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Estressores psicológicos presentes em pacientes submetidos à neurocirurgia durante o período pré-operatório

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA FÁBIO DE PAULA MARTINS

ESTRESSORES PSICOLÓGICOS PRESENTES EM PACIENTES SUBMETIDOS À NEUROCIRURGIA DURANTE O PERIODO PRÉ-OPERATÓRIO

Palhoça 2013

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FÁBIO DE PAULA MARTINS

ESTRESSORES PSICOLÓGICOS PRESENTES EM PACIENTES SUBMETIDOS À NEUROCIRURGIA DURANTE O PERIODO PRÉ-OPERATÓRIO.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientador: Prof. Maurício Eugênio Maliska, Dr.

Palhoça 2013

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RESUMO

O presente artigo visa compreender os estressores psicológicos presentes em pacientes pré-operatórios de neurocirurgia internados em um hospital geral da cidade de Florianópolis - SC. Objetivou-se identificar os possíveis estressores psicológicos presentes na situação hospitalar pré-operatória vivenciada pelo paciente neurocirúrgico e os possíveis significados que a neurocirurgia adquire no pré-operatório para os participantes do referido estudo. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa com delineamento exploratório, em que os pacientes participantes da pesquisa foram selecionados a partir do contato com as equipes de enfermagem que forneceram informações sobre o estado dos pacientes e o tipo de intervenção cirúrgica que realizariam. Os participantes precisavam estar conscientes e aptos a responderem uma entrevista semi estruturada que foi aplicada de forma individual. Participaram do estudo oito pessoas adultas, cinco mulheres e três homens com idades entre 28 e 40 anos, que realizariam neurocirurgia eletiva e requerida. Após a coleta dos dados iniciais, foi realizado contato direto com os participantes para informá-los sobre a proposta e realizar a entrevista. Através da análise de dados foi possível identificar os seguintes estressores psicológicos presentes nesses pacientes: Ansiedade pela recuperação da saúde, Ansiedade frente a falta de informação, Ameaça a integridade física e Medo (de morrer). Os dados revelam que a ansiedade pela recuperação da saúde está intimamente ligada ao processo de hospitalização e pré-operatório. Já a ansiedade frente a falta de informação é gerada devido ao desconhecimento por parte do paciente sobre as etapas da situação hospitalar pré-operatória e associado à falta de clareza nas orientações técnicas, que não contemplam os aspectos subjetivos do paciente, colaboram para a manutenção dos estressores psicológicos hospitalares e podem indicar a defasagem na formação de profissionais da área hospitalar na prestação de um atendimento humanizado. O estressor psicológico medo (de morrer) e o estressor psicológico ameaça a integridade física, são inerentes a condição humana, e são estressores que podem ser minimizados, mas não extintos. Os significados encontrados permitiram criar duas categorias: Expectativa de melhora e Fim do sofrimento. A categoria expectativa de melhora está relacionada com a perspectiva futura, com a possibilidade de retomada da autonomia. A segunda categoria que representa um possível significado se constitui de falas que expressam o momento de espera, as incertezas que a situação hospitalar pré-operatória gera, o incomodo da dor e a possibilidade de por fim a enfermidade. Este estudo pode suscitar reflexões sobre as formas de atuação que possibilitem a inserção do

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profissional psicólogo quanto a sua intervenção tanto com a equipe quanto com o paciente na tentativa de minimizar os estressores psicológicos encontrados.

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LISTA DE FIGURAS

Quadro 1: Categorias de Estresse Psicológico ... 17 Quadro 2: Estressores Psicológicos presentes nos pacientes no pré-operatório ... 22 Quadro 3 – Significado da neurocirurgia para pacientes no pré-operatório ... 29

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ... 7 1.1 OBJETIVOS ... 10 1.1.1 Objetivo Geral ... 10 1.1.2 Objetivo Específico ... 10 2.REFERÊNCIAL TEÓRICO ... 11 2.1 PSICOLOGIA HOSPITALAR ... 11 2.2 CONCEITO DE ESTRESSE ... 13

2.3 FATORES ESTRESSORES NO HOSPITAL GERAL ... 15

2.4 PERÍODO PRÉ-CIRÚRGICO ... 17

2.5 NEUROCIRURGIA ... 18

3. MÉTODO ... 19

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 21

4.1 ESTRESSORES PSICOLÓGICOS PRESENTES EM PACIENTES NO PRÉ-OPERATÓRIO ... 21

4.1.1 Ansiedade pela recuperação da saúde ... 23

4.1.2 Ansiedade frente à falta de informação ... 24

4.1.3 Ameaça à integridade física ... 26

4.1.4 Medo (de morrer) ... 27

4.2 SIGNIFICADO DA NEUROCIRURGIA PARA PACIENTES NO PRÉ- OPERATÓRIO ... 28

4.2.1 Expectativa de Melhora ... 29

4.2.2 Fim do sofrimento ... 30

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 31

APÊNDICE ... 39

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista para coleta de dados ... 40

ANEXO ... 41

ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 43

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1. INTRODUÇÃO

Compreender a percepção de pacientes sobre possíveis estressores psicológicos existentes no pré-operatório de neurocirurgia envolve aspectos relacionados à hospitalização e a situação hospitalar pré-operatória. Leituras complementares sobre psicologia hospitalar, sua área de intervenção, políticas de inclusão e prática com atendimento breve e focal são fundamentais para começarmos a pensar sobre a atuação do Profissional Psicólogo nestes lugares que envolvem os aspectos acima citados.

A Psicologia Hospitalar é uma área de atuação que passa a dialogar com o saber médico na medida em que ocorre ampliação dos conceitos de psicologia clínica e saúde. A ampliação do conceito de saúde e as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde fogem às leis biológicas, obrigando a inclusão de outros profissionais na área médica, para que junto com o médico possam dividir a responsabilidade e construir uma visão sobre a saúde do paciente.

O psicólogo ao dialogar com a área da medicina passa a contribuir com modelo médico em relativizar as práticas de categorização que estabelecem formas de relação fragmentadas com o paciente. O ponto de contato entre paciente e equipe médica ocorre por intermédio da enfermidade e não por intermédio do enfermo.

Já se sabe que a característica do procedimento médico a ser sofrido pelo paciente afeta o estado emocional do mesmo. Pensar na Neurocirurgia e nos procedimentos por ela realizado possibilitará compreender o imaginário que se constitui nos pacientes neurocirúrgicos.

O paciente neurocirúrgico sofre uma ruptura com os laços familiares e com o cotidiano. A rotina hospitalar afeta consideravelmente as pessoas internadas e aqueles que os acompanham. Para as pessoas internadas são impostas roupas típicas do hospital e sua vida é confiada a estranhos. Perde-se o convívio do lar, a privacidade e a liberdade, o ambiente hospitalar exige adaptação rápida e o paciente não tem mais a mesma referência com o mundo externo ao hospital e abdica de sua autonomia (AMIN, 2001).

A hospitalização é fruto do processo de internação que atravessa o paciente e se estende aos laços familiares. É um fenômeno psicológico hospitalar gerador de estressores psicológicos de diversas ordens. Os estressores psicológicos hospitalares nas literaturas disponíveis são relacionados ao ambiente, a limitação física e ao processo de readaptação frente a uma nova realidade. Os estressores hospitalares que mais aparecem contribuindo para

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o estresse psicológico são: a estrutura física, a movimentação de pessoas estranhas, a distância dos familiares e lar, a presença de equipamentos estranhos, dor, sono interrompido, a perda do controle sobre si, movimentos limitados devido aos acessos venosos, tubos no nariz, boca ou em outra parte do corpo, a falta de informação sobre o tratamento, desorientação e privações de diversas ordens (BITENCOURT, NEVES, DANTAS et al, 2007; STUMM et al, 2008; SOUZA e SOUZA FILHO, 2008).

