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ISSN INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação

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ISSN 2179-7498

INTERESPE:

Interdisciplinaridade e

Espiritualidade na Educação

============================================================= Publicação Oficial do INTERESPE- Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação – Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

R. Interespe, São Paulo, Volume 1, número 0, p.01-46. Dez, 2010.

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ISSN: ISSN 2179-7498

R. Interespe São Paulo v.1 n.0 p. 01-45 Dez., 2010.

Responsabilidade editorial: Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação – Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

EDITOR:

Prof. Dr. Ruy Cezar do Espírito Santo

CONSELHO EDITORIAL

Ana Maria Ramos Sanchez Varella Gazy Andraus

Herminia Prado Godoy

Ivani Catarina Arantes Fazenda Priscilla Mariana Lourenço Cardoso

LOGOTIPO E ARTE: Gazy Andraus

CAPA: montagem de Gazy com arte obtida de Andreas, Antonio Eder, W. Blake, Chicolam, E. Franco, Marcilene Elvira, Schuiten e Internet.

Periodicidade: anual (com possibilidades de números extras)

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http://www.pucsp.br/interespe/

Apresentação e

Imagética

Caro Leitor

Nosso primeiro número do INTERESPE é o resultado do IV Encontro Aberto 2010, cujo tema foi Educar: o Profundo despertar!

Escrever uma apresentação de uma revista cujos pesquisadores são de área multidisciplinares não é tarefa fácil. A riqueza está exatamente nesse ponto, cada um tem sua própria linguagem enriquecida por seus conhecimentos específicos e conseguem compartilhar com ousadia, suas criações. Poetas, poetisas, artistas, cada um se revelará no espaço INTERESPE da forma como se identificarem. Assim serão nossos espaços convidando outros que queiram adentrar a esse universo de possibilidades, de conexões, porque falar em Interdisciplinaridade e Espiritualidade é permitir a inclusão, é a oportunidade de cada um de poder fazer... realizar... sonhar... criar... imaginar... encontrar sua essência, ser, por inteiro...

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Estamos acostumados aos textos cartesianos e esquecemos o poder imagético (o das imagens), que também contêm informação incidindo de maneira distinta em nossas mentes.

As imagens que permearam o IV Encontro Aberto do INTERESPE, 2010, foram sugestões para que todos pudessem despertar o hemisfério cerebral direito (criativo/intuitivo). Elas tinham certa ligação direta com os temas apresentados, mas não apenas isso, pois foram “pensadas” também intuitivamente.

O objetivo foi presentear as imagens como informação, incitando algo de engrandecedor e amplificador para uma intuição “imagética”, sistêmica e fraterna, enquanto cada membro ia desfilando suas falas/pesquisas/sentimentos. As imagens foram projetadas durante o evento como numa fórmula “racional” cartesiana pertinente ao hemisfério cerebral esquerdo (cartesiano), enquanto que toda a vibração emocional e intuitiva fraterna dos membros (e do público) iam acontecendo durante a exposição, inclusive a visualização das figuras:

« Imagem = intuição = mente amplificada e desperta» Convidamos nosso leitor a vê-las abrindo cada artigo.

É assim que Gazy pensou. Assim que sentiu. É assim que aconteceu...sintam/vejam e leiam as imagens e os textos a seguir.

Ana Maria Gazy

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Imagem extraída da internet

Educar: o profundo despertar... Tirar do mais dentro O sentido maior do existir... Buscar na magia do "fazer" A sacralidade do "Ser"... Este é o grande desafio do Educador Permitir o desvelar da singularidade de seu Educando Sua criatividade única Sua "missão" nesse momento... Quando assim ocorre fica desvelada a missão do próprio Educador Que buscará então um Encontro de Companheiros Um INTERESPE... Um acolher e ser acolhido. Este é nosso Caminhar Nossa pesquisa... É na verdade um convite para quem nos lê De participar desta jornada Fundada na Interdisciplinaridade e na Espiritualidade Presentes de forma cada vez mais clara Na Eternidade do Agora do Ato de Educar Até Sempre!

Ruy Dezembro de 2010

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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação

ISSN 2179-7498

Publicação oficial do INTERESPE- Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação – Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

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EDUCAR: O PROFUNDO DESPERTAR...

1. Do autoconhecimento - Espírito Santo. 2. Dos sentidos - Varella

p. 01-03 p. 04-10 3. Do simbólico - Andrade p. 11-18 4. Da aprendizagem - Giosa p. 19-22 5. Da arte - Solha p. 23-24 6. Da liberdade - Paulino p. 25-32

7. Do sentido do movimento - Almeida p. 33-37

VIVÊNCIA

O despertar da: Hiperconsciência e da potência terapêutica - Godoy p. 36-37

UM OLHAR PARA O IV ENCONTRO DO INTERESPE

1. Impressões dos integrantes do grupo - fragmentos p. 38-38

2. Impressões de convidados p. 39-39

3. Poemas

3.1. O brilho do encontro - Espírito Santo e Almeida p. 40-41

3.2. Guarulhos - Espírito Santo p. 42-42

4. Sina - Andraus

p. 43-45

APRESENTAÇÃO DOS INTEGRANTES DO INTERESPE

INSTRUÇÕES PARA OS AUTORES

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p. 01-03

1. DO AUTOCONHECIMENTO Espírito Santo, 2009

(Fonte da Figura: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigosL.asp)

Estamos em um momento da história, em que a ciência conseguiu perceber, desde o infinitamente pequeno, até uma visão cósmica, que nos conduziu à teoria do “big-bang”.

Quem é esse “ser” consciente dessas dimensões universais? Aonde o conhecimento o conduz? Qual o percurso feito?

Um dos primeiros Caminhos identificados é o da visão interdisciplinar.

Sim, o ser humano percebeu a profunda integração presente em toda a Vida conhecida. Constatou que no íntimo de um átomo existe pura energia em permanente movimento de integração à sua volta, ou seja, aquilo que o físico Fritjof Capra denominou de “possibilidades de conexões”, presentes no coração da matéria.

Surge, assim, desde o interior da matéria uma percepção da profunda unidade em toda a vida conhecida. Foi o nascer de uma consciência ecológica, com a consequente ação interdisciplinar ou holística, como alguns a denominam.

E o ser humano nessa percepção de unidade, onde fica? Ainda uma vez a histórica pergunta: “Quem sou eu?” se coloca. Sim, desde Sócrates o princípio de toda a sabedoria é situado no “conhece-te a ti mesmo”. Na verdade, a ignorância de si mesmo é hoje reconhecida como a origem dos assim denominados “males”, que assolam o planeta.

Se a realidade é percebida pela ciência como integrada, interdisciplinar, como é que somente o ser humano pode se “isolar” e se ver egoicamente separado da Vida?

Assim, a busca do autoconhecimento é nesse momento uma das tarefas indispensáveis para que o avanço da ciência encontre sentido em seu conhecimento. De fato, se “exteriormente” descobrimos que a vida é um todo integrado, por quê, somente nós permaneceríamos “separados” num processo de individualismo conducente aos conflitos hoje presentes em todo o planeta? Nosso olhar voltou-se profundamente para o exterior e nesse momento precisa voltar-se ao “interior”, a si mesmo, para percorrer o Caminho da autodescoberta.

É notável que com todo o avanço presente no universo, desde as viagens à lua, até a chegada ao interior do átomo, a dor, a miséria, o sofrimento, a angústia e a depressão

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p. 02-03 fazem-se presentes nas relações humanas, marcadas pela guerra, pela fome, pela segregação, enfim, por tudo aquilo que diariamente está presente na mídia...

Como entender esse quadro? De um lado fica claro, que a teoria da evolução, por si só, não explica tal quadro... Sim, como aqueles que escapam do principio evolutivo da integração percebida no universo, continuam vivos (pelo menos até agora) e “dominando o planeta?”

Conseguimos, inclusive, à revelia da consciência ecológica aqui referida, poluir incessantemente o meio ambiente.

Qual o mistério desse ser tão capaz de descobertas fundamentais para o entendimento da Vida, mas, também incapaz de construir seu próprio equilíbrio existencial? Permanece o mistério da realidade que denominamos de “liberdade”. Qual seu sentido? Por que o único ser que sente e busca tal realidade “liberta” é o que aprisiona seus semelhantes?

