado que tinha retornado para o Brasil.

- Paula? Recebi seu recado. Quando voltou?

- Ontem! Como vão as coisas? Ainda está solteira? - Estou sim – Carmem respondeu confiante.

- Quer jantar no meu apartamento está noite? - Mas é lógico. Apareço lá pelas nove. Beijos!

Por que não transar com Paula? Ela era uma boa companhia. Trabalhava feito uma louca e podia muito bem encontrar uma velha amiga sem sentir mal estar com isto. Aquela pressão a deixava fora de si. O pai no hospital. Aquela divida imensa. As futilidades do irmão adolescente. E agora aquela mulher que nem podia ver e que não conseguia tirar da cabeça. E se saísse e cruzasse com ela sem saber quem era? Seria possível? Claro que não! Ou seria possível?

Solange entrou com uma expressão séria na sala.

- Está aí a empresaria que marcou uma reunião com você. Lembra? - Como é o nome dela? – Carmem perguntou distraída.

- Maria Dantas! Mando-a entrar?

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Solange abriu a porta convidando a mulher. Carmem se ergueu para recebê-la. Surgiu ali uma mulher charmosa. Estava toda vestida de preto. Caminhou para Carmem apertando sua mão sem sorrir.

- Senhorita Santiago? É um prazer conhecê-la!

- Digo o mesmo. Sente-se! – Carmem convidou apontando a cadeira e sentando também. Seus olhos percorreram o decote ousado da blusa de botões. Os dois primeiros estavam abertos deixando entrever o colo bonito. Cruzou as pernas estendo uma boca de bico fino maravilhosa a sua frente. Carmem sorriu apontando a bota.

- Italiana! Imagino!

- Sim – Concordou fitando as botas por um segundo – São deliciosas. - Bem, vejo que estamos na mesma área – Carmem comentou voltando ao assunto de negócios – Eletrônicos! Bom, muito bom!

Maria se mantinha olhando-a atentamente. Imaginou que a estava avaliando. Os olhos dela percorriam seu rosto com muita atenção.

- Computadores! – Maria falou saboreando a palavra.

- Computadores – Carmem repetiu rodando uma caneta entre os dedos  – Entendo.

- O momento é ideal para a informática! Não acha? - Claro.

- Estes aparelhos eletrônicos que continua fabricando sairão do mercado em poucos anos. É preciso prever o futuro nesta área – Maria explicou animada.

- Realmente tenho estudos aqui que mostram que a informática é o negócio do futuro.

- Tenho aqui a proposta de um acordo que talvez possa te interessar. Carmem pegou a pasta começando a ler atenta. Quando terminou ergueu os olhos percebendo que ela a observava atenta.

- É uma proposta tentadora! – Comentou tranquila.

- Posso modernizar sua empresa num piscar de olhos – Maria prometeu. - Me propõe uma sociedade.

- Exato! Se aceitar logo será uma mulher rica. Se é que quer ser rica. - Quem não quer? – Carmem perguntou rindo suavemente.

- Então?

- Terei que pensar. Vou reunir minha equipe e sondar as possibilidades. As coisas andaram mofando por aqui. Ainda estou jogando o lixo fora! Maria pegou uma cigarreira tirando um cigarro. Acendeu oferecendo a Carmem. Ela recusou sem deixar de observá-la. Maria sorriu olhando em volta.

- Muito bem. Então deve mesmo pensar. Gosto de lidar com gente sensata.

O que acha de um jantar essa noite? – Maria perguntou gentil.

Jantar com aquela mulher bonitona? Será? Lembrou-se de Paula e riu gentil.

- Adoraria, mas já tenho um compromisso. - Ah sim. Pensei que era livre.

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- Sou sim – Riu agitada – Mas me comprometi mais cedo e não posso cancelar.

- Ligo para saber sua resposta. Se aceitar só terá a ganhar. Passe bem! Assim que ela saiu Solange entrou chamando-a para almoçar. Foi com ela.

Voltaram quase às duas da tarde. Foi sentando e ela avisou que tinha uma chamada. Pegou o telefone naquele instante distraída.

- Alô?

- Como foi o almoço com a sua encantadora secretária? – Marcela perguntou direta.

- Está me seguindo?

- Não – Riu sensualmente do outro lado – Apenas sei tudo que você faz. - Como?

- Tenho meus métodos.

- Isto é um absurdo! Não tem este direito! - Será? Temos ideias diferentes.

