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AINDA É POSSÍVEL UMA EDUCAÇÃO ILUMINISTA? GT2 Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis RESUMO

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Academic year: 2021

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Professora da rede Estadual de São Paulo Universidade Paulista, UNIP, Brasil Professoraadriana@live.com

GT2 – Educação e Ciências Humanas e Socialmente Aplicáveis

RESUMO

Na história ocidental, um dos primeiros pensadores a discorrer acerca do problema da educação foi Platão. Na obra a República, ele demonstra o mundo da aparência e da alienação em que a sociedade vive. Posteriormente, podemos compreender que essa linha de pensamento foi desenvolvida por Kant na modernidade e Adorno na contemporaneidade. Assim, a educação deve objetivar o esclarecimento humano, portanto, deve ser entendida como uma ferramenta emancipadora.

Palavra-chave: Educação, emancipação e alienação.

ABSTRACT

In Western history, one of the first thinkers to discuss about the education problem was Plato. In the work the Republic, he shows the world of appearance and alienation in which society lives. Later, we can understand that this line of thinking was developed by Kant in modernity and Adorno nowadays. Thus, education should aim at human enlightenment, therefore, it should be understood as an emancipatory tool.

Keyword: education, emancipation and alienation.

Introdução

A educação, ou a transmissão de conteúdos culturais e conhecimentos de geração a geração, é uma prática tão antiga quanto à sociabilidade humana, na verdade essa é uma atividade indissociável a qualquer grupo social, e sem a

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2 educação (transmissão) jamais poderíamos imaginar que chegaríamos a tal nível de conhecimento como o possuído hoje pela espécie humana. Ao entender que nosso objeto (educação) possui uma importância fundamental para os grupos sociais e para a espécie humana em geral preservar e progredir sua cultura e seu conhecimento, é necessário problematizar a própria atividade educacional e o valor que lhe é concedido pela população, como por aqueles que são responsáveis pela administração social.

Nesse sentido, qual o tipo e a finalidade educacional que queremos para formar as novas gerações? Segundo penso, essa é a questão basilar da educação. Antes mesmo de se discutir qual o modo correto e mais eficaz de transmissão, qual deve ser a relação entre o educador e o aluno, de liberalidade, de autoritarismo ou de moderação, é preciso discutir profundamente qual a espécie de indivíduo a prática pedagógica deverá formar. Devemos formar um indivíduo moral ou ético (consciente de seus deveres)? Uma educação que valorize os conhecimentos necessários à formação de cidadãos ou simplesmente formar indivíduos técnicos que sabem até fazer muitas coisas, porém refletem pouco sobre as benesses daquilo que eles fazem? A prática pedagógica deve se concentrar no desenvolvimento da inteligência do educando a partir de uma educação ampla e humanista ou simplesmente desenvolver habilidades necessárias às exigências da sociedade capitalista? Esses são problemas fundamentais que deveriam estar na ordem do dia de qualquer pedagogo, de qualquer instituição de ensino, e dos órgãos públicos responsáveis pela fomentação da educação. Ou seja, antes de se querer educar é necessário refletir sobre qual a finalidade da educação e saber que essa prática direcionará o futuro de uma cidade, um estado, de uma nação.

No decorrer deste texto pretendemos tornar claro que essas questões não são novas, porém hoje em dia são mais pertinentes ainda porque vivemos em uma época da banalização e corrupção dos costumes e da cultura, de desrespeito à prática educativa. E, sobretudo, vivemos em uma época em que a mídia televisa e radiofônica (também virtual) impõe um conteúdo cultural às pessoas que presta um desserviço a qualquer prática educativa que tenha por objetivo o esclarecimento dos educandos. Nesse sentido, avaliaremos criticamente a

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3 sociedade contemporânea, focalizando essa crítica no caso brasileiro. Tendo em vista este objetivo, intitulamos tal investigação por meio de uma questão: ainda é possível uma educação iluminista? Uma educação iluminista é aquela que valoriza a razão em detrimento da superstição e da barbárie, a consciência política das pessoas, sua capacidade crítica e reflexiva ao invés do comodismo. Esse tipo de finalidade da prática educacional está cada vez mais ausente do direcionamento pedagógico da nossa educação, essa essência pode se resumir pela seguinte asserção: uma educação iluminista que vise tirar os homens das trevas e levá-los à luz do esclarecimento é quase impossível nos atuais paradigmas da sociedade contemporânea.

