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O LUGAR JARDIM BOTÂNICO COMO ESPAÇO PEDAGÓGICO EM GEOGRAFIA

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Academic year: 2021

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O LUGAR JARDIM BOTÂNICO COMO ESPAÇO PEDAGÓGICO EM GEOGRAFIA

Bruno Nunes Batista Antonio Carlos Castrogiovanni Universidade Federal do Rio Grande do Sul brunonunes.86@hotmail.com castroge@ig.com.br

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar. (Galeano, 2000, p.12)

INTRODUÇÃO

Enquanto educadores, as dúvidas caminham conosco diariamente. Como professores de Geografia, as verdades provisórias são constantes. Buscamos, nesta jornada, um caminho para tais aflições. Pretendemos estabelecer uma relação diálógica do ensino de Geografia com o Jardim Botânico de Porto Alegre. Tal inquietação é possível de ser solucionada, ou não?

Durante muito tempo, perpassada por uma visão de mundo positivista e linear, a Geografia adquiriu o estereótipo de uma ciência de localizações e das descrições. Nesse sentido, no ensino da disciplina estava arraigado um olhar geográfico sincrético da paisagem (CASTROGIOVANNI, 2004, pg. 14). Portanto, a educação geográfica não se preocupava em compreender como se formava o Espaço Geográfico, objeto nosso de estudo. Sabemos que o Espaço Geográfico é tenso e dinâmico, um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de ações (SANTOS, 2009, p. 22). Contudo, durante muito tempo, e até hoje em muitos casos, encontramos nas escolas processos pedagógicos entremeados por verdades postas e certezas absolutas.

Entretanto, partimos da visão geocrítica, que engloba uma ideologia de superação das desigualdades (VESENTINI, 2004, p. 222), e o conceito - ainda que polêmico - de que vivemos numa sociedade Pós-Moderna. Nessa, ocorrem mudanças pelas quais experimentamos o espaço e o tempo (HARVEY, 1992) e que engendra um aluno que vive num espaço complexo permeado por atrações, repulsões, emoções e

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paixões, com carga estética acentuada (CASTROGIOVANNI; 2004, 2007). Nesse sentido, é premente para nós educadores buscarmos uma pedagogia do espaço em sala de aula, inserida num contexto de dúvidas constantes e verdades temporárias, tal como é a vida: ‘ensinar é a ação que precisa do dialogismo que, a priori, medeia e sistematiza a leitura social do mundo’.1

A ideia do que viriam a se tornar os jardins botânicos advém desde Aristóteles, em Atenas, quando em locais apropriados os estudantes observavam as plantas para depois classificá-las (PESSOA; SILVA, 2009). Com as grandes navegações, no século XI, os europeus, ao voltarem das terras “descobertas”, usavam áreas fechadas para cultivarem plantas exóticas de outros continentes. Com o tempo, a função foi se modificando em virtude de processos históricos. Hoje, tais áreas têm como objetivos primordiais pesquisas em biotecnologia, manutenção da biodiversidade, preservação do meio ambiente natural do planeta e interromper a perda de espécies.2

A idéia de Porto Alegre possuir um jardim botânico vem de 1883, com o objetivo de aproveitar científica e socialmente a várzea localizada no bairro Petrópolis. Todavia, somente em 1957 o plantio das espécies se inicia, e o local é inaugurado em 1958. Na década de 1970, o Jardim Botânico começa a integrar a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL, 2004, p. 27).

Localizado em área central do município, numa das regiões de maior concentração populacional do Estado, hoje o Jardim Botânico de Porto Alegre visa à conservação integrada da flora nativa e dos ecossistemas regionais. Além disso, tem como missão não ser apenas um parque de lazer, mas um espaço educativo, de pesquisa e conservação.

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CASTROGIOVANNI; COSTELLA (2007, p. 19).

