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A responsabilidade do mantenedor do site em caso de dano moral praticado em redes sociais.

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DIÊGO MARTINS DINIZ

A RESPONSABILIDADE DO MANTENEDOR DO SITE EM CASO DE DANO MO-RAL PRATICADO EM REDES SOCIAIS

SOUSA 2013

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DIÊGO MARTINS DINIZ

A RESPONSABILIDADE DO MANTENEDOR DO SITE EM CASO DE DANO MO-RAL PRATICADO EM REDES SOCIAIS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande, como exigência parcial da obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof. Esp. Admilson Leite de Al-meida Júnior.

SOUSA 2013

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DIÊGO MARTINS DINIZ

A RESPONSABILIDADE DO MANTENEDOR DO SITE EM CASO DE DANO MORAL PRATICADO EM REDES SOCIAIS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de Di-reito do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal de Campina Grande, como e-xigência parcial da obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof. Esp. Admilson Leite de Almeida Júnior.

BANCA EXAMINADORA: Data da Aprovação: 19 de setembro de 2013.

___________________________________________ Professor Esp. Admilson Leite de Almeida Júnior

Orientador

__________________________________________ Professor Me. Eduardo Jorge P. de Oliveira

Examinador

____________________________________________ Professora Esp. Cecília Paranhos

Examinadora

SOUSA 2013

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Ao Deus todo poderoso e ocupado, por atender as minhas súplicas de força para não desistir. À minha avó Raimunda, por ter guiado meus primeiros passos nos estudos com a garra de uma mãe.

Aos meus pais, por me dedicarem o sentimen-to da proteção nos momensentimen-tos de maior dificul-dade.

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AGRADECIMENTOS

Um grande muro não se constrói sozinho. Grandes sonhos não se realizam de forma unilate-ral. O sucesso é formado por um conjunto de fatores que convergem para a vitória.

Ao bom Deus todo poderoso e ocupado, agradeço por guiar e iluminar meus passos nessa longa caminhada.

Agradeço aos meus pais Iolando e Josiana, que são as bases mais fortes de minha vida.

Agradeço à minha avó Raimunda, pela garra em guiar meus primeiros passos escolares e por me ensinar o verdadeiro valor da palavra esforço.

Sou grato à minha Tia Joana Darc por ter protagonizado o papel de mãe em diversas fazes da minha vida.

Com muito carinho, agradeço também ao meu irmão Eloi, por ser parceiro e amigo em todos os momentos, sejam estes fáceis ou difíceis.

Agradeço também a minha namorada Amanda, pelo carinho e cumplicidade, por compreender as ausências e me apoiar nos momentos de dificuldade.

Rendo meus agradecimentos ao meu orientador Professor Admilson Leite, que disponibilizou e dedicou seu tempo para feitura deste trabalho com a capacidade que lhe é peculiar.

Por fim, agradeço a todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram no caminhar deste árduo percurso.

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“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é rea-lidade.”

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RESUMO

Em razão da ausência de legislação específica, a responsabilização do mantenedor de sites em caso de dano moral praticado em redes sociais tornou-se matéria de entendimento controverso na doutrina e na jurisprudência. Há uma ampla divergência quanto a teoria da responsabilida-de a ser aplicada. Se objetiva, o mantenedor será responsabilizado inresponsabilida-depenresponsabilida-dentemente da comprovação de culpa, sob o fundamento de que a publicação de conteúdo ofensivo nas mí-dias sociais constitui risco inerente à própria atividade do negócio. Se subjetiva, ao provedor de conteúdo só será atribuída a responsabilidade nos casos em que for omisso na exclusão imediata do conteúdo moralmente danoso, quando a retirada for pleiteada pela vítima ou por quem de direito, situação em que responderá de forma solidária com o autor do dano, como consequência da sua inércia. O objetivo geral buscado no trabalho é a compreensão dos novos paradigmas jurídicos da tutela civil da intimidade, na responsabilização dos causadores de danos dessa natureza em redes sociais. De forma específica objetiva analisar o instituto da responsabilidade civil na sociedade da informação, assim como a responsabilidade do site em caso de dano moral. O método empregado na pesquisa é o dedutivo, partindo de uma premissa maior para uma específica. Para isso, é adotada uma pesquisa indireta, com análise de leis, acórdãos, entendimentos jurisprudenciais, bem como doutrinária através de livros, revistas, artigos científicos, estatísticas e sites da Internet. Como resultado da pesquisa, se compreende pela responsabilização subjetiva do mantenedor dos sites em caso de dano moral praticado nas redes sociais, com a observância de que em sendo provada a sua negligência responderá de forma solidária com o causador do dano pela inércia.

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ABSTRACT

Due to the absence of specific legislation, the responsabilization of websites’ maintainer in events of damage practiced in social networks has become a controversial matter of under-standing for the doctrine and jurisprudence. There is a wide disagreement about what theory of responsibility has to be applied. If objective, the maintainer shall be liable independently of proof of guilt, on the grounds that the publication of offensive content in social media is risk inherent in this business activity. If subjective, the content provider will only be blamed in cases where he stay absent in the immediate exclusion of the content morally harmful, when the withdrawal is being claimed by the victim or those eligible, in which respond in solidarity with the author's damage as a result of its inertia. However, to discover the placement majori-ty applied in national courts as matter, it is first necessary a historical analysis of the devel-opment of communication’s technologies, especially the Internet and computer science, as well as its importance in expanding access to information. The general objective sought in the work is to understand the new paradigms civil legal guardianship of intimacy, accountability of causing such damage on social networks. Specifically aims to analyze the institution of civil liability in the information society, as well as the responsibility of the site in case of damage. The research method employed is an deductive, based on a major premise for a spe-cific. For this, we adopted a documentary research with analysis of laws, judgments, jurispru-dential understandings and doctrinal through books, magazines, papers, statistics and web-sites. As the research result, we conclude for the maintainer’s subjective liability in the event of damage practiced in social networks, with the observance of, if its proven negligence, re-spond in solidarity with the causer by inertia.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ARPA - Advanced Research Projects Agency CC – Código Cvil

CGI.br – Comitê Gestor de Internet no Brasil CGU – Controladoria Geral da União

CPC – Código de Processo Civil

DRDoS – Distribution Reflection Denial of Service DUDH – Declaração Universal dos Direitos do Homem ENIAC - Electronic Numerical Integrator And Calculator

e-SIC – Sistema Eletrônico do Serviço de Informação aos Cidadãos EUA – Estados Unidos da América

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo IP- Internet Protocol

LAI – Lei de Acesso a Informação NSA - National Security Agency

NSFnet - National Science Foundation Network ONGs – Organizações Não Governamentais ONU – Organizações das Nações Unidas

PAND – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios RPN – Rede Nacional de Pesquisa

STJ – Superior Tribunal de Justiça TCP - Transmission Control Protocol URLs – Uniform Resource Locators WWW – World Wibe Web

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 O DIREITO À INFORMAÇÃO E SEUS EFEITOS JURÍDICOS ... 12

2.1 O DIREITO À INFORMAÇÃO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL ... 12

2.2 A INFORMÁTICA E SUA APLICAÇÃO NA AMPLIAÇÃO DO ACESSO À INFORMAÇÃO ... 15

2.3 OS EFEITOS JURÍDICOS DA VIOLAÇÃO AO DIREITO À INFORMAÇÃO ... 19

3 A INTERNET E O DIREITO À INTIMIDADE ... 22

3.1 O SURGIMENTO DA INTERNET ... 22

3.2 A INTERNET NO BRASIL E SUA REGULAMENTAÇÃO ... 24

3.3 O DIREITO À INTIMIDADE E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 27

3.4 A VIOLAÇÃO DA INTIMIDADE ATRAVÉS DA INTERNET ... 29

4 AS REDES SOCIAIS E A INVASÃO DA PRIVACIDADE ... 33

4.1 AS REDES SOCIAIS E SUA IMPORTÂNCIA ... 33

4.2 A INVASÃO DA PRIVACIDADE PELAS REDES SOCIAIS ... 36

4.3 O CASO CAROLINA DIECHMANN E O ADVENTO DA LEI Nº 12.737/2012 ... 40

4.3 OS EFEITOS CIVIS NA INVASÃO DA PRIVACIDADE PELAS REDES SOCIAIS E A IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL ... 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 47

REFERÊNCIAS ... 49

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1 INTRODUÇÃO

Concomitantemente ao surgimento da sociedade nasceu a necessidade de o homem comunicar-se com seus pares. Desde os primórdios, a informação passou a figurar como a mais importante ferramenta no desenvolvimento da sociedade. Em razão dessa relevância, ao longo da história, a informação passou por diversas mudanças conceituais, sendo tratada co-mo direito fundamental apenas com a normatização dos direitos humanos, instituída pela Re-volução Francesa em 1789.

