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UFPB PRG X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

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Academic year: 2021

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PERCEPÇÃO VISUAL DA FORMA ENTRE CRIANÇAS SURDAS E  OUVINTES EM CONDIÇÃO DE LUMINÂNCIA MESÓPICA 

Príscilla Anny de Araújo Alves 1 , Natanael Antonio dos Santos 3 , Liana chaves Mendes 2 ,  Jandilson Avelino da Silva 2 , Valtenice de Cássia Rodrigues de Matos França 2 , Aline Mendes Lacerda 2 , 

Melyssa Kellyanne Cavalcanti 2 , Haydêe Casse da Silva 2 , Anne Gleide Filgueira Pereira 2 .  Centro de Ciências Humanas Letras e Artes/Departamento de Psicologia 

RESUMO 

O  foco  desta  pesquisa  foi  comparar  a  percepção  visual  da  forma  de  crianças  portadoras  de  deficiências  auditivas  (GE)  e  crianças  ouvintes  (GC)  em  condições  de  luminância  mesópicas  (0,9  cd/m²).  Para  tal,  utilizou­se  a  função  de  sensibilidade  ao  contraste  (FSC),  que  é  considerada  uma  das  descrições  mais  completas  da  percepção  visual,  para  medir  a  sensibilidade  ao  contraste  para  freqüências  radiais  (FSCr)  de  0,25;  0,5;  1,0  e  2,0  cpg.  Participaram  do  estudo  30  crianças  com  a  faixa  etária  entre  sete  e  treze  anos,  de  ambos  os  sexos,  todas  com  acuidade  visual  normal  ou  corrigida,  matriculadas  na  rede  de  escolas  públicas  do  município  de  João  Pessoa.  As  medidas  visuais  foram  realizadas  utilizando  o  método  psicofísico  da  escolha  forçada.  O  procedimento  para  medir  o  limiar  para  cada  freqüência acima consistiu na apresentação sucessiva de pares estímulos e as crianças foram  orientadas  a  escolher  sempre  dentre  eles  qual  continha  a  freqüência  radial.  O  outro  estímulo  neutro foi sempre um padrão homogêneo com a luminância média de 0,9 cd/m². As instruções  para as crianças  surdas foram  explicadas em LIBRAS  (Língua Brasileira de Sinais). A análise  estatística  (ANOVA)  mostrou  que  a  FSCr  das  crianças  portadoras  de  deficiência  auditiva  foi  melhor  do  que  a  das  crianças  ouvintes  [F(7,  1343)  =  33,499  (p  <  0,001)].  Entretanto,  as  análises com o Teste post­hoc de  Tukey HSD não revelaram diferenças significantes entre as  freqüências (p>0,05), embora o GC tenha precisado da ordem de 1,04; 1,07; 1,17 e 1,17 mais  contraste  do  que  o  GE  para  detectar  as  freqüências  radiais  de  0,25;  0,5;  1.0  e  2,0  cpg,  respectivamente. 

Palavras–chaves:  Percepção  visual;  condições  mesópicas;  deficiência  auditiva;  freqüência  radial; método psicofísico. 

INTRODUÇÃO 

A noção a cerca da surdez, geralmente, é vista como preconceituosa e sem relevância  social  quando  comparada  a  outras  disfunções  sensoriais  ou  motoras  como  a  cegueira  ou  a  paralisia  cerebral.  Acredita­se  que  a  mesma  pode  ser  simplesmente  solucionável  a  partir  do  uso  de  aparelhos  auditivos,  assim,  desconsidera­se,  a  importância  de  questões  essenciais  como, por exemplo, a escolarização. 

Neste  aspecto,  o  governo  em  conjunto  com  o  apoio  dos  órgãos  municipais,  desenvolveu o Programa de Escolarização Mista que se encontra em estágio inicial e consiste  em  dar  suporte  estrutural  as  crianças  portadoras  de  alguma  deficiência  físico­mental  em  escolas  públicas  para  que  estas  possam  estudar  juntamente  com  as  outras  crianças  sem  deficiências  –  como,  por  exemplo:  crianças  surdas  terão  suporte  ao  longo  das  aulas  de  tradutores para a sua língua materna, LIBRAS, língua brasileira de Sinais. 

Uma  parcela  das  escolas  da  rede  de  ensino  de  João  Pessoa,  especialmente  as  públicas,  possui  crianças  que  apresentam  deficiência  auditiva  (cerca  de  5.735.099  crianças),  segundo  os  dados  do  censo  demográfico  do  IBGE­2000.  Contudo,  poucos  estudos  têm  investigado  objetivamente  os  processos  sensoriais  e  cognitivos  relacionados  ao  desenvolvimento desta população. 