Calou-se pegando um cigarro. Aquilo era o fim. O que podia dizer? - Venha jantar comigo esta noite - Marcela convidou meiga.

- Bem... Tenho um...

- Se transar com outra mulher as coisas vão se complicar – Avisou num tom afetuoso – Não costumo ser ciumenta. Mas não pretendo abrir mão de sua companhia.

- Na verdade é uma amiga que chegou de Londres e quer me ver... – Marcela justificou mentindo descaradamente.

- Uma ex-amante! Não contou para ela da nossa amizade? - Claro que contei – Mentiu novamente.

- Perfeito! Venha as nove! Estou ansiosa – Marcela concluiu desligando. - Mas...

Chegou pontualmente como sempre. Entrou estacando ao ver uma vela acesa num castiçal no centro da mesa de jantar. Viu uma mulher em pé sem poder distinguir seu rosto.

- Boa noite. Sente-se! – Marcela falou de sua cadeira.

Viu que Marcela estava sentada do outro lado da mesa. A mulher provavelmente era a criada. Sentou procurando-a com os olhos ansiosos. Pode vê-la, mas não o seu rosto.

- Pode servir o vinho – Marcela falou para a mulher que obedeceu na hora.

Quando serviu, ela agradeceu num tom baixo. Em seguida ergueu a taça comentando gentil.

- Estava te esperando para jantar. Importa-se? - Não – Carmem respondeu.

- Desmarcou com sua ex?

- Desmarquei sim. Mas não é minha ex. - Como vão os negócios na sua empresa? - Agora as mil maravilhas.

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Engoliu em seco recostando na cadeira. Pegou a taça de vinho tomando um gole. A resposta veio com um sorriso irônico.

- Estou pagando muito bem por isto. Esqueceu? – Carmem perguntou se controlando ao máximo.

- Oh não! De maneira nenhuma. Quis o destino que nos cruzássemos. Você se revelou uma grata surpresa. Pensei que teria que brigar muito para levá-la para a cama.

- Não seja deselegante. Sabe que não estou em condições de lutar. Você não queria uma mulher difícil, ou queria? – Carmem perguntou para provocá-la.

- Acho que você desejava no fundo do seu inconsciente, viver uma fantasia assim - Marcela falou convencida.

- Você é louca!

- Se for verdade nunca vai confessar. Talvez não acredite, mas te conheço mais do que você imagina.

- Isto é impossível.

- Não! Deve admitir! Vejamos! – Calou-se pensativa – Você contou para sua mãe a nossa conversa pessoal. Contou que aceitou ser minha amante.

- Por que acha que contei? - Tenho certeza.

- Não esteja tão certa.

- Você ia jantar com sua amiga para transar com ela. Não suporta quando fica pensando em mim. Queria me esquecer nos braços dela.

- Não sou assim. Esta redondamente enganada.

- Carmem! – Riu ao pronunciar o nome dela – Você é completamente transparente. Está louca de curiosidade para me ver. Isto te está confundido e perturbando tanto que não está dando conta.

Admirada, desviou os olhos da direção dela pegando a taça de vinho. Bebeu um bom gole deixando a taça sobre a mesa se justificando.

- Queria ver se fosse você no meu lugar.

- Cresci sozinha, sem ninguém! Minha mãe morreu quando tinha seis anos de idade. Meu pai me mandou viver com minha tia na Inglaterra. Eu o via um ou duas vezes por ano. Ele vivia ocupado com seus casos. Quando ele morreu voltei para assumir os negócios. A solidão ensina muitas coisas. Você cresce e aprende a se virar sozinha. Vê o deserto a minha volta? Não tem ninguém que eu deseje tão próximo. A única pessoa que decidi permitir foi você. Desde a primeira vez que te vi eu te desejei intensamente.

- Estava lá quando conversei com seu advogado?

- Claro que estava. Fiquei me deliciando com a sua imagem. - Sempre faz chantagem quando deseja uma mulher?

- Fiz chantagem com você?

- Não fez? – Carmem perguntou agitada.

- Ora, por favor! – Pediu delicadamente – Não seja dramática. O mundo é assim mesmo. Os mais ricos engolem os mais pobres. Você teria vindo para a minha cama de outra forma?

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O riso dela chegou até Carmem desta vez mais íntimo.

- Está noite vai dormir comigo. Terá a sua resposta com a luz do sol – Marcela avisou sem perguntar o que ela queria – Poderá me dizer se preciso destes meios para ter uma mulher como você na minha cama.