Após a Segunda Guerra Mundial, os avanços tecnológicos no trato da informação en-veredaram para o surgimento de mecanismos cada vez mais céleres e gigantescos, o que cul-minou na descoberta da maior criação humana de todos os tempos, a Internet.

Também denominada de rede mundial de computadores, a Internet, passou a interligar de forma instantânea terras de distâncias imensuráveis. Como resultado desse encurtamento de espaços, um novo gênero de interação social eclodiu no mundo, as chamadas redes sociais, conceituada aqui como um ambiente virtual de relações instantâneas livres de restrições. A-contece que, essa liberdade excessiva trouxe como consequência primeira, a afeição pela ex-posição da intimidade em detrimento do direito à privacidade.

A problemática surge quando essa invasão da privacidade alheia acarreta uma conse-quência danosas ao indivíduo, havendo, por conseguinte, a necessidade de uma intervenção jurídica para reparação do dano, o que no âmbito virtual se apresenta de forma peculiar, em face da dificuldade de identificação do agente causador do dano. Exemplo disso é o caso Ca-rolina Dieckamann, que deu origem a Lei n° 12.737/2012, responsável por tipificar os crimes cibernéticos no Brasil.

O ponto central da presente pesquisa objetiva analisar a responsabilidade do mantene-dor do site em caso de dano moral ocorrido nas redes sociais, que em vista da ausência legis-lativa no trato da matéria, ainda é assunto divergente na jurisprudência pátria.

Para realização deste estudo utilizar-se-á como metodologia de abordagem o método dedutivo, uma vez que partirá de uma premissa maior para uma premissa menor e específica. No que se refere ao método de procedimento aplicar-se-á o monográfico com um estudo deta-lhado do tema proposto. Quanto à técnica de pesquisa far-se-á uso de documentação indireta, pois terá como suporte: livros, artigos científicos, a Constituição Federal, Leis infraconstitu-cionais, pesquisas de dados estatísticos e sites de Internet.

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Para tanto, estruturar-se-á o corrente trabalho em três capítulos. Inicialmente, será feita uma análise do direito à informação, explicando-se a sua origem e classificação, bem como a aplicação da ciência informática na melhoria do acesso à informação e os efeitos jurídicos da sua violação.

No segundo capítulo será feito um estudo a cerca da Internet e da sua relação com o direito à intimidade. Com esse intuito, apresentar-se-á um histórico sobre a gênese militar da Internet, a sua chegada e regulamentação no Brasil para, só depois, analisar os efeitos jurídi-cos da violação do direito à intimidade e a dignidade da pessoa humana.

Por fim, no terceiro capítulo o enfoque será destinado ao novo modelo de interação da humanidade, as redes sociais, mostrando a sua importância, o número de usuários atualmente no mundo e no Brasil, bem como os efeitos jurídicos e sociais ocasionados pela sua mitigação no conceito de privacidade e intimidade. O ponto primordial deste capítulo será a análise da nova lei que tipificou os delitos informáticos, a Lei Carolina Diechamann, no âmbito penal, bem como o estudo a cerca da responsabilidade do mantenedor de site em caso de dano moral ocasionado em redes sociais, com a análise da jurisprudência pátria e da doutrina especializa-da no assunto, tendo em vista a ausência de regulamentação específica na seara civil.

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2 O DIREITO À INFORMAÇÃO E SEUS EFEITOS JURÍDICOS

O progresso da sociedade está totalmente interligado com a expansão da comunicação. A informação e sua transmissão por entre os povos são fatores imprescindíveis ao homem.

Carvalho (1999, p. 01) relata que “não há sociedade sem comunicação. O pensar e o transmitir o pensamento são tão vitais para o homem como a liberdade física”. Deduz-se, por-tanto, que o dever de informar e o direito de ser informado andam juntos ao crescimento de uma sociedade democrática.

A globalização encurtando os espaços e o acelerado avanço da tecnologia criou um mundo virtual, onde a rapidez na difusão das informações fez com que a sociedade passasse a existir em um novo modelo de interação. Novas técnicas comerciais e econômicas, de marke-ting, de relacionamento entre as pessoas, de conflitos e de danos, bem como de novos delitos, até então desconhecidos, vêm surgir nesse novo mundo. É o contemporâneo mundo da Inter-net.

Surge uma nova era para a humanidade, a “Era da Informação” ou também chamada de “Era Digital”, com novos conceitos e novos padrões, bem como novos conflitos geradores de danos, acarretando em uma urgente obrigação de se analisar a interação entre as novas tec-nologias da informação e a sociedade, e seus efeitos jurídicos.

2.1 O DIREITO À INFORMAÇÃO ENQUANTO DIREITO FUNDAMENTAL

O direito à informação faz parte de uma tríade de direitos englobados pela Liberdade de Informação, princípio amplamente assegurado na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

A trilogia consiste no direito de informar, referente a faculdade de comunicar informa-ções a outrem; o direito de se informar, que consiste na possibilidade de obter informainforma-ções sem impedimentos, e o direito de ser informado ou direito à informação, relacionado a liber-dade de receber informações condizentes com a realiliber-dade, íntegras e sem restrições.

Considerado de importância incomparável, por ser o que mais se aproxima do “núcleo axiológico da dignidade da pessoa humana” (ALEXANDRINO, 1998, p. 123). Conforme Lopes apud Rodrigues Júnior (2009, p. 62), o direito à informação é:

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O direito de toda a sociedade em ser bem informada, de forma ampla e diversa, de modo a propiciar a formação e consciência política, social, cultural dos indivíduos livre e isonomicamente, garantindo a todos o acesso aos meios de comunicação de massa para que possam receber e transmitir pensamentos e opiniões, com vistas a assegurar também o pluralismo político e social definidores de uma sociedade de-mocrática.

Porém, longo foi o caminho na história até que o direito à informação viesse a fazer parte do rol de direitos fundamentais nos Estados democráticos, tendo seus primórdios já no século XVIII.

Considerada a prova definitiva da maturidade revolucionária, a Revolução Francesa veio eclodir por volta de 1789 com a queda do absolutismo, a tomada do poder pela burguesia e a evolução do capitalismo. Enfatiza Vicentino (2000, p. 263) que a “burguesia da Revolu-ção Francesa sentia-se como a locomotiva impulsionando toda a naRevolu-ção, e via a RevoluRevolu-ção como algo para todo o povo e não apenas para o burguês”.

Foi a Revolução Francesa que proclamou, através da Declaração dos Direitos do Ho-mem e do Cidadão de 1789, o início de uma normatização dos direito humanos. Esta Declara-ção “também reconheceu como fundamental a necessidade de instituir garantias penais e pro-cessuais, a liberdade de opinião, inclusive a religiosa, a liberdade de imprensa e o direito de propriedade” consoante salienta Rodrigues Júnior (2009, p. 31), além de outros direitos indi-viduais.

Ainda que de forma discreta, a Declaração proveniente da revolução, em seu artigo quinze, já trazia os indícios de um princípio da transparência e do direito à informação quando elencava que “La société a le droit de demander compte à tout agent public de son

adminis-tration”, ou seja, que a sociedade tem o direito de requerer ao agente público a prestação de

contas de sua administração.

Entretanto, mesmo sendo indiscutível a relevância da referida Declaração, só após a crueldade vivida na Segunda Guerra Mundial, é que um despertar em todas as nações surgiu como condição à existência da própria humanidade, eclodindo a partir de então, um consenso entre os Estados quanto à necessidade de salvaguardar os direitos humanos.

Na realidade, o que motivou esse consenso das nações foi a:

Vontade de impedir a repetição das atrocidades cometidas durante a Segunda Gran-de Guerra, iGran-deia que acabou culminando com a proclamação da Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem (DUDH) pela Organização das Nações Unidas, em 10.12.1948 (RODRIGUES JÚNIOR, 2009, p. 36).