Os estressores hospitalares são fenômenos que ocorrem durante o processo de hospitalização e estão presentes em uma gama de procedimentos e situações que não caberia aqui descrevê-los. Quando uma pessoa busca a internação, a família depara-se com as possibilidades de ajuda esgotadas. Nesta condição de paciente, a pessoa é atendida na dimensão física, mas pouco se faz nas dimensões psicológicas e sociais. Neste sentido, a forma de atendimento presente em uma situação hospitalar ainda está permeada pela dualidade mente e corpo, proposta por Rene Descartes em sua obra O Discurso do Método, que concebiam mente e corpo como substâncias distintas e sem influência uma sobre a outra. Um conceito ultrapassado, mas comum na forma de atendimento das situações hospitalares. Atualmente sabe-se que o conceito de saúde é compreendido nas dimensões sociais e psicológicas e que esses fatores não somente influenciam mas também constituem um quadro de doença ou saúde.

Dentre os diversos impasses na relação entre a equipe médica e a pessoa à espera de cirurgia, a falta de informações compreensíveis para um leigo na área da saúde costuma causar angústia e incerteza. É comum que tanto a família quanto o paciente, no processo cirúrgico que envolve os períodos pré, trans e pós-operatório, não estejam a par dos procedimentos da cirurgia. No geral, o paciente e a sua família limitam-se saber o horário e o tempo de duração da intervenção cirúrgica e o local de intervenção no corpo. Mas pouco lhes explicam sobre os procedimentos cirúrgicos de fato (JUAN, 2007).

Para Souza (2004) o pré-operatório é o momento que deve ser marcado por uma ação terapêutica que vise à prevenção do estresse gerando benefícios em todo o processo cirúrgico. De acordo com Sebastiani e Maia (2005) qualquer procedimento cirúrgico gera mobilização emocional no paciente para lidar com a ansiedade e estresse da situação. O paciente diante de uma cirurgia percebe seu futuro como incerto e seus medos (dor, incapacitação e morte), ao mesmo tempo em que sofre ameaça à integridade física e psicológica. Para estes autores, quanto maior o estresse e a tensão no pré-cirúrgico, maiores poderão ser as dificuldades em enfrentar o pós-operatório.

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Os pacientes em um hospital geral estão submetidos aos mais diversos procedimentos médicos e segundo Otoch (2010) as cirurgias constituem uma ampla área com procedimentos metodológicos específicos e são realizadas para obter diagnóstico e promover saúde.

A Neurocirurgia é uma especialidade da neurologia que em primeiro momento tem seu início na medicina, mas devido aos avanços tecnológicos, a sua extensa produção de conhecimento científico e a sua especificação constitui um capítulo a parte na área da medicina. Esta área médica realiza procedimentos do tipo cranioplastia, correção de aneurismas, retirada de tumor cerebral, entre outros. Cabe aqui problematizar “o quanto e o como” esta área clinica-hospitalar é apreendida pela população e principalmente pelos pacientes que dela dependem para o processo de reabilitação.

Até o presente momento não foram encontrados estudos na literatura especializada sobre este tema especifico. Com isso, pode-se constatar que há relativamente pouca literatura sobre a intervenção cirúrgica vista a partir da perspectiva dos pacientes que sofrerão uma interferência neurocirúrgica. Da literatura disponível sobre o assunto, grande parte das temáticas abordam a relação médico-paciente e a equipe médica. Estudos sobre internações mais humanizadas, ansiedade e pré-operatório, estressores psicológicos, cirurgia e percepções dos pacientes sobre a cirurgia também são comuns, mas não sobre os estressores psicológicos possíveis em uma relação neurocirúrgica interventiva. Alguns dos autores pesquisados (em bases de dados científicas) em relação aos temas acima citados são: PENICHE, A. C. G.; JOUCLAS, V. M. G.; CHAVES, E. C.; MORAES, L. O.; PENICHE, A. C. G.; MATOS, F. G. O. A.; PÍCCOLI, M.; SCHNEIDER, J. F.; PEÓN, Andréa Ungaro; DICCINI, Solange.; MOURA, Ludmila de; NASCIMENTO, Tânia Maria.; RIECHI, Tatiana IzabeleJaworski de Sá; AMBRÓZIO, Carolina Ribeiro.; COSTA, Veridiana Alves de Sousa Ferreira; SILVA, Sandra Cibelly Ferreira da; LIMA, Vívian Caroline.; MAGALHAES, Fernando Macedo; GUSMAM, Daniela Penachi Parolo; GRECCA, Kelly Renata Risso.; FIGHERA, Jossiele; VIERO, ElianiVenturini.; JAICHENKO, André; PALADINO, Miguel A; JARA, Rodolfo; AMANZIO, Guilhermo.

Desse modo, evidencia-se a necessidade de construir conhecimento sobre este tema que ajudará a pensar nas lacunas existentes em ambas às áreas (psicologia e neurologia) e contribuirá para ampliar e fundamentar a atuação profissional neste campo. Tanto a neurologia quanto a psicologia carecem de estudos relacionados a estressores psicológicos em

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pacientes submetidos à neurocirurgia. Logo, produzir este conhecimento possibilitará avanço no diálogo entre as ciências.

Pesquisar a temática possibilitará contribuir com reflexões sobre esta área de atuação em relação à inserção do profissional psicólogo com vistas à produção de material ou de planos para a terapêutica. A presença de outros profissionais na equipe, particularmente a do psicólogo, soma importante contribuição à equipe de saúde e ao processo da neurocirurgia, pois a identificação dos medos, dúvidas, expectativas do paciente, assim como a facilitação de uma interlocução mais eficiente entre equipe de saúde-paciente, fazem parte do escopo e da formação técnica deste profissional, identificando situações potencialmente patogênicas, criando programas e estratégias terapêuticas que auxiliem na minimização do sofrimento dos possíveis estressores psicológicos e no resgate da humanização nestes procedimentos cirúrgicos (SEBASTIANI; MAIA, 2012).

Este artigo visa abordar um fenômeno referente a esta área de atuação do profissional da Psicologia, que é a do contexto hospitalar. Busca-se, portanto, responder ao longo do artigo à seguinte pergunta: Quais os estressores psicológicos presentes em pessoas que se submeterão à neurocirurgia, durante o período pré-cirúrgico?

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Compreender os estressores psicológicos apresentados por pacientes que se submeteram à neurocirurgia, durante o período pré-cirúrgico.

1.1.2 Objetivo Específico

-Identificar os estressores psicológicos presentes em paciente no período pré-cirúrgico;

-Identificar o significado da neurocirurgia durante o referido período para estes pacientes.

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2.REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 PSICOLOGIA HOSPITALAR

Os hospitais gerais constituem um novo campo de trabalho para o psicólogo, não só em função da proposta de atenção integral à saúde, como também em função da crise muitas enfrentada pela clínica privada. A abertura de concursos e de possibilidades de atuação do psicólogo nestas instituições faz com que o profissional se volte para este campo, contudo, muitas vezes sem uma reflexão mais cuidadosa sobre a especificidade desse trabalho (BASTOS; GOMIDE, 1989). A introdução das ciências humanas no campo da saúde promove uma relativização do discurso biológico através da crítica à hegemonia do saber médico e fornece uma proposta crítica dessa medicina que exclui outros saberes na discussão sobre a saúde.

A Psicologia Hospitalar vem para ajudar na humanização da prática dos profissionais da saúde dentro do contexto hospitalar, e é fator de grande influência nas mudanças de posturas adotadas pelos médicos e toda a equipe, diante de um grande número de patologias sendo que, com a inserção deste profissional passa-se a conceber os aspectos psicológicos como essenciais na constituição destas, conforme Angerami-Camon, Chiattone e Nicoletti (2002).

Conforme Angerami-Camon et al (2003), a Psicologia Hospitalar utiliza recursos de outras áreas do conhecimento psicológico, tanto recursos metodológicos quanto técnicos, e isso faz com que ela seja enquadrada nos ramos da clínica, organizacional, social e educacional.

Segundo Ebling(2008), a Psicologia Hospitalar se ocupa da compreensão e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecer. E não visa às doenças como causas psíquicas ou psicossomáticas como se fossem meramente produtos destas, mas considera os aspectos psicológicos em qualquer tipo de doença, buscando resgatar a subjetividade das situações relacionadas ao adoecimento em instituições hospitalares.

De acordo com Campos (1995), o psicólogo no contexto da instituição hospitalar atuará como minimizador do sofrimento no processo de adoecimento, bem como de hospitalização, além de colaborar no tratamento e na prevenção. Chiattone (2003) destaca os profissionais hospitalares como protagonistas e intérpretes de um processo universal de

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construção de um novo pensar e fazer em saúde, definidos pela abordagem holística inerente à Psicologia, na solução dos problemas mais relevantes da saúde contemporânea.

