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Mapeamento da rede socioassistencial no serviço de enfrentamento a violência, ao abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes do município de Palhoça

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANA PAULA DA SILVA GORGES

MAPEAMENTO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL NO SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA

Palhoça 2010

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MAPEAMENTO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL NO SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO A VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof. Msc. Janice Merigo

Palhoça 2010

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MAPEAMENTO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL NO SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 21 de Junho de 2010.

_________________________________ Prof. Msc. e orientadora Janice Merigo

_________________________________ Psicóloga Lisiane Souza Cattani

_________________________________ Prof. Msc. Ivana Marcomim

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Dedico este trabalho ao meu pai, Darci Felisberto da Silva (in memoriam), responsável pela pessoa que sou hoje.

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Primeiramente, quero agradecer a Deus, que me fortaleceu nos momentos difíceis e iluminou minha caminhada.

Ao meu esposo, Sidnei, que esteve sempre ao meu lado, encorajando, apoiando e sendo compreensivo em vários momentos em que tive que me ausentar ou deixá-lo para depois. A ele, meu sincero agradecimento e meu eterno amor, se não fosse por você eu não teria conseguido. Te Amo!

Quero agradecer também a minha equipe de trabalho, pela compreensão nos dias em que tive que me ausentar para realizar o estágio, nos dias em que fiquei estudando em vez de ajudá-los nas tarefas diárias. A vocês: Andresa, Carina, Cleimara, Elisandra, Maicon, Rosana, Sueli e Vanessa, muito obrigada pela família maravilhosa que construímos!

A minha família, mãe, pai (in memoriam), irmã, irmãos, cunhadas, cunhados, sobrinhas, sobrinhos, pela força e estímulo dado e por perdoarem minhas ausências.

A minha supervisora de estágio Andréia Burlin pela paciência e dedicação e principalmente, pela troca de experiências.

Gostaria de agradecer a equipe do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes por me permitir apreender com elas e participar desta equipe por um ano e meio.

A minha orientadora Janice Merigo, que me orientou na construção deste trabalho, sempre pensando positivamente e incentivando. Obrigada pela disponibilidade, compromisso e atenção.

Aos meus amigos, gostaria de agradecer a torcida em mim depositada e a compreensão pelas minhas faltas.

Agradecer as minhas amigas de caminhada: Dayana, Débora e Jessy. A nossa amizade foi construída em bases sólidas e por isso, vai durar para sempre. Amo vocês e agradeço por tudo o que me auxiliaram, principalmente nas horas de descontração, dos risos engolidos, das brincadeiras, dos trabalhos perfeitos, enfim, obrigada por me permitir fazer parte desta equipe que foi um máximo!

A todos que de uma maneira ou de outra participaram e torceram por mim. Valeu!

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“Estou convencido das minhas próprias limitações e esta convicção é minha força" (Mahatma Ghandi)

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Adolescentes do Município de Palhoça. 2010 f Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Palhoça 2010.

RESUMO

Este trabalho tem como contexto a Secretaria da Assistência Social do município de Palhoça, o Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o abuso sexual infantil, e seus desdobramentos e a importância do trabalho em rede. Além da contextualização teórica e histórica da violência contra crianças e adolescentes, ainda se apresenta os procedimentos técnico-operativos utilizados no desenvolvimento do processo de trabalho do Serviço Social e pela equipe interdisciplinar no referido Serviço, a fim de esclarecer como se dão os atendimentos e os encaminhamentos realizados com as crianças vítimas de abuso sexual e suas famílias. Também se apresenta a rede socioassistencial de Palhoça, bem como sua visualização, visando dar visibilidade aos parceiros no enfrentamento da violência, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. De forma minuciosa se contextualiza quais foram as etapas para a execução do projeto para identificação desta rede socioassistencial e como foram as visitas realizadas. Este estudo foi realizado no período de agosto de 2008 a dezembro de 2009, período em que foi realizada a coleta de dados, realização das visitas institucionais e a confecção da cartilha da Rede Socioassistencial, bem como o seu mapeamento.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1 – Equipe do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a

Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes... 21

Figura 1 – Fluxograma do Serviço... 23

Fotografia 2 – Visita ao “Vida Nueva” na Enseada do Brito, em Palhoça/SC, 2009... 49

Fotografia 3 – Cerene, 2006... 50

Fotografia 4 – CRAS Caminho Novo, de Palhoça/SC, 2010... 54

Fotografia 5 – Creche Santa Terezinha do Menino Jesus de Palhoça/SC, 2010... 56

Fotografia 6 – Mapa entregue ao Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes de Palhoça, elaborado pela autora do trabalho... 58

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LISTA DE SIGLAS

APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais BPC – Benefício de Prestação Continuada

CAIC – Centro de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente CERENE – Centro de Recuperação Nova Esperança

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CRAMI – Centro Regional aos Maus-tratos na Infância CRAS – Centros de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social DTSs – Doenças Sexualmente Transmissíveis

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente FIA – Fundo da Infância e Adolescente LA – Liberdade Assistida

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social MDS – Ministério de Desenvolvimento Social

NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social NOB-RH/SUAS – Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único

de Assistência Social ONGs – Organizações Não-Governamentais

PAEFI – Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos PAIF – Programa de Atenção Integral à Família

PAS – Plano de Assistência Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

POASF – Programa de Orientação e Apoio Sócio Familiar PSC – Prestação de Serviços à Comunidade

SUAS – Sistema Único de Assistência Social Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 10

2 SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A VIOLÊNCIA E O ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS ADOLESCENTES... 12

2.1 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES... 12

2.2 A VIOLÊNCIA E O ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA PERVERSA REALIDADE... 24

3 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES... 34

3.1 O PROCESSO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES... 34

3.2 O TRABALHO EM REDE E O PROCESSO PARA A IDENTIFICAÇÃO DA REDE SOCIOASSISTENCIAL E SEU MAPEAMENTO... 45

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 60

REFERÊNCIAS... 62

APÊNDICE... 64

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1INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado da conclusão do curso de graduação em Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), a partir da experiência de estágio, realizado no período de agosto de 2008 a novembro de 2009 na Secretaria de Assistência Social no Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes do município de Palhoça - SC, hoje Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), seguindo a Resolução 109/2009, que institui nacionalmente a tipificação dos serviços socioassistenciais.

Para que a equipe de profissionais possa desenvolver um trabalho adequado de enfrentamento da violência e abuso sexual, é necessário ter uma rede socioassistencial que seja articulada e se torne parceira neste trabalho.

Este Serviço já desenvolve capacitações para profissionais da rede socioassistencial que tem contato, como escolas, centros comunitários e outros. Porém se percebe a necessidade de estar visualizando, aumentando e trazendo cada vez mais essa rede como parceira na luta ao enfrentamento da violência, abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes no município.

O Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência de sua demanda, vem aumentando o seu número de profissionais, buscando, assim, ampliar o número de atendimentos e diminuir a sua demanda reprimida. Muitos desses profissionais não residem em Palhoça e não têm conhecimento da rede socioassistencial, dificultando que os encaminhamentos sejam realizados com clareza e agilidade. Conseqüentemente, a rede socioassistencial também não conhece o trabalho do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, atualmente PAEFI, o que causa muitos encaminhamentos equivocados, prejudicando as crianças e/ou adolescentes, que acabam ficando muito tempo sem um atendimento especializado.

O presente estudo é de grande importância para o Serviço Social e para a Instituição. Permite que o profissional faça a articulação entre a teoria e a prática, tornando, assim, mais rápido os encaminhamentos e a ampliação da rede socioassistencial, pois é através de um trabalho multiprofissional e intersetorial que a violência e a exploração sexual contra crianças e adolescentes podem ser minimizadas e denunciadas.

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A partir da experiência de estágio no Serviço, realizou-se o estudo da rede socioassistencial, com o objetivo de identificar a rede do município de Palhoça e a construção de um mapa onde se possa visualizar essa rede.

Diante disso, o referido trabalho estrutura-se em dois capítulos, para que seja possível, apartir de uma análise teórica, entender a importância do trabalho em rede.

No primeiro capítulo será apresentada a Secretaria de Assistência Social e o Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, bem como seus desdobramentos em nossa sociedade.

Já no segundo capítulo, a abordagem se dará sobre o processo de trabalho do Assistente Social no Serviço e os instrumentos utilizados para a execução das atividades. Será abordada tambéma experiência de estágio realizada, juntamente com o mapeamento da rede socioassistencial do município da Palhoça-SC.

Ao final, são apresentados as considerações finais, as referências bibliográficas e os apêndices, com o documento de identificação da rede socioassistencial.

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2 SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A VIOLÊNCIA E O ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Neste capítulo será apresentada a Secretaria de Assistência Social de Palhoça, que se localiza no Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), pois ainda não foi disponibilizado um local adequado para os serviços oferecidos pelo CREAS, sendo necessária esta junção. Será apresentado também o Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, hoje conhecido como Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). A nomenclatura utilizada durante o trabalho de conclusão de curso será a anterior à Resolução 109/2009, pois esta era a nomenclatura utilizada no período de estágio, que é Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

2.1 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A Assistência Social no Município de Palhoça – SC, foi criada durante gestão do Prefeito Neri Brasiliano Ramos, no ano de 1985, conforme lei nº. 877/88. Localizada na Avenida Barão do Rio Branco, 235, Centro, a Secretaria de Assistência Social tem suas ações definidas pela Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social (NOB/SUAS), que são: a inserção, que é entendida como forma de inclusão dos destinatários da Assistência Social nas políticas sociais básicas, visando proporcionar ao usuário o acesso a bens, serviços e direitos usufruídos pelos demais segmentos da população; a prevenção, no sentido de criar programas de apoio nas situações circunstanciais de vulnerabilidade, evitando que o cidadão perca o acesso que já possui aos bens e serviços, mantendo-o incluído no sistema social a despeito de estar acima da linha de pobreza e ou atendido pelas políticas socioeconômicas setoriais; a promoção, buscandopromover a cidadania, eliminando relações clientelistas que não se pautam por direito e que submetem, fragmentam e desorganizam os destinatários da Assistência Social e a proteção, compreendida como atenção às populações

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excluídas e vulneráveis socialmente, operacionalizada por meios de ações de redistribuição de renda direta e indireta.

Um dos objetivos da Secretaria de Assistência Social é a realização de uma gestão participativa, em que todos os usuários, funcionários e técnicos possam indicar dificuldades e soluções para a melhoria na qualidade de atendimento.

Em 2005 houve a mudança da gestão municipal, e a Secretaria de Assistência Social foi desvinculada da Secretaria de Saúde, e criou-se a Secretaria de Assistência Social e Habitação, tornando-se efetivamente uma política pública. A partir de então, as ações de Assistência Social passaram a ser geridas por esta Secretaria, incluindo o Programa Sentinela.

Em 2006, a Secretaria passou por mais um processo de mudança, onde foi desvinculada da Política de Habitação, que estava agregada na mesma secretaria. Houve, então, a mudança de sede, onde todos os programas sociais municipais ficaram reunidos em um prédio central, o que possibilitou a integração da Secretaria, diretores, gerentes e funcionários, além de uma maior articulação entre os programas sociais.

Em 2007, o município de Palhoça habilitou-se na Gestão Plena do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), data em que assume total responsabilidade frente aos seus munícipes, público alvo da Política da Assistência Social. Estando na Gestão Plena, o município tem a possibilidade de receber maiores recursos do Governo do Estado e do Governo Federal, mas, em contra partida, aumenta a responsabilidade do município na execução da gestão, onde, segundo Silva (2007) deve-se prevenir situações de risco, por meio do desenvolvimento das potencialidades e aquisições, além de proteger as situações de violação de direitos ocorridas no município, responsabilizando-se pela oferta de programas, projetos e serviços que fortaleçam os vínculos familiares e comunitários e que vigiem os direitos violados no território, que potencializem a função protetiva das famílias e a auto-organização e conquista de autonomia de seus usuários.

É com grande responsabilidade que o município de Palhoça através da Política Municipal de Assistência Social, vem executando programas, projetos, serviços e benefícios destinados ao atendimento à população em situação de vulnerabilidade social e/ou risco social, seja através de rede própria ou conveniada.

Nesse sentido, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) está percorrendo outros caminhos, ocupando seus espaços e tentando alcançar metas que tendem a garantir os direitos dos cidadãos, preconizados em leis e pautados na perspectiva da PNAS e com a implantação do SUAS.

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O SUAS é o conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios prestados por Organizações Governamentais e Organizações Não-Governamentais (ONGs). O SUAS define e organiza os elementos essenciais e imprescindíveis à execução da política pública de assistência social, possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento aos usuários, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede prestadora de serviços socioassistenciais.

Dentre os princípios organizativos do SUAS, estão: a matricialidade, que é o reconhecimento da importância da família na vida social e como merecedora de proteção do Estado e da sociedade. A família deve ter acesso a condições para responder a seu papel no sustento, na guarda e na educação de suas crianças, adolescentes, bem como na proteção de seus idosos e portadores de deficiência; a territorialização, que é a divisão do município por territórios, ou seja, por regiões estratégicas. Isso é contribuir para que os serviços socioassistenciais cheguem até as famílias que estão em situação de risco, no território ou região onde ela reside; e o co-financiamento, onde as entidades da sociedade civil integram o SUAS, pois são consideradas entidades complementares dos serviços socioassistenciais e, portanto, também responsáveis pela execução da política de Assistência Social. Nesse sentido, o Estado deve complementar, ou seja, financiar as entidades sociais na prestação dos serviços.

Esses princípios fortalecem a relação de parceria e de responsabilidade da Sociedade e do Estado, sendo este o responsável pela Política de Assistência Social dos Municípios.