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Citado em Silva (2008, p. 163), constitui o Preâmbulo da referida Declaração, procla-mada pela Assembleia da ONU, o:

Ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da Sociedade, tendo esta Declaração constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensinamento e pela educação, a desenvolver o respeito desses direitos e liberdades [...].

Vale salientar que essa Declaração exerceu enorme influência sobre as constituições elaboradas após a sua proclamação. No Brasil, já na Constituição Imperial de 1824, uma de-claração dos direitos do homem brasileiro e do estrangeiro residente no país já aparecia, ainda que de forma tímida. Entretanto, só na Carta de 1988 aparece de forma mais técnica e apro-fundada, com a observância do princípio da prevalência dos direitos humanos já em seu art.4° e com o Título II que tratava – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Cap. I); Os Direitos Sociais (Cap. II); os Direitos da Nacionalidade (Cap. III), e os Direitos Políticos (Cap. IV).

Já em seu artigo primeiro, a Constituição Brasileira de 1988 declara como fundamento do Estado Democrático de Direito a dignidade da pessoa humana, expressão que segundo Silva (2008, p. 178):

[...] além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no ní-vel do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em ga-rantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas.

Entre os referidos direitos elencados na Carta Magna de 1988, estão os direitos à li-berdade de expressão, de opinião e de informação, situados no artigo 5° em seus incisos IX, XIV, XXXIII, XXXIV “b”, e no art. 220.

Aqui se torna válido fazer uma distinção entre liberdade de informação e o direito à in-formação. Aquela compreenderia o direito de informação, individual por excelência, a pró-pria liberdade jornalística, com o acesso e a difusão sem censura, através de livros, jornais, revistas, rádio e televisão. O próprio direito de poder se expressar assegurado pelo artigo 5°, inciso IV, que garante a livre manifestação do pensamento. Já este, consagrado como direito à informação e inserido no rol de direitos fundamentais da coletividade, atende a toda uma plu-ralidade de pessoas, na convicção que “não é um direito pessoal, nem simplesmente um direi-to profissional, mas um direidirei-to coletivo” (NOBRE apud SILVA, 2008, p. 259-260).

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O Direito à informação, discutido neste capítulo, prioriza em regra o interesse da cole-tividade em detrimento do segredo da Administração, e que de forma mais específica, é de-monstrado no artigo 5°, inciso XXXIII, da Constituição Federal de 1988 ao estatuir que:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse parti-cular, ou de interesse coletivo em geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pe-na de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segu-rança da sociedade e do Estado.

A doutrina costuma classificar os direitos fundamentais em gerações de direito. No momento atual, a expressão “dimensões” vem sendo mais utilizada, já que o “surgimento de novas gerações não ocasiona a extinção das anteriores” (NOVELINO, 2009, p. 362) havendo, pois, uma coexistência de direitos.

Divergências doutrinárias a parte, o direito à informação constitui um dos novos direi-tos do cidadão, classificado como de quarta dimensão, sendo estes os pressuposdirei-tos basilares da democracia. Novelino (2009, p. 362) entende que os “direitos de quarta geração compre-endem os direitos à democracia, informação e pluralismo” que foram “introduzidos no âmbito jurídico pela globalização política”.

A definição de direito à informação se distribui em dois objetivos primordiais. O pri-meiro seria a fiscalização de todas às atividades da Administração como meio de coibir possí-veis irregularidades dos gestores. O segundo e não menos importante, seria a própria partici-pação do administrado no trato com a coisa pública. Portanto, com a informação clara e ver-dadeira, a sociedade poderá participar e fiscalizar a organização do Estado e sua Administra-ção, para só assim fazer jus ao princípio da publicidade e transparência, o que consequente-mente gerará uma maior credibilidade dos atos administrativos em prol da coletividade.

2.2 A INFORMÁTICA E SUA APLICAÇÃO NA AMPLIAÇÃO DO ACESSO À INFOR-MAÇÃO

A informática é uma ciência de conceitos próprios e distintos que objetiva estudar, vi-abilizar, garantir e suportar o tratamento da informação, utilizando como ferramenta os recur-sos de sistema de computação.

Para Alcade apud Marçula (2005, p.46), a informática pode ser considerada como o “estudo de tudo o que se relaciona com à tecnologia da informação. É uma reunião de trechos de duas outras palavras e foi criada pelos franceses”.

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Em outra perspectiva pode-se dizer que a Informática é a “ciência que visa o tratamen-to da informação através do uso de equipamentratamen-tos da área de processamentratamen-to de dados”. (FER-REIRA, 2000, p.388)

O termo informática é de utilização muito genérica e engloba vários componentes para o tratamento da informação.

Ao elencar vários conceitos Ferreira apud Albertin (2009, p. 5-6) afirma que a infor-mática é “a ciência do tratamento racional e automático da informação, considerada esta como suporte dos conhecimentos e comunicações”. A informação seria o “conhecimento amplo e bem fundamentado, resultante da análise e combinação de vários informes”. O conhecimento como sendo a “informação, notícia e ciência”. E a comunicação seria o próprio “ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convenciona-dos”.

Porém, para entender como se chegou aos citados conceitos, faz-se necessário apre-sentar um breve histórico sobre a evolução dessa tecnologia que uniu as palavras informação e automática, até chegar a um conceito comum.

Os primórdios os quais se baseiam os atuais computadores remontam a tempos muito remotos. A necessidade de um instrumento para auxiliar nos cálculos, inicialmente ligados a agricultura, fez surgir há cerca de dois mil anos antes de Cristo um instrumento utilizado até hoje, conhecido por Ábaco e considerado como a gênese do computador atual.

Dando um salto na história, já em tempos modernos, no século XX, iniciada a Segun-da Grande Guerra Mundial, a corriSegun-da pelo desenvolvimento de novas tecnologias avançou de forma considerável. Com o objetivo de se codificar mensagens e prevenir ataques, muitos computadores foram desenvolvidos, o que na época ainda eram chamados de calculadoras.

Os Estados Unidos da América desenvolveram o projeto ENIAC (Electronic

Numeri-cal Integrator And Calculator), considerado como uma verdadeira evolução para o mundo. A

nova tecnologia tinha cerca de trinta toneladas e ocupava uma extensa área, porém com pou-cas utilidades prátipou-cas ainda. Seria este o precursor do computador eletrônico.

E passando pela corrida espacial até os dias contemporâneos, as novas tecnologias fo-ram se desenvolvendo, criando os mais modernos sistemas operacionais, com computadores rápidos, eficientes e imprescindíveis à atualidade. Coincide ainda com o avanço dos computa-dores o surgimento da Internet, ferramenta de comunicação que veio proporcionar a maior interligação de conhecimentos e informações entre toda a população mundial.

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A história demonstra que o avanço tecnológico tem sido muito grande e que sua velo-cidade aumenta na mesma intensidade. Como argumentado por Albertin (2009, p. 8) “as ino-vações nas tecnologias de informação das últimas duas décadas têm reduzido radicalmente o tempo e o custo do processamento e comunicação de informações”.

Hoje, em um mundo globalizado pelas tecnologias, pode-se afirmar que a informática está presente em todos os seguimentos da sociedade. Seja no trabalho, nos estudos, nos rela-cionamentos afetivos, na indústria, no comércio ou na Administração Pública, a informática tem ampliado as possibilidades e o acesso à informação.

No que diz respeito a ampliação do acesso à informação na Administração Pública, no Brasil, em 2011, foi sancionada a Lei Geral de Acesso à Informação com o número 12.257. Sua entrada em vigor se deu em dezesseis de maio de 2012, vindo regulamentar um direito fundamental garantido na Constituição Federal de 1988, e trazendo já em seu art. 3°, incisos I e II, a “observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção”, assim co-mo a “utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação”.

A Lei de Acesso à Informação (LAI) é considerada como um avanço nos conceitos de transparência e de prevenção da corrupção, além de um potente instrumento na prestação de informações ao cidadão.