Seguramente a resposta é o Caminho do autoconhecimento. Sabermos que a ignorância a nosso próprio respeito é fatal para nosso equilíbrio existencial. Jung, o conhecido psicólogo afirmava que o ser humano traz no inconsciente, além das repressões apontadas por seu antecessor Freud, o pai da psicanálise, a existência de um “self” ignorado. Qual o significado desse desconhecimento do “self”? O que é exatamente esse “self”? A resposta a essas questões é hoje essencial na Formação do Educador.

Jung denominava “self” a realidade transcendente do ser humano. Na época a expressão “espírito” era altamente questionada, como uma realidade “não científica” e, portanto “irreal”. Assim Jung buscou na expressão “self” uma forma de apontar para uma dimensão do ser humano, que se ignorada, impedia o processo de completude de cada um de nós, que ele denominava de “processo de individuação”, que nada mais é que o autoconhecimento!

Na medida em que tal dimensão permanece no inconsciente, o ser humano não sai de uma “ignorância” fundamental de sua identidade profunda! Não tenho dúvida que esta é a raiz daquilo que é chamado de “mal”. Aliás, Jung que foi o precursor dessa psicologia integradora do “self”, anunciou também a importância da integração dos opostos! Assim “certo e errado” ou “bem e mal” deveriam ser integrados numa linha de maturidade do ser humano! Lembro que a Tradição Cristã nos traz na conhecida expressão de Jesus Cristo, ao ser crucificado: “Pai perdoai porque eles não sabem o que fazem”, uma visão clara da questão da ignorância aqui levantada. Sim, Jesus perdoava seus assassinos, por “não saberem o que faziam”... Ou seja, eram ignorantes a respeito de si mesmos...

Assim, os “poluidores” de hoje, desde os países que se recusam a assinar o protocolo de Kyoto, até aqueles que fumando poluem o ar que respiramos, seguramente, não sabem o que estão fazendo... Usam o argumento da “liberdade”, sem saber o que estão dizendo.

Na verdade, a consciência egoica que se fixa na materialidade, por ignorar, sua dimensão espiritual, somente enxerga o espaço menor à sua volta vendo a necessidade de acumular bens, a qualquer preço, encontrar prazer, mesmo que destrutivo para si mesmo, ou, ainda, ver no Outro um “inimigo” racial, religioso, ideológico e assim por diante...

Tal visão egoica, como já referida, conduz a autodestruição e a destruição de seu entorno.

Isto posto somente com uma visão interdisciplinar, fruto do autoconhecimento permite ao ser humano uma integração consigo mesmo e com seu entorno, seja com os

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p. 03-03 outros seres humanos, seja com o meio ambiente.

O autoconhecimento permitirá que descubramos interiormente a unidade da Vida, que como aqui ponderado já foi percebida do “lado de fora”. É até uma incoerência permanecermos hoje “isolados em nosso ego” quando a ciência já nos conduziu à visão interdisciplinar referida.

Tal incoerência é fruto do referido mistério da liberdade presente, na ação humana... É preciso querer se conhecer! Buscar conscientemente a resposta da pergunta: “Quem sou eu?” O Educador deve ser um dos primeiros a buscar tal resposta.

Na busca de tal resposta o Ser humano precisa voltar-se às Tradições. Quando me refiro às Tradições não as confundo com as Religiões... Os seres humanos envolvidos nas Religiões, como todos os demais, “muitas vezes não sabiam ou ainda não sabem o que estão fazendo.” Sim, a História é pródiga em nos desvelar as inúmeras guerras religiosas, fruto do “uso” das Tradições para exercer o Poder. Por isso tantas religiões, tantos dogmas e tanta discriminação daí decorrente. Até mesmo o principio feminino da sabedoria tem sido frequentemente colocado num patamar inferior por tantas “linhas religiosas”.

Na verdade ao indagarmos “quem sou eu” e formos buscar nas Tradições uma resposta, vamos encontrar, por exemplo, no cristianismo que nos é mais familiar, uma expressão bíblica que, metaforicamente nos diz que o ser humano é “A Imagem e Semelhança do Criador”. Se formos mais adiante veremos na mesma Bíblia outra expressão, que nos diz que “Deus é Amor”.

Assim, se a metáfora do "Amor" vai dizer de nossa essência, iremos constatar, que curiosamente tal expressão nos traz um profundo e sincronístico encontro com o Caminho percorrido pela ciência, já aqui apontado, qual seja, que no coração da matéria o que existe são "possibilidades de conexões". Ora, possibilidades de conexões convergem com a realidade do "Amor", que seguramente, busca também "conexões", seja com a natureza, seja com o Outro...

Assim, vislumbro grande beleza nesse momento de nossa história. Seria mesmo o anunciado encontro da Ciência com a Fé!

De qualquer forma acredito profundamente que a humanidade está percorrendo um Caminho através da História, que hoje nos aponta para esta visão interdisciplinar ou transdisciplinar, que significa um desvelar da consciência da Unidade da Vida.

Para concluir esta reflexão, e dentro dos limites previstos, quero enfatizar que nossa realidade de Amor é que é a Fonte do mistério da Liberdade. Sim, um pai pode obrigar seu filho a tudo, menos a amá-lo... O Amor será sempre fruto dessa energia que chamamos de liberdade...

Concluindo é importante frisar que, como acentua Fazenda, a Interdisciplinaridade é antes de tudo uma postura do educador, postura essa que nasce do caminhar na direção do autoconhecimento e que conduzirá à unidade do saber. Inadiável, pois que se avance na direção da formação dos educadores na linha aqui apontada.

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p. 04-10

2. DOS SENTIDOS Varella, 2010

Fonte Menino-Caranguejo - autoria: Chicolam (http://www.meninocaranguejo.com/)

Este artigo tem por objetivo amenizar a angústia de meus colegas professores. Convido-os a pesquisarem e se aprofundarem nos estudos da Interdisciplinaridade e Espiritualidade, pois percebo a cada dia a importância e necessidade de colocar na prática pedagógica, a possibilidade de ir além da sala de aula. É o momento de perceber a riqueza do desenvolvimento individual, constatar que cada grupo, cada ser é diferente. Em cada ação o professor também se torna diferente, pois estimula e é estimulado. Em cada nova sala os desafios são muitos e diferenciados e vão requerer mudanças pedagógicas, é um jogo sem acomodação.

Quase sempre experiências anteriores não evitam o caos que pode ser instaurado em sala de aula a qualquer momento, porém com persistência, o profissional experiente encara os desafios, evita não permanecer na mesmice, com seus ranços, porque ele convive diariamente com vidas que estão em constante mutação, em constante metamorfose.

É difícil superar a rapidez imposta pela comunicação digital, mas se as temáticas apresentadas aos alunos permitem que opinem, se identifiquem, encontrem sentidos e valores, o processo e os resultados serão profundamente transformadores.

Há a necessidade do desprendimento do professor em vê-los se desenvolver nesse processo de interiorização, autoconhecimento e desenvolvimento da linguagem. Estimular o aluno, esse é o caminho, mas como traçá-lo, se o próprio professor está desestimulado? Sem paixão? Sem desejo? As disciplinas são apenas oportunidades de criar estratégias para o desenvolvimento do processo educativo e a criatividade é uma das formas de abertura de consciência e sentidos.

O que não podemos nos esquecer é que em nossa vida diária precisamos também utilizar de criatividade para transformar nosso dia a dia. Como fazer isso?

Goswani (2010, p.110) afirma que a criatividade é o alimento para a alma. Significa então que precisamos alimentá-la no dia a dia para não morrermos, para não cairmos na tristeza ou desânimo.