As ações e serviços de Assistência Social estão divididos em duas categorias de atenção ao cidadão: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e de Alta Complexidade. Esta divisão foi definida em 2004, na PNAS que organiza programas, serviços, projetos e benefícios socioassistenciais de acordo com a complexidade do atendimento e, a partir de então, todos os Municípios da Federação deverão reordenar suas ações de Assistência Social.

A Rede de Proteção Social Básica tem como objetivo prevenir situações de risco, por meio do desenvolvimento de potencialidades, aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social, decorrentes da pobreza, ausência de renda e sem acesso aos serviços públicos.

A Rede de Proteção Social Básica funciona no espaço físico dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), por intermédio de: Projetos de Inclusão Produtiva e Projetos de Enfrentamento a Pobreza (projetos de geração de renda); Centros de Atendimento

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à Pessoa Idosa, Criança e Adolescente; Benefício de Prestação Continuada (BPC), para pessoa idosa acima de 65 anos, e pessoas portadoras de deficiência que não possuem renda.

A Rede de Proteção Social Especial tem por referência a ocorrência de situações de risco ou violação de direitos. Esta é direcionada às pessoas que já estão em situação de risco: abandono, crianças e adolescentes em situação de trabalho, em medidas sócio-educativas, que sofreram abuso e/ou exploração sexual, maus tratos. São serviços que requerem acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas. Da mesma forma, comportam encaminhamentos monitorados, apoios e processos que assegurem qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada. Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de garantia de direito, exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo. Esse serviço envolve a proteção social especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade.

São considerados serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiares e comunitários não foram rompidos. Neste sentido, requerem maior estruturação técnico-operacional e atenção especializada e mais individualizada, e/ou de acompanhamento sistemático e monitorado. O CREAS deve se constituir como pólo de referência, coordenador e articulador da proteção social especial de média complexidade.

São considerados serviços de Proteção Social Especial de Alta Complexidade aqueles que oferecem atendimento às famílias e indivíduos com uma grave violação de direitos, sem vínculos familiares e comunitários, e se inscrevem na necessidade de proteção integral aos seus usuários. Serviços para indivíduos que, por uma série de fatores, não contam mais com a proteção e o cuidado de suas famílias.

A Rede de Proteção Social Especial funciona por intermédio de: Serviços de orientação e Apoio Sócio-Familiar; Plantão Social; Abordagem de Rua; Cuidado no domicilio; Serviços de Habilitação e Reabilitação de pessoas com deficiência, na comunidade; medidas sócio-educativas em meio aberto; Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA), previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Através da Constituição Federal de 1988, foi aprovada a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispôs sobre o ECA, que substituiu o Código de Menores de 1979, trazendo garantia de direitos à população infanto-juvenil, impondo a atuação do Estado de forma preventiva, garantindo à criança e ao adolescente condição para desfrutar de direitos sociais, morais, passando a ser concebidos como sujeito-cidadão.

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A partir do ECA, a atenção para com a infância e adolescência desprotegida levou o Estado a criar ações específicas de cuidado com esses sujeitos, bem como ações de enfrentamento das violências que adulteram o seu desenvolvimento. Para viabilizar as ações previstas, tornou-se necessário descentralizar o poder de execução das ações e compartilhar com todos os municípios os recursos destinados a esse fim.

Desta forma, a legislação determinou que cada município instalasse os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em parceria com outras organizações da sociedade civil. A partir dessas regulamentações, foram instalados os Conselhos Tutelares, distribuídos em todos os municípios brasileiros. Além dos Conselhos Tutelares, outros programas também foram criados, visando à efetivação das garantias dos direitos das crianças e dos adolescentes consideradas em situação de risco.

No ano de 2000, o Ministério da Previdência Social e Assistência Social, através da Secretaria do Estado, lançam o Programa Sentinela. Conforme orientações do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), este programa deveria ficar localizado junto com o CREAS, pois este se constitui numa unidade pública estatal, de prestação de serviços especializados e continuados a indivíduos e famíliascom seus direitos violados, promover a integração de esforços, recursos e meios para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar a ação para os seus usuários, envolvendo um conjunto de profissionais e processos de trabalhos que devem ofertar apoio e acompanhamento individualizado e especializado. Atualmente, a realidade é outra, pois se situa no mesmo prédio da Secretaria de Assistência Social.

Segundo o MDS (2009, p.49),

é possível a instalação do CRAS em espaços compartilhados, respeitadas as exceções constantes do destaque acima, desde que sejam tomadas providências que assegurem a identidade da unidade, tais como a presença de uma entrada exclusiva para acesso ao CRAS, garantia e exclusividade dos ambientes destinados à oferta do Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) e de sua função de gestão local da rede socioassistencial da proteção social básica e a identificação adequada do CRAS, de forma a manter o caráter público e de vínculo da unidade ao SUAS.

Nesta perspectiva, o CREAS deve articular os serviços de média complexidade e operar a referência e a contra-referência com a rede de serviços socioassistenciais da proteção social básica e especial com as demais políticas públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitose movimentos sociais. Para tanto, é importante estabelecer mecanismos de articulação permanente, como reuniões, encontros ou outras instâncias para discussão, acompanhamento e avaliação das ações, inclusive as intersetoriais.

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O CREAS deve ofertar atenções na ocorrência de situações de risco pessoal e social por ocasião de negligência, abandono, ameaças, maus tratos, violência física / psicológica / sexual, discriminações sociais e restrições à plena vida com autonomia e exercício de capacidades, prestando atendimento prioritário a crianças, adolescentes e suas famílias.

Em situações de violência sexual, o CREAS deve desenvolver um conjunto de procedimentos técnicos especializados para atendimento e proteção imediata às crianças e aos adolescentes abusados ou explorados sexualmente, assim como seus familiares. Deve proporcionar-lhes condições para o fortalecimento da sua auto-estima e o restabelecimento de seu direito à convivência familiar e comunitária.

O Serviço deve buscar, no processo de composição e articulação da rede local, alternativas para atendimento e o acompanhamento dos autores de agressão sexual contra crianças e adolescentes, concomitantemente aos encaminhamentos que devem ser conduzidos pelas áreas de segurança pública e justiça, para efetivar a responsabilização criminal daqueles. As ações devem ser desenvolvidas, tendo como referência as garantias constitucionais, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a PNAS, a NOB/SUAS, o ECA e o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, cujos conteúdos preconizam a proteção social e a defesa de direitos, a prevenção de riscos, a mobilização da sociedade e o desenvolvimento do protagonismo social. O atendimento psicossocial e jurídico deve utilizar procedimentos individuais e grupais

No município de Palhoça, o Programa Sentinela foi implantado em setembro de 2001. Sua natureza é de ordem pública e foi criado para atender à determinação da Constituição Federal de 1988; do ECA (1990); da LOAS, e faz parte do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

Após o Município ser contemplado com a habilitação pelo Governo Federal, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e da Família realizou orientações para concretizar a contratação dos profissionais exigidos pelo Ministério. Eles deveriam formar a equipe multiprofissional do programa, bem como formular o projeto técnico que deveria nortear as ações, com base na Política Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual Infanto-Juvenil.

