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Flávio Tartuce - Direito Civil - Vol 5 - Direito de Família - Ano 2014.pdf

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? Capa: Rafael Molotievschi

? Produção Digital: Geethik

? CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte.

Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Tartuce, Flávio

Direito civil, v. 5 : direito de família / Flávio Tartuce. – 9. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.

Inclui bibliografia ISBN: 978-85-309-5343-0

1. Direito de família – Brasil. 2. Casamento e União Estável – Brasil. – I. Título.

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06-3429. CDU 347.6(81) 7/1350

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Às famílias Ragusa (Itália),

Tartuce (Líbano), Danesi (Itália) e Silva (Brasil).

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NOTA DO AUTOR À 9.ª

EDIÇÃO

Sigo sozinho. A partir desta 9.ª edição, a presente obra deixa de ser escrita a quatro mãos e passa a ser um livro solitário. Por iniciativa e a pedido do meu querido coautor, José Fernando Simão, esta coleção de Direito Civil passa a ser escrita somente por mim.

Penso que, ao final, ganha toda a comunidade jurídica nacional com a outra coleção que surgirá, es-crita pelo meu querido irmão acadêmico. E Simão continuará a ser um irmão para mim, um ícone, uma referência, um guru intelectual, uma pessoa a quem devo me espelhar. A ele devo muitos dos meus pensamentos, muitas das minhas conclusões e parte da minha formação jurídica, pois pude, nos últimos anos, dividir com ele grandes debates a respeito do Direito Privado Brasileiro. Penso que José Fernando Simão é, e será, um dos grandes expoentes da minha geração de civilistas. Desejo a ele toda a sorte

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possível nas suas novas jornadas bibliográficas. Ten-ham certeza de que seu novo projeto será citado nas edições seguintes deste livro.

Contudo, esta nave segue. Para a presente edição deste livro dedicado ao Direito de Família, foram acrescentados novos estudos, como o tratamento em separado do princípio da boa-fé objetiva e suas ap-licações a este ramo do Direito Civil. Também foram incluídas novas reflexões sobre o casamento ho-moafetivo e a dissolução da sociedade conjugal pelo divórcio. O tratamento da reprodução assistida foi atualizado, tendo em vista a nova Resolução 2.013/ 2013 do Conselho Federal de Medicina. Aprofundei o tema da parentalidade socioafetiva e abri novos tópi-cos a respeito dos alimentos. Foram inseridos novos julgados e posicionamentos doutrinários; bem como o estudo dos enunciados aprovados na VI Jornada de

Direito Civil, realizada em março de 2013. O livro

ganhou cerca de oitenta páginas, em confrontação com a edição anterior. Ressalto que retirei os trechos que foram desenvolvidos pelo Professor Simão. Quando eventualmente constar algum pensamento do jurista, faço a devida citação, em respeito às suas teses, que continuarão a ser referência para mim.

O último ano foi muito intenso quanto às minhas atividades profissionais. A atuação consultiva e em

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pareceres foi maior do que nos anos anteriores, reper-cutindo diretamente na obra. Ademais, passei a ser Professor Titular permanente no programa de Mestrado e Doutorado na FADISP, o que possibilitou aprofundar sobremaneira alguns assuntos, especial-mente pelos debates que ocorreram nas duas discipli-nas que ministrei durante 2013. Passei a ter orientan-dos de mestrado e doutorado, com quem também tive a honra de mesclar meus posicionamentos e reflexões. Esses foram alguns incrementos realizados no livro. Espero que ele continue ganhando espaço no mercado editorial brasileiro. E que o ano de 2014 seja tão frutífero quanto foi o último.

Vila Mariana, novembro de 2013

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PREFÁCIO

Pede-me para prefaciar sua bela obra, para minha imensa alegria e honra sem-fim, esse jovem – mas já tão destacado – valor das letras e do pensamento jurídico contemporâneo, Flávio Tartuce.

É ele como um filho para mim, e se houvesse a possibilidade de se dizer sobre filiação

academica-mente afetiva, ele estaria nesta minha relação de

par-entalidade, indubitavelmente. Trata-se de um jovem expoente do pensamento jurídico transformador – se assim quisermos chamar o percurso epistemológico, associado ao perfil inovador, vivenciado pelo direito como um todo, especialmente pelo Direito Civil – que me tem honrado muito com a possibilidade de tê-lo sempre por perto, em meu grupo de estudos e na lida acadêmica, mormente na docência da disciplina, vista agora por esse novo e tão corajoso perfil.

Flávio Tartuce personifica aquilo que se poderia enunciar como a mais prodigiosa estirpe franciscana

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(referindo-me à Faculdade de Direito do Largo São Francisco – USP), revelada pelos atávicos dons da docência e da literatura jurídica. Representa, hoje, o que tantos outros juristas já representaram no nosso glorioso passado e ao tempo de suas brilhantes mocid-ades, e certamente será, no futuro, o que esses mes-mos juristas foram e nos deixaram em registro, vis-ando à reconstrução eterna e indispensável das mat-rizes fundamentais da nossa ciência, a ciência do justo.

O autor tem talento natural para a docência em Direito; nasceu assim. Foi orientado, em suas primeir-as investidprimeir-as na área da pós-graduação, pela Profess-ora Maria Helena Diniz, no seu mestrado na PUC/SP, e foi orientado por mim mesma em seu doutorado na USP. É Doutor, neste momento, mas com os olhos postos no prosseguimento de sua carreira docente. É professor-coordenador da área de Direito Civil da Escola Paulista de Direito – EPD, em São Paulo, na qual igualmente ministro aulas e coordeno a área, há mais de dez anos. Mais recentemente tornou-se pro-fessor titular permanente do programa de mestrado e

doutorado da FADISP, onde também sou

coordenadora-geral.

Flávio tende para o justo, ainda que em prejuízo do seguro, pois sente dentro de si que a magnitude

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própria do Direito se prefere justa à segura, se houver necessidade de separação entre um e outro dos essen-ciais atributos desta nossa ciência. Por que assim deve ser, segundo tenho pessoalmente tanto pensado. E as-sim penso porque verifico, como resultado de minhas reflexões (as quais compartilho – com muito sucesso e grande lucro para mim mesma – com esse jovem autor desta obra cujo prefácio escrevo), que tem ocor-rido, hodiernamente, uma profunda alteração axioló-gica na concepção do Direito, transformação esta que passa pela crise do sujeito de direito em favor de uma melhor e mais consentânea consagração da pessoa hu-mana e sua dignidade, tudo sob o matiz dos direitos sociais embutidos na nossa atual Carta Constitucional. Um olhar atento, atualmente, demonstra-nos que está havendo uma funcionalização de todos os insti-tutos privados, na busca de adequá-los ao prisma novo. Em termos de Direito de Família – mote e linha fundamentais desta bela obra –, a travessia do século nos leva, obrigatoriamente, a repensar as suas mat-rizes e os seus matizes, refazendo um discurso outrora puramente patrimonializado, para reescrevê-lo agora centrado no afeto, nos laços de amor, nos liames de família, preocupando-se essencialmente com o projeto pessoal de felicidade de cada um dos membros que compõem o núcleo familiar.

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Não há mais, propriamente, um espaço reservado e exclusivo para a propriedade, ou um outro espaço reservado e exclusivo para o contrato, e estes espaços impregnando as relações de família. E, assim, urge que se leve a efeito a reorganização das categorias es-pecíficas do Direito de Família – como se faz tão bem nesta obra – realizando uma releitura que tenha re-lação estreita com a visão constitucional acerca da dignidade humana. E é sob esta reflexiva amplitude de visões que Flávio Tartuce escreveu esta obra que se denomina Direito civil – Direito de família, v. 5, publicada pela excelente casa editorial das letras jurídicas, a Editora Método.

No primeiro capítulo, e à guisa de introdução, o autor já estrutura o novo conceito de Direito de

Família, os novos princípios do Direito de Família e a

concepção constitucional de família. Procura mostrar a nova visão desse segmento da ciência do direito e do direito privado, abordando a influência que a trans-formação recebe das reflexões que são levadas a cabo, contemporaneamente, especialmente pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), destacando a preocupação com a ética e com o apreço pelo social.