Segundo ele somente conseguiremos mudar o mundo partindo para outros fundamentos que não sejam o materialismo, entre eles a física quântica, o desenvolvimento espiritual e o nosso poder criativo. Ele afirma que a criatividade não é apenas nossa preparação para o novo século, mas também para o estágio seguinte de nossa evolução. A pergunta é como darmos esse salto quântico da evolução neste

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p. 05-10 Não há tempo a perder, precisamos despertar, nos movimentar e rápido, já que ficamos muito tempo retidos em nossa evolução. A ciência materialista ainda domina, Forças de separação e mentalidade determinista e mecânica ainda reinam soberanas. Essa mentalidade gera mediocridade e consumismo e no cenário da criatividade tradicional ficamos com fome na alma, como afirma Goswani (2010, p.116). O que nós temos de perceber e compreender que o que a alma sente não é a falta do dinheiro para consumir alimento espiritual, mas a criatividade para a produção do alimento espiritual.

Segundo o autor, quando a mediocridade e o consumismo produzem em massa fome nas almas, as pessoas realmente criativas de nossa sociedade, no lugar de serem os heróis que devemos seguir para que a consciência evolua, são os forasteiros dos quais devemos desconfiar porque são perigosos.

Somente poderemos respeitar as pessoas criativas se nós mesmos apreciarmos tanto a criatividade a ponto de nos tornarmos produtores e consumidores do alimento para a alma.

A criatividade tem um significado muito importante em nosso autodesenvolvimento e evolução. É necessário compreender o processo criativo e praticá-lo com consciência. Vamos aprender a usar a criatividade em todas as áreas de nossas vidas e na busca da transformação do nosso ser. Mudar a motivação, passar da dedicação à criatividade pessoal e também voltada para o movimento evolucionário da consciência planetária.

Precisamos valorizar mais o processo criativo nas artes, nas humanidades, nas ciências. Goswani (2010, p.110) acrescenta que quando nos sentimos inspirados a colocar a criatividade no centro de nossa vida e sincronizá-la com o movimento vital, com o movimento evolucionário da consciência, estamos prontos para tornar uma só coisa interior e exterior, masculino e feminino. Até para transformarmos nossas emoções negativas precisamos mexer com nossa criatividade no domínio do vital. A prática do amor incondicional pode ser um caminho.

Durante a vida de um educador muitas experiências são realizadas e vividas. Ações vitoriosas, fracassadas, outras ainda que passam totalmente despercebidas por quem vive ou assiste a esse processo.

Optei resgatar, para este artigo, uma experiência recente, que me deixou marcas para sempre, pois veio confirmar a importância de minha inteireza dentro do espaço sala de aula, confirmou a captação dos alunos para a narrativa invisível. É ação e reação. Nós, educadores, somos responsáveis em levar o que temos de melhor, sem arrogância, mas respeitando a trajetória de vida dos educandos. Nossa vida continuará e a deles também, porém, se conseguirmos que pensem em nós, no que transmitimos, será a grande contribuição dos aprendizados passados com amor e responsabilidade.

Conhecendo-me melhor há a possibilidade de criar vínculos com os outros ao meu redor. O amor é um dos conteúdos básicos da minha existência. Dialogo com ele na profissão, na família, com os amigos, enfim ele é utilizado para eu conviver, independentemente com quem.

As leituras realizadas proporcionaram-me perceber que a arte e a linguagem poética me permitem um encontro. Caminho livremente pela Interdisciplinaridade que dá essa condição de inovar na pesquisa, investigando, e não oportunamente ou escondidamente, procuro a mim mesma, meu potencial interno. Uma volta aos preceitos internos, aos valores adquiridos, a minha fé, a minha afetividade, a minha espiritualidade. Essa percepção vem me transformando, procuro a mim mesma, percebendo o outro e com ele compartilhando. A Educação é uma oportunidade de desenvolvimento espiritual e os

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p. 06-10 estudos interdisciplinares podem ser um fio condutor de buscas, descobertas, crescimento e desenvolvimento. Ela me permitiu abrir o campo para estudos mais profundos sobre a minha espiritualidade, para o meu desenvolvimento de potencialidades.

Experiências são experiências e elas devem servir para nosso crescimento. Por esse motivo não dispenso conhecer situações e pessoas, porque tenho a certeza de que serei muito enriquecida nesses encontros. Sigo no processo de desenvolvimento de minha escuta sensível, afinada, prestando atenção a tudo e olhando em todas as direções.

E assim aconteceu mais uma oportunidade de trabalho. Um convite apressado e instigante, substituir um professor que havia deixado o módulo do curso de pós em formação. Não sei por quê, minha intuição aprovou o convite.

Li o plano de ensino que se encaixava muito bem a uma Psicopedagoga como eu, porém pedir disciplina a uma profissional interdisciplinar é perda de tempo.

Minha estratégia era exatamente me desafiar mais uma vez a fazer o diferente, embora o trabalho seja maior, mais delicado, se der certo provocará muito mais os alunos envolvidos e consequentemente o meu ser professor.

Estava ansiosa em conhecê-los, um pouco apreensiva, como iriam receber um professor diferente após encontros com o outro professor? Nem sabia o que havia feito e preferi não saber, assim teria mais liberdade para atuar. Preferi deixar minha intuição trabalhar. Separei vários textos, livros da bibliografia e fui com a intenção de levar o meu melhor a eles.

Entrei, fui apresentada e me apresentei. Havia ali alunos de 4 cursos diferentes: Enfermagem, Biologia, Fisioterapia e Educação Física. Olhei com carinho para eles e percebi que os que estavam sentados ao lado da parede estavam se escorando nelas. Um jeitinho clássico de acomodação para tirarem uma soneca pós almoço. Fiquei preocupada, porque teria de desacomodá-los. Estavam esperando uma aula para dormirem um pouco ou muito? A tela para o “Power Point” estava instalada e esperavam meu “pen drive” para começarem a dormir ou fecharem um pouco os olhos cansados dos plantões? O que fazer? Já me senti acolhida pelo comodismo, pela mesmice instaurada, acomodação não, esse não poderia ser o caminho para permanecermos juntos por mais de 4h, em um sábado à tarde.

Com essa dúvida e angústia instantâneas, captadas ali em segundos e nos olhares de estranhamento, desandei a falar, a elogiá-los e agradecer a oportunidade de tê-los conhecido. Olhei para a lousa e pedi que dois dos homens presentes me ajudassem a enrolar a tela. Frustração da platéia? Não haveria “Power?” Por quê? Teriam de copiar da lousa? Mais preguiça. Meus pensamentos apenas captavam tudo o que se passava ali.

Uma delas ensaiava o encostar-se à parede, mas ficou intimidada, fechou os olhos por instantes e eu não deixei que adormecesse. Pedi a todos que tentassem ficar acordados, esse era o grande desafio para quem trabalha à noite. Superação, aproveitar ao máximo a oportunidade que estávamos tendo de estarmos juntos, trocando, aprendendo com as experiências de todos os presentes.

A palavra de ordem do primeiro encontro foi desafio. Contei a eles um pouco de mim, comentei da importância dos cursos na área da saúde, passei a palavra para que pudessem contar o que queriam. Alguns casos interessantes surgiram e aos poucos os que estavam mais cansados foram se interessando e o corpo tomando outra forma. Fui chamando, pedindo que se colocassem, as paredes foram se afastando dos ombros deles.

Um caso exposto de imediato mexeu com todos. Uma enfermeira pediu a palavra e indignada e chorando contou o que havia acontecido em seu plantão.

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p. 07-10 Estava cuidando de uma paciente com câncer de mama, quando o médico entrou com sua equipe. Ele levantou sua roupa, nem percebeu que a jogou sobre a cabeça da paciente e começaram a apalpá-la sem dar o mínimo de atenção a ela. Ela era mais uma vez apenas o objeto de estudo daqueles médicos. Ao perceber a situação, ela delicadamente pegou em sua mão, arrumou sua roupa, tirando-a de seu rosto e ficou ali até que os médicos saíssem. A paciente não disse nada, apenas a olhou com carinho e agradecimento que foi percebido também pelo seu silêncio.

Todos fizeram comentários, estavam indignados, inclusive eu também me emocionei muito em ver que todos estavam prestando atenção e que os que ainda tentavam fechar os olhos, voltavam seu corpo para uma posição de alerta.