No âmbito de prevenção, conforme Campos (1995, p. 65), o trabalho do psicólogo hospitalar seria através de medidas de educação e reorganização social, preocupando-se com fatores que possam levar à doença ou que favoreçam o surgimento da mesma, assim como, ele poderá trabalhar numa prevenção secundaria: “e na área de prevenção secundaria, que a psicoterapia breve e de emergência desempenha seu papel mais convencional, no tratamento de problemas agudos e de crises, impedindo-os de se tornarem crônicos” (BELLAK,1980, apud CAMPOS, 1995, p. 65)

Para Ebling (2008) o objeto do trabalho da psicologia hospitalar se amplia para além do paciente, atingindo também os familiares, assim como as diversas situações na equipe de saúde:

O Psicólogo reveste-se de um instrumento muito poderoso no processo de humanização do hospital na medida em que traz em seu bojo de atuação a condição de análise das relações interpessoais. A própria contribuição da Psicologia para clarear determinadas manifestações de somatização é igualmente decisiva para fazer com que seu lugar na equipe de saúde da instituição hospitalar esteja assegurado (ANGERAMI-CAMON et al, 2003, p. 27).

Como indica Angerami-Camon et al (2003, p. 23) a atuação do psicólogo necessita ser bem clara quanto às suas delimitações, para que ele não se torne mais um dos fatores complicadores do processo de hospitalização. Ainda conforme esse autor, muitas das dificuldades desse ramo encontram-se nos próprios profissionais, que estão despreparados para a realidade hospitalar, seja por questões relativas ao próprio individuo ao lidar com a doença, como também a falta de aportes teóricos ou experiência prática para lidar com o paciente, com os familiares e com a equipe de saúde. A interdisciplinaridade, segundo Campos (1995), faz surgir à necessidade de o psicólogo aproximar-se não só dos saberes de outras áreas, principalmente a biológica, tendo em vista a importância de conhecer minimamente aspectos relacionados às doenças ocorridas, como também aproximar-se das pessoas da equipe, partindo da ideia de que esta, potencializada, irá de fato buscar por objetivos comuns.

Mas também o psicólogo enfrenta inúmeras dificuldades na sua prática, tendo em vista que pode vir a se deparar com resistências por parte da instituição, dos médicos e dos próprios pacientes, que segundo Alamy (1992) podem ser suscitadas por medos de diversas ordens, como da subjetividade suscitada, da leitura do não-dito; de pôr em questão discursos de poder; da diferença entre as abordagens (provocando insegurança entre os outros

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profissionais); desconhecimento sobre a prática da Psicologia, muitas vezes vulgarizada neste contexto; entre outros fatores. Neste sentido, Campos (2008) ressalta a importância da atuação do psicólogo junto aos quatro pólos de poder: grupo médico, administração hospitalar, alta direção e a equipe multiprofissional do hospital.

A necessidade de se ter o psicólogo na instituição hospitalar, segundo Alamy (1992), é reconhecida quando apenas os fatores anatômicos, físicos e químicos não são suficientes para justificar e tratar determinadas patologias. Este entendimento revela uma fragmentação muito habitual, que segundo Kahale (2003), é proveniente da Ciência Moderna, que não só divide o homem, como o conhecimento em diferentes áreas e assim também ocorreu com as Ciências Humanas, desenvolvidas a partir do século XIX: “Os estudos iniciavam-se a partir da doença, buscando-se os agentes patogênicos: no meio ambiente, na sociedade, no organismo e no psiquismo e todas as políticas de saúde estavam voltadas ao combate das doenças, priorizando-se a ação medicamentosa e curativa” (KAHALE, 2003, p. 163). Esta compreensão contrapõe-se ao conceito de saúde atual construído pela Organização Mundial de Saúde, que embora utópico, permite compreender o sujeito e a doença em um todo.

2.2 CONCEITO DE ESTRESSE

O estresse pode ser entendido como reações psicofisiológicas que exigem do organismo a necessidade de lidar com algo que ameaça a sua homeostase interna. Estas tensões podem surgir quando nos deparamos com algo que cause irritação, que cause medo, excitação tanto com o caráter de prazer ou de desprazer exacerbado ou confusão mental (SANTOS, SANTOS, MELO, ALVES, 2009).

O estresse é um fenômeno psicofísico e sua ocorrência pode afetar as pessoas em todas as suas dimensões. É uma tensão, que quando se manifesta no psicológico, surge num dado momento, e no hospital o estresse psicológico ocorre por ser uma situação nova e desconhecida, por haver uma percepção de perda do controle de si e relaciona-se com a perspectiva individual futura. A tensão e a resposta ao estresse são influenciadas pela intensidade, duração, abrangência e pelo número de estressores presentes no momento (BITENCOURT, NEVES, DANTAS et al, 2007).

O estresse é um fenômeno que recebe destaque entre os modelos explicativos do processo de saúde-doença e está amplamente divulgado na mídia leiga e na comunidade científica. É apontado como um importante fator para o desencadeamento de uma série de

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doenças e é pesquisado na sua relação com o desenvolvimento de variadas patologias, como também na compreensão dos níveis de adaptação do indivíduo a um dado contexto (SANTOS, SANTOS, MELO, ALVES, 2009).

Lipp (2003) alerta para algumas questões que influenciam na constituição do processo que denominamos estresse. Questões estas referentes às características do indivíduo, às modalidades de interpretação frente aos eventos do dia a dia, da vida e relacionadas ao ambiente, assim como as modalidades de adaptação relacionam-se diretamente às diferentes formas de cada individuo reagir. Segundo esta autora, a tensão é produto de um longo processo que se instala no organismo causando reações físico-químicas, onde o organismo tenta restabelecer o equilíbrio, visando retorno ao estágio mais adaptativo, resistindo à tensão ou evitando-a. Ainda segundo Lipp (2003), as reações não ficam restritas ao aspecto bioquímico e aparece no físico através de sudorese, taquicardia, boca seca, tensão muscular, estado de vigilância permanente. Estas disfunções biofísico-químicas podem estar relacionadas às doenças adquiridas, acidentes ou iminência dos mesmos e possibilitam criar hipóteses como sendo uma predisposição genética ou enfraquecimento decorrente do processo de estresse.

Para Angerami-Camon (1998), estresse é o fenômeno que impede uma adaptação satisfatória com facilidade; é tudo aquilo que possa vir a manter o individuo em tensão, em inquietude, em mal-estar e sofrimento. As manifestações físicas que estão relacionadas com as experiências de inquietude e de mudança brusca no decorrer da vida podem constituir uma demanda de aspecto psicológico onde as manifestações fisiológicas estarão presentes, com processos de irritabilidade acelerado e aumento de ansiedade. Isto faz com que o paciente fique vulnerável as situações que causem ameaça a integridade física e/ou psicológica e também fique vulnerável em relação ao próprio adoecer.

Lipp (2003) criou um modelo quadrifásico do estresse que se divide em quatro etapas:

* a fase de alerta: estágio que exige demanda de energia para enfrentar um desafio ou fugir de uma ameaça, conhecido com o mecanismo de luta ou fuga;

* a fase de resistência: neste estágio o individuo realiza um esforço constante induzindo processo de adaptação permanente. Isto faz com que o organismo supere o desgaste e busque equilíbrio frente à tensão permanente;

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* a fase de quase exaustão: nesta fase ocorre a diminuição das defesas orgânicas e o sujeito apresenta períodos oscilantes entre bem estar e momentos de cansaço, ansiedade e desconforto;

* a fase de exaustão ou etapa de alerta: a resistência do organismo encontra-se comprometida, sendo assim, doenças físicas e psicológicas, como a depressão tende a se manifestar com mais facilidade.

