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Cuidador: capacitar para a prevenção de úlceras por pressão

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Academic year: 2021

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Cuidador: Capacitar para a Prevenção de Úlceras por Pressão

Estágio e Relatório

Mestrado em Enfermagem Comunitária

Maria João Meireles Amaro de Azevedo

Orientador

Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

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Cuidador: Capacitar para a Prevenção de Úlceras por Pressão

Estágio e Relatório

Mestrado em Enfermagem Comunitária

Maria João Meireles Amaro de Azevedo

Orientador

Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

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Este trabalho foi expressamente elaborado como Estágio e Relatório original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Comunitária, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Á Professora Doutora Maria João Monteiro, pelo privilégio da sua orientação e pelas suas palavras de sabedoria.

Aos profissionais da Unidade de Cuidados na Comunidade Vila Real I, em especial aos Enfermeiros Joni Madureira e Vanessa Monteiro, pelo apoio em momentos de grande dificuldade.

Aos cuidadores, pela sua disponibilidade para participarem neste estudo e pela forma acolhedora como me receberam no seu meio.

À amiga Teresa Carvalho, um agradecimento muito especial pelo seu profissionalismo e pelas amêndoas partilhadas.

Aos amigos, em particular à Sandra, pelo seu envolvimento no projeto de intervenção. Á família, pelas ausências e por compreender os desalentos.

A todos os que direta ou indiretamente caminharam comigo ao longo deste percurso.

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O presente relatório, realizado no âmbito da Unidade Curricular Estágio e Relatório, visa descrever de forma sucinta, clara e reflexiva, o percurso de construção de competências específicas para a intervenção especializada em Enfermagem Comunitária. Reporta-se às atividades desenvolvidas nas diferentes unidades funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde Douro I – Marão e Douro Norte, nomeadamente a Unidade de Cuidados na Comunidade Vila Real I, Equipa de Cuidados Continuados Integrados Vila Real I e Unidade de Saúde Pública.

Tendo por base a metodologia do planeamento em saúde, concretizou-se o diagnóstico de situação dos cuidadores dos utentes dependentes, referenciados para cuidados da Equipa de Cuidados Continuados Integrados Vila Real I, que resultou na implementação do projeto de intervenção “Cuidador: Capacitar para a prevenção de úlcera por pressão” que, alicerçado nas dimensões ensinar, instruir e supervisionar, visava o desenvolvimento de competências nos cuidadores no âmbito da prevenção de úlceras por pressão, contribuindo para a continuidade de cuidados no domicílio. Emergem como principais conclusões do projeto de intervenção: o grupo de cuidadores é do sexo feminino, com idades compreendidas entre 39 e 62 anos, possuem o ensino básico e têm uma relação de parentesco com a pessoa cuidada. Prestam todos os cuidados que o utente necessita e são apoiadas pelos familiares. Quanto aos conhecimentos adquiridos através da atividade ensino/instrução e treino, relacionado com a observação e cuidados à pele e prevenção de fatores de risco, para a maioria dos cuidadores traduziram-se em competências, com exceção para dois cuidadores na dimensão observação e cuidados à pele.

Do desenvolvimento do projeto, salienta-se: i) a necessidade de envolvimento de diferentes estruturas/serviços para a concretização do projeto; ii) a reduzida participação do número de cuidadores, pelo que será importante equacionar estratégias que promovam a adesão dos cuidadores a projetos educacionais; iii) a constatação da aquisição de conhecimentos que deve ser certificada pela monitorização das competências dos cuidadores no contexto real da prestação de cuidados; iv) a necessidade de assegurar dinâmicas formativas que promovam o desenvolvimento de competências dos cuidadores; v) o desocultar do estereótipo do envelhecimento, considerando que a úlcera por pressão é coexistente com a dependência; vi) a rotura com o paradigma do “cuidar por” para um “cuidar com”, promovendo a autonomia e

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minimizando os efeitos da solidão e exclusão social. Na Unidade de Saúde Pública tivemos oportunidade de desenvolver atividades no âmbito da vigilância epidemiológica, com destaque para a participação no sistema de vigilância epidemiológica da tuberculose no concelho de Vila Real, reconhecendo a especificidade da intervenção do enfermeiro especialista em enfermagem comunitária.

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This report, conducted within the Course and Internship Report, aims to describe succinctly, clearly and reflectively the route for building skills for specialized intervention in Community Nursing.

It refers to the activities in different functional units of the Group Health Centre Douro I - Marão North and Douro, including the Community Care Unit Vila Real I, Continuous Care Team Vila Real I and Public Health Unit.

Based on the methodology of health planning the caregivers of dependent users’, referred for care Continuous Care Team Vila Real I, situation diagnosis has been materialized, which resulted in the implementation of the intervention project "Caregiver: To qualify for the prevention of pressure ulcers" that founded on the dimensions teach, instruct and supervise, aimed at developing skills in caregivers in the prevention of pressure ulcers, contributing to the continuity of care at home.

Emerge as key findings of the intervention project: the group of caregivers is female, aged between 39 and 62 years, have basic education and have a family relationship with the person cared for.

They provide all the care that the user needs and are supported by relatives. Regarding the knowledge acquired through education activity/education and training related to the care and observation of skin and prevention of risk factors, for most caregivers translated into skills, with exception for two caregivers in the skin care and observation dimension.

The project development emphasizes: the need for involvement of different structures/ services to the realization of the project, ii) the reduced number of participating caregivers, so it is important to consider strategies that promote adherence of caregivers to educational projects, iii) the realization that the acquisition of knowledge must be certified by the monitoring skills of caregivers in the context of actual care, iv) the need to provide dynamic training that promote the development of skills of caregivers; v) to unveil the stereotype of aging whereas pressure ulcers is coexistent with the dependency; vi) the break with the paradigm of "caring for" to a "care to" promoting autonomy and a successful aging; vii) profitability and optimization of the various community resources in order to enhance the type of support for caregivers and cared for people, minimizing the effects of loneliness and social

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surveillance of tuberculosis in the district of Vila Real, recognizing the specificity of the intervention of the nurse specialist in community nursing.

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AGRADECIMENTOS... v

RESUMO ... vii

ABSTRACT ... ix

ÍNDICE DE TABELAS ... xiii

ÍNDICE DE FIGURAS ... xv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS... xvii

1.INTRODUÇÃO ... 1

2.DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO... 7

2.1. Tipo de estudo ... 9

2.2. Instrumento de recolha de dados ... 10

2.3. Local do estudo ... 15

2.4. Procedimentos éticos ... 15

2.5. Apresentação e análise dos resultados ... 16

2.5.1. O cuidador do utente abrangido pelos cuidados da Equipa de Cuidados Continuados Integrados Vila Real I ... 16

2.5.2. Os utentes da Equipa de Cuidados Continuados Integrados Vila Real I ... 27

2.6. Definição de prioridades para a intervenção ... 31

3.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA O PROJETO DE INTERVENÇÃO ... 35

3.1. Envelhecimento demográfico ... 35

3.2. Processo multidimensional do envelhecimento humano ... 38

3.3. Prestação de cuidados a pessoas dependentes e redes sociais de apoio ... 39

3.3.1. A família provedora de cuidados ... 41

3.3.2. Respostas sociais de apoio: Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, uma estratégia inovadora ... 47

3.4. A problemática das úlceras por pressão ... 51

3.4.1. Fatores de risco ... 53

3.4.2. Classificação das úlceras por pressão ... 56

3.5. Educação para a saúde na continuidade de cuidados ... 59

3.5.1. Educação para a saúde ... 61

4. DO DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO DE SAÚDE AO PROJETO DE INTERVENÇÃO “CUIDADOR:CAPACITAR PARA A PREVENÇÃO DE ÚLCERAS POR PRESSÃO” ... 65

4.1. Justificação do projeto de intervenção “Cuidador: Capacitar para a prevenção de úlceras por pressão” ... 65

4.2. Definição de objetivos e metas ... 67

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4.6. Previsão de recursos... 75

