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A Economia do Castigo na Era da Segunda Escravidão Vale do Paraíba, Século XIX

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Academic year: 2021

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A Economia do Castigo na Era da Segunda Escravidão

Vale do Paraíba, Século XIX

Marcelo Rosanova Ferraro*1

Nos primeiros meses de 1835, o escravo Antônio, de nação Cabinda, se encontrava preso na cadeia da vila de Vassouras, suspeito do assassinato de seu senhor. Concluídos os depoimentos do dia 26, o réu foi considerado culpado pelo júri, e condenado à pena de morte na forca, nos termos do artigo 192 do Código Criminal. Em 25 de dezembro do mesmo ano, João Congo assassinou a facadas sua parceira, crime pelo qual foi condenou em grau máximo à pena última. Enquanto ocorria o julgamento, Matheus Rebollo foi preso acusado de tentativa de assassinato de seu senhor e condenado à morte sem direito a recurso, nos termos da nova lei, promulgada em 10 de junho de 1835. Após cinco meses de espera, Antonio Cabinda deixou a cadeia numa manhã de setembro de 1835, cercado pelas forças policiais, e seguiu o cortejo liderado pelo juiz, seu escrivão e o pároco, nos termos dos artigos 38 a 43 do Código Criminal. A morte na forca pôs fim à sua existência, e o sepultamento sem pompa ao seu corpo. Em junho de 1836, as autoridades da província e da vila resolveram otimizar os recursos e o espetáculo, levando João Congo e Matheus Rebolo juntos com baraço e pregão até a forca.

A vila de Vassouras existia há apenas três anos e, em menos de um, foi palco do teatro público da punição de três cativos africanos. O rigor do judiciário na segunda metade da década de 1830 foi uma resposta aos crescentes episódios de resistência escrava, e às ameaças que a demografia da região, alimentada pelo tráfico negreiro, representavam para a população livre. Ao ciclo de revoltas iniciado em 1807 na Bahia se somaram conspirações, como as de Campinas em 1830 e 1832, de Valença em 1831 e de Bananal em 1834, e insurreições, como a de Carrancas em 1833 e a dos Malês, em Salvador em 1835. As duas últimas mobilizaram o Parlamento a aprovar uma reforma legislativa aos Códigos Criminal e de Processo Criminal, acusados de serem brandos e morosos frente a crimes cometidos por escravos contra seus superiores. A promulgação

1 Mestrando em História Social pela Universidade de São Paulo. A tese “Arquitetura Senhorial-Escravista

nas Cidades do Café; Vale do Paraíba, Século XIX” será defendida no início de 2017. Pesquisa sob financiamento da FAPESP.

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da Lei de 10 de junho de 1835 alterou o rito processual e de execução penal, tornando mais célere a aplicação da pena de morte para os crimes cometidos por escravos contra seus senhores, feitores e seus familiares.2

Nos mesmos anos, a ascensão política dos regressistas estimulou a revitalização do tráfico negreiro, ilegal desde 1831, na forma de contrabando, e foi precisamente a região do Vale do Paraíba a principal beneficiada. Foram os grandes proprietários que mais usufruíram do contrabando entre 1835 e 1850, expandindo seus planteis de dezenas e até centenas de escravos. Nas fazendas de um deles teve lugar o mais importante levante da província em 1838. O Capitão-Mor Manuel Francisco Xavier era proprietário de duas fazendas em Pati do Alferes, Freguesia e Maravilha, onde residiam mais de quinhentos escravos, predominantemente jovens do sexo masculino, muitos nascidos da África centro-ocidental. Em novembro daquele ano, uma insurreição teve início em suas propriedades, unindo centenas de escravos que rumaram às matas com o objetivo de fundar um quilombo. Em poucos dias foram alcançados, e do confronto resultaram mortes e capturas. Dezesseis escravos foram indiciados por insurreição, nos termos do artigo 113 do Código Criminal, e homicídio (dos dois pedestres na força de repressão), nos termos do artigo 192. Entre 22 e 31 de janeiro de 1839, as autoridades e a população local se reuniram na Praça da Concórdia, diante da igreja matriz para o julgamento. Oito acusados foram absolvidos, e sete condenados a sofrerem 650 açoites e carregarem ferros nos pescoços por três anos. Apenas Manoel Congo foi condenado à pena última, acusado de ser o cabeça da insurreição e responsabilizado pelos dois homicídios. A condenação à morte para sempre implicou não apenas seu enforcamento, mas a profanação de seu cadáver, sendo interditos os sacramentos fúnebres.3