Seguindo o modelo quadrifásico criado por Lipp (2003), é possível estabelecer um paralelo entre as fases do modelo quadrifásico e as fases por qual passa um paciente qualquer. Por exemplo, a fase de alerta como momento que antecede à hospitalização ou o pré-operatório, pois nesses momentos o paciente demanda energia e ansiedade frente ao desconhecido; a fase de resistência com a etapa do pré-operatório que envolve aguardar a cirurgia, processos informativos, burocráticos, momentos estes que abrangem a espera do paciente; a etapa de quase-exaustão, em alguns casos, representa no paciente a piora do quadro clínico que pode vir acompanhada de febres e eventuais infecções ou aumento da pressão arterial, entre outros. A piora do quadro clínico acarreta em remarcação do procedimento por conta da necessidade de se conseguir a melhora clínica para que a cirurgia ocorra; a fase de exaustão esta relacionada aos sintomas mais alarmantes, na qual a falta de resistência física e emocional está presente em tempo integral. Nesta fase, o paciente pode entrar em processo depressivo e comprometer gravemente o seu quadro, o resultado da cirurgia e conseqüentemente o restabelecimento esperado.

2.3 FATORES ESTRESSORES NO HOSPITAL GERAL

A identificação de fatores estressores, mais os conceitos produzidos sobre estresse possibilitam entender de forma apropriada o processo de hospitalização que afeta o restabelecimento do paciente e o seu tempo de internação. O estresse reduz e dificulta as estratégias que o paciente utiliza para lidar com situações que envolvam a hospitalização e segundo Lipp (2003, p.17-22), “ficar por um longo período em estado de estresse prejudica o sistema imunológico reduzindo a capacidade de resistência” do paciente hospitalizado.

Os estressores podem ser internos e estão relacionados às questões de elaboração dos próprios pacientes e externos que estão relacionados às mudanças ambientais e sociais. Para Penna (1992), as respostas dadas pelos pacientes às setes categorias de estresse psicológico, elaboradas por Strain (apud PENNA, 1992), ajudam a compreender a natureza e o significado do estresse psicológico, provocado por uma doença e por hospitalização:

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1. Ameaça à integridade narcísica: atinge as fantasias onipotentes de imortalidade, do conceito de integridade física e de controle sobre o próprio corpo e o próprio destino.

2. Medo de estranhos: ao entrar no hospital, o paciente coloca sua vida e seu corpo em mãos de uma equipe de pessoas desconhecidas, cuja competência e intenção profissional ele desconhece.

3. Ansiedade de separação ao se hospitalizar: o paciente fica separado não apenas de pessoas significativas para ele, mas também de objetos familiares, de seu ambiente de trabalho, sua casa, sua cama etc., e até mesmo de um estilo de vida, de uma cultura própria e de sua privacidade.

4. Medo da perda de amor e aprovação: surge de um sentimento de desvalorização gerado pela dependência a amigos e familiares, de sobre carga financeira, do aspecto físico doentio etc.

5. Medo da perda de controle de funções adquiridas durante o desenvolvimento infantil: como o controle esfincteriano, a marcha, a fala, a força muscular etc. 6. Medo da perda ou danos a partes do corpo (ansiedade de castração):pode gerar fantasias em torno das intervenções que são praticadas no corpo do paciente, desde as mais simples como injeções e colocação de sondas, até as grandes cirurgias.

7. Culpa e medo de retaliação: aparecem como fantasias de que a doença é um castigo por um ato cometido.

Ainda sobre os estressores presentes no processo de hospitalização, Gunn-Sechehaye (2005) aponta que ter ansiedade no momento que antecede o procedimento cirúrgico é reconhecidamente normal, porque o procedimento cirúrgico pode representar uma ameaça à vida da pessoa. Mas uma série de episódios ansiosos que ocorre na etapa do pré-operatório pode desencadear sofrimento e inclusive em casos mais drásticos em solicitação do paciente para cancelamento das cirurgias previamente agendadas. Percebe-se, então, o fato de que o evento relacionado à hospitalização e principalmente ao momento que antecede ao procedimento cirúrgico pode ser indicativo de um elevado grau de ansiedade. Ainda segundo Gunn-Sechehaye (2005) seriam várias inquietações relacionadas ao paciente, tais como: Medo da morte, da mutilação e da dor; Incerteza quanto ao futuro; Sensação de impotência e isolamento; Ansiedade provocada pelo ambiente estranho, frio tecnológico; Falta de pessoas conhecidas e amigas; Presença de assistentes relativamente impessoais e insensíveis; Violação

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da intimidade, intromissão constante no centro da sua própria existência, o corpo. Este momento invasivo e adverso propicia medos, expectativas, fantasias relacionadas ao ato cirúrgico; o paciente pode demonstrar necessidade atendimento psicológico para assessorá-lo nesta etapa.

Para efeito de contribuição na fundamentação teórica, apresentaremos o quadro um, que trata de algumas categorias de estresse psicológico que foram adaptadas através da conciliação dos autores citados nesta pesquisa com a realidade vivenciada pelos supervisores e estagiários de psicologia hospitalar da Universidade do Sul de Santa Catarina. Deste modo, esse quadro foi construído por professores e estagiários da respectiva instituição, responsáveis pelo estágio em Psicologia Hospitalar, com o objetivo de subsidiar as práticas em Psicologia Hospitalar desenvolvidas no estágio e como forma de dialogar com a equipe de saúde. As categorias dizem respeito ao processo de hospitalização em geral, seja por doença ou por necessidade cirúrgica.

Quadro 1: Categorias de Estresse Psicológico

1 Ameaça à integridade física (medo da morte e de reincidência da doença). 2 Medo de estranhos (equipe de saúde).

3 Ansiedade de separação (casa, família, trabalho etc.). 4 Medo da perda de amor e aprovação.

5 Medo ou perda de controle das funções do corpo. 6 Medo da perda de parte do corpo.

7 Medo de retaliação (doença percebida como castigo).

8 Ansiedade frente à falta de informação sobre o adoecimento. 9 Ansiedade pela espera (do diagnóstico, do exame, da cirurgia etc.). 10 Ansiedade pela recuperação da saúde.

11 Outros definir categoria com a supervisora. 11.1 Ansiedade Antecipatória Adaptativa. 11.2 Ansiedade frente à tomada de decisão.

11.3 Ansiedade frente à retirada de autonomia e independência devido a Hospitalização.

12 Não apresentou estressor psicológico.

Fonte: Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Curso de Psicologia, Estágio em Psicologia Hospitalar.

2.4 PERÍODO PRÉ-CIRÚRGICO

O pré-operatório, até o presente momento, é um procedimento médico composto por enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem e visa preparar o paciente para uma intervenção cirúrgica qualquer. Este procedimento está em nome da equipe do centro cirúrgico e serve para otimizar o tempo da cirurgia fazendo com que a equipe do centro

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cirúrgico não atrase o início da cirurgia tendo que refazer os procedimentos pré-operatórios (LÓPEZ e CRUZ, 1998).

O pré-operatório é o momento onde o paciente recebe um grande número de informações técnicas referentes à preparação e a cirurgia em si. Neste período são realizados vários procedimentos até o momento da cirurgia, um deles presente no protocolo de ação e passível de diálogo com a psicologia, recomenda que a equipe de enfermagem deve tranquilizar o paciente, oferecendo tudo o que seja necessário, se estiver ao alcance da equipe de enfermagem (LÓPEZ e CRUZ, 1998).

Nenhum paciente está efetivamente preparado para realizar uma cirurgia, sendo necessário à atuação psicológica neste momento. O psicólogo deve atuar com o objetivo de minimizar a angústia, ansiedade, elaborar as expectativas do paciente com base em dados da realidade, favorecendo a expressão dos sentimentos e auxiliando na compreensão da situação vivenciada, proporcionando, também, um clima de confiança entre o paciente e equipe de saúde e facilitando a verbalização das fantasias advindas do processo cirúrgico (SEBASTIANI e MAIA, 2012).

O pré-operatório é vivenciado a partir do tipo de cirurgia a ser realizada, mas também pela forma com que o paciente elabora a situação vivida. Certo medo e ansiedade são reações consideradas normais. Porém, na medida em que essas condições se elevam e se somam à tensão, estresse ou outras condições adversas do estado emocional, o paciente sofre interferências em seu organismo que podem prejudicar o processo cirúrgico. A efetivação de um bom acompanhamento psicológico no pré-operatório tem influência direta nas reações do paciente no trans e pós-operatório, já que existem relações entre o estado emocional do paciente nessas três fases da cirurgia (SEBASTIANI e MAIA, 2012).

