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Academic year: 2021

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CLASSIFICAÇÃO DAS COISAS

Vimos até aqui o conceito de coisa, depurando-o do nocionismo legal para a compreensão mais estrita e jurídica e adoptada no curso. Agora, ultrapassada essa fase, vem à liça o art.º 194.º do Código Civil que, com classificação das coisas em epígrafe, versa assim:

As coisas são imóveis ou móveis, simples ou compostas, fungíveis ou não fungíveis, consumíveis ou não consumíveis, divisíveis ou indivisíveis, principais ou acessórias, presentes ou futuras.

Do que estamos a falar, tem-se por adquirida a pré-compreensão, é de coisa enquanto objecto de direitos reais nela incidente (s, quando se reúnam ao mesmo tempo dois ou mais direitos). Enquanto objecto de direitos reais com reflexo normativo, podemos destrinçar, classificando, as coisas enquanto:

1) COISAS MÓVEIS E COISAS IMÓVEIS

É a primeira das classificações enumeradas em dicotomia no art.º 194.º do Código Civil e é, na linha normativa do código, a que deste se ocupa, com previsão, nos art.ºs 195.º e 196.º. E ocupa-se, podemos adiantar, numa técnica normativa excludente, dando aos imóveis, apenas, o selo da tipicidade ou taxatividade e aos móveis a virtualidade de um regime subsidiário ou excludente, gizando-os enquanto todas as coisas não compreendidas no artigo anterior, precisamente

a) Os prédios rústicos e urbanos

É prédio rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia económica; é prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro (art.º 195.º.2 do Código Civil). O critério seguido, está fácil de ver, olha a aderência a uma determinada porção de terreno

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para daí, da implantação, alijar a perda de autonomia porquanto a sua destinação ficou agora absorvida no novo conjunto. Neste sentido, o prédio urbano será, a fortiori, uma coisa composta porquanto a individualidade deu lugar ao conjunto. A opção pelo elemento da autonomia económica permite também a resolução dos problemas que os prédios mistos, não definidos na lei, poderiam levantar. No seguimento deste critério normativo, se o prédio é predominantemente rústico, é-o rústico; se é predominantemente urbano, é-o urbano. A questão não é de somenos quando o direito registral, que se espera que no devir conheça definição expressa e realidade prática em Timor Leste, será o primeiro a arvorar o princípio por que cada prédio levado a registo dá ensejo, apenas, a uma única descrição predial.

Dentro do prédio urbano há espaço para discernir, ainda, os andares que os compõem. São eles coisas (imóveis) ou partes da coisa? Oliveira Ascensão, artífice da segunda resposta, opôs as consequências da imersão de prédios urbanos dentro doutros, a par do desvio ao critério legal que comanda a consideração do prédio urbano na ligação da obra com o solo como todo. Não parece, auscultado o regime da propriedade horizontal e a faculdade de apropriação individual do andar, que possa deixar de se considerar aquele como coisa per si (art.ºs 1334.º e 1335.º CCiv.).

b) As águas

A tendencial deslocação permanente das águas permitiria, como resposta sensorial, a classificação delas como móveis. Ademais, a susceptibilidade de ocupação teria a consequência excludente da natureza imóvel (art.º 1239.º CCiv.). Porém, tem-se em vista, isso sim, a sua integração no solo e a corrente que se lhe liga, numa unidade sujeita a um só regime, critério que leva a assumir o rio, as suas margens e leito, como um todo bem imóvel. Contudo, uma vez cindida do reservatório imóvel, a água será já móvel, talqualmente se passavam as coisas, no direito do Código Civil português revisto pelo que trouxe força de influência a Timor Leste, à cisão entre mina (imóvel) e seus minérios (móveis). Os art.ºs 1305.º ss co CCiv. regulam a propriedade das águas, classificando-as entre públicas, comunitárias e particulares (As águas são públicas, comunitárias ou particulares; as primeiras estão sujeitas ao regime estabelecido em leis especiais, as segundas aos usos e as terceiras às disposições dos artigos seguintes). As considerações feitas no propósito da escalpelização do conceito de

