Milene da Rosa Schmitz1
1 Advogada. Graduada em Direito pela Faculdade Ruy Ba
Universidade Salvador; Doutoranda em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Unive
RESUMO
O presente artigo tem por objeto descrever e analis
se abordar o assunto ainda que sucintamente, destacando os principais aspectos dias de hoje, motivo pelo qual o assunto continua em voga na atualidade.
Palavras-chave: ABSTRACT
This article aims to describe and analyze the historical, political and legal aspects of the Holy Inquisition, and its influence in the criminal proceedings contemporary. It is intended to address, even briefly, highlighting key aspects necessary for a didactic understanding, in order to enable a better comprehension of inquisitorial procedure. This, in turn, subsists in the modern criminal procedure until today, which is why it remains in vogue nowadays. Keywords: Inquisition; criminal law and procedure.
entre juristas ou historiadores.
Precipuamente, a grande cruzada teve como seu principal fundamento,
bruxas, que ocorreu em toda a Europa O presente trabalho tem, portanto, a
efetivas operadas no direito penal diante dessa conjuntura.
crimes de heresia e bruxaria pudessem ser combatidos de maneira mais eficaz. Assim, foram adicionadas novas regras ao tortura culminava em um processo no qual dificilmente o acusado sairia sem
recebiam o seu poder da Igreja, que na mesma medida que os sagrava, podia inquisitionem que era utilizado pelas heresias.
praticarem heresias, sendo que o desempenhado apenas por membros do Seculares. O procedimento utilizado era o mesmo em ambas as cortes, qual seja: o aprisionamento de suspeitos com base
os meios, inclusive tortura) e, ao final, a gravidade do crime cometido, poderia que era queimado vivo, banido, obrigado a confiscados.
Idade Moderna. Tal fator refletira inevitavelmente no aumento da pobreza e limitada de recursos, o que culminou em frequentes guerras entre os povos que se digladiavam.
Em outras palavras, a verdadeira de ser esta utilizada indistintamente pela nobreza e clero, para perseguir e destruir
no intuito de pacificar os conflitos nos
terras quanto de poder. Ocorre que a impuros (mouros e judeus), bem como a facilidade em crescer financeiramente aos interesses da nobreza que, movida pelos ideais de reconquista, expulsou, em 1492, os mouros de Granada e, no convertessem ao catolicismo.
processar e julgar todos aqueles que
Tribunais Seculares da Europa ganharam como instrumentos judiciais da
o poder da Igreja quanto do soberano.
que fossem considerados hereges.
inquisitiv, ou seja, quando o direito passou de um sistema racional para irracional.
somente poderia ser desencadeada por uma pessoa privada, que seria a parte prejudicada ou seu representante legal. A um processo contra o suspeito, no qual, caso as provas apresentadas fossem sua culpa, o juiz decidiria contra ele. mesmo, decidia-se de forma irracional, que fornecesse um sinal contra ou a favor
comumente utilizada eram as provas No tocante a crimes menores, existia a segundo o qual o acusado teria que obter Importante destacar que em qualquer imparcial.
Com o advento do processo por toda a Europa continental, tendo sido o
um papel fundamental que, condicionado
A Igreja foi a principal influenciadora da
novo sistema se apresentava muito mais heresia, que aumentavam em
seu poderio.
Assim, os oficiais do Tribunal do Santo suspeito de crime com base apenas em forma, todas as pequenas querelas e tagarelices de uma comunidade poderiam Outro ponto importante do processo mesmo oficializou todas as etapas do processo judicial a partir do oferecimento da denuncia. Assim, o juiz e todos os demais oficiais do tribunal assumiam a determinando posteriormente a
depoimentos das testemunhas ou das provas colhidas.
Nas palavras de Michel Foucault em sua obra vigiar e punir:
saber o sentido dos depoimentos antes de recusar as testemunhas, momentos do processo, os fatos advogado, seja para verificar a regularidade do processo, seja para 1991, p. 35).
Outro aspecto que conferia do direito o poder de estabelecer a verdade se pautava na forma escrita do correspondia ao direito de punir do soberano.
Inobstante o sigilo que envolvia o eram investigadas e avaliadas mediante regras meticulosamente formuladas, o que fossem extremamente rigorosos, pautados para declarar um suspeito, deflagrando o um esquema racional.
pautava-se no fato de que os crimes por ela combatidos, como as heresias ou bruxarias, eram fatos ocultos, ou seja, crimes onde as provas dificilmente seriam testemunhas que teriam presenciado a
mister
as provas, a mais importante e culpabilidade quanto ao crime a ele imputado.