Dentro  deste  contexto,  este  trabalho  desenvolveu  uma  série  de  experimentos  envolvendo  a  percepção  visual  da  forma  em  crianças  ouvintes  e  com  deficiência  auditiva.  Utilizando  uma  temática  comportamental  denominada  função  de  sensibilidade  ao  contraste  (FSC),  que  é  um  dos  principais  instrumentos  clássicos  utilizados  para  medir  e  estudar  a  percepção  visual.  A  FSC  é  definida  na  literatura  como  a  quantidade  mínima  de  contraste  necessária para detectar uma grade de uma freqüência espacial específica, 1/FSC (Cornsweet,  )        (1) 

Bolsista; (2) Voluntário(a); (3) Prof(a) Ori ent ador(a)/Coor denador(a); (4) Prof(a) Colaborador(a);  (5) 

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1970).  A  FSC  é  considerada  a  descrição  mais  completa  da  percepção  visual  (Wilson  e  cols,  1990),  pois  nos  permite  estudar  e  acompanhar  o  desenvolvimento,  a  maturação  e  a  plasticidade  de  mecanismos  básicos  envolvidos  na  percepção  e  no  processamento  visual  de  objetos. 

A  percepção  pode  ser  definida  como  o  processo  pelo  qual  o  organismo  toma  consciência do meio ambiente e de si mesmo, através da interpretação das sensações obtidas  pelos  dados  sensoriais.  No  que  se  refere,  especificamente,  à  percepção  visual  da  forma,  segundo Lent, (2001), trata­se da capacidade de diferenciação e reconhecimento dos objetos  segundo  os  seus  contornos,  ou  seja,  através  das  bordas  de  contraste  que  delimitam  estes  objetos. 

Embora  o  sistema  visual  humano  reconheça  cenas  visuais  ou  padrões  complexos,  geralmente  utilizam­se  padrões simples ou estímulos  elementares para avaliar a resposta do  sistema  visual  humano.  Haja  vista  que,  é  mais  fácil  observar  e  mensurar  os  mecanismos  responsáveis  pelo  processamento  da  informação  quando  se  trabalha  com  estímulos  elementares  do  que  com  estímulos  complexos  (De  Valois  &  De  Valois,  1980  apud  Santos  &  Simas,  2001b).  Na  presente  pesquisa,  foram  utilizados  estímulos  elementares  radiais  que  possuem modulações de contraste definidas pelo perfil da função cilíndrica de Bessel ao longo  do  raio  considerando  o  centro  do  círculo  como  a  origem  do  sistema  de  coordenadas  polares  (Simas, 1985; Santos & Simas, 2001; Santos & Simas, 2001b).  Figura 1: Exemplos de freqüências radiais para 0,25; 0,5; 1,0 e  2,0 cpg, respectivamente.  DEFICIÊNCIA AUDITIVA  A Deficiência auditiva ou diacusia trata­se de alterações na audição, que irá interferir na  qualidade sonora e não em sua intensidade (Machado, 2003). A deficiência auditiva também  pode ser definida como uma perda ou diminuição na capacidade de escutar (Corrêa, 2001;  Katz & Tillery, 1994). Ou ainda, uma quebra em um ou mais aspectos do processamento  auditivo (Katz & Tillery, 1994). O seu grau pode ser dividido em categorias, que variam de  “leve” a “profunda”. E o prejuízo auditivo pode atingir um dos ouvidos (unilateral), ou ambos  (bilateral).  Existem inúmeros distúrbios, de ordem congênita ou adquirida, que afetam diretamente  o sistema auditivo. Tais distúrbios podem ocorrer no ouvido externo (pavilhão auditivo e meato  acústico  externo),  no  ouvido  médio  (membrana  timpânica),  no  ouvido  interno  (cóclea),  no  sistema  nervoso  central  (vias  auditivas  corticais)  ou  em  qualquer  combinação  destes  locais  (Bess & Humes, 1998). 

Os  distúrbios  auditivos  podem  ser  classificados  em:  endógenos  e  exógenos.  Os  distúrbios  exógenos  são  causados  por  doenças  inflamatórias,  toxicidade,  ruído,  acidente  ou  lesão que danifique qualquer parte do sistema auditivo. Os problemas endógenos originam­se  de características genéticas do indivíduo. Em outras palavras, um defeito auditivo endógeno é  transmitido dos pais para a criança como um traço herdado. 