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FONTE: Cardoso (2008), modificado de Google Maps (www.google.com/maps)

O parque caracteriza-se por um contexto geomorfológico no qual se encontra um platô mais elevado e uma área de depressão onde se encontram os banhados. A vegetação varia por localidade, engendradas por áreas expostas ou não ao vento e à radiação solar. O Jardim Botânico é ocupado pelos principais ecossistemas florestais do país (FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL, 2004, p. 33). No seu Plano Diretor (2004, p. 30), encontra-se especificado um programa de educação ambiental e uso público do Jardim Botânico. Nele, temos acesso a um conjunto de diretrizes que buscam conscientizar os visitantes sobre a importância da conservação da biodiversidade e dos ecossistemas.

Acreditamos que o Jardim Botânico de Porto Alegre pode vir a ser um excelente lugar para o ensino de Geografia para estudantes de ensino básico. Todavia, partimos da ideia de que apenas uma suposta vocação natural do lugar não é o suficiente para um trabalho educacional exitoso, no sentido de que deveriam ser desenvolvidas situações que instigassem o imaginário dos alunos. Nessa mesma linha de pensamento, e levando em conta que a imagem é polissêmica, Castrogiovanni (2004, p. 68) defende que apenas a comunicação do lugar não garante a compreensão. Requer um processo de empatia e, portanto, cremos (neste momento!) que as interpelações midiáticas do Jardim Botânico de Porto Alegre não contribuem para que o visitante/estudante/turista tenha

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conhecimento do processo histórico e das singularidades do lugar. Nessa conjuntura, o processo de ensino de Geografia no Jardim Botânico não é satisfatório, ocorrendo uma situação que vai ao encontro das palavras de Castrogiovanni (2004, p. 282): ‘Pela falta de conhecimento, os diferentes olhares do Lugar podem resultar numa única expressão.’ Dos cerca de 60.000 visitantes anuais que o parque recebe, cerca de 30% são de escolas de ensino básico. Tal pressuposto mostra a necessidade da realização de um trabalho pedagógico da educação geográfica nesse local.3

OBJETIVOS

O objetivo desta jornada é, tomando como estudo de caso o Jardim Botânico de Porto Alegre, refletir sobre as possibilidades desse lugar enquanto espaço pedagógico para o ensino de Geografia na educação básica. Trata-se, antes de tudo, de uma educação do olhar, tendo por foco a paisagem e as expressões naturais e culturais nela presentes.

Nesse sentido, acreditamos que podemos contribuir, nessa jornada, para a conscientização, pelo ensino de Geografia, do valor e das especificidades do Jardim Botânico de Porto Alegre, estabelecendo uma relação dialógica e multidisciplinar a qual possibilite compreender a produção histórica e a existência do lugar Jardim Botânico, na sua individualidade e no seu caráter de imagem polissêmica.

Buscamos neste trabalho a relação entre a teoria e a prática, partindo sempre do pressuposto da complexidade do conhecimento, o qual é - numa visão transdisciplinar - único. Desse modo, partiremos de questões específicas relacionadas a diversas áreas do conhecimento para atingirmos nosso objetivo geral:

* Os sujeitos alunos veem o Jardim Botânico como um lugar para se estudar Geografia, ou não?

* É trabalhada a Geografia no Jardim Botânico pelas escolas?

* É possível a educação geográfica no Jardim Botânico ou não? Como realizar? * É possível estabelecer um diálogo entre Espaço Geográfico, Espaço Turístico e ensino de Geografia, tomando o Jardim Botânico como referência espacial?

* Como transformar a Comunicação que o lugar Jardim Botânico realiza em conhecimento para estudantes de ensino básico?

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* O Jardim Botânico possui elementos que podem ser mapeados, enquanto lugar, para o ensino de Geografia, ou não?

METODOLOGIAS

Esta viagem terá como método de análise o Paradigma da Complexidade, através da pesquisa qualitativa. Utilizamos a leitura de Castrogiovanni (2004, p. 29), acerca do Paradigma da Complexidade: ‘uma cumplicidade de desconstrução e de criação, de transformação do todo sobre as partes e das partes sobre o todo. ’ Destarte, partimos desde já do postulado no qual é impossível simplificar a nossa pesquisa: o princípio da incerteza (MORIN, 2000, p. 79) nos leva a buscarmos um conhecimento transversal, contrário a um pensamento isolado, reduzido e simplificado.