As décadas de 1830 e 1840 foram marcadas por confrontos entre escravos africanos, senhores e prepostos no processo de formação e expansão da cafeicultura. O rígido controle do tempo e do espaço previsto nos manuais senhoriais encontravam resistência e ressignificações dos escravos. Em um dia de junho de 1844, os escravos do

2 Processo Criminal 112, 1835. Arquivo do Iphan de Vassouras. Fichamentos de Camila Agostini.

Processo Criminal 040, 1836. Arquivo do Iphan de Vassouras. Fichamentos de Camila Agostini. Processo Criminal 041, 1835. Arquivo do Iphan de Vassouras. Fichamentos de Camila Agostini.

3 GOMES, Flávio dos Santos. Histórias de Quilombolas – mocambos e comunidades escravas no Rio de

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Capitão Marcelino José de Avelar reagiram aos castigos do feitor Bento Luis Martins surrando-lhe com seu próprio relho, e depois rumaram para a fazenda de Francisco José Teixeira Leite buscando serem apadrinhados. No entanto, tiveram pouca compreensão de seu senhor e das autoridades. Dos 58 cativos que fugiram e foram repreendidos por seu senhor, Januário Congo faleceu antes do inquérito em razão dos castigos sofridos anteriormente, e apenas dois foram acusados do atentado contra o feitor, presos e levados a julgamento. Apesar dos excessos reportados ao feitor e à conclusão de que Januário Congo falecera em decorrência de seu castigo, nenhuma acusação formal lhe foi feita. Ciro foi condenado a receber 800 açoites e a carregar ferros por três anos, e Antônio Moçambique, que junto de Januário Congo castigara o feitor, foi condenado à pena de morte. Pelas ruas de Vassouras a inversão da hierarquia foi espiada pelo rito de reforço da ordem escravista. A quarta-feira de cinzas encerrou-se na forca. 4

Entre 1835 e 1839, Vassouras foi palco de cinco execuções capitais de escravos, número reduzido para quatro em toda a década de 1840, referentes a quatro foram crimes contra senhores e dois contra feitores.5 Na década de 1850 houve um caso de homicídio de feitor e um de senhor, e apenas um crime de morte contra um feitor na década seguinte. A última pena capital aplicada na vila ocorreu em 1857, referente ao homicídio de José Luiz Leite cometido por seus escravos Juvenal Cabinda e Albino.6 Em todos os casos analisados entre as décadas de 1830 e 1850, repetiu-se um padrão, em que escravos que cometeram crimes fugiram para as matas virgens da região buscaram padrinhos em fazendas vizinhas. Por sua vez, a vila representava, principalmente, a autoridade estatal, onde se localizavam edificações como a cadeia, a casa da câmara e do judiciário e o largo da forca. Nesse período, nenhum dos escravos acusados de crimes recorreu a esse espaço em suas fugas, tendo sido a eles levados para prisão, julgamento e aplicação de penas. O espaço urbano representava o coração da reafirmação da ordem pública e senhorial.

Paradoxalmente, foi na década de 1870, quando enfim a Casa de Câmara e Cadeia se impôs na paisagem e na vida social da cidade, que a lógica penal entre o Estado, os proprietários e os escravos passou a se alterar, o que se expressou na geografia da região

4 Processo Criminal 038, 1842. Arquivo do Iphan de Vassouras. Fichamentos de Camila Agostini. 5 Processo Criminal 115, 1856. Arquivo do Iphan de Vassouras. Fichamentos de Camila Agostini

6 RIBEIRO, João Luiz. No meio das galinhas as baratas não têm razão: A Lei de 10 de junho de 1835, Os

escravos e a pena de morte no Império do Brasil (1822 - 1889). Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2005, pp. 247-248