- Não posso dormir...

- Pode e vai! Ligue para sua mãe. Precisamos nos conhecer melhor. Não temos mais que adiar isto.

- Adiar o que?

- Sua mudança para está casa – Contou tranquila – Giana? - Sim? – A criada perguntou solicita.

A criada apareceu na hora. Ficou surpresa ao vê-la surgindo das sombras. Aquela casa vivia nas sombras. Como iria conseguir viver ali? E dormir todas as noites nos braços dela? Não podia! Seria o fim da sua paz. Não podia gostar dela.

Marcela terminou seu vinho dizendo meiga.

- Sua mãe vai saber entender. Ela deve ter percebido o quanto preciso de você – Marcela comentou tranquila.

- Espere – Falou sufocada – Não posso morar aqui. Tenho problemas. Meu pai no hospital. Ontem mesmo meu irmão bateu o carro.

- Destruiu o carro num pega, não foi? Mas a sua irmã tem ótimas notas na faculdade. Ela pode se cuidar sozinha.

- Como sabe destas coisas?

- Sei tudo sobre você. Nada acontecerá com a sua família. Eu cuido de tudo para te deixar tranquila.

- Quem pensa que é? Deus? Acha que vou permitir que domine a minha vida desta forma?

- Penso sim.

- Oh não! Não mesmo – Carmem explodiu afastando a cadeira nervosa. - Vai embora?

- Você é louca! Não vou permitir que se meta com a minha família. Vou... - Pois vá. Mas não volte pedindo desculpas. Vai perder tudo assim que cruzar o portão. Todos rezam para não me conhecer. Talvez você também comece a rezar. O monstro existe sim. Você vai querer nunca ter cruzado o meu caminho.

Estacou paralisada. Um sentimento estranho apertava seu peito. Não tinha como lutar contra ela. Aceitou a primeira imposição. Podia sim virar as costas e partir dali. Mas e a sua família? Suportariam perder tudo? Por mais que desejasse cuidar da empresa começava achar que aquele preço era alto demais. Voltou-se lentamente caminhando até a cadeira. Sentou-se ali emudecida.

O jantar aconteceu num clima péssimo. Marcela parecia nem estar presente. Carmem mexia no prato sem conseguir engolir nada. Percebeu que ela também não estava comendo. Pensava numa maneira de se livrar dela. Como iria viver ali com ela? Se aquela primeira noite seria o reflexo das outras não queria nem pensar. Não soube como ouviu a voz dela ao seu lado.

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Contos de Astridy Gurgel

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Subiu com ela sem ouvir seus passos. Achava impressionante como ela conseguia se mover sem fazer o menor ruído. No alto da escada, ia seguir as luzinhas, mas a mão dela pegou a sua. Marcela a guiou numa outra direção. Ouviu a porta abrindo e entraram. Olhando em volta Carmem pediu sem aguentar mais.

- Pelo amor de Deus! Não podia acender a luz um minuto que seja?

Não ouviu nenhuma resposta. Nada! Ficou parada ali se sentindo horrível. Viu uma luz surgindo a sua frente. Viu-a parada na porta. Estava de costas. Ela entrou fechando a porta e Carmem soube que era o banheiro. Ainda estava parada ali quando ela retornou. Tentou ver seu rosto, mas Marcela passou apagando a luz.

- Já sabe onde é o banheiro – Falou baixo – E a cama.

Viu uma luzinha que mal iluminava no alto do teto. Viu o vulto dela parada ao lado de uma cama de casal. Estava tirando a colcha em silêncio. Ali seria o novo local da tortura? Foi para o banheiro suspirando. Fez hora de propósito. Queria irritá-la, deixa-la furiosa! Quando voltou para o quarto não ouviu nenhuma queixa. Deitou ao lado dela apenas de calçinha.

Deitou vendo a luzinha se apagar no teto. Sentiu as mãos dela envolvendo sua cintura. Ficou fria. Procurou pensar em outras coisas. Pensou no pai. Depois na empresa e por fim na proposta de Maria Dantas. Talvez fosse o caminho para livra-se dela. Pagando aquela divida não teria mais que se sujeitar. Sentiu a boca dela chegando aos seus seios. Fechou os olhos ainda querendo não sentir. Mas seu corpo foi fraco e não colaborou. Quando se deu conta estava rolando na cama com ela.