4.7. Definição da avaliação ... 76

5.DA PLANIFICAÇÃO À EXECUÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO “CUIDADOR:CAPACITAR PARA A PREVENÇÃO DE ÚLCERA POR PRESSÃO” ... 79

5.1. Grupo alvo ... 79

5.2. Tempo ... 81

5.3. Desenvolvimento das atividades do projeto ... 81

5.4. Avaliação das atividades do projeto ... 83

5.4.1. Apresentação dos resultados da sessão de educação para a saúde “Úlceras por pressão: ensinar e instruir para prevenir” ... 83

5.4.2. Visitas domiciliárias para supervisão/aperfeiçoamento de cuidados ... 88

6.AVALIAÇÃO DO PROJETO “CUIDADOR:CAPACITAR PARA A PREVENÇÃO DE ÚLCERA POR PRESSÃO” ... 91

7. ANÁLISE CRÍTICO-REFLEXIVA DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE A UNIDADE CURRICULAR ESTÁGIO E RELATÓRIO ... 93

8.CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 97

9.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 103

Apêndice A - Guião da Entrevista ... 113

Apêndice B - Consentimento Informado, Livre e Esclarecido para participação em investigação ... 123

Apêndice C - Pedido de autorização à coordenadora da UCC Vila Real I, para implementação do projeto de intervenção ... 127

Apêndice D - Sessão de educação para a saúde “Úlcera por Pressão: Ensinar e Instruir para Prevenir” ... 131

Apêndice E - Convite para participação na sessão de EpS “Úlcera por Pressão: Ensinar e Instruir para Prevenir” ... 139

Apêndice F - Manual do cuidador e da pessoa cuidada ... 143

Apêndice G - Grelha de observação de competências ... 157

Apêndice H - Questionário de avaliação da sessão de EpS “Úlcera por Pressão: Ensinar e Instruir para Prevenir” ... 161

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Tabela 1. Operacionalização da variável “conhecimentos do cuidador sobre prevenção de UP”:

dimensões, afirmações e juízo diagnóstico ... 13

Tabela 2. Caracterização sociodemográfica do cuidador... 17

Tabela 3. Contexto de prestação de cuidados ... 19

Tabela 4. Contexto do apoio na prestação de cuidados ... 21

Tabela 5. Cuidados proporcionados pelo cuidador ... 22

Tabela 6. Formação do cuidador ... 23

Tabela 7. Conhecimentos do cuidador no âmbito da prevenção de UP ... 25

Tabela 8. Caracterização sociodemográfica dos utentes abrangidos pelos cuidados da ECCI... 27

Tabela 9. Motivo de referenciação para ingresso na ECCI ... 29

Tabela 10. Presença, número, localização e grau de UP ... 30

Tabela 11. Nº de cuidadores com diagnóstico de “Conhecimentos não demonstrados sobre prevenção de UP” por dimensão avaliada ... 32

Tabela 12. Módulo I - Ensinar e instruir para prevenir ... 69

Tabela 13. Módulo II - Da instrução/treino ao desenvolvimento de competências ... 70

Tabela 14. Exemplo de indicador de resultado do projeto de intervenção ... 77

Tabela 15. Exemplo de indicador de atividade do projeto de intervenção ... 78

Tabela 16. Caracterização do grupo de cuidadores de utentes dependentes que participaram no projeto “Cuidador: Capacitar para a prevenção de UP” ... 80

Tabela 17. Dimensão 1 - Conceito e etiologia de UP ... 84

Tabela 18. Dimensão 2 - Fatores de risco para UP ... 84

Tabela 19. Dimensão 3 - Observação e cuidados à pele ... 85

Tabela 20. Dimensão 4a - Locais anatómicos de risco para UP, em decúbito dorsal ... 85

Tabela 21. Dimensão 4b - Locais anatómicos de risco para UP, em decúbito lateral ... 86

Tabela 22. Dimensão 4c - Locais anatómicos de risco para UP, em decúbito ventral... 86

Tabela 23. Dimensão 5 - Posicionamento (alternância de decúbito) ... 87

Tabela 24. Dimensão 6 - Alimentação/Hidratação... 87

Tabela 25. Dimensão 7 - Uso de equipamento de alívio de pressão... 88

Tabela 26. Resultado da grelha de observação durante a visita domiciliária ... 89

Tabela 27. Indicador de resultado relativo aos ganhos em conhecimentos sobre prevenção de UP ... 91

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Figura 1. Objetivos, atividades, metas e indicadores, delineados para o projeto “Cuidador: Capacitar

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ACES - Agrupamento de Centros de Saúde AIVD - Atividades Instrumentais de Vida Diária ARS - Administração Regional de Saúde Norte artº - artigo

AVD - Atividades de Vida Diária DGS - Direção Geral da Saúde

ECCI - Equipa de Cuidados Continuados Integrados ECL - Equipa Coordenadora Local

ECR - Equipa de Coordenação Regional

EEEC - Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária EpS - Educação para a Saúde

EPUAP - European Pressure Ulcer Advisory Panel ESEnfVR - Escola Superior de Enfermagem de Vila Real GICE - Grupo de Investigação Científica em Enfermagem INE - Instituto Nacional de Estatística

MEC - Mestrado em Enfermagem Comunitária Nº - número

NPUAP - National Pressure Ulcer Advisory Panel p. página

RNCCI - Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados SPSS - Statistical Package for the Social Science

UCC - Unidade de Cuidados na Comunidade UE - União Europeia

UMCCI - Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados UMDR - Unidade de Média Duração e Reabilitação

UP - Úlcera por Pressão

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O Mestrado em Enfermagem Comunitária da Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, integra no seu plano de estudos a unidade curricular Estágio e Relatório (2º ano – 1º semestre), orientado pelos objetivos e competências insertos nesta unidade curricular. Como objetivos mais relevantes estabelece a consolidação da intervenção especializada em enfermagem comunitária e a participação em atividades desenvolvidas pelas diferentes unidades funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde. Neste sentido, o percurso de aprendizagem decorreu em diferentes unidades funcionais do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Douro I – Marão e Douro Norte, nomeadamente a Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Vila Real I, Equipa de Cuidados Continuados Integrados (ECCI) Vila Real I e Unidade de Saúde Pública (USP), sendo que o tempo de maior permanência foi na ECCI Vila Real I.

Tomando por base a ordem cronológica da realização do Estágio, iniciamos na ECCI Vila Real I, concretizando o diagnóstico de situação dos cuidadores de utentes dependentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I. Seguiu-se a USP, com a oportunidade de participar no sistema de vigilância epidemiológica da tuberculose no concelho de Vila Real, regressando à ECCI Vila Real I, para dar continuidade às actividades de planeamento em saúde, concretizando a operacionalização do projeto de intervenção “Cuidador: Capacitar para a prevenção de úlcera por pressão”, que pretendia contribuir para o desenvolvimento de competências dos cuidadores de forma a promover a sua autonomia e segurança nos cuidados de prevenção de UP.

De seguida, e dada a relevância do projecto de intervenção pretendemos enquadrá-lo, abordando a problemática do envelhecimento demográfico e da necessidade de cuidados de saúde que se colocam como resultado da dependência, e que poderá conduzir ao aparecimento de UP, como também a necessidade de promover a capacitação dos cuidadores.

O envelhecimento demográfico é hoje uma realidade das sociedades atuais, constatando-se o aumento do número de pessoas idosas dependentes, para o qual concorreram fenómenos como a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da esperança média de vida. Portugal,

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de acordo com os resultados do censos 2011 (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2012), apresenta um quadro de envelhecimento demográfico bastante acentuado, com uma população idosa que supera a população jovem e uma esperança média de vida à nascença que se perspetiva aumentar nos próximos anos. Seguindo as tendências nacionais, o concelho de Vila Real, apresenta predomínio da população idosa (>65 anos) relativamente à população jovem (0-14 anos), com um índice de envelhecimento de 116, significando que existem por cada 100 jovens, 116 idosos (INE, 2012a). Associada a toda esta problemática do envelhecimento da população, observam-se orientações políticas promotoras da diminuição do tempo de internamento hospitalar, com consequente regresso ao domicílio das pessoas, maioritariamente idosas e com elevado nível de dependência. As limitações funcionais que apresentam, condicionam a satisfação, de modo autónomo e independente, das atividades, e por isso a necessidade de cuidados diretos e constantes de terceiros (Veloso, 2008), muitas vezes relacionados com a prevenção de úlceras por pressão (Teixeira, 2009).