No segundo capítulo, o autor explora as questões técnicas relacionadas com o conceito de casamento,

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os princípios do casamento, a incapacidade matrimo-nial, os impedimentos matrimoniais, as causas sus-pensivas, a invalidade do casamento, os seus deveres, a sua prova e a responsabilidade pré-casamentária. Esse capítulo tem um perfil mais técnico que principi-ológico, propriamente dito, e o seu tratamento dis-pensado é suficientemente aprofundado.

O terceiro capítulo vai cuidar do regime de bens que rege o casamento, cuidando das principais questões patrimoniais, depois de passar pelo exame dos princípios, das regras, do conceito, do pacto antenupcial. Segue pelo exame minucioso das regras especiais acerca dos quatro regimes e da possibilidade de alterá-los, no curso do matrimônio, inclusive no que diz respeito a casamentos anteriores à vigência da lei nova.

No capítulo subsequente, o quarto, o autor anal-isa muito bem a dissolução do casamento e da so-ciedade conjugal, trabalhando o assunto de modo in-teressante, aprofundado e de agradável leitura. Trata de questões intrincadas, como a que se refere à mit-igação da culpa, bem como da mediação como forma de solução de controvérsias. Cuidou também, com es-pecial atenção, das questões controvertidas quanto ao divórcio e à guarda dos filhos, especialmente tendo

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em vista a emergência da Emenda Constitucional do Divórcio (EC 66/2010).

A união estável foi abordada no quinto capítulo, com forte influência do magistério de Álvaro Villaça Azevedo, o precursor do tratamento doutrinário da questão, entre nós. Os autor desta obra também avança para a análise cuidadosa e corajosa do tema sobre a união homoafetiva, e o estado da arte de seu trato doutrinário e jurisprudencial, no Brasil.

O capítulo subsequente, o sexto, é o mais longo de todos os capítulos e revela o cuidado extremo que teve o autor com o tratamento das relações familiares na órbita da parentalidade, com análise pontual e pro-funda sobre a filiação, o reconhecimento de filhos, a adoção e o poder familiar. Analisou também – e de modo muito instigante e atual – o importantíssimo tema da parentalidade socioafetiva, enfrentando com bom resultado a questão intrincada da relativização da coisa julgada.

O sétimo capítulo foi dedicado ao exame com-pleto acerca dos alimentos, elevando a análise para além do direito material e enfrentando questões processuais.

O bem de família e a atualíssima questão sobre a discussão da possibilidade de penhora do imóvel do

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fiador – se for bem de família – foram os assuntos que habitaram, em competentes letras, o oitavo capítulo da obra.

No capítulo nono, o direito assistencial – tutela, curatela e guarda, inclusive sob às luzes do Estatuto da Criança e do Adolescente – foi muito bem esmi-uçado pelo autor, fechando com chave de ouro a boa obra que se dedicou a escrever, para sorte da comunidade jurídica profissional e para deleite dos estudiosos em geral.

Revelo-me encantada com o resultado final ob-tido pelo esforço deste jovem e promissor jurista, re-gistrando que este bom livro está presente em minhas indicações bibliográficas e referências literárias.

Por tudo isso, sinto-me à vontade para indicar à comunidade de estudiosos e de aplicadores do direito esta obra, de perfil inovador e transformador, que é exatamente o seu traço fundamental.

Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka Professora Titular da Faculdade de Direito da USP. Diretora Nacional da Região Sudeste do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM.

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SUMÁRIO

1. DIREITO DE FAMÍLIA – INTRODUÇÃO 1.1 Conceito de direito de família. Estágio atual 1.2 O novo direito de família. Princípios

1.2.1 Direito civil constitucional e direito de família

1.2.2 Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF/1988) 1.2.3 Princípio da solidariedade familiar (art.

3.º, I, da CF/1988)

1.2.4 Princípio da igualdade entre filhos (art. 227, § 6.º, da CF/1988 e art. 1.596 do CC)

1.2.5 Princípio da igualdade entre cônjuges e companheiros (art. 226, § 5.º, da CF/ 1988 e art. 1.511 do CC)

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1.2.6 Princípio da igualdade na chefia familiar (arts. 1.566, III e IV, 1.631 e 1.634 do CC e arts. 226, § 5.º, e 226, § 7.º, da CF) 1.2.7 Princípio da não intervenção ou da

liber-dade (art. 1.513 do CC)

1.2.8 Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente (art. 227, caput, da CF/ 1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC) 1.2.9 Princípio da afetividade

1.2.10 Princípio da função social da família 1.2.11 Princípio da boa-fé objetiva

1.3 Concepção constitucional de família 1.4 Resumo esquemático

1.5 Questões correlatas

2. CASAMENTO – CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA, ELEMENTOS CONSTITUTIVOS, INVALIDADE E EFEITOS DO CASAMENTO 2.1 Conceito e natureza jurídica do casamento.

Regras iniciais

2.2 Da capacidade para o casamento. Diferenças entre incapacidade e impedimentos

2.3 Impedimentos matrimoniais no Código Civil de 2002

(21)

2.4 As causas suspensivas do casamento

2.5 Do processo de habilitação e da celebração do casamento

2.5.1 Casamento nos casos de moléstia grave 2.5.2 Casamento nuncupativo (em viva voz)

ou in extremis vitae momentis, ou in

ar-ticulo mortis

2.5.3 Casamento por procuração

2.5.4 Casamento religioso com efeitos civis 2.5.5 Casamento perante autoridade consular 2.6 Da invalidade do casamento 2.6.1 Introdução 2.6.2 Do casamento inexistente 2.6.3 Do casamento nulo 2.6.4 Do casamento anulável 2.6.5 Do casamento putativo 2.7 Prova do casamento

2.8 Efeitos e deveres do casamento

2.9 Responsabilidade pré-negocial no casamento. A quebra de promessa de casamento. A aplicação da boa-fé objetiva

2.10 Resumo esquemático 2.11 Questões correlatas

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Gabarito

3. CASAMENTO. DIREITO PATRIMONIAL – REGIME DE BENS

3.1 Introdução. Conceito e princípios dos regimes de bens

3.2 Regras gerais quanto ao regime de bens 3.3 Pacto antenupcial. Conceito e regras 3.4 Regras especiais quanto ao regime de bens

3.4.1 Regime da comunhão parcial 3.4.2 Regime da comunhão universal 3.4.3 Regime da participação final nos

aquestos

3.4.4 Regime da separação de bens 3.5 Resumo esquemático

3.6 Questões correlatas Gabarito

4. DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO E DA SOCIEDADE CONJUGAL. ANÁLISE COM A EMENDA CONSTITUCIONAL 66/2010 4.1 Introdução. Conceitos iniciais. O sistema

in-troduzido pelo Código Civil de 2002 e as

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alterações fundamentais instituídas pela EC 66/ 2010

4.2 Questões pontuais relativas ao tema da dissol-ução da sociedade conjugal e do casamento após a Emenda Constitucional 66/2010 4.2.1 O fim da separação de direito em todas

as suas modalidades e a manutenção da separação de fato. Aprofundamentos necessários

4.2.2 Preservação do conceito de sociedade conjugal. A situação das pessoas separa-das juridicamente antes da EC 66/2010 4.2.3 A existência de modalidade única de

di-vórcio. Fim do divórcio indireto. Regras fundamentais quanto ao divórcio extrajudicial

4.2.4 Da possibilidade de se discutir culpa para o divórcio do casal

4.2.5 A questão do uso do nome pelo cônjuge após a EC 66/2010

4.2.6 O problema da guarda na dissolução do casamento. Análise atualizada com a EC 66/2010

(24)