2.5 NEUROCIRURGIA

A cirurgia é uma especialidade da medicina com a atuação do profissional diretamente no local atingido, unindo, cortando ou retirando o que está prejudicado. Sabe-se que esta especialidade é utilizada desde o inicio da civilização sendo aperfeiçoada através dos tempos e principalmente com o advento da tecnologia. Apesar do avanço tecnológico das cirurgias e anestesias, o paciente cirúrgico nunca se sente totalmente seguro, pois este procedimento tende a gerar intenso desconforto emocional, onde o indivíduo tem o seu futuro incerto, manifestando sentimentos de impotência, isolamento, medo da morte, da dor, de ficar incapacitado e das possíveis mudanças provenientes da cirurgia. Assim, diante da necessidade

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de realizar uma cirurgia, o paciente sente ameaçada a sua integridade física e psicológica (SEBASTIANI e MAIA, 2012).

As intervenções sobre o crânio, executadas até o surgimento da medicina moderna na metade do século XIX, restringiam-se quase apenas ao tratamento das fraturas do crânio e à drenagem de possível hematoma extra cerebral e de coleções purulentas associadas. As conquistas essenciais para o desenvolvimento da neurocirurgia moderna foram o avanço da cirurgia geral, especialmente a anestesia e a anti-sepsia e a teoria das localizações cerebrais que Broca consolida em 1861. Ela foi estabelecida nas duas últimas décadas do século XIX e nas primeiras décadas do século XX graças, principalmente, aos pioneiros Victor Horsley (1857-1916) e Harvey Cushing (1864-1939). No Brasil, a neurocirurgia moderna nasceu no final da terceira década do século XX, graças ao trabalho de precursores e pioneiros (GUSMÃO e SOUZA, 2000).

3. MÉTODO

A pesquisa foi de natureza qualitativa e objetivando compreender o fenômeno a ser estudado, foi adotado o delineamento exploratório. A pesquisa ocorreu no período de 08/2012 a 04/2013 e em um Hospital Geral da cidade de Florianópolis que dispõe de serviços especializados em diversas áreas médicas, incluindo cirurgias e tratamentos dos mais variados. O hospital está distribuído em unidades de internação, contando também com serviços de pronto socorro, UTI, centro cirúrgico, assim como os ambulatoriais, para atendimento a toda população do Estado de Santa Catarina.

Os critérios para participar da pesquisa consistiram nos seguintes: foram incluídos apenas os pacientes que estavam submetidos a uma neurocirurgia eletiva e requerida, que possuíam idade acima de 18 anos, de ambos os sexos, bem como em condições de estabelecer contato, ou seja, com a consciência preservada para responder à pesquisa e que estavam cientes e de acordo com termo de consentimento livre e esclarecido. Foram entrevistados oitos pessoas, cinco do sexo feminino e três do sexo masculinos. Com idade entre 28 e 58 anos, todos com segundo grau completo, casados. As atividades desenvolvidas pelo participantes eram: professor (1), comerciante (1), funcionário público (1), eletricista (1), do lar (2), autônomo (1) e repositor(a) (1). Os entrevistados foram indicados pela enfermaria do Hospital que fornecia informações sobre o estado do paciente e o tipo de neurocirurgia que o mesmo iria realizar. Foram realizadas as seguintes neurocirurgias: três por trauma craniano, duas por hematoma subdural por trauma craniano, duas por arteriosclerose cerebral e uma por

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tumor. Após a coleta destes dados iniciais o pesquisador se dirigiu ao quarto-leitos em diferentes Alas, onde cada paciente estava internado e foram contatos pelo pesquisador para marcar uma entrevista.

Foi previsto que os pacientes que apresentassem a possibilidade de deambular seriam conduzidos a uma sala (sala de aula, situada em uma enfermaria do hospital). Porém, devido a característica do estudo que envolve uma situação hospitalar pré-operatória e pela maioria dos participantes estarem acomodados em quarto-leito, a pesquisa acabou ocorrendo no próprio local onde a pessoa estava aguardando a cirurgia. Os quarto-leitos neste hospital disponibilizam acomodação para dois pacientes e cada paciente tem direito a um acompanhante. Então, no momento em que era estabelecido o primeiro contato com o participante visando uma possível coleta de dados, as pessoas não participantes demonstraram apoio e compreensão saindo por alguns minutos do quarto e deixando o pesquisador a sós com o participante. Durante a entrevista não houve desconfortos, uma vez que os participantes puderam verbalizar suas dúvidas, queixas e medos. Durante a coleta de dados, criou-se a possibilidade da diminuição do estresse frente à cirurgia.

Foi utilizada uma entrevista semi estruturada aplicada de forma individual. A escolha por este tipo de entrevista ocorre pela sua flexibilidade na coleta de informações e porque garantiu a facilidade na verificação da validade das respostas.

Na coleta dos dados foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A) e um gravador de voz para gravar as respostas e posteriormente transcrevê-las. Para não ferir o compromisso ético foi garantido o anonimato e a manutenção do sigilo das informações coletadas.

A organização e análise dos dados coletados foi realizada por meio de análise de conteúdo, um método utilizado para tratamento e análise de informações colhidas por meio de entrevistas. Este procedimento foi realizado a partir das transcrições das entrevistas. As entrevistas coletadas foram transcritas e o conteúdo foi segmentado em trechos que foram submetidos à categorização e, posteriormente, a uma análise de conteúdo. O tratamento dos dados ocorreu através dos trechos selecionados daquilo que os pacientes trouxeram em suas respostas. As falas foram selecionadas e organizadas em categorias criadas a partir dos objetivos específicos da pesquisa e do referencial teórico. Sendo assim, foram criadas duas categorias: estressores psicológicos presentes em pacientes no pré-operatório e significados da neurocirurgia para pacientes no pré-operatório. Aquela foi subdividida em quatro subcategorias: ansiedade pela recuperação da saúde, ansiedade frente à falta de informação,

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ameaça à integridade física, medo (da morte). Já a outra categoria, foi subdividida em duas subcategorias: expectativa de melhora e fim do sofrimento.

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Com base na teoria que ajudou a fundamentar a pesquisa, mais os dados coletados é possível identificar estressores psicológicos hospitalares de ordem subjetiva. Para realizar a análise de dados e dar conta dos objetivos da pesquisa, foram elaborados dois quadros que expressam as categorias e subcategorias elaboradas a partir dos dados coletados.

4.1 ESTRESSORES PSICOLÓGICOS PRESENTES EM PACIENTES NO PRÉ-OPERATÓRIO

A partir da categoria Estressores Psicológicos presente em pacientes no pré-operatório buscou-se identificar e sinalizar os possíveis estressores psicológicos. Para tal feito, esta categoria foi desmembrada nas seguintes subcategorias: Ansiedade pela recuperação da saúde, este é um estressor que neste estudo específico foi um fator positivo na medida em que as pessoas falavam e demonstravam certo alívio ao pensar no término da cirurgia, ou seja, no pós-operatório e podendo ser uma variável que favoreça a recuperação; Ansiedade frente à falta de informação sobre a cirurgia, esta categoria refere-se ao modelo médico e as suas formas de atuação; Ameaça a integridade física, que faz referência a medos sobre o funcionamento do corpo, sobre a possibilidade de sequelas, podendo resultar em mal funcionamento ou até mesmo cicatrizes, marcas ou deformações no corpo e Medo (de morrer), que está relacionado com o indizível, com o não dito, com a fragilidade humana, com a finitude.

Para melhor visualização das subcategorias que buscaram identificar e sinalizar os possíveis estressores psicológicos presentes em pacientes do pré-operatório de neurocirurgia segue o quadro:

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Quadro 2: Estressores Psicológicos presentes nos pacientes no pré-operatório

(continua)

Categoria Frequência Unidade de contexto elementar

Ansiedade pela recuperação

da saúde.

16

S1: que seja feita com sucesso, que eu me livre disso... que eu me livre dessas dores, desse mal estar que sinto./ que chegue a hora de fazer isso de uma vez pra mim me ver livre disso.

S2: se eu vou parar de sentir a dor/ Se vou passar muito mal após a cirurgia/ se eu vou parar de sentir essa dor infernal.

S3: eu quero que passe logo. Quero que ele faça logo e eu possa ir embora de uma vez./ Que seja breve, bem rápido/

S4: [...] é principalmente parar com as dores e tentar levar uma vida o mais normal possível.