De um modo geral as UP, surgem como consequência do incumprimento de boas práticas nos cuidados prestados a pessoas sujeitas a longos períodos de imobilidade (Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados [RNCCI], 2007). A UP, caracteriza-se por uma lesão localizada na pele e/ou tecidos subjacentes, normalmente sobre uma proeminência óssea, em resultado da pressão ou de uma combinação entre esta e forças de torção (EPUAP e NPUAP, 2009). Na maior parte dos casos, um compromisso sensorial, nas regiões do corpo que se encontram em contacto com uma superfície, ou a incapacidade motora para mudar de posição regularmente, provoca uma irrigação sanguínea insuficiente, por oclusão capilar, resultando hipóxia, e se suficientemente persistente, consequente sofrimento e morte celular, originando assim as UP (Santos, 2009; Rogenski & Santos, 2005). Localizam-se preferencialmente nas regiões com proeminências ósseas, sendo o sacro, o cóccix trocânter e o calcâneo, os locais anatómicos de maior vulnerabilidade (Blanck, 2008). Na etiologia das UP, a pressão e a tolerância dos tecidos são fatores de primordial importância e também fatores como o edema, o stresse emocional e a temperatura da pele, são mencionados como hipotéticos intervenientes na etiologia das UP (EPUAP & National Pressure Ulcer Advisory Panel [NPUAP], 2009). A magnitude do problema das UP tem levado à articulação de recursos e à conjugação de esforços no sentido de diminuir a sua incidência e prevalência. As medidas de prevenção, ao incidirem sobre a anulação ou minimização dos fatores etiológicos como a pressão, a

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tolerância tecidular, a mobilidade, entre outros, constituem uma forma de prevenir o seu aparecimento.

A crise dos sistemas de saúde e protecão social, no decurso das últimas décadas, resultante em boa parte do envelhecimento das populações, dá novamente às famílias a responsabilidade dos cuidados a prestar aos familiares, assistindo-se nos últimos anos a uma orientação política da qual resulta a transferência para a família da responsabilidade de cuidar dos doentes e idosos dependentes (Areosa & Areosa, 2008; Lage, 2005). É neste contexto que emerge a figura do cuidador que, na maioria das vezes, é um membro da família geralmente associado à figura feminina sobre a qual recai grande parte das responsabilidades e o maior número de tarefas, realizadas de forma regular e gratuita, necessárias para que a pessoa viva com dignidade (Figueiredo, 2007; Wall, 2005).

A decisão para assumir os cuidados constitui uma atitude mais ou menos consciente, cujo processo está, normalmente, relacionado com factores como o parentesco, o género, a proximidade física e afetiva, destacando-se a relação conjugal e a relação entre pais e filhos (Gomes & Mata, 2012). O ato de cuidar implica assim novas funções com as quais o cuidador se confronta e tem necessidade de realizar, nas quais se incluem, entre outras, a promoção da autonomia, da independência e do ambiente seguro, e supervisão, ajuda ou substituição nas actividades básicas e instrumentais de vida (Sequeira, 2007). O cuidado diário e permanente ao idoso dependente produz perturbações que, por menor que sejam, afetam a vida familiar, o que leva o cuidador a procurar alternativas de cuidado (Jacob, 2012).

No sentido de dar resposta à crescente necessidade de cuidados continuados, o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e Solidariedade, aprovaram e divulgaram orientações de intervenção articulada de apoio social e cuidados de saúde continuados, dirigidos a pessoas com dependência, no sentido da promoção da autonomia e reforço de capacidades e competências das famílias para lidar com estas situações, promovendo a prestação de cuidados no domicílio. Nesse sentido, e seguindo as tendências internacionais de criação de redes de cuidados de saúde e de apoio social, surge um novo modelo de cuidados que ganhou operacionalidade com a criação da RNCCI e a constituição das equipas de Cuidados Continuados Integrados (ECCI), (Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de junho), que direcionam a sua intervenção multidisciplinar a pessoas em situação de dependência funcional, doença terminal, ou em processo de convalescença, com rede de suporte social, cuja situação não requer internamento.

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Fica desta forma patente que cuidar de pessoas dependentes no domicílio, constitui uma tarefa atravessada por desafios para o cuidador, o qual apresenta por vezes dificuldades no desempenho do seu papel, manifestando necessidades que incluem a capacitação para tarefas relacionadas com o cuidado a prestar a pessoa dependente (Figueiredo, 2007; Martins et al., 2007; Sequeira, 2007). A literatura referente ao papel do cuidador, enquanto pessoa que previne o aparecimento de UP, é escassa. A prevenção de UP exige a implementação de um conjunto de intervenções sustentadas e contínuas que, alicerçadas em competências técnicas, cognitivas e atitudinais por parte dos cuidadores, permite minimizar o risco de adquirir UP. O enfermeiro especialista em enfermagem comunitária (EEEC) desempenha um papel preponderante na capacitação dos cuidadores, uma vez que possui competências adquiridas ao longo do seu percurso de formação especializada, que lhe permitem criar uma relação de proximidade com o indivíduo/família/comunidade e intervir em vários contextos, nomeadamente na área da prevenção e promoção da saúde. Neste sentido consideramos pertinente e necessária a intervenção junto dos cuidadores de utentes dependentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I, de modo a percecionar as competências que estes demonstram para o desempenho do papel de cuidador no âmbito da prevenção de UP. Em função dessa avaliação estruturou-se que um projecto de intervenção projeto designado: “Cuidador: Capacitar para a prevenção de UP”.

O presente relatório, para além de servir como um instrumento de avaliação, procura de modo substantivo contribuir para o desenvolvimento de competências no âmbito da intervenção especializada em enfermagem comunitária. Assim, no âmbito da unidade curricular Estágio e Relatório com a duração de 750 horas, pretendemos descrever e analisar de forma crítica e reflexiva as atividades desenvolvidas nas diferentes unidades funcionais do ACES.

O documento que se apresenta, apesar dos condicionalismos, como consequência do registo retrospectivo das actividades, está organizado nas seguintes partes: diagnóstico de situação que conduzem à definição de prioridades para a intervenção; fundamentação teórica privilegiando diferentes temáticas para concretização do projeto de intervenção, como, o envelhecimento enquanto fenómeno individual e demográfico, as respostas sociais e de apoio e a problemática das úlceras por pressão, destacando a sua etiologia, factores de risco e classificação, e a relevância da educação para a saúde na continuidade dos cuidados; segue-se o planeamento, execução e avaliação do projeto de intervenção. Termina-se com a análise crítico-reflexiva sobre a aprendizagem realizada nas diferentes unidades funcionais do ACES

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e do seu contributo para a aquisição de competências necessárias ao exercício profissional de Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública e com a apresentação das principais conclusões.

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(27)

2.