Ao regulamentar o inciso XXXIII do art. 5°, inciso II, §3° do art. 37 e §2° do art. 216 da Constituição Federal, a LAI possibilitou a realização da transparência por duas vertentes distintas. A primeira é a transparência espontânea, na qual o estado deve disponibilizar infor-mações de interesse público, independentemente de requerimentos. E a segunda é a transpa-rência passiva entendida como a que resulta das solicitações feitas pelos cidadãos.

Em parecer emitido pela Controladoria-Geral da União no 1° Balanço (2011/2012) da Lei de Acesso à Informação, o Ministro Chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage Sobrinho, relatou a importância para a democracia, da ligação entre a tecnologia e o acesso à informação, destacando que:

A busca da transparência na vida pública e do amplo acesso dos cidadãos à informa-ção produzida ou gerida pelo Poder Público é uma das principais marcas das verda-deiras democracias modernas e, graças ao que se tornou possível com o desenvolvi-mento tecnológico atual, veio a proporcionar a realização, no século 21, de uma forma de democracia contemporânea que nos aproxima, de certo modo e até certo ponto, daquele ideal clássico da democracia direta.

Os avanços são nítidos e de fácil observação. Segundo o Relatório de Pedidos de A-cesso à Informação emitido pelo Sistema Eletrônico do Serviço de Informação aos Cidadãos

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(e-SIC), a quantidade de pedidos de acesso à informação apresentou uma considerável evolu-ção (vide gráfico I em anexo), com uma média mensal de 6.856,25 pedidos por mês, como se pode ver na tabela abaixo:

Tabela 1. Evolução mensal do número de pedidos de acesso à informação

Mês Número de Pedidos Evolução Mensal

Maio/2012 6658 - Junho/2012 7264 8.34% Julho/2012 7723 5.94% Agosto/2012 7886 2.07% Setembro/2012 6920 -12.25% Outubro/2012 7405 6.55% Novembro/2012 6587 -11.05% Dezembro/2012 4771 -27.57% Janeiro/2013 8003 40.38% Fevereiro/2013 6746 -15.71% Marco/2013 7293 7.5% Abril/2013 8059 9.5% Maio/2013 7609 -5.58% Junho/2013 6613 -13.09% Julho/2013 7902 16.31% Agosto/2013 2261 -71.39% TOTAL: 109700 MÉDIA: 6856,25

Fonte: http://www.acessoainformacao.gov.br (e-SIC), ano de 2013 – Gráfico I do anexo A.

A referida lei veio então consolidar o princípio da transparência, inerente a toda Ad-ministração Pública, bem como estabelecer regras e procedimentos específicos para possibili-tar o exercício do direito constitucional de obtenção a informações públicas pela sociedade.

Na tabela abaixo, em uma linha de tempo, percebem-se os avanços nas medidas volta-das à transparência pública no Brasil, a partir dos anos 2000.

Tabela 02. Avanços nas medidas voltadas à transparência pública no Brasil

Ano Avanço na Transparência

2000 Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)

2003 Criação da Controladoria Geral da União (CGU)

2004 Criação do Portal da Transparência

2005 Regulamentação do Pregão Eletrônico

2007 Criação do Sistema de Convênios e Contratos de Repasse (Siconv) 2008 Criação do Cadastro de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS)

2009 Lei Complementar N° 131

2010 Sites relacionados a Copa e Jogos Olímpicos

2011 1° Plano de Ação Nacional sobre Governo Aberto (OGP)

2012 Lei Geral de Acesso à Informação

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Portanto, mesmo que de forma tímida, o Brasil vem avançando com compromissos concretos nas áreas de promoção da transparência, participação social e de incentivo ao de-senvolvimento de novas tecnologias, utilizando-se de meios proporcionados pela informática na ampliação do acesso à informação, assim como em outras nações pelo mundo, que buscam incessantemente instrumentos aplicáveis em matérias de direitos humanos e de governo aber-to.

2.3 OS EFEITOS JURÍDICOS DA VIOLAÇÃO AO DIREITO À INFORMAÇÃO

A acelerada difusão da Internet é considerada como um dos primordiais fatores moti-vadores dos incidentes de segurança da informação. Devido à rapidez com que se propagam as informações e a livre manifestação dos usuários, informações abusivas podem vir a lesio-nar direitos essenciais à própria dignidade da pessoa humana.

Além da globalização da informação, a internet propiciou o crescimento do mundo dos negócios online que, envolve, atualmente, transações financeiras inestimáveis. E, “onde há riqueza há crime.” Considera-se a Internet como sendo um “paraíso de informações, e pelo fato de estas serem riqueza, inevitavelmente atraem o crime” (CORRÊA, 2008, p. 44) Portan-to, simultaneamente ao desenvolvimento tecnológico e econômico, a vulnerabilidade dos sis-temas informáticos tem propiciado a prática de diversas condutas ilícitas.

A criminalidade, a informática e o fenômeno da informatização global são possuidores de características semelhantes que, nas palavras de Couri (2009, p. 5) são:

A transnacionalidade, a universalidade e a ubiquidade. Isso porque, todos os países fazem uso da informática independentemente do seu estágio econômico, social ou cultural, bem como todas as pessoas de qualquer plano econômico, social ou cultural têm acesso aos produtos informatizados; sendo certo que a informatização está pre-sente em todos os setores públicos e privados no planeta.

E é assim, que a informática tem despontado como sendo uma nova fonte de crimina-lidade, seja com a prática de delitos já tipificados nas legislações como o furto, a pedofilia ou estelionato, seja com o surgimento de novos crimes como o de invasão de sistemas da infor-mação, todos cometidos com subsídio do computador.

Entretanto, não é de hoje que os discutidos crimes cibernéticos são analisados sob um aspecto criminológico. Para Ferreira apud Lucca; Simão Filho (2005, p. 239):

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Ulrich Sieber, professor da Universidade Wurzburg e grande especialista no assunto, afirma que o surgimento dessa espécie de criminalidade remonta à década de 1960, época em que aparecem na imprensa e na literatura científica os primeiros casos do uso do computador para a prática de delitos, constituídos, sobretudo por manipula-ções, sabotagens, espionagem e uso abusivo de computadores e sistemas, denuncia-dos, sobretudo em matérias jornalísticas. Somente na década seguinte é que iriam i-niciar-se os estudos sistemáticos e científicos sobre essa matéria, com emprego de métodos criminológicos, analisando-se um limitado número de delitos informáticos que haviam sido denunciados, entre os quais alguns casos de grande repercussão na Europa por envolverem empresas de renome mundial, sabendo-se porém da existên-cia de uma grande cifra negra não considerada nas estatísticas.

A violação dos direitos à informação na atualidade tem como consequência o advento de uma nova figura de delito, os chamados crimes digitais, que são a “utilização de computa-dores para ajuda em atividades ilegais, subvertendo a segurança de sistemas, ou usando a in-ternet ou redes bancárias de maneira ilícita” (BARRET apud CORRÊA, 2008, p. 44).

A terminologia varia muito de acordo com o autor. Para Ferreira (1992, p. 141) o cri-me digital ou cricri-me de informática seria “toda ação típica, antijurídica e culpável contra ou pela utilização de processamento automático e/ou eletrônico de dados ou sua transmissão”.

Sem adentrar as divergências doutrinárias quanto a nomenclatura do termo, em uma visão mais ampla, Rosa (2006, p. 55), define o crime de informática como sendo uma conduta que atenta:

Contra o estado natural dos dados e recursos oferecidos por um sistema de proces-samento de dados, na sua forma, compreendida pelos elementos que compõem um sistema de tratamento, transmissão ou armazenagem de dados, ou seja, ainda, na forma mais rudimentar.

Nos tribunais brasileiros e na doutrina penal a concepção de crimes informáticos tem definição “similar a que foi cunhada pela Organização para Cooperação Econômica e Desen-volvimento da ONU que é qualquer conduta ilegal não ética, ou não autorizada, que envolva processamento automático de dados e/ou transmissão de dados” (DAOUN; LIMA, 2009, p. 25).

São muitos os personagens envolvidos nos crimes digitais. Em tese, qualquer pessoa que tenha acesso a um computador poderá ser sujeito ativo ou passivo de um crime virtual. A praxe midiática costuma englobar todos os delinquentes da informática no termo hacker. En-tretanto, a doutrina faz distinções, demonstrando inclusive que há uma hierarquia entre os sujeitos. Nogueira (2008, p. 61) diz que hacker é sujeito que:

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Em geral domina a informática e é muito inteligente, adora invadir sites, mas na maioria das vezes não com a finalidade de cometer crimes, costumam se desafiar en-tre si, para ver quem consegue invadir tal sistema ou página na Internet, isto apenas para mostrar como estamos vulneráveis no mundo virtual.