Quanto  às  conseqüências  da  surdez,  existe,  na  literatura,  uma  idéia  de  que  os  indivíduos com deficiência auditiva apresentam maior vantagem nas habilidades visuais que os  ouvintes  (Proksch  &  Balevier,  2002).  Inclusive,  algumas  pesquisas  neurofisiológicas  mostram  achados nesta direção (Bosworth &  Dobkins, 2002;  Finney & Dobkins, 2001; Poizner, Kaplan,  Bellugi  &  Padden,  1984;  Proksch  &  Balevier,2002).  Por  exemplo,  Neville  e  Lawson  (apud  Diamond & Hopson, 1998) afirmam que as pessoas surdas possuem intensa atividade da visão  periférica devido à plasticidade cerebral.

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Já,  Proksch  e  Balevier  (2002)  acreditam  que  a  privação  da  audição,  devido  a  um  distúrbio congênito, altera o gradiente da atenção visual do centro para a periferia, acentuando  o processamento periférico. Em outras palavras, as pessoas surdas possuem maiores recursos  de atenção na periferia, porém menos, no centro, quando comparadas a ouvintes.  OBJETIVOS  Geral 

Determina  a  curva  de  sensibilidade  ao  contraste  para  estímulos  radiais  (FSCr)  em  crianças surdas congênitas e ouvintes e avaliar possíveis efeitos da deficiência auditiva na  percepção visual da forma (ou FSCr) em condição de luminância mesópica (0,9 cd/m²).  Específicos 

1.  Mensurar  a  FSCr  função  de  sensibilidade  ao  contraste  de  crianças  portadoras  de  deficiência auditiva de escola pública; 

2.  Mensurar  a  função  de  sensibilidade  ao  contraste  de  crianças  ouvintes  e  sem  deficiência auditiva de escola pública;  3. Verificar se existe alguma alteração  na percepção visual de crianças portadoras de  deficiência auditiva quando comparadas a crianças que possuem audição normal.  METODOLOGIA  Participantes:  Participaram do experimento 28 crianças de ambos os sexos. Sendo 14 crianças  portadoras de deficiência auditiva (Grupo Experimental, GE) e 14 crianças ouvintes (Grupo  Controle, GC) na faixa etária de 7 a 13 anos. Todas com acuidade visual normal ou corrigida,  matriculadas na rede de escolas públicas do município de João Pessoa. Foram obtidas um  total de 56 curvas de sensibilidade ao contraste para estímulos radiais, sendo 28 curvas para  cada grupo.  Equipamento: 

Foi  utilizado  um  monitor  de  vídeo  CLINTON  (DS2100HB­Ea)  de  alta  resolução  com  controle  digital,  21  polegadas,  branco  e  preto,  saída  RS­232,  compatível  com  sistemas  PC  e  MAC controlado por um microcomputador. Um programa escrito em linguagem C++ para rodar  os  experimentos.  Uma  pequena  mesa,  para  apoiar  o  mouse,  na  frente  de  uma  cadeira  localizada a 150 cm da tela do monitor de vídeo. A luminância foi medida com um fotômetro do  tipo  “SPOT  METTER”,  com  precisão  de  um  grau  ASAHI  PENTAX.  O  ambiente  do  laboratório  apresentava iluminanção constante e controlada.  Estímulos Visuais  Todos os estímulos foram gerados em tons cinza e apresentados em tempo real no  monitor. Sendo utilizados como estímulos de teste freqüências radiais de 0,25; 0,5; 1,0 e 2,0  cpg (ciclos por grau de ângulo visual). E, como estímulos neutros um padrão homogêneo com  a luminância média de 0,9 cd/m 2 .  Procedimento 

As  estimativas  foram  realizadas  utilizando­se  o  método  psicofísico  da  escolha  forçada  entre dois estímulos (Santos, Simas & Nogueiral, 2003, 2004; Santos, Nogueira & Simas, 2005;  Wetherill  &  Levitt,  1965)  que  calcula  a  probabilidade  de  acertos  consecutivos  por  parte  do  observador.  O  critério  adotado  para  mensurar  qualquer  uma  das  curvas  foi  o  de  três  acertos  consecutivos para diminuir o contraste de uma unidade e de um erro para aumentar o contraste  da mesma unidade (0,08%). Desta forma, no decorrer de cerca de 100­150  apresentações de

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escolhas entre os dois estímulos, a freqüência de teste foi percebida pelo observador 79% das  vezes. O número exato de apresentações necessárias, no entanto, foi variável e dependeu dos  acertos do observador, bem como do número de máximos e mínimos que se que se quis obter.  Em cada medida, a sessão terminou assim que 3 valores máximos e 3 valores mínimos foram  obtidos. 