4. A TORTURA
Como no processo inquisitorial, a com o fim de consegui-la eram plenamente aceitos e legitimados.
A tortura, dessa forma, foi reintroduzida
Esse procedimento hediondo foi
julgamentos de bruxaria e heresia, foi Tribunais Seculares.
O argumento utilizado pelos Tribunais consistia no fato de que quando um inevitavelmente confessaria a verdade. Todavia, o seu uso indiscriminado, bem como o grau excessivo de perguntas capciosas cuidadosamente formuladas pelos inquisidores, redundavam no que foi definido por Robert Mandrou como sendo
MANDROU, R., 1979, p. 78).
pena. Contudo, o condenado ainda era obrigado a confessar sua culpa em uma Santos por ter se desviado do seu caminho, pactuando com o diabo. Esse acusado o relato das maldades por ele cometidas e o seu arrependimento, onde ele era, na maioria dos casos, queimado vivo pelo carrasco.
com o intuito de que todos tomassem bem como de coibir condutas semelhantes.
processados. Nesse sentido pronunciou-se Mandrou:
descaminhos dos simples de
os horizontes mentais dos homens cultos, eloquentes, nutridos de
bailiados, e presisiais e nas cortes superiores que constituem os Parlamentos. De uns aos outros, o consenso permanece o mesmo durante muito tempo: as ondas de (MADROU, 1979, p. 79).
MEDIEVAL NO PROCESSO PENAL
ter sido tomada como modelo para que
garantias fundamentais e penais.
repudiadas e punidas no mundo bens, a impessoalidade da pena, a culpabilidade do acusado, entre outros. nascimento da figura do acusador estatal, que por sua vez tem o poder de instaurar o processo com o oferecimento da Outro ponto semelhante ao processo
do seu representante legal.
que preside todo o procedimento.
Ademais, no processo penal representante do Estado-Soberano, seja provocado, ou seja, mediante a Publica ou Privada, assumindo a figura de julgador imparcial, dentro das suas podendo fabricar provas ou determinar que se fabrique, como nos tempo negros verdadeiro papel de algoz do acusado.
Atualmente, o processo penal sofre direitos humanos, efetivamente atuantes desde a Segunda Grande Guerra, onde outras tantas atrocidades foram praticadas
PROCESSO PENAL BRASILEIRO
Direito Penal brasileiro se baseia na e julgar. Esse sistema visa a busca pela verdade real, de forma que para o bom andamento processual deve o juiz manter afastamento da arena das partes, ao longo de todo o processo. Deve-se descarregar o juiz de atividades inerentes imparcialidade.
Processo Penal brasileiro, aduz que o juiz, de provas que forem consideradas urgentes e relevantes, antes mesmo da instrutor-inquisidor, com poderes para, na
depois, no processo, decidir a partir de Tal medida, para muitos doutrinadores, Processo Penal brasileiro, que tem como Direito Processual Penal, tais como a
permitido ao juiz assumir um papel ativo de atos tipicamente da parte acusadora.
A lei, ao permitir que o juiz assuma investigando, para depois julgar, fere, processual penal, que consagra o sistema Assim, remete o referido inciso do art. sistema penal inquisitivo, tal qual o da a figura de inquisidor, determinando de acusados, contaminando dessa forma a sua imparcialidade e julgamento.
Nesse sentido, entende-se que tal dispositivo processual fere o sistema Direito Processual Penal.
apresentadas, conclui-se que a base do
pelo catolicismo medieval. A Igreja, ao combate aos chamados crimes religiosos e, aproveitando-se do fato de seu poderio estar de tal forma imbricado no poder do
cada vez mais poder e riquezas.
Esse contexto, no entanto, foi de
erros, que na atualidade jamais seriam
Inquisitiva, bem como para o surgimento Processual Penal, que se baseia na julgar, requisito essencial para a busca
FOCAULT, M. Vigiar e punir. 9. ed. LEVACK, B.P.
Europa moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
LOPES Jr., A. Boletim
IBCCRIM, ano 188, julho de 2008.
MANDROU, R. Magistrados e feiticeiros Perspectiva, 1979.