Tem-se como primeiro caso relatado sobre a atuação de um hacker na Universidade de Oxford em 1978, onde um estudante fez cópia de uma atividade/prova por intermédio de uma invasão do sistema.

A distinção do termo ocorre quando o indivíduo comete ações ilegais, passando a se chamar de cracker. Esse termo foi “criado em 1985 por hackers em defesa do uso jornalístico depreciativo do termo hacker” (CORRÊA, 2008, p. 60). O craker usa seus vastos conheci-mentos de informática para “roubar senhas, docuconheci-mentos, causar danos ou mesmo realizar es-pionagem industrial” (ASSUNÇÃO, 2008, p. 13).

Alguns outros termos são considerados como subdivisões dos crackers, e que se dis-tinguem conforme a área quem atuam, tais como os lamer, defacer, phreaker e os spammers. O Lamer está na ultima posição hierárquica dos crackers, sendo considerando como o indivíduo que não tem conhecimentos específicos na informática. O defacer ou também cha-mado de “pichador virtual”, é aquele coloca figuras e/ou marcações indevidas nos sites.

Phre-aker é a definição dada aos indivíduos que cometem crimes através das linhas telefônicas

co-mo a escuta via frequência, a clonagem de celulares, etc. Já os spammers são aqueles indiví-duos que enviam os chamados spams, propagandas eletrônicas indesejadas geralmente envia-das através de e-mails.

Ademais, independentemente da nomenclatura utilizada para o sujeito, ou para a cate-goria de crime, a facilidade na violação de informações pelas novas tecnologias tem causado imensos transtornos a população do mundo inteiro, com reflexos jurídicos em todas as esferas da sociedade, o que faz surgir a urgente necessidade de se impor limites, através de uma nor-matização mais eficaz e uma constituição de sistemas de prevenção aos delitos da “Era da Informação”.

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3 A INTERNET E O DIREITO À INTIMIDADE

Os avanços tecnológicos têm trazido consigo uma invasão na vida privada das pesso-as, acarretando em uma atual preocupação com o direito à intimidade do indivíduo.

O surgimento da Internet veio proporcionar uma maior velocidade nas relações soci-ais, com uma interação global entre as pessoas sem precedentes históricos. Essa rapidez, po-rém, veio acarretar também em uma colisão de direitos fundamentais, já que as relações hu-manas, com suas benesses e problemáticas foram transportadas para o mundo virtual.

Faz-se necessário apresentar um pequeno aparato histórico da criação e evolução da Internet, bem como da sua chegada ao Brasil, para só depois analisar as consequências jurídi-cas e sociais ojurídi-casionadas por esta veloz ferramenta tecnológica no mundo atual.

3.1 O SURGIMENTO DA INTERNET

Após a Segunda Guerra Mundial, a oposição entre capitalismo e socialismo, protago-nizada pelos Estados Unidos da América e pela então União Soviética, foi elevada a patama-res extremos com uma disputa tecnológica, política, ideológica e armamentista, que perdurou até o ano de 1991. Foi a chamada Guerra Fria.

No final da década 1960, na tentativa de se alcançar o auge do crescimento econômico e tecnológico, os soviéticos tornaram-se precursores na corrida espacial ao “lançar [...] o pri-meiro satélite artificial do mundo, o Sputnik, e ao concretizar o pripri-meiro voo espacial tripula-do, com o astronauta Iúri Gagarin, em 1961” (VICENTINO, 2000, p. 408)

E é nesse contexto, na tentativa de se equiparar os avanços tecnológicos, que os USA lançaram um projeto de pesquisa militar denominado de ARPA (Advanced Research Projects

Agency), mais tarde chamado de ARPAnet, com a finalidade inicial de interligar centros de

pesquisas, laboratórios, bases militares e o Pentágono para permuta de informações rápidas, bem como preservar dados importantes, caso viesse a eclodir uma guerra nuclear.

Com a extensão desse projeto às Universidades, surge então os primórdios do que se conhece hoje de Internet. Nas palavras de Corrêa (2008, p. 7) a Internet:

Teve sua origem nos Estados Unidos, onde uma rede de computadores de uso exclu-sivamente militar foi desenvolvida nos anos 60 como importante arma na guerra fri-a. Seus princípios de funcionamento eram, e ainda são, a procura de vários caminhos para alcançar determinado ponto, ou seja, na hipótese de um dos troncos (caminho pelo qual trafega o sinal eletrônico) estar obstruído, procuraria ela, automaticamente, um outro caminho que o substituísse.

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O problema agora era fazer com que essa ferramenta pudesse alcançar outras distân-cias. E isso só seria possível através de uma conexão com outras redes de computadores. Po-rém, para que todos os computadores, em uma única “linguagem”, pudessem se comunicar haveria a necessidade de criar protocolos padronizados de comunicação.

Foi na década de 1970 que surgiu uma linguagem de protocolo específico, chamada de TCP (Transmission Control Protocol). Pouco tempo depois foi acrescentada de outro protoco-lo chamado de IP (Internet Protocol), e que segundo Bruno (2006, p. 12) gerou o protocoprotoco-lo TCP/IP, padrão segundo o qual a Internet continua a operar nos dias atuais.

Iniciando a década de 1990, a ARPAnet que antes basicamente se concentrava no am-biente militar se torna ultrapassada, sendo substituída pela National Science Foundation

Net-work (NSFnet), que logo tratou de criar sistemas regionais interligados, abrindo espaço à

pri-vatização da Internet e ao domínio público.

Porém, a popularização da Internet só veio acontecer com a formação de um sistema de interface gráfica que possibilitou o uso de imagens e sons, evoluindo consideravelmente a ideia de transmissão pura de textos. Esse sistema ficou conhecido como o WWW (World

Wi-de Web), uma espécie Wi-de protocolo universal que veio possibilitar o acesso fácil Wi-de qualquer

pessoa, utilizando apenas um simples computador.

De forma sucinta, Corrêa (2008, p. 11) conceituou a WWW como sendo um composto de padrões e tecnologias que:

Possibilitam a utilização da Internet por meio dos programas navegadores, que por sua vez tiram todas as vantagens desse conjunto de padrões e tecnologias do hiper-texto e suas relações com a multimídia, como som e imagem, proporcionando ao u-suário maior facilidade na sua utilização, e também a obtenção de melhores resulta-dos.

Para utilizar esse sistema, um programa de computador criado por Marc Andressen da Universidade de Illionois nos EUA foi o responsável pela grande expansão em massa da In-ternet, que em pouco tempo já tinha milhares de usuários realizando as mais variadas tarefas, como a troca de imagens e de arquivos multimídia. O navegador ficou conhecido como

Mo-saic, precursor do que chamamos hoje de Internet Explorer.

A Internet passa a protagonizar a história da maior criação de todos os tempos. Um sistema público que veio proporcionar uma troca de informações de abrangência incalculável, através de uma rede de computadores interligada mundialmente, onde uma pessoa em qual-quer lugar do planeta, conectada a um simples computador, pode ter acesso a informações há pouco inimagináveis nos mais profundos sonhos.

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Assim, a Internet é um “sistema global de rede de computadores que possibilita a co-municação e a transferência de arquivos de uma máquina a qualquer outra máquina conectada na rede, possibilitando, assim, um intercâmbio de informações sem precedentes na história, de maneira rápida, eficiente e sem a limitação de fronteiras, culminando na criação de novos mecanismos de relacionamento. (CORRÊA, 2008, p. 8)

Para Schachter; Kurtzberg apud Nascimento (2009, p. 25) ao falar da estrutura, definiu a Internet como sendo “uma rede mundial de computadores composta por redes menores, ou seja, como uma rede de redes”.

Ao tratar da estrutura da Internet, Nascimento (2009, p. 27) distinguiu a Internet da mídia televisiva, jornalística ou radiofônica, por não haver um exclusivo órgão controlador que a administre de forma centralizada, pois “não há um único centro de armazenamento de arquivos e o sistema de transmissão se mantém ativo sem necessidade de controle ou envol-vimento humano direto”.