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e em novas perspectivas entre fazendeiros e cativos com relação ao espaço urbano e o judiciário. No dia 1º de outubro de 1879, os escravos Manoel, Gil, Quintiniano, Marciano e Joaquim chegaram à cidade de Vassouras portando paus, e se dirigiram à cadeia onde depuseram as armas e entregaram-se às autoridades policiais, confessando o crime de homicídio de José Bastos de Oliveira, feitor da fazenda São João da Barra, de propriedade de seu senhor, Antonio de Souza Guimarães. O caso elucida as leituras acuradas que cada uma das partes envolvidas tinha do direito e do judiciário. Os escravos cometeram o crime e seguiram armados em direção à cidade e seus depoimentos estavam em sintonia, insistindo na participação dos cinco envolvidos. A estratégia sugere seu conhecimento sobre as condições para que fossem todos considerados partícipes e uma aposta de que a punição legal seria menos rigorosa que seu cativeiro. As autoridades policiais denunciaram apenas Manoel e Gil, sob a justificativa de que os demais golpearam a vítima quando ela já se encontrava sem vida. Acusaram ainda que a estratégia dos cinco assumirem o crime e se entregarem visava colocá-los “sob a ação da justiça, que se lhes afigura mais favorável que o cativeiro.”7

Essa intepretação das autoridades não foi um caso isolado. Em Vassouras, os crimes cometidos por escravos contra senhores, feitores e administradores de dois na década de 1830 para 4 na seguinte, reduzindo-se para 2 na década de 1850 e apenas 1 na de 1860. No entanto, na década de 1870 esse número saltou para 8, todos cometidos contra feitores. Em março de 1876, o governo enviou a juízes de direito das comarcas um aviso questionando sobre a dúvida referente ao aumento dos crimes de escravos após a promulgação da Lei de Ventre Livre em 1871. O juiz de Vassouras, Eduardo Pindahiba de Matos, respondeu em 22 de junho de 1876:

“Que espalhando-se entre os escravos de muitas fazendas deste município, a ideia de que por essa Lei, Sua Majestade o Imperador libertara todos os escravos, e que só por despotismo dos senhores é que ainda se conservam no cativeiro, muitos deles se tem demonstrado desobedientes e altaneiros, e daí se tem originado alguns crimes.

(...) Em verdade, porém, o que mais tem influído neste município para a reprodução de tais crimes, é a convicção que reina entre os escravos de que – já não há mais – força – para eles, e que quem mata o seu senhor, feitor ou administrador vai trabalhar para o Rei em uma Ilha -, o que consideram eles mil vezes preferível ao cativeiro. (...).

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A tais ideias pois, mais do que À Lei de 1871, se pode atribuir o aumento de crimes dessa ordem no município.”8

Dos oito casos ocorridos na década de 1870, em cinco deles os feitores estavam na propriedade há poucas semanas ou meses, em quatro deles os réus haviam sido trazidos de outras províncias pelo tráfico interno (três do norte e um do sul). Apenas um deles foi absolvido, enquanto os cinco ocorridos entre 1870 e 1877 foram punidos com a pena de galés perpétuas, e o único ocorrido em 1878 foi punido em a pena de 300 açoites. O caso de Manoel, Gil e seus parceiros em 1879 era grave tanto pelo homicídio em si do feitor quanto pela afronta direta ao seu senhor. Contudo, enquanto Quintiniano, Marciano e Joaquim sequer foram pronunciados, Manoel e Gil foram condenados à pena de 400 açoites cada e a carregarem ferros por dois anos. Por mais rigoroso que o castigo fosse em si, comparativamente às penas aplicadas nas décadas anteriores e mesmo nos demais casos da década de 1870 há um relativo descompasso.

