Treinamento de Jovens Multiplicadores para o Primeiro Atendimento à Parada Cardíaca com vistas à Redução da Mortalidade por Infarto do Miocárdio na
Comunidade.
Prof. Dr. José Francisco Kerr Saraiva, Taís Rigotto Rahme Costa, Marília Taily Soliani, Letícia Araújo Tassine Penatti, Amália Fávero, Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Brasil.
Resumo
A Morte súbita decorrente de parada cardiorrespiratória (PCR) é grave problema de saúde pública. Diariamente, aproximadamente 720 pessoas falecem por esta causa, representando uma morte a cada um minuto e meio, sendo metade dos casos em ambiente extra-hospitalar. Estudos mostram que a realização pré-hospitalar de compressões torácicas em vítimas de PCR aumenta em até quatro vezes a taxa de sobrevivência destas. Tais benefícios levaram países desenvolvidos a inserir tais treinamentos no currículo escolar, aumentando o número de cidadãos capacitados e a chance de sobrevida do paciente que recebe atendimento feito pelo leigo enquanto aguarda chegada do socorro médico. Portanto, é imprescindível, no Brasil, ampliar o ensino de noções básicas de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Este projeto objetivou capacitar alunos líderes e participantes de grêmios estudantis ao aprendizado mais aprofundado sobre o assunto e, assim, torná-los multiplicadores do conhecimento de primeiro atendimento à PCR entre seus pares e comunidade. O projeto desenvolveu-se em três escolas públicas de Campinas, abrangeu aproximadamente mil estudantes e mostrou resultados positivos, tornando o jovem estudante uma referência estudantil e em sua comunidade.
Objetivos
O objetivo do projeto foi a formação de Adolescentes Multiplicadores como intermediários nas discussões teóricas e práticas sobre noções de primeiro atendimento à parada cardíaca. Este formato surgiu a partir de uma preocupação em qual seria a linguagem mais adequada para falar ao jovem sobre assuntos de saúde. Inicialmente empregada na prevenção de DST e mostrando resultados positivos em diversos estudos, foi uma forma inovadora de abordar um assunto técnico e científico como noções de primeiro atendimento a parada cardíaca, suas causas e consequências aos alunos de ensino fundamental e médio. Essa metodologia de formação foi indicada por Paulo Freire, renomado educador brasileiro, que em seu livro “Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa” insiste que: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”.
Métodos
A formação de “Adolescentes Multiplicadores” é uma diretriz do Ministério da Saúde através do Projeto de Saúde e Prevenção nas Escolas que é seguido por inúmeras escolas em outras áreas da medicina. Essa formação espera que os adolescentes adquiram e ampliem seus repertórios interativos, aumentando sua capacidade de agir de forma ativa e portanto construtiva dentro do seu meio e reduzir a mortalidade através do atendimento leigo à parada cardíaca.
Foram capacitados de 15 a 20 jovens em cada uma das três escolas trabalhadas, que se destacaram por sua capacidade de expressão e representatividade no ambiente escolar. A metodologia se deu através do ensinamento aos alunos multiplicadores acerca do primeiro atendimento a parada cardíaca com o uso de vídeos e montagem dos bonecos pelos próprios alunos com materiais recicláveis. A escolha de participação dos alunos se deu de forma voluntária.
Os bonecos foram construídos com garrafa PET, jornal amassado, camiseta e barbante, e possuem características semelhantes ao tórax humano. Cada criança construiu seu boneco e aprendeu através do jovem multiplicador previamente treinado e aluno bolsista orientado pelo seu docente extensionista a massagem cardíaca no mesmo. Dessa forma o presente projeto não envolveu oneração às escolas, aos alunos e à Universidade.
Desenvolvimento
Os grupos de jovens multiplicadores foram capacitados através de reuniões semanais onde foram discutidos em forma de oficina a doença cardiovascular, seus fatores de risco, parada cardíaca e sua abordagem prática.
Os vídeos usados na capacitação foram disponibilizados aos alunos multiplicadores para que pudessem usá-los tanto para treinamento individual como para o treinamento do restante do corpo estudantil.
Após a devida qualificação, os alunos multiplicadores iniciaram as dinâmicas em salas de aula, iniciando pela arrecadação dos materiais para confecção do boneco e confecção do mesmo juntamente com todo o corpo estudantil. Após o término os alunos transmitiram o ensinamento de primeiro atendimento a parada cardiorrespiratória, ensinando as técnicas de reanimação e condutas a serem tomadas frente a essa emergência. Toda a dinâmica com o corpo estudantil foi protagonizada pelos jovens multiplicadores e acompanhada pelo grupo de extensão.
Principais resultados
O presente projeto foi avaliado positivamente pelos diretores, coordenadores, professores e alunos participantes das 3 escolas onde foi realizado. A capacitação dos alunos multiplicadores se mostrou um desafio, visto que alguns grupos precisavam de cobranças dos diretores para cumprirem o cronograma estabelecido com cada escola.
Ao final do projeto, os alunos multiplicadores demostraram grande interesse em continuar os ensinamentos como protagonistas no meio escolar. Outro fator importante foi a sensibilização destes acerca da importância da mortalidade cardiovascular e seus fatores de risco. Durante oficinas e reuniões, estes demonstraram preocupações acerca dos próprios hábitos de vida e de seus familiares e determinação em combater o excesso de peso, sedentarismo e tabagismo em seu meio familiar.
O treinamento de RCP nas escolas é uma ação de grande importância social visto que o aumento do número de indivíduos treinados significa uma maior chance de um indivíduo que sofrer uma parada cardiorrespiratória em ambiente extra-hospitalar seja reconhecido como uma emergência e receba o primeiro atendimento adequado, aumentando a sobrevida em até quatro vezes.
O treinamento dos alunos multiplicadores ,é uma maneira de dar autonomia para que o conhecimento continue se multiplicando a toda a comunidade, fazendo com que ela cresça e o sustente para assim se tornar permanente, diminuindo a mortalidade cardiovascular na mesma. O socorro médico muitas vezes demora mais tempo para chegar nas regiões periféricas, por isso, ter indivíduos treinados pode ser determinante para salvar a vida do indivíduo acometido pela parada cardíaca.
Reunião com alunos multiplicadores
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