Dentre as orientações repassadas por essas instâncias, o que chamou a atenção é que o profissional a ser contratado não necessitaria ser capacitado para o atendimento frente ao fenômeno, pois a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e da Família realizaria esta capacitação. Quando questionado como foram capacitados os profissionais que

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implantaram o programa no município, detectou-se que não houve nenhuma capacitação feita pelo Ministério e nem pelo Estado, para os profissionais, desde a implantação do programa.

É fundamental que os municípios, quando da elaboração do Plano de Assistência Social (PAS), que é plurianual, incluam capacitações para todos os programas, bem como sejam alocados recursos.

A primeira equipe foi contratada em setembro de 2001, por seis meses, por intermédio de uma ONG, e era composta por um Assistente Social, um Psicólogo e um Pedagogo. Eles estruturaram o projeto de setembro a dezembro, e neste último mês iniciaram os atendimentos ao público-alvo. O objetivo geral, conforme as orientações do documento Estadual de 2001, era realizar um conjunto de ações de assistência social, de natureza especializada, destinado ao atendimento dos casos identificados de abuso e/ou exploração sexual de crianças, adolescentes, e de suas famílias. Possuíam, como prerrogativa, o atendimento de 50 casos.

Após esse período, no ano de 2002, a Prefeitura Municipal de Palhoça, através da Secretaria Municipal de Saúde e Desenvolvimento Social, realizou um Processo Seletivo para contratação de profissionais para o Centro de Atenção Psicossocial e Programa Sentinela, sem nenhum requisito de capacitação específica. A forma de contratação estabelecida foi contrato regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com duração de dois anos.

Muitos foram os entraves para o desenvolvimento do projeto. Inicialmente, os profissionais foram alocados em uma sala do Centro de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC). Não possuíam ramal telefônico específico e tinham acesso ao carro para realizar visitas domiciliares esporadicamente. Ao ser contratada a segunda equipe, o programa se mudou para o centro do Município, e se estabeleceu nas dependências do Programa de Orientação e Apoio Sócio-Familiar (POASF). Em relação aos equipamentos, continuavam sem mobiliário e computador. Quanto à utilização do carro, fixou-se em dois dias por semana para atendimento do Programa.

Aos poucos houve a estruturação das instalações e, em meados de 2003, o Fundo da Infância e Adolescente (FIA) disponibilizou recurso para compra do mobiliário. Em 2004, já com o mobiliário adquirido, o Programa Sentinela continuava a dividir o espaço e utilizar o computador do POASF. Nesse mesmo ano, o Governo Federal publicou o Decreto nº 5.085, de 19 de maio de 2004, definindo as ações continuadas da Assistência Social, onde o Programa Sentinela estava incluso.

Assim, o Programa Sentinela ficou estruturado com três salas: uma, para atendimento psicológico, uma, para recepção e uma para atendimento social e pedagógico.

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Foram adquiridos materiais para o atendimento psicológico, um computador e impressora, uma televisão, um DVD e um micro-system. Até novembro de 2006, a equipe continuava sendo mínima, contando com uma Assistente Social, uma Psicóloga e uma Pedagoga.

Em janeiro de 2007, a coordenação do Programa foi informada que a nomenclatura do referido Programa passaria a se denominar Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, seguindo o novo reordenamento da PNAS e o SUAS.

Em novembro de 2009 houve um novo reordenamento da Política, passando o Serviço a se chamar PAEFI.

O PAEFI é o serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das famílias diante do conjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou as submetem a situações de risco pessoal e social.

O atendimento fundamenta-se no respeito à heterogeneidade, potencialidades, valores, crenças e identidades das famílias. O serviço articula-se com as atividades e atenções prestadas às famílias nos demais serviços socioassistenciais, nas diversas políticas públicas e com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. Deve garantir atendimento imediato e providências necessárias para a inclusão da família e seus membros em serviços socioassistenciais e/ou em programas de transferência de renda, de forma a qualificar a intervenção e restaurar o direito. Este atendimento imediato ainda não foi alcançado, pois consta no Serviço uma demanda reprimida, aguardando para ser atendida. Esta espera por atendimento, muitas vezes passa de um ano. Os casos que vêm encaminhados do Ministério Público, quando possível, têm atendimento imediato, por se tratar de situações extremas e/ou que já estão em julgamento.

Dentre os objetivos do PAEFI estão:

• Contribuir para o fortalecimento da família no desempenho de sua função protetiva; • Processar a inclusão das famílias no sistema de proteção social e nos serviços

públicos, conforme as necessidades;

• Contribuir para restaurar e preservar a integridade e as condições de autonomia dos usuários;

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• Contribuir para a reparação de danos e da incidência de violação de direitos, e • Prevenir a reincidência de violações de direitos.

Com este novo reordenamento, espera-se contribuir para a redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidências; que se tenha orientação e proteção social para as famílias e indivíduos; que favoreça o acesso aos serviços socioassistenciais e às políticas públicas setoriais; e que se consiga identificar as situações de violação dos direitos socioassistenciais e a melhoria da qualidade de vida das famílias.

No período de dois anos, o nome do inicialmente Sentinela foi alterado duas vezes, o que exige uma contínua qualificação teórica e técnica.

O Serviço de Enfrentamento à Violência, Exploração e Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes está incluído na rede de Proteção Social Especial de Média Complexidade.

Por se tratar de um serviço de ação continuada, cada município deve assumir uma equipe de profissionais através de concurso público, bem como definir a metodologia e a demanda dos atendimentos deste Serviço. Porém, ainda não foi realizado o concurso, sendo os profissionais todos contratados.

A população atendida é de crianças de 0 a 12 anos incompletos, e adolescentes de 12 a 18 anos, vitimizados pela violência sexual, bem como as suas famílias.

O objetivo geral do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes é oferecer atendimento e acompanhamento psicossocial às famílias vítimas de violência e exploração sexual infanto-juvenil, encaminhadas pelo Conselho Tutelar do Município de Palhoça, bem como atuar na prevenção de novos casos. Os objetivos específicos propõem:

a) garantir assistência social básica às famílias atendidas neste serviço; b) garantir atendimento psicológico sistemático às famílias;

c) garantir atendimento pedagógico sistemático às crianças e adolescentes; d) propiciar atendimento psicossocial individual e/ou familiar;

e) promover um espaço de reflexão em grupo com as famílias atendidas no Serviço, visando à superação das situações de conflito em comum;

f) articular ações junto aos programas governamentais existentes no Município, buscando encaminhamento e orientação, de acordo com a necessidade de cada caso; g) desenvolver ações sociais especializadas de atendimentos através da rede de proteção

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que permitem construir, em um processo coletivo, a garantia do direito à convivência familiar e comunitária, em condições dignas de vida;

h) realizar levantamento estatístico e análise dos dados;

i) garantir a qualificação continuada dos profissionais envolvidos no atendimento social às crianças e adolescentes vitimados sexualmente;

j) contribuir para o fortalecimento de ações coletivas de enfrentamento do abuso e da exploração de crianças e adolescentes;

k) sensibilizar e mobilizar a comunidade sobre a importância da notificação dos casos de exploração sexual infanto-juvenil;

l) capacitar profissionais que atuam na área da infância e juventude do Município, para compreensão, identificação e notificação dos casos de violência e exploração sexual; m) conscientizar os profissionais da área da infância e juventude sobre a importância da ação interdisciplinar e interinstitucional, estabelecendo um trabalho em rede. (Projeto Técnico do Serviço Sentinela, Palhoça, 2006).