A  tarefa  do  participante  era  escolher,  entre  dois  estímulos,  aquele  que  continha  a  freqüência de teste (espacial ou radial). O outro estímulo era sempre um círculo de luminância  homogênea e igual à luminância média. Cada freqüência (ou ponto na curva) foi estimada pelo  menos duas vezes em dias diferentes por cada sujeito.  A ordem de mensuração das freqüências radiais para cada curva foi aleatória por sorteio  pelo experimentador antes do experimento. Todas as medidas foram realizadas à distância de  150 cm, com visão binocular e pupila natural. 

Durante  a  sessão  experimental,  cada  sujeito  foi  submetido  à  discriminação  sucessiva  simples de pares de estímulos na tela do monitor. A apresentação aleatória variou a ordem dos  estímulos  que  foi  controlada  pelo  próprio  computador.  Cada  estímulo  foi  apresentado  por  2  segundos  com  intervalo  entre  estímulos  de  1  segundo.  O  intervalo  entre  tentativas  (ou  julgamento do sujeito) era de 3 segundos. 

Os observadores foram orientados, antes da sessão experimental, a pressionar o botão  esquerdo  ou  de  nº  1  do  mouse  quando  julgassem  que  o  estímulo  de  teste  tinha  sido  apresentado primeiro e o botão direito do mouse ou de nº 2 quando julgassem que o estímulo  de  teste  tinha  sido  apresentado  em  segundo  lugar,  isto  é,  após  o  estímulo  neutro.  Para  os  participantes surdos as instruções foram dadas em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Após  o  término  de  cada  sessão  experimental,  o  computador  produziu  uma  folha  de  resultados com os pares de máximos e mínimos, a média dos máximos, a média dos mínimos,  a média dos máximos e mínimos e o desvio padrão para cada condição (freqüência, GC e GE).  Os valores de máximos e mínimos obtidos para cada ponto (ou freqüência radial) foram  agrupados em planilhas de acordo com o fator [ausência (GC) ou presença (GE) da deficiência  auditiva] e, em seguida, calculou­se a grande média como estimativa do limiar de contraste.  A Figura 2 mostra que as crianças ouvintes (GC) e as portadoras de deficiência auditiva  (GE)  apresentam  curvas  de  sensibilidade  com  perfis  (ou  “aspecto  geral”)  semelhantes.  Observa­se  ainda  que  a  sensibilidade  máxima  ao  contraste  ocorreu  em  0,25  cpg  e  a  sensibilidade mínima em 2,0 cpg para os dois grupos. 

Tabela  1.  Valores  de  sensibilidade  ao  contraste  em  crianças  ouvintes  e  portadoras  de  deficiência auditiva nas freqüências radiais de 0,25; 0,5; 1.0 e 2,0 cpg. 

A Tabela 1 mostra os valores de contrates obtidos pelas crianças ouvintes (GC) e surdas  (GE) para cada uma  das freqüências angulares. Mostra  ainda  na última linha a razão  entre  a  sensibilidade  ao  contraste  do  GE/GC,  onde  se  observa  que  as  crianças  surdas  foram  levemente melhor do que as crianças ouvintes em todas as freqüências. Isto é, o GC precisou  da ordem de 1,04; 1,07; 1,17 e 1,17 mais contraste do que o GE para detectar as freqüências  radiais de 0,25; 0,5; 1,0 e 2,0 cpg, respectivamente.  Freqüência  0,25  0,5  1,0  2,0  Crianças ouvintes  (GC)  31,5726  27,2202  15,7453  14,8448  C. com deficiência  auditiva (GE)  32,8765  29,0432  18,4974  17,3494  Razão entre o GE e o  GC  1,04  1,07  1,17  1,17

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A  análise  estatística  (ANOVA)  mostrou  que  a  função  de  sensibilidade  ao  contraste  das  crianças  portadoras  de  deficiência  auditiva  foi  melhor  do  que  a  das  crianças  ouvintes  [F(7,  1343)  =  33,499  (p<0,001)].  Por  outro  lado,  as  análises  com  o  Teste  post­hoc  de  Tukey  HSD  não revelaram diferenças significativas na comparação de nenhum das freqüências testadas (p  > 0,05). 

Figura  2.  Curvas  de  sensibilidade  ao  contraste  de  crianças  ouvintes  e  portadoras  de  deficiência auditiva para as freqüências radiais de 0,25; 0,5; 1,0 e 2,0 cpg. 