Outra característica fundamental da Internet é a sua capacidade de troca de informa-ções. Isso a distingue também das mídias televisivas e jornalísticas, já que estas possuem ape-nas meros receptores de informações que ficam de forma passiva absorvendo as notícias transmitidas.

A Internet na atual era da informação é parte integrante e indispensável ao desenvol-vimento tecnológico do mundo. É um ambiente virtual que, pelo incalculável número de usuá-rios, além da troca de informações e a interação entre o homem e a máquina, se tornou uma ferramenta de enorme exploração econômica por pequenas e grandes empresas, que utilizam os meios de publicidade eletrônica para fortalecer o seu mercado. Em síntese, a Internet é a maior ferramenta de divulgação do pensamento e, por conseguinte, a maior fonte de informa-ções de todos os tempos.

3.2 A INTERNET NO BRASIL E SUA REGULAMENTAÇÃO

Com a expansão do novo modelo prático de protocolo, o WWW (World Wide Web), mais conhecido como Web, a internet deu um enorme salto de popularidade em todo o mundo. Esta expansão, aliada aos interesses comerciais que surgiam, fez com que a ferramenta em desenvolvimento despertasse os olhares visionários do capitalismo.

O ano de 1988 pode ser considerado como o marco inicial da Internet no Brasil como bem explica Bruno (2006, p. 14), quando bolsistas que retornavam de cursos de doutorado

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nos Estados Unidos criticaram a ausência de um intercâmbio de conhecimentos com outras instituições científicas. Coube então a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Pau-lo (Fapesp), ligada à Secretaria Estadual de Ciência e TecnoPau-logia, a iniciativa a fim de se con-seguir uma conexão do Brasil com a rede mundial em expansão.

Em 1991, a internet já era acessível aos brasileiros, porém sem muita expansão. Foi com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhe-cida como ECO-92, que os ativistas do terceiro setor, as ONGs, com intuito de possibilitar um maior acesso das informações da Conferência pela sociedade, requereram o uso da nova fer-ramenta de comunicação aos cientistas brasileiros. Esse é o despertar de interesse de alguns empresários que viam com olhares futuristas o uso da Internet em auxílio a economia.

Porém, só em 1994 é que a Internet no Brasil iniciou a sua abertura comercial. A então RPN (Rede Nacional de Pesquisa), que fora criada em 1989 pelo Ministério de Ciência e Tec-nologia com o objetivo de dar início a construção de uma rede de internet nacional para as universidades, passou a estender seu foco para toda a sociedade. A Embratel recebeu do Go-verno Federal o encargo de criar toda a estrutura responsável pela exploração comercial, utili-zando-se para isso do apoio da Rede Nacional de Pesquisa (RPN), experiente no desenvolvi-mento da internet acadêmica.

De acordo com o coordenador do Grupo de Engenharia de Operações dos Serviços de Internet da Embratel Maceira apud Carvalho (2006, p. 137):

Em 1994, a Embratel começou a analisar a questão do uso comercial da Internet nos Estados Unidos e decidiu ver como poderia participar disso também, aqui no Brasil. Fui designado para integrar um grupo de três pessoas, formado por mim, pelo Hélio Daldegan e pelo Aloysio Xavier, criado com a missão de analisar a oportunidade de negócio nisso tudo. [...] No final de 1994, a diretoria da Embratel recebeu a proposta de iniciar a prestação de serviços Internet e começamos a testar isso através de usuá-rios convidados por nós. [...] Terminado esse trabalho, começamos a montar a rede e a desenvolver o serviço. Foi justamente quando o grupo se solidificou, cresceu, tor-nando-se uma estrutura de gerência em serviços Internet.

Entretanto, o poder conferido a Embratel gerou enorme descontentamento na socieda-de em geral. Era o temor do monopólio socieda-de um setor novo ainda a se socieda-desenvolver. A reação governamental foi imediata, afirmando que para se efetivar a presença da sociedade nas deci-sões, tanto na implantação como no uso da Internet, haveria a necessidade de criar um Comitê Gestor de Internet.

O Governo, reconhecendo a importância desse serviço, através da Portaria Interminis-terial Número 147, de 31 de maio de 1995 (em Anexo), criou o Comitê Gestor de Internet no

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Brasil (CGI.br), com “a participação de entidades operadoras e gestoras de espinhas dorsais, de representantes de provedores de acesso ou de informações, de representantes dos usuários e da comunidade acadêmica” (CORRÊA, 2008, p. 17)

O Brasil adotou o modelo pluralista e multiparticipativo de governança da Internet, onde as propostas e decisões são sempre baseadas no consenso de seus representantes.

De acordo com informações colhidas no site do CGI (http://www.cgi.br), entre 1995 e 2003, o Governo indicava seus representantes e aprovava as indicações dos demais setores. A partir de 2003, o CGI.br foi então redimensionado e os membros da Sociedade Civil passaram a ser eleitos pelos respectivos colégios eleitorais. Atualmente, os onze membros da Sociedade Civil são eleitos a cada três anos. O governo brasileiro continua indicando nove representan-tes e, mais um é indicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, como especia-lista em assuntos da Internet.

Segundo Corrêa (2008, p. 17-18) o Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) é:

O maior exemplo da tendência mundial a tornar a Grande Rede algo desvinculado do Poder Público, incentivando a participação da sociedade civil na formulação de diretrizes básicas para o desenvolvimento organizado.

A Internet, hoje, faz parte da vida de quase todos os brasileiros. Veio possibilitar, den-tre outras coisas, uma descentralização da informação, cultura e educação, bem como a explo-ração de novas oportunidades, ofertas de emprego e prestação de serviços. Seja na educação, na política ou no comércio, a Internet já se tornou a ferramenta mais importante de comparti-lhamento de informações, presente em todas as faixas etárias da sociedade de todos os tem-pos.

Prova-se isso com um estudo desenvolvido com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o PAND realizado nos anos de 2005, 2008, 2009 e 2011, dispo-nível em www.ibge.gov.br. De acordo com a pesquisa, no ano de 2011, 77,7 milhões de pes-soas de 10 anos ou mais de idade acessaram a Internet no período de referência nos últimos três meses. Em termos percentuais, este índice equivalia a 46,5 % do total da população de 10 anos ou mais de idade.

Ainda de acordo com a pesquisa de 2005 para 2011, a população em idade ativa de 10 anos ou mais cresceu 9,7%, enquanto que o contingente de pessoas que utilizaram a Internet aumentou 143,8%, ou seja, o número de internautas no Brasil em seis anos cresceu 45,8 mi-lhões. Podemos ver esses dados no Gráfico III em anexo.

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Outro dado importante da pesquisa é quanto ao número de indivíduos que possuíam computador em casa com acesso a internet. No ano de 2005, 22,3 milhões de pessoas com 10 anos ou mais de idade residiam em domicílios que possuíam microcomputador com acesso à Internet (14,6% domicílios) e 130,0 milhões (85,4% do total) residiam em domicílios sem microcomputador com acesso à Internet. Em 2011, o total de domicílios que tinham acesso à Internet passou para 65,7 milhões, ou seja, 39,4% do total, como demonstrado no Gráfico IV em anexo.

Compreende-se pela pesquisa que da população de 10 anos ou mais de idade, que 21,0% das pessoas acessaram a Internet em algum local, seja domicílio, local de trabalho, estabelecimento de ensino, centro público de acesso gratuito ou pago, domicílio de outra pes-soa ou qualquer outro local, por meio de um computador, pelo menos uma vez no período de referência pesquisado.

Isso mostra a crescente dependência dos cidadãos brasileiros quanto a essas novas tec-nologias, que ao lado dos benefícios, acarretam também alguns problemas, que serão tema dos tópicos subsequentes deste trabalho.

3.3 O DIREITO À INTIMIDADE E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A dignidade da pessoa humana é prerrogativa inerente do indivíduo, trata-se de preva-lência dos valores éticos, sociais e da família, de caráter irrenunciável.

“O princípio da dignidade da pessoa humana, assim como o princípio da inviolabilida-de da vida humana, é ininviolabilida-declinável, indisponível e irrenunciável [...]” (OTERO apud RODRI-GUES JÚNIOR, 2009, p. 93).