S5: Ah, eu espero que dê tudo certo / eu acho que a pessoa pensar o melhor pra si é sempre muito importante para recuperação.

S6: quanto tempo mais ou menos vai demorar/ se vou ficar do jeito que estava.

S7: [...] que esteja liberado disso o mais depressa possível/ [...] mas pra ver logo a coisa feita / [...] sobre o período de eu ficar legal pra ir pra casa.

S8: [...] que eu me recupere o quanto antes.

Ansiedade frente à falta de informação sobre a neurocirurgi a. 15

S1: [...] Então o médico fala muito rápido sai e a gente fica meio que sem saber muito assim./ tenho, tenho dúvidas.

S2: O médico explicou na linguagem dele como é que vai ser o procedimento cirúrgico, mas isso não ficou claro para a mim/ se a cirurgia vai ser demorada./ Eu acho que o paciente teria que ter mais claro, na linguagem de um paciente explicando mais detalhadamente pra acalmar e esclarecer.

S3: A especialidade é ossomaxfacial eu acho/ como a gente é leigo nesse assunto eu não tenho dúvida./ Me explicou como vai ser o procedimento que ele vai fazer. Na verdade não teve muitos detalhes.

S4: Sim, existem algumas dúvidas. Tipo, tamanho de corte, como que vão chegar no meu cérebro, enfim. Qual a localização, isso eu não estou por dentro ainda./[...]as informações a respeito do que realmente vai ser feito eu acho que não foi muito bem explicado.

S5: Eu acho que sei o que vai ser, por cima assim. No meu raso conhecimento da história busquei saber./ não sei se em algum momento a gente se sente preparado para isso. Acho que de verdade, nunca é muito suficiente assim./ eu acabo buscando essa segurança em outras formas [...] vou na internet, busco saber o que é? Se outras pessoas já fizeram, como é que foi?

S7: [...] num local de saúde muitas vezes as pessoas não lhe dão abertura para perguntar. Mas quando dão eu costumo ir atrás, perguntar, tentar me orientar, tentar ficar tranquilo sobre aquilo que vou fazer.

S8: Se vou ter algum tipo de sequela,[...] se é um procedimento rápido ou demorado, se tem que fazer uma incisão grande ou pequena [...].

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Quadro 2: Estressores Psicológicos presentes nos pacientes no pré-operatório

(conclusão)

Categoria Frequência Unidade de contexto elementar

Ameaça à integridade

física

14

S1: não sei se ao abrir minha cabeça como que eu vou ficar depois disso/ que garantias que eu tenho de sair da mesa de cirurgia bem/ de não ficar sequela.

S2: medo de que essa cirurgia vai sair bem/ se eu vou acordar legal/ preocupação se eu vou continuar depois sendo uma pessoa ativa com todas as chances físicas/

S3: que corra tudo bem.

S4: Nunca tomei nenhuma anestesia na minha vida, então eu tenho receio de como vai ser, se vou ter uma boa aceitação ou não.

S5: Fico pensando pra dar tudo certo

S6: Se eu vou [...] ter alguma sequela com a cirurgia que ele vai fazer / que não tenho nenhum tipo de sequela.

S7: será que pode vir a acontecer alguma coisa na hora que abri a minha cabeça, eu depois ficar com alguma sequela [...].

S8: Se vou ter algum tipo de sequela [...]/ [...] se tem que fazer uma incisão grande ou pequena.

Medo (de morrer).

12

S1: Eu posso ir pra mesa de cirurgia e não sair viva/ medo também de entrar pra sala de cirurgia e não sair mais.

S2: Ah de medo, é o que mais... medo de... S3: medo

S4: mas gente sempre fica com medo. Querendo ou não o momento ali é crucial./ Bastante ansiedade e preocupação. Um pouco de medo, querendo ou não cirurgia é sempre uma situação invasiva, então um pouco de medo eu sinto.

S5: fico pensando em coisa boa / Fico pensando pra dar tudo certo assim/ porque todo mundo tem medo de morrer nessa hora./

S6: medo

S7: [...] dá um pouco de medo [...]

S8: [...] a gente fica um pouco ansioso, nervosismo também [...] /[...] se a intervenção pode não dar certo [...].

Fonte: Elaboração do autor, 2013

4.1.1 Ansiedade pela recuperação da saúde

Os participantes manifestaram interesse em realizar a cirurgia o mais rápido possível porque da saída de casa até a intervenção cirúrgica, passa-se por processos de hospitalização e pré-operatório. Nestes processos o paciente fica dependente das condições externas e, estando à mercê do procedimento habitual médico, a perda de autonomia é fator propulsor tanto para sentimentos de medo em relação à expectativa do futuro evento cirúrgico - que se trata de uma experiência desconhecida para o sujeito - como também acerca da expectativa de que este momento de espera, antecessor à cirurgia, dure o menos tempo

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possível, tendo em vista que, findado o processo cirúrgico, poderá recuperar sua autonomia e segundo Bitencourt, Neves, Dantas et al(2007) a intensidade, duração, abrangência e o número de estressores presentes na situação hospitalar pré-operatório neurointerventiva influencia diretamente na tensão e resposta ao estresse.

A ansiedade apresentada nesta categoria surge devido ao afastamento da vida normal do sujeito, em que surge o desejo de retomar os laços sociais como também o controle sobre si, sem sentir-se submetidos às decisões alheias sobre seus hábitos e seu próprio corpo. A hospitalização, por mais breve que seja, é um processo gerador de tensão porque a pessoa se percebe incapacitada, dependendo de pessoas estranhas que relacionam de forma técnica, com as quais não possui vínculo, além do estabelecido pela situação hospitalar pré-operatória, sendo que este fator também contribui para maximizar a tensão vivida pelo paciente. Este esforço que o paciente realiza para se adaptar diante do desconhecido reforça a ideia de Lipp (2003) no seu modelo quadrifásico quando apresenta a fase de alerta que corresponde ao processo de hospitalização e pré-operatório. Abaixo será apresentado trechos de falas de alguns dos participantes representativas desta categoria:

S1: [...] que chegue a hora de fazer isso de uma vez pra mim me ver livre disso. S3: [...] eu quero que passe logo. Quero que ele faça logo e eu possa ir embora de uma vez.

S4: [...] é principalmente parar com as dores e tentar levar uma vida o mais normal possível.

As falas acima denotam a existência de aspectos subjetivos que fazem parte da situação hospitalar pré-operatórios, normalmente desconsiderados ou desqualificados por equipes médicas. Embora não explicitadas em suas falas quais seriam de fato estes aspectos pode-se inferir que o desconforto vivido na experiência do diagnóstico somado à situação hospitalar pré-operatória produz o anseio pela cura, pelo retorno ao ambiente habitual e a necessidade de superar a situação em questão de espera, incertezas e impotências, sendo estes alguns dos aspectos que permeiam a situação.

4.1.2 Ansiedade frente à falta de informação

O pré-operatório é descrito em capítulos anteriores como o momento em que o paciente recebe diversas informações, tanto informações da equipe médica, quanto informações sensoriais e perceptivas. O cheiro, as roupas, som dos aparelhos, pessoas estranhas entrando corriqueiramente no quarto, administrando medicamentos, medindo a pressão arterial, trazendo informações técnicas etc. É preciso levar em conta as condições nas

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quais o paciente está submetido, qual o sentido que ele atribui a esta experiência. Trata-se de um momento que exige uma rápida adaptação às condições deste novo ambiente, e diante disso, evidencia-se a necessidade de considerar a subjetividade como fator relevante neste processo pré-operatório (SEBASTIANI e MAIA, 2012).

A ausência de clareza manifestada na fala dos participantes a respeito de como ocorrerá este processo pré-operatório indica que a informação é insuficiente e constitui-se como um fator ansiogênico. Neste sentido, SOUZA et al (2005) apontam que a falta de informação na internação hospitalar sobre as fases da cirurgia contribui para que o paciente cirúrgico apresente estresse no pré-operatório. A possível experiência cirúrgica associada à falta de informação antecipa no paciente uma série de sentimentos e reações. Abaixo serão apresentadas falas significativas que denotam a falta de informação veiculada pela equipe médica aos pacientes submetidos ao pré-operatório de neurocirurgia:

S1: O médico explicou na linguagem dele como é que vai ser o procedimento cirúrgico, mas isso não ficou claro para a mim, [...], Eu acho que o paciente teria que ter mais claro, na linguagem de um paciente explicando mais detalhadamente pra acalmar e esclarecer.