A relação entre senhores, escravos e o judiciário se alterara, com a difusão da impressão de que as instâncias mais altas da justiça imperial não aplicariam mais penas de morte, e que a pena de galés poderia ser preferível à escravidão. O relativo desarranjo entre o Estado e os interesses escravistas se expressou geograficamente, na ressignificação do espaço urbano pelos cativos. Assim como Manoel, Gil e seus parceiros, em outros cinco casos na década de 1870 os escravos que cometeram crimes contra feitores se entregaram voluntariamente às autoridades. A cidade e a casa de câmara e cadeia, outrora símbolos máximos da autoridade pública e escravista, foram parcialmente ressignificados pelos cativos.

As tensões não tardaram a transbordar. O assalto às cadeias e o linchamento de escravos criminosos se espalhou pela província fluminense na década de 1880: em Paraíba do Sul em 1880 e 1881, Rezende em 1881 e 1884, Valença em 1883 e 1887. Os casos repetiam o padrão de crimes cometidos contra feitores e senhores seguidos da entrega voluntária às autoridades policiais e judiciais. O arrombamento de cadeias e o justiçamento violento em praça pública foram rituais que a um só tempo reforçavam a ordem e a hierarquia escravista e negavam legitimidade às instituições estatais. As cidades

8 RIBEIRO, João Luiz. No meio das galinhas as baratas não têm razão: A Lei de 10 de junho de 1835,Os

escravos e a pena de morte no Império do Brasil (1822 - 1889). Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2005, pp. 299-300.

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e seus edifícios oficiais haviam sido ressignificados tanto por livres quanto por escravos, e se tornaram monumentos e palcos disputados nas últimas décadas da escravidão.

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A partir da seleção de 61 processos-crimes envolvendo escravos na condição de réu, identificamos 18 cometidos por cativos contra senhores, feitores ou administradores (incluído o levante de 1838), 3 na década de 1830, 4 na de 1840, 2 na de 1850, 1 na de 1860 e 8 na de 1870. Desses crimes, 5 tiveram senhores como vítimas e 12 feitores ou administradores.9 As penas de morte e de galés perpétuas foram aplicadas principalmente nos casos em que escravos cometeram crimes violentos contra senhores e feitores. As penas de morte foram aplicadas entre 1835 e 1857, 5 delas entre 1835 e 1839, 4 entre 1840 e 1849, e apenas 1 na década de 1850, e em decorrência de 10 crimes, dos quais 5 foram cometidos contra senhores, 2 contra feitores, 1 contra uma homem livre, 1 contra sua parceira e 1 referente ao crime de insurreição e homicídio. Por sua vez, as 16 penas de galés foram aplicadas em crimes variados, com destaque para 6 crimes contra feitores, concentrados nas décadas de 1860 e, principalmente, de 1870. Apenas uma vez a pena foi aplicada a um crime contra o senhor, e apenas ao réu partícipe.

A partir desses dados, algumas correlações podem ser feitas. O número de crimes de escravos contra superiores oscilou de 7 entre 1835 e 1850 a apenas 3 nas duas décadas seguintes, enquanto a de 1870 registrou 8 casos. Contudo, o judiciário foi mais rigoroso no primeiro período, quando se concentraram 9 execuções capitais, com destaque para a segunda metade da década de 1830 – precisamente nos anos que se seguiram ao ciclo de revoltas que motivaram a guinada punitiva do judiciário, com a Lei de 10 de junho de 1835, e a reabertura do tráfico negreiro na forma de contrabando. O historiador João Luis Ribeiro identificou a ocorrência de 53 penas de morte aplicadas entre 1835 e 1853 na Província do Rio de Janeiro, dos quais 31 ocorreram em municípios do Vale do Paraíba. As décadas de 1850 e 1860 registraram apenas três crimes violentos de escravos contra seus superiores e apenas uma condenação à pena capital. Há duas possíveis explicações para o fenômeno. Em primeiro lugar, a partir de 1853 o imperador impôs

9 Dados coletados dos fichamentos de Camila Agostino dos Processos Criminais que envolviam escravos

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novas diretrizes à relação entre o poder moderador e a concessão da graça imperial à pena de morte, e houve um grande aumento no número de comutações das penas capitais em galés perpétuas. Em segundo lugar, a menor incidência de crimes violentos de escravos contra seus superiores pode estar relacionado ao fim do tráfico em 1850, à mudança no perfil demográfico da população escrava, e à maturação das relações sociais do cativeiro, processo definido pelo historiador Ricardo Salles como a formação de uma sociedade escravista madura.10