A Constituição de 1988 inseriu a dignidade da pessoa humana como um dos funda-mentos do Estado Democrático de Direito, já em seu artigo 1º, que segundo Bastos (2002, p.425) tal inserção teve o objetivo de indicar o princípio como sendo “um dos fins do Estado propiciar as condições para que as pessoas se tornem dignas”.

A Carta Magna reconheceu a pessoa, o indivíduo em si mesmo, como sendo o foco central e o fim do direito, um valor constitucionalmente absoluto e protegido, tornando o princípio da dignidade da pessoa humana na base de todos os direitos fundamentais. É o reco-nhecimento categórico de que é o “Estado que existe em função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua e não meio da atividade estatal” (SARLET, 2001, p. 103).

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Ademais, o respeito ao fundamento da dignidade da pessoa humana acarreta como consequências a:

a) igualdade de direitos entre todos os homens, uma vez integrarem a sociedade co-mo pessoas e não coco-mo cidadãos;

b) garantia da independência e autonomia do ser humano, de forma a obstar toda co-ação externa ao desenvolvimento de sua personalidade, bem como toda atuco-ação que implique na sua degradação e desrespeito à sua condição de pessoa, tal como se veri-fica nas hipóteses de risco de vida;

c) não admissibilidade da negativa dos meios fundamentais para o desenvolvimento de alguém como pessoa ou imposição de condições subumanas de vida. (NOBRE JÚNIOR, 2000, p. 4)

Vale aqui frisar o inseparável vínculo existente entre os direitos fundamentais e o refe-rido princípio da dignidade da pessoa humana, como sendo um dos principais fundamentos do Direito Constitucional Contemporâneo. Em uma ordem hierárquica e axiológica, a dignidade da pessoa humana, tem o condão não só de guiar todos os direitos fundamentais, como tam-bém, estruturar toda a ordem constitucional.

Essa ligação é facilmente percebida ao se analisar o direito à intimidade. A Constitui-ção o destaca como um direito fundamental em seu artigo 5º, inciso X, ao declarar serem in-violáveis o direito a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. José Afonso da Silva (2008, p. 206) faz uma distinção entre o direto a intimidade e à vida privada, honra e imagem, preferindo o uso da expressão Direito à Privacidade, em um sentido amplo, de modo a abranger todas as manifestações da esfera íntima, privada e da personalidade, consagradas pelo texto constitucional.

São muitos os autores que fazem essa distinção, descrevendo o direito à intimidade como parte do direito à privacidade. Nessa linha, Mendes; Branco (2012, p. 318) fazem uma diferenciação quanto ao objeto discorrendo que:

O direito à privacidade teria por objeto os comportamentos e acontecimentos atinen-tes aos relacionamentos pessoais em geral, às relações comerciais e profissionais que o indivíduo não deseja que se espalhem ao conhecimento público. O objeto do direi-to à intimidade seriam as conversações e os episódios ainda mais íntimos, envolven-do relações familiares e amizades mais próximas.

A doutrina norte-americana sempre lembra que o Juiz Cooly, em 1873, identificou a privacidade como o direito de estar só, chamado de Right to be alone. Outra expressão tam-bém utilizada pelos juristas americanos é o Right of privacy, que seria o direito de qualquer indivíduo guiar suas próprias decisões sem interferência.

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Entretanto, trataremos aqui de forma mais específica do Direito à Intimidade, como sendo a “esfera secreta da vida do indivíduo na qual este tem o poder legal de evitar os de-mais” (DOTTI apud SILVA, 2008, p. 207).

De acordo com Álvaro Rodrigues Júnior (2009, p. 100) o conceito de intimidade tem origem na Grécia e Roma antigas, onde o lar era encarado como um lugar santo e inviolável. Trás ainda o referido autor, a ideia do amadurecimento do direito à intimidade com a firmação da burguesia como classe social e a Revolução Francesa, que fizeram surgir os precursores dos direitos do homem.

De forma mais contemporânea, referindo-se sucintamente às legislações de Direito Comparado, a doutrina germânica teria um maior domínio no tratamento do direito à reserva de intimidade da vida privada e familiar, com a chamada:

Teoria das esferas de proteção, que distingue, na sua formulação mais usual, e para-lelamente a uma esfera de publicidade, entre uma esfera pessoal, compreendendo as relações que o indivíduo estabelece com o meio social, uma esfera privada, relati-vamente à trajetória do sujeito ou à sua inserção em contextos de maior proximidade afetiva e relacional e uma esfera íntima, a que se subsumem os aspectos relativos ao mundo dos sentimentos, da existência biopsíquica, da sexualidade (CANOTILHO; MACHADO, 2003, p.53).

Ainda seguindo a linha de pensamento de Álvaro Rodrigues Júnior (2009, p. 102), na Declaração Universal dos Direitos do Homem, a proteção à intimidade está totalmente vincu-lada aos conceitos da vida privada do indivíduo e de toda a sua família, assim como o caráter privado do domicílio e da correspondência. Por essa razão, sem querer discutir de forma por-menorizada a cerca do conflito de normas fundamentais, que não é foco deste trabalho, seria o direito à intimidade da vida privada e familiar, a primeira limitação às liberdades de expressão e informação.

Assim sendo, o vínculo indissociável existente entre o princípio fundamental da digni-dade da pessoa humana e o direito à intimidigni-dade, neste tópico referido, conclui não só que este é consequência daquele, como também que são juntos, os postulados estruturantes de toda uma sociedade democrática de direito. Entretanto, esses postulados vêm sofrendo abalos na atualidade, devido à mitigação dos valores sociais na “Era da informação”.

3.4 A VIOLAÇÃO DA INTIMIDADE ATRAVÉS DA INTERNET

O acelerado avanço das tecnologias de informação construiu um mundo onde a viola-ção de direitos até então instransponíveis se tornou algo banal. Novas técnicas comerciais e

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econômicas, de marketing, de relacionamento entre as pessoas, de conflitos e de danos, bem como de novos delitos, até então desconhecidos, vêm surgir nesse novo mundo. É o contem-porâneo mundo da Internet, que em outra perspectiva, reflete também em uma poderosa ame-aça à intimidade do ser humano.

A Internet tem mitigado as liberdades individuais. O conceito de privacidade tem so-frido mutações axiológicas com a velocidade das novas tecnologias, fato que tem gerado uma fragilidade nos direitos fundamentais e uma preocupação por parte de toda a comunidade jurí-dica. Rodota apud Oliveira, (2012, p. 67-68) preocupado com esta desenfreada evolução diz que:

A Internet é um imenso espaço público e não deve ser nem privatizado nem coloni-zado. Mas quais as forças que podem redefinir este espaço, quais os recursos políti-cos que estão presentes neste espaço e quem pode utilizá-los? A Internet não é mais o espaço da liberdade infinita, de um poder anárquico que ninguém pode domar. Ho-je, é um espaço de conflitos, onde a liberdade é apresentada como inimiga da segu-rança; onde os argumentos da propriedade contrastam com aqueles do acesso; o livre pensar desafia a censura.

Vale aqui destacar o argumento de Mendes; Branco (2012, p. 318, 319) ao afirmar que a importância da vida privada e da não violação à intimidade do indivíduo, como sendo ne-cessidades de todo homem, para a sua própria saúde mental. A livre personalidade não se de-senvolve sem privacidade. Aduz não ser saudável à própria capacidade de superação do ser humano, a exposição desenfreada dos próprios erros, fracassos, críticas e desgostos.

A Constituição Federal de 1988 elencou em seu artigo 5º, inciso X, a inviolabilidade do direito à intimidade, “assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Entretanto, há a necessidade de se regulamentar de forma enfáti-ca uma legislação verdadeiramente efienfáti-caz, no combate aos delitos informáticos pratienfáti-cados através da Internet, pois na mesma velocidade em que se aprimoram as novas tecnologias, novos danos também surgem, aumentando ainda mais as estatísticas da impunidade.