Estes  resultados  mostraram  que  as  crianças  portadoras  de  deficiência  auditiva  apresentaram uma leve melhora na sensibilidade ao contraste (FSCr) para freqüências radiais  em  condições  mesópicas  quando  comparadas  às  crianças  ouvintes.  Embora  estes  resultado  sejam preliminares, eles sugerem que as crianças surdas apresentam um bom desempenho no  processamento  visual  de  estímulos  radiais  em  níveis  baixos  de  luminância  (mesópica),  apresentando até curva de FSCr melhor do que a de crianças ouvintes. 

Por  outro  lado,  é  cedo  para  se  fazer  afirmações  mais  concludentes  sobre  estes  resultados.  Até  mesmo  porque  pesquisas  psicofísicas  e  neurofisiológicas  mostram  que  estímulos de freqüências radiais são processados por vias ou áreas intermediárias (p.ex., área  visual  V4)  e  associativas  como  o  córtex  ínfero temporal, IT  (Bruce,  Desimone  &  Gross,  1981;  Desimone,  1991;  Desimone  &  Schein,  1987;  Gallant  e  colaboradores,  1993;  1996;  Heywood,  Gadotti & Cowey, 1992; Merigan, 1996; Van Essen, Anderson & Felleman, 1992; Young, 1992;  Wilkinson e cols., 1998; Wilson  & Wilkinson, 1997,  1998; Wilson e cols., 1997  apud Santos  &  Simas, 2002).  Inclusive, algumas pesquisas destacam que a  área V4 pode formar o principal  estágio intermediário da visão da forma de V1 para IT (Heywood e cols., 1992; Merigan, 1996;  Van Essen e cols., 1992; Young, 1992 apud Santos & Simas, 2002). Neste contexto, é provável  que  a  deficiência  auditiva  interaja  ou  afetem  de  maneira  diferente  as  funções  visuais,  beneficiando  as  áreas  associativas  que  podem  ser  mais  susceptível  a  plasticidade.  Proporcionando  assim,  uma  maior  capacidade  do  organismo  se  adaptar  as  mudanças  ambientais internas e externas, devido a junções, ramificações e reestruturações neurais (Pia,  1985 apud Ferrari, 2001). 

Estes  resultados  são  consoantes  com  trabalho  de  Proksch  e  Bavelier  (2002)  que  encontraram  diferenças  entre  crianças  ouvintes  e  com  deficiência  auditiva,  porém  utilizando  estímulos móveis e não estáticos. 

Em  termos  gerais,  novas  pesquisas  estão  sendo  realizadas  para  melhor  explicitar  as  divergências quanto ao efeito da deficiência auditiva na percepção visual da forma e de objeto.  Pois,  acreditamos  que  pesquisas  desta  natureza  podem  contribuir  e  ampliar  os  nossos

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conhecimentos  sobre  os  danos  e  benefícios  para  as  crianças  portadoras  de  deficiência  auditiva.  Referência  Bess, F. H. & Humes, L. E. (1998) Fundamentos da audiologia. 2 ed. Porto Alegre: Artmed  Bosworth, R. G. & Dobkins, K. R. (2002) Visual field asymmetries for motion processing in deaf  and hearing signers. Brain and Cognition, n.1, p. 170­181. 

Corrêa,  J.  M.  (2001)  Surdez  e  os  fatores  que  compõem  o  método  áudio+visual  de  linguagem  oral para crianças com perda auditiva. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 

Cornsweet, T.N. (1970) Vision Perception. New York: Academic Press, p. 312­354.  Diamond, M. & Hopson, J. (2000) Árvores Maravilhosas da Mente. Ed. Campus LTda.  Ferrari, E.A.M., Toyoda, M.S.S., Faleiros, L. (2001). Plasticidade Neural: Relações com o  Comportamento e Abordagens Experimentais Psicologia: Teoria e Pesquisa 17 ( 2), 187­194.  Finney,  E.  M.  &  Dobkins,  K.  R.  (2001)  Visual  contrast  sensitivity  in  deaf  versus  hearing  populations: Exploring the perceptual consequences of auditory deprivation and experience with  a visual language. Cognitive Brain Research, n. 1 171­183. 

Katz & Tillery, K. L. (1994,). Uma introdução ao processamento auditivo. Em I. Lichtig & R. M.  M. Carvalho (Orgs.), Audição: Abordagens atuais, p. 145­172. São Paulo: Pró­Fono. 

Lent,  R.  (2001).  Cem  Bilhões  de  Neurônios:  conceitos  fundamentais  de  neurociência.  São  Paulo: Editora Atheneu. 

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