O Serviço atende a uma demanda de 60 famílias, sendo 30 famílias por profissional. A equipe técnica é formada por duas Assistentes Sociais, duas pedagogas; três psicólogas, sendo que uma é a coordenadora do Serviço; uma recepcionista, e também conta com o trabalho de estagiários (as) de Serviço Social.

Fotografia 1: Equipe do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

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O Serviço recebe verba da Prefeitura local, para pagar os funcionários, e verba do Governo Federal, para as demais despesas, como: infra-estrutura adequada, material, carro para visitas, computadores e móveis, entre outros.

O Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes conta com três salas de atendimento, uma sala de espera, uma sala com mesas e cadeiras para os profissionais, onde também são realizadas as reuniões; três computadores, um telefone, uma TV, um DVD e uma sala cedida pela escola Profissional de Palhoça para a realização das reuniões dos grupos.

O Serviço oferece, aos usuários, vale transporte, cesta básica, cursos profissionalizantes e encaminha-se para o emprego e renda quando necessário, viabilizando acesso ao primeiro emprego para os adolescentes. O repasse dos benefícios é feito de forma universal. Somente a cesta básica possui restrição, pois o Serviço recebe uma quantidade mensal de apenas 15 cestas, repassando para as famílias que se encontram em uma vulnerabilidade social de emergência.

Para a realização do atendimento são necessários alguns critérios, tais como: priorização da idade: crianças com menor idade possuem menos chances de defesa; gravidade da notificação; criança e/ou adolescente que apresenta problemas de saúde em decorrência do abuso e criança e/ou adolescente que não está protegido, podendo ocorrer a revitimização.

Os principais projetos que o Serviço desenvolve são:

• Projeto de Fortalecimento da Rede de Proteção, que tem como objetivo promover a formação e potencializar a mobilização dos segmentos envolvidos na proteção de crianças e adolescentes que se encontram em situações de violência e exploração sexual;

• Grupo de Mães, que tem como objetivo disponibilizar às mães um espaço de discussão e elaboração das questões referentes ao abuso sexual vivenciado, com intuito de fortalecer a capacidade de proteção materna;

• Grupo de Adolescentes, que objetiva disponibilizar um espaço de reflexão, bem como promover discussões educativas, aumentando o repertório de enfrentamento dos adolescentes, frente ao abuso, prevenindo a revitimização e o

• Grupo de Crianças, que tem como objetivo proporcionar às crianças atendidas pelo Serviço através de ações sócio-educativas e um trabalho terapêutico, um espaço harmonioso, onde poderão falar de seus sentimentos,

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contar histórias, ouvir músicas, diminuindo, assim, as sequelas sofridas pelo abuso, e elevando a sua auto-estima.

Segue abaixo o fluxograma do Serviço, para melhor visualização das ações desenvolvidas:

Figura 1 – Fluxograma do serviço.

Fonte: Equipe do Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 2006.

Este fluxograma foi elaborado pela equipe técnica do referido Serviço, a fim de viabilizar direitos através do atendimento especializado de uma equipe multidisciplinar, bem como fazer com que as crianças, os adolescentes e as famílias possam usufruir de um espaço de apoio, prevenção e orientação.

SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E A

EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Demanda Reprimida Acolhimento Atendimento Pedagógico Atendimento Psicológico Estudo de Caso

Planejamento das Ações

Desligamento

Atendimento Social

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Esse processo pôde ser acompanhado no período de estágio curricular obrigatório na Instituição. No próximo capítulo abordaremos mais sobre o abuso sexual infantil.

2.2 A VIOLÊNCIA E ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA PERVERSA REALIDADE

A violência é uma forma de dominação, que trata o ser humano não como sujeito, mas como objeto. Se esta violência for praticada por pais, parentes ou responsáveis, implica na transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro lado, a negação ao direito da criança e do adolescente de ser tratado como sujeito de direito e em condições peculiar de desenvolvimento.

Conforme o art. 5º do ECA:

Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Esses direitos devem ser garantidos não só pela família, bem como por toda a sociedade civil.

Ainda conforme o ECA, em seu art. 4º, cabe ao Estado, à família e à sociedade assumirem a responsabilidade de garantir os direitos das crianças e adolescentes, priorizando a permanência destes no contexto familiar e comunitário.

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

O Estatuto reafirma, em seu artigo 19º, a importância da convivência da criança ou adolescente dentro do âmbito familiar e relação comunitária:

Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

Se no seio familiar a criança ou adolescente não encontra tais condições necessárias para o pleno desenvolvimento e proteção, o Estado deve intervir e prover através de políticas públicas, de modo a que assegure os direitos deles. No entanto, esses direitos são

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violados, muitas vezes, até mesmo pela própria sociedade e pelo Estado. Desta forma, pode-se perceber o grande aumento no número das denúncias realizadas sobre abuso sexual infantil, que se constitui em uma das mais graves formas de violação de direitos humanos.

Segundo o Guia Escolar da Rede de Proteção à Infância, de 2004, a violência sexual consiste não só numa violação à liberdade sexual do outro, mas também numa violação dos direitos humanos da criança e do adolescente, e é praticada sem o consentimento da pessoa vitimizada.

Para Azevedo e Guerra (1988-1989 apud CRAMI, 2005, p. 17):

a violência se caracteriza por “todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter estimulação sexual sobre a sua pessoa ou de outra pessoa.

Trata-se de um acontecimento frequente, que costuma acontecer em escolas, creches e lares grupais, onde adultos que cuidam das crianças aproveitam-se da diferençade idade, do poder, da autoridade ou da força para praticar essa violência. O Abuso Sexual pode ocorrer tanto com as meninas, como com meninos, porém o número de meninas que sofrem esta violência ainda é maior. O abuso sexual pode ser de forma intrafamiliar ou extrafamiliar.