No que concerne à escolha pela pesquisa qualitativa, deve-se ao seu caráter transdisciplinar: não se preocupa com o número de resultados ou com a quantificação das dimensões. Engendra um processo dialógico da sociedade com o lugar. Como assevera Castrogiovanni (2004, p. 142), “A Pesquisa Qualitativa tem a preocupação em explicar a dinâmica das relações sociais, que, por sua vez, são depositárias da Cultura de cada sociedade”.

RESULTADOS PRELIMINARES

A pesquisa (parte de uma dissertação de Mestrado) encontra-se em caráter preliminar, e situa-se em estágio de aplicação de técnicas de trabalho.

Durante o mês de abril, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os visitantes do parque, na busca de traçarmos um possível perfil dos visitantes. Trata-se de pesquisa de nível exploratório, com utilização de questionário com perguntas abertas e fechadas, com amostra aleatória e por exaustão. É um procedimento em que os entrevistados são abordados aleatoriamente, e aplicam-se o número de entrevistas possíveis em períodos determinados de tempo.

Considerando essa pesquisa exploratória inicial, realizada junto aos frequentadores da área, e confrontada à outra avaliação, essa realizada em 2006 por alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), detectou-se uma diversificação do estrato socioeconômico dos usuários, assim como, entre as suas expectativas com a visita, um crescimento dos anseios por experiências culturais e

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educacionais. Coloca-se, portanto, a necessidade de um Projeto de Intervenção que leve a uma maior qualificação do Jardim Botânico de Porto Alegre, para as novas demandas.

Constatamos como principal motivação para as visitas o lazer, seguido pela busca com um maior contato com a Natureza. Educação, no sentido de aprendizagem, e interesse botânico, não superou os 10%. Em relação a 2006, há maior diversificação, pois então, 90.1% declararam o lazer como motivo da visita. A busca por contato com a natureza era menor (4.9), assim como o interesse educacional (1.6%). Fez-se claro a diversificação nas motivações que levam à visita ao JB, entre elas a educação e o interesse botânico. Também se observou a busca por um lazer ativo e qualificado. Inclusive, embora 39% não tenham críticas, os demais têm críticas e sugestões, muitas deles referentes a acesso (estufas e equipamentos abertos, acessibilidade). Novamente aparece com destaque a necessidade de informações (mais divulgação, atendimento por monitores, sinalização educacional) e até a preocupação com a segurança.

No decorrer da pesquisa, está previsto realizar estudo em fontes secundárias, as quais incluem obras literárias, sites da Internet, recursos multimídias; trabalhos de campo com estudos orientados; análise de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Matrizes Curriculares do ENEM e Diretrizes para a Educação Básica; além de entrevistas com professores de Geografia e novas rodadas de aplicação de questionários com os frequentadores do Espaço Jardim Botânico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. A geografia do Espaço Turístico como Construção Complexa da Comunicação. Porto Alegre: Tese (doutorado), Faculdade de Comunicação, PUCRS, 2004.

FUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO RIO GRANDE DO SUL. Jardim Botânico de Porto Alegre. Plano Diretor do Jardim Botânico de Porto Alegre. Porto Alegre: 2004.

GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre, L&PM, 2000. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

PESSOA, Fernando; SILVA, Ricardo. “Educação Ambiental Crítica e formação do professor de Geografia: o caso do estágio docente no Núcleo de Educação Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro”. In: 10º Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia Porto Alegre. Porto Alegre: X ENPEG, 2009.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.

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VESENTINI, José William. “Realidades e perspectivas do ensino de Geografia no Brasil”. In: VESENTINI, José William (org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinhas: Papirus, 2004.

Referências

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