4.2.7 Alimentos na dissolução do casamento e a EC 66/2010. O problema dos

alimentos pós-divórcio

4.2.8 A responsabilidade civil em decorrência da dissolução do casamento

4.2.8.1 Introdução. Direito de família e responsabilidade civil. Premissas fundamentais para a com-preensão do tema

4.2.8.2 A responsabilidade civil nas re-lações casamentárias. Os danos reparáveis

4.2.8.3 A possibilidade anterior de dis-cussão da reparação de danos em sede de separação judicial. Im-pacto com a EC 66/2010 4.2.8.4 A reparação dos danos por

quebra da fidelidade (antigo adultério)

4.2.8.5 A reparação dos danos por infi-delidade virtual

4.2.8.6 A reparação dos danos por con-duta violenta entre os cônjuges. A incidência da Lei Maria da

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Penha e seus mecanismos de tu-tela (Lei 11.340/2006)

4.2.8.7 O abuso de direito e sua incidên-cia na relação casamentária. Os casos dos maridos enganados pela gravidez da mulher 4.3 Resumo esquemático

4.4 Questões correlatas Gabarito

5. DA UNIÃO ESTÁVEL 5.1 Introdução

5.2 Conceito de união estável e requisitos

5.3 Diferenças entre união estável e concubinato. A questão das uniões estáveis plúrimas ou paralelas. A monogamia como princípio da união estável

5.4 Efeitos pessoais e patrimoniais da união estável 5.5 União de pessoas do mesmo sexo ou união

homoafetiva

5.6 Resumo esquemático 5.7 Questões correlatas Gabarito

(26)

6. DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO. DISPOSIÇÕES GERAIS, FILIAÇÃO,

RECONHECIMENTO DE FILHOS, ADOÇÃO E PODER FAMILIAR

6.1 Disposições gerais quanto ao parentesco 6.2 Filiação. Regras gerais. As antigas presunções

de paternidade e as questões de biodireito. O criticável art. 1.601 do Código Civil e a parent-alidade socioafetiva. Aprofundamentos quanto à posse de estado de filhos

6.3 Reconhecimento de filhos 6.3.1 Introdução

6.3.2 Reconhecimento voluntário 6.3.3 Reconhecimento judicial

6.3.3.1 Foro competente para apreciar a ação investigatória

6.3.3.2 Legitimidade ativa para a ação investigatória

6.3.3.3 Legitimidade passiva para a ação investigatória

6.3.3.4 Fundamentos jurídicos do pedido 6.3.3.5 Valor da causa e outros efeitos 6.3.4 Questões controvertidas quanto à ação

investigatória de paternidade

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6.3.4.1 Os alimentos na ação investigatória

6.3.4.2 A discussão da parentalidade so-cioafetiva na ação investigatória 6.3.4.3 A relativização da coisa julgada

na ação investigatória 6.3.4.4 A obrigatoriedade do exame de DNA e a presunção de paternidade 6.4 Adoção 6.5 Poder familiar 6.6 Resumo esquemático 6.7 Adendo especial 6.7.1 Art. 1.601 6.8 Questões correlatas Gabarito 7. DOS ALIMENTOS

7.1 Conceito de alimentos e pressupostos da obrigação alimentar

7.2 Características da obrigação alimentar e do direito aos alimentos

7.3 Principais classificações dos alimentos

(28)

7.4 Modalidades contemporâneas de alimentos. Alimentos compensatórios e gravídicos 7.5 Outras regras previstas no Código Civil de

2002 e a extinção da obrigação de alimentos. Culpa e alimentos

7.6 Regras previstas na Lei 5.478/1968. Aspectos materiais e processuais

7.7 Resumo esquemático 7.8 Questões correlatas Gabarito

8. DO BEM DE FAMÍLIA

8.1 Introdução. O bem de família na perspectiva civil-constitucional

8.2 O bem de família convencional ou voluntário 8.3 Bem de família legal

8.4 Resumo esquemático 8.5 Questões correlatas Gabarito

9. DO DIREITO ASSISTENCIAL – DA TUTELA, DA CURATELA E DA GUARDA

9.1 Introdução

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9.2 Da tutela 9.3 Da curatela 9.4 Da guarda 9.5 Resumo esquemático 9.6 Questões correlatas Gabarito BIBLIOGRAFIA 29/1350

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Nota da Editora: o Acordo Ortográfico foi aplicado integralmente nesta obra.

(31)

DIREITO DE FAMÍLIA –

INTRODUÇÃO

Sumário: 1.1 Conceito de direito de

família. Estágio atual – 1.2 O novo direito de família. Princípios: 1.2.1 Direito civil constitucional e direito de família; 1.2.2 Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF/1988); 1.2.3 Princípio da solidariedade familiar (art. 3.º, I, da CF/ 1988); 1.2.4 Princípio da igualdade entre filhos (art. 227, § 6.º, da CF/1988 e art. 1.596 do CC); 1.2.5 Princípio da igualdade entre cônjuges e companheir-os (art. 226, § 5.º, da CF/1988 e art.

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igualdade na chefia familiar (arts. 1.566, III e IV, 1.631 e 1.634 do CC e arts. 226, § 5.º, e 226, § 7.º, da CF); 1.2.7 Princípio da não intervenção ou da liber-dade (art. 1.513 do CC); 1.2.8 Princípio do melhor interesse da criança e do ad-olescente (art. 227, caput, da CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC); 1.2.9 Princí-pio da afetividade; 1.2.10 PrincíPrincí-pio da função social da família; 1.2.11 Princípio da boa-fé objetiva – 1.3 Concepção con-stitucional de família – 1.4 Resumo es-quemático – 1.5 Questões correlatas.

1.1 CONCEITO DE DIREITO DE

FAMÍLIA. ESTÁGIO ATUAL

O Direito de Família pode ser conceituado como sendo o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos jurídicos: a) casamento; b) união estável; c) relações de par-entesco; d) filiação; e) alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda. Como se pode perceber, tornou-se comum na doutrina conceituar o Direito de Família relacionando-o aos institutos que são

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estudados por esse ramo do Direito Privado. Assim também o faremos. Além desse conteúdo, constante do atual Código Civil, acrescente-se a investigação contemporânea das novas manifestações familiares (novas famílias), conforme será demonstrado neste trabalho.

Pois bem, é cediço que as normas de Direito de Família são essencialmente normas de ordem pública ou cogentes, pois estão relacionadas com o direito

ex-istencial, com a própria concepção da pessoa humana.

No tocante aos seus efeitos jurídicos, diante da natureza dessas normas, pode-se dizer que é nula qualquer previsão que traga renúncia aos direitos ex-istenciais de origem familiar, ou que afaste normas que protegem a pessoa.

Ilustrando, é nulo o contrato de namoro nos casos em que existe entre as partes envolvidas uma união estável, eis que a parte renuncia por esse con-trato e de forma indireta a alguns direitos essencial-mente pessoais, como é o caso do direito a alimentos. Esse contrato é nulo por fraude à lei imperativa (art. 166, VI, do CC), e também por ser o seu objeto ilícito (art. 166, II, do CC). Sobre o tema em questão, indaga e conclui Pablo Stolze Gagliano: “nesse contexto o ‘contrato de namoro’ poderia ser considerado como uma alternativa para aqueles casais que pretendessem

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manter a sua relação fora do âmbito da incidência das regras da união estável? Poderiam, pois, por meio de um documento, tornar firme o reconhecimento de que aquela união é apenas um namoro, sem compromisso de constituição de família? Em nosso pensamento, temos a convicção de que tal contrato é completa-mente desprovido de validade jurídica. A união es-tável é um fato da vida, uma situação fática recon-hecida pelo Direito de Família que se constitui dur-ante todo o tempo em que as partes se portam como se casados fossem, e com indícios de definitividade”

(Contrato..., Disponível em:

<www.flaviotartuce.adv.br>, Seção artigos de convid-ados. Acesso em: 31 dez. 2012).

Cumpre anotar que a jurisprudência já afastou os efeitos do chamado contrato de namoro, em decisão da 7.ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que foi relator o Des. Luiz Felipe Brasil Santos (Proc. 70006235287, j. 16.06.2004). Segundo o magistrado, “esses abortos jurídicos que andam sur-gindo por aí, que são nada mais que o receio de que um namoro espontâneo, simples e singelo, resultante de um afeto puro, acaba se transformando em uma união com todos os efeitos patrimoniais indesejados ao início”.