S3: Me explicou como vai ser o procedimento que ele vai fazer. Na verdade não teve muitos detalhes.

S4: [...]as informações a respeito do que realmente vai ser feito eu acho que não foi muito bem explicado.

A partir da fala dos participantes pode-se inferir sobre a qualidade da informação que é passada aos pacientes pela equipe médica. Refletir sobre a qualidade da informação transmitida pelos profissionais envolvidos no pré-operatório aos pacientes é pensar na característica tecnicista que forma a equipe médica hospitalar dificultando uma aproximação com a subjetividade dos hospitalizados. Então, as informações passadas são sempre as mesmas e de forma universal não respeitando a subjetividade de cada paciente. Pode ser que não haja um cuidado em alcançar o nível de entendimento do paciente, a prioridade não é minimizar o sofrimento, dúvidas e medos, mas sim garantir que as informações foram passadas independentes do quanto das informações foram compreendidas pela pessoa que sofre a intervenção, conforme demonstram López e Cruz (1998), em seu manual prático de enfermagem.

A equipe médica possui deficiência na formação quando o assunto é atendimento humanizado, as informações são passadas com uma linguagem técnica, própria de quem é da área. O médico fala com distanciamento, em um vocabulário muito específico, ou em uma fala breve que pouco informa ou tranquiliza as pessoas que necessitam da intervenção cirúrgica. As enfermeiras estão na dinâmica do hospital, realizando seus atendimentos e

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pouco podem despender para estarem com os pacientes. Falas técnicas transmitidas para leigos no assunto, não está a serviço da informação e acaba gerando tensão. A pessoa que busca a intervenção cirúrgica, espera ouvir mais do que termos técnicos ou a comum frase “não se preocupe, vai correr tudo bem” dita por profissionais da área hospitalar.

Pensar em alternativas que visem minimizar este estressor é pensar em formas de comunicação apropriada para cada paciente. É entender um pouco do universo de quem procura por intervenção cirúrgica eletiva e requerida. É buscar estabelecer diálogo com uma linguagem menos cientifica e mais humana, mais próxima do convívio de determinado paciente. É preciso pensar em estratégias que fortaleçam a segurança, a confiança e o conhecimento sobre o processo a qual será submetido. Então, penso que tornar as informações verbais contidas no pré-operatório de neurocirurgia em informações mais concretas é um dos desafios a serem ultrapassados.

4.1.3 Ameaça à integridade física

Esta subcategoria está presente em uma situação hospitalar interventiva qualquer onde o paciente perde o controle sobre seu corpo, passando a sofrer ações médico-interventivas de diversas ordens e para Angerami-Camon (1998) pode constituir uma demanda de aspecto psicológico onde podem estar presentes aumento de ansiedade, manifestações fisiológicas e processos de irritabilidade acelerado. Fazendo com que o paciente fique vulnerável as situações que causem ameaça a integridade física e/ou psicológica.

A ameaça à integridade física que Strain (apud PENNA, 1992) denomina de Ameaça a integridade narcísica, pode ser considerado um estressor psicofísico porque envolve um local determinado no corpo e o quanto que este local é representativo para o paciente. Ainda segundo Strain (apud PENNA, 1992), este é um estressor que afeta o conceito de integridade física e de controle sobre o próprio corpo e sobre o próprio destino. A seguir são apresentados alguns dados coletados representativos da categoria:

S2: medo de que essa cirurgia vai sair bem/ se eu vou acordar legal/ preocupação se eu vou continuar depois sendo uma pessoa ativa com todas as chances físicas/ S6: Se eu vou [...] ter alguma seqüela com a cirurgia que ele vai fazer / que não tenho nenhum tipo de seqüela.

S7: será que pode vir a acontecer alguma coisa na hora que abri a minha cabeça, eu depois ficar com alguma seqüela [...].

A fala dos pacientes é composta por tensão geradora de dúvida, medo e incerteza. É uma situação que exige do organismo retorno ao equilíbrio interno e segundo Lipp (2003) a

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tensão é o resultado de um processo e faz com que o organismo tente restabelecer o equilíbrio com o objetivo de retornar ao estágio mais adaptativo que pode se configurar em resistir ou evitar. Neste estudo, a possível relação que pode ser feita com a tentativa de restabelecer o equilíbrio com vistas a um estágio mais adaptativo pode ser identificado na fala dos participantes pelo desejo expresso algumas vezes em forma de dúvida e medo, de se obter um resultado positivo durante e após o processo cirúrgico.

A fase de resistência, expressa no modelo quadrifásico de fases por qual passa um paciente qualquer, está diretamente relacionada com o pré-operatório, momento que inclui a espera do paciente para realizar a cirurgia, inclui processos informativos e burocráticos. Nesta etapa, o paciente efetua um esforço constante induzindo o organismo a um processo de adaptação permanente (LIPP, 2003). A Violação da intimidade e intromissão constante no centro da sua própria existência também são aspectos relacionados ao ato cirúrgico e presentes neste momento invasivo, tenso e adverso. Podendo o paciente demonstrar necessidade de atendimento psicológico para assessorá-lo nesta etapa (GUNN-SECHEHAYE, 2005).

4.1.4 Medo (de morrer)

O medo é uma característica inerente a condição humana quando há risco de morte ou quanto há ameaça a integridade física. Segundo Sebastiani e Maia (2005) qualquer procedimento cirúrgico mobiliza o emocional do paciente que tem a incerteza como perspectiva de futuro. Para Gunn-Sechehaye (2005), o momento que antecede procedimento cirúrgico é indicativo de Ansiedade elevada e o procedimento cirúrgico pode representar uma ameaça à vida. Os participantes ao mencionarem seus medos, evitam falar do medo de morrer de forma direta, fornecendo frases incompletas, podendo ser subentendido o medo de morrer. Como são os casos apresentados abaixo:

S4: mas gente sempre fica com medo. Querendo ou não o momento ali é crucial./ Bastante ansiedade e preocupação. Um pouco de medo, querendo ou não cirurgia é sempre uma situação invasiva, então um pouco de medo eu sinto.

S7: [...] dá um pouco de medo [...].

S8: [...] a gente fica um pouco ansioso, nervosismo também [...]. /[...] se a intervenção pode não dar certo [...].

As falas acima coletadas relatam um medo não especificado, um medo com dimensão subjetiva que pode também ser subentendido como o medo de morrer conforme foi citado acima. Gunn-Sechehaye (2005) alerta que este momento invasivo e adverso propicia medos, expectativas, fantasias relacionadas ao ato cirúrgico. Então, segundo este autor, existe

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um conteúdo que é da dimensão do imaginário e que precisa ser clarificado, mas também há um conteúdo da dimensão das possibilidades concretas e que precisa ser disponibilizado para o conhecimento do paciente.

Ajudar o paciente a desmistificar o seu próprio medo consequentemente promoverá ganho em seu bem estar. Esta relação medo-ansiedade tem sua dimensão alterada conforme for o valor do órgão a ser operado (ANGERAMI-CAMON, 1994). Nesta relação de medo e ansiedade é que o psicólogo entraria para contribuir com a equipe médica hospitalar. Realizando a manutenção de vínculos pertinentes a relação médico-paciente. Fortalecer os vínculos possibilita o desenvolvimento da confiança e autorização, fundamentais para o bom prognóstico da relação indivíduo-cirurgia, e também para o processo de pós-operatório e reabilitação proporcionando assim um atendimento humanizado de qualidade (ANGERAMI-CAMON, 1994).

4.2 SIGNIFICADO DA NEUROCIRURGIA PARA PACIENTES NO PRÉ-OPERATÓRIO

O segundo Quadro a ser discutido (Quadro 3) buscou informações sobre significado da neurocirurgia para os pacientes do pré-operatório. Para alcançar este objetivo, foram criadas as seguintes categorias: Fim do sofrimento e Expectativa de melhora. A categoria “fim do sofrimento” pode ser relacionada com o fim do sofrimento causado pela dor ou pela realização da cirurgia. É uma categoria que aborda um universo de emoções, onde as pessoas estão fragilizadas, mais introspectivas, com medo; é um momento onde as possibilidades, para quem espera uma intervenção cirúrgica, podem ser muitas. Então, é uma categoria que busca expressar um desejo, um pedido que objetiva a retirada (ausência) da dor e manifesta desconforto.