D

IAGNÓSTICO DE

S

ITUAÇÃO

De acordo com dados do INE (2012a), Portugal apresenta um quadro de envelhecimento demográfico bastante acentuado, com uma população idosa (pessoas com 65 e mais anos) de 19 %, uma população jovem (pessoas com 14 e menos anos) de 15% e uma esperança média de vida à nascença de 79,2 anos, tendência que se prevê agravar nos próximos anos e que se traduz em novas e mais exigentes necessidade em matéria de saúde. É nos grupos etários a partir dos 65 anos que se encontra o maior número de indivíduos com doenças de evolução prolongada, que apresentam limitações funcionais (físicas, mentais ou sociais) para satisfazer de modo autónomo e independente as suas necessidades, necessitando de cuidados diretos e constantes de terceiros (Veloso, 2008). A prestação de cuidados aos idosos dependentes é assegurada predominantemente pelas suas famílias e, eventualmente, por amigos ou vizinhos (Figueiredo, 2007; Gomes & Mata, 2012; Paúl, 2005; Sequeira, 2007). Cuidar do idoso no domicílio constitui uma atividade que deve ser estimulada, porém, não é tarefa fácil para quem a realiza, uma vez que ela representa uma sobrecarga física e emocional para estes prestadores de cuidados (Grelha, 2009; Veloso 2008). Um outro aspeto importante relaciona-se com o facto de esta assistência decorrer relaciona-sem uma preparação técnica e emocional adequada e, frequentemente, apresentar pouca interligação com os profissionais de saúde, conduzindo assim a situações de não adesão e desempenho inadequado do papel de prestador de cuidados (Petronilho, 2007). Assim, a assistência domiciliária ao cuidador familiar de maneira eficaz, pressupõe uma articulação dos profissionais de saúde, do idoso, do prestador de cuidados, da família e inclusivamente da comunidade, sendo todos participantes ativos das ações de saúde. O EEEC, fruto do seu conhecimento e experiência clínica, possui um entendimento profundo sobre as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, uma elevada capacidade para responder de forma adequada às necessidades dos diferentes clientes e um conjunto de competências que lhe permitem contribuir para o processo de capacitação de grupos e comunidades (Regulamento nº 128/2011, de 18 fevereiro). Desta forma, a sua atuação torna possível a capacitação dos prestadores de cuidados, por intermédio do desenvolvimento de programas de intervenção em matéria de saúde, junto da família, promovendo a adesão e aceitação ao papel de prestador de cuidados.

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Na fase inicial do estágio, integrados na equipa da ECCI Vila Real I, tivemos oportunidade, durante a visita domiciliária, de observar o contexto em que são prestados os cuidados e interagir com os cuidadores e utentes. Estes últimos, apresentando, na grande maioria, elevado nível de dependência na mobilização e cujos cuidadores demonstravam não possuir competências e até algum desconhecimento relativamente aos cuidados de prevenção de UP. Desta forma e no âmbito da realização da unidade curricular Estágio e Relatório, numa ótica de desenvolvimento de competências na área de planeamento em saúde, surgiu o desafio de desenvolver o diagnóstico de necessidades em saúde dos cuidadores dos utentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I, inserindo-o na problemática da prevenção de UP, como fator relevante ao desempenho do papel de prestador de cuidados, no sentido de potenciar a qualidade dos cuidados prestados aos utentes e, ao mesmo tempo, contribuir de forma ativa para o alcançar do objetivo da ECCI, relativo à taxa de eficácia1 na prevenção de UP.

De acordo com Imperatori e Giraldes (1993), o planeamento em saúde procura um estado de saúde, através da sua promoção, prevenção de doenças, cura e reabilitação, incluindo mudanças no comportamento das populações. No entanto, para ser possível a concretização de um plano, programa ou projeto em saúde, torna-se necessário conhecer as etapas do processo de planeamento de modo a elaborar projetos eficientes, que atinjam os objetivos pretendidos com a máxima rentabilização dos recursos disponíveis (Tavares, 1992). O diagnóstico de situação é a primeira etapa do planeamento em saúde e tem como objetivo o conhecimento da comunidade quanto às suas necessidades, problemas, fatores e grupos de risco e às suas próprias potencialidades. Só a partir da sua definição será possível iniciar a atuação. É um processo dinâmico, uma atividade permanente, resultado das modificações contínuas da realidade, pelo que deverá ser suficientemente rápido para permitir a ação em tempo útil, e suficientemente aprofundado para que as medidas a implementar sejam pertinentes (Imperatori & Giraldes, 1993).

Esta etapa foi concretizada durante o mês de setembro de 2012, com a realização do diagnóstico de situação dos cuidadores dos utentes referenciados para prestação de cuidados pela ECCI Vila Real I, no âmbito da prevenção de UP. O facto do cuidador não possuir conhecimentos específicos para prestar os cuidados necessários à prevenção de UP, poderá trazer consequências negativas que poderão repercutir-se na qualidade de vida da pessoa cuidada, do próprio cuidador, pelo aumento da sobrecarga que poderá acarretar, e no sistema

1

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de saúde em geral, pelos custos que lhe estão associados. Considerando as várias áreas de prevenção - avaliação de risco, fatores de risco, locais anatómicos de risco, observação e

cuidados com a pele, alternância de decúbito, controlo da humidade, alimentação e hidratação e uso superfícies de apoio - tentamos saber, com o presente estudo, que

conhecimentos possuem os cuidadores dos utentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I sobre os cuidados de prevenção de UP, e quais as áreas que apresentam maior desconhecimento, de forma a atuar nos problemas detetados. Este estudo parece-nos fundamental para detetar insuficiências a nível de conhecimentos, essenciais ao cuidador para prevenir o aparecimento de UP no domicílio e estabelecer um programa de educação estruturado que integre os cuidados de prevenção de UP. A literatura referente ao papel do cuidador, enquanto pessoa que previne o aparecimento de UP, é escassa. A prevenção de UP exige a implementação de um conjunto de intervenções sustentadas, sistematizadas e contínuas que, alicerçadas em competências técnicas e cognitivas por parte dos cuidadores, permitem minimizar o risco potencial da pessoa cuidada desenvolver UP ou mesmo agravar as UP existentes. Neste sentido, consideramos necessário refletir sobre os problemas e necessidades reais do cuidador no contexto onde ocorre o desempenho do papel de cuidador - o domicílio, pois acreditamos que a prevenção da UP exige, por parte dos enfermeiros, uma atenção focalizada no cuidador, apostando em projetos de intervenção que permitam a aquisição de competências necessárias à prestação de cuidados de prevenção relacionados com as UP.

Assim, ao longo deste capítulo, iremos descrever e caracterizar sucintamente os resultados encontrados, devidamente enquadrados na metodologia do Planeamento em Saúde preconizado por Imperatori e Giraldes (1993), permitindo identificar e diagnosticar as necessidades em saúde da população estudada, contribuindo dessa forma para o conhecimento dos problemas encontrados, para que seja possível a apresentação de projetos de intervenção que resultem em ganhos em saúde para as populações ou grupos específicos.

2.1. Tipo de estudo

Considerando que nesta primeira fase tínhamos como objetivos conhecer a população de cuidadores e utentes da ECCI Vila Real I e identificar os conhecimentos dos cuidadores no âmbito da prevenção de UP, equacionamos o desenvolvimento de estudo do tipo descritivo, na medida em que permite identificar as características de um fenómeno de maneira a obter

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uma visão geral de uma situação ou de uma população e ”fornece informação sobre as características de pessoas, de situações, de grupos ou de acontecimentos”(Fortin, Côté & Filion, 2009, p.237), quantitativo, pois trata-se de um processo sistemático de recolha de dados observáveis e quantificáveis, sendo baseada em factos objetivos, de acontecimentos e de fenómenos que existem independentemente do investigador e exploratório, na medida em que são escassos os estudos neste âmbito (Fortin et al., 2009).

Atendendo a que a população é um conjunto de elementos ou sujeitos que têm características comuns, definidas por um conjunto de critérios (Fortin et al., 2009), definimos como população do estudo, os cuidadores dos utentes referenciados para os cuidados da ECCI Vila Real I, que respeitavam os seguintes critérios: i) Ser cuidador de utente referenciado para cuidados domiciliários pela equipa da ECCI; ii) Ser cuidador com maior tempo dispensado às atividades de cuidar; iii) Querer participar voluntariamente no estudo.

Os cuidadores cujos utentes estavam referenciados para ECCI e tivessem alta foram excluídos do estudo. No momento em que se iniciou o diagnóstico de situação, o número total de cuidadores de utentes referenciados para a ECCI, era 15, pelo que foi incluída toda a população no estudo.

2.2. Instrumento de recolha de dados

Como instrumento de recolha de dados, optamos pela utilização da entrevista estruturada, realizada face a face, cujo guião foi construído especificamente para este estudo (Apêndice A), tendo em conta os seus objetivos, a revisão bibliográfica e as características da população. A entrevista estruturada é aquela em que o investigador exerce o máximo controlo sobre o conteúdo, sendo determinadas previamente as questões a colocar, a sua formulação e a sequência, recorrendo-se a questões fechadas. É apresentada da mesma forma a todos os inquiridos (Fortin et al., 2009). A opção pela utilização da entrevista estruturada, resulta do nível de literacia dos cuidadores, pelo que o preenchimento pelo investigador apresentou-se como mais adequado.