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direitos reais, com o regime excludente da apropriação do art.º 194.º, se dúvidas houvesse, restringir-nos-á às águas particulares.

c) As árvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados ao solo

Parecem anódinas explicações que suplantem o teor, estrito, da norma. As árvores e os arbustos são imóveis enquanto permanecem ligados ao solo, plantados, sendo só de isolar, para os frutos, a sua natureza imóvel enquanto se ligam à árvore. Os art.ºs 1286.ºss do CCiv. contêm disposições especiais sobre plantações de árvores e arbustos, dando os art.ºs 203.º a 206.º, com o art.º 343.º do CCiv., resposta ao regime jurídico dos frutos.

d) Os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas anteriores

Em curtas palavras, é imóvel o direito real sobre coisa imóvel. O usufruto de um móvel é, por aqui, móvel. No estrito campo dos imóveis, os direitos reais menores de gozo sê-lo-ão, também (superfície, uso, habitação).

e) As partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos

A estipulação do n.º 3 do art.º 195.º responde ao que se entende por parte integrante: É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência. Falamos, nelas, das coisas que, ligadas ao imóvel, mantêm a sua individualidade. Sem se fundir na estrutura imóvel, juntam-se-lhe para aumentar valor ou utilidade, embora sem indispensabilidade da função ou destino normais do imóvel. O quadro, como a antena parabólica, são casos simbólicos. Fala-se também, porque correlacionadas, em partes componentes e partes acessórias. As primeiras confundem-se já com a estrutura do prédio, sem as quais este não preenche o seu valor, nem consegue alcançar o fim económico por que se projectou (portas, janelas), assim se distinguindo das partes integrantes pela sua funcionalidade, embora sigam o mesmo regime destas.

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As outras, ou partes acessórias, sem ligação permanente à coisa principal, tomar-se-ão sempre coisas móveis. É o art.º 201.º do CCiv. o que se lhes refere, acrescentando, depois da noção e no n.º 2, que os negócios jurídicos que têm por objecto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as coisas acessórias. Por melhores palavras, não se transmitem no negócio que as abrange.

Coisa diferente passar-se-á com as partes integrantes ou componentes. Consideradas imóvel, afectas e integradas num, seguirão em princípio o destino desse. Contudo, podendo autonomizar-se e ser objecto de direitos reais autónomos, altura em que serão já móveis, a transferência de direitos reais submeter-se-á ao critério da separação como aquele momento sobre o qual se constitui o direito a ela respeitante (art.º 343.º.2 CCiv.).

A taxatividade que o art.º 196.º.1 do Código Civil parece impor ao conceito de bem imóvel não é pacificamente aceite. Oliveira Ascensão, por exemplo, sugere que para que o sistema se possa considerar aceitável é necessário não o entender muito rigidamente, tomando como exemplificativo o leque de coisas imóveis do art.º 195.º do Código Civil, sob o risco de deixar fora dele várias coisas que, apesar de integradas num terreno, não são móveis. É o caso, que o autor exemplifica, das minas, das estradas, dos monumentos. Imóvel, para este autor e com todos os riscos de certeza e segurança jurídica, é a terra, bem como todo o elemento (seja ou não por si coisa móvel) nesta incorporado com carácter de permanência. A noção de coisa, indissociável da faculdade de apropriação individual, levam-nos a poder refutar, ao menos para estes exemplos, a necessidade de tomar em linha de exemplo o elenco que o legislador, no art.º 195.º, parece ter querido taxativo (ubi lex non distinguire, nec nos distinguire debemus).