Percebi que estavam surpresos em poder se colocar, se expressar, contar seu dia a dia dolorido, suas indignações no tratamento com o paciente. Percebi que aquele seria o caminho, acionar o botão da acomodação, para desacomodá-los, tirá-los da zona de conforto em que estavam. Eles precisavam falar, se expressar, ter voz. No final desse encontro, pedi que expressassem por escrito o que havia ficado pra eles daquele dia. Para minha surpresa escreveram com vontade, não tiveram pressa para deixarem a sala, embora a aula já tivesse terminado. Destaquei alguns fragmentos escritos por eles no final do primeiro encontro:

“Sou professora na alma, gosto de trocar experiências sobre o ensinar. Posso dizer que me senti surpreendida hoje. Imaginei que teria uma aula conteudista e entra uma professora que quebra paradigmas. No lugar de “slides”, trocamos informações, comecei a me transformar.”

“Nesta aula me senti motivado a me expressar, a desabafar, a trocar experiências.” “Agradeço a você ter me ensinado um novo caminho, você me fez ficar acordada.” “É muito bom quando temos abertura para conversar, gostaria que os encontros na sala de aula fossem sempre interativos”.

“Hoje conhecemos uma professora que permitiu que meus colegas falassem de suas experiências, foi importante para eu perceber que tenho de aprender com a experiência deles. A novidade, às vezes, dá medo, mas temos de encontrar novos caminhos...”

“Entendi que para viver a vida tenho que fazer meu movimento individual respeitando, construindo, criando.”

Após ler os depoimentos acima mencionados, tive a certeza, o grupo merecia que eu fosse além de tudo o que já havia feito ou pensado. Respeito e carinho eram pouco do muito que demonstravam de vontade de sair do lugar. Apresentaria a eles a oportunidade de se conhecerem e reconhecerem seus talentos escondidos. Faria de tudo para que fossem mais felizes consigo e com a profissão escolhida.

No segundo encontro, estavam mais animados, já haviam percebido meu jeito falante e desacomodador. Tirá-los do chão, esse era o meu desejo.

Tinha proposto como estratégia trabalhar a cada aula palavras representativas e naquele dia ao entrar, a palavra que veio a minha mente foi respeito e compartilhar. Se meu desejo era estimulá-los cada vez mais a que colocassem seus talentos à mostra, pensei em resgatar o lado poético deles. Levei várias poesias de Drummond e pedi que se separassem em grupos e escolhessem uma poesia. O tema escolhido foi: Uma aula diferente. Pedi que preparassem um projeto e a poesia deveria fazer parte da aula em qualquer momento. Ela seria o símbolo da aula ministrada. Além disso incentivei-os a se conhecerem melhor, escrevendo um pequeno memorial.

No terceiro encontro estavam super empolgados quando eu cheguei. Até reclamaram que eu estava atrasada, embora não estivesse. Não dei de início a palavra a

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p. 08-10 eles. Resolvi incluir mais palavras àquelas já colocadas: ousadia e humildade. Adoraram a ideia e começaram as apresentações. Os temas velhice, cuidados paliativos, desinibição, deslocamento, capacitação profissional foram muito bem recebidos pela sala. Todos se envolveram e participaram animados de todas as dinâmicas apresentadas.

O quarto encontro foi o dia de maior emoção que eu pude sentir e para eles não foi diferente. Faltavam 3 grupos para se apresentarem com suas aulas diferentes. O primeiro tema doação de sangue já emocionou a todos, dramatizaram uma situação de desespero e todos ficaram comovidos. Precisar de sangue e não ter como recebê-lo por falta de doadores. O segundo tema: As necessidades dos idosos, fez com que cada um repensasse o posicionamento em relação aos parentes idosos. Muitos lembraram de seus pais, avós, emocionaram-se, emocionando a todos.

Para coroar a tarde, surgiu o último grupo com o tema: amor. Mais emoção no ar, todos foram contagiados pela palavra e o que ela representa. O exercício proposto de uma aula diferente tinha atingido seu objetivo. Os alunos tiveram a oportunidade de refletir, de extravasar emoções, rever suas histórias, choraram, agradeceram a oportunidade de poder exercer esse movimento de expressão.

Ao terminar a aula, a última aula do módulo, agradeceram todo o carinho recebido e eu recebi presentes, os mais significativos de toda a minha vida de educadora, que compartilharei com meu leitor. Compartilho com vocês os abraços carinhosos, as palavras de incentivo, palavras de carinho e dois presentes materializados.

Uma das alunas ao me abraçar me chamou e me entregou um pano, me surpreendi, isso nunca havia acontecido comigo. Abri, parecia um pano de copa, era bordado, delicado e na ponta estava escrito a palavra AMOR.

Vocês podem imaginar o que senti? Nenhuma palavra representaria o meu sentimento a não ser a palavra amor e reconhecimento por ter podido vivenciar aquela emoção.

Que representação poderia tirar desse presente tão significativo?

Outra aluna ao me abraçar colocou um rolinho de papel em minhas mãos e apenas me disse:---leia em casa.

Estava muito emocionada para desobedecer, mas não aguentei a curiosidade, li assim que cheguei ao carro e desabei em lágrimas. Era um papel enrolado com uma bala e o bilhete dizia:

“Professora, aceita esta bala como prova de carinho que sinto por você, porque você fez aparecer vários talentos que estavam escondidos dentro de nós. Beijos.”

E a bala, que eu poderia tirar dessa simbologia?

Minha emoção doía, quantos incidentes já haviam acontecido em minha vida profissional, muitos alunos já haviam manifestado descontentamentos comigo, com minhas aulas, mas compreendi a importância do movimento transformador na Educação.

Tinha de aproveitar essa chance que a vida me dava do reconhecimento que é totalmente passageiro, mas marcante. Afinal em cada sala de aula é um novo público, com diferentes perfis e vontades.

Mais uma lição de vida, o que aprendi com esse grupo tão sensível? Sem dúvida é aproveitar quando o grupo entende sua mensagem. Perceber a importância que o profissional na área da educação tem porque ele pode fazer a diferença, ele pode cooperar com a transformação do ser.

Se o discurso foi compreendido, a reação também foi imediata, com certeza tanto professor como alunos estavam na mesma sintonia e conseguiram extrair o melhor dos

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p. 09-10 dois lados. Essa é a verdadeira transformação individual e coletiva que podem ocorrer em uma simples sala de aula!

Eu agradeço a esse grupo, agradeço o convite de poder ter tido a oportunidade de aprender com eles. Eles foram meus grandes Mestres. Agradeço ao Coordenador do curso, que embora não me conhecesse, soube respeitar o meu jeito de ser e confiou. Isto é mais do que tudo! É como se tivesse me dito que sabia que eu iria fazer o meu melhor. Assim entrei na sala de aula desde a primeira vez, confiante de que estava amparada. Por esse motivo o reconheço e compartilho com ele os elogios a mim direcionados.

Vocês leitores, podem estar perguntando o porquê desse relato. Eu apenas respondo que toda experiência compartilhada poder ser um grande aprendizado. Além disso é um convite ao estímulo tanto do educador quanto do educando. É uma mostra de respeito entre coordenador, educador, educando e o resultado é a verdadeira parceria interdisciplinar na Educação. Este grupo soube aproveitar as oportunidades oferecidas para serem os atores de suas construções, cantaram, dramatizaram, foram poetas...

O teatro, a dança, a música, a linguagem desenvolvem a conscientização dos indivíduos, encorajam a comunicação mesmo que não verbal, unificam corpo e mente e possibilitam um contato com o sentido espiritual de liberdade no aqui e agora. A Interdisciplinaridade acelera esse processo interno de desenvolvimento íntimo dos indivíduos, na busca de encontros. Ela é arte, porque o ser que a exercita tem a possibilidade de desnudar-se numa relação entre movimento e emoção. Quando faltam palavras buscam-se localizações de imagens para expressar os sentimentos. Se dança, teatro, imagens, pinturas, linguagem são movimentos de encontros íntimos, a Interdisciplinaridade tem conseguido, com seus pesquisadores, esse movimento das descobertas também porque possibilita diferentes manifestações e consciência de si mesmo.