Com efeito, para aprofundar essas questões iniciaremos analisando as posições do primeiro filósofo que problematizaram a questão da educação e, diríamos, de certa forma, inventou a pedagogia enquanto ciência da educação, a saber, a Platão e à sua alegoria da caverna que aparece no VII livro da República (I). Na sequência estabeleceremos algumas questões sobre a visão educacional dos tempos modernos, sobretudo, aquela desenvolvida no movimento do século XVIII chamado iluminismo, onde concentraremos nossa investigação no filósofo alemão Immanuel Kant que escrever um texto importante intitulado Sobre a pedagogia (II). Depois, passaremos a discussão acerca da educação a partir da visão mais contemporânea de Theodor Adorno que discute os paradigmas atuais da educação e emancipação das pessoas (III). Concluímos a partir das análises feitas anteriormente, sobre as possibilidades de uma educação que vise o esclarecimento e quais as ações poderiam ser feitas pela sociedade em geral para mudar o rumo atual da educação e também da própria sociedade.

I) Platão: a escura e sombria caverna em que se encontram os homens

Platão foi um dos primeiros pensadores na história ocidental a pôr em questão o problema da educação. Na obra a República, Platão constrói uma modelo ideal de sociedade onde o tema da educação começa a ser delineado desde o segundo livro, sobre o pano de fundo do entendimento do conceito de justiça. Segundo Platão, para melhor entender o que seria a justiça é preciso investigar em

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4 que consiste a sociedade e porque os homens vivem em cidades. Nesse sentido, Platão defende que a justiça não consiste somente em um atributo individual, mas sim social pertencente à cidade inteira, pois

o que dá nascimento a uma cidade [...] é, creio, a impotência de cada indivíduo de bastar-se a si próprio e a sua necessidade de um multidão de coisas [...] um homem traz consigo outro homem para determinado emprego, e outro ainda para um outro emprego, e a multiplicidade das necessidades reúne numa mesma residência um grande número de associados e auxiliares; a esse estabelecimento comum demos o nome de cidade. Pois bem! Construamos com palavras uma cidade desde o princípio; serão as nossas necessidades, ao que parece, que a construirão (PLATÃO, 2006, pp. 74-5).

Entre outras necessidades necessárias a uma organização humana, tal como alimentação, habitação, vestuário e comércio está à educação que deverá definir de maneira correta as aptidões de cada cidadão, visto que “a natureza não fez cada um de nós semelhantes ao outro, mas diferentes em aptidões, e próprios para essa ou aquela função” (Ibidem, p. 76). É seguindo essa orientação que o filósofo ateniense propõe a seguinte questão: “mas que educação lhes ministraremos” (Ibidem, p. 85) para construir uma cidade perfeita. A resposta preliminar de Platão consiste em afirmar que a educação deveria ser constituída de ginástica para o corpo e música para a alma. Além disso, que deveria ser a própria cidade a responsável pela educação de todas as crianças sem quaisquer tipos de distinções.