(35)

Por outro lado, há também normas de direito de família que são normas de ordem privada, como aquelas relacionadas com o regime de bens, de cunho eminentemente patrimonial (arts. 1.639 a 1.688 do CC). Assim, eventualmente, é possível que a auto-nomia privada traga previsões contrariando essas nor-mas dispositivas.

A própria organização do Código Civil de 2002, no tocante à família, demonstra essa divisão. Primeiramente, os arts. 1.511 a 1.638 tratam do direito pessoal ou existencial. Por conseguinte, nos arts. 1.639 a 1.722, o código privado regulamenta o direito patrimonial e conceitos correlatos. É correto afirmar, na verdade, que essa divisão entre direito pat-rimonial e direito existencial atinge todo o Direito Privado.

Essa organização do Direito de Família, de ime-diato, demonstra a tendência de personalização do

Direito Civil, ao lado da sua despatrimonialização,

uma vez que a pessoa é tratada antes do patrimônio. Perde o patrimônio o papel de ator principal e se torna mero coadjuvante. Como não poderia ser diferente, no presente volume, o Direito Civil será analisado tendo como esteio a Constituição Federal de 1988 e os seus princípios fundamentais. Talvez o Direito Civil

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Constitucional salte aos olhos mais até do que nos volumes anteriores desta coleção.

Conforme também é apontado pela doutrina con-temporânea, o Direito de Família passou por pro-fundas alterações nas últimas décadas, transformações essas que atingiram também o nosso País. O jurista Eduardo de Oliveira Leite, citando Jean Carbonnier, procurou analisar de forma didática as razões dessas alterações, apontando seis nítidos rumos (Direito

civil..., 2005, p. 33):

a) A estatização – diante da comum e crescente ingerência do Estado nas relações familiares, o que traz uma tendência de publicização da disciplina, que sempre foi baseada no privatismo.

b) A retratação – nítida redução do grupo fa-miliar em pais e filhos, substituição da família patriarcal pela família nuclear, com um número menor de pessoas.

c) A proletarização – o grupo doméstico perde sua característica plutocrática, ou seja, dom-inada pelo dinheiro.

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d) A desencarnação – substituição do elemento carnal e religioso pelo elemento psicológico e afetivo.

e) A dessacralização – desaparecimento do ele-mento sagrado, da forte influência religiosa da Igreja Católica, o que dá larga margem à vontade individual, à autonomia privada. Ampliam-se a liberdade e o direito de mani-festação das ideias.

f) A democratização – a sociedade familiar passa a ser uma sociedade igualitária, substituindo-se a hierarquia pelo companheir-ismo, e pela possibilidade de todos os mem-bros da entidade familiar opinarem para as tomadas de decisões.

Complementando, o ilustre professor paranaense, interpretando os arts. 226 e 227 da CF/1988, ap-resenta interessante quadro comparativo para expor as principais alterações estruturais do Direito de Família (LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito civil..., 2005, p. 34). O quadro, pela excelência do trabalho e de sua didática, está reproduzido a seguir, de forma integral:

(38)

Como era Como ficou Qualificação da família como legítima. reconhecimento de outras formas de conjugabilid-ade ao lado da família legítima. Diferença de es-tatutos entre homem e mulher. Igualdade abso-luta entre homem e mulher.

Categorização de

filhos. Paridade de direit-os entre filhos de qualquer origem. Indissolubilidade do vínculo matrimonial. Dissolubilidade do vínculo matrimonial. Proscrição do

concubinato. Reconhecimentode uniões estáveis.

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Diante de todas essas alterações históricas e es-truturais e de outras que serão comentadas no presente trabalho, pode-se afirmar que há um Novo Direito de

Família. Mais do que nunca, vale repetir, deve-se

estudar esse ramo jurídico tendo como parâmetro os princípios constitucionais encartados no Texto Maior. Isso é amplamente reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência contemporâneas.

Deve-se ter plena ciência desse novo dimen-sionamento que vem sendo dado à matéria, para mel-hor se preparar para as provas de todo o Brasil e para a prática forense. Em reforço, é preciso ter em mente que o direito à constituição da família é um direito fundamental, para que a pessoa concretize a sua dig-nidade. Justamente por isso o Projeto de Lei que pre-tende instituir o Estatuto das Famílias (PL 470/2013 prevê em seu art. 2.º que “O direito à família é direito fundamental de todos”. Como bem ensina Paulo Lôbo, “A família atual busca sua identificação na solidariedade (art. 3.º, I, da Constituição), como um dos fundamentos da afetividade, após o individual-ismo triunfante dos dois últimos séculos, ainda que não retome o papel predominante que exerceu no mundo antigo” (Famílias..., 2008, p. 2).

Muitas das ideias expostas na presente obra são capitaneadas pelo Instituto Brasileiro de Direito de

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Família (IBDFAM). Hoje, tornou -se praticamente obrigatório àquele que atua na área da família e das sucessões ser membro desse instituto, que congrega juristas, professores, magistrados, promotores de justiça, defensores públicos, advogados, psicólogos, psicanalistas, assistentes sociais e pessoas interessa-das no estudo da família no Brasil. O IBDFAM foi fundado em 1997 por um grupo de estudiosos brasileiros que acreditavam na busca de novas ver-tentes para o estudo e a compreensão da família brasileira. Hoje, o IBDFAM conta com mais de cinco mil associados, sendo composto por alguns dos nos-sos maiores juristas.

Em síntese, o presente livro perseguirá o cam-inho trilhado pelo IBDFAM, pelos seus fundadores, pelos seus associados, pelas conclusões a que chegaram os seus membros quando da realização dos seus congressos brasileiros e estaduais; bem como pelos escritos publicados sob o seu selo.

Buscar-se-á analisar o Direito de Família do ponto de vista do afeto, do amor que deve existir entre as pessoas, da ética, da valorização da pessoa e da sua dignidade, do solidarismo social e da isonomia con-stitucional. Isso porque, no seu atual estágio, o Direito

de Família é baseado mais na afetividade do que na estrita legalidade, frase que é sempre repetida e que

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pode ser atribuída a Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Professora Titular da Faculdade de Direito da USP e uma das fundadoras do IBDFAM. Tal premissa ficará evidenciada pela análise dos princípi-os básicprincípi-os desse Novo Direito de Família.

Passa-se, assim, à abordagem dessa mudança de perspectiva diante de novos princípios que regem a matéria, sendo importante mencionar que para a sis-tematização a seguir foi precioso o trabalho de Rodrigo da Cunha Pereira, presidente nacional do IBDFAM, conforme a sua tese defendida na UFPR (Princípios..., 2006).

1.2 O NOVO DIREITO DE

FAMÍLIA. PRINCÍPIOS

1.2.1 Direito civil constitucional e direito de família

Como outrora apontado nos outros volumes desta coleção, o Direito Civil Constitucional pode ser encarado como um novo caminho metodológico que procura analisar os institutos de Direito Privado,

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tendo como ponto de origem a Constituição Federal de 1988. Não se trata apenas de estudar os institutos privados previstos na Constituição Federal de 1988, mas sim de analisar a Constituição sob o prisma do Direito Civil, e vice-versa. Para tanto, deverão irradiar de forma imediata as normas fundamentais que pro-tegem a pessoa, particularmente aquelas que constam nos arts. 1.º a 6.º do Texto Maior.

Relembre-se que tal ideia surgiu na Itália a partir da doutrina de Pietro Perlingieri (ver: PERLINGIERI, Pietro. Perfis..., 2007). No Brasil, são expoentes dessa escola, entre outros, Gustavo Tepedino, Maria Celina Bodin de Moraes, Heloísa Helena Barboza, Luiz Ed-son Fachin, Paulo Lôbo, Giselda Hironaka, entre outros.

Aqui, no estudo do Direito de Família, mais do nunca, será importante reconhecer a eficácia imediata

e horizontal dos direitos fundamentais, a horizontaliz-ação das normas que protegem as pessoas, que devem

ser aplicadas nas relações entre particulares, dirigidas que são, também, aos entes privados (sobre o tema: SARMENTO, Daniel. Direitos..., 2005; SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia..., 2005).