Encerro este relato com palavras escritas pelos alunos, as suas reflexões finais após ministrarem as aulas diferentes preparadas por eles, certa de que valeu a pena mais uma vez o meu desprendimento e minha humildade em compartilhar o que tenho de melhor, a habilidade de incentivar o outro a se encontrar a partir da escrita, a utilizar a sua criatividade.

“O trabalho em equipe nos levou a perceber o aprendizado compartilhado e desafiador e com muita ousadia, levando em conta o respeito e humildade. Quero fazer o diferente.”

“Fiquei estimulada a pesquisar mais, a aprender mais, a querer que o outro aprenda mais.”

“Aprender a olhar o outro com carinho e respeito, talvez esse seja o maior desafio na vida.”

“Aprendi a me respeitar, os encontros trouxeram esse grande aprendizado pra mim.”

“Enxergar meu aluno com carinho e compreensão, isso eu aprendi...”

“Eu sou uma folha em branco, uma pessoa cheia de espaço para se reescrever, fazer uma nova história, escrever um novo capítulo do meu ciclo de vida.”

“Acredito que crescemos emocionalmente, espiritualmente e culturalmente a cada segundo pela troca de experiências e conhecimentos.”

Com esses depoimentos aprendi mais uma vez que não importa o lugar, não importam quem são as pessoas, todos somos seres em busca de novas descobertas, de novos caminhares para despertar novos sentidos em nossa existência.

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p. 10-10 REFERÊNCIAS:

FAZENDA, Ivani Catarina. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 2001.

_______. A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campinas: Papirus, 2003.

GOSWAMI, Amit. O ativista Quântico. São Paulo: Aleph, 2010.

VARELLA, Ana Maria R.S. A Comunicação Interdisciplinar na Educação. (2008). São Paulo: Escuta.

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p. 11-18 3. DO SIMBÓLICO

Andrade, 2010

“o pedagogo precisa dar atenção especial a seu próprio estado psíquico a fim de estar apto a perceber seu erro, quando houver qualquer fracasso com as crianças que lhe são confiadas. Ele mesmo pode ser a causa inconsciente do mal.” Carl G. JUNG (1981)

Imagem extraída da internet (sem referência ao autor ou site)

Resumo: Este artigo resulta da dissertação de mestrado1 e da experiência de mais de dezoito anos na clínica de uma psicóloga, atuante em consultório e em escolas, particulares e públicas, com crianças, famílias e educadores. A partir de experiências profissionais e do seu próprio processo de individuação2 a levou a refletir sobre a importância de incluir a vivência simbólica3 no processo de autoconhecimento do educador. A partir deste tema, que foi trabalhado na sua pesquisa de mestrado, este é um caminho apontado como resultado da pesquisa, que a mobilizou para uma prática educacional que envolve a Totalidade do Ser e, por conseguinte, engloba as funções sentimento, intuição, pensamento e a sensação.Este artigo pode ser denominado como um convite “despertador” de uma pesquisadora que na medida em que ao se “entregar” a este caminho realizou uma trilha transformadora. Acredita no caminho de vivência integradora e transformadora por meio do simbólico e a partir do seu processo de

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Autoconhecimento e pedagogia simbólica Junguiana: Uma Trilha Interdisciplinar Transformadora na Educação (realizada na PUC-SP, defendida em 15/09/2010)

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O conceito de individuação foi criado pelo psicólogo Carl Gustav Jung e é um dos conceitos centrais da sua psicologia analítica. A individuação, conforme descrita por Jung, é um processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência. Através desse processo, o indivíduo identifica-se menos com as condutas e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas do Si-mesmo, a totalidade (entenda-se totalidade como o conjunto das instâncias psíquicas sugeridas por Carl Jung, tais como persona, sombra, self, por exemplo) de sua personalidade individual.

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Segundo Dr. Byington “todas as coisas e vivências são símbolos. A percepção da parte como símbolo a remete ao Todo. Assim conceituado o símbolo é a célula da Psique (Saiz laureiro, 1989). Ensinar por intermédio do símbolo, por conseguinte, é situar a parte inseparavelmente do Todo.” (2003, p.34/35)

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p. 12-18 autoconhecimento, deseja ao compartilhar o seu processo, mobilizar educadores para que possam iniciar ou reiniciar suas próprias trilhas simbólicas transformadoras.

Palavras - chave: Autoconhecimento. Vivência simbólica. Trilha transformadora.

1. Introdução

A partir deste artigo resultante da minha dissertação de mestrado4, como psicóloga e educadora, desejo ao compartilhar o meu relato sobre o meu despertar simbólico contemplado no meu processo de individuação, mobilizar educadores para que possam refletir sobre a possibilidade de se autoconhecerem por meio da vivência simbólica5 e construir caminhos que possam direcionar a educação integradora.

Como pesquisadora, ao seguir o meu mito pessoal ou metáfora: “Transformar-se para poder transformar”, apontei para a reflexão sobre a importância de o educador conhecer-se para construir caminhos que possam direcionar a educação integradora. Para que este caminho possa ser concretizado, na pesquisa foi apontado outro elemento necessário ao processo educacional que diz respeito à vivência da consciência humanizadora propiciado pelo caminho vivencial da elaboração simbólica, que envolve a Totalidade do Ser e, por conseguinte, engloba as funções sentimento, intuição, pensamento e a sensação.

Antes do relato da minha “trilha transformadora”, inicio o chamado para aqueles que desejam se dispor a dar alguns passos que reconheci como fundamentais para iniciar a minha trilha. Esses passos foram direcionados ao responder as seguintes questões simbólicas introdutórias: Qual é o ponto de partida? Como se podem aproveitar outras experiências de trilhas anteriores? Para onde se deseja ir? É possível se definir o trajeto? Qual é a finalidade consciente e inconsciente ao realizar este caminho? O que é necessário levar na bagagem para se percorrer esta trilha? Esta é uma proposta que pressupõe a transformação do educador e educando no processo educacional, é facilitada para o educador que se dispõe a ousar, a inovar a se transformar para poder transformar.

2. Vivenciando o mito pessoal

Na minha dissertação, vivenciar de forma intuitiva o mito pessoal, que segundo Campbell (2007) é uma metáfora da potencialidade espiritual do ser humano, me direcionou por meio do universo simbólico para o meu desenvolvimento espiritual, contemplado no processo de individuação, o que revela o mito como um “chamado anímico”, podendo funcionar como uma “chave despertadora” para este processo.

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Autoconhecimento e pedagogia simbólica Junguiana: Uma Trilha Interdisciplinar Transformadora na Educação (realizada na PUC-SP, defendida em 15/09/2010)

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Segundo Dr. Byington “todas as coisas e vivências são símbolos. A percepção da parte como símbolo a remete ao Todo. Assim conceituado o símbolo é a célula da Psique (Saiz laureiro, 1989). Ensinar por

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p. 13-18 Quais são os passos para sermos despertados pelo universo simbólico? Quando a mente explora um símbolo, segundo Jung, as idéias são conduzidas fora do alcance da razão. A imagem ou palavra, segundo Jung (1987), pode ser simbólica, na medida em que implica algo além do seu significado manifesto e imediato, apresenta um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca é precisamente definido ou esgotado.

Segundo Campbell, nós somos tomados pelos mitos, somos capturados pelos mitos, ou seja, talvez deixarmos entrar em contato com algum símbolo ou vivência simbólica que pode surgir por meio de uma idéia, imagem ou sonho, inicialmente pode causar estranhamento ou curiosidade. Na minha vivência fui capturada pela imagem da “flor de lótus”. Embora ao iniciar a minha pesquisa, tinha conscientemente outro planejamento e outra temática que me causou certo estranhamento, no entanto, me permitiu entrar em contato com esta metáfora simbólica de transformação. Abri “mão” do controle racional e da função pensamento e me direcionei a um importante ponto de partida para a trilha: “A entrega”.

Posicionando – me no ponto de partida, pronta para o desconhecido e levando na bagagem a “escuta sensível” 6, iniciei o meu percurso rumo ao processo de individuação- trilha transformadora. Entrar em contato com símbolos inconscientes existentes na “sombra”, aspectos obscuros na minha psique, propiciou examinar e reavaliar trilhas anteriores para poder preparar a bagagem para esta trilha.