Porém, é a partir do final do livro VI da República e início do livro VII que o tema da educação toma um contorno que até hoje pode ser entendido com uma atualidade espantosa para um filósofo que escreveu no séc. IV antes da nossa era. Platão tece inúmeras críticas aos sofistas que são identificados como mercenários do saber, pois entendiam o conhecimento como uma mercadoria e, por esse motivo, ao invés de instruir devidamente seus pupilos, muitas vezes os corrompem. Segundo Platão,

todos estes indivíduos mercenários, que o povo denomina sofistas e encara como seus rivais, não ensinam outras máximas senão as que o próprio povo professa nas assembleias, e é o que

denominam sabedoria [...] embora não soubessem

verdadeiramente o que, destes hábitos e destes apetites, é belo ou feio, bom ou mau, justo ou injusto [...]. Semelhante

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5 indivíduo, não te pareceria um estranho educador? (Ibidem, p.237).

A crítica de Platão vai em direção àqueles educadores ou não que pensam possuir uma determinada verdade, porém, deixam de examinar cuidadosamente se tal conteúdo é verdadeiro ou falso. Sendo assim, se a cidade deve promover a justiça, e se a educação é um elemento importantíssimo para a realização desta justiça, não podemos confiá-la a embusteiros os quais, ao invés de instruir, corrompem e deformam o caráter das pessoas.

Essa é a oportunidade para Platão estabelecer sua teoria dos dois mundos, o sensível e o inteligível, o primeiro é o da opinião, e o segundo é o mundo da ciência, do conhecimento. Assim, o processo educativo deve conduzir o indivíduo do primeiro estágio, o do achismo, do pensar que as coisas são tais quais nos dizem ser, ao segundo estágio, aquele do conhecimento. Platão, de maneira pedagógica, exemplificou essa passagem da opinião ao conhecimento através da alegoria que se tornou célebre na história do pensamento ocidental, o famoso “mito da caverna”. Platão inicia a alegoria da caverna descrevendo a situação de pessoas que desde o nascimento estavam acorrentadas no fundo de uma escura caverna:

representa da seguinte forma o estado de nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens em uma morada subterrânea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes homens aí se encontram desde a infância, com as pernas e o pescoço acorrentados, de sorte que não podem mexer-se nem ver alhures exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeça [...] (PLATÃO, 2006, p. 263).

Segundo Platão, os homens, antes do processo educativo, se encontram justamente nesse mundo da caverna, cuja característica é tomar as sombras das coisas por verdade, ou seja, possuir um falso conhecimento das coisas, ou ignorância completa do modo como as coisas ocorrem na realidade.

Dessa forma, o mundo da caverna seria o mundo da aparência e da alienação, onde não se realiza a justiça, mas a aparência da justiça, nem a verdade, mas a aparência da verdade. Essa caverna, por sua vez, é o próprio mundo em que vivemos que contribui (seja pelos políticos, pelos donos das fábricas, seja pela

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6 propaganda e produto cultural veiculado pela mídia) para tornar as pessoas sempre equivocadas, através de uma cortina de ideias que escamoteiam uma determinada realidade opressora. Platão reconhece que esse caminho das trevas à luz é complicado e muito difícil porque os homens na caverna estão fortemente presos ao mundo aparente, e pensam que é justamente essa aparência a própria verdade. Assim, o educador vislumbrado por Platão deverá empregar todos os seus esforços para retirar o indivíduo (alienado) das trevas e levá-lo para luz, esclarecê-lo, torná-lo consciente de todas as coisas que ele ignora ou que compreende apenas enquanto aparência e não como essência.

Com efeito, a partir dessa alegoria, Platão estria iniciando a gênese do pensamento educacional e de maneira bastante crítica à sua própria sociedade. Além disso, Platão iniciou uma tradição muito importante para a prática pedagógica. Ou seja, a educação não deve ser somente a transmissão de conteúdos, como faziam os sofistas, mas ela deve formar, esclarecer, tornar os indivíduos conscientes de seu mundo, por mais que este mundo seja algo ruim. Segundo compreendemos, essas orientações estiveram no centro das atenções durante o movimento filosófico e cultural denominado iluminismo.