Nessa concepção, utilizando-se a tão conhecida simbologia de Ricardo Lorenzetti, o Direito Privado

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pode ser comparado a um sistema solar em que o Sol é a Constituição Federal de 1988, e o planeta

princip-al o Código Civil. Em torno desse planeta principprincip-al

estão os satélites, que são os microssistemas jurídicos ou estatutos, que também merecem especial atenção pelo Direito de Família, caso do Estatuto da Criança e

do Adolescente e do Estatuto do Idoso

(LORENZETTI, Ricardo Luís. Fundamentos..., 1998, p. 45). Nesse Big Bang Legislativo, é preciso buscar um diálogo possível de complementaridade entre to-das essas leis (diálogo to-das fontes), o que será feito, por exemplo, quando do estudo da adoção.

Sem dúvidas, deve-se reconhecer também a ne-cessidade da constitucionalização do Direito de Família, pois “grande parte do Direito Civil está na Constituição, que acabou enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir-lhes efetivid-ade. A intervenção do Estado nas relações de direito privado permite o revigoramento das instituições de direito civil e, diante do novo texto constitucional, forçoso ao intérprete redesenhar o tecido do Direito Civil à luz da nova Constituição” (DIAS, Maria Berenice. Manual..., 2007, p. 36).

Ainda no que interessa à constitucionalização do Direito Privado, leciona Paulo Lôbo que “Liberdade, justiça, solidariedade são os objetivos supremos que a

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Constituição brasileira (art. 3.º, I) consagrou para a realização da sociedade feliz, após duzentos anos da tríade liberdade, igualdade e fraternidade da Re-volução Francesa. Do mesmo modo, são valores fundadores da família brasileira atual, como lugar para a concretização da dignidade da pessoa humana de cada um dos seus membros, iluminando a ap-licação do direito” (Famílias..., 2008, p. 16).

Portanto, alguns dos antigos princípios do Direito de Família foram aniquilados, surgindo out-ros, dentro dessa proposta de constitucionalização e personalização, remodelando esse ramo jurídico. Por isso, o Estatuto das Famílias pretende enunciar os re-gramentos estruturais do Direito de Família, prescre-vendo o seu art. 5.º que são seus princípios fundamen-tais a dignidade da pessoa humana, a solidariedade fa-miliar, a igualdade de gêneros, de filhos e das en-tidades familiares, a convivência familiar, o melhor interesse da criança e do adolescente e a afetividade.

Como se verá da leitura até o final deste capítulo, a proposta legislativa está muito próxima dos princípi-os que aqui são expprincípi-ostprincípi-os.

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1.2.2 Princípio de proteção da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF/1988)

Enuncia o art. 1.º, III, da CF/1988 que o nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Trata-se daquilo que se denomina princípio máximo, ou superprincípio, ou

macro-princípio, ou princípio dos princípios. Diante

desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga, atualmente, falar em

per-sonalização, repersonalização e despatrimonializa-ção do Direito Privado (FACHIN, Luiz Edson. Estat-uto..., 2001). Ao mesmo tempo em que o patrimônio

perde a importância, a pessoa é supervalorizada. Na concepção de dignidade humana, deve-se ter em mente a construção de Kant, segundo a qual se trata de um imperativo categórico que considera a pessoa humana como um ser racional, um fim em si mesmo.

Ora, não há ramo do Direito Privado em que a dignidade da pessoa humana tem maior ingerência ou atuação do que o Direito de Família. Por certo que é difícil a concretização exata do que seja o princípio da dignidade da pessoa humana, por tratar-se de uma

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cláusula geral, de um conceito legal indeterminado, com variantes de interpretações.

Reconhecendo a submissão de outros preceitos constitucionais à dignidade humana, Ingo Wolfgang Sarlet conceitua o princípio em questão como sendo “o reduto intangível de cada indivíduo e, neste sen-tido, a última fronteira contra quaisquer ingerências externas. Tal não significa, contudo, a impossibilidade de que se estabeleçam restrições aos direitos e garantias fundamentais, mas que as restrições efetiva-das não ultrapassem o limite intangível imposto pela dignidade da pessoa humana” (A eficácia..., 2005, p. 124). A partir desse conceito, entendemos que a dig-nidade humana é algo que se vê nos olhos da pessoa, na sua fala e na sua atuação social, no modo como ela interage com o meio que a cerca. Em suma, a dignid-ade humana concretiza-se socialmente, pelo contato da pessoa com a sua comunidade.

Especialmente quanto à interação

família-dignid-ade, ensina Gustavo Tepedino que a família, embora

tenha o seu prestígio ampliado pela Constituição da República, deixa de ter valor intrínseco, como uma instituição meramente capaz de merecer tutela jurídica pelo simples fato de existir. Mais do que isso, se-gundo o jurista, “a família passa a ser valorizada de maneira instrumental, tutelada como um núcleo

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intermediário de desenvolvimento da personalidade dos filhos e de promoção da dignidade de seus integ-rantes” (A disciplina..., Temas..., 2004, p. 398).

Pois bem, pode-se aqui trazer alguns exemplos de aplicação, pela jurisprudência nacional, do princí-pio da dignidade da pessoa humana no Direito de Família.

De início, pode ser citado o comum entendi-mento do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o imóvel em que reside pessoa solteira é bem de família, estando protegido pela impenhorabilidade constante da Lei 8.009/1990. Por todos os antigos jul-gados, transcreve -se o seguinte:

“Processual. Execução. Impenhorabilidade. Imóvel. Residência. Devedor solteiro e solitário – Lei 8.009/1990. A interpretação teleológica do art. 1.º, da Lei 8.009/ 1990, revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu escopo definit-ivo é a proteção de um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se assim ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indiví-duo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão. É impenhorável, por efeito do preceito contido no art. 1.º da Lei 8.009/1990, o imóvel em que reside, soz-inho, o devedor celibatário” (STJ, EREsp 182.223/SP, j. 06.02.2002, Corte Especial, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Rel. acórdão Min. Humberto Gomes de Barros. DJ 07.04.2003, p. 209, REVJUR, vol. 306, p. 83; Veja: STJ, REsp 276.004/ SP (RSTJ 153/273, JBCC 191/215), REsp 57.606/MG (RSTJ 81/306), REsp 159.851/SP – LEXJTACSP 174/615 –, REsp 218.377/ES – LEXSTJ 136/111, RDR 18/355, RSTJ 143/385).

Como reconhece a própria ementa da decisão, o que almeja a Lei 8.009/1990 é a proteção da pessoa e

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não de um grupo específico de pessoas como, por ex-emplo, a família em si. Com isso, protege-se a própria dignidade humana (art. 1.º, III, da CF/1988) e o direito constitucional à moradia, direito social e fun-damental (art. 6.º da CF/1988). O entendimento con-solidado do Superior Tribunal de Justiça acabou por gerar a edição da Súmula 364 daquele Tribunal super-ior, in verbis: “o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas”.

Por certo é que, pelo que consta no art. 226 da CF/1988, uma pessoa solteira não constituiria uma família, nos exatos termos do sentido legal. Um solteiro, como se sabe, não constitui uma entidade fa-miliar decorrente de casamento, união estável ou família monoparental. Estaria, então, o julgador alter-ando o conceito de bem de família? A resposta parece ser positiva, estando ampliado o seu conceito para

bem de residência da pessoa natural ou bem do pat-rimônio mínimo, utilizando-se a construção de Luiz

Edson Fachin. Reside, nesse ponto, forte tendência de personalização do Direito Privado (FACHIN, Luiz Edson. Estatuto..., 2001).