2) COISAS SIMPLES E COISAS COMPOSTAS (OU UNIVERSALIDADES DE FACTO)

Agora pela letra do art.º 197.º do Código Civil, é havida como coisa composta, ou universalidade de facto, a pluralidade de coisas móveis que, pertencendo à mesma pessoa, têm um destino unitário. As universalidades de facto, por aqui, são coisas strictu sensu, complexas embora, mas com certeza coisas. Trata-se, portanto, de uma

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unificação de coisas móveis - corpóreas - sobre a qual recai um único direito, caracterizada por uma relação jurídica unitária. Na definição de Orlando de Carvalho falaríamos do conjunto de coisas unificadas por interesses económicos, em que existe um valor de agregação. O usufruto de uma biblioteca, ou a reivindicatio de um rebanho, são exemplos que, auxiliados pela tópica, abrem ensejo à seguinte compreensão esquemática das universalidades de facto:

 Valor económico e jurídico individual: cada uma das coisas que compõem a universalidade tem existência própria e independente do valor de agregação;

 Função ou destino económico unitário daquelas, que lhes confere aquele valor de agregação.

Este conjunto, ou valores integrados, se reúnem bens com valor de integração, são assim objecto de uma relação jurídica unitária ou, doutro modo, demandam tantas relações jurídicas quantos os bens que compõem a universalidade de facto?

Confrontar-se-ão na resposta duas teses, a tese unitária e a tese atomista. A primeira, fundada na letra da lei e em esparsas disposições legais que tratam ou permitem a universalidade como coisa una (pense-se na doação de universalidades, no usufruto de animais ou na acção de reivindicação), faz impender sobre a universalidade um único direito que abrange todo o conjunto das coisas unitárias que enformam a universalidade. A prova da propriedade, ou o exercício judicial da acção de reivindicação, saem aqui notoriamente facilitados. No outro campo, o da tese atomista, o domínio incide sobre cada uma das coisas individualmente consideradas pelo que há tantos direitos quantas as coisas que dão corpo à universalidade. Ora, se o n.º 1 do art.º 197.º parece pressupor a consagração da tese unitária, o n.º 2, ao dispor que cada uma das coisas singulares da universalidade pode ser objecto de relação jurídica própria, é sugestivo ao abrir a final a mão do reconhecimento legal à tese atomista. Pelo nosso lado, a maior circunscrição da norma do n.º 2, acompanhada das normas especiais que perspectivam a coisa composta como objecto de uma relação jurídica una (cfr. Art.º 203.º.3 do Código Civil), levam-nos a defender a primeira, vendo a coisa composta como coisa per si, sem prejuízo da possibilidade de incidência de direitos ou relações unitárias sobre parte das coisas que a compõem.

As dificuldades sobem de tom apenas quando transitamos daqui para as universalidades de direito, isto é, o complexo de direitos entre os quais se estabelece

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uma certa unificação. Os patrimónios comuns, o estabelecimento comercial ou a herança nas sucessões, são exemplos de relações jurídicas de conjunto, em que cada bem possui no interior o seu valor próprio, mas que não são, afinal - excepção ao estabelecimento comercial -, coisas. Repete-se, as universalidades de direito, diferentemente das universalidades de facto, não são coisas. Podem ser colectivamente transmitidas ou objecto de relações, sim, mas essa ficção ou vicissitude legal que unifica os direitos não as pode coisificar nem tornar - tendencialmente - idóneas à constituição de novos direitos reais. E, por isso, agora no cotejo entre as teses unitária e atomista, importará apreender que não estamos afinal diante de nenhum novo bem. A impossibilidade de consideração da universalidade de direitos como coisa advém, por fim e em parte - já dissemos que não é assim nas coisas incorpóreas -, da tendencial limitação circunscricional da propriedade às coisas corpóreas no art.º 1226.º do Código Civil.

3) COISAS CONSUMÍVEIS E NÃO CONSUMÍVEIS

Na pala do art.º 199.º do CCiv. são consumíveis as coisas cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua alienação. Não é crível que daqui sobressaiam grandes dificuldades de interpretação, tão-só bastando aludir a bens na linha dos imóveis, cujo uso não belisca, ou na linha dos alimentos, necessariamente destinados ao consumo. Num comentário enxuto, a norma traz à liça a questão dos bens de consumo, ainda que nem sempre seja fácil imunizar perfeitamente uns, os bens consumíveis, dos outros, os não consumíveis. O livro, p. ex., na ciranda de mão em mão que o caracteriza, pode não perder valor como ir, pelo esbotoamento das letras ou pela danificação da capa, de encontro ao consumo de que a lei aqui fala.