Na década de 1870 foi registrado um aumento dos casos de resistência e de crimes de escravos contra seus superiores. Embora os dados se refiram apenas ao conjunto de processos criminais encontrados no arquivo de Vassouras, o fenômeno foi registrado em documentos oficiais do judiciário, do ministério da justiça, dos presidentes de província e em discursos de políticos nas assembleias representativas e na imprensa. As hipóteses para o surgimento do fenômeno são variadas, indo da sobre-exploração do trabalho em terras esgotadas às mudanças do perfil demográfico dos plantéis em decorrência do tráfico interno. A crise política da escravidão, inaugurada em meados da década de 1860, é outro potencial fator explicativo, especialmente após a promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871. Enquanto a alta incidência de resistência escrava entre 1835 e 1850 contou com a atuação rigorosa do judiciário, os crimes da década de 1870 receberam atenção e punições do judiciário, mas com o predomínio de penas de galés perpétuas. Desde os debates parlamentares à época da promulgação do Código Criminal, consolidou-se um discurso sobre a incompatibilidade entre escravos e penas de galés, potencialmente preferíveis ao cativeiro. O número de penas de morte caiu a partir das comutações por parte do imperador na década de 1850, mas as críticas às concessões de graças pelo moderador somente se proliferaram na imprensa e nas instituições representativas na década de 1870. O judiciário foi um dos principais palcos da escravidão oitocentista, onde senhores, autoridades públicas e cativos atuaram de acordo com suas perspectivas e interesses.

Na era do contrabando, entre 1835 e 1850, o judiciário foi um fiador fundamental do cativeiro, em relativa harmonia com os interesses escravistas. Nas décadas de 1850 e 1860, as punições legais foram menos frequentes, assim como o número de crimes

10 SALLES, Ricardo. E o Vale era Escravo, Vassouras, Século XIX, Senhores e escravos no coração do

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cometidos pelos cativos. A partir de meados da década de 1860, o relativo consenso político em torno da escravidão passou a oscilar entre autoridades, especialmente com a promulgação da Lei do Ventre Livre. A crise instaurada entre 1871 e 1888 contou com a resistência frontal dos escravos e com uma postura menos assertiva do judiciário da defesa do cativeiro, especialmente a partir de 1880. Esse processo histórico expressou-se espacialmente em Vassouras na relação entre a população escrava e a cidade e seus edifícios públicos. A cadeia, a sala do júri e a forca eram artefatos simbólicos da ordem pública, mas seu significado variou das primeiras décadas da vila às últimas décadas do império. A casa de câmara e cadeia foi a principal realização da arquitetura senhorial vassourense, mas enquanto os vereadores se articulavam pela defesa do cativeiro, o judiciário não respondia com o mesmo rigor de outrora aos crimes dos cativos. A fuga dos escravos criminosos à cidade denota sua percepção de que, em condições limites, o risco da punição estatal foi preferível às condições do cativeiro. O judiciário se manteve um fiel defensor da legislação escravista até 1888, mas abriu frestas por onde os pilares da escravidão foram paulatinamente abalados.

FONTES

Fichamentos de Camila Agostino dos Processos Criminais que envolviam escravos na condição de réus ou vítimas. Arquivo do Iphan de Vassouras.

Processos Criminais 112 de 1835; 040 de 1836. 041 de 1835. 038 de 1842; 115 de, 1856; 080 de 1879. Arquivo do Iphan de Vassouras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, Flávio dos Santos. Histórias de Quilombolas – mocambos e comunidades escravas no Rio de Janeiro – Século XIX. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 1995.

RIBEIRO, João Luiz. No meio das galinhas as baratas não têm razão: A Lei de 10 de junho de 1835, Os escravos e a pena de morte no Império do Brasil (1822 - 1889). Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2005.

SALLES, Ricardo. E o Vale era Escravo, Vassouras, Século XIX, Senhores e escravos no coração do Império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008

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