II) O Iluminismo e o valor da formação

O iluminismo foi um movimento de revolução cultural intenso no século XVIII europeu e a educação era visto com máxima importância para os filósofos que estavam engajados nesse movimento. Isso porque não se pode mudar o mundo sem partir da educação, visto ser essa atividade a responsável pela formação das pessoas. Assim, os iluministas eram homens engajados nesses ideais de mudança e transformação dos indivíduos por meio de uma educação que valorizasse a racionalidade, a tolerância cultural e religiosa.

Kant, filósofo alemão que fora bastante influenciado por Rousseau, segue o mesmo raciocínio. Segundo Kant, em seu pequeno tratado Sobre a pedagogia, escrito no século XVIII, “homem é a única criatura que precisa ser educada”. Mas, o que o filósofo entenderia por educação? “Por educação,

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7 esclarece Kant, entende-se o cuidado da infância, a disciplina e a instrução com a formação. Consequentemente, o homem é infante, educando e discípulo” (KANT, 2002, p. 11). Assim, os homens se distinguem definitivamente de outros seres naturais para os quais a educação não é algo necessário à própria preservação da espécie. Esse modo de entender a educação diz respeito a uma atividade que é indissociável da espécie humana, vemos assim que uma geração educa a outra por meio de três ações: disciplina, instrução e formação. Este seria o tripé pedagógico defendido por Kant.

A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de desviar-se da humanidade, através das suas inclinações animais. Ela deve, por exemplo, contê-lo, de modo que não se lance ao perigo como um animal feroz, ou como um estúpido. A disciplina, porém, é puramente negativa, porque é o tratamento através do qual se tira do homem a sua selvageria (Ibidem, p. 12-3).

Mas, o leitor pode estar se perguntando, o que se entende por selvageria? Afinal, construir armas de destruição em massa, as quais são frutos do mais intenso trabalho racional do homem, também não seria uma espécie de selvageria? Porém, essa selvageria à qual Kant se refere é algo menos destruidor, e ligado inteiramente ao homem natural. Assim, selvageria, para o pensador iluminista,

consiste na independência de qualquer lei. A disciplina submete o homem às leis da humanidade e começa a fazê-lo sentir a força das próprias leis. Mas, continua Kant, isso deve acontecer bem cedo. Assim, as crianças são mandadas cedo à escola, não para que aí aprendam alguma coisa, mas para que aí se acostumem a ficar sentadas tranquilamente e a obedecer pontualmente aquilo que lhes é mandado, a fim de que no futuro elas não sigam de fato e imediatamente cada um de seus caprichos (Ibidem, p. 13).

Ora, será que se deixarmos nossas crianças sem disciplinas elas obedecerão as leis, e tudo o mais por si mesmas, e tornar-se-ão adultas completamente consciente de seus deveres éticos para com a sociedade? Uma educação que valorize a razão deve de certa forma, começar desde cedo a imprimir na mente da criança certas tendências à civilidade. A tarefa máxima da disciplina na educação em Kant é justamente fazer as crianças poderem aprender a obedecer. Não uma

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8 obediência cega e totalmente heterônoma, mas uma obediência às regras racionais autônomas. A disciplina não é apresentada por Kant como uma espécie de escravidão, mas como um processo necessário para a compreensão que devemos sempre seguir regras. Assim, devemos aprender a respeitá-las. Em outras palavras, não há como respeitarmos as leis se não soubermos como respeitar. Através da disciplina, Kant nos ensina que os homens aprendem a agir de modo organizado e refletido.