Na elaboração do guião de entrevista, deu-se especial atenção à linguagem utilizada, pois esta constitui uma componente decisiva para obtenção da informação, procurando-se que todos os inquiridos compreendessem, do mesmo modo, todas as questões colocadas. Seguiu-se a recomendação de Fortin e cols. (2009), ao referirem que as questões devem ser claras,

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concisas e precisas, sem que sejam necessários complementos ou esclarecimentos adicionais, para que as respostas sejam adequadas.

Relativamente à sua composição, o guião de entrevista incluía uma nota introdutória, onde constava uma explicação sumária acerca da realização e importância da participação no estudo, a garantia da confidencialidade dos dados, as instruções claras de responder às questões e agradecimento final pela colaboração. Era constituído por duas partes, constando da primeira variáveis relacionadas com o cuidador (parte A) e a segunda com o utente referenciado para cuidados da ECCI Vila Real I (parte B). A parte A do instrumento visa obter informação sobre: i) caracterização sociodemográfica do cuidador (idade, sexo, estado civil, habilitações académicas, situação perante o emprego e profissão); ii) contexto da prestação de cuidados (relação com a pessoa de quem cuida, parentesco, motivo para o desempenho do papel cuidador, coabitação, tempo como cuidador) iii) Contexto de apoio na prestação de cuidados (tipo e frequência de apoio recebido); iv) tipo de cuidados proporcionados; v) capacitação do cuidador (formação efetuada, temas abordados, duração em horas/dias e necessidade de ensino noutras tarefas do cuidar); vi) conhecimentos sobre prevenção de UP. A parte B visa caracterizar o recetor de cuidados, através da recolha de informação sobre: i) dados sociodemográficos (idade, sexo, estado civil, habilitações académicas); ii) motivo de ingresso na ECCI; iii) nível de autonomia física e instrumental (aplicação do modelo de avaliação utilizado na ECCI); iv) grau de risco de UP (aplicação da escala de Braden); v)número, localização e grau da UP.

Para a avaliação do risco de vir a desenvolver UP, foi utilizada a Escala de Braden, pelo facto de ser recomendada pela EPUAP e NPUAP (2009) e pela Direção Geral de Saúde (DGS, 2011) que refere ser o instrumento validado em Portugal para a avaliação do risco no adulto, devendo a sua aplicação no domicílio ser realizada durante a primeira visita domiciliária (DGS, 2011). Esta escala é constituída por seis dimensões: perceção sensorial, humidade,

atividade, mobilidade, nutrição e fricção e forças de torção, em que todas podem contribuir

para o aparecimento de UP e nenhuma delas deve ser preferencialmente avaliada em relação a qualquer outra. Todas as escalas estão ponderadas de 1 a 4, com exceção da fricção e forças de cisalhamento, que está ponderada de 1 a 3. Existem critérios predefinidos que operacionalizam cada subescala. A pontuação final, após aplicação, pode ser no mínimo 6 (valor de mais alto risco) até 23 (valor de mais baixo risco), isto é, quanto mais baixa a pontuação obtida, maior o risco. Através da aplicação da Escala de Braden, os utentes são

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categorizados em dois níveis de risco, em que o ponto de cut-off é 16, respetivamente: alto risco de desenvolvimento de UP no adulto - valor final ≤ 16; baixo risco de desenvolvimento de UP no adulto - valor final ≥ 17 (DGS, 2011).

Para avaliação da autonomia física e instrumental, recorreu-se ao instrumento utilizado pela ECCI Vila Real I, instituído na RNCCI. Relativamente à autonomia física, o instrumento avalia as seguintes atividades: Lavar-se/tomar banho; Vestir-se/despir-se (escolher, preparar, vestir); Alimentar-se/comer (servir-se preparar alimentos, comer); Usar a sanita e/ou o urinol; Sentar-se levantar-se de cadeiras (mover-se transferir-se, andar); Deitar-se/levantar-se da cama (mover-se, transferir-se, andar); Controlar as fezes; Controlar a urina; Autonomia física e meios para visão e audição. A classificação em cada atividade era efetuada através dos seguintes critérios: Incapaz, dependente de terceiros, dependente de meios e independente. A autonomia física e meios para visão e audição era avaliada pelos critérios: Meios e

independente.

Relativamente à autonomia instrumental, eram avaliadas as seguintes atividades: Usar o

telefone (marcar números e atender); Fazer compras; Tarefas da lida da casa (pesadas e leves com limpeza); Preparar refeições (planear bem, preparar e servir-se); Lavar/tratar da sua roupa (grande e pequena); Usar transportes onde não pode ir a pé (públicos/táxi/conduzir carro); Gerir o seu dinheiro (contas cheques idas ao banco); Tomar os seus medicamentos (nas doses e tempos corretos). A avaliação era efetuada na base dos

critérios: Incapaz, dependente de terceiros; Dependente de meios/ajuda ocasional e

independente. A opção pela utilização deste instrumento deveu-se ao facto de permitir reunir

toda a informação relativa ao grau de dependência apresentado pelo utente a nível das AVDs e atividades instrumentais da vida diária (AIVD), permitir o contacto com os instrumentos de avaliação utilizados pela ECCI e rentabilizar o tempo e os recursos.

Relativamente à variável “conhecimentos do cuidador sobre prevenção de UP”, a fim de a tornar mensurável, as afirmações foram agrupadas em dimensões de acordo com bibliografia consultada relativa à prevenção de UP (EPUAP-NPUAP, 2009; Grupo de Investigação Científica em Enfermagem [GICE], 2008; Martínez Angulo, 2008). Das dimensões constam:

Definição e etiologia da UP; Fatores de risco; Observação e cuidados à pele; Locais anatómicos de risco; Posicionamento; Alimentação e hidratação; Uso de superfícies de apoio

(Tabela 1). Importa referir o critério de diagnóstico utilizado para justificar o status relativamente aos conhecimentos demonstrados pelo cuidador na prevenção de UP. Assim,

(33)

definiu-se como critério de diagnóstico: “o cuidador apresenta conhecimentos eficazes sobre

prevenção de UP” se responder corretamente a todas as afirmações incluídas em cada

dimensão.

Tabela 1.

Operacionalização da variável “Conhecimentos do cuidador sobre prevenção de UP”: dimensões, afirmações e juízo diagnóstico

Dimensões a avaliar

Afirmações Juízo diagnóstico

Conhecimentos sobre definição e etiologia da UP

A9 - As UP surgem quando o sangue deixa de circular na zona para onde a pessoa está

virada.

Demonstrado

Respostas corretas =3

Não demonstrado

respostas corretas <3

A11 - As UP são feridas que afetam apenas a pele.

A16 - Uma zona do corpo junto a um osso, que se mantém “avermelhada” após ter mudado

a pessoa de posição, pode ser sinal do início de uma UP. Conhecimentos

sobre fatores de risco para o desenvolvimento de UP

A1 - As pessoas que tomam de medicamentos analgésicos (para diminuir a dor) e sedativos

(para acalmar e ajudar a dormir) têm maior risco de ter UP.

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0 A7 - Os equipamentos (sonda para alimentação, tubo de oxigénio, algalia e saco da urina)

podem provocar UP quando não são posicionados de forma correta.

A10 - Friccionar a pele com a tolha após os cuidados de higiene, favorece a circulação do

sangue e ajuda a prevenir UP.

A12 - As pessoas que tem a pele sempre húmida (incontinência de fezes e urina, suor) têm

maior risco de ter UP.

A15 - Manter a roupa da cama sempre limpa, seca e sem rugas é uma forma de evitar as

UP.

A22 - Arrastar a pessoa ao longo do colchão, é uma forma de mudá-la de posição com

menos esforço e não provoca UP. Conhecimentos

sobre observação e cuidados à pele

A2 - Quando uma zona do corpo, junto a um osso, fica “avermelhada” deve-se massajar

com creme hidratante.