Um caso recente, que repercutiu continentalmente nas redes midiáticas e teve reflexo, também, na esfera legislativa brasileira foi o da atriz e modelo Carolina Dieckman, que teve fotos da sua intimidade copiadas de seu computador e, logo depois foi vítima de extorsão pra-ticada pelos delinquentes, para que as imagens não fossem divulgadas na Internet. Sem aden-trar a recorrente questão do “Populismo Penal” e a influência do sensacionalismo midiático na desenfreada normatização criminal, o caso da atriz tomou tamanha repercussão que deu ori-gem a Lei 12. 737 de 02 de abril de 2012, que criou o tipo penal de “Invasão de Dispositivo

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Informático”. A referida lei e todas as suas nuances serão objeto de estudo em tópico oportu-no oportu-no capítulo seguinte desta obra.

Também decretada como reflexo do caso Carolina Dieckman foi a lei de número 12.735 de 2012, para tipificar condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, contra sistemas informatizados.

Outro caso de repercussão mundial, e que mostra a fragilidade dos sistemas de prote-ção a possíveis invasões através da Internet, porém de pouca divulgaprote-ção midiática ocorreu em março de 2013, que ficou conhecido por especialistas em segurança como o “Maior ataque cibernético da história”. Segundo o Jornal online G1.globo.com os ataques tiveram início em 18 de março depois que a Spamhaus, uma organização antispam, bloqueou o provedor holan-dês “Cyberbunker”. Segundo o periódico, os criminosos da Internet, os crackers, usaram uma técnica conhecida como Distribution Reflection Denial of Service (DRDoS) ou “ataque de negação de serviço refletido”, causando uma sobrecarga nas conexões do mundo inteiro e gerando uma espécie de apagão na grande rede.

O caso mais recente de violação da privacidade através da Internet no Brasil foi notici-ado como um ataque a própria soberania de um Estnotici-ado. O programa de televisão da Rede Globo, o Fantástico, exibiu uma matéria em que descreve todos os passos de um possível mo-nitoramento não consentido das comunicações da atual Presidente do Brasil Dilma Rousseff, bem como de seus assessores, realizado pelos Estados Unidos.

Segundo a reportagem exibida em 01 de Setembro de 2013, as provas foram cedidas pelo ex-analista da National Security Agency (NSA), o Edward Snowden, que deixou os Esta-dos UniEsta-dos portando secretos documentos da agência, com a intenção de divulgar o sistema de espionagem americano no mundo. A matéria mostrou que os documentos faziam parte de um relatório que fora apresentado de forma comemorativa para os agentes, com o título “Fil-tragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil”. Através das redes de telefone e, principalmente, pela rede mundial de computadores, a Internet, as comunicações, as redes sociais e os servidores de e-mail foram interceptados.

O sistema de espionagem funciona da seguinte forma:

Selecionado o alvo, são monitorados os números de telefone, os e-mails e o IP, a i-dentificação do computador. O mesmo para os interlocutores escolhidos, no caso, assessores. O que eles chamam de ‘um pulo’, é toda a comunicação entre o alvo e os assessores. Um pulo e meio, quando os assessores conversam entre eles. Dois pulos, quando eles conversam com outras pessoas (BRIDI; GREENWALD, 2013).

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Foi uma clara violação do princípio da Soberania de um Estado. Segundo o ex-agente Edward Snowden, o verdadeiro objetivo dos Estados Unidos na espionagem é de cunho to-talmente econômico, que nas suas palavras:

A tática do governo americano desde o 11 de setembro é dizer que tudo é justificado pelo terrorismo, assustando o povo para que aceite essas medidas como necessárias. Mas a maior parte da espionagem que eles fazem não tem nada a ver com segurança nacional, é para obter vantagens injustas sobre outras nações em suas indústrias e comércio em acordos econômicos (BRIDI; GREENWALD, 2013).

Portanto, tudo isso prova mais uma vez as desvantagens trazidas pelas novas tecnolo-gias da informação, o que gera a necessidade de uma urgente medida de proteção aos direitos mais basilares da pessoa humana, sob pena de um retrocesso social no mundo inteiro. É ine-gável a relevância da Internet no desenvolvimento da humanidade, mas é questionável a sua evolução desenfreada sem medidas, em detrimento dos direitos e princípios fundamentais de uma sociedade democrática de direito, como o direito à intimidade.

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4 AS REDES SOCIAIS E A INVASÃO DA PRIVACIDADE

O que era inimaginável há pelo menos três décadas já se tornou possível atualmente. Trocar informações, vídeos, imagens ou áudios em tempo real, com qualquer pessoa do mun-do, não mais faz parte dos pensamentos surreais e futuristas do ser humano. Definitivamente, as mídias sociais têm mudado a vida e as interações de toda a sociedade.

Se já era impossível visualizar um mundo sem a Internet, hoje, já não se pode imagi-nar a Internet sem as redes sociais. Seja no comércio, na economia, na educação, na cultura, na política, nos movimentos sociais, nas entrevistas de emprego, nas opções de diversão ou até nos relacionamentos amorosos, as redes sociais tornaram-se as protagonistas na era da informação.

Entretanto, devido à velocidade dos avanços, aspectos negativos também vêm surgir com essa socialização digital das comunicações. A liberdade da troca de informações despon-ta como prioridade em detrimento do direito fundamendespon-tal à privacidade, inerente e imprescin-dível a todos os seres humanos. Há uma verdadeira confusão de significados no que seria pú-blico e no que seria privado.

Nesse contexto, onde as pessoas estão conectadas o tempo todo, tudo que é postado nas mídias online pode se tornar a favor ou contra o indivíduo. E através desse dinamismo de informações, em face do enorme poder formador de opinião, uma marca de empresa ou a re-putação de uma pessoa pode ser construída, assim como destruída em uma pequena fração de segundos com apenas um “clique”.

Surge, portanto, a necessidade da interferência estatal para regulamentar as novas in-terações da “Era Digital”, na tentativa de sopesar os efeitos negativos desse excesso de expo-sição da intimidade das pessoas.

4.1 AS REDES SOCIAIS E SUA IMPORTÂNCIA

A rede social é, antes de qualquer explanação, um conglomerado de pessoas que troca informações em uma relação de feedback. Faz parte da primitiva necessidade do ser humano de se socializar para se desenvolver. Viver em sociedade é viver em uma rede social. No en-tanto, esse conceito vem evoluindo de significado concomitantemente aos avanços tecnológi-cos. As relações que antes eram puramente físicas passaram a integrar um ambiente

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desmate-rializado. As interações entre as pessoas deslocaram-se para o espaço virtual, onde a Internet é a ferramenta das possibilidades.

Em uma conceituação mais moderna do que é uma rede social, pode-se definir como sendo um ambiente de relações instantâneas, independentemente de lugar e tempo, onde pes-soas interagem entre si criando uma rede de amigos que se reúnem em torno de interesses comuns na web.

Segundo Duarte; Frei (2008, p. 156) a rede social seria uma “estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns”.

Em outra perspectiva, a redes sociais são consideradas como sites de relacionamento que têm o objetivo preponderante de troca de experiências. Na visão de Recuero apud Madei-ra; Gallucci (2009, p. 2), a rede social:

É gente, é interação, é troca social. É um grupo de pessoas, compreendido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura da rede. Os nós da rede representam cada in-divíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos. Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e in-teragimos.

Assim sendo, pode-se entender que a rede social na atualidade representa uma atmos-fera de troca recíproca de informações, das relações desmaterializadas, de provas documenta-das por escrito e irretratáveis e, acima de tudo, de alcance global via Internet.

A importância das redes sociais na web é perceptível em todos os seguimentos da so-ciedade. Por mais impactante que seja, falar em um mundo sem as redes sociais já não é mais possível.

No seguimento econômico, as empresas encontraram nas redes sociais a ferramenta indispensável para seu desenvolvimento. E esse desenvolvimento pode ser analisado através de níveis que medem a presença das empresas nas redes sociais.

Em um nível inicial as redes online são usadas apenas como meio informativo, uma ferramenta de anúncio em estratégias de marketing modernas.

Em um segundo nível mais avançado, através de uma interação com seus clientes, as empresas passam a discutir as melhorias de seus produtos e serviços através das redes, o que possibilita traçar um perfil de seus futuros compradores. Alertando para o risco de essa intera-tividade refletir de forma negativa, Madeira; Gallucci (2009, p. 3) dizem que antes de tudo é preciso ouvir e entender as opiniões dos consumidores para que, dessa forma, passe a conhe-cer seu público, minimize as possíveis crises e crie novas estratégias de mercado.

Referências

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