4) COISAS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

Aqui à conta do art.º 200.º do CCiv., são divisíveis as coisas que podem ser fraccionadas sem alteração da sua substância, diminuição de valor ou prejuízo para o uso a que se destinam. Uma cadeira, ou uma secretária, são bens naturalmente indivisíveis, embora a existência de salomónicas tentativas de justiça velada ou

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artifícios de cadeiras de três pernas sejam coisa já vista. Sem a palmatória do riso, a divisão da secretária em dois tem o preço da diminuição do valor. Os art.ºs 468.º ss do CCiv. desenham o regime jurídico das relações jurídicas constituídas sobre si, ainda que com o preço de uns olhos meramente obrigacionais e que por isso aqui pouco relevam. A ideia é apreensível por si mesma e deixa entrever a fracção entre devedores de 50 Kgs de batatas ou de uma obrigação de pagamento de preço.

5) COISAS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS

Noutro campo, propala o art.º 198.º do CCiv. que são fungíveis as coisas que se determinam pelo seu género, qualidade e quantidade, quando constituam objecto de relações jurídicas. Não é esta norma outra que nos assole dificuldades de análise, ainda que convide o crivo do art.º 762.º do CCiv. por a infungibilidade deste, traduzida na ligação incindível entre a pessoa do devedor e a prestação - o credor de prestação de facto fungível tem a faculdade de requerer, em execução, que o facto seja prestado por outrem à custa do devedor -, ser aqui entendida numa acepção distinta.

6) COISAS PRINCIPAIS E COISAS ACESSÓRIAS

Elencadas ainda no art.º 194.º, densificam-se melhor no texto do art.º 201.º do Código Civil: São coisas acessórias, ou pertenças, as coisas móveis que, não constituindo partes integrantes, estão afectadas por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma outra. A lei, só definindo as coisas acessórias, deixa à consideração das coisas principais aquelas que existem de per si.

Voltamos a virar a agulha para as coisas acessórias e descortinamos logo um traço delimitativo: não são partes integrantes e são sempre móveis.

Por outro lado, atento o n.º 2 do art.º 201.º, “os negócios jurídicos que têm por objecto a coisa principal não abrangem, salvo declaração em contrário, as coisas acessórias”. Há na doutrina, no entanto, quem prefira, dentro do regime jurídico das coisas acessórias, delimitar duas situações diferentes:

 Coisas acessórias com valor autónomo, sem as quais a coisa principal mantém a sua utilidade (alfaias agrícolas) - abrangidas pelo art.º 201.º.2;

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 Coisas acessórias sem valor autónomo, isto é, sem as quais a coisa principal perde a sua utilidade, razão por que são obrigatoriamente abrangidas pelo negócio.

7) COISAS PRESENTES E COISAS FUTURAS

Pelo art.º 202.º do CCiv. são coisas futuras as que não estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao tempo da declaração negocial.

A noção não é a mais perfeita, já que uma coisa que não está no poder do disponente ou que este não tem no tempo da declaração negocial é uma coisa que não existe ou, se existe, é alheia. Preferimos por isso falar de coisa futura como aquela que se espera vir a adquirir e integrar o património do disponente, oposta à coisa que ele já possui.

Com relevo para o regime jurídico das coisas futuras, distinguimos duas dimensões dela. Podemos falar, portanto, de coisas:

 Relativamente futuras, correspondentes àquelas que já estão na disponibilidade de alguém, que não o disponente, mas que no momento da declaração negocial espera vir a adquirir;

 Absolutamente futuras, como aquelas que ainda não existem no momento da declaração negocial mas que o disponente espera que venham a ter, elas mesmas, existência.