Como segundo exemplo de aplicação da dignid-ade humana em sede de Direito de Família, pode ser citada a consolidada tendência doutrinária e

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jurisprudencial de relativização ou mitigação da culpa nas ações de separação judicial. Essa relação entre culpa e dignidade humana foi muito bem feita pelo promotor de justiça e jurista baiano Cristiano Chaves de Farias, quando do IV Congresso Brasileiro de

Direito de Família do IBDFAM. Foram as suas

palav-ras: “Ora, como a cláusula geral de proteção da per-sonalidade humana promove a dignidade humana, não há dúvida de que se é direito da pessoa humana con-stituir núcleo familiar, também é direito seu não

manter a entidade formada, sob pena de

comprometer-lhe a existência digna”

(Redesenhando..., 2004, p. 115). Anote-se que a juris-prudência nacional também estabelece a relação entre a mitigação da culpa e a proteção da dignidade, tema que ainda será aprofundado no Capítulo 4 da presente obra (TJMG, Apelação Cível 1.0024.04.355193-6/ 001, Belo Horizonte, 1.ª Câmara Cível, Rel. Des. Vanessa Verdolim Hudson Andrade, j. 03.05.2005,

DJMG 20.05.2005).

Ressalte-se que, com a aprovação da Emenda Constitucional 66/2010, conhecida como Emenda do

Divórcio, há quem entenda pela extinção total da

culpa para a dissolução do casamento, conforme se verá em momento oportuno. De imediato, destaque-se que a Emenda alterou apenas o Texto Maior, sem

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qualquer modificação do Código Civil. Cabe à doutrina e à jurisprudência apontar quais as normas que prevalecem e quais estão revogadas no Código Civil de 2002 e na legislação extravagante. Com a in-ovação, vivificamos a grande revolução do Direito de Família deste Século XXI, com enormes desafios para os aplicadores do Direito em geral.

Como terceiro e último exemplo de incidência da dignidade humana, pode ser invocada a tão comentada tese do abandono paterno-filial. Em mais de um julgado, a jurisprudência pátria condenou pais a pagarem indenização aos filhos, pelo abandono afet-ivo, por clara lesão à dignidade humana. O julgado mais notório é do extinto Tribunal de Alçada Civil de Minas Gerais, no conhecido caso Alexandre Fortes, cuja ementa é a seguir transcrita, com referência ex-pressa à dignidade humana:

“Indenização danos morais. Relação paterno-filial. Princípio da dignidade da pessoa humana. Princípio da afetividade. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa hu-mana” (Tribunal de Alçada de Minas Gerais, 7.ª Câmara de Direito Privado, Apelação Cível 408.555-5, decisão 01.04.2004, Rel. Unias Silva, v.u.).

Naquela ocasião, reformando a decisão de primeira instância, o pai foi condenado a pagar inden-ização de duzentos salários mínimos ao filho por tê-lo

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abandonado afetivamente. Isso porque, após a sep-aração em relação à mãe do autor da ação, o seu novo casamento e o nascimento da filha advinda da nova união, o pai passou a privar o filho da sua convivên-cia. Entretanto, o pai continuou arcando com os ali-mentos para sustento do filho, abandonando-o somente no plano do afeto, do amor. Consta do corpo da decisão que:

“No seio da família da contemporaneidade desenvolveu-se uma relação que se en-contra deslocada para a afetividade. Nas concepções mais recentes de família, os pais de família têm certos deveres que independem do seu arbítrio, porque agora quem os determina é o Estado. Assim, a família não deve mais ser entendida como uma relação de poder, ou de dominação, mas como uma relação afetiva, o que signi-fica dar a devida atenção às necessidades manifestas pelos filhos em termos, justa-mente, de afeto e proteção. Os laços de afeto e de solidariedade derivam da con-vivência e não somente do sangue. No estágio em que se encontram as relações fa-miliares e o desenvolvimento científico, tende-se a encontrar a harmonização entre o direito de personalidade ao conhecimento da origem genética, até como necessidade de concretização do direito à saúde e prevenção de doenças, e o direito à relação de parentesco, fundado no princípio jurídico da afetividade. O princípio da afetividade especializa, no campo das relações familiares, o macroprincípio da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF), que preside todas as relações jurídicas e sub-mete o ordenamento jurídico nacional” (A íntegra da decisão encontra-se disponível no site: <www.flaviotartuce.adv.br>. Jurisprudência. Acesso em: 31 maio 2005).

Contudo, tal decisão foi reformada pelo Superior Tribunal de Justiça, em 29 de novembro de 2005, que afastou a condenação por danos morais, nos seguintes termos:

“Responsabilidade civil. Abandono moral. Reparação. Danos morais. Impossibil-idade. 1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não

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rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e provido” (STJ, REsp 757.411/MG, Rel. Min. Fernando Gonçalves, votou vencido o Min. Barros Monteiro, que dele não conhecia. Os Ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro relator. Brasília, 29 de novembro de 2005 – data de julgamento).

Em suma, entendeu-se, neste primeiro julgado superior, que não se poderia falar em dever de inden-izar, pois o pai não estaria obrigado a conviver com o filho. Segundo este acórdão do Tribunal Superior, não haveria um ato ilícito no caso descrito. Em outras palavras, concluiu-se que o afeto de um pai em re-lação a um filho não poderia ser imposto.

Tal decisão gerou manifestações contrárias da doutrina, como a que foi enviada por mensagem eletrônica a este autor por Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Professora Titular do Departa-mento de Direito Civil da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no dia 30 de novembro de 2005:

“Queridos amigos e membros de meu grupo de estudos. (...) Hoje provavelmente é um dos dias mais tristes de minha carreira jurídica considerada em sua totalidade... Isso acontece comigo sempre que a fé que tenho nas instituições (e no Poder Judi-ciário em especial – o que me levou a produzir, com vocês, de meu grupo de estudos, o nosso livro A outra face do Judiciário: decisões inovadoras e mudanças de paradigmas) desaba por terra, como um nada precariamente sustentável... Muito triste... Refiro-me, certamente, à desastrada decisão do STJ, no caso Alexandre, sobre abandono afetivo (veja a decisão abaixo, no final desta mensagem). Quero duas coisas, acerca do assunto, para as nossas reflexões, queridos amigos do grupo de estudos. Primeiro, que releiam, se possível, o artigo que coloquei no nosso livro,

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e que escrevi a partir da decisão do Tribunal de Alçada de Minas (segue em anexo, o artigo, para facilitar a leitura, se preferirem). Segundo, que pensem em seus pais (e mães), em seus filhos (os que tiverem a sorte divina de tê-los) e que reflitam a re-speito do que receberam (ou não), na condição de filhos, de seus próprios pais (e mães), neste contexto afetivo que corre em paralelo com o singelo e jurídico dever de alimentar. Pensem em seus filhos e analisem o que e o quanto vocês lhes ofere-cem, nesta mesma seara. Finalmente pensem no Alexandre (autor da ação recém-jul-gada) e analisem se ele se parece conosco e se seu pai se parece com os nossos pais. Se, depois de assim refletir, não acontecer nada em nossos corações, poderemos considerar que o STJ acertou em seu julgamento e que inexiste dano de qualquer es-pécie a ser reparado. Em consequência, devemos concluir que é normal que um pai (afinal, segundo o STJ, os pais não têm o dom da ubiquidade, lembrem-se!!!) deixe seu filho para seguir seu projeto pessoal de felicidade, custe o que custar. E, final-mente, devemos refletir acerca de um novo viés que pode estar hoje mesmo nas-cendo para a sociedade brasileira e para as famílias de nosso país: ‘a Justiça autoriza que os homens (e as mulheres) abandonem afetivamente suas crias, se elas forem empecilhos em suas próprias trilhas de vida, punindo (será mesmo punição ou fa-vor?) apenas com a cessação do poder familiar’!”.

O artigo citado pela renomada professora pode ser lido no site deste autor (HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Os contornos jurídicos..., Disponível em: <www.flaviotartuce.adv.br>. Seção Artigos de Convidados. Acesso em: 30 nov. 2005). Sugere-se a leitura do trabalho para uma preciosa complementação, notadamente para que o estudioso chegue a uma conclusão sobre o tema.