É importante também notarmos que a educação deve visar antes de tudo formar um cidadão, afinal somos seres que vivem em sociedade e não dá para aceitar que o convívio social esteja enleado de empecilhos de formação. Por esse motivo, Kant continua, “quando se deixou o homem seguir plenamente a sua vontade durante toda a juventude e não se lhe resistiu em nada, ele conserva uma certa selvageria por toda a vida [...]. No homem, a brutalidade requer polimento por causa de sua inclinação à liberdade; no animal bruto, pelo contrário, isso não é necessário, por causa do seu instinto” (KANT, 2002, p. 14). Poderíamos concluir que um homem jamais realizaria a sua humanidade se não fosse educado, ou seja, “ele é aquilo que a educação dele faz” e, mais ainda, “nota-se que ele só pode receber tal educação de outros homens, os quais a receberam igualmente de outros homens. Portanto, a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna mestres muito ruins de seus educandos” (Ibidem, p. 15). Por sua vez, a disciplina traz consigo a coação, necessária no processo de afastamento do estado primitivo e selvagem do homem natural. A coação aqui cumpre a tarefa de limitar a liberdade irresponsável, selvagem, encontrada no estado sem leis, onde reina a desordem, a violência e a brutalidade. Por conseguinte, a educação deve se opor à brutalidade e à selvageria.

Aqui temos duas colunas básicas que visa à educação: a disciplina que tem por objetivo humanizar ou civilizar o indivíduo e a cultura que está ligada à instrução e torna o homem um ser consciente e ético. A educação, nesse sentido, não deve ser entendida simplesmente como transmissão de conteúdos, ao contrário, a educação deve desenvolver no homem as suas disposições naturais, “uma vez que as disposições naturais do ser humano não se desenvolvem por si mesmas, toda educação é uma arte. A natureza não depositou nele nenhum

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9 instinto para essa finalidade” (Ibidem, p. 21). E, sobretudo, a tarefa da educação é sempre produzir o melhor, fazer com que a espécie possa avançar, é claro que sobre isso tanto os pais quanto os governantes são responsáveis e, muitas vezes, pela má influência acabam arruinando todo o processo educacional (KANT, 2002, p. 22). Portanto, segundo Kant, a educação deve visar os seguintes objetivos: 1) Disciplinar para evitar a selvageria.

2) Tornar o indivíduo culto, e cultura é entendida como a criação de habilidade e a posse de capacidades condizentes com os fins que almejamos para a

educação.

3) Deve também tornar o homem um ser prudente, ser civilizado.

4) Deve cuidar da moralização do indivíduo. Pois, para Kant, “[...] não basta que o homem seja capaz de toda sorte de fins; convém também que ele consiga a disposição de escolher apenas os bons fins” (Ibidem, p. 26).

Com efeito, o ideal de educação não é necessariamente o adestramento, a educação mecânica, na verdade a educação deve visar aquilo que Kant denomina de ilustração. Ou seja, não devemos simplesmente treinar nossos alunos a passar no vestibular, por exemplo, cumpre ensiná-los a aprender a pensar, a entender criticamente o mundo que os cerca, antes de qualquer conteúdo técnico é necessário formar um cidadão consciente de seus deveres e obrigações perante a sociedade, este seria, segundo Kant, o objetivo de toda educação.

III) Educação e emancipação

Ao falar de educação e emancipação podemos apresentar os argumentos elencados pelo filósofo Theodor Adorno os quais, segundo o filósofo alemão, seriam necessários para a construção de homens livres e esclarecidos. DE acordo com Adorno,

a seguir, e assumindo o risco, gostaria de apresentar minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar as pessoas a partir do seu exterior; mas também não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, mas a produção de uma consciência verdadeira. Isto seria inclusive da maior importância política; sua ideia, se é permitido dizer assim, é

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10 uma exigência política. Isto é: uma democracia com o dever de não apenas funcionar; mas operar conforme seu conceito, demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado (ADORNO, 1995, p. 141-142) .

Através de suas teorias ele esclarece à necessidade de mudança no ensino, pois segundo ele esse ensino é fragmentado, mas não basta apenas ampliar o saber é necessário emancipar o sujeito. Emancipação significa o ato de tornar o homem livre ou independente. Em Filosofia, a emancipação é a luta das minorias pelos seus direitos de igualdade ou pelos seus direitos políticos enquanto cidadãos. Como grande representante da Escola de Frankfurt, Adorno tem argumentado em suas em suas obras que o esclarecimento sempre esteve presente na racionalidade humana. Mas na realidade ela acaba perdendo o sentido devido à transformação que o homem faz, ele com sua capacidade de representação abstrai tudo que está relacionado com a sua realidade, a transforma em técnicas para dominar a natureza. Ele defende a ideia de que o esclarecimento é capaz de fundamentar a verdade, promover a emancipação e combater a barbárie.