A lei refere-se à coisa futura em diversos segmentos, como ocorre na compra e venda de bens futuros. E aí, enquanto relação, como conceito de coisa sem real existência actual, a única porque tem nexo sistemático falar de coisa futura no capítulo das coisas no código civil, porquanto só aquelas com realidade actual podem ser objecto de direitos reais. Com efeito, sistematizando, só existem direitos reais sobre coisas actuais ou presentes. Esta afirmação consagra-se no texto do art.º 343.º.2.1ª parte do CCiv., daí resultando que a constituição de direitos reais sobre coisas futuras (relativamente futuras, entenda-se) dar-se-á quando ela for adquirida pelo alienante.

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Segundo o art.º 203.º.1 do CCiv. diz-se fruto de uma coisa tudo o que ela produz periodicamente, sem prejuízo da sua substância. São dois, assim os requisitos:

 carácter periódico;

 condições de, per si, sobreviver;

Além disto os frutos dividem-se em frutos naturais e civis: dizem-se naturais os que provêm directamente da coisa, e civis as rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de uma relação jurídica. Depois, quanto aos frutos naturais, pode-se distinguir entre:

 Frutos pendentes: ainda não se fez a separação (art.º 206.º.2);  Frutos percebidos: já se fez a separação (art.º 204.º.1 e 206.º.1);

 Frutos percipiendos: podiam ter sido colhidos, mas não o foram por culpa do detentor da coisa;

 Frutos maduros: aptos para colheita (art.º 205.º).

O art.º 195.º.c) do Código Civil trata-os como bens imóveis enquanto estão ligados ao solo, pelo que os negócios jurídicos da coisa principal, salvo cláusula em contrário, abrangê-los-ão.

O momento da separação da coisa - mãe é o decisivo para saber quem, e desde quando, tem direitos reais sobre eles e adquire a propriedade. O art.º 343.º.2 do CCiv. dá aos negócios de compra e venda deles uma eficácia meramente obrigacional até ao momento da colheita ou separação, altura em que aqueles afirmarão todo o seu peso e força absoluta. P. ex., se no ínterim de um negócio de compra e venda o mesmo pomar for vendido, o negócio sobre os frutos será ou não oponível ao adquirente em consonância com o lastro de vida dos frutos, isto é, consoante tenham sido ou não colhidos. Além disto, há normas específicas de regime que merecem uma breve análise:  Art.º 204.º.1: os que beneficiaram da separação no tempo do seu direito, fazem

seus os frutos;

 Art.º 205.º: os que colherem frutos prematuros são obrigados a restituí-los, se o seu direito vier a extinguir-se antes da época normal das colheitas;

 Art.º 206.º.1: prevê o dever de indemnização dos que forem obrigados a restituir os frutos percebidos;

 Art.º 206.º.2: quando se trate de frutos pendentes, quem for obrigado a restituí-los não tem direito a qualquer indemnização.

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Os frutos distinguem-se ainda dos produtos ou utilidades que derivam das coisas com carácter eventual. É produto, portanto, o rendimento da coisa sem carácter periódico ou o rendimento periódico que, por essa causa, causa prejuízo ou extingue o carácter da coisa. Enquanto fonte ou derivação da coisa que faz esgotar a sua substância, é produto, p. ex., a pedra extraída da pedreira por essa extracção gerar, naturalmente, o esgotamento da pedreira explorada.

9) BENFEITORIAS

Refere-se-lhes o art.º 207.º.1 do CCiv. na seguinte giza: todas as despesas feitas para conservar ou melhorar a coisa.

Podemos, nelas, observar uma legal e tríplice classificação, determinando-se com preceito as benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias:

 São benfeitorias necessárias as que têm por fim evitar a perda, destruição ou deterioração da coisa;

 São benfeitorias úteis as que, não sendo indispensáveis para a sua conservação, lhe aumentam, todavia, o valor;

 São benfeitorias voluptuárias as que, não sendo indispensáveis para a sua conservação nem lhe aumentando o valor, servem apenas para recreio do benfeitorizante.