A categoria “Expectativa de melhora” buscou expressar e entender o momento em que as pessoas estão voltadas para o futuro, para uma possível retomada da vida, reencontro com o cotidiano, um momento de angustia que envolve espera/esperança/expectativa. Por estar sem autonomia, passivo ou paciente diante de seu estado de saúde, ou até mesmo por uma falta de controle da situação, o paciente busca acreditar numa expectativa de melhorara. Há também implicado nesse momento a ideia de reabilitação, a possibilidade de melhora, o desejo de retorno a uma vida “normal”.

O significado da neurocirurgia para estas pessoas pode ser entendido como uma possibilidade de retorno ao funcionamento normal, de reestruturação da saúde e também pode significar uma possibilidade de alívio.

(29)

Estas categorias foram agrupadas por falas que buscam identificar alguns estressores psicológicos e traduzir o possível significado da neurocirurgia para pessoas do pré-operatório. Ao mesmo tempo em que gera medo e ansiedade, é perceptível certa expectativa em relação à extinção dos sintomas. A ansiedade presente nos participantes surge por ser uma situação nova e desconhecida, mas também por haver a possibilidade de resolução do problema.

Para melhor visualização das categorias que buscaram informações sobre o significado da neurocirurgia para os pacientes do pré-operatório, segue quadro:

Quadro.3 – Significado da neurocirurgia para pacientes no pré-operatório

Categoria Frequência Unidade de contexto elementar

Expectativa de melhora

11

S1: que seja feita com sucesso/ [...] posso sair melhor do que eu estou. S2:[...] de que essa cirurgia vai sair bem[...]

S3:[...] que corra tudo bem.

S4: [...] tentar levar uma vida o mais normal possível sem precisar ficar tomando medicamentos todos os dias pra conseguir ficar trabalhando e acordada durante o dia.

S5: Ah, eu espero que dê tudo certo.

S6:Que corra tudo bem / para que posso voltar a fazer o que faço. normalmente.

S7: Olha que corra tudo bem / [...] estar em casa levando a minha vida normal/ [...] é de que dê tudo certo e não aconteça nada de errado. S8: As melhores possíveis porque espero que seja bem sucedida que essa intervenção ocorra na melhor maneira possível e que eu me recupera o quanto antes.

Fim do

Sofrimento 09

S1: [...] que eu me livre disso, porque eu sinto muita dor, que eu me livre dessas dores, desse mal estar que sinto./[...] que chegue a hora de fazer isso de uma vez/ [...]pra mim me ver livre disso.

S2: [...] eu vou parar de sentir a dor.

S3: [...] que seja breve bem rápido e que eu possa ir embora de uma vez.

S4: [...] é principalmente parar com as dores [...].

S6: [...]que eu possa voltar logo a fazer o que eu fazia [...]

S7: Eu sinto um pouco de angustia, mas pra ver logo a coisa feita [...] / É uma angustia pela espera

Fonte: Elaboração do autor, 2013

4.2.1 Expectativa de Melhora

Os participantes deste estudo quando perguntados sobre as suas expectativas e seus pensamentos mais recorrentes em relação à intervenção neurocirúrgica revelam

(30)

sofrimentos decorrentes da situação de espera e por ser um novo ambiente. Outro aspecto subjetivo que não está expresso na fala, mas presente na situação é o desconforto gerado pelo conflito em ter que se ausentarem das coisas e objetos do cotidiano, ao mesmo tempo em que o processo de hospitalização e pré-operatório exigem rápida adaptação. Esses fatores reunidos geram o desejo expresso nos relatos que seguem abaixo:

S1: que seja feita com sucesso/ [...] que chegue a hora de fazer isso de uma vez/ [...] posso sair melhor do que eu estou.

S3: eu quero que passe logo. Quero que ele faça logo e eu possa ir embora de uma vez.

S6: que eu possa voltar logo a fazer o que eu fazia sem problema nenhum/ para que posso voltar a fazer o que faço, normalmente.

Os dados acima coletados, segundo Strain (apud PENNA, 1992) surgem porque os pacientes vivenciam ansiedade de separação ao se hospitalizarem. Esta mesma ansiedade que gera sofrimento mobiliza o desejo de melhora orientado pela possibilidade de voltar ao ambiente familiar o mais breve possível. Também pode ser entendido pela busca ao retorno do estágio mais adaptativo (LIPP, 2003). Para os participantes, a intervenção neurocirúrgica representa a possibilidade de melhora, o retorno a vida normal, sem dores. Os medos, dúvidas e incertezas são enfrentadas com mais determinação. É um tipo de intervenção cirúrgica que mobiliza aspectos positivos, sendo que estes aspectos positivos podem influenciar a relação do paciente no trans e pós-operatório. A expectativa de melhora é a possibilidade de retorno à vida normal e está diretamente ligado com o desejo de retomar a autonomia, o controle do corpo. Envolve o vir a ser, aspectos relacionados ao futuro, a continuação da existência e das relações que foram interrompidas.

4.2.2 Fim do sofrimento

Outro significado que a neurocirurgia assume e que está presente nos relatos coletados dos pacientes é que realizar a cirurgia significa eliminar todos os demais estressores geradores de ansiedade e sofrimento, mas também significa por fim ao incomodo da dor. São características desta categoria a queixa por agilidade na realização do processo cirúrgico que está relacionado com a espera, a possibilidade de resolução do conflito gerado pelo processo de separação (de objetos e pessoas) e hospitalização (PENNA, 1992), e a perspectiva de voltar a vida normal sem o incomodo da dor. Os relatos que serão apresentados abaixo ilustram o que foi mencionado acima:

(31)

S3: [...] que seja breve bem rápido e que eu possa ir embora de uma vez. S4: [...] é principalmente parar com as dores [...].

S7: Eu sinto um pouco de angustia, mas pra ver logo a coisa feita [...] / É uma angustia pela espera.

A neurocirurgia para essas pessoas pode significar alívio das tensões criadas devido à situação hospitalar pré-operatória. As pessoas entrevistadas ficaram expostas ao fenômeno de hospitalização por breve período de tempo e ao expressarem as falas presentes nesta categoria, foi possível perceber o quanto que o processo de hospitalização afeta, causa desconforto e sofrimento. Segundo Sebastiani e Maia (2012), na medida em que esse desconforto se eleva e se soma à tensão, estresse ou outras condições adversas do estado emocional podem advir. Com isso, o paciente pode sofrer interferências em seu organismo que podem prejudicar o processo cirúrgico. Mas no estudo em questão, este tipo de cirurgia, fez com que as pessoas se projetassem ao momento pós-operatório, que na maioria dos casos, ocorre em ambiente familiar. Pode-se dizer que isto ocorre, conforme Sebastiane e Maia (2012) apontam devido ao tipo de cirurgia que foi realizada, ou seja, cirurgia que colocam os pacientes a lançarem perspectivas futuras com o fim do sofrimento. Estas características podem ter contribuído para a perspectiva de futuro que potencializa ou é a força motriz do desejo expresso na fala dos participantes.

Esta categoria além de representar o fim dos estressores representa o fim de uma série de categorias encontradas durante o referido período. É uma categoria que envolve os estressores anteriores na medida em que representa o fim dos mesmos. Esta categoria é um estressor que depende da ação concreta de ordem objetiva, que envolve realizar a cirurgia acabando como momento de espera e com o retomado dos laços interrompidos elimina-se os estressores presentes na situação hospitalar pré-operatória.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Através do presente artigo foi possível compreender a atmosfera na qual os pacientes estão envolvidos e identificar os estressores e os possíveis significados da neurocirurgia para os pacientes. Tanto os estressores identificados quanto os significados demonstrados pelos participantes da pesquisa fazem parte do processo de hospitalização, internação e pela possibilidade de livrar-se da dor. Os resultados obtidos apontam aspectos relacionados à situação hospitalar pré-operatória, aspectos estes de ordem objetiva e subjetiva.

Referências

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