Demonstrado --1 Não demonstrado - 0 A5 - As UP aparecem nas zonas do corpo onde os ossos são mais salientes (proeminências

ósseas).

A6 - Durante a observação da pele deve-se prestar atenção apenas às zonas dos cotovelos e

calcâneos (calcanhares).

A8 - Aplicar creme hidratante na pele, ajuda a prevenir UP. A14 - A observação da pele deve ser efetuada de 2 em 2 dias.

A19 - A região genital, deve ser lavada e seca sempre que se muda a fralda.

Conhecimentos sobre locais anatómicos de risco para UP – sinalização dos locais anatómicos de risco

Fig1 - Decúbito dorsal

1. Calcâneos 2. Região sacro 3. Cotovelos 4. Região occipital 5. Omoplatas

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0 Fig. 2 - Decúbito lateral esquerdo/direito

1. Maléolo externo 2. Trocânter 3. Caixa torácica (região das costelas) 4. Acrómio 5. Pavilhão auricular 6. Face externa do joelho

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0 Fig. 3 - Decúbito ventral

1. Dedo do pé 2. Face anterior do joelho 3. Genitais 4. Região mamária 5. Face interna do ombro 6. Pavilhão auricular

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0

Posicionamentos A13 - O período entre os posicionamentos nunca deve ultrapassar as 3 horas.

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0 A17 - A mudança de posição deve ser feita 3 vezes ao dia, aproveitando o horário das

refeições.

A20 - Durante o período que a pessoa se mantém na cadeira não há necessidade de mudá -la

de posição.

A21 - Sempre que possível, a cabeceira deve ser mantida elevada (90º).

A24 - Deve-se aumentar a frequência de posicionamentos, se as zonas “avermelhadas” se

mantém em vários pontos do corpo. Alimentação/Hidrat

ação

A4 - Uma alimentação rica em proteínas (ovo, carne), ajuda a prevenir as UP.

Demonstrado - 1 Não demonstrado - 0 A18 - Fornecer ½ litro de água por dia é suficiente para manter a pessoa hidratada.

A23 - Se a pessoa transpirar muito, deve-se diminuir à quantidade de líquidos fornecidos. A25 - Quando a pessoa não se alimenta corretamente, podem ser fornecidos suplementos

nutricionais (fortimel), como suplemento da dieta habitual. Uso de superfícies

de apoio

A3 - Quando se utiliza o colchão de pressão alternada, não é necessário posicionar a

pessoa.

Demonstrado – 1 Não demonstrado - 0 A27 - A utilização de ajudas de transferência/posicionamento (resguardo) diminuem o

risco de fricção.

A26 - Deve usar-se calcanheiras e cotoveleiras, quando não se utiliza colchão de pressão

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Embora o guião da entrevista incluísse essencialmente questões fechadas, sendo a escolha efectuada entre um número pré-estabelecido de respostas, como recomendado por (Fortin, et al., 2009), foram colocadas algumas questões abertas, permitindo ao inquirido responder livremente, nomeadamente: situação profissional atual; outra forma de coabitação; outro tipo de relação com a pessoa cuidada; outros motivos para se tornar cuidador; tarefas em que recebe apoio; formação efetuada para cuidar de pessoas dependentes; conteúdos abordados; duração da formação efetuada; necessidade de formação do cuidador.

No sentido de verificar dificuldades na aplicação do instrumento de recolha de dados e estimar o tempo necessário para a sua aplicação, realizamos o pré-teste em quatro cuidadores de utentes, abrangidos pelos cuidados da ECCI de Vila Pouca de Aguiar, que após contacto telefónico disponibilizou a sua colaboração. De acordo com Fortin, Grenier e Nadeau (2003), o guião da entrevista estruturada, deve ser submetido a pré-teste, de forma a colocar em evidência os problemas na formulação das questões, na sequência e forma de registar as respostas. Após o pré teste, foram reformuladas algumas das questões relativas aos conhecimentos sobre prevenção de UP, pelo facto de conterem na sua redação elementos de natureza técnica, a saber: questões 2, 16, 24 com utilização de termos mais percetíveis pelo cuidador.

Definiu-se como local da entrevista o domicílio dos utentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I, aproveitando a visita domiciliária realizada diariamente, de modo a possibilitar rapidez na recolha de dados e maior rentabilização de recursos. Estimou-se que o tempo de duração necessário para a entrevista fosse 20-30 minutos.

A abordagem dos cuidadores foi efetuada num só momento, durante a visita domiciliária da da ECCI Vila Real I, e sempre na observância de princípios éticos, como a privacidade e confidencialidade dos dados e a decisão autónoma e voluntária de participação no estudo. Os participantes assinaram o Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B), depois de efetuada a explicação do estudo e dos seus objetivos. Após estes procedimentos, iniciou-se a realização da entrevista, a nosso cargo, com registo das respostas emitidas pelos cuidadores. No decurso da mesma, procuramos sempre manter uma atitude de disponibilidade e interesse para qualquer esclarecimento adicional. Terminamos com o agradecimento ao cuidador pela amabilidade e disponibilidade dispensadas e valorização do seu contributo. O tempo utilizado na entrevista respeitou o inicialmente previsto.

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2.3. Local do estudo

O estudo realizou-se no concelho de Vila Real em virtude de a ECCI estar integrada na Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) Vila Real I e pelo facto de ser o local onde decorria o estágio. A UCC Vila Real 1 está integrada no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Marão e Douro Norte I, a sua área de abrangência é de 16 freguesias, com uma área de 270 Km2 e com 34 735 habitantes.

O concelho de Vila Real situa-se sobre a margem direita do rio Corgo, rodeado pelas serras do Marão e do Alvão. A cidade de Vila Real é sede de concelho, capital de distrito. É constituído por 30 freguesias, com uma superfície de 378,8 Km2 e uma densidade populacional de 131,7H /Km2 (INE, 2012a). Os resultados do censos de 2011 (INE, 2012a) indicam que a população residente em Vila Real era de 49 897 indivíduos, dos quais 24 047 são homens e 25 850 mulheres. No período entre 2006 e 2010, ocorreu uma diminuição da população (-526 indivíduos), passando de 50 423 para os atuais 49 897 indivíduos (INE, 2012a). Relativamente à distribuição por estrutura etária e sexo, verifica-se a predominância do sexo masculino na população jovem (0-14 anos), tendência que se inverte no grupo etário >65 anos, verificando-se o predomínio do sexo feminino face ao masculino, com uma relação de masculinidade de 67,7 homens por 100 mulheres neste grupo etário, o que constata uma maior longevidade associada ao sexo feminino. As alterações na estrutura etária da população estão bem expressas nos indicadores usualmente calculados para medir o grau de juventude ou envelhecimento e dependência das populações: verifica-se predomínio da população idosa (>65 anos) relativamente à população jovem (0-14 anos), resultando num quadro de envelhecimento populacional, com um índice de envelhecimento de 116, significando que existem por cada 100 jovens, 116 idosos (INE, 2012a).

2.4. Procedimentos éticos

No sentido de serem salvaguardadas questões de ordem moral e ética, como recomendado por Fortin e cols. (2009), foi solicitado o consentimento informado, livre e esclarecido para participação no estudo aos cuidadores de utentes referenciados para cuidados da ECCI Vila Real I e pedido autorização à coordenadora da UCC Vila Real 1, para realização do estudo

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(Apêndice C), uma vez que a ECCI se encontra sob a responsabilidade da UCC do ACES (nº

4 do art.º 11º do Decreto-Lei nº 28/2008, de 22 de fevereiro).

2.5. Apresentação e análise dos resultados

Depois de efetuada a recolha de dados, tivemos necessidade de partir para o processo de análise descritiva dos dados, de modo a descrever as características da população estudada (Fortin et al., 2009).