A questão do abandono afetivo é uma das mais controvertidas do Direito de Família Contemporâneo. O argumento favorável à indenização está amparado na dignidade humana. Ademais, sustenta-se que o pai tem o dever de gerir a educação do filho, conforme o art. 229 da Constituição Federal e o art. 1.634 do

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Código Civil. A violação desse dever pode gerar um ato ilícito, nos termos do art. 186 da codificação privada. O entendimento contrário ampara-se substan-cialmente na afirmação de que o amor e o afeto não se impõem; bem como em uma suposta monetarização do afeto na admissão da reparação imaterial. A questão é realmente muito controvertida.

Conforme destacado nas edições anteriores desta obra, já existiam outras decisões de Tribunais Estaduais que concluíam pela possibilidade de re-paração civil em casos tais. Assim, colacionava-se jul-gado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que con-denou um pai, em sentido muito próximo ao caso

Al-exandre Fortes, a indenizar um filho pela abstenção

de convivência. O acórdão teve a relatoria do Des. Caetano Lagrasta, tendo sido assim resumido: “Re-sponsabilidade civil. Dano moral. Autor abandonado pelo pai desde a gravidez da sua genitora e recon-hecido como filho somente após propositura de ação judicial. Discriminação em face dos irmãos. Aban-dono moral e material caracterizados. Abalo psíquico. Indenização devida. Sentença reformada. Recurso provido para este fim” (TJSP, 8.ª Câm. de Direito

Privado, Apelação com Revisão 511.903-4/

7-00-Marília-SP, Rel. Des. Caetano Lagrasta, j. 12.03.2008, v.u.).

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Pois bem, demonstrando evolução quanto ao as-sunto, surgiu, no ano de 2012, outra decisão do Super-ior Tribunal de Justiça em revisão ao acórdão anterSuper-ior, ou seja, admitindo a reparação civil pelo abandono afetivo (caso Luciane Souza). A ementa foi assim publicada por aquele Tribunal Superior (Informativo n. 496 da Corte):

“Civil e processual civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano mor-al. Possibilidade. 1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que mani-festam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88. 3. Compro-var que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se recon-hecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de cri-ação, educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a pos-sibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem revolvi-mento de matéria fática – não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do re-curso especial. 6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial par-cialmente provido” (STJ, REsp 1.159.242/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 24.04.2012, DJe 10.05.2012).

Em sua relatoria, a Ministra Nancy Andrighi res-salta, de início, ser admissível aplicar o conceito de dano moral nas relações familiares, sendo discipienda

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qualquer discussão a esse respeito, pelos naturais diá-logos entre livros diferentes do Código Civil de 2002. Para ela, tal dano moral estaria presente diante de uma obrigação inescapável dos pais em dar auxílio psicológico aos filhos. Aplicando a ideia do cuidado como valor jurídico, Nancy Andrighi deduz pela presença do ilícito e da culpa do pai pelo abandono afetivo, expondo frase que passou a ser repetida nos meios sociais e jurídicos: “amar é faculdade, cuidar é dever”. Concluindo pelo nexo causal entre a conduta do pai que não reconheceu voluntariamente a pa-ternidade de filha havida fora do casamento e o dano a ela causado pelo abandono, a magistrada entendeu por reduzir o quantum reparatório que foi fixado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, de R$ 415.000,00 (quatrocentos e quinze mil reais) para R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

O acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça representa correta concretização jurídica dos princípios da dignidade e da solidariedade; sem perder de vista a função pedagógica que deve ter a re-sponsabilidade civil. Aliás, tal função educativa afasta qualquer argumentação a respeito de uma suposta

monetarização do afeto. Atente-se que esta última falsa premissa, levada às últimas instâncias, afastaria

qualquer possibilidade de reparação imaterial em

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nosso País. Cumpre lembrar, em reforço, que a CF/ 1988 encerrou o debate sobre a reparação dos danos morais como compensação pelos males sofridos pela pessoa, notadamente pela expressão do seu art. 5.º, incs. V e X.

Espera-se, assim, que o posicionamento pela re-paração dos danos morais em decorrência do aban-dono afetivo prevaleça na nossa jurisprudência, vis-ando a evitar que outros pais abvis-andonem os seus fil-hos. Conforme entrevista dada ao Jornal Folha de

São Paulo, de 5 de maio de 2012, a autora da ação,

Luciane Souza, pretendia apenas um mínimo de atenção de seu pai, o que nunca foi alcançado. Diante das perdas imateriais irreparáveis que sofreu, não restava outro caminho que não o da indenização civil, o que deve ser acompanhado por outros julgados no futuro.

1.2.3 Princípio da solidariedade familiar (art. 3.º, I, da CF/1988)

A solidariedade social é reconhecida como objet-ivo fundamental da República Federativa do Brasil pelo art. 3.º, I, da CF/1988, no sentido de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Por razões

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óbvias, esse princípio acaba repercutindo nas relações familiares, eis que a solidariedade deve existir nesses relacionamentos pessoais. A importância da solidar-iedade social é tamanha que o princípio constituiu a temática principal do VI Congresso Brasileiro do

IBDFAM, realizado em Belo Horizonte em novembro

de 2007. Deve-se entender por solidariedade o ato hu-manitário de responder pelo outro, de preocupar-se e de cuidar de outra pessoa.

A solidariedade familiar justifica, entre outros, o pagamento dos alimentos no caso da sua necessidade, nos termos do art. 1.694 do atual Código Civil. A título de exemplo, o Superior Tribunal de Justiça ap-licou o princípio, considerando o dever de prestar ali-mentos mesmo nos casos de união estável constituída antes da entrada em vigor da Lei 8.971/1994, que con-cedeu aos companheiros o direito a alimentos e que veio tutelar os direitos sucessórios decorrentes da união estável:

“Alimentos x união estável rompida anteriormente ao advento da Lei 8.971, de 29.12.1994. A união duradoura entre homem e mulher, com o propósito de estabele-cer uma vida em comum, pode determinar a obrigação de prestar alimentos ao com-panheiro necessitado, uma vez que o dever de solidariedade não decorre exclusiva-mente do casamento, mas também da realidade do laço familiar. Precedente da Quarta turma” (STJ, REsp 102.819/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, 4.ª Turma, j. 23.11.1998, DJ 12.04.1999, p. 154).

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O que o julgado reconhece, é que normas de or-dem pública poor-dem retroagir, principalmente aquelas que visam à manutenção digna da pessoa humana, es-pecialização da ideia de solidariedade patrimonial.

Mas vale lembrar que a solidariedade não é só patrimonial, é afetiva e psicológica. Nesse princípio, portanto, “ao gerar deveres recíprocos entre os integ-rantes do grupo familiar, safa-se o Estado do encargo de prover toda a gama de direitos que são assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em se tratando de crianças e adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à sociedade e finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta pri-oridade os direitos inerentes aos cidadãos em form-ação” (DIAS, Maria Berenice. Manual..., 2004, p. 64).

Entretanto, mesmo assim, nos termos do Texto Maior, “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (art. 226, § 8.º, da CF/1988), o que igual-mente consagra a solidariedade social na ótica familiar. Frise-se que o princípio da solidariedade fa-miliar também implica em respeito e consideração mútuos em relação aos membros da entidade familiar.

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Por igual ilustrando, será discutida na presente obra a possibilidade de se pleitear os alimentos após o divórcio, cuja suposta viabilidade está amparada no princípio da solidariedade social, até porque o vínculo de família não existe mais.