O abuso sexual intrafamiliar ocorre no âmbito familiar, quando existe um laço afetivo entre o abusador e a vítima. Esta forma de abuso está envolta em segredo, devido ao envolvimento dos atores na relação consanguínea, e muitas vezes com a complacência de outros membros da família. Nesta forma de abuso, o abusador é muitas vezes “perdoado” pela família, por razões culturais e autoritárias, causando a impunidade do abusador. Os abusadores podem ser reincidentes, não se restringindo a vitimização de apenas uma pessoa, e acabam abusando de mais de um membro da família. Pode ocorrer nesta forma de abuso, que a criança ou o adolescente fuja de casa, sendo esta a única maneira de interromper a violência perpetrada. Conforme Pizá e Barbosa (2004, p.93): “a mãe muito raramente aparece como agressora, mas é comum sua participação passiva, consentindo silenciosamente pelo medo da desestruturação da unidade familiar, ou por temor às ameaças do cônjuge”.

A família incestogênica apresenta as seguintes características: manifestação inadequada de afeto, onde o afeto é realizado de forma erotizada; comunicação empobrecida; isolamento social, pois evitam as relações exteriores e tem pouca participação na vida escolar; insatisfação conjugal; inversão dos papéis familiares, onde os filhos acabam assumindo as funções de cuidado e proteção, e a negação do abuso, quando descoberto.

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Cabe ressaltar que quando o abuso intrafamiliar é diagnosticado, a criança ou adolescente acaba sendo re-vitimizada. Afinal, o agressor pode ser aquele que provém o sustento do lar. Sendo assim, a família poderá sofrer dificuldades financeiras e culpabilizar a criança e/ou adolescente por tal acontecimento. Quando o abuso sexual é perpetrado pelo genitor/padrasto e diagnosticado durante os atendimentos, através da verbalização, dos indicadores e comportamento da criança – sendo necessário o afastamento deste genitor/padrasto do lar, com a conseqüente separação do casal –, a criança também pode ser considerada “culpada”.

Diante do exposto, Ballone (2003) elucida que, se o abusador é um familiar, a situação é bastante difícil para a criança e para demais membros da família. Embora possam existir fortes conflitos e sentimentos sobre o abusador, a proteção da criança deve continuar sendo a prioridade.

O abuso sexual extrafamiliar ocorre fora do âmbito familiar. Na maioria das vezes é alguém que a criança conhece e confia.

O agressor usa da relação de confiança e/ou poder que tem com a criança ou adolescente para se aproximar cada vez mais, praticando atos que a vítima considera inicialmente como de demonstrações afetivas e de interesse. Essa aproximação é recebida, a princípio, com satisfação pela criança, que se sente privilegiada pela atenção recebida.

A violência sexual é muito difícil de ser descoberta, pois o abusador usa de todo um jogo de conquista e ameaça com a vítima, oferecendo presentes, ameaçando-a de morte ou de matar alguém da família, caso ela conte. Por isso, quase sempre acaba convencendo a criança a participar desses tipos de atos por meio de persuasão, recompensas ou ameaças. A criança e/ou adolescente só revela o “segredo” quando confiam em quem possa ajudá-los, ao se sentirem apoiados.

De acordo com Pizá e Barbosa (2004, p.65): “os segredos são silenciosos, mas têm efeitos, ocupam espaço, têm forma, provocam deslocamentos, são mais poderosos do que as palavras, e deixam pistas”.

O abuso sexual pode acontecer sem contato físico ou com contato físico. Sem contato físico pode ocorrer através de telefonemas obscenos, pornografia, exibicionismo – que é a tendência de exibir os órgãos sexuais sem a relação sexual – e o voyeurismo, que é uma prática que consiste num indivíduo conseguir obter prazer sexual através da observação de outras pessoas.

Com contato físico são atos físicos que incluem carícias nos órgãos genitais, tentativa de relações sexuais, masturbação, sexo oral, penetração vaginal e anal.

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A exploração sexual é considerada um abuso sexual, que vem somado à exploração e obtenção de lucro ou outro benefício sobre uma criança ou adolescente. A criança e/ou adolescente é tratada como objeto sexual ou mercadoria.

A exploração sexual comercial contitui uma forma de coerção e violência contra crianças e adolescentes, que pode implicar no trabalho forçado e formas contemporâneas de escravidão. São exemplos: pornografia, turismo sexual, prostituição e o tráfico para fins sexuais.

A pedofilia também pode ser considera uma forma de abuso sexual, pois:

é uma parafilia, na qual o objeto de preferência erótica é uma criança em idade pré-púbere e envolve a presença de fantasias sexuais intensas e recorrentes, durante um periodo minino de pelo menos seis meses. Tais fantasias, impulsos ou comportamentos devem ser fortes o suficiente para causarem prejuízo no social, ocupacional ou sofrimento clinicamente significativo (PIZÀ e BARBOSA, 2004, p. 106).

Existem vários mitos em relação à violência sexual contra crianças e adolescentes, que podem dificultar a identificação do abuso e também do agressor, tais como: achar que o abusador é psicopata, tarado, depravado sexual, homem mais velho ou alcoólatra, homossexual ou deficiente mental, sendo que os crimes sexuais são praticados em todos os níveis socioeconômicos, religiosos e étnicos.

A maioria dos agressores são heterossexuais, pessoas aparentemente normais e queridas pelas crianças e pelos adolescentes e tem uma conduta moral que faz dele uma pessoa não suspeita.

O estranho é considerado um indivíduo perigoso, porém em 85% a 90% dos casos, os abusos ocorrem por pessoas que a criança e/ou adolescente conhece, o que não significa que se deve descuidar. Quando o perigo não está dentro de casa, nem na casa do amiguinho, ele pode rondar a creche, o transporte escolar, as aulas de natação do clube, o consultório do pediatra de confiança e, quase impossível acreditar, pode estar nas aulas de catecismos da paróquia. Portanto, o mais sensato será acreditar que não há lugar absolutamente seguro contra o abuso sexual infantil.

Segundo um artigo realizado pelo ABC da Saúde, a grande maioria dos abusadores é de homens, mas suspeita-se que os casos de mães abusadoras sejam sub-diagnosticados. Existem 4 faixas etárias de abusadores: jovens até 18 anos de idade, que aprendem sexo com suas vítimas; adultos de 35 a 45 anos de idade, que molestam seus filhos ou os de seus amigos ou vizinhos; pessoas com mais de 55 anos de idade, que sofreram algum estresse ou alguma perda por morte ou separação, ou mesmo com alguma doença que afete o

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Sistema Nervoso Central. E aqueles que não importam a idade, ou seja, aqueles que sempre foram abusadores por toda uma vida.

As causas do abuso são variáveis. O molestador geralmente justifica seus atos, racionalizando que está ofertando oportunidades à criança de desenvolver-se no sexo, ser especial e saudável, inclusive praticando sexo com a permissão desta. Pode envolver-se afetivamente e não ter qualquer noção de limites entre papéis ou de diferenças de idade.

As pessoas tendem a duvidar da criança, não acreditando na sua história. Raramente a criança e/ou adolescente mente. Eles não contam a verdade em virtude das ameaças.