Assim, esta parte do trabalho reporta-se à apresentação e análise dos dados obtidos através do instrumento de recolha de dados utilizado. Os dados foram tratados através do programa

Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 2.0. Apresentam-se de seguida os

resultados, respeitando-se a sequência do guião da entrevista, recorrendo-se a frequências absolutas e relativas, de forma a melhor identificar os valores e a tornar o estudo mais perceptível (Fortin et al, 2009). A apresentação dos resultados será explicitada em duas partes, a primeira refere-se aos resultados relativos ao cuidador e, a segunda, aos resultados relativos ao utente abrangido pelos cuidados prestados pela ECCI Vila Real I.

2.5.1. O cuidador do utente abrangido pelos cuidados da Equipa de Cuidados Continuados Integrados Vila Real I

Pretendíamos caracterizar os cuidadores do ponto de vista sociodemográfico (idade, sexo, situação conjugal, habilitações académicas e situação perante o emprego), coabitação e relação de parentesco com a pessoa cuidada, motivos subjacentes à assunção ao papel de cuidador, tempo no papel de cuidador, apoios recebidos na tarefa de cuidar, cuidados prestados, formação efetuada no âmbito do cuidar e conhecimentos demonstrados sobre prevenção de UP.

Quanto à caracterização sociodemográfica, a Tabela 2 pretende sumariar os dados mais relevantes que permitam um melhor conhecimento do cuidador (Tabela 2).

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Tabela 2.

Caracterização sociodemográfica do cuidador

Idade N % 30 anos 1 6,67 33 anos 1 6,67 39 anos 1 6,67 46 anos 1 6,67 48 anos 1 6,67 50 anos 1 6,67 52 anos 1 6,67 58 anos 1 6,67 62 anos 2 13,33 63 anos 1 6,67 64 anos 1 6,67 74 anos 1 6,67 76 anos 2 13,33 Total 15 100 Sexo N % Masculino 3 20 Feminino 12 80 Total 15 100 Situação conjugal N % Casado/união facto 11 73,3 Divorciado/separado 1 6,7 Viúvo 2 13,3 Solteiro 1 6,7 Total 15 100,0 Habilitações académicas N % Sabe ler/escrever 2 13,3

1º ciclo do ensino básico 6 40,0

2º ciclo do ensino básico 3 20,0

Ensino secundário 2 13,3

Ensino superior 2 13,3

Total 15 100,0

Situação perante o trabalho N %

Empregada 6 40,0 Doméstica 6 40,0 Reformado 3 20,0 Total 15 100,0 Profissão N % Empregada doméstica 3 50,0

Ação social (família acolhimento) 1 16,7

Auxiliar ação direta (lar de idosos) 1 16,7

Tradutor 1 16,7

Total 6 100,0

Relativamente à caracterização sociodemográfica do cuidador, os resultados revelam que os cuidadores apresentam idades que variam entre o mínimo de 30 anos (1) e máximo de 76 anos (2), com uma média de idades de 50,53 anos. Trata-se de uma população maioritariamente enquadrada na idade ativa, na medida em que apresenta idades inferiores a 65 anos. Estes resultados podem ser explicados pelo facto de alguns cuidadores exercerem o papel de cuidador como profissão remunerada e também pelo facto de o papel de cuidador, em três casos, resultar da incapacidade de familiares jovens (2 filhos e 1 sobrinho). De acordo com dados do INE (2012b), as mulheres são quem mais recorre a licenças de parentalidade, adoção, assistência a menores e a filhos com deficiência ou doença crónica, o que vem constatar que o acompanhamento parental, quer nos primeiros meses de vida das crianças,

(38)

quer em situações de adoção e assistência, é ainda maioritariamente assegurado pelas mulheres.

Predominam os cuidadores do sexo feminino (12-80%) havendo apenas 3 (20%) cuidadores do sexo masculino. Vários autores referem que o cuidado a pessoas dependentes recai tradicionalmente sobre o elemento feminino, o qual assume o papel mais importante como prestadora, o que vem reafirmar que o papel histórico e social de cuidar é, ainda hoje, atribuído à mulher (Almeida, 2005; Andrade, Costa, Caetano, Soares & Beserra, 2009; Brito, 2001; Figueiredo, 2007; Grelha, 2009; Lage, 2005; Mendes, 2010; Silva et al., 2012; Veloso, 2008). Apesar de todas as mudanças ocorridas, quer a nível social quer da composição familiar e dos novos papéis assumidos pela mulher, evidenciados pelo aumento da sua participação no mercado de trabalho, ainda hoje se espera que seja esta a assumir a função de cuidadora (Gomes & Mata, 2012). De acordo com relatório do INE (2012c), Estatísticas no

Feminino: Ser Mulher em Portugal, 2001-2011, as mulheres são os principais agentes na

prestação de cuidados a menores e a pessoas dependentes, representando 64,4% dos prestadores de cuidados. No entanto, embora de forma muito lenta, a atribuição deste papel, de acordo com o género, tem vindo a alterar-se quer por obrigações sociais, económicas quer profissionais, existindo já cuidadores informais do género masculino. Face a alguns indicadores demográficos e de condições, de que são exemplo o aumento da esperança de vida e a maior morbilidade das mulheres, fazem surgir um grupo de cuidadores constituído por maridos idosos (Gomes & Mata, 2012).

A situação conjugal aponta para o predomínio de casado, sejam em regime de casamento ou união de facto (11-73,3%), a situação de viúvo, solteiro e divorciado/separado têm menor representatividade, com 2 (11,1%) e 1 (5,6%) cuidadores, respetivamente. Os resultados obtidos relativamente à situação conjugal refletem a realidade do país, pois segundo os resultados do censos (2011) predominam os indivíduos casados, tanto no grupo dos homens como das mulheres. Vários autores referem resultados idênticos relativamente à situação conjugal dos cuidadores informais (Kawasaki & Diogo, 2001; Orso, 2008; Sequeira, 2007). Relativamente às habilitações literárias, a maioria dos cuidadores possui o 1º ciclo do ensino básico (6-3,3%), seguindo-se os cuidadores com o 2º ciclo do ensino básico (3-20%) e os cuidadores com ensino secundário e ensino superior (2-13,3%). É de salientar que 2 (13,3%) cuidadores não possuem habilitações académicas, no entanto, sabem ler e escrever, correspondendo estes casos aos cuidadores com mais idade.

(39)

Com base nas categorias propostas pelo INE (2012b), para caracterizar a situação dos cuidadores perante o trabalho, observa-se que 6 (40%) dos cuidadores encontram-se na condição de “empregado” e o mesmo número (6-40%) enquadra-se no grupo “doméstico”, os restantes cuidadores (3-20%) estão reformados. Verificámos que, relativamente à profissão, dos 6 cuidadores que referiram possuir um emprego, 3 (50%) são empregadas domésticas, contratadas pelas famílias dos utentes, 1 (6,7%) é família de acolhimento para o utente, 1 (16,7%) exerce a profissão de auxiliar de ação direta num lar de idosos e outro é tradutor (1-16,7%). Os resultados revelam que a maioria dos cuidadores que exercem atividade profissional, o fazem desenvolvendo atividades relacionadas com o cuidar do utente e que apenas 2 acumulam a atividade profissional com a prestação de cuidados.

Relativamente ao contexto de prestação de cuidados, foi avaliado através da relação com a pessoa que é cuidada, do parentesco que as une e da coabitação. De igual modo, foram consideradas as razões que determinaram o papel e o tempo como cuidador (Tabela 3).

Tabela 3.