As benfeitorias, enquanto despesas para conservar ou melhorar a coisa, incidem sobre ela e nisso se distinguem dos encargos, as despesas periódicas feitas por causa da coisa, ou seja, as despesas que o titular da coisa tem e decorrem de relações jurídicas (pagamento de rendas, impostos, amortizações, juros).

Contanto sejam necessárias, e naquelas vezes em que sejam realizadas por terceiro, sobretudo com urgência, dão-lhe direito à restituição dos valores gastos. Encontramos isso, p. ex., no contrato de depósito, onde a gratuitidade não ofende o art.º 1119.º.b) CCiv. sobre as obrigações do depositante, ou ainda na norma que aqui é mais paradigmática e remete para as despesas de conservação necessárias feitas a expensas do locatário (art.ºs 975.º e 1012.º do CCiv., embora neste último caso sob o critério subsidiário da lei face à vontade contratual expressa) .

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10) COISAS CORPÓREAS E COISAS INCORPÓREAS

Trata-se de uma classificação que escapa à categorização do art.º 197.º do Código Civil, embora assuma enormíssimo relevo, sobretudo pelo alcance dogmático das soluções que sob ela se patrocinam. O conceito de coisa, não o legal, mas o social, colhe pela percepção da natureza as bases da distinção. Coisa corpórea vem a ser, portanto, aquela que se revela pelos sentidos, nela se englobando - outra distinção - as coisas materiais e as coisas imateriais, as que o mundo sensorial ou nossos sentidos conseguem alcançar (ex.: electricidade). O conceito de coisa incorpórea reserva-se assim para aquelas coisas que, podendo ter parte ou até nenhuma existência física e por aí assentes em meras construções de espírito, são valorações humanas que extravasam esses conceitos. Será o caso, p. ex., dos bens ou ideações (a propriedade intelectual ou industrial), dos valores de organização do estabelecimento comercial e dos direitos (sobre direitos).

No atinente aos bens intelectuais (ideações), pensa-se na obra literária ou artística, no invento, na marca, na patente. São, sem discussão, bens, como aparentemente e apesar da ligação quase umbilical à pessoa do criador, parecem ser coisa: uma vez criadas, podem ser usufruídas por outrem. Questão principal é, sobre isso, saber se a atribuição individual da coisa a outrem pode ser feita em termos reais, já que o art.º 1222.º parece limitar o direito de propriedade às coisas corpóreas, embora depois abra as margens do direito real quando prevê no artigo seguinte a existência de legislação especial reguladora. Parece-nos que não é assim, pois que a obra, uma vez criada, não é domínio exclusivo de um só, antes de todos embora só o autor dela beneficie economicamente (direito patrimonial de autor).

Ao falar de direitos podemos falar de direitos singulares ou determinados ou de complexos de direitos ou universalidades. Podem uns, e outros, ser objecto de direitos reais e com isso incluir-se no conceito de coisas as próprios direitos? No primeiro caso, enquanto falarmos cumprindo com o princípio da taxatividade e de direitos sobre direitos reais especialmente previstos, nada depõe contra contra a sua admissibilidade (usufruto, penhor, hipoteca). No segundo caso é já maior a dificuldade: deve admitir-se a existência de direitos reais sobre uma herança ou um estabelecimento?

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A questão responder-se-ia pelo art.º 1222.º: só as coisas corpóreas, móveis ou imoveis, podem ser objecto de direitos de propriedade. Ao pressupor o carácter corpóreo da coisa, o regime do código civil é inaplicável às coisas incorpóreas. Ora, estes direitos ou universalidades não são, já vimos, coisa, pelo que, sem serem bens imoveis, são ao menos bem móvel anómalo, não sujeito a registo, embora se lhes aplique algumas das disposições dos direitos reais. Além do reconhecimento da propriedade, pense-se no usufruto ou no penhor do estabelecimento, que, ao menos este, sim, pode ser objecto de direitos reais, máxime, do direito de propriedade que o trespasse, negócio nominado, pressupõe.

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