Anote-se, por oportuno, que há julgados que ap-licam a ideia também após o término do exercício do poder familiar, fazendo incidir o princípio em questão. A título de ilustração, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: “Direito de família. Ação de alimen-tos. Pensão fixada em percentuais específicos em fa-vor da companheira, do filho menor impúbere e dos filhos maiores. Verba que não atende às necessidades da criança e dos demais filhos que, embora maiores, ainda estudam. Recurso provido em parte. 1) Como sabido, a obrigação alimentar decorrente do casamento e da união estável fundamenta-se no dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo depois de rompido o relaciona-mento. Já o dever dos pais de prestar alimentos aos filhos é contemporâneo ao exercício do poder famili-ar, de sorte que a obrigação de sustento só persiste en-quanto presente a menoridade do alimentando. To-davia, mesmo após o fim do poder familiar pelo adim-plemento da capacidade civil é possível a imposição do encargo alimentar ao genitor, o qual passa a ser

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devido por força da relação de parentesco, tendo em vista o princípio da solidariedade familiar. 2) Nos três casos aplica-se o art. 1.694 do Código Civil de 2002, que estabelece que os parentes e companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição de vida, devendo o encargo alimentar ser fixado na pro-porção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (TJMG, Apelação cível 1062457-23.2009.8.13.0382, Lavras, 5.ª Câmara Cível, Rel. Des. Mauro Soares de Freitas, j. 02.12.2010, DJEMG 12.01.2011).

1.2.4 Princípio da igualdade entre filhos (art. 227, § 6.º, da CF/1988 e art. 1.596 do CC)

Determina o art. 227, § 6.º, da CF/1988 que “os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias re-lativas à filiação”. Complementando o texto constitu-cional, o art. 1.596 do CC/2002 tem exatamente a mesma redação, consagrando ambos os dispositivos o princípio da igualdade entre filhos.

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Esses comandos legais regulamentam especifica-mente na ordem familiar a isonomia constitucional, ou igualdade em sentido amplo, constante do art. 5.º,

caput, da CF/1988, um dos princípios do Direito Civil

Constitucional (“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a invi-olabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”).

Está superada, nessa ordem de ideias, a antiga discriminação de filhos que constava da codificação anterior, principalmente do art. 332 do CC/1916, cuja lamentável redação era a seguinte: “O parentesco é legítimo, ou ilegítimo, segundo procede, ou não de casamento; natural, ou civil, conforme resultar de consanguinidade, ou adoção”. Como é notório, este dispositivo já havia sido revogado pela Lei 8.560/ 1992, que regulamentou a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento.

Em suma, juridicamente, todos os filhos são iguais perante a lei, havidos ou não durante o casamento. Essa igualdade abrange também os filhos adotivos e aqueles havidos por inseminação artificial heteróloga (com material genético de terceiro). Diante disso, não se pode mais utilizar as odiosas expressões

filho adulterino ou filho incestuoso que são

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discriminatórias. Igualmente, não podem ser utiliza-das, em hipótese alguma, as expressões filho espúrio ou filho bastardo, comuns em passado não tão

re-moto. Apenas para fins didáticos utiliza-se o termo filho havido fora do casamento, eis que,

juridica-mente, todos são iguais. Isso repercute tanto no campo patrimonial quanto no pessoal, não sendo ad-mitida qualquer forma de distinção jurídica, sob as penas da lei. Trata-se, desse modo, na ótica familiar, da primeira e mais importante especialidade da iso-nomia constitucional.

1.2.5 Princípio da igualdade entre

cônjuges e companheiros (art. 226, § 5.º, da CF/1988 e art. 1.511 do CC) Assim como há a igualdade entre filhos, como outra forma de especialização da isonomia constitu-cional a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere à sociedade conjugal ou convivencial formada pelo casamento ou pela união estável (art. 226, § 3.º, e art. 5.º, I, da CF/1988).

Consigne-se que o art. 1.º do atual Código Civil utiliza a expressão pessoa, não mais o termo homem, como fazia o art. 2.º do CC/1916, deixando claro que

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não será admitida qualquer forma de distinção decor-rente do sexo, mesmo que terminológica. Especifica-mente, prevê o art. 1.511 do CC/2002 que o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Por óbvio, essa igualdade deve estar presente na união estável, também reconhecida como entidade familiar pelo art. 226, § 3.º, da CF/1988 e pelos arts. 1.723 a 1.727 do Código Civil.

Diante do reconhecimento dessa igualdade, como exemplo prático, o marido ou companheiro pode pleitear alimentos da mulher ou companheira, ou mesmo vice-versa. Além disso, um pode utilizar o nome do outro livremente, conforme convenção das partes (art. 1.565, § 1.º, do CC).

No que concerne aos alimentos, reconhecendo essa igualdade, há julgados anteriores do Tribunal de Justiça de São Paulo apontando que a mulher apta a trabalhar não terá direito a alimentos em relação ao ex-cônjuge. Em alguns casos, a jurisprudência paulista entende que haverá direito à pensão somente por tempo razoável para sua recolocação no mercado de trabalho:

“Alimentos. Prova de dedicação da mulher ao lar, em prejuízo da atividade profis-sional para a qual se formou. Direito à pensão por tempo razoável para sua

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recolocação no mercado de trabalho. Recurso parcialmente provido” (TJSP, Apelação Cível 196.277-4/SP, 4.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Aguilar Cortez, 23.08.2001, v.u.).

No entanto, o Superior Tribunal de Justiça vinha reformando essas decisões, que mereceriam análise caso a caso. Para ilustrar, transcreve-se o seguinte julgado:

“Família. Alimentos entre cônjuges. Prazo. Se, na constância do casamento, a mulher não dispõe dos meios próprios para prover o seu sustento e se o seu marido tem capacidade para tanto, não se pode fixar o dever alimentício pelo prazo de apen-as um ano, apenapen-as porque é jovem e capaz para o trabalho. Recurso conhecido e provido” (STJ, REsp 555.429/RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4.ª Turma, j. 08.06.2004, v.u., Boletim AASP 2.413/1.010, abril de 2005).

Atualizando a obra, mais recentemente, o mesmo STJ tem seguido o entendimento anterior do Tribunal Paulista, fixando por tempo razoável o que se conven-cionou denominar de alimentos transitórios. Vejamos o teor da publicação constante do Informativo n. 444, de agosto de 2010:

“Alimentos transitórios. A estipulação de alimentos transitórios (por tempo certo) é possível quando o alimentando ainda possua idade, condição e formação profis-sional compatíveis com sua provável inserção no mercado de trabalho. Assim, a ne-cessidade de alimentos perdura apenas até que se atinja a aguardada autonomia fin-anceira, pois, nesse momento, não mais necessitará da tutela do alimentante, então, liberado da obrigação (que se extinguirá automaticamente)” (STJ, REsp. 1.025.769/ MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24.08.2010).

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Essa mudança de postura na jurisprudência su-perior merece aplausos, pois melhor adaptada à eman-cipação plena da mulher, especialmente no plano profissional. Como se verá em capítulo próprio, tem-se entendido que os alimentos entre os cônjuges têm caráter excepcional e transitório.

Outra aplicação dessa igualdade pode repercutir no âmbito processual. Ora, não há mais razão para se aplicar o art. 100, I, do CPC, que prevê foro privilegi-ado a favor da mulher para as ações correlatas ao casamento. E o fundamento da rejeição deste autor é justamente a igualdade entre homem e mulher. Esse entendimento cresce entre os civilistas, principal-mente entre aqueles que são adeptos do Direito Civil Constitucional. Entre os processualistas, Alexandre Freitas Câmara igualmente não vê mais suporte de ap-licação do dispositivo, no seguinte sentido:

“Em sentido contrário à manutenção do dispositivo, porém, tem-se manifestado a melhor doutrina, no nosso sentido com razão, uma vez que não pode haver, em razão do sexo, privilégio criado por norma infraconstitucional. Além disso, há outro argumento contrário à vigência do dispositivo aqui analisado. É que essa norma per-deu sua razão de ser. A competência para alguns feitos era fixada pela residência (e não domicílio) da mulher casada porque esta, antes da vigente Constituição, não po-dia fixar seu próprio domicílio. Isto porque, como sabido, antes da atual ordem con-stitucional o domicílio conjugal era fixado pelo marido. Hoje, quando a adminis-tração do casal cabe a ambos os cônjuges, tendo desaparecido a figura do ‘cabeça-do-casal’, nada impede que a mulher fixe seu próprio domicílio. Sendo assim, deve-se aplicar aqui a regra geral, e, pois, nas ações de deve-separação, conversão desta em di-vórcio, e anulação de casamento, será competente o juízo do foro de domicílio do réu” (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições..., 2006, p. 101).

Referências

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