Byington (1996) entende que pode evitar a neurose, quando as defesas não se cronificam e o acesso aos símbolos inconscientes existentes na Sombra é mais livre, o que denominou de Sombra Circunstancial. E assim quando existe um bloqueio dos símbolos inconscientes existentes na Sombra pelas defesas do Ego consciente por um longo período geralmente existe uma fixação e uma resistência maior das defesas e esse acesso aos símbolos inconscientes fica mais difícil. Essa sombra é denominada pelo autor de Sombra Cronificada. Como reconhecermos e agirmos com esses símbolos “sombrios” em um processo educacional? As funções estruturantes de defesas surgem sempre que a elaboração simbólica for dificultada e forma uma fixação. A empatia, a compreensão, ou seja, a afetividade na relação no processo educacional ajuda a evitar a formação da Sombra Cronificada e muitos casos, ainda, podem ajudar a transformá-la em criativa.

No meu processo ao vivenciar os aspectos inconscientes e sombrios como, por exemplo, a dificuldade de escrever desenvolvi a função da criatividade e inclusive a ousar a escrever poesias.

Todas as funções psíquicas, segundo Byington (2003), são estruturantes. Medo, ansiedade, orgulho, coragem, tristeza, alegria e todas mais, contêm as polaridades e interagem criativa e defensivamente em nosso processo de individuação. Cabe ao educador perceber o que ocorre na interação com o aluno no contexto escolar, o que Byington denominou de Self pedagógico. Ao levar na minha bagagem e reconhecer no meu percurso todas estas polaridades na minha própria ação pude-me sentir mais integrada e interagir no contexto educacional de uma forma diferente, por exemplo, com novas idéias e projetos.

Outro elemento da bagagem para esta trilha foi desejo inconsciente de “humanização” no processo. Para isto a condição foi voltar ao mundo vivido e recuperar a unidade pessoal, pois, o grande desafio foi à tomada de consciência sobre o sentido da

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Segundo Barbier, (2007, p. 94): “escuta sensível apóia-se na empatia. O pesquisador deve sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para compreender do interior as atitudes e os comportamentos, os sistema de idéias, de valores, de símbolos e de mitos” (grifo meu), ou a existencialidade interna.

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p. 14-18 presença do Ser humano no mundo, portanto, o que requisitou uma mudança de postura na relação metodológica de como ensinar e como. Levou em conta os pressupostos de substituição de uma concepção fragmentária, pela concepção unitária de Ser humano no sentido da recuperação da totalidade.

Segundo Jung, o inconsciente coletivo é organizado em símbolos e modelos chamados arquétipos. Os mitos representam um tipo de arquétipo. A formação de cristais foi uma analogia que Jung usou para ajudar a explicar a diferença entre os padrões arquetípicos e os ativados em nós: um arquétipo é como um padrão invisível que determina qual a forma e a estrutura que um cristal tomará enquanto se molda.

Outros tipos compreendem as histórias de fadas, as sagas populares e as obras de arte. Segundo Jung, todas as mitologias têm alguns traços comuns e estudando a mitologia poderíamos traçar o desenvolvimento psicológico da humanidade. Cada indivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a função mística. Os mitos abrem o mundo para a dimensão do mistério transcendente. A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa- mostrando qual é a forma do universo, mas fazendo – o de uma forma que o mistério, outra vez se manifesta. A terceira função é a sociológica – suporte e validação de determinada ordem social (princípios éticos, por exemplo). E aqui os mitos variam de lugar para lugar, mas existe a quarta função do mito, aquela que todas as pessoas deveriam tentar se relacionar - a função pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer circunstância. Hoje temos que reaprender o antigo acordo com a sabedoria da natureza e retomar consciência de nossa fraternidade com os animais, a água e o mar.

Segundo Campbell (2007), precisamos de mitos que identifiquem o indivíduo, não com o seu grupo regional, mas com o planeta. Não se pode prever que mito está para surgir, assim como não pode prever o que irá sonhar esta noite. Mitos e sonhos vêm do mesmo lugar. Vêm de tomadas de consciência de uma espécie tal que precisam encontrar expressão numa forma simbólica e está relacionado ao amadurecimento do indivíduo, da dependência à idade adulta, depois à maturidade e depois à morte. Assim, ao seguir o caminho simbólico não é possível se definir o percurso, a trilha vai sendo construída.

Entrar em contato com o mito me encorajou a construir a trilha. O mito ajudou a reagir diante de certas crises de decepção maravilhamento, fracasso ou sucesso. O mito me ajudou a me reconhecer no meu processo. Como podemos observar a partir dessas colocações, os mitos podem nos aproximar de nós mesmos, do nosso próprio processo de individuação, de crescimento, de desenvolvimento.

Após a identificação de alguns sinalizadores, e alguns itens para a bagagem deste percurso simbólico durante a minha pesquisa, sintonizados por meio da escuta sensível, pude reconhecer a importância de incluir na bagagem a pedagogia simbólica Junguiana e a interdisciplinaridade.

O método da pedagogia simbólica, segundo Byington (2003, p. 15): “centrado na vivência e não na abstração, e que evoca diariamente a imaginação de alunos e educadores para reunir o objetivo e o subjetivo dentro da dimensão simbólica ativada pelas mais variadas técnicas expressivas para vivenciar o aprendizado”.

No meu processo, frente a uma realidade posta, a vontade que nasceu do coração precisava da ação e de mãos para ser construída. Era um “pedido” do meu self 7. Percebia, aos poucos, que as questões apresentadas me conduziam para uma direção em

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p. 15-18 busca da minha totalidade. Assim, para iniciar a trilha simbólica é importante reconhecer quais são as verdadeiras mobilizações e origens do movimento.

Na minha trilha pude reconhecer a importância de perceber e desenvolver outras capacitações que vieram da dimensão afetiva e da função do sentimento.

Reconheci a importância de vivenciar o arquétipo de Alteridade que propicia a dialética do processo da mutualidade, do Encontro e rege a diferenciação da Consciência e, por isso, possibilita a integração das polaridades e sabedoria do viver. Inclui os arquétipos da anima8 e do animus que lideram o processo de individuação na segunda metade da vida e possibilitam a capacidade de empatia, uma vez que equacionam melhor a relação do Ego – Outro no que propicia a interação criativa entre o padrão matriarcal e o patriarcal.

Confrontar-se com aspectos mais obscuros da sombra como “potenciais transformadores” 9, podem emergir ao longo dessa trilha interdisciplinar. Metaforicamente, aqui pode aparecer o mito pessoal, bem como, evidenciado a importância da vivência simbólica no processo de desenvolvimento. A vontade de transformar e a integração psíquica do princípio feminino possibilitaram a expansão da sensibilidade e afetividade o que se opõe a uma atitude autoritária e machista que ainda prevalece em muitas situações e contextos, inclusive no educacional.

Para que a trilha fosse percorrida a Interdisciplinaridade que, segundo Fazenda (2003), é pautada em ação, movimento e reconhece a renovação e transformação nesse processo, proporcionou encantamento nas práticas educacionais.

Humildade, respeito, desapego, espera e coerência, são destacados e trabalhados por Ivani Fazenda como importantes princípios Interdisciplinares. Por meio do desenvolvimento desses princípios, dimensões essenciais do ser humano, vivenciei por meio da interdisciplinaridade, a finalidade de educação proposta por Gusdorf (2006), uma vez que contribui para a ampliação da consciência de humanidade.

3. Considerações finais

Todas as questões levantadas que abarcam o processo de autoconhecimento, poderiam ser aplicadas na formação do educador, o que a partir da ampliação da percepção contemplaria o desenvolvimento do Ser em sua totalidade, o que se assemelha ao processo denominado por Jung de individuação, que significa um processo por meio do qual o ser humano evolui do estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica a ampliação da consciência.

O padrão de totalidade afeta nossas vidas pelas necessidades de integridade, de completude de autenticidade e coerência e são fundamentos também presentes na interdisciplinaridade, pois reúne tudo o que diz respeito ao processo de Ser. Quando o educador se fecha para este arquétipo, pode perder o sentido de sua vida e profissão.