O sol estava claro quando abriu os olhos as sete da manha. Olhou em volta confusa. Lembrou onde estava e porque estava ali. Estava sozinha na cama. Será que tinha saído sem acordá-la? Sentou observando o quarto com atenção. Havia duas janelas grandes bem a sua frente. As cortinas eram vermelhas e vinham até o chão. Um quarto imenso e muito luxuoso. Deixou a cama pegando a calçinha entre as cobertas. Voltou com o ruído da porta do banheiro se abrindo. Seus olhos se arregalaram admirados. A aparência rude lhe chamou atenção no primeiro minuto. Os cabelos eram grandes e negros. Pode ver alguns fios brancos perdidos ali. A expressão era triste. E os olhos, pretos, profundamente melancólicos. Os lábios eram cheios e carnudos. Perfeitos! Deram-lhe água na boca na hora. Era alta e muito charmosa. O corpo maravilhoso de formas perfeitas. Ela era uma coisa de louco. Seu coração disparou tal à emoção que sentia naquele momento. Estava toda de preto. Vestia uma calça preta de couro bem justa, que marcava seu corpo deixando-a terrivelmente sex. Usava uma blusa de fecho que estava aberto até o início dos seios. Calçava uma bota magnífica, de bico fino e... Italiana. Teve vontade de rir. Uma vampira? Imagine! Ela era uma deusa, uma rainha, uma perdição na sua vida. Ergueu os olhos até encontrar os dela. Os olhos negros enfiaram dentro dos seus. Olhava-a de forma superior e com certo ar de zombaria. Um sorriso malicioso brilhou em seus lábios neste momento. Teve que admitir que os dentes dela eram lindos de morrer.

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Contos de Astridy Gurgel

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Riu para disfarçar o efeito que ela tinha causado. Precisa recompor-se longe dos olhos dela. Por isto falou olhando-a com descaso.

- Não seja convencida. Isto é ridículo!

No banheiro mirou o espelho ainda em choque. Não era a primeira vez que a via. Não iria admitir para ela que se lembrou daquela noite. Era o jantar de aniversário da sua mãe. Ela estava sentada numa mesa bem a sua frente. O lugar estava lotado. Tinha sido numa sexta-feira. Passou a noite toda tomando champanhe e comendo-a com aqueles olhos negros. Tinha flertado descarada mente com ela a noite toda. Nunca mais esqueceu

Aqueles olhos. Não pensava nisto com regularidade, mas imagem dela sempre voltava a sua mente. Era ela! Então era verdade que ninguém nunca a tinha visto. Esteve naquele restaurante cheio de gente da alta sociedade e da imprensa sem que soubessem que era Marcela Alvarez. Seria por isto que se escondia? Para ter privacidade? Para poder ir e vir sem ser reconhecida ou incomodada? Seria realmente por isto? Para ter liberdade?

Quando desceu, ela lia o jornal na mesa do café. A criada se aproximou servindo suco num copo a sua frente.

- Bom dia! Obrigada! – Carmem agradeceu meiga.

Marcela continuou lendo por alguns minutos. Sem tirar os olhos do jornal comentou com ela.

- As ações de sua empresa continuam subindo. Parabéns! - Vejo que acompanha tudo bem de perto.

- Sim. Não aprecio perder dinheiro.

Tomando metade de seu suco, Carmem riu pegando um pedaço de bolo.

- Quanto a isto não tenho duvidas.

- Você se lembrou, não foi? – Marcela perguntou pegando-a de surpresa.

Estremeceu abaixando os olhos agitada.

- Era aniversário de sua mãe. Você estava linda e radiante. Sempre que percebia meu olhar ficava corada. Ficou flertando comigo o tempo todo.

Estava de preto como agora. Suspirou continuando de olhos baixos. Não sabia por que se deixava afetar tanto. Não queria falar daquele assunto. Tinha olhado para ela porque a achou linda. Ficou excitada e bastante curiosa. Imaginou se seria nova na cidade. Voltar-se-iam a encontrar outras vezes. Tantas coisas passaram por sua cabeça naquela noite. Jamais supôs que voltaria a encontrar com ela na circunstância em que se reencontraram. Não pensou que seria quase sua escrava sexual. Não era assim que a tratava? Como um objeto sexual?

- Imagino que esteja pensando alguns absurdos. Você não está presa aqui. Poderá vir e ir todos os dias. Apenas quero que viva aqui comigo sem queixas e mau humor!

- Vai ser uma vida adorável – Comentou para provocá-la. - Vai mesmo!

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