Segundo Farinatti (1993, p. 121):

A criança nunca, ou quase nunca, é capaz de fantasiar um ato sexual, é mais provável que esta venha a mentir, após a revelação, sobre a não ocorrência do abuso devido às consequências advindas desta, carregando sozinha a verdade e ainda sendo culpabilizada pela “mentira”.

Apenas 6% dos casos são fictícios e, nesses casos, são crianças/adolescentes que objetivam alguma vantagem ou são induzidos por pessoas que nutrem algum afeto.

Muitas pessoas acham que, se uma criança ou adolescente “consente” o abuso, é porque deve ter provocado. A responsabilidade pelo abuso sexual é do adulto, qualquer que seja a forma por ele assumida.

Acredita-se que as vítimas de abuso sexual são oriundas de famílias de baixo nível socioeconômico, sendo que níveis de renda familiar e de educação não são indicadores de abuso sexual, pois os crimes sexuais são praticados em todos os níveis socioeconômicos. A pobreza não pode ser considerada causa de abuso, mas constitui uma situação de risco. Nas famílias de baixa renda, o assunto se espalha com mais facilidade e as pessoas acabam sendo atendidas nos programas sociais. As famílias que têm um poder aquisitivo maior, tendem a não deixar este assunto “vazar” para a sociedade, contratando profissionais de sua confiança. E quando o abuso é intrafamiliar, torna-se mais difícil ainda a denúncia.

É importante que a criança, bem como as outras pessoas envolvidas no abuso, recebam atendimento, pois em algum momento estas inquietações virão à tona, causando mais complicações e possivelmente tornando esta criança ou adolescente um abusador. Devido ao fato da criança muito nova não estar preparada psicologicamente para o estímulo sexual, acaba desenvolvendo problemas emocionais/comportamentais depois da violência sexual, exatamente por não ter habilidade diante desse tipo de estimulação. A criança/adolescente, mesmo conhecendo e apreciando a pessoa que a abusa, se sente profundamente conflitante

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entre a lealdade para com essa pessoa e a percepção de que essas atividades sexuais estão sendo terrivelmente más.

O agressor também deve ser encarado como vítima, isto é, necessita também de um tratamento psicoterápico, o que não significa retirar sua responsabilidade no abuso. Ele deve passar por todo o processo jurídico e suas consequências, tornando o tratamento do abusador mais complexo.

De acordo com Pizá e Barbosa (2004, p. 134):

Nem sempre a intolerância social, quanto aos crimes sexuais praticados com crianças/adolescentes, ocorreu na nossa sociedade. Passou, entretanto, a ter um real destaque quando os infanto-juvenis conquistaram o status sócio-jurídico de sujeitos de direitos e, portanto, merecedores de respeito à condição peculiar de desenvolvimento.

A criança violentada emite diversos sinais que possibilitam a identificação da violência. Os indicadores de violência física mais comuns são: difuculdade de caminhar; infecções urinárias; secreções vaginais ou penianas; baixo controle dos esfíncteros; pode apresentar Doenças Sexualmente Transmissíveis (DTSs); enfermidades psicossomáticas; roupas rasgadas ou com mancha de sangue; dor ou coceira na área genital ou na garganta; dificuldade para urinar ou deglutir; edema e sangramento da genitália externa, regiões vaginal ou anal; edema na região vaginal, anal ou peniana; alargamento vaginal; sêmem ao redor da boca, dos genitais ou na roupa, e odor vaginal ou corrimento.

Os indicadores de comportamento mais comuns são: medo ou pânico de certa pessoa ou sentimento generalizado de desagrado quando a criança é deixada sozinha com alguém; medo do escuro ou de lugares fechado; alternância súbita e extrema de humor; regressão a estágios de desenvolvimento anterior; tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica; comportamento destrutivo/autoflagelação; baixo nível de auto-estima e excessiva preocupação em agradar os outros; vergonha excessiva, inclusive de mudar de roupa na frente de outras pessoas; sentimento de culpa; ansiedade, comportamento tenso, sempre em estado de alerta, fadiga; comportamento agressivo e raivoso; prática de delitos; tendências suicidas; fugas constantes de casa; tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e companheiros; relacionamento entre crianças e adultos com ares de segredo e exclusão dos demais; dificuldade de confiar nas pessoas à sua volta, e estresse, que pode desencadear hipertensão arterial, úlcera, infecção e atrofia cerebral. Para Faleiros (1997), o abuso sexual deixa consequência na criança ou no adolescente, como depressão, descontrole, isolamento

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social, ansiedade, dificuldades nos estudos, problemas de concentração, sensação de estar sujo, hiperatividade, entre outros.

Os indicadores sexuais mais comuns são: comportamento sexual inadequado para sua idade; expressão de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocação; desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais e brinquedos; masturbação compulsiva; desenho de órgãos genitais com características além de sua capacidade etária e relato de avanços sexuais de adultos.

Os indicadores de hábitos, cuidados corporais e higiênicos mais comuns são: mudança de hábito alimentar; padrão de sono perturbado; aparêcia descuidada e suja; uso e abuso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas.

Os indicadores escolares mais comuns são: assiduidade e pontualidade exageradas, quando ainda frequenta a escola; queda injustificada na frequência escolar; dificuldade de concentração e aprendizagem, resultando em baixo rendimento escolar; pouca participaçãoou nenhuma participação nas atividades escolares e resistência em participar de atividades físicas.

Ao realizar o atendimento ou a abordagem à vítima e à família, é necessário tomar alguns cuidados, pois essas pessoas já chegam até ali muito fragilizadas, e qualquer intervenção equivicada do profissional pode atrapalhar o andamento do caso. O principal é acalmá-las, acolhê-las e ouvi-las. Os outros cuidados são: ter como pressuposto que a criança/adolescente são sempre vítimas; deixar claro para a criança/adolescente o motivo da conversa e como poderemos ajudá-la; ter um ambiente propício, onde não se deve permitir interrupções; usar uma linguagem simples e clara para que a criança /adolescente entenda o que está sendo dito; mostrar interesse e ganhar a confiança da criança/adolescente, antes de pedir confidências; levar a sério tudo o que a criança/adolescente falar; evitar sentimentos de “piedade” e nunca desconsiderar os sentimentos da criança/adolescente; evitar falas do tipo: “isso não foi nada”, “vai passar logo” ou “não precisa chorar”; não permitir que preconceitos e valores pessoais interfiram na abordagem; nunca culpar a criança/adolescente; e não chorar na frente da vítima.

Existem também algumas informações que são necessárias de se obter, tais como: descrição da situação de vitimização; saber como o agressor induzia a submissão da criança/adolescente; rotina e periodicidade de vitimização; se houve a presença de material pornográfico; saber se a criança/adolescente foi fotografada; se teve o uso de álcool ou drogas; quais os presentes recebidos do agressor e quantas pessoas participaram.

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Felizmente, os danos físicos permanentes como consequências do abuso sexual são muito raros. A recuperação emocional dependerá, em grande parte, da resposta familiar ao incidente.