É o arquétipo que pode mobilizar o educador para o ensino da Totalidade e não somente para a habilidade cognitiva e, por englobar o caminho das polaridades, aproxima as funções psíquicas opostas: sentimento e intuição e pensamento e sensação.

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São termos introduzidos por Jung que representam a complementaridade no psiquismo masculino (anima) e no feminino (animus).

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p. 16-18 Pude me beneficiar vivenciando esse arquétipo, que era a minha pergunta existencial: Como poderia realizar esse processo? Sinto que mesmo que quisesse contribuir, enquanto psicóloga, para mobilizar o educador para que esse arquétipo pudesse ser vivenciado, que foi a minha pergunta consciente, não conseguiria totalmente, teria primeiro que percorrer essa trilha que me transformou, ou seja, seguir o meu mito pessoal: “Transformar-se para poder transformar”. O que aponto para a reflexão sobre a importância de o educador conhecer o seu mito pessoal, que será possível se houver o desejo e movimento do educador para se conhecer.

Como colocou Cortella (2008) “Qual é a tua obra?” sugere a importância da subjetividade no processo educacional, o que implica o processo de autoconhecimento.

Propiciar o acolhimento da intuição e do sentimento do aluno, já seria um caminho para mudar esse cenário educacional fragmentador, pois de acordo com Byington, são funções estruturantes que conectam as partes com o Todo e nos encaminham para compreender a importância do trabalho com o imaginário e a fantasia.

A tendência para o terceiro milênio é de que possamos estabelecer o equilíbrio e a dialética entre o matriarcado e patriarcado, o que ocorre na função do arquétipo da Alteridade. Esse movimento para estabelecer o equilíbrio entre as forças do masculino e do feminino também podem se relacionar com as colocações de Ruy Cesar do Espírito Santo (2003) no que diz respeito à humanidade passar por estágios em seu desenvolvimento.

Através do processo de autoconhecimento ou individuação, o Ser identifica-se menos com as condutas e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas do si–mesmo (self ) ou totalidade, o que poderia mobilizá-lo para uma prática propiciadora de habilidades interacionais ligadas ao ouvir, compreender, aceitar, respeitar e compartilhar, o que, contribuiria com o processo educacional.

Dessa forma, o processo de autoconhecimento poderia contribuir para que as atividades no cenário educacional fossem realizadas de uma maneira mais totalizadora, onde não só sobressairia o pensamento ou os conteúdos a serem assimilados de uma forma mental, como também englobaria, por meio de um trabalho de dramatização, contação de histórias ou mitos, dimensões que incluiriam o corpo, o movimento, as sensações, as intuições e os sentimentos no processo educacional.

Assim, somos influenciados por forças interiores, os arquétipos, que podem ser personificados por mitos pessoais. Quando sabemos quais mitos pessoais são as forças dominantes no seu íntimo, adquirimos autoconhecimento, força dos instintos, conhecimentos das habilidades e prioridades, possibilidade de escolhas mais saudáveis.

Concluo que o caminho simbólico poderia ser um recurso a ser utilizado para proporcionar a educação integral do próprio educador, ou seja, um processo que pode propiciar o educador a se tornar mais consciente de si – mesmo, conectado com os seus sentimentos, pensamentos, sensação e intuição, o que conseqüentemente poderia torná-lo um facilitador para esta integração no processo educacional.

No meu trabalho a importância se trabalhar com aspectos do feminino, da função matriarcal, segundo Jung denominou de animus no Homem, que significa procurar a fonte da própria vida, a relação entre o seu corpo, enquanto forma física, e essa energia que o anima. A figura da deusa pode representar vários aspectos: a busca da natureza, terra, construção, destruição, começo, fim, vida, morte, representa a vida, início, a força instintiva, compaixão. Incluí também o masculino em sua totalidade. Todos esses

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p. 17-18 aspectos foram originários da grande Deusa, para depois serem desmembrados para as outras deusas.

Assim, somos influenciados por forças interiores, os arquétipos, que podem ser personificados por mitos pessoais. Quando sabemos quais mitos pessoais são as forças dominantes no seu íntimo, adquirimos autoconhecimento, força dos instintos, conhecimentos das habilidades e prioridades, possibilidade de escolhas mais saudáveis.

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JAPIASSÚ, H. Interdisciplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

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p. 18-18 JAPIASSU, Hilton. O sonho transdisciplinar e as razões da filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

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p.19-22

3. DA APRENDIZAGEM Giosa, 2010

HQ (História em quadrinhos) de autoria de Marcilene de Jesus Elvira

Para quem bem viveu o amor Duas vidas que abrem Não acabam com a luz

São pequenas estrelas que correm no céu Trajetórias opostas

Sem jamais deixar de se olhar

É um carinho guardado no cofre de um coração que voou É um afeto deixado nas veias de um coração que ficou É a certeza da eterna presença

Da vida que foi na vida que vai É saudade da boa

Feliz cantar Que foi, foi, foi,

Foi bom e prá sempre será Maravilhosamente amar. (Feliz, Gonzaguinha)

Para começar a relatar como comecei a me envolver com a Psicologia Analítica, Antropologia do Imaginário e, posteriormente à espiritualidade no ensino de Inglês, reporto-me às minhas bases educacionais familiares.

Meu avô era cantor de ópera e fazia guarda-chuvas artesanais – direcionando, portanto, seu olhar às artes. Era o coração vivo e pulsante da família cuja sensibilidade feminina ficava evidente em cada palavra e ação. Minha avó, também grande artesã de tais guarda-chuvas, cozinhava como ninguém – cujo bife que preparava, sinto o cheiro e gosto até hoje. Ao mesmo tempo, mostrava-me o rigor das ações porque era a avó que mandava na casa e cuidava das finanças. Ambos faziam-me sentir o mundo pela sensibilidade de suas ações. A partir de então, no meu trabalho como professora de inglês resgatei as bases da cultura britânica – a tradição cultural celta - e, ao mesmo tempo, a minha própria ancestralidade. Por isso, inicio essas palavras com a música acima – que é uma homenagem aos meus iniciadores no terreno educacional. Foi com eles que vivenciei o que se chama hoje, no terreno educacional, de Educação de Sensibilidade.

Ampliando o termo, uma educação com o objetivo de sensualizar o pensamento racional; uma direção ao sentir, fazendo com que o indivíduo sinta o mundo por meio de seu campo perceptivo: o incentivo à intuição, à criatividade, à imaginação – assim como a minha ancestralidade me levou a sentir a música, o alimento, o acolhimento, o rigor das

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p. 20-22

ações. Com essa base educacional comecei a formar as minhas Távolas Redondas – cujo símbolo para mim, é muito forte.

A Távola era a mesa em forma de círculo, onde o Rei Arthur reunia seus cavaleiros antes das batalhas e discutia assuntos do reino. Merlin, o mago e conselheiro de Arthur, construiu a Távola como forma de fortificação do grupo porque o círculo traz a posição de igualdade. Lá, compartilhavam da melhor comida e bebida.

Essa minha Távola-base foi que me deu sustentação para eu seguir o caminho que eu escolhi seguir em meio ao qual construí outras Távolas: os grupos de oração; do clube, da dança, do inglês, das amigas, os grupos de estudo, os meus alunos, e a minha mais recente Távola composta pelo Professor Ruy e meus queridos amigos.

A Távola evoca o grupo – o que para mim é fundamental para podermos trilhar o nosso caminho de individuação, como proposto por Jung ou indiviDOAÇÃO, (Bernardi) – termo que creio não ser necessário explicar teoricamente, apenas imaginá-lo. Complemento com uma citação de um autor chamado Gusdorf que diz o seguinte: “Será a boa orquestra que faz os bons instrumentistas ou os instrumentistas é que fazem o valor da orquestra?”