Contexto de prestação de cuidados

Relação com a pessoa de quem cuida N %

Familiar 12 80% Profissional 3 20% Total 15 100,0 Parentesco N % Esposa 2 16,7 Marido 2 16,7 Filha 3 25,0 Filho 1 8,3 Mãe 2 16,7 Tia 1 8,3 Prima 1 8,3 Total 12 100,0 Coabitação N % Sim 12 80,0 Não 3 20,0 Total 15 100,0

Razões para se tornar cuidador N %

Dever familiar 10 66,7

Evitar a entrada no lar 1 6,7

Problemas económicos 2 13,3

Gostar de ajudar pessoas dependentes 2 13,3

Total 15 100,0

Tempo como cuidador N %

< 1 ano 1 6,7

[1-2 anos] 5 33,3

[3-5 anos] 4 26,7

> 5 anos 5 33,3

Total 15 100,0

A relação do cuidador com a pessoa cuidada (utente) é, na maioria dos casos (12-80%), uma relação familiar e apenas 3 (20%) cuidadores têm uma relação profissional. Relativamente ao parentesco, predominam as filhas (3-25%), seguidas da esposa 16,7%), do marido (2-16,7%) e da mãe (2-(2-16,7%). Os restantes cuidadores (3) têm como parentesco filho, tia e

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prima. Estes resultados corroboram a ideia que a responsabilidade de cuidar recai habitualmente sobre os familiares mais próximos, como é referido por vários estudos, com os cônjuges a ser a principal fonte de prestação de cuidados e, na ausência destes, os descendentes mais próximos (Figueiredo, 2007; Gomes & Mata, 2012; Sequeira, 2007). Os resultados revelam que apesar de todas as mudanças ocorridas na sociedade e das transformações económicas e sociais, a família é ainda hoje uma instituição de apoio e fonte para assistência, ajuda reconhecimento e solidariedade. De acordo com Cattani e Girardon-Perlini (2004), os estudos epidemiológicos e as investigações que abordam o cuidar/cuidado domiciliário mostram que cuidar de doentes em casa não é uma tendência, mas sim uma realidade.

A maioria dos cuidadores (12-80%) coabita com o utente, e os restantes 3 (20%) referem habitar na mesma localidade. Resultados semelhantes foram encontrados num estudo desenvolvido por Figueiredo (2007), em que constatou que a maioria (82,8%) dos cuidadores familiares vive no mesmo domicílio que a pessoa a quem presta cuidados, e nos restantes casos verificou-se que, em termos de distância geográfica, o cuidador e recetor de cuidados vivem na mesma rua ou bairro (14,1%) ou na mesma localidade (3%). São vários os autores que referem a coabitação como fator determinante da assunção do papel de cuidador (Figueiredo, 2007; Imaginário, 2004; Lage, 2005; Paúl, 2005; Sequeira, 2007).

O maior número de cuidadores aponta como razões que estiveram subjacentes à aceitação do papel do cuidador o dever familiar (10-66%), seguido de problemas económicos (2-13,3%) e

gostar de ajudar pessoas dependentes (2-13,3%). O tempo já vivenciado como cuidador varia

entre o período inferior a um ano e superior a cinco anos, sendo que 5 (33,3%) cuidadores referiram ter iniciado há mais de cinco anos e 5 (33,3%) ser cuidadores entre um e dois anos. O período entre três e cinco anos foi referido por 4 (26,7%) cuidadores e apenas 1 (6,7%) refere ser cuidador há menos de um ano.

Os resultados de um estudo de abordagem qualitativa realizado por Cattani e Girardon-Perlini (2012) com nove cuidadores familiares de idosos, cujo objetivo era conhecer a forma como ocorre a escolha de ser cuidador e como se sente nesse papel, revelaram que a escolha de cuidar está diretamente relacionada com o sentimento de obrigação, mas também com as relações afetivas, a gratidão e a impossibilidade de optar por outro cuidador. Numa revisão sistemática da literatura realizada por Cruz, Loureiro, Silva e Fernandes (2010), com o objetivo de descrever as vivências sentidas pelo cuidador informal, que conduziu a uma

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amostra de 17 estudos primários, indicou que os motivos que levaram a assumir o papel de cuidador se relacionavam com fatores inerentes: ao idoso (estado de saúde e rejeição de institucionalização); ao cuidador (dever/obrigação; gratidão/retribuição; dependência financeira; grau de parentesco; género; proximidade física e afetiva; estado civil; situação atual de emprego e respeito pela vontade do idoso); e à família (tradição familiar e ausência de outra resposta). Por sua vez, Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2006), referem que na assunção do papel de cuidador, estão sempre subjacentes motivações marcadas pelas tradições e pelos padrões e normas sociais, surgindo a noção de dever, social ou moral, como o determinante mais poderoso para que esta ocorra, resultado também constatado neste estudo. Quanto ao apoio na prestação de cuidados, procurou-se caracterizar a presença e fonte de apoio bem como o parentesco familiar na relação com a pessoa cuidada. Foram também privilegiados os aspetos relacionados com a identificação das tarefas em que recebem apoio, o tempo, horas e dias de apoio e o pagamento pelo apoio que recebem (Tabela 4).

Tabela 4.

Contexto do apoio na prestação de cuidados

Apoio na prestação de cuidados N %

Sim 9 60,0

Não 6 40,0

Total 15 100,0

Quem apoia na prestação de cuidados N %

Família 4 44,4

Empregada 3 33,3

Serviços formais 2 22,2

Total 9 100,0

Parentesco do familiar que dá apoio N %

Marido 2 50,0

Filha 1 25,0

Tia 1 25,0

Total 4 100,0

Tarefas em que recebe apoio N %

Higiene 3 33,3

Higiene, vestir, alimentação, posicionar, eliminação 6 66,7

Total 9 100,0 Horas de apoio/dia N % <1 hora 3 33,3 4 horas 4 44,4 8 horas 2 22,2 Total 9 100,0

Pagamento da colaboração prestada N %

Sim 6 66,7

Não 3 33,3

Total 9 100,0

Pagamento da colaboração prestada N %

Sim 6 66,7

Não 3 33,3

Total 9 100,0

Relativamente ao apoio na prestação de cuidados, 9 (60%) cuidadores referem receber apoio, e 6 (40%) referem que isso não acontece. O apoio é fornecido essencialmente pela família

(42)

(4-44,4%), seguida da empregada (3-33,3%) e dos serviços formais (2-22,2%), cuja instituição de apoio é a Santa Casa da Misericórdia, para a qual procedem ao pagamento de serviços. O cônjuge é o elemento da família que fornece mais apoio (2-50%), seguido da filha e da tia. As tarefas em que recebem apoio estão relacionadas com os cuidados físicos, sendo que a maioria (6-66,7%) recebe apoio para a realização das tarefas inerentes aos cuidados de

higiene, alimentação, vestir, posicionar e eliminação, havendo 1 (33,3%) cuidador que recebe

apoio apenas nos cuidados de higiene. Relativamente ao número de horas de apoio por dia, 4 (44,4%) cuidadores referem receber 4 horas de apoio, 3 (33,3%) menos de 1 hora e 2 (22,2%) recebem apoio durante 8 horas.

Num olhar mais pormenorizado sobre os cuidados proporcionados pelos cuidadores, a Tabela 5 procura a sua especificação através da resposta sim e não face a diferentes atividades que a pessoa cuidada, se tivesse capacidade funcional, poderia fazer, promovendo a sua autonomia e capacidade de satisfação das suas próprias necessidades.

Tabela 5.

Cuidados proporcionados pelo cuidador

A análise da Tabela 5 revela que a maioria dos cuidadores presta todos os cuidados que a pessoa necessita, nomeadamente cuidados físicos, instrumentais e preventivos. Estes resultados são corroborados por vários autores ao referirem que as funções dos cuidadores

Cuidados proporcionados Higiene N % Vestir N % Sim 13 86,7 Sim 13 86,7 Não 2 13,3 Não 2 13,3 Total 15 100,0 Total 15 100,0 Alimentação N % Eliminação N % Sim 14 93,3 Sim 12 80,0 Não 1 6,7 Não 3 20,0 Total 15 100,0 Total 15 100,0 Posicionar/transferir N % Deambular N % Sim 13 86,7 Sim 9 60,0 Não 2 13,3 Não 6 40,0 Total 15 100,00 Total 15 100,0

Gestão do Regime terapêutico N % Prevenção quedas N %

Sim 14 93,3 Sim 14 93,3 Não 1 6,7 Não 1 6,7 Total 15 100,0 Total 15 100,0 Prevenção de UP N % Lazer N % Sim 14 93,3 Sim 14 93,3 Não 1 6,7 Não 1 6,7 Total 15 100,0 Total 15 100,0 Vigilância de saúde N % Sim 12 80,0 Não 3 20,0 Total 15 100%

Imagem

Figura 1. Objetivos, atividades, metas e indicadores, delineados para o projeto

Referências

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