Segundo Pizá e Barbosa (2004, p. 102):

Pode-se concluir que o acolhimento das vítimas e suas famílias, com o consequente desenvolvimento de uma relação de confiança, pode ser o primeiro passo para a superação das situações abusivas vivenciadas, seja qual for o tempo decorrido entre o abuso e a busca da assistência.

As reações das crianças ao abuso sexual diferem com a idade e com a personalidade de cada uma, bem como com a natureza da agressão sofrida. Um fato curioso é que, algumas (raras) vezes, as crianças não ficam perturbadas por situações que parecem muito sérias para seus pais. O período de readaptação depois do abuso pode ser difícil para os pais e para a criança. Muitos jovens abusados continuam atemorizados e perturbados por várias semanas, podendo ter dificuldades para comer e dormir, sentindo ansiedade e evitando voltar à escola. Em nível de traços no desenvolvimento da personalidade, o abuso sexual infantil pode estar relacionado: a futuros sentimentos de traição, desconfiança, hostilidade e dificuldades nos relacionamentos; sensação de vergonha, culpa e autodesvalorização; à baixa autoestima e à distorção da imagem corporal. Em relação a quadros psiquiátricos, o abuso sexual infantil se relaciona: com o a depressão; disfunções sexuais (aversão a sexo); quadros histéricos; dificuldade de aprendizagem; ansiedade; fobias; insônia; medo de dormir e problemas com a alimentação, como por exemplo: obesidade, anorexia e bulimia.

Há algumas medidas preventivas que os pais podem tomar, fazendo com que essas regras de conduta soem tão naturais quanto às orientações para atravessar uma rua, afastar-se de animais ferozes, evitar acidentes, etc. Se considerar que a criança ainda não tem idade para compreender com adequação a questão sexual, simplesmente explique que algumas pessoas podem tentar tocar as partes íntimas (apelidadas carinhosamente de acordo com cada família), de forma que se sintam incomodadas. Se há alguma dúvida de que algo pode estar acontecendo, deve-se procurar logo ajuda, mesmo que não se tenha certeza do abuso, pois este pode ser evitado.

Seguem-se algumas dicas de prevenção:

1. Dizer às crianças que "se alguém tentar tocar-lhes o corpo e fizer coisas que a façam sentir desconfortável, afaste-se da pessoa e conte em seguida o que aconteceu";

2. Ensinar às crianças que o respeito aos maiores não quer dizer que têm que obedecer cegamente aos adultos e às figuras de autoridade. Por exemplo, dizer que não têm que fazer

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tudo o que professores, médicos ou outros cuidadores mandarem fazer, enfatizando a rejeição daquilo que não as façam sentir-se bem;

3. Ensinar a criança a não aceitar dinheiro ou favores de estranhos;

4. Advertir as crianças para nunca aceitarem convites de quem não conhece;

5. A atenta supervisão da criança é a melhor proteção contra o abuso sexual, pois, muito possivelmente, ela não separa as situações de perigo à sua segurança sexual;

6. Na grande maioria dos casos, os agressores são pessoas que conhecem bem a criança e a família. Podem ser pessoas às quais as crianças foram confiadas;

7. Embora seja difícil proteger as crianças do abuso sexual de membros da família ou amigos íntimos, a vigilância das muitas situações potencialmente perigosas é uma atitude fundamental;

8. Estar sempre ciente de onde está a criança e o que está fazendo;

9. Pedir a outros adultos responsáveis que ajudem a vigiar as crianças quando os pais não puderem cuidar disso intensivamente;

10. Se não for possível uma supervisão intensiva de adultos, pedir às crianças que fiquem o maior tempo possível junto de outras crianças, explicando as vantagens do companheirismo; 11. Conhecer os amigos das crianças, especialmente aqueles que são mais velhos que elas; 12. Ensinar a criança a zelar de sua própria segurança;

13. Orientar sempre as crianças sobre opções do que fazer caso percebam más intenções de pessoas pouco conhecidas ou mesmo íntimas;

14. Orientar sempre as crianças para buscarem ajuda com outro adulto, quando se sentirem incomodadas;

15. Explicar as opções de chamar atenção sem se envergonhar, gritar e correr em situações de perigo.

O aumento no número de casos e denúncias realizadas se deve também ao fato de que as escolas, os hospitais e a sociedade passaram a ter mais informação e conhecimento sobre o abuso sexual, conseguindo assim identificá-lo e/ou preveni-lo. A notificação, quando ocorre um fato como este, é dever do profissional em fazê-la. Segundo o ECA, em seu art. 13, os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos devem ser obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade. O art. 245 do ECA define como infração administrativa a não comunicação de tais eventos, pelo médico, professores ou responsável por estabelecimento de saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, à autoridade competente, sujeita à multa de 3 a 20 salários de referência.

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Seja qual for o número de abusos sexuais em crianças que se vê nas estatísticas, seja quantos milhares forem, devemos ter em mente que, de fato, esse número pode ser bem maior. A maioria desses casos não é reportada, tendo em vista que as crianças têm medo de dizer a alguém o que se passou com elas. Ocorre, também, o ocultamento da família, por vergonha, por depender economicamente do abusador e por vários outros motivos. O dano emocional e psicológico, em longo prazo, decorrente dessas experiências, pode ser devastador.

Para que esse dano seja minimizado é que o Assistente Social e outros profissionais atuam nestes casos.

Veremos a seguir como é o trabalho do Serviço Social no Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescente de Palhoça.

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3 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO SERVIÇO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA, AO ABUSO E À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Neste capítulo, aborda-se a intervenção do Assistente Social e da equipe multidisciplinar no Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescente, bem como os instrumentos técnico-operativos utilizados.

3.1 O PROCESSO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Não há uma política Federal e Estadual de capacitação, relacionada ao fenômeno da violência sexual. Dessa forma, a unidade gestora do Serviço viabiliza meios para os profissionais estarem participando de congressos e seminários referentes à área de atuação e estar, assim, ampliando e aprimorando seus conhecimentos na área.

Segundo Iamamoto (2008, p. 21):

O exercício da profissão do Assistente Social é uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes e passíveis de serem impulsionadas pelo profissional.

O profissional encontra, nessa área, diversas expressões da questão social, tendo que estar preparado para o enfrentamento das mesmas e para conseguir driblar as dificuldades institucionais existentes no meio das políticas públicas.

De acordo com Lima (2004, p. 3):

A ação profissional deve ser definida como um conjunto de procedimentos, atos, atividades pertinentes a uma determinada profissão e realizadas por sujeitos/ profissionais de forma responsável, consciente, sendo ela que coloca em movimento, no âmbito da realidade social, determinados projetos de profissão que, por sua vez, implicam em diferentes concepções de homem, de sociedade e de relações sociais. Assim, a ação profissional contém tanto uma dimensão operativa, quanto uma dimensão ética, e expressa, no momento em que é realizada, o processo de apropriação que os profissionais fazem dos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico.

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