Em sua obra Educação e Emancipação, Adorno (1995) defende uma educação fundamentada no uso da razão, na autonomia, na autolegislação. Como vemos, é inegável que a formulação de um pensamento rigoroso e autônomo é a base para a construção de um ser humano livre. Adorno concorda com Kant quando se refere à emancipação, ou seja, “homem autônomo, emancipado”, mas, segundo ele, “a educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica” (Ibidem, p. 121). A educação, portanto, deve se entendida pela sociedade como o elemento formador da consciência crítica dos indivíduos. Portanto, contra o poder de domínio que a indústria cultural exerce na sociedade, a educação para a emancipação fornece a possibilidade de trabalhar assuntos da realidade num processo dialético, esclarecendo aqueles que são objetos da educação sobre os mecanismos de alienação presentes na sociedade. A educação emancipatória ou libertadora pode contribuir para que as pessoas sejam agentes de transformação do mundo.

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11 Conclusão

Nesse trabalho abordamos o tema acerca do ideal iluminista da educação e em seus tópicos, foram apresentados alguns pensadores que estavam preocupados com a educação. Platão foi um grande pensador na história ocidental a pôr em questão esse problema, em seu livro República, Platão tece muitas críticas aos sofistas, e evidenciou que a educação é um elemento importantíssimo para a realização da justiça. Ele explicou o conhecimento através de uma alegoria chamada “mito da caverna”. Assim, Platão inicia a alegoria da caverna descrevendo pessoas que desde que nasceram estavam acorrentados no fundo de uma escura caverna: onde as pessoas viviam no mundo da aparência e da alienação, onde não se realiza a justiça. Kant, em seu pequeno tratado Sobre A pedagogia, ressaltou o problema afirmando que o homem era a única criatura que precisava ser educada. A educação entendida pelo filósofo seria aquela que se dedicasse ao cuidado com a criança desde a infância, essa visão também era defendida pelo filósofo Adorno. Uma das condições básicas defendida por Kant foi a de que o homem pudesse obedecer e respeitar uma regra, pois apenas assim conseguirá colocar em prática suas próprias decisões. Não devemos esquecer que essas decisões implicam numa reflexão autônoma das pessoas, capazes de dominar seus impulsos e desejos, deixando de agir precipitadamente. Portanto, a disciplina acaba proporcionando o afastamento da selvageria do homem natural. Adorno considera a educação emancipatória o principal agente de mudança na sociedade, pois faz do homem um ser esclarecido e incapaz de reproduzir a barbárie.

Como resultado deste trabalho, fica evidente que as ideias dos autores a cerca das mudanças que ocorreram na sociedade contemporânea exige transformar seus alunos em seres pensantes. Assim, pelo desenvolvimento de capacidade crítica o aluno conseguirá ser seu próprio guia. Por isso, é imprescindível que os professores além de formar cidadãos críticos capazes de refletir sobre a realidade social e política de uma sociedade se tornem também homens esclarecidos. Com isso, caminharíamos rumo a uma sociedade justa,

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12 formada, finalmente, por homens esclarecidos. Ao fim e ao cabo, teríamos a garantia de uma educação que tivesse por objetivo norteador a ideia de uma sociedade justa, formada por cidadãos éticos.

Referências Bibliografias

Adorno, Theodor W.. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1995.

KANT, Immanuel. Sobre a Pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. 3ª ed. Piracicaba: Ed. Unimep, 2002.

Platão. A república. Tradução J. Guinsburg. 2ª Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2014.

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