Nas estórias arturianas, os cavaleiros de Arthur sempre saem em grupo para as batalhas, mas a busca pelo Graal é individual. Ou seja, o grupo faz parte da identidade do cavaleiro porque constitui a Távola Redonda do Rei Arthur e essa, por sua vez, a identidade de cada cavaleiro; e cada um, com sua individualidade, suas características de um bom cavaleiro (guerreiro, respeitador, fiel ao rei e, sobretudo, respeitador da dama) é que davam sustentação à Távola de Arthur. O aspecto de “respeitar a dama”, simbolicamente refere-se ao nosso encontro com a nossa interioridade, com a nossa alma de aprendiz da vida, à busca do nosso Graal, ou à busca de nossa espiritualidade – como discute o grupo do Prof. Ruy.

Para os celtas, o Graal é o caldeirão do Renascimento, da Abundância e da Inspiração. Também abarca o conceito de círculo– processo da vida, do nascimento e da morte. Significa taça, caldeirão e é um objeto de onde se irradia a graça. Ao mesmo tempo, evoca a imagem do alimento – que na sexta-feira santa é trazido para ser colocado dentro do recipiente com o objetivo de renovar seu poder de doador de alimento. O Graal – enquanto doador de alimento e enquanto objeto que irradia a graça, encontra-se no meio da minha Távola Redonda, alimentando-a.

Cada cavaleiro sai em busca de sua alma escondida, do Graal, ou seja, do enfrentamento do guerreiro com o amante limpo de coração – que é o que permite ouvir a voz desse coração ao tomar suas decisões. Portanto, essa busca é árdua.

Perceval, o cavaleiro tolo que sofre todas as intempéries para ir atrás do Graal, sai para tentar fazer parte da Távola de Arthur. Sua mãe o previne para ficar sempre de boca fechada, não responder perguntas ou fazer perguntas indevidas. E a pergunta que o acompanha é: A que serve o Graal? – pergunta essa que ele não responde. Em meio à sua aventura, depois de momentos de extrema dificuldade, após a morte de todos os cavaleiros da Távola Redonda, restando, portanto, somente ele, Perceval é jogado nas águas de um rio com sua forte e pesada armadura, até que ele começa a se desfazer da armadura e sai quase desnudo da profundidade das águas e depara-se com a porta do castelo onde o Rei Pescador (Arthur) encontrava-se gravemente ferido. É nesse momento que Perceval responde a pergunta: A que serve o Graal? - cuja resposta é “A ti, senhor”. Ou seja, quando Perceval reconhece a importância do Outro, do rei, é que ele consegue responder à pergunta e assim, salvar o rei de sua enfermidade.

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p. 21-22

Isso não significa o fim dos problemas de Perceval, mas o reconhecimento de ações, de relações consigo mesmo , com o outro e com o mundo. Jung chama esse reconhecimento de “alteridade”. Durand (2001) chama de Trajeto Antropológico. Espiritualidade, segundo o Prof. Ruy do Espírito Santo.

Explicando esse Trajeto, vou apontar as sensibilidades que nós possuímos, no nosso corpo, que estão em nós e que desenvolvemos ao longo desse Trajeto.

- Sensibilidade heróica– que nos impulsiona para o novo, para a luta e que hoje em dia pode caracterizar um herói mais racionalista, mais guerreiro, cujo símbolo, de modo mais exacerbado, pode ser a espada sangrenta, a luz excessiva, a ascensão; os heróis americanos que assolam as telas de TV, mostrando-se cada vez mais “bravos”. Atento para o fato de que não se trata de uma sensibilidade ruim, mas sim, um excesso da sensibilidade heróica no século XXI, dificultando o emergir da outras duas sensibilidades abaixo:

- Sensibilidade mística – que nos impulsiona para a profundidade, cujos símbolos podem ser a água, o Graal, caracterizando um herói mais preocupado com sua interioridade, como o Perceval.

- Sensibilidade dramática – que seria um equilíbrio entre as duas sensibilidades anteriores. O conceito de “alteridade”, proposto por Jung. Como símbolo, a Roda, a Távola. Aqui, o exercício da espiritualidade se faz presente.

Com isso, quero dizer que no decorrer dessa nossa Trajetória Antropológica, buscamos nosso Graal e formamos nossas próprias Távolas.

Trilhando esse meu caminho de individuação, comecei a conhecer e a me apaixonar pelo herói arturiano e a me embrenhar nessa jornada com o Rei e seus cavaleiros. O Ciclo do Rei Arthur marca a passagem de um herói patriarcal, digamos, racional, mais guerreiro, para o herói Perceval, que ouve a sua voz interior, o coração – ou o herói Arthur quando ouve a Dama do Lago e, por isso, é capaz de entregar a espada a ela ao final de sua jornada . Ou seja, o herói arturiano desenvolve o sentir e passa a ter a dama, sua alma ou anima como guia. Então, o grande desafio de Arthur e seus cavaleiros é conciliar razão e sensibilidade – é o conhecer-se internamente; agir pela via da sensibilidade - por isso é que fiquei fascinada pelo mito arturiano. Mesmo porque, creio que este é o meu momento de conhecimento próprio, do mundo e daqueles com quem convivo.

Falar em Távola Redonda alimentada pelo Graal, buscar esse Graal, essa alma não significa algo simples, místico ou simplesmente sentimental. Estaria esse herói buscando sua espiritualidade?

Creio que sim. Alma, como diz Jung é Psique = sopro vital, sede dos desejos, das emoções, dos mistérios; alma é construção, um movimento de enfrentamento das sensibilidades que nos habitam; é o “fazer junto” para nos indiviDOARMOS. Semelhantemente, espiritualidade é mergulhar no significado da nossa existência, fazendo com que nossa trilha de individuação faça sentido para nós. Para tanto, a via de ação é pelo simbólico por ser algo importante, significativo para cada um porque o símbolo ativa a imaginação, a criatividade e a narrativa mítica faz com que cada símbolo tenha um significado específico para cada pessoa em cada momento de sua vida. Portanto, quando falamos em “simbólico” falamos no que é mais significativo para nós em diferentes momentos de nossas vidas.

Assim sendo, voltando à Távola, o que é necessário é “fazer alma”– quando é possível, então, emergir a interioridade do grupo (e suas diversas sensibilidades).

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Compreendo meus queridos grupos, então, pelo mito – tentando efetuar uma mudança de olhar, de encarar o mundo e, sobretudo, o campo educacional. É observando as sensibilidades que nos envolvem e tentando trazer, um pouco mais à tona, o emergir da sensibilidade mística e dramática neste mundo racionalizado em que vivemos, é que proponho trabalhar o ensino de inglês pela mitologia – encarando-o como meu grande desafio. As estórias míticas estão presentes na mente de todos os povos, sendo semelhantes, porém com nomes diferentes em diversas partes do mundo – o que é fascinante porque à medida que ouvimos uma narrativa mítica, vivemos diferentes modalidades de encarar a vida. Então, o mito, por sua vez, é o que eu chamo de “sensibilidade da alma”.

Então, eu busco na mitologia arturiana, conhecer as minhas próprias experiências de vida. Por exemplo, a minha ancestralidade, a educação de sensibilidade que começou com meus avós. Começo a experimentar a espiritualidade em mim.

Parto do mito arturiano para um conhecimento mais intenso da cultura inglesa, para tentar observar o meu fascínio por essa cultura, e como eu poderia partilhar esse sentimento com meus alunos. Como eu poderia ensinar Inglês pela mitologia, ou seja além da língua pela língua, construindo uma prática em que cada aluno pudesse mergulhar um pouco na aprendizagem dessa língua, compreendendo sua cultura, os costumes de um povo, contribuindo, talvez, para a diminuição da aridez educacional, no momento em que encorajo meus alunos a criarem, a imaginarem sua relação com a língua. Dessa forma, ajudo a mim mesma, pois acabei me envolvendo num ambiente educacional extremamente prazeroso.

Assim sendo, a Távola redonda, é um símbolo altamente significativo para mim – que me deu e dá sustentação para eu ir em busca de meu próprio Graal. E com as minhas Távolas, compartilho novos conhecimentos e deixo-as alimentada pela imagem abaixo com o intuito de que, cada um, ao olhar para ela, pense nos seus próprios símbolos significativos e pense, também, como uma espada devolvida para uma dama, para a profundidade das águas pode levar cada um a buscar seu próprio Graal.

Imagem extraída da internet (sem referencia ao autor ou site)

Referências

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